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Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral1 • Módulo 1 SENASP INSTRUMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA Secretaria Nacional de Segurança Pública Diretoria de Ensino e Pesquisa Coordenação Geral de Ensino Núcleo Pedagógico Coordenação de Ensino a Distância Reformulador Mainar Feitosa da Silva Rocha Revisão de Conteúdo Felipe Oppenheimer Torres Gustavo Henrique Lins Barreto Revisão Pedagógica Ardmon dos Santos Barbosa Márcio Raphael Nascimento Maia UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA labSEAD Comitê Gestor Eleonora Milano Falcão Vieira Luciano Patrício Souza de Castro Financeiro Fernando Machado Wolf Consultoria Técnica EaD Giovana Schuelter Coordenação de Produção Francielli Schuelter Coordenação de AVEA Andreia Mara Fiala Design Instrucional Carine Biscaro Cíntia Costa Macedo Clarissa Venturieri Danrley Maurício Vieira Dirce de Rossi Garcia Rafaelli Marielly Agatha Machado Design Gráfico Aline Lima Ramalho Sofia Zluhan de Amorim Sonia Trois Victor Liborio Barbosa Linguagem e Memória Cleusa Iracema Pereira Raimundo Graziele Nack Victor Rocha Freire Silva Programação Jonas Batista Marco Aurélio Ludwig Moraes Renan Pinho Assi Salésio Eduardo Assi Audiovisual Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira Rafael Poletto Dutra Rodrigo Humaita Witte Todo o conteúdo do Curso Intrumentos de Menor Potencial Ofensivo, da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), Ministério da Justiça e Segurança Pública do Governo Federal - 2020, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição-Não Comercial-Sem Derivações 4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR BY NC ND https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR Sumário Apresentação do Curso ...............................................................................................6 MÓDULO 1 – CONCEITOS E ASPECTOS LEGAIS: CONTEXTO GERAL ...............7 Apresentação ................................................................................................................8 Objetivos do módulo ............................................................................................................................. 8 Estrutura do módulo ............................................................................................................................. 8 Aula 1 – Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo: Conceitos Fundamentais ....9 Contextualizando... ............................................................................................................................... 9 Conceituando os instrumentos de menor potencial ofensivo ........................................................... 9 Armas, munições e equipamentos de menor potencial ofensivo ................................................... 12 Técnicas de menor potencial ofensivo .............................................................................................. 17 Refletindo sobre a “não letalidade” .................................................................................................... 18 Aula 2 – Aspectos Legais sobre o Uso dos Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo .......................................................................................................................19 Contextualizando... ............................................................................................................................. 19 Uso legal dos instrumentos e desvio de conduta ............................................................................. 19 A legislação ......................................................................................................................................... 25 Referências ..................................................................................................................29 MÓDULO 2 – ESPARGIDORES DE SOLUÇÃO LACRIMOGÊNEA ....................... 31 Apresentação ..............................................................................................................32 Objetivos do módulo ........................................................................................................................... 32 Estrutura do módulo ........................................................................................................................... 32 Aula 1 – Conhecendo os Espargidores de Solução Lacrimogênea .....................33 Contextualizando... ............................................................................................................................ 33 O que é um espargidor de solução lacrimogênea? .......................................................................... 33 Estrutura mecânica e química do instrumento .................................................................................................................................... 33 Categorias de espargidores .............................................................................................................. 34 Aula 2 – Aspectos Básicos dos Agentes Químicos Lacrimogêneos OC e CS ......37 Contextualizando... ............................................................................................................................. 37 O que são os agentes Lacrimogêneos? ............................................................................................ 37 Efeitos e descontaminação dos agentes lacrimogêneos ................................................................ 38 Processo de descontaminação ......................................................................................................... 40 Aula 3 – Emprego Técnico e Tático dos Espargidores Lacrimogêneos ...............44 Contextualizando... ............................................................................................................................. 44 Os princípios do uso diferenciado da força ...................................................................................... 44 Mas, quando devo utilizar os espargidores? ..................................................................................... 46 Espargidores de emprego individual ................................................................................................. 47 Espargidores de emprego coletivo .................................................................................................... 53 Aula 4 – Espargidores de Solução Lacrimogênea em Espuma, Gel e Jato Líquido Direcionado: um Enfoque Distinto ...........................................................................55 Contextualizando... ............................................................................................................................ 55 Espargidores multiambientes ............................................................................................................ 55 Os espargidores de solução lacrimogênea em espuma e gel ......................................................... 56 Os espargidores de jato líquido direcionado ..................................................................................... 62 Os espargidores lacrimogêneos e sua aplicação na cena de uso de drogas ................................. 63 Referências ..................................................................................................................66 MÓDULO 3 – ARMA DE INCAPACITAÇÃO NEUROMUSCULAR ....................... 67 Apresentação ..............................................................................................................68 Objetivos do módulo ........................................................................................................................... 68 Estrutura do módulo ...........................................................................................................................68 Aula 1 – Definição e Principais Efeitos das Armas de INM ........................................................................................................69 Contextualizando... ............................................................................................................................ 69 Definição .............................................................................................................................................. 69 Principais efeitos ................................................................................................................................ 72 Aula 2 – Estrutura Básica e Alcance ......................................................................75 Contextualizando... ............................................................................................................................. 75 INM: princípio da não letalidade ........................................................................................................ 75 Estrutura .............................................................................................................................................. 76 Alcance dos eletrodos ........................................................................................................................ 79 Aula 3 – Aplicação e Noções Sobre a Prática ........................................................82 Contextualização... ............................................................................................................................ 82 Identificando a ameaça ...................................................................................................................... 82 Aplicação ............................................................................................................................................. 85 Modos básicos de aplicação ............................................................................................................. 87 Cuidados após o uso da arma de INM ............................................................................................. 91 A arma de INM e inflamabilidade ...................................................................................................... 92 Aula 4 – Treinamento para Armas de INM ..............................................................95 Contextualizando... ............................................................................................................................ 95 A capacitação ..................................................................................................................................... 95 A equipe de instrução ......................................................................................................................... 96 Referências ..................................................................................................................99 MÓDULO 4 – MUNIÇÕES DE IMPACTO CONTROLADO ................................. 101 Apresentação ........................................................................................................... 102 Objetivos ........................................................................................................................................... 102 Estrutura do módulo ......................................................................................................................... 102 Aula 1 – Munições de Impacto Controlado: Contextualização e Características ........................................................................................................ 103 Contextualizando... ........................................................................................................................... 103 O treinamento e a capacitação do profissional de segurança pública .........................................103 Estrutura básica da munição de impacto controlado ...................................................................106 Aula 2 – O Uso das Munições de Impacto Controlado: Técnicas de Menor .. 111 Potencial Ofensivo .................................................................................................. 111 Contextualizando... .......................................................................................................................... 111 Aplicação segura .............................................................................................................................. 111 Modelos de munições de impacto controlado no calibre 12 ........................................................114 Modelos de munições de impacto controlado nos calibres 37 mm, 38,1 mm e 40 mm ............................................................................................................................ 117 Referências ............................................................................................................... 120 MÓDULO 5 – GRANADAS DE MÃO PARA APLICAÇÃO POLICIAL ................. 122 Apresentação ........................................................................................................... 123 Objetivos ............................................................................................................................................ 123 Estrutura do módulo ......................................................................................................................... 123 Aula 1 – As Granadas de Mão para Aplicação Policial .................................... 124 Contextualizando... .......................................................................................................................... 124 Primeiras impressões: delimitação do assunto .............................................................................124 Aula 2 – Granadas Explosivas ............................................................................... 126 Contextualizando... .......................................................................................................................... 126 Estrutura Básica ............................................................................................................................... 126 Tipos de granadas explosivas e seus objetivos .............................................................................128 Procedimento de uso das granadas explosivas ............................................................................134 Orientações básicas de treinamento ...............................................................................................137 Aula 3 – Granadas de Emissão .............................................................................. 139 Contextualizando... .......................................................................................................................... 139 Estrutura básica ............................................................................................................................... 139 Tempo de retardo e tempo de emissão ..........................................................................................141 Tipos de granadas de emissão e seus objetivos ............................................................................141 Referências ............................................................................................................... 146 Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral6 • Módulo 1 Apresentação do Curso Bem-vindo ao curso Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo. Este curso tem como finalidade promover aos profissionais de segurança pública o estudo teórico e técnico sobre as tecnologias de menor potencial ofensivo disponíveis na atuação dos agentes. Assim, neste curso, você terá acesso aos conteúdos que permitem identificar, manusear e aplicar cada instrumento de menor potencial ofensivo, alinhados com a Matriz Curricular Nacional, as diretrizesde Direitos Humanos, as macropolíticas de segurança pública e os protocolos de segurança disponíveis. Desejamos-lhe um excelente estudo! Equipe do curso. Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral7 • Módulo 1 CONCEITOS E ASPECTOS LEGAIS: CONTEXTO GERAL MÓDULO 1 Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral8 • Módulo 1 Apresentação Neste primeiro módulo, você irá entender o conceito e as técnicas de uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo, a fim de compreender como preservar vidas e minimizar os danos à integridade física das pessoas durante a sua ação. Ao longo do curso, também vamos apresentar alguns pontos da legislação e da Portaria Interministerial n.º 4.226/10, referentes ao tema, que são importantes para a sua formação como profissional de segurança pública, e as leis que poderão ser aplicadas quando houver uso indevido desses instrumentos. Desejamos que, ao final do estudo, você possa ter compreendido a importância dessas táticas como meios alternativos ao uso da força, buscando a “não letalidade” por meio do conhecimento teórico e do treinamento prático. OBJETIVOS DO MÓDULO Conceituar os instrumentos de menor potencial ofensivo, os tipos mais utilizados e definir as técnicas de menor potencial ofensivo. Além disso, espera-se que você conheça os principais pontos da legislação sobre o uso dos instrumentos para refletir a questão da “não letalidade”. ESTRUTURA DO MÓDULO • Aula 1 – Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo: Conceitos Fundamentais • Aula 2 – Aspectos Legais sobre o Uso dos Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral9 • Módulo 1 CONTEXTUALIZANDO... Você já ouviu falar sobre instrumentos de menor potencial ofensivo (IMPOs)? Esse termo pode causar diversas dúvidas, principalmente pela necessidade de entender a diferença entre os IMPOs e outros instrumentos já disponíveis durante a ação de um profissional de segurança pública. Por isso, durante esta aula, apresentaremos informações que buscam facilitar a apropriação do que são os instrumentos menos ofensivos, os tipos e as técnicas, assim como a legislação que circunda o uso desses instrumentos. Este estudo se faz importante para sua formação por promover e ampliar as opções de abordagem durante as ações, visando técnicas menos danosas aos sujeitos envolvidos. CONCEITUANDO OS INSTRUMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO Segundo a Portaria Interministerial n.º 4.226/10 (BRASIL, 2011), IMPOs são um conjunto de armas, munições e equipamentos desenvolvidos com a finalidade de preservar vidas e minimizar danos à integridade das pessoas. São características do uso de IMPOs nas ações de intervenção pelos agentes: • Reduzir os efeitos colaterais da ação. • Promover uma intervenção menos gravosa. Essa portaria tem como objetivo estabelecer diretrizes sobre o uso da força pelos agentes de segurança pública, para orientar e padronizar os procedimentos de atuação aos princípios internacionais sobre o uso da força. Aula 1 – Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo: Conceitos Fundamentais Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral10 • Módulo 1 “ “De acordo com a Diretriz n.º 8 da Portaria Interministerial 4.226/10, de 31 de dezembro de 2010, todo agente de segurança pública que, em razão da sua função, possa vir a se envolver em situações de uso da força, deverá portar no mínimo 2 (dois) instrumentos de menor potencial ofensivo e equipamentos de proteção necessários à atuação específica, independentemente de portar ou não arma de fogo (BRASIL, 2011). Quando a Portaria Interministerial n.º 4.226/10 recomenda o porte de, no mínimo, dois instrumentos de menor potencial ofensivo, pelo agente de segurança pública, é possível que você pergunte se isso inclui o recurso clássico de intervenção: o bastão policial. De acordo com pesquisas sobre armas não letais, o bastão policial é reconhecido como “uma arma não letal contundente”. Sendo assim, podemos considerá-lo um IMPO? Na verdade, a obrigatoriedade do porte de instrumentos de menor potencial ofensivo não se refere ao bastão policial, mas, sim, aos objetos de tecnologia moderna, capazes de reduzir os efeitos colaterais danosos quando utilizados corretamente. Figura 1: Instrumentos de menor potencial ofensivo. Fonte: labSEAD-UFSC (2019). ≠ Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral11 • Módulo 1 Imagine que, durante o seu trabalho, você se depara com uma situação de conflito. Você dá a ordem para conter e pacificar a situação, mas encontra resistência ativa de algum envolvido. Considerando que você efetuou uma tentativa de contenção através da força de menor intensidade, suas alternativas agora são o emprego de um bastão policial e uma arma de incapacitação neuromuscular. Nesse caso, sua tomada de decisão, considerando o emprego de força legítimo e proporcional, seria a utilização de qual instrumento? No caso da situação hipotética acima, se você optar pelo bastão policial, poderá fazer cessar a ação conflitante: porém, se não tiver extrema cautela, poderá provocar efeito colateral altamente danoso: um bastão policial pode gerar uma energia de aproximadamente 150 kg ou mais. A utilização dessa força em um membro do corpo humano pode causar um efeito extremamente grave. Por outro lado, se o profissional optar pela arma de incapacitação neuromuscular, fará cessar o conflito e dificilmente provocará um efeito colateral danoso, como no exemplo do bastão policial. Os elementos que formam os IMPOs são divididos em diferentes categorias dentro de sua tipologia, e seus usos são indicados de acordo com as especificidades de cada situação de intervenção. Utilizando o exemplo das armas de menor potencial ofensivo: temos a arma de incapacitação neuromuscular. Embora esse instrumento seja considerado arma, a escolha e a utilização de cada um deverão obedecer as necessidades específicas da situação. Na Prática Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral12 • Módulo 1 Esses instrumentos alternativos e auxiliares para o momento da ação policial são resultados do desenvolvimento de tecnologias mais eficazes, que proporcionam ao servidor público alternativas táticas mais seguras, com o objetivo de preservar a integridade física e a vida do agressor, assim como dos agentes do Estado. ARMAS, MUNIÇÕES E EQUIPAMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO Todos os tipos de armas, munições e equipamentos enquadrados como instrumentos de menor potencial ofensivo têm como finalidade conter, debilitar ou incapacitar temporariamente a pessoa envolvida na ação. Pode ser interpretada como a limitação da expansão individual ou coletiva; a não continuidade de determinada ação; impedir de prosseguir, controlar a ameaça etc. Essa contenção pode ser feita de várias formas, desde o uso de algemas até com o emprego de uma verbalização, instalação de grades demarcando uma área restrita ou a formação de um “cordão humano”. Significa tirar ou perder a energia física ou a saúde; enfraquecer. Os instrumentos considerados debilitantes baseiam-se principalmente no desconforto ou na inquietação, reduzindo a capacidade agressiva do indivíduo. São exemplos de instrumentos e técnicas debilitantes: as munições de impacto controlado (munições de elastômero) e os espargidores lacrimogêneos (inquietantes). CONTER DEBILITAR Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral13 • Módulo 1 INCAPACITAR Pode ser entendido como tornar incapaz; inabilitar. Um instrumento de menor potencial ofensivo incapacitante é aquele que atua diretamente no sistema nervoso, causando reações involuntárias no organismo e fazendo com que a pessoa perca a possibilidade de controle sobre seus atos, a exemplo da arma de incapacitação neuromuscular. Assim, mesmo que haja dor ou desconforto no uso desses instrumentos, a pessoa exposta não tem opção entre continuar agindo ou cessar a ação. Assim, a escolha do instrumento vai depender da situação conflitante e do efeitodesejado naquela intervenção. Em um exemplo prático: caso você queira apenas limitar ou conter uma certa ação, utilizar instrumentos que são debilitantes não irá alcançar seu objetivo. Da mesma forma, se por ventura houver necessidade de dissipar uma ação de um grupo, a utilização de espargidores coletivos será muito mais efetiva do que a utilização de um instrumento incapacitante. Veja a seguir os exemplos e as características das armas, das munições e os equipamentos de menor potencial ofensivo. Armas de Menor Potencial Ofensivo Dentre as armas projetadas e/ou empregadas para um efeito menos nocivo, temos a arma de incapacitação neuromuscular. A arma de incapacitação neuromuscular possui um sistema que permite ao operador obter vantagem tática sobre o agressor, paralisando-o completamente, evitando uma ação de ataque ou fuga, criando, assim, uma “janela de oportunidade” para realizar a imobilização. Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral14 • Módulo 1 Figura 2: Arma de incapacitação neuromuscular. Fonte: Rocha (2019). Tanto as armas de incapacitação neuromuscular como os espargidores de solução lacrimogênea agem para incapacitar e debilitar os sujeitos envolvidos na ação conflituosa. Munições de menor potencial ofensivo São munições projetadas e empregadas, especificamente, para conter, debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas, preservando vidas e minimizando danos a integridade das pessoas envolvidas. Existem alguns tipos de munições de menor potencial ofensivo, são eles: os projéteis de emissão lacrimogênea, as munições de impacto controlado (munições de elastômero) e os cartuchos das armas de incapacitação neuromuscular. Os projéteis de emissão lacrimogênea são conhecidos também como granadas de emissão lacrimogênea. Assim como os espargidores de emissão lacrimogênea, os projéteis agem como instrumento para debilitar grupos durante a ação policial. Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral15 • Módulo 1 Figura 3: Projétil de emissão lacrimogênea. Fonte: Rocha (2019). Figura 4: Munição de impacto controlado. Fonte: Rocha (2019). As munições de impacto controlado (projéteis de borracha) levam esse nome por terem uma capacidade de energia muito menor em comparação com a munição letal, e permitem, assim, um efeito menos grave à pessoa atingida. Normalmente, as munições de impacto controlado e os projéteis de emissão lacrimogênea agem através da debilitação. Entretanto, embora ambos sejam instrumentos debilitantes, é preciso levar em consideração a especificidade da situação durante a tomada de decisão, a fim de optar pelo melhor instrumento, dada a necessidade da intervenção. Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral16 • Módulo 1 É importante ressaltar que existe uma diferença entre equipamentos de menor potencial ofensivo com os equipamentos de proteção. Segundo a Portaria n.º 4.226/10, os equipamentos de proteção são destinados à redução de riscos à integridade física ou à vida dos agentes de segurança pública. Assim, temos como exemplo os equipamentos de proteção individual (EPIs) e os equipamentos de proteção coletiva (EPCs), como capacetes, joelheiras e veículos blindados. Para definir se um instrumento se enquadra no grupo de armas ou munições, adota-se a classificação utilizada na portaria nº 118 – COLOG, DE 04 de outubro de 2019. Aprofunde-se neste tema acessando o link da legislação: http:// www.dfpc.eb.mil.br/phocadownload/Portarias_EB_COLOG/ Portarian118.pdf Equipamentos de menor potencial ofensivo Todos os artefatos que realizam a contenção, debilitação ou incapacitação temporária da pessoa, com exceção das armas e munições, são os equipamentos de menor potencial ofensivo. Temos o exemplo das redes de captura e a plataforma de emissão sonora (quando empregada na função “comunicação”). Saiba mais Figura 5: Rede de captura. Fonte: Rocha (2019). http://www.dfpc.eb.mil.br/phocadownload/Portarias_EB_COLOG/Portarian118.pdf http://www.dfpc.eb.mil.br/phocadownload/Portarias_EB_COLOG/Portarian118.pdf http://www.dfpc.eb.mil.br/phocadownload/Portarias_EB_COLOG/Portarian118.pdf Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral17 • Módulo 1 Todos os instrumentos apresentados são utilizados como alternativa nas ações de segurança pública, pois, como já dito, possuem um efeito menos danoso aos sujeitos envolvidos. Por isso, discutir as especificidades de cada instrumento facilita a tomada de decisão no momento da sua ação, e todas as escolhas envolvidas durante o uso dos IMPOs relacionam-se diretamente com o conceito de técnicas de menor potencial ofensivo. TÉCNICAS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO Segundo a Portaria Interministerial n.º 4.226/10, definimos técnicas de menor potencial ofensivo como o conjunto de procedimentos empregados em intervenções que demandem o uso da força, através do uso de instrumentos de menor potencial ofensivo, com intenção de preservar vidas e minimizar danos à integridade das pessoas. Em outras palavras, o processo que envolve a decisão do uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo (quais utilizar e quando utilizar) e sobre como serão feitas as intervenções é o que resume uma técnica de menor potencial ofensivo. Esses procedimentos serão explorados em conjunto com o estudo dos instrumentos de menor potencial ofensivo ao longo do curso. Figura 6: Pelotão de choque. Fonte: Shutterstock (2019). Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral18 • Módulo 1 É importante lembrar que as técnicas de menor potencial ofensivo não são as técnicas de mãos livres, utilizadas como defesa pessoal (controle de braços e mãos). Tanto as técnicas de menor potencial ofensivo quanto as técnicas de mãos livres possuem efeitos colaterais mínimos e são intervenções menos graves. Ainda assim, a técnica de menor potencial ofensivo requer, necessariamente, o emprego de um IMPO. REFLETINDO SOBRE A “NÃO LETALIDADE” Os instrumentos de menor potencial ofensivo são conhecidos popularmente como “armas não letais”, e isso propõe ao seu usuário e aos destinatários de seus efeitos um resultado não letal. Mas, para alcançar o resultado da “não letalidade”, o que é necessário fazer? Quem garante a não letalidade desses instrumentos? Na verdade, os instrumentos de menor potencial ofensivo não garantem, por si só, sua “não letalidade”, isso enfatiza a importância do treinamento e a maturidade profissional para utilização correta dos instrumentos, porque, apesar de os IMPOs serem fabricados com o objetivo de reduzir ao máximo o evento danoso com resultado de morte, esse objetivo só será alcançado se o profissional que estiver operando o instrumento for previamente capacitado para tal. A “não letalidade” deve ser o objetivo alcançado pelo profissional de segurança pública e saber usar corretamente um instrumento de menor potencial ofensivo só é possível por meio de treinamentos teóricos e práticos efetivos. Perceba que toda a discussão realizada até agora circunda o profissionalismo e a ética dos agentes em relação ao uso dos instrumentos, além de posturas e valores indispensáveis para sua atuação. Assim, o uso correto dos IMPOs será uma soma desses valores ao estudo teórico, com técnicas e instruções, e prático, adquirido através de treinamentos específicos. Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral19 • Módulo 1 Aula 2 – Aspectos Legais sobre o Uso dos Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo CONTEXTUALIZANDO... Saber o que diz a legislação e os documentos que tratam do uso da força e do tratamento do ser humano permite que você fundamente sua ação com mais segurança, assistido pelas leis que regem o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo. Por isso, nesta aula, nós vamos falar sobre desvio de conduta e suas respectivas consequências. Também faremos alguns apontamentos sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos, antes de entrarmos no estudo das leis de relevante interesse quando se trata do emprego dos IMPOs. USO LEGALDOS INSTRUMENTOS E DESVIO DE CONDUTA Um aspecto de extrema importância para o uso correto e legal das técnicas e dos instrumentos apresentados é a redução do sofrimento das pessoas abordadas. A utilização dos IMPOs segue as orientações internacionais e nacionais sobre o uso da força e de armas de fogo, são elas: O Código de Conduta dos Encarregados de Aplicar a Lei Os Princípios Básicos de Uso da Força e de Armas de Fogo As Diretrizes de Uso da Força implementadas no Brasil* *Portaria Interministerial nº 4.226 de 31.10.2010 (Ministério da Justiça e Secretaria de Direitos Humanos). Figura 7: Orientações sobre o uso da força e de armas de fogo. Fonte: labSEAD-UFSC (2019). Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral20 • Módulo 1 Todas as orientações e diretrizes legais que referenciam o uso das técnicas de menor potencial promovem, por consequência, a abordagem correta dos usos dos IMPOs. Tal preocupação justifica-se pela necessidade de discutir e refletir as consequências do uso inadequado dos IMPOs por parte dos agentes. Nesse sentido, entende-se como desvio de conduta quando o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo por parte do agente de segurança pública causa sofrimento desnecessário às pessoas dominadas. Toda vez que existe um uso incorreto dos IMPOs, órgãos nacionais e internacionais acabam questionando a sua eficiência e eficácia, e fica em descrédito a corporação, o próprio policial, assim como a validade de se utilizar tais tecnologias. Solicitações de proibição da utilização dos IMPO por parte de Organizações Sociais e Institucionais Questionamentos por parte de organismos de Direitos Humanos Proibição do uso dos instrumentos para todos os agentes da corporação, em razão do desvio de conduta de um único profissional Condenação penal e até a perda da função para o servidor que fizer uso inadequado do instrumento Degradação da imagem dos organismos de Segurança Pública em todo o país Consequências do uso inadequado dos IMPOs Figura 8: Consequências do uso inadequado dos IMPOs. Fonte: labSEAD- UFSC (2019). Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral21 • Módulo 1 Atribuindo um exemplo prático sobre uso inadequado das técnicas e instrumentos de menor potencial ofensivo, imagine a situação em que um profissional usa o agente químico lacrimogêneo em um detido que está dominado, dentro do compartimento de condução de detidos da viatura. Algumas situações de mau uso como essa já levaram a tentativas de proibição do uso das armas de incapacitação neuromuscular, por exemplo, tolhendo a possibilidade do uso desse instrumento por parte dos profissionais de segurança pública. Tais desvios de conduta estão entre os grandes responsáveis pela indisponibilidade de instrumentos de menor potencial ofensivo para os agentes de segurança pública, porém o seu uso é de extrema importância para a atividade de segurança pública, uma vez que permite uma ação menos danosa à pessoa detida ou dominada. Iniciamos a discussão sobre desvio de conduta para facilitar a compreensão dos aspectos legais que serão estudados a seguir, principalmente para entendermos como a legislação caminhou até a criação da Lei de Tortura e da Lei de Abuso de Autoridade. Apresentaremos a seguir as principais normas internacionais que tratam do tema antes de começarmos a discutir a legislação pátria. A Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção Contra a Tortura A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é o principal documento parametrizador das leis e diretrizes referentes ao tratamento humano, reconhecido mundialmente. Criado e proclamado através de Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, o documento dispõe normas e diretrizes comuns para todos os povos e nações e estabelece, principalmente, a proteção universal dos direitos humanos. Desde sua adoção pela Organização das Nações Unidas Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral22 • Módulo 1 TORTURA Figura 9: Identificação internacional de atos de tortura. Fonte: labSEAD- UFSC (2019). Obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou confissão Intimidar ou coagir a pessoa ou terceiros Quando tal dor ou sofrimento é imposto por um funcionário público ou por outra pessoa atuando no exercício de funções públicas Puni-la por um ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido (ONU), todo instrumento de direitos humanos que tenha sido elaborado tem como base as disposições da DUDH. O artigo 5º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, considerando o respeito e a dignidade do ser humano, veda “a submissão de qualquer pessoa a tortura ou a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante” (ONU, 2009. p. 6). Além disso, a Assembleia Geral das Nações Unidas realizou, em 1984, a Convenção Contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamento Cruéis, Desumanos ou Degradantes para conceituar e estabelecer os acordos relativos à proibição da tortura. De acordo com o artigo 1º da convenção, tortura é qualquer ato violento que leve a sofrimento físico ou mental. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequências, inerentes ou decorrentes de sanções legítimas. Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral23 • Módulo 1 Ainda segundo o mesmo documento, a tortura é considerada uma ofensa contra a dignidade humana e será entendida como uma negação aos propósitos da Carta das Nações Unidas, assim como uma violação aos direitos e liberdades fundamentais afirmados na Declaração Universal dos Direitos do Homem. O artigo 1º esclarece que a resolução não pretende evitar que as sanções legítimas e legais sejam aplicadas e nem que a força necessária ao cumprimento da lei deixe de ser utilizada. A preocupação do referido documento está na aplicação justa e necessária das ações, evitando dores e sofrimentos desnecessários ao ser humano. O mesmo artigo esclarece que nenhum documento internacional ou lei nacional deve ser prejudicado por essa definição de tortura. Os instrumentos internacionais têm suas diretrizes voltadas para os Estados e, dependendo do instrumento, esse pode ser obrigatório ou apenas servir como orientação para construir o documento constitucional do país. Portanto, a pessoa que comete um crime estará sob regência das leis do país em que vive, por isso é importante conhecer as normas internacionais, mas é necessário compreender, principalmente, as normas nacionais, pois são elas que servirão como base para o julgamento da conduta do policial. Entender a postura da comunidade internacional permite que você compreenda a relação direta entre a aquisição dos instrumentos de uso diferenciado da força com a aplicação adequada, atendendo a seu propósito original. Enfatizando a discussão: possibilitar o porte dos IMPOs representa, consequentemente, diminuir a necessidade de uso de instrumentos letais, a exemplo da arma de fogo. Essa arma acaba tornando-se um segundo recurso possível de utilização, tão logo o agente perceba terem falhado as tentativas de verbalização, sempre tendo como objetivo limitar a necessidade de meios que possam causar a morte e/ou lesões corporais. Sanção é o termo utilizado pare referenciar a aplicação de leis, medidas ou penalidades que tenham o intuito de punir determinada desobediência, infração ou violação cometida. Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral24 • Módulo 1 A diminuição e limitação dos recursos letais é retomada no documento de Princípios Básicos do Uso da Força e Armas de Fogo (PBUFAF). No segundo artigo do documento, os PBUFAF estabelecem que os governos e outros organismos de aplicação da lei são os responsáveis por desenvolver diversos meios de intervenção, além de fomentar o treinamento e a habilitação dos profissionais responsáveis pela aplicação, promovendo o uso diferenciado da força e da arma de fogo. A Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentosou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes exige que cada Estado incorpore ao treinamento de todos os servidores, civis ou militares, encarregados de aplicação da lei, bem como de outros funcionários públicos ou pessoas submetidas à detenção ou prisão, instrumentos de educação e informação relativos à proibição da tortura. Também deve incluir, nas regras ou nas instruções que estabelecem os deveres e as atribuições dessas pessoas, a proibição da tortura. Ainda está previsto que o Estado deve realizar investigações rápidas e imparciais nos casos de suspeita de tortura em território sob sua jurisdição, como também deverá desconsiderar quaisquer provas e/ou confissões baseadas em declarações obtidas sob tortura. Poderíamos citar aqui inúmeros outros instrumentos internacionais que nos dariam embasamento legal para defender o uso de instrumentos de menor potencial ofensivo. No entanto, todos eles seriam taxativos em reafirmar a preocupação com o respeito à vida e à integridade física de todas as pessoas, por parte dos Estados. Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral25 • Módulo 1 Outro instrumento internacional que deve ser considerado é o Código de Conduta para os Encarregados de Aplicação da Lei. No artigo 5º, o documento traz a absoluta proibição da tortura ou qualquer outro ato que possa configurar pena ou tratamento cruel, desumano ou degradante, bem como de alegar ordens superiores ou circunstâncias excepcionais para justificar qualquer ato nesse sentido. Acesse o link da legislação atualizada: www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_criminal/CAOCri_ ControleExtAtivPol/C%C3%B3digo%20de%20Conduta%20para%20 os%20Funcion%C3%A1rios%20Respons%C3%A1veis%20pela%20 Aplica%C3%A7%C3%A3o%20da%20Lei_2.pdf Assim, através dos conteúdos estudados neste módulo, esperamos que você reflita como profissional e opte sempre pela utilização da forma correta dos instrumentos de menor potencial ofensivo, a fim de afastar qualquer ofensa aos ditames da Convenção Contra a Tortura e aos artigos estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. A LEGISLAÇÃO Neste tópico, retomaremos a leitura da Portaria Interministerial n.º 4.226 e apresentaremos três leis indispensáveis para seu estudo. Saiba mais 1 PORTARIA INTERMINISTERIAL N.º 4.226 (2010) Procedimentos de uso da força e de instrumentos de menor potencial ofensivo. Esta norma foi publicada em 2010, e ganha protagonismo em nosso estudo por ser a diretriz federal mais específica e completa sobre os procedimentos de uso da força e de instrumentos de menor potencial ofensivo. www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_criminal/CAOCri_ControleExtAtivPol/C%C3%B3digo%20de%20Conduta%20para%20os%20Funcion%C3%A1rios%20Respons%C3%A1veis%20pela%20Aplica%C3%A7%C3%A3o%20da%20Lei_2.pdf www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_criminal/CAOCri_ControleExtAtivPol/C%C3%B3digo%20de%20Conduta%20para%20os%20Funcion%C3%A1rios%20Respons%C3%A1veis%20pela%20Aplica%C3%A7%C3%A3o%20da%20Lei_2.pdf www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_criminal/CAOCri_ControleExtAtivPol/C%C3%B3digo%20de%20Conduta%20para%20os%20Funcion%C3%A1rios%20Respons%C3%A1veis%20pela%20Aplica%C3%A7%C3%A3o%20da%20Lei_2.pdf www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_criminal/CAOCri_ControleExtAtivPol/C%C3%B3digo%20de%20Conduta%20para%20os%20Funcion%C3%A1rios%20Respons%C3%A1veis%20pela%20Aplica%C3%A7%C3%A3o%20da%20Lei_2.pdf Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral26 • Módulo 1 Neste documento nós encontramos um glossário com os termos e conceitos utilizados no exercício da função e os procedimentos das atividades de segurança, além de 25 diretrizes que orientam para uma intervenção menos gravosa pelos profissionais de segurança pública. LEI N.º 13.060 (2014) Instrumentos de menor potencial ofensivo. Esta lei regulariza o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes de segurança pública, em todo o território nacional. Ela também propõe regras gerais, a serem observadas por agentes e órgãos de segurança pública para emprego de instrumentos de menor potencial ofensivo, e, quando necessário, de armas de fogo. Embora seja uma lei dedicada apenas para legislar as regras de uso dos IMPOs, é um documento sucinto, com apenas 8 artigos, dificultando alcançar o objetivo da sua própria ementa. Além disso, o documento utiliza dois termos como referência dos IMPO, alternando entre “instrumentos não letais” e “instrumentos de menor potencial ofensivo”. Por conta disso, a Portaria Interministerial n.º 4.226/10 é considerada mais específica nos termos e conceitos, ela também aborda com maior precisão o uso da força e emprego dos IMPOs, tornando-se o documento base dos nossos estudos sobre as diretrizes de uso da força. LEI N.º 13.869 (2019) Dispõe sobre abuso de autoridade. Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído. Segundo seu texto, entende- 2 3 Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral27 • Módulo 1 se o abuso de autoridade, dentre outras circunstâncias, os atentados à segurança física do indivíduo. É aplicada a qualquer ocupante de cargo, emprego ou função pública de natureza civil ou militar, mesmo que esteja exercendo a atividade transitoriamente e sem remuneração. Sendo assim, ao utilizar indevidamente um instrumento de menor potencial ofensivo de modo a colocar em risco a integridade física de qualquer pessoa, considera-se que o profissional de segurança pública cometeu abuso de autoridade, e estará sujeito à sanção administrativa, civil e penal. LEI N.º 9.455 (1997) Define os crimes de tortura. A Lei 9.455/97 define os crimes de tortura. O documento segue a mesma definição assumida na Resolução da Convenção Contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamento Cruéis, Desumanos e Degradantes. Considera também crime de tortura submeter alguém de sua guarda, poder ou autoridade a intenso sofrimento físico ou mental com o objetivo de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. A referida lei prevê como pena para tais crimes: reclusão, perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para o exercício dos mesmos pelo dobro do prazo da pena aplicada, e estabelece ainda aumento da pena quando o crime for cometido por agente público ou contra criança, adolescente, gestante, portador de deficiência ou maior de 60 (sessenta) anos. Por fim, deixa claro que o crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. 4 Figura 10: Leis e diretrizes nacionais sobre o uso de instrumentos de menor potencial ofensivo. Fonte: labSEAD-UFSC (2019). Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral28 • Módulo 1 Ao analisar a legislação aqui apresentada, você deve ter notado que, seguindo uma tendência internacional, o Brasil adota uma postura de intolerância ao uso abusivo da autoridade outorgada aos agentes responsáveis pela aplicação da lei. Assim, quando se cogita a aquisição de instrumentos de menor potencial ofensivo, alguns episódios de abuso de autoridade, tortura ou atos semelhantes são recordados, e entra em questão o medo da repetição desses episódios por parte das autoridades responsáveis pela aquisição desses instrumentos, assim como pela sociedade e órgãos nacionais e internacionais, como visto anteriormente. Por conta disso, normalmente os instrumentos acabam não sendo adquiridos. Os principais argumentos dos gestores para que tais aquisições não ocorram são seu alto custo e a necessidade de treinamento constante e específico para seu uso. Mas é preciso esclarecer aos gestores públicos que o valor aplicado em tecnologias de menor potencial ofensivo deve ser encarado como investimento de médio e longo prazo, pois elas promovem a redução de gastos com: • Processos judiciais contra o Estado. • Sistema de saúde, como, por exemplo, na recuperação de vítimas. • Previdência social, como a redução deaposentadorias por invalidez provocada pela violência. Nessa perspectiva, a implantação de um programa de capacitação em instrumentos de menor potencial ofensivo não passaria a ser vista como inviável pelos gestores de recursos públicos. Convidamos você a refletir se o conhecimento adquirido neste módulo foi suficiente para deixá-lo seguro em uma possível situação de uso dos IMPOs no seu cotidiano, sem provocar danos indesejados. A não letalidade está diretamente ligada a essa autorreflexão e com a mudança na mentalidade dos profissionais de segurança sobre a necessidade do uso da força. Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral29 • Módulo 1 Referências BRASIL. Lei n.º 9.455, de 7 de abril de 1997. Lei da Tortura. Define os crimes de tortura e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1997. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9455.htm. Acesso em: 31 out. 2019. BRASIL. Lei n.º 13.060, de 22 de dezembro de 2014. Disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes de segurança pública, em todo o território nacional. Brasília, DF: Presidência da República, 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/ l13060.htm. Acesso em: 31 out. 2019. BRASIL. Lei n. 13.869, de 5 de setembro de 2019. Brasília, DF: Presidência da República, 2019. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13869.htm. Acesso em: 21 fev. 2020. BRASIL. Ministério da Justiça. Portaria Interministerial 4.226/10, de 31 de dezembro de 2010. Estabelece Diretrizes sobre o Uso da Força pelos Agentes de Segurança Pública. Brasília, DF: Ministério da Justiça, 3 de jan. 2011. Disponível em: https://normas.gov.br/materia/-/asset_publisher/ NebW5rLVWyej/content/id/34637403. Acesso em: 20 set. 2019. BRASIL. Ministério Público Federal. Princípios básicos sobre o uso da força e armas de fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Brasília, DF, 7 de setembro de 1990. Disponível em: http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos- de-apoio/legislacao/segurancapublica/principios_basicos_ arma_fogo_funcionarios_1990.pdf. Acesso em: 31 out. 2019. ORGANIZAÇÃO GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Declaração Universal dos Direitos Humanos. Rio de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9455.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9455.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13060.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13060.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13869.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13869.htm https://normas.gov.br/materia/-/asset_publisher/NebW5rLVWyej/content/id/34637403 https://normas.gov.br/materia/-/asset_publisher/NebW5rLVWyej/content/id/34637403 http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/segurancapublica/principios_basicos_arma_fogo_funcionarios_1990.pdf http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/segurancapublica/principios_basicos_arma_fogo_funcionarios_1990.pdf http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/segurancapublica/principios_basicos_arma_fogo_funcionarios_1990.pdf Conceitos e Aspectos Legais: Contexto Geral30 • Módulo 1 Janeiro, 2009 [Paris. 10 dez. 1948]. Disponível em: https:// nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf. Acesso em: 30 out. 2019. ORGANIZAÇÃO GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Convenção Contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes. 10 dez. 1984. Disponível em: https://acnudh.org/load/2011/06/ CONVEN%C3%87%C3%83O-CONTRA-A-TORTURA-E-OUTRAS- PENAS-OU-TRATAMENTOS.pdf. Acesso em: 30 out. 2019. ROCHA, M. F. da S. [Acervo de imagens]. Brasília, DF, 2019. SHUTTERSTOCK. [S.l.], 2019. Disponível em: https://www. shutterstock.com/pt/. Acesso em: 4 nov. 2019. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Laboratório da Secretaria de Educação a Distância (labSEAD-UFSC). Florianópolis, 2019. Disponível em: http://lab.sead.ufsc.br/. Acesso em: 9 out. 2019. https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf https://acnudh.org/load/2011/06/CONVEN%C3%87%C3%83O-CONTRA-A-TORTURA-E-OUTRAS-PENAS-OU-TRATAMENTOS.pdf https://acnudh.org/load/2011/06/CONVEN%C3%87%C3%83O-CONTRA-A-TORTURA-E-OUTRAS-PENAS-OU-TRATAMENTOS.pdf https://acnudh.org/load/2011/06/CONVEN%C3%87%C3%83O-CONTRA-A-TORTURA-E-OUTRAS-PENAS-OU-TRATAMENTOS.pdf https://www.shutterstock.com/pt/ https://www.shutterstock.com/pt/ http://lab.sead.ufsc.br/ Espargidores de Solução Lacrimogênea31 • Módulo 2 ESPARGIDORES DE SOLUÇÃO LACRIMOGÊNEA MÓDULO 2 Espargidores de Solução Lacrimogênea32 • Módulo 2 Apresentação A partir deste módulo, você irá conhecer os espargidores de solução lacrimogênea e suas especificidades. O objetivo é trazer uma abordagem simples e pontual sobre o emprego deste recurso nas ações de segurança pública. O objeto de aprendizagem deste módulo é considerado um dos principais instrumentos de menor potencial ofensivo empregado no cotidiano do profissional de segurança pública: o espargidor de solução lacrimogênea vem sendo utilizado em grande escala pelos agentes de segurança pública em razão de sua praticidade de porte, baixo custo de aquisição e por se mostrar um excelente vetor de menor potencial ofensivo nas ações operacionais de segurança pública. Vamos juntos numa breve imersão no conhecimento dos espargidores? OBJETIVOS DO MÓDULO Este módulo tem como objetivo identificar as principais categorias de espargidores de solução lacrimogênea, seus principais agentes químicos lacrimogêneos, suas características técnicas, físicas e especificidades de segurança, bem como contextualizar os produtos dentro dos princípios do uso diferenciado da força e entender taticamente o momento em que os profissionais de segurança poderão utilizá-los e a maneira correta de realizar os procedimentos de descontaminação. ESTRUTURA DO MÓDULO • Aula 1 – Conhecendo os Espargidores de Solução Lacrimogênea • Aula 2 – Aspectos Básicos dos Agentes Químicos Lacrimogêneos OC e CS • Aula 3 – Emprego Técnico e Tático dos Espargidores Lacrimogêneos • Aula 4 – Espargidores de Solução Lacrimôgenea em Espuma, Gel e Jato Líquido Direcionado: um Enfoque Distinto Espargidores de Solução Lacrimogênea33 • Módulo 2 Propelente é um material que pode ser usado para mover um objeto aplicando uma força. CONTEXTUALIZANDO... Os espargidores são instrumentos de menor potencial ofensivo (IMPOs) considerados não letais que são utilizados por profissionais de segurança pública para contenção de um ou mais agressores. Nesta aula, você vai identificar o conceito e as principais características físicas e químicas desses materiais, destacando a importância de manuseio instruído, visto que seu uso pode vir a ocasionar danos indesejáveis ao(s) agressor(es). O QUE É UM ESPARGIDOR DE SOLUÇÃO LACRIMOGÊNEA? Espargidor de solução lacrimogênea é um IMPO que se apresenta na forma de cilindro de alumínio pressurizado, contendo um agente químico lacrimogêneo – Oleoresin Capsicum (OC) e ortoclorobenzalmalononitrila (CS) –, que, por meio da ação de um gás propelente, o expulsa para o meio externo. Esses instrumentos visam debilitar temporariamente o(s) agressor(es), através da ação irritante nas mucosas (nariz, boca e principalmente os olhos) provocada pelo seu agente químico lacrimogêneo. ESTRUTURA MECÂNICA E QUÍMICA DO INSTRUMENTO Os espargidores lacrimogêneos normalmente se apresentam como recipientes em alumínio de formato cilíndrico. Apresentamos, a seguir, os mecanismos encontrados na estrutura física de um espargidor. Aula 1 – Conhecendo os Espargidores de Solução Lacrimogênea Espargidores de Solução Lacrimogênea34 • Módulo 2 Conforme observamos na figura anterior, podemos destacar, em sua estrutura química, o propelente e a soluçãolacrimogênea, que causam efeitos irritantes ao entrarem em contato com a pele humana. Assim, podemos conceituar a solução lacrimogênea como uma substância homogênea (regular), com princípio ativo lacrimogêneo, que pode se apresentar no estado líquido e no estado de espuma ou gel. Já o propelente, caracterizamos como um gás pressurizado em equilíbrio com a solução lacrimogênea, que tem por funcionalidade provocar a saída desta solução para o meio externo. CATEGORIAS DE ESPARGIDORES Os espargidores lacrimogêneos são produzidos em diversos tamanhos e com capacidades de conteúdo diferentes. Você poderá encontrar espargidores lacrimogêneos com capacidade de conteúdo variando entre 65 g e 900 g. Atuador ou botão de acionamento: Responsável pelo funcionamento através da ação do operador exercer pressão fazendo a solução espargir. Tubo pescador: Espécie de mangueira que faz a sucção/coleta da solução, permitindo a ação do dispersador. Corpo: Recipiente que contém o agente e seu respectivo propelente. Dispersador: É a abertura que permite a saída da solução lacrimogênea. Nos espargidores aerossóis, provoca a dispersão cônica da substância (semelhante aos sprays desodorante). Nos espargidores de solução em espuma ou gel é criado um jato direcionado. Solução Lacrimogênea Gás Propelente Figura 1: Estrutura mecânica de um espargidor. Fonte: Acervo do reformulador, adaptado por labSEAD-UFSC (2019). Espargidores de Solução Lacrimogênea35 • Módulo 2 Diante dessa variedade de tamanhos, você pode se perguntar: qual seria o tamanho ideal de espargidor para suprir as necessidades da minha atividade profissional? Esse é o questionamento de muitos gestores públicos, ao realizarem o planejamento para a aquisição de espargidores de solução lacrimogênea. A grande variedade desse instrumento nos catálogos dos fabricantes torna a tarefa ainda mais difícil. Por outro lado, considerando as capacidades de conteúdo, as instituições de segurança pública, através de um processo de erros e acertos, concluíram que, acerca das variedades existentes, somente duas categorias atendem com excelência às suas necessidades operacionais (quanto à capacidade de conteúdo), são elas: os espargidores de emprego individual e os de emprego coletivo. Veremos cada um deles mais detalhadamente a seguir. Espargidores de emprego individual Classificados de acordo com a capacidade de conteúdo, os espargidores de emprego individual são aqueles que produzem jatos com alcance médio de 1,5 metros, envasados em recipientes de 125 gramas de peso líquido de produto ativo. Possuem dimensões aproximadas de 150 milímetros de comprimento e 45 milimetros de diâmetro, podendo ter uma sutil variação, a depender do fabricante. Por essa razão, os instrumentos espargidores de emprego individual são adequados para o porte mais discreto, podendo ser utilizados na cintura encobertos por um paletó, bem como em uso ostensivo. Figura 2: Espargidor de emprego individual. Fonte: Rocha (2019). Espargidores de Solução Lacrimogênea36 • Módulo 2 O espargidor de emprego individual permite aproximadamente 25 jatos de 0,5 segundos, e deve ser empregado contra um só agressor de mãos livres ou, no máximo, dois agressores. Espargidores de emprego coletivo Classificados de acordo com a capacidade de conteúdo, os espargidores de emprego coletivo são aqueles que produzem jatos de alcance médio de 5 metros, envasados em recipientes que variam entre 350 gramas e 450 gramas de peso líquido de produto ativo. Possuem dimensões aproximadas entre 262 milímetros de comprimento e 66 milímetros de diâmetro, podendo ter uma sutil variação, a depender do fabricante. Por terem tamanho consideravelmente maior, em comparação aos espargidores de emprego individual, não permitem o porte dissimulado, sendo conduzidos de forma ostensiva. Esse tipo de espargidor é o preferido pelos órgãos de ordem pública. Figura 3: Espargidor de emprego coletivo. Fonte: Rocha (2019). Permitem, aproximadamente, 15 espargimentos de 0,5 segundos, sendo destinados para emprego contra grupos de agressores. Sua aplicação é contraindicada para uso em um único indíviduo, pois sua pressão e quantidade de agente lacrimogêneo espargido podem provocar danos indesejáveis, tais como o deslocamento da retina e queimadura na pele devido à sua concentração. Espargidores de Solução Lacrimogênea37 • Módulo 2 CONTEXTUALIZANDO... É muito importante que você conheça os principais agentes lacrimogênicos usados nos espargidores, antes de adentrar no conhecimento específico do emprego técnico e tático desse tipo de instrumento. Assim sendo, nesta aula você conhecerá as questões básicas sobre os agentes químicos lacrimogêneos Oleoresin Capsicum (OC) e ortoclorobenzalmalononitrila (CS). O QUE SÃO OS AGENTES LACRIMOGÊNEOS? Os agentes químicos lacrimogêneos são substâncias químicas que provocam efeitos leves e temporários, podendo ocasionar uma ardência na pele e nas mucosas, bem como lacrimejamento e pequena sensação de sufocamento e outros efeitos no organismo humano. Os agentes químicos utilizados nos espargidores de fabricação nacional são o Oleoresin Capsicum (OC), tecnicamente conhecido como o lacrimogênio de pimenta, e o ortoclorobenzalmalononitrila (CS). Vejamos a seguir o que diz o Decreto n.º 2.977, de 1º de março de 1999, sobre os agentes químicos lacrimogêneos. O Decreto n.º 2.977, de 1º de março de 1999, que estabele a Convenção Internacional sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção, Estocagem e Uso de Armas Químicas e sobre a Destruição das Armas Químicas existentes no mundo, caracteriza os agentes químicos lacrimogêneos como agente de repressão de distúrbios e os definem como qualquer substância química que não esteja relacionada numa diretriz e que rapidamente provoca irritação sensorial ou efeitos incapacitantes físicos, desaparecendo em curto período, após finalizada a exposição do indivíduo ao agente. Aula 2 – Aspectos Básicos dos Agentes Químicos Lacrimogêneos OC e CS Espargidores de Solução Lacrimogênea38 • Módulo 2 Para entendermos melhor o conceito desses dois agentes, elaboramos uma descrição detalhada de cada um deles, veja! Oleoresin Capsicum: agente lacrimogêneo de pimenta De acordo com o Caderno de Instrução de Tecnologias Menos Letais (EB70-CI-11.415) do Exército Brasileiro (2017, p. 2-3), o OC é o componente ativo extraído das plantas do gênero Capsicum, popularmente conhecidas como pimentas. Sua forma sólida pode incapacitar um ser humano pelo período de até 40 minutos, produzindo a sensação de ardência nas áreas expostas, bem como dificuldade de respiração. É eficaz contra animais e pessoas alteradas por substâncias psicoativas e não demanda providências peculiares para a descontaminação de ambientes, roupas e acessórios. Ortoclorobenzalmalononitrila: agente lacrimogêneo CS O agente lacrimogêneo CS é um produto químico sintético apresentado na forma de micropartículas sólidas, a solução lacrimomogênea. É classificado como um agente irritante, lacrimejante e esternutatório (que causa espirros). O efeito inicia-se de 3 a 10 segundos após o contato inicial, e causa lacrimejamento intenso, espirros, irritação da pele, das mucosas e do sistema respiratório. Não surte efeito contra animais e pode não ser eficaz contra pessoas alcoolizadas ou drogadas. Causa contaminação em roupas e materiais absorventes. Normalmente após 10 minutos os efeitos da atuação do CS desaparecem. EFEITOS E DESCONTAMINAÇÃO DOS AGENTES LACRIMOGÊNEOS É importante ressaltarmos que os IMPOs não substituem as armas convencionais, apenas conferem a capacidade de uso de maneira seletiva, podendo apoiar estrategicamente o emprego de armas letais, quando necessário. O objetivo principal é debilitar fisicamente, intimidando o(s) agressor(es) e imobilizando-o(s). Espargidores de Solução Lacrimogênea39 • Módulo 2 Cabe enfatizar, ainda, que os agentes químicos lacrimogêneos,quando utilizados pelo profissional de segurança pública, causarão sensações de desorientação, ansiedade, medo e pânico no agressor. Nesse contexto, faz-se necessário conhecer os impactos fisiológicos que o agressor sofrerá ao ter sido atingido pela substância, bem como as formas de descontaminação, logo após sua contenção, que diminuirá os efeitos ocasionados. Efeitos fisiológicos Quanto aos efeitos fisiológicos ocasionados pelos agentes quimícos, também conhecidos como efeitos lacrimogêneos, podemos destacar os seguintes impactos: forte sensação de queimadura nos olhos, acompanhada de lacrimejamento intenso, sufocação, dificuldade de respiração e constrição do peito, fechamento involuntário dos olhos, sensação de ardência na pele, corrimento nasal e vertigens ou atordoamentos. Concentrações pesadas podem causar náuseas, vômitos e, dependendo de certos fatores, podem até levar à morte. Seus efeitos fisiológicos são bastante peculiares, e podemos conhecer alguns deles na figura a seguir. Olhos lacrimejamento, ardor e fechamento involuntário; ficarão vermelhos por até uma hora. Peito sistema respiratório superior e apertado, tosse irreprimível. Nariz coriza, ardor, irritação. Boca secreção de saliva acelerada. Pele ardor, eritemas, queimaduras de 1º e 2º grau. Garganta inchaço da mucosa da garganta; restringe vias respiratórias, causando sensação ofegante e engasgos incontroláveis. Figura 4: Efeitos fisiológicos causados pelos agentes químicos. Fonte: labSEAD- UFSC (2019). Espargidores de Solução Lacrimogênea40 • Módulo 2 Como identificado na figura anterior, existem diversas reações causadas pela ação do contato corporal do indivíduo com a substância. Para melhor compreendê-las, destacamos alguns pontos específicos: • Ardor: são dores intensas na região afetada pela substância. Geralmente assemelham-se a uma sensação de queimadura e afetam áreas como pele, mucosas e olhos. • Lacrimejamento e contração involuntária das pálpebras: quando o agente químico lacrimogêneo entra em contato com os olhos, as glândulas lacrimais produzem fluidos em excesso, na tentativa de lubrificação e limpeza do globo ocular, bem como uma intensa sensação de dor, conjuntivite (inflamação da membrana que reveste as pálpebras) e blefaroespasmo (contrações involuntárias das pálpebras). • Tosses, espirros e rinorreia: trata-se de uma resposta natural do corpo a qualquer tipo de irritação das vias respiratórias. Em contato com o agente, o corpo entende a possível presença corpos estranhos e age na tentativa de remover o efeito irritante e evitar danos. • Efeitos dermatológicos: em contato com a pele, a substância poderá ocasionar eritemas, ou seja, coloração avermelhada da pele ocasionada por vasodilatação capilar, sendo um sinal típico da inflamação. Em alguns casos, poderá evoluir para queimaduras de 1º e 2º grau. Assim sendo, a condução do agressor aos órgãos de assistência médica será imediata. PROCESSO DE DESCONTAMINAÇÃO Nos casos em que o agente de segurança pública opta pela utilização do espargidor lacrimogêneo como o IMPO mais adequado à situação, ele precisa estar ciente de que, caso venha a ocorrer graves efeitos da subtância no(s) agressor(es), eles deverão ser conduzidos obrigatoriamente aos órgãos de assistência médica. Além desse procedimento, o agente de segurança terá de tomar atitudes que visem minimizar os efeitos sobre o organismo do agressor, conforme exemplificado a seguir. Espargidores de Solução Lacrimogênea41 • Módulo 2 1 2 Remover o indivíduo contaminado da área da aplicação o mantendo sentado e calmo. Evitar esfregar a região contaminada, pois o ato de esfregar não auxiliará na retirada do excesso do agente, apenas o incidirá. COMO AGIR NO CASO DE CONTAMINAÇÃO POR AGENTE LACRIMOGÊNEO Espargidores de Solução Lacrimogênea42 • Módulo 2 3 4 5 Voltar o contaminado contra o vento. Manter o rosto do indivíduo contaminado para cima, orientando-o a inspirar normalmente pela boca e expirar pelo nariz. Orientar o indivíduo contaminado a não esfregar os olhos, mantendo-os abertos para arejar e eliminar o excesso do agente. Espargidores de Solução Lacrimogênea43 • Módulo 2 Até aqui, conhecemos as propriedades dos dois agentes químicos utilizados por profissionais de segurança pública em território nacional: o lacrimogêneo de pimenta OC e o CS. A composição desses agentes químicos pode causar fortes reações ao entrar em contato com a pele do(s) agressor(es). Assim, faz-se necessário seguir um processo de descontaminação após suas aplicações. Figura 5: Processo de descontaminação do agente químico. Fonte: labSEAD-UFSC (2019). 6 7 Orientar que seja lavado com água fria, limpa, corrente e em abundância. Na hipótese de contaminação aguda na pele, lavar a região com solução de bicarbonato de sódio a 10%. SOLUÇÃO DE BICARBONATO DE SÓDIO A 10% Espargidores de Solução Lacrimogênea44 • Módulo 2 Aula 3 – Emprego Técnico e Tático dos Espargidores Lacrimogêneos CONTEXTUALIZANDO... Os espargidores lacrimogêneos devem ser utilizados como uma das alternativas de menor potencial ofensivo, para cessar a ação antissocial do(s) agressor(es). Para sua utilização, o profissional de segurança pública deve se orientar, periodicamente, sobre as instruções técnicas do produto a ser empregado, bem como conhecer os efeitos e reações fisiológicas causadas pelo agente lacrimogêneo, os processos de descontaminação, técnicas de uso e de contenção e imobilização de um agressor, conhecendo as consequências legais quanto ao uso abusivo ou equivocado. Desse modo, nesta aula abordaremos as formas corretas de emprego dos espargidores de solução lacrimogênea sob os princípios do uso diferenciado da força e suas consequências. OS PRINCÍPIOS DO USO DIFERENCIADO DA FORÇA Conforme a Portaria Interministerial n.º 4.226/10, os profissionais de segurança pública deverão utilizar o espargidor de acordo com os princípios do uso diferenciado da força, selecionando, de forma adequada, o instrumento que causará menor lesão possível ao agressor. Assim sendo, podemos destacar esses princípios como: Espargidores de Solução Lacrimogênea45 • Módulo 2 Príncipios ao Uso Diferenciado da Força Legalidade Os agentes de segurança pública só poderão utilizar a força para a consecução de um objetivo legal e nos estritos limites da lei. Conveniência A força não poderá ser empregada quando, em função do contexto, possa ocasionar danos de maior relevância do que os objetivos legais pretendidos. Moderação O emprego da força pelos agentes de segurança pública deve sempre que possível, além de proporcional, ser moderado, visando sempre reduzir o emprego da força. Necessidade Determinado nível de força só pode ser empregado quando níveis de menor intensidade não forem suficientes para atingir os objetivos legais pretendidos. Proporcionalidade O nível da força utilizado deve sempre ser compatível com a gravidade da ameaça representada pela ação do opositor e com os objetivos pretendidos pelo agente de segurança pública. Figura 6: Princípios ao uso diferenciado da força. Fonte: labSEAD- UFSC (2019). Conforme observado na imagem acima, existem fundamentos que direcionam o uso da força nas ações do agente de segurança pública. Assim, se o agressor oferecer resistência física ativa (sem agressão letal), poderá ser alvo do emprego do espargidor lacrimogêneo. Porém, dependendo dos objetivos a serem alcançados na ocorrência, o instrumento poderá ser utilizado em caso de resistência passiva por parte do suspeito. Espargidores de Solução Lacrimogênea46 • Módulo 2 MAS, QUANDO DEVO UTILIZAR OS ESPARGIDORES? O uso dos IMPOs está autorizado após serem esgotados todos os meios de persuasão empregados pelo profissional de segurança pública. Dessa forma, sua aplicação deve ser bem avaliada pelo agente de segurançapara que não desvie a finalidade do instrumento. Sempre que possível, deve ser usada a verbalização com o agressor antes de se fazer uso do espargidor lacrimogêneo, respeitando os critérios técnicos e táticos da utilização. O instrumento é destinado às pessoas que, inevitavelmente, se enquadrem na conduta de resistência física ativa; ou seja, indivíduos que, além de não atender aos comandos verbais do profissional de segurança pública, portam-se de forma agressiva, colocando em risco a integridade física de outras pessoas ou do próprio servidor. Figura 7: Verbalização e avaliação do profissional de segurança pública. Fonte: labSEAD- UFSC (2019). Espargidores de Solução Lacrimogênea47 • Módulo 2 Via de regra, em uma primeira abordagem, não se aplica os espargidores em usuários de drogas, caso ele simplesmente demonstre uma resistência física passiva e não ativa às determinações do profissional de segurança pública. Porém, cabe ressaltar que, após abordagem verbal e avaliando cada tipo de ocorrência, pode-se evoluir para o uso do espargidor, inclusive contra usuários de substâncias psicoativas. Após análise do uso do instrumento, o profissional operador deverá conhecer os procedimentos para aplicação do instrumento no(s) agressor(es). Adiante, conheceremos os procedimentos para cada especificação de espargidor. ESPARGIDORES DE EMPREGO INDIVIDUAL No caso dos espargidores de emprego individual, o operador deve manter uma distância do espargidor para o agressor de aproximadamente 1,5 metros. Se o profissional de segurança pública posicionar o instrumento a uma distância inferior à indicada pelo fabricante, poderá causar danos à integridade física do agressor, pois, quanto mais próximo da fonte de emissão do agente lacrimogêneo, mais alta será a sua concentração e mais forte será a pressão do espargimento sobre os olhos, potencializando, assim, os seus efeitos. Destacamos, a seguir, um passo a passo para a aplicação do espargidor. PASSO 1 • Direcione o espargidor para o rosto do agressor e pressione o atuador com o dedo indicador, por um período de 0,5 segundos a 1 segundo. Dessa forma, você terá melhor direcionamento do espargimento e a sua empunhadura ficará totalmente fechada no corpo do espargidor. O dedo polegar poderá ser utilizado no pressionamento do atuador. Espargidores de Solução Lacrimogênea48 • Módulo 2 PASSO 2: • Você deve lembrar que a distância de utilização de 1,5 metros é entre o espargidor e o agressor, e não do corpo do operador para o agressor. Respeite fielmente a distância de aplicação. Caso o operador posicione o espargidor a uma distância menor que a recomendada, poderá perdê-lo para o agressor ou até mesmo ser agarrado por ele. Se o instrumento for posicionado a uma distância maior que a indicada, provavelmente não surtirá efeito. • Utilize sempre o instrumento a favor do vento, em relação ao agressor. Se ele não estiver na posição adequada, verbalize com o agressor e tente ajustá-lo à posição ideal, para que ele fique em condições de receber o espargimento. Se você não identificar corretamente a direção do vento, poderá ser alvo do próprio espargimento. Figura 9: Posição entre o espargidor e o agressor. Fonte: Rocha (2019), adaptado por labSEAD-UFSC (2019). Figura 8: Direcionamento do espargidor. Fonte: ROCHA (2019), adaptado por labSEAD- UFSC (2019). Espargidores de Solução Lacrimogênea49 • Módulo 2 Outro ponto importante é evitar a aplicação de espargidores com dispersão cônica em ambientes confinados (fechados). Lembre-se de procurar auxílio médico imediato quando constatar reação fisiológica adversa ou estranha decorrente do uso do espargidor. Enquanto o auxílio médico não acontecer, lave com água corrente a área afetada no(s) agressor(es) e o(s) mantenha(m) em local ventilado e arejado. Como apresentamos anteriormente, o espargidor deve ser pressionado com o dedo indicador, pois desta maneira a empunhadura ficará fechada no corpo do material, garantindo maior precisão e contato com o instrumento. Diante disto, imagine uma situação onde um agressor abaixa a cabeça para se proteger da ação e você precisa contê-lo. Como você manusearia o espargidor? Quando o instrumento precisar ser girado para uma aplicação por baixo, ou seja, numa situação em que o agressor abaixe a cabeça para se proteger, você poderá realizar um giro no espargidor de até 180º, tendo uma maior amplitude de movimento. Nesse momento, o pressionamento do espargidor de emprego individual com o dedo polegar não está errado, mas observe que, ao girá-lo para uma aplicação por baixo, você não terá a mesma amplitude de movimento como na empunhadura para pressionamento com o dedo indicador, limitando-se a 90º. Aqui você pode perceber que sua empunhadura não ficará totalmente fechada, sendo um ponto de vulnerabilidade, caso o agressor tente retirá-lo da sua mão, por isso é muito importante que você entenda a dinâmica do uso do material em diferentes situações. Para melhor compreensão, separamos dois vídeos sobre o uso dos giros dos espargidores em duas funcionalidades, veja o primeiro deles no link: https://www.youtube.com/watch?v=M8EFdY5QAF8 Na Prática https://www.youtube.com/watch?v=M8EFdY5QAF8 Espargidores de Solução Lacrimogênea50 • Módulo 2 Identificamos o giro de um espargidor no ângulo de 90 graus e como ocorre sua aplicação. Vamos conhecer, então, o giro de 180 graus do instrumento no vídeo disponível no link a seguir. https://www.youtube.com/watch?v=Xr75XQmZouM Agora que analisamos duas diferentes funcionalidades do espargidor, vamos explorar uma sequência de ações que devem ser seguidas no momento de utilização do instrumento, bem como as medidas adotadas em decorrência de seu uso. https://www.youtube.com/watch?v=Xr75XQmZouM https://www.youtube.com/watch?v=M8EFdY5QAF8 https://www.youtube.com/watch?v=Xr75XQmZouM https://www.youtube.com/watch?v=M8EFdY5QAF8 https://www.youtube.com/watch?v=Xr75XQmZouM Espargidores de Solução Lacrimogênea51 • Módulo 2 Após a realização dos procedimentos demonstrados anteriormente, observe o comportamento do agressor e, se ele cessar a ação antissocial, você deverá imobilizá-lo fisicamente por meio de bastão policial ou uso de algemas. Por fim, descontamine o infrator e registre o fato em documento específico para a ocorrência (boletim de ocorrência ou termo circunstanciado, por exemplo), mencionando a utilização do espargidor e as medidas adotadas em decorrência de seu uso. O método de aplicação correto do espargidor resulta em fatores de contenção que auxiliam em cessar a agressão contra o profissional de segurança pública, a terceiros ou, ainda, contra o patrimônio público ou privado, bem como diminui ao máximo a possibilidade de lesões aos envolvidos. Durante a utilização do espargidor lacrimogêneo, alguns erros podem vir a acontecer, como por exemplo: a não tentativa de uso da verbalização para acalmar o(s) agressor(es) antes Lembre-se de que as negociações verbais devem sempre anteceder as situações em que se faz necessário o uso do material. Figura 10: Sequência de ações para utilização do espargidor. Fonte: labSEAD- UFSC (2019). Identifique o local no cinto onde está o material, saque-o e o direcione para o alvo. Posicione-o à 1,0 metro do(s) agressor(es). Aponte-o na direção do rosto do(s) infrator(es). Acione-o durante 0,5 segundos à 1 segundo, aproximadamente, repetindo o acionamento, se necessário. 1 2 3 4 Espargidores de Solução Lacrimogênea52 • Módulo 2 da utilização do instrumento; analisar de forma errônea o momento de sua aplicação; ser dominado pelo agressor antes de sacar o material; ou ainda acioná-lo a uma distância muito longa e não atingir o(s) infrator(es); bem como ser contaminado pela solução lacrimogênea. Além desses erros com relação às ações de descontaminação podem acontecer outros, como destacamos na figura a seguir. Principais erros em relação à
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