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Ivana Da Rosa Iesbik 1 Clinica cirúrgica ABDOME AGUDO Definição Quadro clínico abdominal caracterizado por dor, de início súbito ou de evolução progressiva, que necessita de definição diagnóstica e de conduta terapêutica imediata. Muitas doenças, algumas das quais não necessitam de tratamento cirúrgico, causam dor abdominal, de modo que a avaliação de pacientes com dor abdominal deve ser metódica e cuidadosa. A regra geral para o abdome agudo são pacientes que estavam previamente bem e iniciaram com dor abdominal contínua por mais de 6 horas (dor com importância cirúrgica) - Sir Zachary Cope (1881-1974). • Dor abdominal importante (que leva ao médico) Mais de 6hs de evolução. Que aumenta a probabilidade de necessidade cirúrgica (sabiston). • Agudo (menos de 1 semana de surgimento). • Nem sempre cirúrgico. • Não traumática. Como existe, com frequência, um distúrbio intra-abdominal progressivo, o retardo do diagnóstico e do tratamento afetam o prognóstico. A conduta para o paciente com abdômen agudo deve ser ordenada e completa. O tratamento adequado de pacientes com dor abdominal aguda necessita de uma decisão em tempo hábil quanto à necessidade de cirurgia. Esta decisão exige avaliação da história e do exame físico, exames laboratoriais e exames de imagem. A anamnese e o exame físico costumam sugerir as prováveis etiologias e orientar a escolha dos exames diagnósticos iniciais. O médico deve decidir se há exigência de observação em regime hospitalar, se são necessários exames adicionais ou se já existe indicação cirúrgica imediata. Além disto, devem reconhecer os padrões de doença específicos para a região e o local em que atuam. Causas comuns de abdômen agudo 1. Distúrbios do trato gastrintestinal Dor abdominal inespecífica * Apendicite aguda* Obstrução intestinal* Ulcera péptica perfurada* Hérnia encarcerada Perfuração intestinal Diverticulite aguda Diverticulite de Meckel Síndrome de Boerhaave Distúrbios intestinais inflamatórios Gastrenterite aguda e gastrite aguda Adenite mesentérica Infecções parasitárias 2. Distúrbios do fígado, baço e trato biliar Colecistite aguda* Colangite aguda Abscesso hepático íntegro ou roto Tumor hepático roto Rotura espontânea do baço Infarto e abscesso esplênicos Cólica biliar Hepatite aguda Distúrbios pancreáticos Pancreatite aguda, Pseudocistos do pâncreas infectados, abscessos pancreáticos 3. Distúrbios do trato gênito-urinário Cólica renal ou ureteral Pielonefrite aguda Cistite aguda Infarto renal Orquiepididimite 4. Distúrbios ginecológicos Prenhez ectópica rota Torção de tumor de ovário Ruptura de cisto de folículo ovariano Salpingite aguda Dismenorreia Endometriose Endometrite 5. Distúrbios vasculares Rotura de aneurisma: Aorta-ilíaco Hepático, renal, esplênico e outros. Ivana Da Rosa Iesbik 2 Clinica cirúrgica Colite isquêmica aguda Trombose mesentérica 6. Distúrbios peritoneais e retroperitoneais Abscessos intra-abdominais Peritonite primária Hemorragia retroperitoneal DIAGNÓSTICO DOR – SINTOMA GUIA NÁUSEAS E VÔMITOS PARADA DE ELIMINAÇÃO DE FEZES E GASES SINTOMAS ESPECÍFICO MEDICAÇÃO IDADE ANTECEDENTES A dor é o item principal na avaliação de um paciente com suspeita de abdômen agudo. A anamnese deve caracterizar a dor de maneira precisa. A duração da dor, sua localização, como se iniciou e outras características como tipo de dor e evolução podem ajudar no diagnóstico diferencial. A dor visceral causada por distensão, inflamação ou isquemia é difusamente localizada na região mesogástrica. Doenças renais ou ureterais causam dor nos flancos. Sangue ou pus subdiafragmático à esquerda podem gerar dor no ombro esquerdo, doença biliar pode causar dor referida no ombro direito ou dorso. Doenças supradiafragmáticas, como uma pneumonia basal, podem causar dor referida no pescoço ou ombro. Dor abdominal no andar superior do abdômen sugere úlcera péptica, colecistite aguda ou pancreatite. Por outro lado, cisto de ovário, diverticulite e abscessos tubo ovarianos causam dor na porção inferior do abdômen. Geralmente, a obstrução do intestino delgado causa dor no mesogástrio, que, às vezes, é referida no dorso. A dor que se move do epigástrio para a região peri-umbilical, até chegar na fossa ilíaca direita, sugere o diagnóstico de apendicite aguda. Outro exemplo de dor migratória é a da úlcera duodenal perfurada. O extravasamento do conteúdo duodenal causa dor epigástrica intensa e localizada. No entanto, se o conteúdo extravasado gravitar pelo corredor parietocólico direito, o paciente pode referir dor na fossa ilíaca direita. Embora a localização da dor possa ser útil principalmente nas fases precoces da evolução de uma doença, pode não ser típica em todos os pacientes e, em fases avançadas, pode se tornar generalizada em virtude de uma peritonite difusa. O sangramento para o peritônio livre também causa dor difusa e quadro de peritonismo. DOR VISCERAL Mediada por fibras aferentes do SNA Receptores na parede das vísceras ocas e capsula dos órgãos Principal desencadeante é a tensão (distensão, inflamação, isquemia, contração) Sensação dolorosa, profunda, surda, mal localizada, sentida na linha mediana (com exceção as vísceras duplas) Intestino Superior (Boca até 3º porção duodenal) “foregut” - dor epigástrica - Irrigação: Art. Tronco Celíaco + Nervos do plexo celíaco Intestino Médio (3º porção duodenal até 2/3 proximais do transverso) “midgut” - dor mesogástrica - Irrigação: Art. Mesentérica Superior + Nervos que acompanham artéria Intestino Inferior (1/3 distal do transverso até ânus) “hingut” - dor hipogástrica – Irrigação: Art. Mesentérica Inferior + Nervos que acompanham artéria DOR PARIETAL Somática ou víscera-peritoneal Receptores do peritônio parietal e raiz do mesoperitôneo Dor percebida em um dos 4 quadrantes, ou seja, melhor localizada, em pontada, rigidez muscular, pode ser provocada (compressão manual, descompressão dolorosa) Inflamação da visceral, acomete peritônio Dor de início súbito: sugere perfuração livre, aneurisma roto, isquemia NAUSEAS E VÔMITOS Ivana Da Rosa Iesbik 3 Clinica cirúrgica Costumam aparecer após a dor Caso o 1º sintoma seja o vômito (antes da dor) - fala a favor da GECA ~ *Exceção: apendicite em cça, onde o quadro é atípico Nas peritonites e AAI os vômitos são secundários ao íleo Pâncreas anelar – 2º porção vômitos não biliosos. Má rotação – vômitos biliosos Vômitos excessivos Alcalose – perda de hidrogênio, bicarbonato e sódio Hipocloremica – perde cloro Hipokalemica (piora o íleo) – expolia potássio Nas obstruções mais baixas os vômitos podem ser fecalóides e nem sempre cursarem com distúrbios hidroeletrolíticos – se ocorre: acidose metabólica. PARADA DE ELIMINAÇÃO DE FEZES E GASES No abdome agudo Inflamatório, Vascular, Hemorrágico e Perfurativo se devem ao íleo adinâmico desencadeado por fibras nervosas simpáticas No AA Obstrutivo essa parada se deve a um obstáculo Diarreia paradoxal – eliminação de muco e material coletado previamente a obstrução de certa forma violenta, uma vez que a peristalse está aumentada tentando vencer a obstrução – sendo assim: Diarreia não exclui obstrução intestinal. Diarreia abundante: suspeitar de GECA ou abscesso. SINTOMAS ESPECÍFICO Icterícia: patologia hepatobiliar Hematêmese/melena: Doença gastroduodenal Hematúria: cálculo renal ou cistite Corrimento: DIP Menstruação Atraso menstrual: prenhez ectópica Metrorragia: mioma Dismenorreia: endometriose Irregularidade: cisto de ovário Dor do meio (Mittrlschmerz) ANTECEDENTES Cirurgias prévias Bridas– causa mais comum de obstrução intestinal no adulto Anticoagulantes Hematomas retroperitoneais Hematomas de reto abdominal – sinal de Fothergill ANAMNESE E EXAME FISICO É importante colher uma história menstrual cuidadosa em mulheres com dor abdominal. A ovulação pode produzir dor abdominal significativa. Além disto, mulheres com atraso menstrual com dor abdominal podem estar com problemas relacionados a uma gravidez não diagnosticada ou ectópica. A história medicamentosa é também importante. Os corticosteroides predispõem à ulceração gastrintestinal e possibilidade de perfuração, além de induzirem imunossupressão nos pacientes em uso crônico, ofuscando manifestações de doença intra-abdominal aguda. O uso de anticoagulantes orais ou antiagregantes plaquetários podem levar a hemorragias intra- abdominais espontâneas. O exame físico geralmente fornece importantes informações no diagnóstico diferencial e tratamento de pacientes com dor abdominal aguda. Avaliar o aspecto geral do paciente, biótipo e sinais de dor. Febre baixa geralmente acompanha a diverticulite, apendicite ou colecistite aguda. Febre mais elevada, na maioria das vezes, acompanha a pneumonia, pielonefrite, colangite séptica, e afecções ginecológicas. Aumento da frequência cardíaca e hipotensão podem significar doença complicada com peritonite. A peritonite causa hipovolemia à medida que o volume plasmático extravasa do espaço intravascular. Iniciar o exame físico pela inspeção a procura de cicatrizes, hérnias inguinais e escrotais, distensão, massas e defeitos da parede abdominal. Ivana Da Rosa Iesbik 4 Clinica cirúrgica A seguir a palpação, etapa fundamental na avaliação do paciente com abdômen agudo. Dor localizada na fossa ilíaca direita, no ponto de McBurney sugere apendicite aguda. Dor no hipocôndrio direito sugere inflamação da vesícula biliar. Diverticulite aguda frequentemente causa dor na fossa ilíaca esquerda. Dor desproporcional ao exame físico sugere isquemia intestinal e dor difusa sugere peritonite generalizada. A detecção de aumento do tônus muscular abdominal, durante a palpação é chamada de defesa da parte abdominal. Ela pode ser voluntária ou não, e localizada ou generalizada. A irritação peritonial é um sinal de peritonite. Para sua detecção, o examinador, com a mão, comprime profundamente o abdômen do paciente e a retirada súbita da mão causa aumento agudo da dor. Na colecistite aguda, a palpação da região subcostal direita, durante inspiração profunda, pode provocar dor (sinal de Murphy). A ausculta de um abdômen silencioso sugere íleo paralítico, enquanto movimentos peristálticos hiperativos ocorrem na gastrenterite aguda. Períodos de silêncio abdominal intercalados com peristalse hiperativa caracterizam a luta contra a obstrução mecânica do intestino delgado. A percussão abdominal pode revelar dor, sugerindo inflamação (irritação peritoneal). O hipertimpanismo à percussão do abdômen significa distensão gasosa do intestino ou estômago e timpanismo à percussão sobre o fígado sugere ar livre intraperitoneal e perfuração de víscera oca. Realizar sempre o toque retal nos pacientes com quadro de dor abdominal aguda à procura de sangue, massas ou dor, e em mulheres sempre realizar o exame pélvico bimanual em procura de massas ou sensibilidade uterina ou anexial. Apêndice pélvico inflamado ou abscesso pélvico podem causar dor ao toque retal ou mesmo toque vaginal. CLASSIFICAÇÃO ABDOME AGUDO: -Inflamatório -Obstrutivo -Perfurativo -Hemorrágico -Vascular Abdome Agudo Inflamatório Introdução: Processo inflamatório intra-abdominal Abdome agudo mais comum Etiologia – Apendicite aguda – Colecistite aguda – Pancreatite aguda (crônica agudizada) – Diverticulite – Doença Inflamatória Pélvica Pico na 2 ou 3 décadas de vida Pode estar paracolico, pélvico, retrocecal e retroileal. Mais frequentes no sexo masculino. Apendicectomia é a cirurgia de emergência mais realizada. Diagnóstico – Anamnese – Exame físico • Estado geral • Inspeção • Palpação –Abdome em “tábua” •. Ausculta Ivana Da Rosa Iesbik 5 Clinica cirúrgica APENDICITE AGUDA A apendicite á a principal causa de cirurgias abdominais na urgência. Nos EUA chegam a 250.000 casos/ano. Acredita-se que a sua principal causa seja a obstrução da sua luz do apêndice, seguida da inflamação, infecção secundária e necrose evoluindo para a perfuração do órgão. O paciente procura atendimento médico com história de dor abdominal peri-umbilical (causado pela obstrução da luz apendicular e a distensão da sua parede), irradiada para fossa ilíaca direita (correspondendo à inflamação e infecção do apêndice) geralmente associada a náuseas e vômitos, inapetência e febre baixa. Este processo pode evoluir em poucas horas ou até um dia. Neste momento, podemos encontrar ausência de leucocitose e no exame físico alguns sinais como Blumberg (dor a descompressão brusca no ponto de McBurney), Rovsing (dor referida na fossa ilíaca direita após compressão do hemiabdômen esquerdo, levando a distensão do ceco). Para a apendicite aguda, o exame físico aliado à história clínica tem uma acurácia de cerca de 95% no diagnóstico. Esta apresentação típica ocorre em cerca de 66% dos casos. No entanto, outras formas variadas podem ocorrer (formas atípicas), sendo associadas a alterações anatômicas do apêndice (retro-cecais, pélvicos, retro-vesicais) e em pacientes de imunossuprimidos como gestantes e idosos. Nestes casos as evoluções podem ser desastrosas, com peritonites fecais, abscessos intracavitários e sepse, elevando a morbidade neste grupo. No diagnóstico da apendicite aguda o uso da ultrassonografia abdominal possui sensibilidade de 75 a 90% e sua especificidade é de 86 a 100%. No USG pode aparecer apêndice não compressivo (> 6mm de diâmetro); Interrupção da continuidade ecogênica da submucosa; liquido ou massa peri-apendicular; dor a compressão do transdutor. A TC abdominal tem sensibilidade de 90 a 100% com especificidade de 91 a 99%. Apêndice distendido e espessado >6mm; aparência em halo ou alvo; Abcesso Peri apendicular; Coleções liquidas; Barramento da gordura mesentérica; Presença de fecalito; Ivana Da Rosa Iesbik 6 Clinica cirúrgica APENDICITE NA GESTAÇÃO Nos casos iniciais, o tratamento consiste na intervenção cirúrgica e ressecção do apêndice, não necessitando de tratamento adjuvante. Nos casos avançados, com necrose do apêndice, peritonites, perfuração e abscessos, são necessários o tratamento com antibióticos após a ressecção do apêndice que pode durar alguns dias. Não existe consenso na literatura sobre a duração da antibioticoterapia pós-cirúrgica. A videolaparoscopia é indicada em casos de dúvida diagnóstica, permitindo a melhor exploração da pelve e órgãos ginecológicos, ou ainda em pacientes selecionados que irão se beneficiar pela via de acesso, principalmente os pacientes obesos. Colecistite aguda A colecistite aguda é caracterizada por dor no andar superior direito do abdômen há mais de 6 horas, com sinais ultra-sônicos de colecistite, ou dor no hipocôndrio direito com litíase vesicular ao ultrassom, podendo estar associada à febre, leucocitose e/ou proteína C reativa >10mg/l. em 90% dos casos a causa da colecistite aguda é a litíase, e 75% destes pacientes apresentam antecedentes de cólica biliar e diagnóstico de colecistite crônica calculosa. A dor da cólica biliar é causada pelo espasmo do ducto cístico, desencadeado pelo estímulo da colecistoquinina durante a alimentação. É tipicamente do tipo cólica no epigástrio e hipocôndrio direito, associada a náuseas e vômitos e de duração menor que 6 horas. A dor na colecistite aguda geralmente é causada pela obstrução do ducto cístico pela impactação do cálculo biliare seguida da inflamação da mucosa vesicular. Pode ainda ocorrer infecção secundária evoluindo para empiema, necrose e até a perfuração da vesícula biliar. Cerca de 10% dos casos de colecistite aguda apresentam perfuração, levando, em algumas casuísticas, a 20% de mortalidade. Os exames laboratoriais podem apresentar: leucocitose, elevação da fosfatase alcalina e transaminases. Geralmente não há elevação das bilirrubinas. Sd Mirrizi quando cálculos grandes impactam no infundíbulo e/ou ducto cístico erodindo a parede e acometendo o interior do ducto hepático comum, podemos encontrar hiperbilirrubinemia. O exame diagnóstico de eleição é o ultrassom abdominal, com sensibilidade e especificidade de 95%. Em casos duvidosos a TC ou a cintilografia podem auxiliar. A colecistite aguda alitiásica, ocorre em 5 a 10% das colecistites agudas. Ivana Da Rosa Iesbik 7 Clinica cirúrgica Acomete, principalmente, pacientes debilitados e imunodeprimidos, em uso de nutrição parenteral prolongada, diabéticos, portadores de insuficiência renal crônica, vasculites, HIV ou ainda idiopáticas. O tratamento definitivo da colecistite aguda é a colecistectomia. Existe alguma discussão sobre o melhor momento para a realização da cirurgia e a via de acesso a ser utilizada. A antibioticoterapia deve ser direcionada para germes gram negativos, e germes anaeróbios nos idosos e na colecistite alitiásica. O tratamento cirúrgico deve ser realizado preferencialmente nas primeiras 24 a 48 horas de internação, sem caracterizar uma situação de emergência, dependendo da resposta ao tratamento com antibioticoterapia. A laparoscopia é o padrão ouro para colecistectomias eletivas, no entanto nas situações de colecistite aguda o fator determinante para o seu uso é a experiência do grupo. Colangite A colangite tem como fisiopatologia a obstrução do ducto biliar principal, seguida de infecção secundária, a qual irá acometer o fígado e disseminar-se por todo o organismo, evoluindo para quadros graves e potencialmente letais. A coledocolitíase é a principal causa de obstrução da via biliar, seguida de estenoses, neoplasia e mais raramente parasitas, coledococele e manipulação da via biliar pela colangiopancreatografia endoscópica retrógrada. Os germes comumente causadores da infecção são a Escherichia coli, Klebsiella sp, Enterococcus e Bacteroides. Os principais achados da colangite são: dor no hipocôndrio direito, febre e icterícia (Tríade de Charcot), e quando não tratada pode evoluir para confusão mental e sepse, que caracterizam a Pentade de Reynalds. Os exames bioquímicos podem apresentar hiperbilirrubinemia, com predomínio da bilirrubina de reta, elevação das transaminases e fosfatase alcalina, leucocitose com desvio escalonado para esquerda. O diagnóstico é clínico e pode ser confirmado pela colangiografia endoscópica retrógrada que poderá ainda ser terapêutica (95% dos casos) promovendo a desobstrução da via biliar. Nos 5% dos casos restantes, o tratamento deverá ser cirúrgico. Antibioticoterapia de largo espectro está indicada. Pancreatite aguda Sua incidência é de 80/100.000 habitantes nos EUA com mortalidade em torno de 10 a 15%. A coledocolitíase e a ingesta alcoólica abusiva são responsáveis por cerca de 80% das pancreatites agudas. Cerca de 10% são idiopáticas e os outros 10% são atribuídos a todas as demais possíveis causas como hiperlipidêmica, viroses (caxumba, coxsackie, HIV), traumas abdominais, cirurgias abdominais, vasculites, tumores pancreáticos, pâncreas divisum, parasitoses intraductais, drogas e outras. O quadro inicial é de dor no andar superior do abdômen (epigástrio e flancos), que pode irradiar para o dorso. Possui característica contínua e pode estar associado à icterícia ou não. Os vômitos são frequentes e precoces, devido à compressão do pâncreas sobre o duodeno e/ou estômago. A distensão abdominal também é comum, e nos quadros graves poderão estar presentes a hipotensão arterial, taquicardia, sudorese, febre, torpor e coma. Sinal de Grey Turner e Cullen. E a Posição mais adotada pelo paciente com pancreatite. A amilase apresenta-se elevada já nas primeiras horas de evolução do quadro, habitualmente voltando a valores normais após 48 horas. Os exames radiológicos convencionais pouco auxiliam na avaliação inicial, podendo detectar complicações como derrame pleural, coleções, pseudocistos e ascite pancreática ou diagnosticar litíase vesicular, barro biliar e coledocolitíase. Ivana Da Rosa Iesbik 8 Clinica cirúrgica A avaliação pancreática e sua classificação segundo a gravidade são realizadas através da TC de abdômen. A colangiopancreatografia endoscópica está indicada em casos de obstrução biliar associado a pancreatites graves e/ou colangites. Nas pancreatites brandas até a TC pode ser dispensada, ou substituída pela colangiopancreatografia por ressonância magnética. O tratamento é eminentemente clínico, com reposição hídrica vigorosa, analgesia, repouso alimentar e medidas de suporte. A antibioticoprofilaxia de largo espectro, com imipenem, deverá ser introduzida em casos de pancreatites graves com coleções e/ ou necrose pancreática. Necrose sem repercussão clínica poderá ser tratada com quinolonas associadas ao metronidazol. A intervenção cirúrgica só deverá ser realizada em situações específicas como necrose infectada, comprovada através de cultura de coleções peripancreáticas obtida por punções guiadas, ou presença de ar Peri pancreático na TC. O procedimento cirúrgico consiste em necrosectomias e drenagem de todas as coleções Peri pancreáticas. Diverticulite A doença diverticular dos cólons é frequente em faixas etárias mais avançadas, sendo encontrada em 1/3 da população acima de 50 anos, e 2/3 da população acima dos 80 anos. Cerca de 25% desta população pode apresentar diverticulite aguda. Esta complicação da doença diverticular ocorre por inflamação e infecção do divertículo, geralmente decorrente da oclusão do seu óstio por fezes ou resíduos alimentares, podendo levar até à perfuração. A sintomatologia é variável, pois depende da localização do divertículo, podendo evoluir com pneumoperitônio se perfurado para a cavidade abdominal, ou abscessos em flanco ou bloqueios abdominais. Na avaliação do paciente a constipação crônica e os antecedentes familiares e pessoais de doença diverticular devem ser investigados. Geralmente o exame clínico é suficiente para a suspeição, mas a radiologia simples de abdômen poderá mostrar pneumoperitônio e/ou quadros oclusivos. Ivana Da Rosa Iesbik 9 Clinica cirúrgica A TC está indicada, quando da ausência de pneumoperitonio no raiox simples. A colonoscopia é contraindicada na suspeita de diverticulite perfurada. O tratamento clínico consiste no restabelecimento hidroeletrolítico e na antibioticoterapia de largo espectro com aminoglicosídeos ou ceftriaxona associado ao metronidazol, e é indicado para as situações onde a inflamação está contida por um tumor inflamatório. Nos casos onde ocorreu perfuração, houve falha do tratamento clínico ou o paciente se encontra em choque séptico a cirurgia está indicada, restringindo-se, geralmente, à ressecção do segmento lesado e colostomia. Em raras ocasiões o tumor inflamatório pode gerar uma obstrução intestinal, sendo a derivação com colostomia e o tratamento clínico uma opção, para se evitar ressecções mais amplas ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO Obstrução intestinal acontece quando a propulsão e passagem normais dos conteúdos não acontecem. Pode ocorrem em qualquer parte dos intestinos 2 afecções aguda mais frequente do abdome Obstrução do Delgado mais freq. que o cólon Causa mais comum de obstrução por bridas Obstrução mecânica: Extrínseca: é o que não está dentro da luz da alça intestinal como bridas/aderências,Volvo, hérnia, compressão, intussuscepção Intrínseco: - obst. Da luz- tumor, corpo estranho, cálculo biliar, bezoar (FIBRAS SINTÉTICAS OU INTESTINAIS), colo áscaris. Estenose inflamatória Classificação ALTA (válvula ileocecal/ transição jejuno ideal) BAIXA SIMPLES COM SOFRIMENTO COMPLETA PARCIAL (SUBOCLUSÃO) Obstrução em alça fechada Intestino ocluído em duas porções do seu trajeto - Volvo - Obstrução colón esquerdo com válvula ileocecal competente Necrose e perfuração Hérnia encarcerada só está presa Hérnia estrangulada- Abdo agudo obst. Agudo há necessidade de obst. Cirúrgica imediata Ivana Da Rosa Iesbik 10 Clinica cirúrgica Urgências Sofrimento vascular Obstrução alça fechada Fisiopatologia: Obstrução secreção da luz distensão Vômitos e sequestro de liquido desidratação choque e IRA Aumento da pressão intra-luminar comprometimento vascular necrose perfuração. Manifestações clinicas Dor em cólica com períodos de melhora Distensão abdominal * Náuseas e vômitos – Começa a estimular o movimento peristáltico, retrógrado Parada de eliminação de gases e fezes Diarreia paradoxal (por fecaloma, obstrui o colón, porem o conteúdo que tem acima da obstrução é conteúdo liquido. E permite a passagem desse conteúdo pelo fecaloma e causa a diarreia). Intervalo variável entre início dos sintomas e procura do atendimento Desidratação; RHA aumento (metálicos) no início, diminuição ou ausentes tardio Laxante vai piorar o quadro Características da dor: Cólicas Peritonite Percussão: timpanismo Palpação: flácido, doloroso difuso Toque retal essencial Sofrimento de alça: Dor continua Leucocitose, Temperatura maior que 37,8 Taquicardia Mal estado geral Sangue ao toque Defesa abdominal Obstrução Alta: Vômitos precoces e parada de eliminação de flatos e fezes tardio Menos distensão abdominal Alcalose metabólica Obstrução Baixa Vômitos tardios e parada de eliminação de fezes precoces Mais dissenção abdominal do que a Alta. Acidose metabólica VOLVO = torção intestinal que gera distensão RX característicos Distensão de alças abdominais com Edema de alça Níveis hidroaéreos Empilhamento de moeda Alça em luta (válvulas) Velamento da pelve Fecaloma Pneumoperitôneo Ivana Da Rosa Iesbik 11 Clinica cirúrgica Íleo biliar: Tríade de Riegler Obstrução do intestine Delgado Cálculos biliares ectópicos Pneumobiliar Tratamento 1. Clínico (bridas) - SNG - Hidratacao - Analgesia - Reavaliacoes seriadas 2. Cirúrgico: após compensação clínica - Obstrução mecânica - Se há sinais de complicações - Obstrução de alça fechada ABDOME AGUDO PERFURATIVO Úlcera péptica Divertículos de cólon Doença inflamatória intestinal Corpo estranho MANIFESTAÇÕES CLINICAS Dor súbita e intense, difusão precoce no abdômen. Náuseas e vômitos reflexos podem ocorrer. Interval curto entre o início dos sintomas e procura do atendimento. Palpação: peritonite difusa, abdomen em tábua. Percussão: perda da macicez hepatica sinal de Jobert. Posição antálgica (imóvel). RHD diminuídos ou ausentes. RX com Pneumoperitônio Tratamento: cirúrgico Ar abaixo do diafragma= pneumoperitoneo Se já houver perfuração não perder tempo em tto clinco, passar pra cirurgia Pneumoperitoneo: Nao confundir com bolha gástrica ABDOME AGUDO VASCULAR Obstrucao do fluxo sanguineo intestinal isquemia necrose perfuracao. Embolia artéria mesentérica: 50% Insuficiência vascular não oclusiva 20-30%. Trombose da artéria mesentérica 15-20%. Ivana Da Rosa Iesbik 12 Clinica cirúrgica Trombose da veia mesentérica 5%. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Náuseas e vômitos reflexos Parada de elimicação de gases e fezes Toque retal sanguinolento Distensao abdominal progressive Desidratacao importante Hipotensao e choque RHA diminuídos ou ausentes Acidose metabólica Leucocitose intensa, desvio à esquera Peritonite: necrose ou perfuração História anterior de arteriopatias crônicas, IAM, AVC, claudicacao abdominal, Arritmias. Dor subita e intense, mal localizada (podendo ser em cólcia e surda). Dor persistente e progressiva. Desproporção entre clínica e o exame físico. Intervalo curto entre o início dos sintomas e procura do atendimento. RX: diagnostico diferencial de outras doenças A maioria dos achados relacionados a complicações tardias. Impressões digitoformes (acúmulo de líquido na submucosa). Pneumatose intestinal. Aeroportograma Pneumoatose intestinal é o que tem na flexa embaixo. TC com contraste endovenoso Pode mostrar pontos de oclusão intestinal; Sinais indiretos: edema de alças, espessamento do mesentério em focos hemorrágicos, aeroportogramas; Arteriografia Confirmar ou excluir a obstrução da mesentérica e tto. Complicações relacionadas ao método de punção; IRA; Falha terapêutica Sinal de menisco= obst. Da passagem da mesentérica. Cirurgia é o principal fator prognóstico. Ressecar áreas inviáveis. Viabilidade de alça: cor, temperatura, pulso, peristalse, sangramento SECOND LOOK- reabrir o paciente de 18- 36 horas para ver se a obstrução realmente melhorou ou não. Geralmente esse paciente vai para anticoagulante para que não torne a fazer essa obstrução. Ivana Da Rosa Iesbik 13 Clinica cirúrgica ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO Dor de Início súbito e difusão precoce Choque hipovolêmico Dor referida em ombro direito Sinais de peritonite Abaulamento do fundo de saco posterior USG, Hb/Ht, beta HcG Etiologia: Gravidez ectópica rota Cisto ovariano roto Aneurismas rotos Rotura de tumor hepático Neoplasias malignas de vísceras ocas Traumatismo abdominal Ruptura de Aneurismas O aneurisma da aorta abdominal (AAA) ocorre em 5% a 7% das pessoas acima de 60 anos de idade e predomina no sexo masculino. A real incidência da ruptura na população é desconhecida. Entre os pacientes com diagnóstico de AAA, a ruptura ocorre em 10% a 40%. Consideram- se fatores de risco no desenvolvimento do AAA o sexo masculino, idade superior aos 65 anos, a hipertensão arterial, o tabagismo, a DPOC, a arteriosclerose, a síndrome de Marfan, a síndrome de Ehlers-Danlos e história familiar positiva para AAA. A localização do aneurisma e o local para onde o sangue extravasa determina o sítio da dor ou desconforto. Podem surgir também náuseas e vômitos. Ao exame físico, os achados de massa pulsátil (principal característica), são encontrados em menos da metade dos pacientes. A hipotensão arterial está presente em 25% dos casos no atendimento inicial. O grau de instabilidade hemodinâmica define a urgência necessária na avaliação radiológica e na indicação cirúrgica. Hematoma Retro peritoneal espontâneo A hemorragia retro peritoneal espontânea pode originar-se em qualquer órgão ou vaso dessa região. As causas mais frequentes de hematomas retro peritoneais espontâneos são doenças dos rins, das glândulas suprarrenais, do pâncreas, além de doenças vasculares e coagulopatias. Embora individualmente as doenças que podem resultar em hematomas espontâneos do retroperitônio sejam raras, a possibilidade de sua ocorrência deve ser lembrada quando existem evidências clínicas compatíveis. A apresentação pode ser aguda, mimetizando a ruptura do AAA. A diferença é a ausência da massa pulsátil típica do AAA. A evolução habitual é menos dramática, com dor abdominal na região dorso-lombar e moderada instabilidade hemodinâmica. Em cerca de 60% das hemorragias retro peritoneais espontâneas, as causas são tumores renais. O hematoma retroperitoneal é chamado de idiopático quando não se localiza o foco do sangramento e está relacionado com a disponibilidadelocal de recursos diagnósticos. A intervenção cirúrgica imediata está contraindicada. Sinais de suspeição mais comuns encontrados no abdômen: Sinal de Gersuny: massa maldável em hipogástrio- feclaoma Sinal de Fothergill: renitência diminuída após paciente contrair ativamente parede abdominal – sugere patologia intra-abdominal Sinal de Murphy: parede abrupta da inspiração profunda pela palpação do fundo vesicular – colecistite Sinal de Blumberg: dor a descompressão brusca + no ponto de Mc burney- Apendicite Sinal de Aaron: dor epigástrica ou tórax anterior com a pressão persistente no ponto de McBurney- apendicite Sinal de Bassler: dor aguda pela compresso de apêndice entre a parede abdominal e o ilíaco- apendicite aguda Ivana Da Rosa Iesbik 14 Clinica cirúrgica Sinal de Carnett: Manutenção da dor com a contração dos músculos abdominais – sugere fonte de dor na própria parede abdominal Sinal de Chandelier- dor pélvica em abdômen inferior com movimento da cérvice – DIP Sinal de Charcot (Tríade) – Dor em HCD, icterícia e febre- colangite ***provas*** Sinal de Clybrook – acentuação dos ruídos cardíacos e respiratórios através da parede abdominal – víscera abdominal rota Sinal de Courvosier – vesícula palpável e indolor – Tumor periampulares Sinal de Danforth- dor no ombro a inspiração- hemoperitôneo Sinal de Forthergill: massa em parede abdominal que não cruza a linha media e permanece palpável com musculatura contraída – sugere patologia da parede abdominal Sinal de Halban- percussão ou palpação progressivamente dolorosa da fossa ilíaca para o hipogástrio – patologias ginecológicas Sinal de Roovsing- dor rem FID com palpação profunda de FIE pelo deslocamento de ar – apendicite Sinal de iliopsosas- elevação do membro inferior estendido- apendicite retrocecal ou psoite que é uma inflamação do iliopsoas Sinal do obturador- quadril fletido, rotação interna da coxa, do rem hipogástrio- apendicite pélvico ou abcesso pélvico Sinal de Lennander- temperatura retal 1 grau maior que a axilar – abdômen agudo inflamatórias patologias pélvicas Sinal de Jobert – perda da submacicez hepática a percussão – penumoperitôneo pode ser alça interposta Sinal de Giordano- punho percussão na região lombar quadros de pielonefrite Sinal de Cullen- mancha equimótica periumbilical- hemoperitôneo, pancreatite necrohemorrágica Sinal de Gray Tuner- macha equimótica em flancos – hemoperitône, pancreatite necrohemorrágica Sinal de Kehr- dor referida na articulação do ombro homolateral Sinal de Mannkof- pulso aumentado quando abdômen doloroso é palpado – ausência de magnitude Sinal de Choussir- dor severa epigástrica- sinal premonitório de eclampsia Sinal de Ransohoff- coloração amarelada periumbilicao – ruptura do ducto biliar Sinal de Cruveilhier- VEIAS VERICOSAS Peri umbilicais (caput medusa) – hipertensão portal Sinal de Tem-Horn- dor causada põe suave tração do testículo direito- apendicite Sinal do Bico de Pássaro – afilamento distal- Volvo ou acalasia
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