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Augusto_Cury_Programa-1

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Florida Christian University - FCU 
PhD – Doctor of Philosophy in Business Administration 
 
 
 
 
 
Augusto Cury 
 
 
 
 
 
Programa Freemind como Ferramenta Global para 
Prevenção de Transtornos Psíquicos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orlando, Florida - USA 
2013 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
Tenho muito que agradecer a notáveis pessoas por incentivar, apoiar, praticar e 
contribuir com essa tese. Sem elas, esse programa não teria asas para voar. Agradeço ao 
doutor Anthony B.Portigliatti, as empresas Abril Educação, Abril-mídia, CPFL, ao 
grupo YPÊ, Usina Colorado, pela sua preocupação em formar uma juventude 
mentalmente saudável e intelectualmente pensante; aos distintos irmãos Martelli e Paulo 
Martelli e sua equipe pela dedicação altruísta; ao ilustre amigo Dr. Laco; a Secretaria da 
Justiça do Estado de São Paulo, ao ministério da Educação, da Saúde, a Polícia Federal, 
OMS (Organização Mundial de Saúde) pela dedicação à prevenção e/ou ao combate ao 
tráfico de drogas; aos meus amigos Marcos, Tomas e Regina da Editora Sextante por 
seu desejo de contribuir com uma sociedade mais solidária e inteligente, e a psicóloga 
Vanessa Veríssimo pela colaboração no programa FREEMIND. Agradeço ainda a Dra. 
Juliana Leonardi por levar a capacitação de multiplicadores do Programa FREEMIND a 
diversos educadores, cuidadores, advogados, jovens e lideranças da paz nas cidades de 
Mogi Guaçu, Mogi Mirim, Campinas e Americana no ano de 2013, bem como a todos 
os professores de todas as escolas que se dedicam à prevenção como melhor forma de 
promover a saúde psíquica; a Camila Cury, Carolina Cury e ao Bruno Oliveira e a todo 
o corpo de psicólogos, pedagogos e funcionários do meu instituto (Instituto Augusto 
Cury) e da Escola da Inteligência, e aos mais de 100 mil alunos que aplicam seus 
programas, que objetivam promover a saúde emocional, relações saudáveis e as funções 
mais complexas da inteligência, como pensar antes de reagir, colocar-se no lugar dos 
outros, filtrar estímulos estressantes, resiliência, raciocínio complexo, etc. E a todos os 
pacientes que atendi ao longo de mais de vinte mil sessões de psicoterapia e consultas 
psiquiátricas. Essa lista é completamente injusta, seja no elogio aos aqui listados, seja 
na omissão de diletos colaboradores. Ela apenas representa uma amostra de seres 
humanos que me incentivaram incansavelmente a elaborar e escrever o programa 
FREEMIND. Todas elas acreditam que a vida é um espetáculo imperdível e que vale a 
pena encená-la no teatro da existência mesmo quando o mundo desaba sobre nós. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho é dedicado às mulheres da minha vida. Minha 
esposa Suleima e minhas filhas Camila, Carolina e Claudia. 
 
 
EPÍGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quando somos abandonados pelo mundo, a solidão é superável; 
quando somos abandonados por nós mesmos, a solidão é quase 
incurável. 
 
Augusto Cury 
 
RESUMO 
 
CURY, Augusto. Programa FREEMIND como ferramenta global para a 
prevenção de transtornos psíquicos. 2013. 204f. Tese (Doutorado) – Florida Christian 
University. Florida, 2013. 
 
 
 
Esta pesquisa teve por objetivo analisar o programa FREEMIND como ferramenta 
global para a prevenção de transtornos psíquicos. O programa FREEMIND é 
constituído por 12 ferramentas multifocais da psicologia educacional e social, 
psiquiatria social, sociologia, pedagogia e filosofia aplicada. O programa objetiva: 1- 
Reeducação do Eu como autor da história e como gestor psíquico; 2- Reorganização e 
amadurecimento das relações interpessoais; 3- Desenvolvimento de hábitos para a 
excelência profissional, o trabalho em equipe, a cooperação social, a solidariedade, a 
tolerância; 4- Desenvolvimento de habilidades emocionais para trabalhar perdas e 
frustrações, proteger a emoção, gerenciar o estresse e prevenir transtornos psíquicos. As 
12 ferramentas de intervenção preventiva do programa são: 1) Vivenciar os 12 
princípios filosóficos; 2) Ser autor da sua história; 3) Gerenciar os pensamentos; 4) 
Administrar e proteger a emoção; 5) Trabalhar os papéis da memória e reeditar o filme 
do inconsciente; 6) A arte de ouvir e a arte de dialogar; 7) A arte do autodiálogo e a 
mesa-redonda do Eu; 8) Contemplar o belo; 9) Libertar a criatividade e ser 
empreendedor; 10) Disciplina e sonhos; 11) Ser empreendedor e, 12) Resiliência e 
inteligência existencial. Cada uma das 12 ferramentas do programa FREEMIND foi 
analisada a partir dos procedimentos de análise da Teoria da Inteligência Multifocal 
(TIM), tais como a arte da formulação de perguntas, da dúvida e da crítica, a busca do 
caos intelectual e os dois instrumentos empíricos ligados à análise dos processos de 
construção dos pensamentos e das variáveis que atuam na construção das cadeias de 
pensamentos. 
 
 
 
 
 
Palavras-chave: Prevenção. Promoção da Saúde. Psicologia Multifocal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
CURY, Augusto. FREEMIND Program as a global tool for the prevention of 
psychiatric disorders. 2013. Sheet 205. Thesis (Doctorate) – Florida Christian 
University.Florida, 2013. 
 
 
The purpose of this research was to analyze the FREEMIND program as a global 
tool for the prevention of psychiatric disorders. The FREEMIND program consists of 
12 multifocal tools of the educational and social psychology, social psychiatry, 
sociology, pedagogy and applied philosophy. This program aims to: 1- The reeducation 
of the Self as the author of its own history as well as a psychological manager; 2- 
Reorganization and maturation of interpersonal relationships; 3- Development of habits 
for professional excellence, team work, social cooperation, solidarity, tolerance; 4- 
Development of emotional skills in order to work on losses and frustrations, protect the 
emotion, manage stress and prevent psychiatric disorders. The 12 tools of preventive 
action in this program are: 1) Experiencing the 12 philosophical principles; 2) Being the 
author of your own history; 3) Managing thoughts; 4) Administrating and protecting the 
emotion; 5) Working on memory roles and re-editing the film of the unconsciousness; 
6) The art of listening and the art of dialoguing; 7) The art of the self-dialogue and the 
Self´s round table; 8) Contemplating the beauty; 9) Releasing the creativity and being 
an entrepreneur; 10) Discipline and dreams; 11) Being an entrepreneur and, 12) 
Resilience and existential intelligence. Each one of the 12 tools of the FREEMIND 
program has been analyzed based on the Theory of Multifocal Intelligence (TMI) 
analysis procedures, such as the art of formulating questions, of doubt and of criticism, 
the search for the intellectual chaos and the two empirical instruments linked to the 
analysis of the thought construction processes and of the variables that act in the chains 
of thought construction. 
 
 
 
 
 
Key-words: Prevention. Health Promotion.Multifocal Psychology 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1.0 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 10 
2.0 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 22 
3.0 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO ........................................................... 23 
3.1 TEORIA DA INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL (TIM) ...................................................................... 23 
3.2 METODOLOGIA DA TIM ................................................................................................................. 29 
4.0 DISCUSSÃO DAS FERRAMENTAS DO FREEMIND .................................................. 34 
4.1 PRIMEIRA FERRAMENTA DO FREEMIND: VIVENCIAR 12 PRINCÍPIOS FISLOSÓFICOS ... 34 
4.2 SEGUNDA FERRAMENTA DO FREEMIND: SER AUTOR DA SUA HISTÓRIA ........................ 41 
4.3 TERCEIRA FERRAMENTA DO FREEMIND: GERENCIAR OS PENSAMENTOS ......................63 
4.4 QUARTA FERRAMENTA DO FREEMIND: ADMINISTRAR E PROTEGER A EMOÇÃO ......... 82 
4.5 QUINTA FERRAMENTA DO FREEMIND: TRABALHAR OS PAPÉIS DA MEMÓRIA E 
REEDITAR O FILME DO INCONSCIENTE ........................................................................................... 98 
4.6 SEXTA FERRAMENTA DO FREEMIND: A ARTE DE OUVIR E A ARTE DE DIALOGAR .... 113 
4.7 SÉTIMA FERRAMENTA DO FREEMIND: A ARTE DO AUTODIÁLOGO E A MESA-
REDONDA DO EU ................................................................................................................................. 126 
4.8 OITAVA FERRAMENTA DO FREEMIND: CONTEMPLAR O BELO ........................................ 140 
4.9 NONA FERRAMENTA DO FREEMIND: LIBERTAR A CRIATIVIDADE E SER 
EMPREENDEDOR ................................................................................................................................. 149 
4.10 DÉCIMA FERRAMENTA DO FREEMIND: DISCIPLINA E SONHOS ...................................... 158 
4.11 DÉCIMA PRIMEIRA FERRAMENTA DO FREEMIND: SER EMPREENDEDOR .................... 170 
4.12 DÉCIMA SEGUNDA FERRAMENTA DO FREEMIND: RESILIÊNCIA E INTELIGÊNCIA 
EXISTENCIAL ........................................................................................................................................ 181 
5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 196 
6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 200 
 
 
 
7 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Teoria da Inteligência Multifocal, que é uma das poucas teorias mundiais que 
estuda o processo de construção de pensamentos e o processo de formação de 
pensadores. 
Como o programa FREEMIND é uma tese de doutorado, e, ao mesmo tempo, 
um programa de caráter universal, os participantes serão “bombardeados” 
frequentemente com a arte da pergunta, que é o principio da sabedoria na filosofia, para 
reciclarem seus paradigmas, falsas crenças, verdades absolutas e, desse modo, serem 
provocados a abrirem o leque da inteligência, estimular o debate de ideias e expandir os 
horizontes do conhecimento. Retirar o participante da passividade e estimulá-lo a ser 
construtor do script da sua história é a meta fundamental. 
Quando o Eu, que representa a capacidade consciente de escolha ou 
autodeterminação, está relativamente maduro no final da adolescência, portanto, 
relativamente capaz de filtrar estímulos estressantes e de escrever a sua própria história, 
o ser humano já é refém de seu passado, de milhares de janelas no córtex cerebral que 
contém milhões de experiências. E, como estudaremos, nenhuma dessas janelas, que são 
áreas de leituras da memória num determinado momento existencial, pode ser deletada, 
apenas reeditada, o que indica as gigantescas dificuldades de mudar a base da nossa 
personalidade. Enfim, o Eu do adulto quando tem consciência crítica de que é um ser 
único no “teatro” social, sua mente já possui inúmeros núcleos de habitação na sua 
memória que dão sustentabilidade para as suas principais características, sejam elas 
doentias ou saudáveis, como a timidez, a ousadia, a sensibilidade, a impulsividade, a 
flutuabilidade emocional, humor depressivo, bom humor, determinação, insegurança, 
conformismo, baixo limiar para suportar frustrações. 
Sem uma educação profunda, o Eu na plenitude da sua liberdade para agir na sua 
própria personalidade viverá paradoxalmente numa masmorra! Pense na timidez e na 
fobia social (medo de se expressar em público). Algumas estatísticas demonstram que a 
timidez atinge mais de 80% dos jovens. Reciclá-la não é ter uma atitude heroica de 
mudança. A intencionalidade não muda a base da personalidade, pois gera uma janela 
solitária, que não é encontrada num foco de tensão. Faz-se necessário uma plataforma 
de experiências capaz de formar um novo núcleo de habitação do Eu e, assim, dar 
sustentabilidade à ousadia e à espontaneidade diante de uma plateia. Mas para isso 
8 
 
também se faz necessário uma nova agenda educacional, onde o Eu durante semanas, 
meses e anos, constrói essas plataformas no córtex cerebral. Por isso o programa 
FREEMIND advoga de que o Eu pode e deve aprender desde a mais tenra infância 
ferramentas para ser autor da própria história. Ou seja, à medida que ele é formado ele 
também se torna um formador, à medida que é educado ele se torna também educador 
da emoção e gerenciador dos pensamentos. 
A educação clássica ensina milhões de informações para os alunos da pré-escola 
a pós-graduação sobre o mundo em que estamos, do imenso espaço ao pequeno átomo, 
mas pouco ensina sobre o planeta psíquico, sobre os fenômenos que nos torna seres 
pensantes, Homo sapiens. É por isso que a educação clássica nessa sociedade 
estressante, hipercompetitiva e saturada de informações, forma, com as devidas 
exceções meninos com diplomas nas mãos, sem proteção emocional, sem habilidades 
para lidar com perdas e frustrações, sem capacidade para ser líder de si mesmo. 
Mas esse tipo de educação é de responsabilidade dos pais ou da escola? De 
ambos. Não podemos lotear os alunos. Ambos têm responsabilidades pelo futuro 
emocional, social e profissional dos seus educandos. Muitos pais terceirizam a 
educação, atribuindo-a a escola uma responsabilidade que também é sua, o que é um 
erro imperdoável. Mas a escola, com as devidas exceções, se esquiva de assumir sua 
parte nesse processo. Encarrega-se de transmitir milhões de dados sobre o mundo em 
que estamos, mas frequentemente se cala sobre o mundo que somos. Tenho dito em 
dezenas de países que se a escola não se tornar uma escola que educa a emoção e não 
trabalha as funções mais complexas da inteligência, ela será formadora de repetidores 
de informações e não de pensadores. 
Repetidores de informações obedecem a ordens, tem baixo nível de consciência 
crítica e autonomia. Veja o caso da Alemanha pré-nazista. Os alemães ganharam um 
terço dos prêmios Nobel na década de trinta do século XX. Ela tinha a melhor educação 
clássica: a melhor matemática, física, química, engenharia. Mas não foi suficiente para 
expurgar Hitler, um homem inculto, rude, tosco, mas, ao mesmo tempo teatral. Quando 
ele surgiu no cenário com Goebbels, Himmler, Goring e outros e juntos começaram seu 
marketing de massa, seduziram a juventude alemã. O Eu deles não era autor da sua 
história, não era autônomo. 
Numa situação especial capitaneada pela insegurança alimentar, fragmentação 
política, 30% de desempregados e humilhação pelo tratado de Versalhes, um pool de 
janelas traumáticas que dominava o inconsciente coletivo dos alemães comprometendo 
9 
 
sua consciência crítica emergiu. A educação clássica, embora notável, não produziu 
pensadores coletivamente para rejeitar drasticamente o marketing de massa. 
Hitler e Goebbels devoraram primeiramente o inconsciente coletivo dos alemães 
para depois “devorar” judeus, marxistas, eslavos, ciganos, homossexuais, e outras 
minorias. Quem imaginaria que a nobre Alemanha de Kant e de Hegel seria 
protagonista dessa atrocidade? Com esse tipo de educação clássica atual que forma 
repetidores de informações, onde os alunos são fissurados pelas redes sociais, onde 
contatam muitos, mas raramente profundamente a alguém, estamos preparados para não 
repetir outros holocaustos quando uma nova onda de conflitos mundiais, capitaneada 
pelo aquecimento global, insegurança alimentar e escassez de recursos, abater o 
inconsciente coletivo da humanidade? A resposta provável é: infelizmente não. 
O programa FREEMIND, por estimular a formação de pessoas com opinião 
própria e que pensa como espécie e não apenas como feudo, como grupo social, 
cultural, filosófico, religioso, pretende funcionar como uma vacina, ainda que pequena, 
contra novos holocaustos. 
 
 
 
 
 
Ferramentas transculturais do FREEMIND 
 
Como o FREEMIND tem comometa o desenvolvimento das habilidades 
intelectoemocionais, ele pode ser útil para expandir a qualidade de vida de qualquer ser 
humano de qualquer sociedade, pois suas ferramentas são universais. 
Por exemplo, a arte de contemplar o belo, que é uma das ferramentas a ser 
estudada, é tanto fundamental para quem vive nas florestas como para quem vive nas 
metrópoles. Contemplar o belo é treinar a capacidade de observar para fazer dos 
pequenos estímulos da rotina diária um espetáculo aos nossos olhos e, desse modo, 
enriquecer o prazer de viver e estabilizar a emoção (CURY, 2009). 
Há uma diferença enorme entre admirar o belo e contemplar o belo. Admirar é 
uma experiência fugaz, efêmera e superficial. Contemplar é uma experiência 
arrebatadora, prolongada e profunda. Até um psicopata admira o belo. Quem vive nas 
matas tem mais chance de desenvolver espontaneamente a ferramenta de contemplar o 
10 
 
belo do que quem vive numa floresta de concreto. Nessa, não poucos, precisam de 
grandes estímulos (aplausos, reconhecimentos, sucessos) para sentir migalhas de prazer, 
o que compromete gravemente os níveis de satisfação, estabilidade e maturidade 
psíquica. A arte de contemplar o belo é uma função complexa da inteligência que, 
infelizmente, poucos desenvolvem. Ela precisa ser lapidada e treinada 
educacionalmente. 
Proteger a emoção é outra ferramenta universal. O ser humano coloca 
fechaduras nas portas, janelas, carros, empresas, para proteger aquilo que tem valor, 
mas por incrível que pareça não sabe minimamente colocar “fechaduras” em sua 
emoção, que é ou deveria ser a sua mais importante propriedade. Qualquer 
contrariedade, frustração, ofensa, dificuldade, a invade, e furta sua tranquilidade. Não é 
isso uma incoerência absurda? 
Não é sem razão que há muitos miseráveis morando em palácios. Nunca 
aprenderam a filtrar estímulos estressantes. Para o programa FREEMIND “proteger a 
emoção” é uma ferramenta fundamental para se adquirir saúde psíquica e social e 
conquistar uma mente verdadeiramente livre (CURY, 2013). Mas em que escola ou 
universidade se aprende essa complexa função da inteligência? Quais são as habilidades 
que se deve desenvolver para proteger a emoção? Esses assuntos vitais para o futuro da 
humanidade serão tratados aqui. 
 
 
Ferramentas utilizadas pelo grande educador da história 
 
A Teoria da Inteligência Multifocal estuda não apenas o funcionamento da 
mente e a construção de pensamentos, mas também a formação de pensadores, sendo 
uma das raras teorias que enfocam esse tema. Após terminar os pressupostos básicos da 
teoria, comecei a estudar os instrumentos intelectuais e emocionais que os grandes 
personagens da história usaram para influenciar a sociedade e brilhar na sua mente, 
como Moisés, Buda, Maomé, Confúcio, Sócrates, Platão, Agostinho, Freud, Einstein, e 
muitos outros. O programa FREEMIND contempla essas ferramentas. Também 
comecei a estudar sob o ângulo da ciência (psicologia, psiquiatria, sociologia, 
pedagogia) a personalidade do homem que “dividiu” a história, Jesus. 
Usei as suas quatro biografias em varias versões, chamadas de evangelhos, para 
analisar sua inteligência, para estudar como ele superava seus focos de tensão, protegia 
11 
 
seu psiquismo, filtrava estímulos estressantes, bem como quais os instrumentos mais 
importantes que usou para educar a emoção dos seus alunos (discípulos), lapidar seu 
intelecto e fazê-los superar as armadilhas da mente: o conformismo, o coitadismo, os 
medos (fobias), o radicalismo, o exclusivismo, individualismo, a dependência 
emocional, a alienação social. Claro que meu estudo é saturado de limitações e 
imperfeições. Ele sonhava em formar pensadores solidários, seguros (resilientes), que 
soubessem expor e não impor suas ideias, que pensassem antes de reagir e que, acima 
de tudo, fossem autores da sua própria história. 
Onde a fé entra a ciência se cala. O resultado dessa pesquisa psicológica e não 
religiosa do notável educador Jesus me fez perceber minha pequenez como pensador e 
educador. Suas reações fogem aos limites da nossa imaginação. Convenci-me, não pela 
paleografia ou arqueologia, mas através das ciências humanas, de que nenhum autor 
poderia construir um personagem com as suas características. Ele tinha todos os 
motivos para ter ansiedade, depressão, fobias, devido à avalanche de estímulos 
estressantes que vivenciou desde a sua infância, mas atingiu o ápice da saúde 
emocional, resiliência, habilidade de trabalhar perdas e frustrações. Era capaz de 
gerenciar sua psique e fazer “poesia” quando o mundo desabava sobre ele. Infelizmente 
as religiões ao longo da história o estudaram quase que exclusivamente sob o ângulo da 
espiritualidade e não das ciências humanas. 
As ferramentas que utilizou eram impactantes. Ele era capaz de dar tudo o que 
tinha aos que pouco tinha! Nunca desistia de um ser humano, mesmo que o traísse. Seu 
Eu era de tal forma altruísta, solidário e tolerante que tinha a coragem de dar a uma 
prostituta o status de rainha e a um discriminado leproso o status de um dileto amigo. 
Nos tempos de hoje, ele estenderia as mãos para qualquer pessoa socialmente rejeitada e 
a colocaria no centro da sua história. Certamente abraçaria os “doentes mentais” e 
gastaria tempo usando metáforas e dinâmicas para encorajá-lo a reciclar sua fragilidade 
e escrever os capítulos mais importantes de sua história nos momentos mais dramáticos 
da sua vida. 
Fui um dos maiores ateus que pisou nessa terra. A partir dessa análise deixei de 
considerar a busca por Deus como fruto de um cérebro apequenado que resiste ao seu 
caos na solidão de um túmulo e passei a entender que essa busca representa um ato 
inteligente de uma mente a procura do mais importante endereço, um endereço que 
poucos encontram, dentro de si mesmo. A ciência, que levou alguns ao ateísmo, fez-me 
percorrer o caminho inverso. Deixei de ser ateu, mas não defendo uma religião. Tenho 
12 
 
amigos em todas as religiões, católicos, protestantes, judeus, islamitas, budistas, 
inclusive não poucos ateus, e os respeito muito. O programa FREEMIND é um 
programa sem fronteiras das ciências humanas, que objetiva, como disse, atingir as mais 
diversas culturas, ideologias política e religiões. Uma das ferramentas do programa se 
encontra nessa tese: ninguém é digno da liberdade e maturidade psíquica se não 
respeitar os que pensam diferente! 
Porque falar no programa FREEMIND das ferramentas psicológicas, 
psicopedagógicas e sociológicas que o homem Jesus usou para equipar a inteligência de 
seus alunos? Primeiro, porque são ferramentais universais; segundo, porque 
representam um exemplo vivo da operacionalidade dessas ferramentas num grupo 
conflitante de jovens, como era o grupo de discípulos de Jesus; terceiro, porque bilhões 
de pessoas, portanto, uma parte significativa da humanidade, que abraçaram o 
catolicismo, o protestantismo, o islamismo (o Alcorão exalta em prosa e versa Jesus), o 
budismo (grande parte dos budistas o admiram), judeus (muitos o consideram o judeu 
mais famoso da história) não estudaram os comportamentos do Mestre dos mestres sob 
o ângulo da ciência e, portanto, não tiveram a oportunidade de incorporar as 
nobilíssimas ferramentas que ele amplamente ensinou. 
Milhões de pessoas admiram e exaltam Jesus a seu modo, mas tem uma emoção 
desprotegida, não sabem trabalhar perdas e frustrações, sua mente é terra de ninguém, 
não desenvolveram habilidades básicas para gerir seu psiquismo. Com muita humildade 
e respeito o programa FREEMIND pretende dar um choque de lucidez também nessa 
área tão delicada e importante. A religião, se bem usada liberta o altruísmo e a 
tolerância, se mal usada, pode controlar e não libertar a mente humana. Os 12 alunos do 
Mestre de Nazaré tinham vários conflitos importantes em sua personalidade: eram 
autoritários, radicais, exclusivistas, punitivos, tinham anecessidade neurótica de poder, 
de controlar os outros e de estar sempre certos, enfim, frequentemente lhe davam dores 
de cabeça. Mas depois de todo seu treinamento educacional que durou pouco mais de 
três anos, os transformou numa nobre casta de pensadores flexíveis, generosos, que 
protegiam suas emoções, gerenciavam seu estresse, dirigiam o script de sua história, e 
que acima de tudo consideravam a vida um espetáculo único e imperdível. Será muito 
interessante após estudar cada capítulo analisar como o maior educador da história 
aplicou as ferramentas do “FREEMIND”. Mentes livres e emoção saudável eram duas 
de suas metas fundamentais. 
 
13 
 
Fundamentação do FREEMIND 
 
Este programa é baseado em diversas teorias comportamentais, analíticas, 
filosóficas, sociológicas, pedagógicas, mas em especial na Teoria da Inteligência 
Multifocal (TIM.), desenvolvida pelo autor ao longo de mais de 30 anos. A TIM estuda, 
como o próprio nome indica, múltiplos focos do funcionamento da mente, como o 
processo de construção do Eu como gestor da psique, os papéis conscientes e 
inconscientes da memória, o processo de gerenciamento da emoção, o processo de 
formação de janelas traumáticas e o complexo processo de construção de pensamentos. 
Além disso, estuda o processo de interpretação, a construção das relações sociais e o 
processo de formação de pensadores (CURY, 1999). 
A Teoria da Inteligência Multifocal está presente em dezenas de livros 
publicados pelo autor em mais de sessenta países. Além disso, a TIM é objeto de 
mestrado e doutorado internacionais, como na FCU (Florida Christian University), 
USA- Flórida. Os grandes e brilhantes teóricos do passado, como Hegel, Kant, Freud, 
Jung, Skinner, Piaget, Sartre, usaram o pensamento como tijolo pronto para construir 
suas teorias sobre as relações sociopolíticas, a formação da personalidade, o 
desenvolvimento do aprendizado, a formação dos conflitos, mas eles não tiveram a 
oportunidade de estudar detalhadamente o próprio tijolo do intelecto. Ou seja, eles 
pouco estudaram os tipos, natureza e processos construtivos do pensamento como pedra 
fundamental do psiquismo. Como a TIM estuda esses fenômenos que estão na base da 
psique, ela não anula ou compete com as teorias sociais, psicanalíticas, construtivistas, 
comportamental-cognitivas, ao contrário, as fundamenta, as recicla e as expande. 
Quem abrir mão de escrever a sua própria história, provavelmente seus erros, 
conflitos, culpas, medos, rejeições, privações, traumas na infância, dependência 
química, as escreverão. Metaforicamente dizendo, o programa FREEMIND pode 
oferecer “a tinta e o papel”, mas só o participante pode escrever a sua história. 
Uma pessoa madura jamais dá as “costas” para seu conflito, seja qual for, mas 
aprende a transformar o caos em oportunidade criativa, bem como aprende a escrever os 
melhores textos da sua vida, ainda que com lágrimas, nos dias mais dramáticos da sua 
história. O programa FREEMIND demonstra que “se a sociedade te abandonar a solidão 
é suportável, mas se você mesmo se abandonar ela é intolerável”. Uma pessoa feliz, 
autônoma e saudável tem mais chances de, ao se relacionar com os outros, “arquivar” 
janelas Lights ou saudáveis na memória deles e contribuir para fazê-los felizes e 
14 
 
saudáveis. Uma pessoa emocionalmente ansiosa e estressada tem chance de “plantar” 
janelas Killers ou traumáticas e, assim, adoecer quem está próximo. As relações 
interpessoais podem contribuir para promover cárceres psíquicos ou mentes livres 
(FREEMIND). 
 
Operacionalidade do programa 
 
O programa FREEMIND, embora possa ser vivenciado individualmente, 
preferencialmente ele deve ser aplicado em grupo nas universidades, escolas 
secundárias, instituições sociais, empresas, igrejas, hospitais, clínicas para dependentes 
químicos. Se aplicado em grupo, será proposta a seguir uma série de ferramentas para a 
sua melhor operacionalidade. Essas ferramentas são flexíveis e devem ser adaptadas a 
qualquer povo, cultura ou instituição. 
 
1- Cada participante deve ter o material antes das reuniões para poder lê-lo e 
estudá-lo. É fundamental estudá-lo também depois de cada reunião devido à 
complexidade das suas ferramentas. 
2- Recomendamos que cada ferramenta seja trabalhada semanalmente em uma 
ou duas reuniões em dias alternados. 
3- O programa foi elaborado para ser vivenciado em grupo, embora possa ser 
trabalhado individualmente. O número de participantes de cada grupo não é 
rígido: cinco, dez, quinze ou mais. Se o número for excessivamente grande 
para impedir a participação de todos, seria bom dividi-lo em dois grupos. 
4- O grupo deve se reunir em círculo ou semicírculo. Olhos nos olhos 
incentivam o debate, a troca e a cumplicidade. 
5- Todos devem se desarmar, tirar as máscaras e ser transparentes durante as 
reuniões. Quem não é transparente não se recicla, e quem não se recicla 
pode levar para o túmulo seus conflitos, traumas, bloqueios. 
6- No inicio de cada reunião os participantes devem falar sua identidade 
mínima: nome, origem e principais metas psíquicas e sociais que deseja 
alcançar. 
7- No final de cada reunião os participantes devem se cumprimentar, abraçar 
um ao outro e agradecer a cada um por existir. Solidariedade, tolerância e 
paz social são fundamentais no programa FREEMIND. 
15 
 
8- A duração de cada reunião é flexível, depende da capacidade de debater e 
dos níveis de interação dos membros do grupo, mas em tese deveria durar 
em torno de duas horas. 
9- Seria conveniente que um líder da instituição ou membro do grupo fosse o 
líder ou facilitador, estudando os textos previamente e se preparando para 
dar uma pequena aula sobre cada ferramenta (15 a 30 minutos), antes de 
iniciar o debate. 
10- Outro modelo de reunião, mais recomendável, é o facilitador fazer pequenas 
exposições de 5 a 10 minutos sobre os mais diversos temas que compõem 
cada ferramenta. Após cada exposição inicia-se o debate sobre o tema. 
Depois de esgotá-lo, outra exposição é feita provocando novos debates. 
11- O verdadeiro líder ou facilitador nem sempre é o que tem mais 
conhecimento do grupo, mas o que mais estimula o debate, não é o que 
domina os participantes, mas o que mais incentiva a participação. 
12- O facilitador deve levar todos os participantes a honrar e aplaudir quem fala 
ou expõe suas ideias. Vivemos numa sociedade castradora, que aplaude 
celebridades, mas não as ideias dos anônimos. Elogiar e aplaudir faz com 
que participar se torne um convite ao prazer e à arte de pensar. 
13- Os mais tímidos devem ser encorajados a se expressarem. O facilitador e os 
demais membros devem comentar que a experiência deles é muito 
importante para o grupo. Saiba que 80% das pessoas têm sintomas de 
timidez e insegurança. Devemos ter medo não de falar, mas de nos omitir. O 
preço da omissão é muito mais caro do que os erros da ação. 
14- Os que têm mais facilidade de se expressar não devem controlar as reuniões. 
Deve aprender a sintetizar a sua fala e descobrir o prazer de ouvir. Lembre-
se que aprender a ouvir é tão fundamental como falar. 
15- Cada pergunta exposta durante o texto deve servir de alvo para o debate. 
Esperamos que o debate já tenha ocorrido durante toda a exposição de cada 
ferramenta, mas para facilitá-lo, ao final de cada capítulo, haverá uma série 
de importantes perguntas no PAINEL DE DEBATE e, em seguida, um 
PAINEL DE EXERCÍCIOS DIÁRIOS. É fundamental utilizá-los. 
16- O facilitador, bem como os demais membros do grupo, devem abrandar as 
disputas, intrigas, ofensas. Cada participante deve aprender que uma pessoa 
madura expõe suas ideias e não as impõe. 
16 
 
17- Todos devem respeitar as ideias de um participante ainda que seja contrária 
ao pensamento da maioria do grupo. Se o que ele pensa é débil ou infantil, 
dê-lhe tempo para amadurecer. Saiba que ninguém muda ninguém, só a 
própriapessoa pode reescrever sua história. 
18- Faça a oração dos sábios quando alguém se exaltar (esbravejar-se) ou mesmo 
quando se emocionar e chorar: o silêncio. 
19- Sonhamos que cada um dos participantes se torne multiplicadores do 
programa FREEMIND, futuros líderes ou facilitadores, aplicando-o nas 
instituições, escolas, empresas, famílias. 
20- É recomendável que esse programa que dura cerca de três meses possa ser 
vivenciado pelos participantes pelo menos uma vez por ano nos próximos 
anos. A cada programa absorve-se mais as pérolas das complexas 
ferramentas e cristalizam-se mais as conquistas. 
 
Participar do programa FREEMIND é prazeroso, embora possa levar em alguns 
momentos o participante a mapear seus fantasmas: fobias, rigidez, pessimismo, 
autopunição, necessidades neuróticas. Usando uma cozinha como metáfora das 
reuniões, no inicio há certa desorganização, mas pouco a pouco os melhores pratos são 
elaborados. Lembre-se que todos os participantes são cozinheiros do conhecimento. 
Cada um deve elaborar seus “nutrientes”, ou seja, deve levar para o território da sua 
mente as lições e ferramentas que encontrou, aprendeu, construiu. Cada participante tem 
suas particularidades e limitações e elas devem ser respeitadas. Não é a quantidade de 
informações que é o mais importante, mas a qualidade para suprir a sua inteligência. 
Faremos com todos os participantes uma grande viagem, talvez a mais 
importante de todas, uma viagem para dentro de nós mesmos, para algumas camadas 
mais profundas de nossa mente. Almejamos que, através do FREEMIND, você ande em 
terrenos nunca antes pisados e, em especial, se torne um caminhante nas trajetórias do 
seu próprio ser. 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. OBJETIVOS 
 
Apresentar e analisar, segundo os procedimentos da análise multifocal, as 12 
ferramentas do programa FREEMIND como estratégia global prevenção dos transtornos 
psíquicos e, consequentemente, subsidiar ações para a política internacional na área. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO 
 
3.1 Teoria da Inteligência Multifocal 
 
O referencial teórico utilizado para esta tese foi a Teoria da Inteligência 
Multifocal (TIM) que pesquiso há mais de 25 anos. A TIM foi construída objetivando 
funcionar como uma teoria universal para explicar os fenômenos psíquicos e 
psicossociais. Ela já tem sido utilizada em teses de mestrado e doutorado, em cursos de 
pós-graduação lato sensu nos EUA e Europa. 
A TIM tem como objetivo estudar o processo de construção do pensamento, os 
papéis conscientes e inconscientes da memória, os processos de interpretação e a 
formação do eu como líder do teatro psíquico. Enquanto as demais teorias produziram 
conhecimento usando como alicerce o pensamento pronto, a TIM estuda as variáveis e 
os fenômenos universais conscientes e inconscientes, por isso recebe o nome 
“Multifocal”, que estão na base da construção dos pensamentos e dos demais processos 
psíquicos. Portanto, ela não anula e nem compete com as demais teorias, mas procura 
19 
 
contribuir para criticá-las, reciclá-las, fundamenta-las e abrir novas avenidas de pesquisa 
para as demais teorias psicológicas, filosóficas, sociológicas e educacionais. 
A TIM não é uma teoria fechada, mas aberta, muito ainda há que se produzir, 
reciclar e desenvolver no seu bojo. Inúmeras áreas ainda precisam ser investigadas e 
compreendidas no complexo e insondável mundo da psique humana. A própria teoria 
revela que a verdade essencial é um fim inatingível, isto se deve tanto pelo fato de que o 
pensamento consciente, aqui chamado de dialético, não incorpora a realidade intrínseca 
do objeto que ele investiga, quanto porque o próprio processo de construção dos 
pensamentos sofre um sistema de encadeamento distorcido capaz de fazer não apenas 
com que dois observadores interpretem de maneira distinta, mas com que um mesmo 
observador interprete micro ou macro distintamente um mesmo objeto em momentos 
diferentes. 
Através das ferramentas da TIM, utilizadas no programa FREEMIND, a 
psicologia, a psiquiatria, as ciências da educação e sociologia terão subsídios para 
entender alguns pilares da história intrapsíquica, arquivada na memória, da natureza dos 
pensamentos, do caos e da reorganização da energia psíquica, da formação do eu, da 
formação dos paradigmas culturais, da construção das relações sociais, da 
psicopedagogia da aprendizagem e da psicopatologia da hiperatividade, do autismo, da 
depressão, da síndrome do pânico, do TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), das 
psicoses funcionais. 
Embora muitas outras relevantes teorias já tenham sido desenvolvidas, a 
presente teoria nasceu não apenas da observação direta do comportamento sob os 
alicerces metodológicos já existentes na ciência, mas também sob a confecção de novas 
metodologias. O desenvolvimento da TIM exigiu a produção de uma nova interpretação 
e da produção de conhecimento, ela explica por que multiplicamos as escolas, mas não 
multiplicamos a formação de pensadores, por que estamos produzindo uma massa de 
expectadores passivos do conhecimento e não pessoas que expandam o mundo das 
ideias, porque estamos ainda gerando uma população de repetidores de informações e 
não universitários que rompam o cárcere da rotina e saibam utilizar a arte da dúvida e da 
crítica. 
A falta do conhecimento sobre os processos de construção dos pensamentos, 
sobre o processo de interpretação e sobre os limites e o alcance de uma teoria pode 
conduzir os pesquisadores que procuram defender teses acadêmicas a fechar as janelas 
do pensamento. Seria importante que os usuários de uma teoria, não a utilizassem como 
20 
 
se ela incorporasse a verdade essencial, mas como um suporte limitado do processo de 
observação e interpretação. Qualquer usuário de uma teoria que é incapaz de criticá-la 
será um mero reprodutor das suas idéias, traindo-a interpretativamente sem o saber e 
praticando uma ditadura intelectual no exercício da sua profissão ou na sua produção de 
conhecimento científico. Esse processo é passível de ocorrer não apenas nas ciências da 
cultura, mas também nas ciências físicas, biológicas e correlatas. As idéias, mesmo as 
que são consideradas verdades científicas, não são fins em si mesmas, pois não são 
coincidentes com a verdade essencial, que é inatingível. Produzir ciência não é uma 
tarefa simples. A falta de conhecimento dos processos de construção dos pensamentos, 
dos limites e do alcance de uma teoria, bem como dos sistemas de encadeamentos 
distorcidos, passíveis de ocorrer no processo de interpretação, faz com que muitos 
tenham o conceito errado de que, para produzir ciência ou se tornar um cientista, basta 
defender uma tese acadêmica. Devemos repensar o processo de formação de pensadores 
antes de pensar na produção da própria ciência. Devemos nos preocupar com a 
qualidade da inteligência dos pensadores. 
Nas ciências da cultura, na qual se inclui a Psicologia, a Filosofia, a Educação, a 
Sociologia, entre outras, não há muitos recursos financeiros para incentivar a formação 
de pensadores e a expansão das idéias psicossociais, como o têm as ciências naturais, 
que incluem a Computação, a Biologia, a Química, cujas pesquisas resultam em 
produtos industriais. 
Se o capital é pequeno nas ciências da cultura, deveria haver, então, um processo 
de compensação, através da expansão da qualidade dos pensadores pelo uso de 
procedimentos que estimulam a plasticidade construtiva e a liberdade criativa do 
conhecimento. Caso contrário, o contraste do desenvolvimento entre as ciências naturais 
e as ciências da cultura continuará e aumentará. 
A Física sabe como penetrar nas entranhas do átomo e distinguir as partículas 
atômicas, tão ocultas aos olhos, e a Psicologia educacional não sabe comoprevenir 
eficientemente a discriminação racial dos negros, tão visível aos olhos, nem como 
prevenir o uso de drogas que acomete milhões de jovens. Se esse contraste se perpetuar, 
seremos cada vez mais gigantes na tecnologia e anões na prevenção das doenças 
psíquicas, psicossomáticas, psicossociais, bem como na expansão do humanismo, da 
cidadania e da democracia das idéias. Nessa situação, o homem do século XXI, que 
navegará cada vez mais pelo espaço e pela Internet, terá infelizmente cada vez mais 
dificuldade de navegar para dentro de si mesmo, de se interiorizar e de se repensar, de 
21 
 
superar seus estímulos estressantes e de falar de si mesmo. Talvez ele só consiga se 
interiorizar e falar de si mesmo, como já tem acontecido, quando estiver diante de um 
psiquiatra ou de um psicoterapeuta. (CURY, 1999) 
Uma das mais importantes explorações do homem, se não a maior delas, é a 
exploração de si mesmo, do seu próprio mundo intrapsíquico. Aprender a se 
interiorizar; a criar raízes mais profundas dentro de si mesmo; a explorar a história 
intrapsíquica arquivada na memória; a questionar os paradigmas socioculturais; a 
trabalhar com maturidade as dores, perdas e frustrações psicossociais; aprender a 
desenvolver consciência crítica, a conhecer os processos básicos que constroem os 
pensamentos e que constituem a consciência existencial são direitos fundamentais do 
homem. 
Porém, freqüentemente, esses direitos são exercidos com superficialidade na 
trajetória da vida humana. Um dos principais motivos do aborto desses direitos é que o 
homem moderno tem vivido uma dramática crise de interiorização. O ser humano, como 
complexo ser pensante, é um exímio explorador. Ele explora, ainda que sem a 
consciência exploratória, até mesmo o meio ambiente intrauterino, através dos 
malabarismos fetais e da deglutição do líquido amniótico. E, ao nascer, em toda a sua 
trajetória existencial, explora o mundo que o envolve, o rico pool de estímulos 
sensoriais e interpreta-os. Pelo fato de experimentar, desde sua mais tenra história 
existencial, os estímulos sensoriais que esquadrinham a arquitetura do mundo 
extrapsíquico, o homem tem a tendência natural de desenvolver uma trajetória 
exploratória exteriorizante. Nessa trajetória, ele se torna cada vez mais íntimo do mundo 
em que está, o extrapsíquico, mas, ao mesmo tempo, torna-se um estranho para si 
mesmo. O homem moderno, em detrimento dos avanços da ciência e da tecnicidade, 
vive a mais angustiante e paradoxal de todas as solidões psicossociais, expressa pelo 
abandono de si mesmo na trajetória existencial. (CURY, 1999) 
A pior solidão é aquela em que nós mesmos nos abandonamos, e não aquela em 
que nos sentimos abandonados pelo mundo. É possível nos abandonarmos na trajetória 
existencial? Veremos que sim. Quando o homem não se repensa, não se questiona, não 
se recicla, não se reorganiza, ele abandona a si mesmo, pois não se interioriza, ainda que 
tenha cultura e múltiplas atividades sociais. Os livros de autoajuda, embora não tenham 
grande profundidade intelectual, são procurados com desespero nas sociedades atuais, 
como tentativa de superar, ainda que ineficientemente, a grave crise de interiorização 
que satura as pessoas. 
22 
 
O homem que não se interioriza é algoz de si mesmo, sofre de uma solidão 
intransponível e incurável, ainda que viva em multidões. "O homem que não se 
interioriza dança a valsa da vida engessado intelectualmente." Sua flexibilidade 
intelectual fica profundamente reduzida para solucionar seus conflitos psicossociais, 
superar suas contrariedades, frustrações e perdas. É mais fácil explorar os fenômenos do 
mundo que nos envolve do que aprender a nos interiorizar e ser caminhantes na 
trajetória de nosso próprio ser e explorar os fenômenos contidos em nosso mundo 
intrapsíquico. É mais fácil e confortável explorar os estímulos extrapsíquicos, que 
sensibilizam nosso sistema sensorial, do que explorar os sofisticados processos de 
construção dos pensamentos, o nascedouro e desenvolvimento das idéias, a organização 
da consciência existencial, as causas psicodinâmicas e histórico-existenciais de nossas 
misérias, fragilidades, contradições emocionais, etc. 
Mergulhado num processo socioeducacional que se ancora na transmissibilidade 
e no construtivismo do conhecimento exteriorizante, o homem se torna um profissional 
que aprende a usar, com determinados níveis de eficiência, o conhecimento como 
ferramenta ou instrumento de trabalho. Porém, tem grandes dificuldades para usar o 
conhecimento para desenvolver a inteligência: aprender a percorrer as avenidas da sua 
própria mente, conhecer os limites e alcance básicos da construção de pensamentos, 
regular seu processo de interpretação através da democracia das idéias e tornar-se um 
pensador humanista, que trabalha com dignidade seus erros, dores, perdas e frustrações, 
e aprende a se colocar no lugar do "outro" e a perceber suas dores e necessidades 
psicossociais. (CURY, 1999) 
Infelizmente, como veremos, a tendência intelectual natural do Homo sapiens, 
desde a aurora da vida fetal até o seu último suspiro existencial, é seguir uma trajetória 
de construção intelectual superficial. Uma trajetória socioeducacional em que ele pouco 
se interioriza, pouco procura por si mesmo e pouco conhece a si mesmo. 
Procurar a si mesmo é explorar e produzir conhecimento sobre os processos de 
construção da inteligência, ou seja, sobre os processos de construção dos pensamentos, 
sua natureza, cadeias psicodinâmicas, limites, alcance, lógica, práxis, bem como sobre a 
formação da consciência existencial, da história intrapsíquica arquivada na memória, as 
bases que sustentam o processo de interpretação e as variáveis que participam do 
processo de transformação da energia emocional. 
Quem sai do discurso intelectual superficial e procura "velejar" para dentro de si 
mesmo, e vive a aventura ímpar de explorar sua própria mente, nunca mais será o 
23 
 
mesmo, ainda que fique perturbado num emaranhado de dúvidas sobre o seu próprio 
ser. Aliás, ao contrário do que dizem os livros de autoajuda, a dúvida é o primeiro 
degrau da sabedoria. Quem não duvida e critica a si mesmo nunca se posiciona como 
aprendiz diante da vida e, consequentemente, nunca explora com profundidade seu 
próprio mundo intrapsíquico. Quem aprendeu a vivenciar a arte da dúvida e da crítica na 
sua trajetória existencial se posiciona como aprendiz diante da vida e, por isso, tem 
condições intelectuais de repensar seus paradigmas socioculturais e expandir 
continuamente suas ideias e maturidade psicossocial. Todos os pensadores, filósofos, 
teóricos e cientistas que, de alguma forma, promoveram a ciência, as artes e as ideias 
humanistas foram, ainda que minimamente, caminhantes nas trajetórias do seu próprio 
ser e amantes da arte da dúvida e da crítica, enquanto produziam conhecimento sobre os 
fenômenos que contemplavam. (CURY, 1999) 
O homem que aprende a se interiorizar e a criticar suas "verdades", seus dogmas 
e seus paradigmas socioculturais estimula a revolução da construção das idéias nos 
bastidores clandestinos de sua mente. Assim, sai do superficialismo intelectual e, no 
mínimo, aprende a concluir que os processos de construção da inteligência, dos quais se 
destacam a produção das cadeias psicodinâmicas dos pensamentos e a formação da 
consciência existencial do "eu", são intrinsecamente mais complexos que uma 
explicação psicológica e filosófica meramente especulativa e superficial, que chamo de 
explicacionismo, psicologismo, filosofismo. 
O homem moderno tem vivenciado, com freqüência, uma importante síndrome 
psicossocial doentia, a qual chamo de "síndrome da exteriorização O ser humano, nos 
dias atuais, freqüentemente só tem coragem de falar de si mesmo quando vai a um 
psicólogo ou a um psiquiatra. Tem uma necessidade vital de que o mundo gravite em 
torno de si mesmo. Paraele, doar-se para o outro sem esperar a contrapartida do retorno 
é um absurdo existencial, um jargão intelectual, um delírio humanístico. O mundo das 
ideias dos portadores da síndrome da exteriorização existencial tem pouco espaço para 
uma compreensão psicossocial e filosófica da existência humana. (CURY, 1999) 
Aprender a interiorizar-se é uma arte complexa e difícil de ser conseguida no 
terreno da existência. O homem moderno tem sido um ávido consumidor de ideias 
positivistas misticistas, psicologistas, como se tal consumo cumprisse, por ele, o papel 
inalienável e intransferível de caminhar nas trajetórias sinuosas do seu próprio ser e de 
aprender a expandir sua consciência crítica e maturidade intelectoemocional. 
24 
 
A complexidade da mente, associada às deficiências do discurso literário para 
esquadrinhar os fenômenos e processos envolvidos na construtividade de pensamentos, 
na formação da consciência existencial e na transformação da energia psíquica, fizeram-
me rever, criticar e reescrever continuamente os textos deste livro. Por isso, passei mais 
de dezessete anos de intensa dedicação a escrevê-los, bem como aos demais textos que 
compõem o arcabouço teórico da minha produção de conhecimento e que ainda não 
foram publicados, objetivando que esses textos não sejam efêmeros na ciência, mas que 
criem raízes e sejam úteis em diversas áreas psicossociais. (CURY, 1999) 
Esses dados são bem sintéticos. Meu objetivo é fornecer algumas informações 
para evidenciar algumas causas psicossociais que me fizeram, desde minha época de 
estudante de Medicina, me apaixonar pelo mundo das ideias e, ao mesmo tempo, criticar 
diversas convenções existentes na Psicologia e na Psiquiatria e evidenciar a crise de 
formação de pensadores. O objetivo da TIM é contribuir para a formação de pensadores 
e promover o desenvolvimento de habilidades psíquicas capazes de fortalecer o Eu 
como gestor da mente. 
 
 
 
 
3.2 Metodologia 
 
Cada uma das 12 ferramentas do programa FREEMIND foi analisada a partir 
dos procedimentos de pesquisa multifocais da TIM, tais como a arte da formulação de 
perguntas, da dúvida e da crítica, a busca do caos intelectual e os dois instrumentos 
empíricos ligados à análise dos processos de construção dos pensamentos e das 
variáveis que atuam na construção das cadeias de pensamentos. 
Desenvolvi sete procedimentos metodológicos de análise multifocal. Estes 
procedimentos não são utilizados, em sua maioria, na pesquisa acadêmica, mesmo nas 
teses de doutorado. Os grandes teóricos da psicologia também não os utilizaram na 
produção de suas teorias, o que gerou um grande prejuízo para esta ciência. Os 
procedimentos utilizados na pesquisa acadêmica normalmente são bem conhecidos no 
mundo todo, tais como: seletividade de dados, análise de dados, levantamento 
bibliográfico, uso de uma teoria como suporte da interpretação. 
Os setes procedimentos utilizados pela TIM são: 
25 
 
1. A arte da formulação de perguntas; 
2. A arte da dúvida; 
3. A arte da crítica; 
4. A busca do caos intelectual para se processar a descontaminação da 
interpretação; 
5. A busca do caos intelectual para expandir as possibilidades de construção do 
conhecimento; 
6. A análise das causalidades históricas e das circunstancialidades 
biopsicossociais e, 
7. A análise dos processos de construção das variáveis de interpretação na 
mente. 
Além desses setes procedimentos, também utilizei na minha trajetória de 
pesquisa cinco "mesclagens de contrapontos intelectuais" (MCI), que me estimularam a 
revisar criticamente e reorganizar continuamente a produção de conhecimento sobre os 
processos de construção do pensamento. Essas mesclagens referem-se a uma mistura 
entre pontos intelectuais opostos ou equidistantes, tais como: a liberdade em observar e 
a disciplina na observação, a livre produção de pensamento e a revisão crítica dessa 
produção. (CURY, 1999) 
Algumas dessas mesclagens resultaram do processo de cointerferência dos sete 
procedimentos metodológicos da TIM. As cinco "mesclagens de contrapontos 
intelectuais" (MCI) que utilizei foram: 
1. Mesclagem entre a liberdade contemplativa de observar os fenômenos com a 
disciplina empírica no processo de observação e seleção dos mesmos. 
2. Mesclagem entre a liberdade de interpretar os fenômenos com a reorganização 
e reorientação contínua do processo de interpretação. 
3. Mesclagem entre a utilização do caos intelectual para esvaziar, tanto quanto 
possível, as distorções preconceituosas e os referenciais históricos contidos no processo 
de formação da personalidade com a utilização desse caos para expandir as 
possibilidades de compreensão dos fenômenos e de construção do conhecimento. 
 4. Mesclagem entre a liberdade da produção do conhecimento com a reciclagem 
crítica e contínua da mesma. 
5. Mesclagem entre a análise das variáveis da interpretação (fenômenos) com a 
análise dos sistemas de cointerferências que elas organizam para gerar o funcionamento 
da mente e a construção das cadeias de pensamentos. 
26 
 
Não é objetivo de esta tese dar ênfase aos sete procedimentos metodológicos da 
TIM e as cinco "mesclagens de contrapontos intelectuais" que utilizei em minha 
trajetória de pesquisa, embora toda a análise das ferramentas do FREEMIND resulte 
deles. Vou dar ênfase apenas a arte da pergunta, da dúvida e da crítica como os 
procedimentos metodológicos mais relevantes para a discussão do programa 
FREEMIND. 
Aprendi que a arte de perguntar é mais importante do que a arte de responder. 
Aliás, a maneira como se pergunta pode produzir um autoritarismo das idéias, pois 
estabelece as diretrizes das respostas. Antes da busca das respostas, antes da produção 
de conhecimento, é necessário fazer não apenas algumas perguntas, mas múltiplas 
perguntas sobre os fenômenos que estamos observando e interpretando. 
Devemos ainda não apenas formular perguntas multifocais sobre os fenômenos e 
suas micro e macrorrelações, mas perguntas sobre as próprias perguntas, suas 
dimensões, seus limites e alcance. A função da arte da formulação das perguntas não é, 
inicialmente, fornecer respostas, pois as respostas são ditadoras das perguntas, mas 
expandir a dúvida. Quanto mais dúvida e confusão intelectual, mais profunda poderá ser 
a resposta, mais rica será a produção de conhecimento; quanto menos dúvida, mais 
pobre será a produção de conhecimento. (CURY, 1999) 
Os três grandes inimigos de um pensador são: as dificuldades de expandir a arte 
da pergunta e da crítica, a dificuldade de conviver com a dúvida e a ansiedade por 
produzir respostas. A fertilidade das idéias de um pensador não está na sua capacidade 
de produzir respostas, mas na sua intimidade com a arte da formulação das perguntas, a 
arte da dúvida, a arte da crítica e do quanto procura e suporta a experiência do caos 
intelectual. (CURY, 1999) 
A palavra arte associada à palavra "dúvida" ou "crítica" não quer dizer uma 
simples dúvida ou crítica esporádica, mas um processo contínuo de duvidar e criticar, 
um sistema contínuo de aprimoramento da observação, interpretação e questionamento 
do conhecimento. 
A arte da formulação de perguntas me levou a fazer centenas e, em alguns casos, 
milhares de perguntas sobre cada fenômeno intrapsíquico que observava. Mesmo diante 
da mais simples idéia que eu produzia na minha mente, eu questionava intensamente 
suas origens, construtividade, natureza, alcance etc. Eu observava atentamente não 
apenas o comportamento das pessoas, mas era um contínuo viajante na trajetória do meu 
próprio ser. Assim, durante o processo de observação dos fenômenos psíquicos, eu 
27 
 
expandia, através da arte da formulação de perguntas, a arte da dúvida. Esta estimulava 
meu processo de interpretação e, conseqüentemente, minha produção de conhecimento. 
Através da expansão da produção de conhecimento, aprimorava a arte da crítica. 
Com isso,aprendi pouco a pouco a usar a arte da crítica, não apenas para criticar todo 
conhecimento que previamente eu tinha sobre os fenômenos psíquicos que observava, 
mas também para criticar toda interpretação e produção de conhecimento que extraía 
deles. (CURY, 1999) 
Vivi intensamente a arte da formulação de perguntas, a arte da dúvida e da 
crítica, que chamo de "tríade da arte da Pesquisa Multifocal". Elas são fundamentais na 
produção da pesquisa científica e até na convivência social. Elas foram para mim a 
fonte motivadora do processo de produção de conhecimento sobre os complexos e 
sofisticados processos de construção dos pensamentos. 
O exercício contínuo da "tríade da arte da Pesquisa Multifocal" foi me levando, 
ao longo dos anos, a desenvolver dois procedimentos sofisticados ligados à busca do 
"caos intelectual" que objetivavam tanto processar a descontaminação da interpretação 
quanto expandir as possibilidades de construção do conhecimento. A busca do caos 
intelectual também me levou pouco a pouco a aprimorar dois instrumentos de 
observação e análise (instrumentos empíricos), que é a análise das causas históricas 
(variáveis ligadas à memória) e das circunstancialidades biopsicossociais (variáveis 
intrapsíquicas, intraorgânicas e sociais presentes no ato da interpretação) e a análise dos 
processos de construção das variáveis da interpretação na mente ou campo de energia 
psíquica. (CURY, 1999) 
Tenho consciência de que abordar sucintamente esse emaranhado de 
procedimentos pode gerar mais confusão do que esclarecimento. Minha intenção é 
evidenciar que um pensador precisa pesquisar com critério e rejeitar determinadas 
atitudes especulativas e teoricistas. Penso que um teórico da Filosofia não precisa 
evidenciar seus procedimentos, pois a grandeza das suas idéias está no conteúdo do seu 
discurso teórico; mas um teórico da Psicologia precisa, embora muitos deles não o 
tenham feito, pois ele estuda fenômenos intrapsíquicos específicos e sua produção de 
conhecimento objetiva alcançar uma aplicabilidade psicossocial na educação, nas 
relações sociais e no campo das doenças psicossociais e psíquicas. 
Como procurei pesquisar o homem na perspectiva psicossocial e filosófica, bem 
como com outras ciências, sinto a necessidade de fazer uma exposição sucinta desses 
procedimentos de análise multifocal que desenvolvi na trajetória da minha pesquisa. 
28 
 
A busca do caos intelectual no processo de observação e interpretação dos 
fenômenos psíquicos abre algumas janelas psicossociais e filosóficas para expandirmos 
as possibilidades de compreensão sobre as origens, limites, alcance, práxis, natureza dos 
pensamentos (incluindo o conhecimento científico) e da consciência existencial. 
É mais fácil desenvolver o autoritarismo do que a democracia das ideias, do que 
redirecionar o processo de observação, interpretação e produção de conhecimentos 
através do exercício da "consciência crítica do eu". O respeito e o estímulo à capacidade 
de pensar do "outro" deveriam saturar todos os níveis das relações humanas, inclusive a 
pesquisa científica. 
Os "antídotos" intelectuais contra o autoritarismo nas relações humanas são 
multifocais: a) compreender que a democracia das ideias é uma inevitabilidade; b) 
respeitar o ser humano na sua integralidade; c) considerá-lo capaz de pensar e escolher 
seus próprios caminhos; d) estimular a revolução das idéias que ocorre na sua mente e 
procurar contribuir para que ela seja redirecionada para desenvolver a revolução do 
humanismo, da cidadania e da capacidade crítica de pensar. (CURY, 1999) 
Por sua vez, as "vacinas" e "antídotos" intelectuais contra os autoritarismos das 
idéias e as ditaduras dos discursos teóricos produzidos na pesquisa científica também 
são multifocais: exercitar a arte da formulação de perguntas, da dúvida, da crítica; a 
busca do caos intelectual, a reciclagem e reorganização contínua do processo de 
interpretação; a postura constantemente aberta no processo de observação, interpretação 
e produção de conhecimento, capaz de se abrir sempre às novas possibilidades dos 
fenômenos que contemplamos etc. 
Os procedimentos metodológicos derivados da busca do caos intelectual se 
tornaram importantes "vacinas" contra o autoritarismo das ideias e a ditadura do 
discurso teórico na minha trajetória de pesquisa e produção de conhecimento. Porém, 
não há procedimentos totalmente seguros; por isso a minha produção de conhecimento 
possui limites, além de ser, como disse, apenas uma ilha no mar inesgotável da ciência. 
Assim, produzir conhecimento pode ser aparentemente simples, mas a 
construtividade de pensamentos é altamente sofisticada. É preciso procedimentos 
metodológicos de análise igualmente sofisticados para compreender a psicodinâmica 
nos bastidores da mente. Os procedimentos de pesquisa multifocais apresentados neste 
capítulo tem justamente esse objetivo ao analisar cada ferramenta do programa 
FREEMIND. 
 
29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. DISCUSSÃO DAS FERRAMENTAS DO FREEMIND 
 
O programa FREEMIND, como apresentado no início da tese, é constituído de 
12 ferramentas multifocais da psicologia educacional e social, psiquiatria social, 
sociologia, pedagogia e filosofia aplicada. Ele objetiva: 1- Reeducação do Eu como 
autor da história e como gestor psíquico; 2- Reorganização e amadurecimento das 
relações interpessoais; 3- Desenvolvimento de hábitos para a excelência profissional, o 
trabalho em equipe, a cooperação social, a solidariedade, a tolerância; 4- 
Desenvolvimento de habilidades emocionais para trabalhar perdas e frustrações, 
proteger a emoção, gerenciar o estresse e prevenir transtornos psíquicos. 
Cada uma de suas ferramentas de educação preventiva e promoção da saúde 
serão apresentadas e discutidas à luz da TIM e dos procedimentos de análise multifocal 
exposto no capítulo anterior. 
 
As 12 ferramentas do programa FREEMIND são: 
1. Vivenciar doze princípios filosóficos. 
30 
 
2. Ser autor da sua história. 
3. Gerenciar os pensamentos. 
4. Administrar e proteger a emoção. 
5. Trabalhar os papéis da memória e reeditar o filme do inconsciente. 
6. A arte de ouvir e a arte de dialogar. 
7. A arte do autodiálogo e a mesa-redonda do Eu. 
8. Contemplar o belo. 
9. Libertar a criatividade e ser empreendedor. 
10. Disciplina e sonhos. 
11. Ser empreendedor. 
12. Resiliência e inteligência existencial. 
 
4.1 Primeira ferramenta do FREEMIND 
 
VIVENCIAR DOZE PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS 
 
Cada uma das ferramentas contém algumas complexas funções da inteligência 
que devem ser trabalhadas, como foi dito, ao longo de toda a história do participante. A 
primeira ferramenta procura trabalhar os doze princípios filosóficos do programa 
FREEMIND. Esses princípios elaborados pela Academia de Inteligência é a razão de 
ser tanto dela e como do próprio programa. Esses 12 princípios vão alicerçar todas as 
demais ferramentas que serão estudadas. 
Debata em grupo cada um desses princípios filosóficos e aponte quais deles você 
possui e quais precisa incorporar. Desejamos que cada um deles faça parte de cada 
capítulo da sua história. Leia-os e releia-os, afixe-os em seu quarto e guarde-os sempre 
em sua mente. 
 
1 - Cada ser humano, apesar dos seus defeitos, conflitos, falhas e limitações, não é 
mais um número na multidão, um número de identidade ou de cartão de crédito, 
mas um ser humano único e complexo. Você sente um ser humano único e complexo? 
Sente que sociedade o despreza? Que valor tem sua existência? Tente definir o que é a 
vida, ainda que se perca nessa definição. 
 
31 
 
2- Cada ser humano possui ferramentas em sua mente que podem ser trabalhadas 
e desenvolvidas para deixa-lo de ser espectador passivo e se tornar diretor do 
script da sua história. Você dirige seu script ou é dirigido pelos seus conflitos e 
ambiente externo? O quanto você gostariade estar no controle da sua vida? 
 
3 – Se a sociedade te abandona a solidão é suportável, mas se você mesmo se 
abandona, ela é intolerável. Você tem se abandonado? Quem mais o diminui a 
sociedade ou você mesmo? Ninguém pode decidir mudar a sua história, só você mesmo, 
mas é impossível mudá-la se não levar em altíssima conta sua saúde mental e sua 
liberdade. 
 
4- Não se pode mudar o passado, mas você pode investir forte e intensamente em 
seu presente e mudar seu futuro. O passado produz culpa e angústia? Você tem 
tentado mudar seu passado ou o presente? As pessoas que você feriu, os erros que 
cometeu, os acidentes que teve no caminho, só podem ser solucionados se você 
reconstruir corajosamente sua história no presente. Economize as “promessas”, seja rico 
em atitudes. 
 
5- Você deve ter um romance com sua própria história e saber que a melhor 
maneira de ter esse romance é investir na felicidade e no bem estar dos outros. 
Você é egoísta, pensa em si mesmo em primeiro lugar? Seu mecanismo de recompensa 
é imediato, ou seja, procura o prazer a qualquer custo sem pensar nas consequências do 
seu comportamento? É preocupado com a felicidade das pessoas que ama? Essa 
preocupação é teórica ou real? 
 
6 – Os fortes são especialistas em agradecer, os frágeis, em reclamar. Os fortes são 
hábeis em elogiar, os frágeis são peritos em apontar defeitos. Que tipo de 
especialista você é, em agradecer ou reclamar? Você agradece o ar que respira, os 
alimentos sobre a mesa, o coração que pulsa incansavelmente, as pessoas que se 
preocupam com você? Você é uma pessoa agradável, aproveita as oportunidades para 
elogiar cada pessoa que o rodeia? Ou é intolerante, chato, entediante, um perito em ver 
defeitos nos outros, um especialista em reclamar de tudo e de todos? Sabia que reclamar 
em excesso é um grave defeito da personalidade, uma bomba contra o prazer de viver, 
pois aumenta os níveis de exigência para se ser feliz? 
32 
 
 
7- Os fortes apostam tudo o que têm naqueles que pouco têm, os frágeis excluem e 
não dão novas chances aos outros. Você é generoso ou punitivo? Cobra demais dos 
outros? As pessoas maduras não desistem de quem amam, por mais que o decepcionem. 
Jamais abandonam os feridos no caminho. Seja sincero: de quem você já desistiu? 
 
 
8 – Os fortes nunca desistem de si, dão sempre uma nova chance para si, os frágeis 
são conformistas. Os fortes tropeçam, caem, falham, são vaiados, desacreditados, 
excluídos, mas nunca desistem de reescrever sua história. Desistir não está no dicionário 
de suas vidas. Os frágeis aceitam tudo passivamente, se acham incapazes, vítimas de seu 
conflito, creem que são imutáveis. Quanto a este princípio filosófico, você é forte ou 
frágil? Você elabora estratégias para mudar sua história emocional, social e 
profissional? 
 
9 – Os fortes usam seu sofrimento para se construir, os frágeis para se destruir. Os 
fortes não são heróis, nem perfeitos. Eles choram, se perturbam e sentem que em alguns 
momentos lhes faltam forças para continuar, mas têm uma característica fundamental: 
usam seu sofrimento para se construir e não para se destruir. Usam abusos sexuais, 
humilhações sociais, conflito dos pais, privações financeiras, abandonos, perdas de 
pessoas queridas, derrotas, traições, enfim, todos os tipos de sofrimentos que por 
ventura vivenciou não para se envergonhar, punir-se, fugir do mundo ou odiá-lo, mas 
para escrever os capítulos mais importantes da sua história. Na infância, eles não tinham 
ferramentas para se reconstruir, na vida adulta, não abre mão delas, as procuram como o 
sedento no deserto. Você deseja procurá-las? Que tipo de dor você passou? Cite 
algumas e recorde as atitudes que tomou e, se fosse hoje, pense nas atitudes que 
tomaria. 
 
10 - Os fortes são flexíveis, os frágeis são radicais. Os fortes compreendem, os 
frágeis condenam. Você é flexível ou intolerante? Tem coragem de mudar de opinião 
ou é teimoso, radical, imutável? Quem muda de opinião é frágil ou forte? Compreende 
os que erram com você ou é rápido em condená-los? 
 
33 
 
11- Os fortes expõem suas ideias, os frágeis as impõem. Você é um especialista em 
expor suas ideias, em expressá-las com brandura e calma, dando o direito das pessoas as 
aceitarem ou não? Ou se comporta como um deus, pressiona, eleva o tom de voz, faz 
ameaças, para que seus amigos, filhos, colegas se submetam ao que pensa? Sabe ser 
contrariado? Discuta esse pensamento filosófico: os fortes usam as ideias, os frágeis, a 
agressividade. 
 
12- Os fortes reconhecem suas falhas, os frágeis tem a necessidade neurótica de 
estar sempre certo. Você tem coragem de reconhecer seus erros, estupidez, incoerência 
ou se defende com unhas e dentes? Você tem coragem de falar das suas lágrimas para 
que seus íntimos (inclusive as crianças) aprendam a chorar as deles? Discuta essa 
pensamento filosófico: não há pessoas imutáveis, há pessoas sim que tem medo de 
reconhecer suas “loucuras”, por isso levam para seu túmulo seus conflitos. 
 
 Dinâmica: reúna em grupo de dois e cada um conte honestamente para o seu 
parceiro(a) os princípios filosóficos que mais precisa assimilar e aprender. Fale os 
motivos. Depois de cinco ou dez minutos retorne o grupo. 
 
 
Paradoxos doentios das sociedades modernas 
 
Minha trajetória como psiquiatra, pesquisador e produtor de conhecimento sobre 
o complexo funcionamento da mente humana me convenceu de que a nossa espécie, em 
particular as sociedades modernas, está adoecendo coletivamente em seu psiquismo. 
Enumerarei apenas alguns paradoxos ou pontos contrastantes e a necessidade de um 
programa mais profundo para educar o Eu como gestor do intelecto e superar o cárcere 
da emoção, que não apenas inclui fobias, humor depressivo, ansiedade, obsessão, mas 
também a dependência de drogas/álcool: 
 
1. O humor triste e a angústia estão aumentando. A indústria do lazer está se 
expandindo. Nunca tivemos uma fonte de estímulos para excitar a emoção como na 
atualidade. A indústria da moda, os parques temáticos, os jogos esportivos, a Internet, a 
televisão, os estilos musicais e a literatura explodiram nas últimas décadas. Portanto, 
esperávamos que nossa geração fosse a que vivesse o mais intenso oásis de prazer e 
34 
 
tranquilidade. Mas nós nos enganamos, jamais fomos tão tristes e inseguros. Muitas 
pessoas precisam de inumeráveis estímulos para sentir migalhas de prazer. Dantas 
(2008) afirma que o discurso sobre o sofrimento psíquico passou a atuar na vida 
cotidiana, de uma forma nunca vista, a partir dos anos 80 do séc. XX, tornando-se foco 
de intensa preocupação social, política e de saúde mental. 
O que está ocorrendo? Quem deseja ter uma mente livre deve fazer 
questionamentos profundos. Um milhão de pessoas se suicidam por ano e dez milhões 
tentam e felizmente não morrem. Um número muito maior do que as vítimas nas 
guerras vigentes. 
 
2. A solidão está se expandindo. As sociedades estão adensadas. No começo do 
século XX, éramos pouco mais de um bilhão de pessoas. Hoje, só a China e a Índia têm, 
cada uma, mais de um bilhão de habitantes. Por vivermos tão próximos fisicamente, 
pensávamos que a solidão seria estancada. Mas nos enganamos novamente, a solidão 
nos contaminou. As pessoas estão sós nos elevadores, no ambiente de trabalho, nas ruas, 
nas praças esportivas. Estão sós no meio da multidão. 
Moreira e Callou (2006) apontam que na contemporaneidade, apesar de seus 
grandes avanços científicos e tecnológicos e, sua expansão nos meios de comunicação, é 
possível notar uma crescente solidão no ser humano. Pois o estilo de vida individualista 
e consumista compromete fortemente a comunicação entre as pessoas. 
A solidão é, na atualidade, um dos mais graves problemas que desafiam a cultura 
e o homem, sinaliza Ruggero (2004 apud MOREIRA; CALLOU, 2006). 
 
3. O diálogo está morrendo. Muitos só sabem falar de si mesmos quandoestão 
diante de um psiquiatra ou psicólogo. Pais e filhos não cruzam suas histórias, raramente 
trocam experiências de vida. A família moderna está se tornando um grupo de 
estranhos, todos vivem ilhados em seu próprio mundo. 50% dos pais jamais 
conversaram com seus filhos sobre suas lágrimas, medos, angústias, pesadelos. Nas 
empresas e escolas as pessoas estão próximas fisicamente, mas infinitamente distantes 
interiormente. Perdas, angústias, medos, conflitos não são verbalizados. 80% das 
pessoas têm sintomas de timidez. Muitas pessoas tímidas são ótimas para os outros, mas 
costumam ser carrascos de si mesmas. 
 
35 
 
4. As discriminações chegaram a patamares insuportáveis. Infelizmente, nos 
dividimos, discriminamos e excluímos de múltiplas formas. Não honramos o espetáculo 
das ideias, nossa capacidade de pensar, o fascinante funcionamento da mente humana. 
Não poucas vezes não é a discriminação imposta pelos outros que mais perturba, mas a 
autodiscriminação. Você se autodiscrimina ou se diminui? E quanto a sociedade, sente 
que as pessoas olham com preconceito? Esse preconceito o machuca muito ou pouco? 
Já chorou ou se revoltou por causa disso? 
 
5. A qualidade de vida está se deteriorando. Quanto pior a qualidade da 
educação, mais importante será o papel da psiquiatria no terceiro milênio. Apesar dos 
avanços da medicina, da psicologia e da psiquiatria, o normal tem sido ser ansioso e 
estressado e o anormal tem sido ser tranquilo e relaxado. Segundo Nunomura (2004 
apud PEREIRA; SILVA; SILVA, 2010) atualmente o estresse afeta inúmeras pessoas, 
principalmente na fase adulta, devido a este ser o período onde se concentram as 
maiores responsabilidades e pressões. O autor destaca também que o estresse tem sido 
considerado a “doença do século”, agrupando diversos fatores internos e externos ao 
sujeito, os quais se não forem controlados desde o início podem provocar muitas 
complicações à saúde. De acordo com Instituto de pesquisa social da Universidade de 
Michigan (USA) 50% das pessoas cedo ou tarde desenvolverão um transtorno psíquico 
como depressão, fobias, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, psicoses, 
alcoolismo, farmacodependência. Um número assustador. 
Que tipo de sintoma por ventura tem: é ansioso, agitado, tenso? Sofre por 
antecipação? Acorda cansado, vive fatigado? Anda esquecido ou tem déficit de 
memória? Tem sintomas psicossomáticos (dores de cabeça, muscular, taquicardia, 
queda de cabelo, etc.)? 
 
PAINEL DE DEBATE DA PRIMEIRA FERRAMENTA 
 
Após cada ferramenta haverá um painel de debate. Esperamos que o debate já 
tenha ocorrido durante toda a exposição de cada ferramenta, mas, apesar disso, o 
programa FREEMIND trará sempre um painel de perguntas para trazer à lembrança 
pontos importantes. 
 
36 
 
1 - Você tem tido um romance com sua própria história? Qual o valor real que você dá 
para você mesmo? Em que lugar está na sua escala de valores? 
2 – O que é ser forte ou maduro para o programa FREEMIND? 
3 – O que é ser frágil ou imaturo para o programa FREEMIND? 
4 – você é um especialista em compreender ou em julgar? Quando você passa por um 
sofrimento, seja ele qual for, você o enfrenta com maturidade e procura reciclá-lo e 
usá-lo para crescer ou foge dele? 
 
PAINEL DE EXERCÍCIOS DIÁRIOS 
 
Faça um relatório dos seus exercícios durante a semana. O que praticou e qual 
foi o resultado? 
Após cada ferramenta haverá uma recomendação de exercícios diários. É 
fundamental para o sucesso de cada participante que ele o pratique e faça um relatório 
diário. Não basta se encantar com a ferramenta, é necessário disciplina para incorporá-
la. Antes de iniciar a exposição da próxima ferramenta, o facilitador deveria pedir para 
os participantes comentarem pelo menos uma de suas práticas semanais. 
 
1 – Escreva os princípios filosóficos que você mais precisa treinar, assimilar e trabalhar. 
2 - Treine a cada momento compreender mais e julgar menos, agradecer mais e criticar 
menos. 
3 - Treine diariamente usar seus erros não para se punir, mas para amadurecer, 
compreender as limitações da existência e ser mais tolerante com os outros. 
4- Exercite encarar suas frustrações e decepções com maturidade. Jamais esqueça que 
não há céus sem tempestades, nem caminhos sem acidentes. Comente as experiências 
que teve na semana. 
5 - Equipe seu Eu para nunca desistir de você e nem das pessoas que ama. Os fortes são 
obstinados, determinados, ouvem o inaudível e veem o invisível, por isso sempre dão 
uma nova chance para si e para os outros. Relate se durante a semana você vivenciou 
essa ferramenta. 
 
4.2 Segunda ferramenta do FREEMIND 
 
O EU COMO AUTOR DA PRÓPRIA HISTÓRIA 
37 
 
 
Ser Autor da sua História é ser: 
 
1. Capaz de reconhecer que cada ser humano é um ser único. 
2. Gestor dos pensamentos. 
3. Protetor das emoções. 
4. Filtrador dos estímulos estressantes. 
5. Capaz de pensar antes de reagir nos focos de tensão. 
6. Capaz de construir metas claras e lutar por elas. 
7. Capaz de fazer escolhas e saber que toda escolha implica em perdas e não 
apenas em ganhos. 
8. Capaz de tirar os disfarces sociais, ser transparente e reconhecer conflitos, 
fragilidades, atitudes estúpidas. 
9. Capaz de não desistir da vida, mesmo quando o mundo desaba sobre si. 
10. Capaz de liderar a si mesmo, não ser controlado pelo ambiente, circunstâncias e 
ideias perturbadoras. 
 
 
 
Introdução 
 
A educação clássica nos ensina a conhecer detalhes dos átomos que nunca 
veremos e planetas que nunca pisaremos, mas não nos ensina a conhecer o planeta que 
todos os dias respiramos, andamos, vivemos: o planeta psíquico. Ao longo da aplicação 
do programa você será encorajado a se autoconhecer, a se mapear. O autoconhecimento 
básico é fundamental para expandir o prazer de viver, superar a solidão, promover o 
diálogo interpessoal, estimular a formação de pensadores, enriquecer a arte de pensar, 
debelar o câncer da discriminação, prevenir a depressão, a síndrome do pânico, os 
transtornos ansiosos, a dependência das drogas. Você se conhece? Já entrou em áreas 
mais profundas de si mesmo? Tem medo de mapear suas fragilidades? 
Por sermos uma espécie pensante, temos tendência em cuidar seriamente daquilo 
que tem valor. Cuidamos do motor do carro para não fundir, da casa para não deteriorar, 
do trabalho para não sermos superados, do dinheiro para não faltar. Alguns se 
38 
 
preocupam com suas roupas; outros, com suas joias, e, ainda outros, com sua imagem 
social. 
Mas qual é o nosso maior tesouro? O que deveria ocupar o centro de nossas 
atenções? O carro, a casa, o trabalho, o dinheiro, as roupas, as viagens ou a qualidade de 
vida! Por incrível que pareça nossa qualidade de vida fica frequentemente em segundo 
plano. Sem ela, não temos nada e não somos nada, não somos mentalmente saudáveis, 
emocionalmente livres, socialmente maduros, profissionalmente realizados. Você cuida 
da sua qualidade de vida? 
Minayo (2000) associa qualidade de vida ao grau de satisfação encontrado na 
vida familiar, amorosa, social, ambiental e à própria existência, sendo que em todas as 
sondagens que são realizadas sobre essa temática se encontram valores não materiais, 
como amor, liberdade, solidariedade, inserção social, realização pessoal e felicidade. A 
autora acrescenta que o termo qualidade de vida abrange muitos significados, os quais 
traduzem conhecimentos, experiências e valores de sujeitos e sociedades em suas 
diferentes épocas e contextos culturais. 
 
A aeronave mental tem um péssimo piloto 
 
Você teria coragem de subir num avião e fazer uma longa viagem sabendo que o 
piloto não tem experiência, tem poucas horas de vôo? Relaxaria se soubesse que ele 
desconhece os instrumentos de navegação? Dormiria se ele não tivesse habilidades para 
se desviar de rotas turbulentas, com alta concentração de nuvens e descargas elétricas? 
Fiz essas

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