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1 Anna C. S. Moulin Ectoscopia, Sinais Vitais e Anamnese SEMIOLOGIA - INTRODUÇÃO Viés de memória ➝ depende do que o paciente recorda. Viés de meio de informação ➝ forma como a pessoa se comunica etc. Diagnóstico diferencial: hipóteses que possam justificar um sintoma, seguidas de exames que possam confirmar ou não essas hipóteses. LOCALIZAÇÃO DA DOR A primeira pergunta que deve ser feita após uma queixa é: “o que pode doer nessa localização?”. Ex: área lombar ➝ pele, músculos, ossos, nervos, vasos, rim, apêndice, intestino, fígado e vesícula (lado direito), baço e pâncreas (lado esquerdo). CARACTERÍSTICA DA DOR Pensar sempre no mecanismo da dor. Como seria uma dor na pele? ➝ distensão, pressão, corte, laceração, queimadura (arde, queima, dói). INTENSIDADE DA DOR Qual tipo de dor é mais intenso? Qual dor é mais contínua? POSIÇÃO DA DOR Em alguma posição específica essa dor melhora/ piora? Relação médico-paciente ➝ relação de confiança precisa ser estabelecida para que o paciente sinta abertura para contar a história. Saúde ➝ estado de bem-estar físico, mental e social, e não mera ausência de doença ou invalidez. Sintoma ➝ subjetivo; sensação sentida pelo paciente não visível ao examinador, descrita pelo paciente (ex. diarreia, dor de cabeça). Sinal ➝ objetivo; possível ver, palpar, examinar, chegar. Não necessariamente o paciente precisa contar e pode ser sinal e sintoma ao mesmo tempo (ex. dispneia). TIPOS DE DIAGNÓSTICO • Anatômico ➝ “O que dói?” • Funcional ➝ “Como dói?” • Sindrômico ➝ “É um problema de qual sistema?” • Patológico ➝ “É uma infecção? Cálculo? Tumor?” • Nosológico ➝ “É vascular? Infeccioso? Neoplásico?” • Etiológico ➝ “Qual a causa?” • Radiológico ➝ “Ultrassom? Biópsia?” • De certeza ➝ Resultado de biópsia? • Diferencial ➝ O que mais pode ser? 2 Anna C. S. Moulin DIAGNÓSTICO NOSOLÓGICO Vascular Infeccioso Traumático Autoimune (Inflamatório) Metabólico Iatrogênico Neoplásico Degenerativo Epiléptico Congênito BIOÉTICA Omissão de socorro. Imperícia ➝ não ter competência e realizar certo procedimento para ganhar dinheiro, de forma inadequada. Negligência ➝ não socorrer. Imprudência ➝ pecar por excesso; deixar uma pessoa que talvez não tenha competência tomar uma decisão. RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE Transferência ➝ fenômenos afetivos que o paciente passa (transfere) para o médico; positiva ou negativa. Contra-transferência ➝ fenômenos afetivos que o médico passa (transfere) para o paciente; positiva ou negativa. Resistência ➝ mecanismo psicológico inconsciente que interfere na relação médico-paciente. ANAMNESE Escuta ativa ➝ ouvir e formular hipóteses. Detetive ➝ perspicácia para dissecar sinais e sintomas. Redator ➝ ordenar fatos em ordem cronológica e sistemática. Ser médico ➝ conhecimento fisiopatológico. Exame Clínico = Anamnese + Exame Físico. Capacidade de adaptar as perguntas. Perguntas diretas ➝ gerais a inespecíficas, mas NÃO podem ser indutivas (tipo respostas “sim” ou “não”). Perguntas que geram respostas graduadas e qualitativas. Formular uma série de perguntas, uma de cada vez. Oferecer várias opções como resposta. Esclarecer o enunciado feito pelo paciente. Comunicação não-verbal. Eco ➝ repetir última palavra ou enfatizar último aspecto do sintoma para continuar contando. Respostas empáticas ➝ validação, tranquilização. MORTE 5 estágios da resposta à perda ou luto antecipatório: 3 Anna C. S. Moulin 1. Negação e isolamento. 2. Raiva. 3. Negociação. 4. Tristeza/ depressão. 5. Aceitação. ESTRUTURAÇÃO DA ANAMNESE APRESENTAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO Nome, idade, sexo, etnia, nacionalidade, naturalidade, estado civil, profissão, endereço. QUEIXA PRINCIPAL (QP) Geralmente é aquilo que mais incomoda o paciente, na linguagem leiga. Pode ser um sintoma ou um sinal. Sempre entre aspas e exatamente como o paciente falar. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL (HDA) Interrogatório dirigido: • Perguntas abertas vs. Específicas. • Perguntas dirigidas vs. Induzidas. • Macro para micro ➝ dirigidas (permitem várias alternativas). • Micro para micro ➝ induzidas (sim ou não). • Perguntas de múltipla escolha. • Uma pergunta de cada vez, em linguagem compreensível. • Atentar-se à evolução cronológica de cada fato. Interrogatório/ Revisão dos sistemas: • Funções de eliminação. • Questionamento sintético dos sistemas que não foram narrados na HDA. HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA (HPP) Antecedentes fisiológicos ou patológicos. Eventos nosológicos anteriores: • Circunstanciais (acidentes). • Doenças (pneumonias, viroses na infância etc). • Cirurgias e internações hospitalares. • Uso de medicação prolongada. • Vacinação. Eventos do passado que perduram até hoje DEVEM estar na HPP. HISTÓRIA FAMILIAR (HF) Importante ➝ coisas que tenham padrão de disseminação ou comportamento. Ex. infecções, obesidade, condições com fatores genéticos. Deve-se atentar à mesma geração do paciente (irmãos) e a geração acima (pais, tios e avós). Doenças crônicas na família. Câncer na família. HISTÓRIA PSICO-SOCIAL (HPS) • Personalidade. 4 Anna C. S. Moulin • Situação econômica. • Ambiente físico de moradia. • Tabagismo. • Etilismo. • Uso de drogas ilícitas. OBS: História Ginecológica (HGO) para mulheres ➝ primeira relação sexual, número de parceiros, se faz prevenção etc. HISTÓRIA EPIDEMIOLÓGICA • Comportamento sexual. • Viagens. • Contato com natureza desconhecida. • Alimentação suspeita (quantidade, qualidade). • Atividade física. • Contato com animais. • Uso de substâncias ativas lícitas ou ilícitas. EXAME FÍSICO – INTRODUÇÃO O Exame Físico é composto por 4 etapas: 1. Inspeção/ Ectoscopia. 2. Palpação. 3. Percussão. 4. Ausculta. Uma coisa é a história clínica, outra é o exame físico. Anamnese = História Clínica, informações dadas pelo paciente + Exame físico, 4 etapas. Ectoscopia ➝ tudo que você consegue aferir do paciente usando o recurso exclusivamente visual (sinal obtido por inspeção). Ex. semiotécnica para avaliar coloração. Sinais vitais ➝ sinal de que o indivíduo está vivo. Sinal vital pressupõe de que em um tempo mais curto possível se possa definir se o indivíduo está vivo ou não. CURTÍSSIMO ESPAÇO DE TEMPO (SEGUNDOS). 1. Pulso Periférico ➝ indica batimento do coração. O periférico, especificamente o radial indica a informação de forma muito mais rápida que a ausculta do foco cardíaco. Sinais vitais ➝ PULSO! Não fornece a Frequência cardíaca (claro que um é o reflexo do outro, porém o pulso é mais facilmente detectado). 2. Frequência Respiratória. 3. Nível de Consciência. 4. Pressão Arterial. 5. Presença ou Ausência de Dor. 6. Saturação de Oxigênio Periférica. ECTOSCOPIA/ INSPEÇÃO Pode ser realizada de forma panorâmica (exame geral do paciente) ou de forma localizada (olho nu ou uso de lupa). SEMIOTÉCNICA 5 Anna C. S. Moulin Iluminação adequada (luz natural, incidência oblíqua). Atenção ➝ cianose e icterícia só serão reconhecidas com boa iluminação. Desnudar cada região por partes. Conhecer as características da superfície corporal e a anatomia da região examinada. Inspeção frontal/ tangencial. • Tangencial ➝ forma correta de pesquisar movimentos mínimos na superfície corpórea. Ex. pulsações, ondulações, abaulamentos ou depressões. Pele e mucosa. Postura ➝ ativa? Passiva? Fácies ➝ conjunto de sinais faciais; diagnósticos sindrômicos. Peso e Altura ➝ cálculo de Índice de Massa Corporal. Marcha. Estado nutricional ➝ eutrófico/ baixo peso/ sobrepeso/ algum grau de obesidade. Tela subcutânea (edema) ➝ edema = acúmulo de líquido no espaço intersticial. Existem 3 espaços: celular, vascular e intersticial. Linfonodos superficiais.Exoftalmia/ Enoftalmia ➝ prostração ou retração do globo ocular. Enoftalmia pode indicar desidratação, enquanto Exoftalmia é um sinal frequente de Hipertireoidismo. Bócio. Linfonodomegalia periférica ➝ cadeias superficiais x cadeias profundas ➝ cadeia profunda não é possível ser examinada/ palpada. Ginecomastia. Prurido. Circulação colateral ➝ tórax, abdome. Forma mais simples de suspeitar ➝ presença de varizes e observação de veias na superfície corpórea. Posições antálgicas ➝ posição que o paciente adota para diminuir ao máximo a dor: • Em decúbito dorsal (180°). • Decúbito ventral. • Flexão do tórax sobre o abdome, especialmente o hipocôndrio direito ➝ clássica em doenças pulmonares que comprometem base do tórax e hipocôndrio direito. • Desvio da coluna vertebral (escoliose antálgica). • Decúbito lateral (esquerdo ou direito). • Genupeitoral ➝ flexão de membros inferiores sobre o abdome e curvatura do tórax. • Ortopnéia ➝ de pé; objetivo ➝ reduzir a dispneia. • Opistótono. • Emprostótono. • Posição do travesseiro. • Em gatilho. Inspeção ➝ iniciar no primeiro momento em que se encontrar com o paciente e continuar durante todo o exame físico. 6 Anna C. S. Moulin SINAIS VITAIS • Temperatura. • Pulso. • Frequência Respiratória. • Pressão Arterial. • Dor. • Nível de Consciência. • Oximetria de Pulso. Parâmetros para definir da maneira mais rápida possível (mais próxima do tempo real) se o paciente está ou não vivo. OBJETIVOS Vida ou não? Risco de vida? Estabilidade? Estabilidade ➝ 2 tipos: cardiovascular (hemodinâmica) ou respiratória. • Respiratória ➝ sinais de dispneia (desconforto respiratório), frequência respiratória, saturação de O2. TEMPERATURA Termômetros Clínicos – 35-42°C. Termômetros Eletrônicos – 32-43° C. Axilar ➝ 35.5-37° C (média 36-36.5° C). Bucal ➝ 36-37.4° C. Retal ➝ 36-37.5° C. As temperaturas axilar e retal devem ser aferidas em ABDOME AGUDO (dor abdominal de estabelecimento a no máximo 48h) e AFECÇÕES PÉLVICAS INFLAMATÓRIAS. OBS: Valorizar diferença acima de 0,5° C. TIPOS DE DIAGNÓSTICO Sindrômico ➝ conjunto de sinais e sintomas caracterizando uma síndrome. Nosológico ➝ Sindrômico associado a um substrato anatomopatológico (pressupõe o CID). Etiológico. PULSO RADIAL Semiotécnica: 1. Polpas dos dedos indicador e médio variando a força de compressão até obter-se o impulso máximo. 2. Fixar o polegar no dorso do punho do paciente. Estado da parede arterial: • Parede lisa, sem tortuosidades e facilmente deprimível. • Parede vascular endurecida, irregular e tortuosa ➝ aterosclerose (não necessariamente naquele trecho, é uma doença sistêmica). Manobra de Osler ➝ palpação da artéria radial após insuflação do manguito acima da pressão sistólica. É positiva quando a artéria permanece palpável sem pulsações, sendo indicação de possível HA. Frequência ➝ em 15s, minimamente, é possível aferir a frequência se o ritmo for regular (idealmente 30s). Ritmo regulars são necessários 60s. Em pulsações por minuto (ppm). IMPORTANTE! Não é BPM, mas sim PPM! Normal adultos 60-100 ppm. > 100 = taquisfigmia; < 60 = bradisfigmia. 7 Anna C. S. Moulin OBS: Adultos ➝ déficit de pulso: número de batimentos cardíacos superior ao de pulsações na artéria radial. Principais causas ➝ fibrilação atrial e extra-sistolia ventricular. Ritmo ➝ regular ou irregular. Ex. arritmias. Amplitude ➝ sensação captada em cada pulsação. Análise qualitativa: (1) amplo (insuficiência aórtica ou indivíduo sadio); (2) mediano; (3) pequeno/ filiforme (estenose aórtica ou hipotensão arterial). Pode ser graduada de forma quantitativa em até 4 cruzes. Tensão/ dureza ➝ relacionada com a pressão diastólica. Semiotécnica ➝ categorizar a tensão pela compressão progressiva da artéria em mole, mediana ou dura. OBS: Duro é indicativo de HA. Tipos de onda ➝ normal, célebre, filiforme (baixa amplitude e mole, indicativo de colapso circulatório periférico e quase imperceptível), alternante (onda ampla seguida de outra mais fraca, indica insuficiência ventricular esquerda), paradoxal (queda acentuada da amplitude do pulso durante a inspiração; pericardite constritiva, derrame pericárdico volumoso, enfisema pulmonar). Palpação de ambos os pulsos ➝ pode haver alterações de pulso em apenas um lado. Em uma aferição de pulso para determinar sinal vital, o primeiro parâmetro a se avaliar é a PRESENÇA (ausência ➝ instabilidade hemodinâmica), o segundo é a FREQUÊNCIA e o RITMO (na mesma avaliação). FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA Semiotécnica ➝ paciente sentado, se possível posição ortostática (de pé). Adulto (18-60 anos) ➝ 12-20 incursões respiratórias por minuto (irpm ou irm). • FR < 12 irpm ➝ bradipneia. • FR > 20 irpm ➝ taquipneia. Idosos (>60 anos) ➝ FR é considerada normal até 24 irpm. DOR Presente (intensidade leve moderada ou intensa) ou ausente. PRESSÃO ARTERIAL (PA) Preparo do paciente ➝ explicar o procedimento para o paciente; manter o paciente em repouso por pelo menos 5 minutos em ambiente calmo; paciente deve ser instruído a NÃO conversar durante a aferição (isso é quebra de técnica em qualquer semiotécnica). Certificar de que o paciente NÃO: • Está com a bexiga cheia (gera desconforto por vontade de urinar ➝ aumenta a atividade simpática). • Praticou atividade física a pelo menos 60 minutos. • Ingeriu bebidas alcoólicas, café ou alimentos (melhor momento para aferir é ao acordar, pela manhã). • Fumou durante os últimos 30 minutos. Posicionamento do paciente ➝ posição sentada, pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado na cadeira e relaxado. Braço na altura do coração (nível do ponto médio do esterno ou 4º espaço intercostal), livre de roupas, apoiado, com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido. Procedimentos: 1. Obtenção da circunferência aproximada no meio do braço. 2. Selecionar o manguito de tamanho adequado. 3. Manguito sem deixar folgas ➝ 2-3 cm acima da fossa cubital. 4. Centralizar o meio da parte compressiva do manguito sobre a artéria braquial. Metodologia para palpar a artéria braquial ➝ estimar o nível da PA Sistólica pela palpação do pulso radial. Seu reaparecimento corresponderá à PA Sistólica. Palpar a artéria braquial na fossa cubital e colocar a campânula ou diafragma do estetoscópio sem compressão excessiva. 8 Anna C. S. Moulin Inflar rapidamente até ultrapassar 20-30 mmHg o limite da PA Sistólica obtida por palpação. Proceder a deflação lentamente (2 mmHg/s) ➝ é necessário treinar isso. Determinar PA Sistólica pela ausculta do 1º som (fase 1 de Korotkoff) ➝ som fraco, seguido de batidas regulares. Após, aumentar rapidamente a velocidade de deflação. Determinar a PA Diastólica com o desaparecimento dos sons (fase 5 de Korotkoff). Auscultar 20-30 mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e, depois, proceder a deflação rápida e completa. Se os batimentos persistirem até nível zero, determinar a PA Diastólica no abafamento dos sons (fase 4 de Korotkoff) e anotar valores da sistólica/ diastólica/ zero ➝ grande interpretação clínica no sistema cardiovascular. Esperar em torno de 1 minuto para nova medida, embora essa conduta seja controversa. Anotar os valores exatos sem arredondamentos e o braço em que a PA foi medida (membro superior direito/ membro superior esquerdo/ membro inferior direito/ membro inferior esquerdo). PRESSÃO SISTÓLICA É POR PALPAÇÃO. Na 1ª avaliação, as medidas devem ser obtidas em ambos os braços. Em caso de diferença, usar sempre o braço de maior valor para as medidas subsequentes. Investigar doenças arteriais em caso de diferenças de pressão dos MMSS maior que 20 mmHg para PA Sistólica e 10 mmHg para PA Diastólica, respectivamente. As medidas nas posições ortostática e supina devem ser feitas pelo menos na 1ª avaliação e em todas as avaliações em idosos, diabéticos, portadoresde disautonomias, alcoolistas e/ou em uso de anti-hipertensivos ➝ esses pacientes podem apresentar disautonomia do sistema autônomo. OBS: Um paciente em uso de anti-hipertensivos e diuréticos pode apresentar redução da volemia e Hipotensão Arterial (sintomática ou assintomática). Pressão Sistólica ➝ aferida por PALPAÇÃO do pulso RADIAL. Pressão Diastólica ➝ aferida por AUSCULTA do PULSO CUBITAL (da artéria braquial)
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