Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Era Vargas IV A crise do estado novo e a redemocratização A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos aliados criou uma situação insólita: com- batia-se a ditadura fascista na Europa, enquanto no Brasil se mantinha um regime ditatorial, embora des- gastado, inspirado nesse mesmo fascismo. Em 1943, circulou clandestinamente o Manifesto dos Mineiros, documento redigido por intelectuais que pedia o fim da ditadura e a redemocratização do país, apelos repeti- dos no Primeiro Congresso Nacional de Escritores, em janeiro de 1945. Ambas as declarações foram censur- adas pelo DIP, até que, em fevereiro, o jornal Folha Carioca publicou uma entrevista com o todo-poderoso general Góis Monteiro, que defendia a realização de eleições. A entrevista surpreendeu o país, sobretudo por não ter sido censurada pelo DIP. Vargas começava a dar sinais de abrandamento da ditadura: em 28 de fevereiro, decretou uma emenda constitucional regulamentando a criação de partidos políticos e marcando eleições gerais para o final de 1945. Na verdade, Getúlio percebeu que a redemocratização era inevitável, e o iminente final da guerra, com o retorno dos “pracinhas” da FEB, só iria acelerar o processo. Muitos acreditavam que essa volta facilitaria um golpe para de- por o presidente: após derrotar a ditadura na Europa, a FEB completaria seu trabalho fazendo o mesmo no Brasil. Vargas antecipou-se, desencadeando ele mesmo o processo de redemocratização. Suas pretensões continuís- tas eram evidentes: ao democratizar o Brasil, ele surgiria como grande defensor do sistema democrático, apresentando como referência sua luta contra os regimes ditatoriais na Europa. O prazo até as eleições era curto, impossibilitando que uma eventual oposição se organizasse seriamente ou que representasse um ob- stáculo a seus objetivos de voltar ao poder. O presidente iniciou a organização de dois partidos políticos para o apoiarem: o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), criado dos sindicatos controlados por Vargas, e o Partido Social Democrata (PSD), formado com o apoio dos interventores nos estados e da burocracia estatal favore- cida ao longo do Estado Novo. Enquanto isso, a oposição recém-nascida organizava a União Democrática Nacional (UDN), de cunho liberal. Ao mesmo tempo, voltava à legalidade o Partido Comunista Brasileiro (PCB), reforçado com a libertação de Luís Carlos Prestes. Enquanto redemocratizavam o Brasil, os aliados do presiden- te cuidavam também de organizar o movimento queremista, em cujos comícios repetia-se o lema “Queremos Getúlio!”, provando seu interesse no continuísmo. A adesão ao queremismo foi bastante grande, envolvendo até mesmo o Partido Comunista, que ainda contava com muitos simpatizantes. Apesar da violência com que a ditadura tratou o partido e seus membros desde 1935, foi surpreendente o apoio de Prestes e do PCB a Vargas. Na verdade, o partido seguia orien- tações de Moscou: a União Soviética ainda estava ao lado das democracias liberais capitalis- tas na luta contra o fascismo e, portanto, recomendava aos partidos comunistas do mundo intei- ro que apoiassem os líderes comprometidos com o combate ao fascismo, como era o caso de Getúlio. Este, por sua vez, interessava-se por qualquer tipo de apoio a seu continuísmo. Temendo uma guinada à esquerda por parte do presidente, o exército, em outubro de 1945, por inter- médio de seus comandantes Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, acabou por desencadear um golpe, derrubando-o e garantindo a realização de eleições sem sua participação. Encerrava-se o Estado Novo.
Compartilhar