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GUIA PRÁTICO DA ADVOCACIA ELEITORAL POR CAIO VITOR BARBOSA Tudo para advogar nas eleições municipais de 2020 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 3 AINDA PRELIMINARMENTE: COMO COMEÇAR NA ADVOCACIA ELEITORAL 6 PRINCIPAIS LEIS DA PRÁTICA DA ADVOCACIA ELEITORAL 10 CONSTITUIÇÃO FEDERAL 10 LEI DA INELEGIBILIDADE 12 LEI DOS PARTIDOS POLÍTICOS 14 LEI DAS ELEIÇÕES 15 INTRODUÇÃO AO PROCESSO JUDICIAL ELEITORAL 22 ILÍCITOS POLÍTICO-ELEITORAIS E MEDIDAS JUDICIAIS CABÍVEIS 26 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE REGISTRO DE CANDIDATURA 27 REPRESENTAÇÕES DE PROPAGANDA 31 PROPAGANDA IRREGULAR 35 DIREITO DE RESPOSTA 41 REPRESENTAÇÃO POR CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO (COMPRA DE VOTO) 44 REPRESENTAÇÃO POR CONDUTA VEDADA AO AGENTE PÚBLICO 49 REPRESENTAÇÃO POR CAPTAÇÃO E GASTO ILÍCITO DE CAMPANHA (CAIXA 2) 72 AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL 83 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO 91 RECURSO CONTRA A EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA 98 AÇÃO CAUTELAR 104 DEFESAS 108 RECURSOS 109 AGRADECIMENTOS 111 3 Este é um guia para quem pretende iniciar ou aperfeiçoar sua atuação como advogado na área eleitoral e aproveitar as oportunidades que surgirão com as eleições municipais de 2020. Seu enfoque é a prática da advocacia eleitoral, portanto, se você é agente político, (pré)candidato ou profissional de outra área (contador, publicitário, etc.), possivelmente esse material não estará alinhado com o que busca. Se deseja um conteúdo voltado para atuação dos (pré)candidatos e dos agentes políticos, recomendo outras fontes de pesquisa, dentre os quais, humildemente, os materiais que produzimos em nosso escritório, Queiroz, Barbosa e Bezerra Advocacia (www.qbb.adv.br). Iremos abordar neste e-book muitas questões técnicas, próprias da atuação advocatícia. Por isso, se você é advogado, provavelmente esse e-book será útil para sua capacitação. Nossa intenção é centrar no essencial para os causídicos tornarem- se eleitoralistas, principalmente em matéria de contencioso político, não penal. Falaremos sobre as principais medidas judiciais da área eleitoral, inclusive com a disponibilização de 11 modelos de petições iniciais, e trataremos, de forma transversal, das questões mais relevantes do direito material eleitoral (direitos políticos, registro de candidatura, propaganda, financiamento de campanha, condutas vedadas, abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação social, compra de votos, etc.). E por que resolvemos produzir esse e-book? O direito eleitoral é um ramo pouco estudado nas faculdades brasileiras. Em regra, não figura entre as cadeiras obrigatórias dos cursos de direito do país e nem todas as graduações a oferecem sequer como uma matéria optativa, de modo que os estudantes de direito costumam se formar com pouco ou quase INTRODUÇÃO 4 nenhum estudo no ramo eleitoralista. Se o direito material é pouco estudado durante a graduação, menos ainda o é a prática jurisdicional eleitoral. E essa dificuldade para quem sai da faculdade para o mercado de trabalho tem ainda alguns outros agravantes. Primeiro, o sistema processual eleitoral tem muitas peculiaridades em comparação com o processo civil. Os prazos, as medidas cabíveis, os legitimados, as decadências e preclusões dos processos eleitorais são bem diferentes do que se verifica na área cível. Outro problema: ainda se tem no Brasil poucos livros de direito eleitoral. Há obras de relevo – e aqui eu deixo a indicação do livro Direito Eleitoral de José Jairo Gomes1 – mas penso que há uma lacuna, principalmente em relação à prática da advocacia eleitoral, que este e-book visa colaborar a preencher. Por fim, como a Justiça Eleitoral é composta por juízes nomeados para o exercício de mandatos, a jurisprudência das cortes eleitorais costuma sofrer bastante alterações, ao passo de ser um 1 Sem embargo das demais, obviamente, mas é, sem dúvidas, o livro de maior relevância e mais citado por quem atua na área. ramo que as decisões judiciais têm uma importância destacada enquanto fonte do direito. Todo esse cenário nos motivou a escrever este e-book e a desenvolver o Advogue nas Eleições: uma metodologia que visa possibilitar aos advogados atuarem na área eleitoral, aproveitando as oportunidades que esse nicho pode trazer para alavancar a carreira profissional dos causídicos. Na eleição de 2016, cerca de meio milhão de candidatos registraram candidatura; em 2020, esse número deve ser igual ou superior. O Brasil tem 32 partidos políticos, 5570 municípios. Números grandiosos. Já imaginou a quantidade de processos de registros de candidaturas, prestações de contas e de representações que existirão na próxima eleição municipal? Sem dúvida, serão milhares, tornando essa uma das maiores oportunidades de captação de clientes para a advocacia dos últimos anos! 5 Eu sou Caio Vitor Barbosa, advogado eleitoralista, presto, há mais de dez anos, assessoria jurídica a partidos e agentes políticos em eleições para prefeito, vereador, deputado, senador e governador, sou sócio fundador do Queiroz, Barbosa e Bezerra Advocacia, ex-presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-RN, e queria compartilhar da experiência acumulada ao longo de todo esse tempo, te convidando a ficar comigo até o final deste e-book. Pode ser? Desde já, obrigado, espero que goste, um abraço. QUEM É CAIO VITOR BARBOSA? 6 em cima dessa base, o advogado deverá conquistar, diuturnamente, novos conhecimentos, realizar pesquisas, atualizar-se com as notícias, participar de discussões, e assim por diante. O direito eleitoral é muito dinâmico. Além das mudanças legislativas que vem acontecendo regularmente, a cada dois anos, como disse acima, a jurisprudência dos tribunais em matéria eleitoral é bastante mutável e o cenário político, atualmente, muito instável. No entanto, não tenho dúvidas, com esse tripé (legislação, processos e jurisprudência) bem estabelecido já é possível prospectar clientes e se colocar em atuação com segurança no nicho da classe política. E, falando sobre esse nicho, permitam-me um breve parêntese. Há no país, hoje, um sentimento muito forte de negação à política. As pessoas estão desiludidas, cansadas, e magoadas com os políticos em geral. Não é um fenômeno só brasileiro. Mas, no Brasil, O exercício, de forma qualificada, da advocacia eleitoral é baseado no tripé de conhecimento: (i) da legislação especial, (ii) das medidas judiciais próprias e (iii) da jurisprudência da justiça eleitoral. Neste e-book vamos tratar dos três aspectos. No canal do YouTube do Advogue nas Eleições há vídeos tratando sobre esse tripé, principalmente sobre a legislação e como pesquisar a jurisprudência das cortes do país2. Vamos aprofundar os dois temas neste e-book e apresentar as principais medidas judiciais do ramo eleitoral, trazendo modelos das respectivas petições iniciais. Essa base já permitirá que o advogado se situe adequadamente na área e, a partir daí, já possa se colocar no mercado eleitoralista. Obviamente, como em qualquer outro ramo, 2 Vídeo Principais Leis da Prática da Advocacia Eleitoral (clique aqui) e Como Conhecer a Jurisprudência da Justiça Eleitoral (clique aqui). AINDA PRELIMINARMENTE: COMO COMEÇAR NA ADVOCACIA ELEITORAL 7 é possível identificá-lo com bastante ênfase. E as pessoas, convenhamos, têm toda razão de se sentirem dessa forma. Diante de tantos casos de corrupção que tomam conta há anos do noticiário no país, é mais do que legítimo que surja essa tendência à antipolítica. Mas, penso, que a rejeição da política não é o melhor caminho. Não há como fugir da política, ela está presente em todos os espaços e relações humanas. Mais benéfico que negá-la é buscar melhorá-la e você que resolveu atuar no ramo eleitoral tem um papel muito importante nisso. A você, depois da leitura deste e-book e de acompanhar o Advogue nas Eleições, caberá a defesa da democracia, das boas práticas na política, o combate aos abusos políticoe econômico, aos maus políticos, aos compradores da liberdade e da consciência dos eleitores, a luta contra o uso do Estado com fins eleitoreiros, a favor da preservação da igualdade, da lisura das eleições e da soberania popular. Fechando o parêntese, depois de o advogado constituir sua base nesse tripé (legislação, processos e jurisprudência), é hora de partir para a prospecção. Nesse ponto, preciso ser franco com vocês, essa não é minha área de conhecimento específico. Há especialistas mais bem capacitados para auxiliá-lo na estruturação de sua estratégia de marketing. Deixo aqui a recomendação de dois: Juliano Torriani (@julianotorriani), que fala de modo mais abrangente, sobre estratégias aplicáveis a todos os tipos de negócios, e Lindson Rafael (@lindsonrafael), do Advogado que Vende, mais específico para o marketing jurídico. Vale a pena conhecer o trabalho dos dois. São faixas pretas. No entanto, da minha experiência, creio que posso deixar três contribuições. 8 Primeiro, é preciso desmistificar um pouco a questão do marketing para a advocacia. Ao contrário do que alguns pensam, o advogado pode sim ter estratégias de prospecção de clientes. O que o Código de Ética da Advocacia impede é a mercantilização da profissão, algo diverso de não se ter uma estratégia de vendas dos serviços do advogado. Veja o Código de Ética e confirme o que estou falando. Segundo, pense bem no valor e na oferta que oferecerá aos seus clientes. Lembrando sempre que valor é diferente de preço. Na advocacia, ao contrário de outros empreendimentos, pensamos pouco em qual produto/serviço o advogado vai ofertar ao mercado. Somos levados a pensar que ter a carteira da OAB e ser advogado é o suficiente para que os clientes batam em nossas bancas atrás de nos contratar. Porém, sabemos que não é bem assim há muito tempo. Não basta só pensar o ramo de atuação, a área do Direito que pretende se especializar, mas também quais problemas do meu público eu vou resolver. É necessário refletir sobre quais diferenciais do produto/serviço que ofertamos, porque ele é melhor que o da concorrência, como ele resolve de modo mais eficaz as dores dos prospectos. Enfim, pense bem nesse aspecto e não esqueça que, em regra, é mais fácil manter um cliente que conquistar um novo e a reputação é a base de qualquer empreendimento. Terceiro, analise a estratégia que utilizará para prospectar seus clientes. Neste vídeo (clique aqui), falei um pouco das ferramentas que utilizei para construir minha carreira na área eleitoral. Porém, no geral, as estratégias de marketing atualmente estão divididas basicamente em dois grandes ramos: o digital e o offline. Em resumo, o primeiro usa as novas ferramentas tecnológicas (principalmente das redes sociais) para posicionar bem o advogado (e sua marca) no mercado, notadamente por meio da produção de conteúdo, para que esse possa se tornar uma autoridade e utilizar de processos como o funil de vendas para converter visitantes em leads e leads em clientes. O segundo usa ferramentas mais tradicionais, MARKETING JURÍDICO 9 como portifólios, cartas de apresentação, cartões de visita e o uso do networking, o contato corpo a corpo para o convencimento e fechamento de contratos com clientes em potencial (venda direta). Porém, um não é empecilho ao outro, na verdade, ambos se complementam. Podem ser usados pelo advogado concomitantemente, basta pesquisar um pouco, traçar as metas, ações e executar. Como disse, sobre marketing, eram só algumas dicas. Há e-books e treinamentos específicos sobre o assunto. Nosso foco aqui é agregar ao seu portifólio a advocacia eleitoral, ou seja, tornar os advogados aptos a prestarem consultoria a agentes políticos para que esses possam ter mais segurança jurídica em suas tomadas de decisões; e a atuarem no contencioso na propositura ou na defesa em medidas judiciais eleitorais. Então vamos ao que interessa. 10 e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” (Grifos acrescidos). José Afonso da Silva define assim, cidadania e direitos políticos, respectivamente: “(...) atributo das pessoas integradas na sociedade estatal, atributo político decorrente do direito de participar no governo e direito de ser ouvido pela representação política. Cidadão, no direito PRINCIPAIS LEIS DA PRÁTICA DA ADVOCACIA ELEITORAL O primeiro passo para atuar na área eleitoral é conhecer a legislação específica do ramo. Em virtude do tamanho de um e-book e do propósito de ser esse um guia, é impossível adentrar-se em todos os detalhes envolvidos nesse assunto. A seguir apresentamos os principais pontos de legislação eleitoral para iniciar o advogado no ramo eleitoralista. CONSTITUIÇÃO FEDERAL A Constituição, enquanto Carta Política que estrutura um Estado, forma a base do Direito, em especial do direito eleitoral. No caso da brasileira, seu primeiro artigo já estabelece quatro parâmetros essenciais para embasamento da ordem jurídica-político-eleitoral: cidadania, pluralismo político, soberania popular e democracia representativa, nestes termos: “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios 11 brasileiro, é o indivíduo que seja titular dos direitos políticos de votar e de ser votado e suas consequências.”3 *** “(...) direito democrático de participação do povo no governo, por seus representantes.”4 Tais direitos e os partidos políticos estão posicionados no texto constitucional, respectivamente, nos capítulos IV e V do título II da Carta Magna, que trata “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”. Esse é um aspecto relevante, pois tanto formal quanto materialmente os direitos políticos são direitos fundamentais, e os partidos políticos constituem uma garantia fundamental dos indivíduos e da coletividade. O direito político ativo corresponde ao direito de votar (sufrágio). O art. 14, caput, da CF expressa a forma do exercício da soberania popular, que se dá pelo sufrágio, de forma direta (sem intermediário) e secreto, 3 Curso de Direito Constitucional Positivo, 23ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. Pág. 344-345. 4 Op. cit.. Pág. 343. com valor igual para todos, ao passo que o art. 60, §4º, II, coloca o “voto direto, secreto, universal e periódico” como cláusula pétrea. Já o direito político passivo é a prerrogativa de concorrer e ocupar os cargos (art. 37, I, da CF) eletivos, também chamado de elegibilidade ou ius honorum. No Recurso Extraordinário n.º 603.3703/MG, o Supremo expressou o caráter fundamental desse direito: “Toda limitação legal ao direito de sufrágio passivo, isto é, qualquer restrição legal à elegibilidade do cidadão constitui uma limitação da igualdade de oportunidades na competição eleitoral. Não há como conceber causa de inelegibilidade que não restrinja a liberdade de acesso aos cargos públicos, por parte dos candidatos, assim como a liberdade para escolher e apresentar candidaturas por parte dos partidos políticos.”5 Nos arts. 14 a 17, a CF disciplina tais direitos e os partidos na ordem jurídico-político brasileira. 5 RE n.º 603.3703/MG, Relator: Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, Publicação: DJe, em 17-11-11. 12 A Lei de Inelegibilidades (LCF n.º 64/90) é uma positivação do preceito constitucional do art. 14, §9º, da CF. A Lei da Ficha Limpa (LCF n.º 135/10) foi uma alteração desse diploma legal e implicou regulamentação da EC n.º 04/946, a qual incluiu na Constituição a necessidade de vedação à candidaturas de quem violou a “probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato” e “a normalidadee legitimidade das eleições”, levando em consideração “vida pregressa do candidato”. O art. 15 da CF proíbe a cassação (definitiva) dos direitos políticos, e limita a perda e suspensão (temporárias) às hipóteses de seus incisos. Perda e suspensão são de ambos direitos políticos (ativo e passivo, de votar e ser votado), já a inelegibilidade corresponde a uma restrição apenas do direito 6 Em 2006, a Justiça Eleitoral discutiu se essa regra constitucional seria autoaplicável ou demandaria uma norma infraconstitucional, no registro de candidatura do ex-presidente do Vasco, Eurico Miranda, RO n.º1069. O mi- nistro Ayres Britto defendeu a autoaplicação, mas foi voto vencido. O registro foi deferido por 4x3, e daí surgiu o movimento que resultou na aprovação da Lei da Ficha Limpa em 2010. político passivo. Por isso, o cidadão que se encontra inelegível pode e deve votar. Para poder se eleger, o cidadão precisa preencher as causas de elegibilidade constitucionais – nacionalidade brasileira, pleno exercício dos direitos políticos, alistamento eleitoral, domicílio eleitoral na circunscrição, filiação partidária, idade mínima para disputar o cargo, alfabetização (art. 14 da CF) – e infraconstitucional: quitação eleitoral (art. 11, V, §7º, da Lei das Eleições) e não incorrer em uma das causas de inelegibilidade: “(...) a elegibilidade é a adequação do indivíduo ao regime jurídico – constitucional e legal complementar – do processo eleitoral, consubstanciada no não preenchimento de requisitos ‘negativos’ (as inelegibilidades).”7 As situações de inelegibilidade são previstas pela CF (art. 14, §§5º-8º) e pela LCF n.º 64/90 (art. 1º). 7 STF, ADC n. 29 e 30, Relator: Ministro Luiz Fux, Pleno, Publicação: DJE 29-06-2012. LEI DE INELEGIBILIDADES 13 O art. 1º, II, da LCF n.º 64/90 trata dos casos que exigem desincompatibilização (afastamento de determinado cargo ou função para poder disputar a eleição, em certo prazo, e para os cargos especificados) dos agentes políticos, servidores públicos, dirigentes empresariais e de entidades em situações especiais, bem como sindicais. São as inelegibilidades relativas (se o cidadão não observar esses prazos de afastamento, estará impedido de disputar a eleição). Para saber mais sobre os prazos e hipóteses, veja o serviço do TSE sobre o assunto (aqui). Já o art. 1º, I, da LCF n.º 64/90 prescreve as situações de inelegibilidade absolutas, que podem ter suas alíneas classificadas desta forma: 14 A LF n.º 9.096/95 dispõe sobre os partidos políticos, regulamentando os arts. 17 e 14, § 3º, V, da Constituição Federal. Seu art. 1º conceitua os partidos como pessoa jurídica de direito privado e estabelece suas finalidades: “assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo” e “defender os direitos fundamentais”. A lei positiva e regulamenta os princípios da autonomia e do caráter nacional partidários, normatiza a relação entre os filiados e as agremiações, estabelece o dever de registro dos partidos perante o TSE, preceitua parâmetros para os estatutos e programas das legendas, fixa as regras para arrecadação (inclusive pelo Fundo Partidário) e gastos de recursos, assim como para prestações de contas anuais, e ainda os efeitos dos julgamentos pela aprovação, desaprovação e pela não apresentação dessas prestações. As regras de prestações de contas anuais são complementadas pela Resolução do TSE n.º 23.546/2017 (ver aqui). Essas são as contas do dia a dia das agremiações. Além dessas, a cada eleição, os partidos também devem prestar contas, independente de seu nível (nacional, regional ou municipal), de acordo com as regras da lei e resolução eleitorais. As regras para mudança de partido por parte dos filiados, inclusive a janela partidária, são fixadas pelos arts. 21 e 22 da LF n.º 9.096/95. A questão da fidelidade partidária, por seu turno, é regulada pela Resolução do TSE n.º 23.456/2007 (ver aqui). LEI DOS PARTIDOS POLÍTICOS 15 A LF n.º 9.504/97 é o principal diploma legal do processo eleitoral no país, mais até do que o Código Eleitoral. Tal lei foi responsável por conferir uma maior estabilidade ao direito eleitoral brasileiro, pois, antes de sua edição, a cada eleição uma nova legislação era editada para disciplinar especificamente o pleito futuro. Mesmo assim, o Congresso Nacional tem mantido o hábito de aprovar reformas legislativas nos anos ímpares (um ano antes do dia da eleição subsequente, em virtude do princípio da anualidade previsto pelo art. 16 da CF). Essa lei, portanto, será um dos principais instrumentos de trabalho do advogado eleitoralista, que recorre à sua consulta e utilização constantemente. Não obstante, em resumo, os principais pontos que a lei disciplina8 são: a) o prazo para os partidos se registrarem perante o TSE e participarem da eleição (art. 4º): seis meses 8 Nos comentários vamos falar considerando apenas as eleições munici- pais de 2020. antes do pleito, ou seja, novos partidos que obtiverem registro até 4 de abril de 2020 poderão lançar candidatos na eleição desse ano; b) a forma dos partidos constituírem coligações e os efeitos dessa decisão (art. 6º): na eleição de 2020, os partidos ainda poderão formar coligações para a eleição de prefeito, o que é importante para distribuição do tempo de propaganda no rádio e tv, por exemplo; c) as convenções para escolhas de candidatos (arts. 7º a 9º): devem ocorrer de 20 de julho a 5 de agosto do ano eleitoral; a lei delega aos estatutos a fixação das regras de escolha de candidatos; e os órgãos partidários podem estabelecer diretrizes nacionais, até cento e oitenta dias antes do pleito, quanto a parâmetros para formação das coligações pelos órgãos partidários inferiores, assim como anular as convenções de quem as descumprir; d) os registros de candidaturas (arts. 10 a 16-B): nas eleições de vereador de 2020, os partidos poderão LEI DAS ELEIÇÕES 16 formar lista de candidatos (nominata) com até 150% do número de cadeiras da respectiva Câmara de Vereadores; indicar no mínimo 30% e no máximo de 70% para candidaturas de cada sexo; os candidatos a vereador deverão ter 18 anos no momento do registro de candidatura, e a prefeito, 21, no momento da posse; a documentação para o registro de candidatura está prevista no art. 11, §1º; a forma de comprovar quitação eleitoral, no art. 11, §§7º-8º; o momento de aferição das condições de (in)elegibilidade, no art. 11, §10; o modo de escolher o nome do candidato, no art. 12; como e até quando substituir e cancelar registros de candidaturas, nos arts. 13-14; como decidir os números de urna dos candidatos, no art. 15; e o direito dos candidatos sub judice de realizarem propaganda enquanto recorrem das impugnações ou têm seus registros julgados, nos arts. 16-A e 16-B; e) o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (arts. 16-C-16-D): este fundo foi criado em 2017, é custeado com recursos do orçamento da União e visa financiar as campanhas eleitorais. Os recursos são divididos entre os partidos desta forma: igualitariamente (2%), igualitariamente entre os partidos com deputados federais eleitos (35%), proporcionalmente ao número de deputados federais (48%) e proporcionalmente ao número de senadores (15%). Os órgãos de direção nacional fixam as regras de distribuição intrapartidária e o TSE gerencia o repasses para esses; f) as regras de arrecadação e gastos de campanha (arts. 17-27): limites de gastos das campanhas (art. 16-C, levando-se em consideração os limites de 2016 (ver aqui); responsabilidade pela gestão financeira da campanha (arts. 17, 20-21 e 25); necessidade de abertura de contas bancárias e de pagamento das despesas por meio delas (art. 22); de inscrição no CNPJ (art. 22-A); formas permitidas (arts. 23 e 24-C) e vedadas (art. 24) de doações; os tipos e limites de gastos de campanha (art. 26); e a possibilidade do eleitor realizar gastos própriosem campanhas eleitorais (art. 27); g) as prestações de contas (arts. 28-32): a forma de prestar contas e comprovar despesas (art. 28); o 17 procedimento perante a Justiça Eleitoral (art. 29); os tipos de decisões sobre as prestações de contas e as modalidades de recursos (art. 30); a previsão da ação por arrecadação e gastos ilícitos de campanha (art. 30- A), que será melhor tratada adiante; e a destinação das sobras de campanha (art. 31); h) as pesquisas e testes pré-eleitorais (arts.33- 35): obrigação e procedimentos para as entidades de pesquisa de opinião pública registrarem pesquisas eleitorais perante a Justiça Eleitoral (art. 33); a sanção de multa no valor de cinquenta mil a cem mil UFIR por divulgação de pesquisa sem registro (art. 33, §3º) e de detenção de seis meses a um ano por divulgação de pesquisa fraudulenta (art. 33, §4º); o impedimento de se fazer enquete eleitoral no período de campanha (art. 33; §5º); e a forma de fiscalização das pesquisas (art. 34); i) a propaganda eleitoral em geral (arts. 36-41): as propagandas eleitorais iniciam em 15 de agosto do ano eleitoral (art. 36, caput), mas pode se fazer propaganda intrapartidária antes disso (art. 36, §1º); é vedada propaganda paga no rádio e na tv (art. 36, §2º); quem realiza propaganda eleitoral antecipada está sujeito a multa de 5 a 25 mil reais (art. 36, §3º); mas diversas condutas de comunicação do pré-candidato, desde que não envolvam pedido de voto, não são consideradas propaganda eleitoral antecipada (art. 36-A). Na propaganda dos candidatos a prefeito, deve aparecer o nome do vice em tamanho não menor que 30%; nos bens públicos e de uso comum (inclusive estabelecimentos que a população em geral tenham acesso), é vedada a veiculação de propaganda (art. 37), exceto de mesas de distribuição de material impresso e bandeiras ao longo das vias públicas, desde que móveis; nas residências, de forma espontânea e gratuita, é possível fixar adesivos, desde que não passem de 0,5m² (art. 37, §2º, II); é permitida a impressão e distribuição de adesivos, folhetos e outros impressos com dimensão máxima de 50cmx40cm (art. 38, §3º); nos veículos pode-se adesivar os vidros traseiros por completo com adesivos microperfurados e, nas demais áreas do automóvel, adesivos com dimensão máxima de 50cmx40cm (art. 38, §4º); todo material impresso deve ter CNPJ ou CPF de 18 quem confeccionou, de quem contratou, a tiragem (art. 38, §1º), a coligação e partidos integrantes na propaganda a prefeito e o partido na propaganda a vereador (art. 6º, §2º); para se garantir prioridade no uso de recinto aberto, deve-se fazer comunicação à autoridade policial com, no mínimo, 24h de antecedência (art. 39, §1º); alto-falantes podem funcionar das 8h às 22h, com uma distância mínima de 200m de escolas, órgãos públicos e hospitais (art. 39, §3º); os comícios podem ocorre das 8h às 22h, com exceção do comício de encerramento da campanha que pode ir até às 2h; é crime fazer propaganda eleitoral no dia da eleição (art. 39, §5º), permitida a manifestação individual e silenciosa (art. 39-A); é vedada a distribuição de camisetas, chaveiros, bonés, canetas, brindes, cestas básicas e outros (art. 39, §6º), assim como a realização de showmícios (art. 39, §7º), a veiculação de outdoors e painéis eletrônicos (art. 39, §8º), a circulação de carros de som, exceto para carretas, caminhadas, passeatas ou durante reuniões e comícios (art. 39, §11); e é crime o uso na propaganda de símbolos, frases ou imagens, associadas ou semelhantes às empregadas por órgão de governo, empresa pública ou sociedade de economia mista (art. 40, caput); j) a captação ilícita de sufrágio (art. 41-A): esse artigo define o conceito e as sanções da compra de voto, que serão mais bem detalhados a frente, quando falarmos sobre a representação por captação ilícita de sufrágio; k) a propaganda eleitoral na imprensa (art. 43): embora pouco usada atualmente, a lei ainda prevê a possibilidade de propaganda em jornal impresso com reprodução na internet do jornal impresso; l) a propaganda eleitoral no rádio e tv (arts. 44-57): somente é permitida propaganda gratuita no rádio e na tv (art. 44), na qual se deve utilizar a ¬Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS) ou o recurso de legenda; os meios de comunicação não podem dar tratamento privilegiado a partido, candidato ou coligação, e, a partir de 30 de junho do ano eleitoral, transmitir programa apresentado ou comentado por pré-candidato (art. 45); os debates são regulados pelo art. 46; a propaganda eleitoral gratuita ocorre durante 35 dias, em blocos 19 (para prefeito, de seg. a sáb.: das 7h00min às 7h10min e das 12:00 às 12:10min no rádio, e das 13h00min às 13h10min e das 20h00min às 20h10min na tv), ou por inserções de 30 e 60 segundos, totalizando 70min de inserções, todos os dias, ao longo da programação, sendo 60% para campanha de prefeito e 40%, para de vereador (art. 47, §1º); o art. 53-a trata da vedação à invasão da propaganda, com a finalidade de impedir que o espaço de uma propaganda para eleição proporcional, por exemplo, seja utilizado por pessoas que disputam a eleição majoritária; por meio da Emenda n.º 69 ao Projeto de Lei da Câmara dos Deputados n.º 5.735 de 2013, de autoria do Deputado Federal Arthur Oliveira Maia, houve uma mudança no art. 54 para “fortalecer o debate de ideias e diminuir o caráter pirotécnico das campanhas”, o que trouxe várias limitações para a propaganda no rádio e na televisão, principalmente nessa última. m) a propaganda eleitoral na internet (arts. 57-A-57-J): a propaganda eleitoral na internet em si (com pedido de votos9) pode começar a partir do dia 15 9 Ver comentários acima sobre o art. 36-A. de agosto do ano da eleição (art. 57-A); os candidatos, partidos e coligações que optem por fazer um site devem hospedá-lo em provedor estabelecido no país e comunicar o endereço à Justiça Eleitoral no momento do registro de candidatura (art. 57-B, I e II); não é permitida a compra de banco de contatos, as mensagens eletrônicas devem ser repassadas pera pessoas que se cadastraram gratuitamente, e essas devem ter a opção de se descadastrarem (art. 57-B, III, c/c art. 57-E, §1º, e art. 57-G); o art. 57-B, §2º proíbe a utilização de perfis fakes para divulgação de conteúdos eleitorais; é lícito o impulsionamento de conteúdo, desde que feito pelos próprios candidatos, partidos ou coligações, tenha o objetivo de promover ou beneficiar candidatos e suas agremiações, e sejam usados exclusivamente as ferramentas do próprio provedor de aplicação da internet (Facebook e Google, basicamente) (arts. 57-B, IV e §3º, c/c 57-C, §3º); o descumprimento das regras do art. 57-B podem resultar em multa de R$5.000,00 a R$30.000,00 ou o dobro da quantia despendida, se maior (art. 57-B, §5º); fora o impulsionamento, não é permitida a propaganda paga na internet, também é vedado em 20 páginas de pessoas jurídicas e do poder público (art. 57- C, §1º), sob pena da mesma multa do artigo anterior (art. 57-C, §2º); é proibido o anonimato (art. 57-D, caput) e fazer propaganda eleitoral atribuindo indevidamente a autoria a terceiro (art. 57-H, caput), penalizado pela mesma multa anteriormente citada (art. 57-D, §2º, e art. 57-H, caput), e a Justiça Eleitoral pode determinar a retirada de publicações que contenham agressões ou ataques a candidatos na internet, inclusive redes sociais (art. 57-D, §3º); é crime contratar pessoas para emitir mensagens ofensivas a candidatos, partidos ou coligações (art. 57-H); os provedores de conteúdo devem colabora com as determinações da Justiça Eleitoral, sob pena de sanções (arts. 57-F e 57-I); n) o direito de resposta (arts. 58-58-A): esse assunto será tratado na parte dedicada à medida judicial do direito de resposta, a frente; o) o direito à fiscalização das eleições (arts. 65-72): os partidos e coligações podem fiscalizar todo o processo de votação (art. 66):para isso o presidente do partido ou representante da coligação deverá registrar na Justiça Eleitoral as pessoas autorizadas a credenciar os fiscais (art. 65, §3º), as quais emitirão credenciais para esses fiscais (art. 65, §2º), os quais poderão fiscalizar mais de uma seção eleitoral (art. 65, §1º), vedada a indicação de menores (art. 65, caput), e somente é permitido nomear até 2 fiscais por seção eleitoral (art. 65, §4º); é obrigatória a entrega do boletim de urna por parte dos Presidentes da Junta Eleitoral para os fiscais (art. 68); e os fiscais podem apresentar protestos, impugnações e recursos a irregularidades nas votações e na apuração (arts. 70 e 71), constituindo crime do Presidente da Junta Eleitoral criar obstáculos a essa fiscalização (art. 70); p) as condutas vedadas aos agentes públicos (arts. 73-78): os agentes públicos, servidores ou não (art. 73, §1º), não podem praticar as condutas de: ceder ou usar bens e servidores públicos em favor de campanhas (art. 73, I-III); contratar, demitir e rever remuneração de servidores fora das exceções do art. 73, V e VIII, nos três meses que antecedem a votação até a posse dos 21 eleitos; nos três meses que antecedem o pleito, fazer transferência voluntárias de recursos entre os entes federativos e autorizar publicidade institucional fora das permissões do art. 73, VI; no primeiro semestre do ano eleitoral, realizar gastos com publicidade institucional que excedam a média de gasto do primeiro semestre dos últimos três anos (art. 73, VII); no ano eleitoral, realizar doações gratuitas de bens ou de benefícios fora das hipóteses do art. 73, §10; nos três meses que antecedem a votação, o (pré)candidato participar de inaugurações de obras públicas (art. 77) e os agentes públicos contratarem shows artísticos para essas inaugurações (art. 75); e, por fim, deturpar a publicidade institucional para além do autorizado pelo art. 37, §1º, da CF (art. 74); q) outras disposições: é vedada a inscrição e a transferências eleitorais nos cento e cinquenta dias que antecedem a eleição (art. 91); o art. 92 prevê as situações de correição de ofício nas Zonas Eleitorais em virtude do número de eleitores; o art. 94 estabelece a prioridade dos feitos eleitorais; o art. 96 trata da competência e do procedimento para julgamento das reclamações e representações; os arts. 97 e 97-A preveem a hipótese de reclamações contra o Juiz Eleitoral que descumprir as regras eleitorais e os prazos para julgamento; e os arts. 100 e 100-A tratam da contratação de pessoal para a prestação de serviços para a campanha. 22 O segundo passo para se tornar advogado eleitoralista é conhecer as principais medidas judiciais desse ramo do direito. Há todo um regramento próprio do direito penal eleitoral, destinado a tutelar a liberdade do voto e os valores da democracia, previsto especialmente no Código Eleitoral e em dispositivos esparsos da Lei das Eleições. Porém, em termos de processo penal eleitoral, não há grandes distinções do processo penal ordinário. As maiores especificidades do processo judicial eleitoral encontram-se na esfera não penal. A legislação prevê medidas judiciais específicas para cada tipo de afronta a direito, que têm seus momentos próprios para ajuizamento, assim como legitimados e ritos diferenciados. O manejo de uma medida inapropriada ou em momento inoportuno, por partes ilegítimas, em afronta à legislação eleitoral, resulta em extinções de ações (o que, infelizmente, costuma ser bem comum na jurisdição eleitoral, por falta de conhecimento específico de quem resolve se arriscar na área) e perda da oportunidade de obter a tutela jurisdicional. Trataremos a seguir das principais ações eleitorais e apresentaremos modelos das petições iniciais. Porém, antes disso, é preciso registrar alguns alertas para quem vai iniciar na área. PAGAMENTO DE CUSTAS A Justiça Eleitoral não cobra o pagamento de custas iniciais e finais para ajuizamento de uma ação ou para oposição de recursos. Por isso também, é dispensável fixar o valor da causa na petição inicial, até porque não há proveito econômico das partes nas ações dessa INTRODUÇÃO AO PROCESSO JUDICIAL ELEITORAL 23 natureza. PRAZOS CONTADOS EM DIAS CORRIDOS O TSE decidiu, por meio da Resolução nº 23.478/2016, decidiu que, em “razão da especialidade da matéria [eleitoral], as ações, os procedimentos e os recursos eleitorais permanecem regidos pelas normas específicas previstas na legislação eleitoral e nas instruções do Tribunal Superior Eleitoral” de modo que a “aplicação das regras do Novo Código de Processo Civil tem caráter supletivo e subsidiário em relação aos feitos que tramitam na Justiça Eleitoral”. Por isso, os prazos eleitorais continuam sendo contados em dias corridos. E, entre a data do encerramento do prazo para registro de candidatos e a data final para diplomação dos eleitos, os prazos podem iniciar e se encerrar em aos sábados, domingos e feriados (art. 16 da LCF n.º 64/90). A Justiça Eleitoral funciona em regime de plantão nesse período. RECESSO NATALINO O recesso do art. 220 do CPC de 2015 também não é autoaplicável aos processos eleitorais, somente ocorrerá se assim dispuser as resoluções locais dos Tribunais suspendendo os prazos nesse período. O recesso natalino da Justiça Eleitoral é o disciplinado pelo art. 62, I, da LF n.º 5.010/66, de 20 de dezembro a 6 de janeiro. Esse é um aspecto importante, pois algumas medidas judiciais devem ser opostas após a diplomação dos eleitos, cujo prazo para propositura acaba incidindo nesse período de final de ano. REGIME RÍGIDO DE PRECLUSÕES E DECADÊNCIA Os processos judiciais eleitorais têm como marca muito forte a celeridade. O período de campanha é curto e as questões relacionadas às eleições não podem ficar pendentes de resolução, pois o Judiciário precisa conferir os diplomas aos mandatários eleitos dos poderes Legislativo e Executivo dentro dos marcos temporais 24 estabelecidos pela Constituição e pela legislação. Além disso, a democracia demanda que exista uma certa estabilidade político e que os Por isso, as ações judiciais eleitorais são marcadas por um regime de preclusões e de decadência muito rígidos. Assim, por exemplo, nas ações eleitorais, o autor precisa indicar todas as provas que pretende produzir na lide, inclusive arrolar testemunhas, na inicial; e o réu, na contestação. Se assim não o fizerem, perdem a oportunidade de produzir provas. Se o autor não indica na inicial todos os réus a serem citados, inclusive os litisconsortes passivos necessários, a ação tende a ser julgada extinta, pois certamente não haverá momentos para emendar a exordial10. O mesmo ocorre com a questão da decadência. Há prazos certos para propor as demandas eleitorais. Uma 10 Nesse sentido: TSE, RESPE nº 389055 - IBATEGUARA – AL, Acórdão de 17/05/2012, Relator(a) Min. Arnaldo Versiani. ação de investigação judicial eleitoral por captação ilícita de sufrágio somente pode ser ajuizada até a data da diplomação, um direito de resposta por propaganda em horário eleitoral gratuito somente pode ser proposto 24h depois da veiculação da propaganda. Esse cenário exige do advogado eleitoralista manter- se em constante atenção e agir rapidamente, pois os processos eleitorais não permitem inação. INTIMAÇÕES Como os processos eleitorais precisam ser céleres, o modo de formalizar as intimações das partes também é diferente na área eleitoral. De acordo com o art. 21 da Resolução do TSE n.º 23.417/2014, porém, durante o período eleitoral (do registro de candidatura à diplomação) as intimações, em regra, são feitas pelos murais eletrônicos (ou no Cartório quando não disponível a tecnologia) nas Zonas Eleitorais e durante as sessões dos Tribunais. 25 Publicação em mural ocorre quando as intimações são fixadas no mural da Zona Eleitoral ou no site dos Tribunais em área específica chamada Mural Eletrônico (art. 94, §5º,da LF n.º 9.504/97). Veja o exemplo do Mural Eletrônico do TSE da eleição de 2018 (aqui). Publicação em sessão ocorre quando o presidente do tribunal eleitoral, ao concluir o(s) julgamento(s) do(s) processo(s), declara que a(s) decisão(ões) está(ão) publicada(s) em sessão, ou seja, não vai ser disponibilizado em nenhum outro local, ao advogado caberá acompanhar o julgamento no tribunal e/ou buscar a decisão e o respectivo acórdão. No TSE, em muitos casos, os acórdãos são constituídos por meio de áudios gravados dos julgamentos, sequer são transcritos em texto escrito. Também para isso, exige proatividade e constante acompanhamento dos feitos e das sessões de julgamento. É bastante comum ver advogados que não são habituados a atuarem no eleitoral, reclamarem que não foram intimados de tal ou qual decisão, quando, na verdade, não foi observada a forma adequada de acompanhamento da intimação. E isso pode gerar grandes problemas para as partes. LEGITIMIDADE ATIVA Nem todo mundo pode propor uma medida judicial eleitoral. A legitimidade ativa para os feitos judiciais eleitorais é restrita, em princípio, aos partidos, coligações, candidatos e ao Ministério Público. Por regra, o cidadão somente pode provocar diretamente o Judiciário e provocar a instauração de uma ação por meio da apresentação de uma notícia de inelegibilidade, nos termos do art. 3º da LCF n.º 64/90. Mas, mesmo para os partidos, coligações e candidatos, há certas limitações. Por exemplo, uma ação de arrecadação e gasto ilícito de recursos (art. 30-A da LF n.º 9.504/97) somente pode ser proposta por partidos e coligações, não pode ser ajuizada por candidato. 26 ILÍCITOS POLÍTICO-ELEITORAIS E MEDIDAS JUDICIAIS CABÍVEIS Outro exemplo, durante o período eleitoral (do registro à diplomação) se o partido estiver coligado, ele não pode propor uma ação isoladamente11 (art. 6º da LF n.º 9.504/97). 11 Nesse sentido: TSE, RESPE nº 19962 - CAMPO GRANDE – MS, Acórdão nº 19962 de 27/08/2002, Relator(a) Min. Fernando Neves, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 27/08/2002. 27 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE REGISTRO DE CANDIDATURA Como visto, os processos judiciais eleitorais têm muitas especificidades. Dentro desse cenário, para cada tipo de ilícito eleitoral, há um tipo de medida judicial cabível. Neste quadro resumimos os ilícitos eleitorais não-penais, os bens jurídicos tutelados e as respectivas ações judiciais cabíveis, além das respectivas sanções possíveis, para ajudar a sistematizar o conhecimento do advogado eleitoralista sobre o segundo passo para atuar na área. A Ação de Impugnação de Registro de Candidatura (AIRC) tem a pretensão de o Judiciário indeferir o pedido de registro de candidatura de determinado candidato sob o fundamento de que esse não preenche certa condição de elegibilidade (art. 14, §§3º e 8º, da CF e art. 11 da LF n.º 9.504/97) ou incorre numa das condições de inelegibilidade (art. 14, §§ 5º-7º, da CF e art. 1º da LCF n.º 64/90). A AIRC deve ser proposta no prazo de 5 (cinco) dias, contados da publicação do pedido de registro do candidato. São legitimados ativos as coligações, os partidos não coligados, os candidatos e o MP, assim como os cidadãos, nesse caso, para apresentar notícia de inelegibilidade. Como disciplinado nos artigos da LCF n.º 64/90, o processo da AIRC tramita independentemente de intimações das partes e dos advogados. Sem dúvidas, esse é o processo mais célere da Justiça brasileira. Os registros de candidaturas devem ser protocolados até 15 de agosto do ano eleitoral e julgados, inclusive as AIRC, em todas as instâncias, até 20 dias antes do dia eleição, ou seja, até meados de setembro (art. 16, §1º, da LF n.º 9.504/97). Muitas vezes, a Justiça Eleitoral não cumpre esse prazo, principalmente em eleições municipais, quando há três instâncias para os feitos tramitarem. Mas, sem dúvida, há um esforço do Judiciário para observá-lo, de modo 28 que os processos de registros de candidatura tramitam de forma bastante célere. Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx Zona Eleitoral do Estado do xxx. (COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO NÃO COLIGADO OU CANDIDATO), (em caso de Coligação indicar os partidos integrantes), por meio de seu Representante (em caso de Coligação ou partido), XXXX, (qualificação), vem, por meio de seu Advogado, perante Vossa Excelência, com fundamento no art. 3º, caput12, da 12 “Art. 3° Caberá a qualquer candidato, a partido político, coligação ou ao Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da publicação do pedido de registro do candidato, impugná-lo em petição fundamentada. (...).” Lei Complementar Federal n.º 64, de 18 de maio de 199013, propor AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE REGISTRO DE CANDIDATURA em desfavor de (CANDIDATO), já qualificado nos autos do REGISTRO DE CANDIDATURA n.º xxxx, diante da publicação do Edital em xxx de xxx de xxx, em virtude dos fatos e fundamentos jurídicos adiante arrazoados. I – FATOS. O Impugnado apresentou o requerimento de registro coletivo de candidatura em epígrafe, por meio da Coligação xxx, integradas pelos partidos xxxx. Ocorre que, o Réu incorre na causa de inelegibilidade prevista pelo art. 1º, I, g, da Lei Complementar Federal nº 64/90. (descrição dos fatos). II – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA. 13 Estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da Constituição Federal, ca- sos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências. MODELO DE PETIÇÃO 29 A declaração de inelegibilidade por rejeição de contas administrativas é prevista pelo art. 1º, I, g, da Lei Complementar Federal nº 64/1990, alterado pela Lei Complementar Federal n.º 135/2010, que possui a seguinte redação: “Art. 1º São inelegíveis: I - para qualquer cargo: (...) g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição; (...)” (grifos acrescidos) As condenações do Tribunal de Contas em face do Impugnado preenchem todos os requisitos do citado dispositivo legal: (i) rejeição das contas por irregularidade insanável; (ii) irrecorribilidade das decisões; e (iii) prática de atos que configuram ato doloso de improbidade administrativa. (relacionar os fatos com esses requisitos da inelegibilidade). III – PEDIDOS. Em face do exposto, o Impugnante postula a Vossa Excelência: a) a citação do Impugnado para, querendo, contestar a presente AIRC; b) a produção de todas as provas em Direito 30 admitido, inclusive com a realização de audiência de instrução para ouvir as testemunhas arroladas adiante (se cabível, assim como de outras provas, sob pena de preclusão); c) no mérito, a procedência da pretensão desta Ação, com a declaração da inelegibilidade e indeferimento do registro de candidatura do Impugnado. Termos em que Pede Deferimento. Cidade – XX, XX de xxx de 201x. XXXXXX OAB/XX XXX ROL DE TESTEMUNHAS (se cabível). a) ; 31 irregular, como consequência, limita-se a liberdade de expressão e de comunicação de alguém. Por isso, tal intervenção somente será legítima se estiver embasada nos limites estabelecidos legalmente e na proporção necessária para tutelar outros valores também protegidos constitucionalmente. O nível de controle da liberdade de expressão no debate político por parte do Judiciário oscila muito na jurisprudência das cortes eleitorais, a depender da composição dos colegiados e das posições dos magistrados. A ponderação dos valores envolvidos nessa análise é de grande complexidade e exigemuita sensibilidade para se achar um ajuste adequado entre não se tolher em demasia a discussão política, nem deixar desprotegidos valores relevantes como a autenticidade do embate de ideias. Veja estes dois precedentes do TSE, das eleições de 2014 e 2018, como exemplo paras evidenciar tal oscilação: REPRESENTAÇÕES DE PROPAGANDA Como vimos quando falamos sobre a LF n.º 9.504/97, a seção da propaganda eleitoral ocupa boa parte desse diploma legal, indo, na parte específica, do art. 36 ao art. 57-J da legislação. Além disso, o Código Eleitoral também disciplina a matéria, do art. 240 ao art. 256, prevendo normas dotadas de plena eficácia para o processo eleitoral. Tais dispositivos preveem uma série de vedações aos candidatos, partidos, coligações, aos próprios cidadãos, e aos veículos assim como empresas de comunicação, visando defender valores como a honra, a igualdade e a verdade, e combater o anonimato, as ofensas pessoais, as mentiras e o uso indevido dos meios de comunicação. A intervenção do Judiciário nessa seara é um tema muito delicado, pois, em regra, quando se decide agir para impedir alguma ação de propaganda tida por 32 “PROPAGANDA ELEITORAL. PEDIDO DE LIMINAR. OFENSA PESSOAL. ARTIGO 53, § 1º, DA LEI DAS ELEIÇÕES. APLICAÇÃO. NOVA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. 1. Na sessão de 16.10.2014, o TSE, por maioria, decidiu que, em homenagem ao debate eleitoral fértil e autêntico, a propaganda eleitoral deve ater-se às propostas de planos de governo, divulgação e discussão de ideias, lastreadas no interesse público e balizadas pela ética, decoro e urbanidade. 2. O horário eleitoral não é ambiente próprio para ataques e ofensas, com críticas destrutivas ao adversário, com nítido desvirtuamento do espaço reservado à propaganda eleitoral. 3. Eventuais críticas e debates, ainda que duros e ásperos, devem estar relacionados com as propostas, os programas de governo e as questões de políticas públicas. 4.Deferimento da liminar14.” “ELEIÇÕES 2018. RECURSO INOMINADO. REPRESENTAÇÃO. DIREITO DE RESPOSTA. INSERÇÕES. VEICULAÇÃO. EMISSORA DE TELEVISÃO. DESPROVIMENTO. 1. Na linha de entendimento desta Corte, o exercício do direito de resposta é viável apenas quando for possível extrair, das afirmações apontadas, fato sabidamente inverídico apto a ofender, em caráter pessoal, o candidato, partido ou coligação. Precedente. 14 Rp - Representação nº 172445 - BRASÍLIA – DF, Acórdão de 21/10/2014, Relator(a) Min. Admar Gonzaga, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 21/10/2014. 33 2. É entendimento deste Tribunal Superior Eleitoral que “se a propaganda tem foco em matéria jornalística, apenas noticiando conhecido episódio, não incide o disposto no art. 58 da Lei n° 9.504/97, ausente, no caso, qualquer dos requisitos que justifique o deferimento de direito de resposta” (Rp nº 2541–51/DF, rel. Min. Joelson Dias, PSESS de 1º.9.2010). 3. Conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF), a “liberdade de expressão constitui um dos fundamentos essenciais de uma sociedade democrática e compreende não somente as informações consideradas como inofensivas, indiferentes ou favoráveis, mas também as que possam causar transtornos, resistência, inquietar pessoas, pois a Democracia somente existe baseada na consagração do pluralismo de ideias e pensamentos políticos, filosóficos, religiosos e da tolerância de opiniões e do espírito aberto ao diálogo” (ADI no 4439/ DF, rel. Min. Luís Roberto Barroso, rel. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, Tribunal Pleno, DJe de 21.6.2018). 4. A propaganda questionada localiza–se na seara da liberdade de expressão, pois enseja crítica política afeta ao período eleitoral. Cuida–se de acontecimentos amplamente divulgados pela mídia, os quais são inaptos, neste momento, a desequilibrar a disputa eleitoral. Em exame acurado, trata–se de declarações, cuja contestação deve emergir do debate político, não sendo capaz de atrair o disposto no art. 58 da Lei nº 9.504/1997. Precedente. 5. Recurso desprovido15.” 15 Rp - Recurso em Representação nº 060131056 - BRASÍLIA – DF, Acórdão de 03/10/2018, Relator(a) Min. Sergio Silveira Banhos, Publica- 34 De todo modo, o veículo para levar essa discussão para o Judiciário, assim como sustar propaganda irregulares, obter direito de resposta e a eventual aplicação de multas pelos responsáveis é a representação (art. 96 da LF n.º 9.504/97). ção:PSESS - Publicado em Sessão, Data 03/10/2018. 35 PROPAGANDA IRREGULAR A violação das regras dos arts. 36 ao 57-J da LF n.º 9.504/97 e das regras de propaganda do Código Eleitoral pode justificar a proposição de uma Representação Eleitoral. As representações por propaganda irregular devem ser ajuizadas até o dia da eleição16, com exceção das que tratem de propaganda eleitoral gratuita, que têm prazo decadencial próprio. São legitimados passivos os responsáveis pela veiculação da propaganda irregular e, desde que presentes os requisitos do art. 40-B17 da LF n.º 9.504/97, 16 Nesse sentido: TSE, AI - Agravo Regimental em Agravo de Instrumen- to nº 10568 - MACAPÁ – AP, Acórdão de 20/05/2010, Relator(a) Min. Arnal- do Versiani, Publicação:RJTSE - Revista de jurisprudência do TSE, Volume 21, Tomo 2, Data 20/05/2010, Página 291, DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 23/06/2010, Página 26. 17 “Art. 40-B. A representação relativa à propaganda irregular deve ser instruída com prova da autoria ou do prévio conhecimento do beneficiário, caso este não seja por ela responsável. Parágrafo único. A responsabilidade do candidato estará demonstrada se este, intimado da existência da propaganda irregular, não providenciar, no prazo os beneficiários. Várias são as hipóteses de representação por propaganda irregular, mas a estrutura da peça deve conter basicamente estes elementos de (direcionamento, qualificação, narração fática, fundamentação jurídica e pedidos). Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx Zona Eleitoral do Estado do xxx. (COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO NÃO de quarenta e oito horas, sua retirada ou regularização e, ainda, se as circuns- tâncias e as peculiaridades do caso específico revelarem a impossibilidade de o beneficiário não ter tido conhecimento da propaganda.” MODELO DE PETIÇÃO 36 COLIGADO OU CANDIDATO), (em caso de Coligação indicar os partidos integrantes), por meio de seu Representante (em caso de Coligação ou partido), XXXX, (qualificação), vem, por meio de seu Advogado, perante Vossa Excelência, com fundamento no art. 96, I18, da Lei Federal n.º 9.504, de 30 de setembro de 199719 , propor REPRESENTAÇÃO ELEITORAL COM PEDIDO LIMINAR em desfavor de (RESPONSÁVEL PELA PROPAGANDA IRREGULAR E BENEFÍCIÁRIO), (qualificação), em virtude dos fatos e fundamentos jurídicos adiante arrazoados. A Representante é coligação integrada pelos 18 “Art. 96. Salvo disposições específicas em contrário desta Lei, as recla- mações ou representações relativas ao seu descumprimento podem ser feitas por qualquer partido político, coligação ou candidato, e devem dirigir-se: I - aos Juízes Eleitorais, nas eleições municipais; (...).” 19 “Estabelece normas para as eleições.” partidos xxx, que lançou como candidatos aos cargos de prefeito e vice-prefeito de xxx nesta eleição municipal, xxx e xxxx. Já os Representados são xxxx. Ocorre que, em xxx, os Representados distribuíram por meio de mensagens eletrônicas no aplicativo WhatsApp vídeos apócrifos com os seguintes conteúdos: (transcrição do conteúdo) Como se vê, nesses vídeos, busca-se relacionar o candidato da Representante, injusta e indevidamente, a casos de corrupção, difamando-o e caluniando-o, com propósitos nitidamente eleitoreiros. (detalhamento de circunstâncias relevantes dos fatos) Está evidente, portanto, que o caso é de incidência do art. 57-D, §§2º e 3º, da Lei Federal n.º 9.504/97, o qual dispõe: “Art. 57-D. É livre a manifestação do 37 pensamento, vedado o anonimato durantea campanha eleitoral, por meio da rede mundial de computadores - internet, assegurado o direito de resposta, nos termos das alíneas a, b e c do inciso IV do § 3o do art. 58 e do 58-A, e por outros meios de comunicação interpessoal mediante mensagem eletrônica. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009) (...) § 2o A violação do disposto neste artigo sujeitará o responsável pela divulgação da propaganda e, quando comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais). § 3º Sem prejuízo das sanções civis e criminais aplicáveis ao responsável, a Justiça Eleitoral poderá determinar, por solicitação do ofendido, a retirada de publicações que contenham agressões ou ataques a candidatos em sítios da internet, inclusive redes sociais.” (Grifos acrescidos). Também aplicável ao caso as seguintes disposições da Lei Federal n.º 9.504/97: “Art. 57-H. Sem prejuízo das demais sanções legais cabíveis, será punido, com multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais), quem realizar propaganda eleitoral na internet, atribuindo indevidamente sua autoria a terceiro, inclusive a candidato, partido ou coligação. § 1o Constitui crime a contratação direta ou indireta de grupo de 38 pessoas com a finalidade específica de emitir mensagens ou comentários na internet para ofender a honra ou denegrir a imagem de candidato, partido ou coligação, punível com detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). (....).” “Art. 57-J. O Tribunal Superior Eleitoral regulamentará o disposto nos arts. 57-A a 57-I desta Lei de acordo com o cenário e as ferramentas tecnológicas existentes em cada momento eleitoral e promoverá, para os veículos, partidos e demais entidades interessadas, a formulação e a ampla divulgação de regras de boas práticas relativas a campanhas eleitorais na internet.” Os citados vídeos violam frontalmente a honra e a dignidade do candidato Representante, além e serem conteúdos audiovisuais apócrifos. O art. 57-D da Lei Federal n.º 9.504/97 veda expressamente o compartilhamento de conteúdo apócrifo e atentatório à honra, inclusive por meio de mensagens eletrônicas e redes sociais, em cujo conceito se enquadra o WhatsApp, na medida em que permite ao usuário a participação em grupos com diversas pessoas. (completar argumentação de subsunção dos fatos às normas) Ademais, nos termos do art. 21, §1º20, da Resolução do TSE n.º 23.457/2015 (atualizar de acordo com a resolução de 2020, quando 20 “Art. 21. É permitida a propaganda eleitoral na Internet a partir do dia 16 de agosto de 2016 (Lei nº 9.504/1997, art. 57-A). § 1º A livre manifesta- ção do pensamento do eleitor identificado na Internet somente é passível de limitação quando ocorrer ofensa à honra de terceiros ou divulgação de fatos sabidamente inverídicos. (...).” (Grifos acrescidos). 39 publicada), também faz jus a Representante ao deferimento de tutela específica no sentido de obrigar os Representados a apagarem dos grupos de WhatsApp e para pessoas que transmitiram as referidas mensagens, e também para cessarem o envio desse conteúdo ou de outros semelhantes. A evidência do direito em questão e a urgência da tutela também justificam a incidênciado disposto pelos arts. 8º, §4º21 e24, b22, da 21 “Art. 8º Recebida a petição inicial, o Cartório Eleitoral providenciará a imediata citação do(s) representado(s), com a contrafé da petição inicial e, quando houver, a degravação da mídia de áudio e/ou vídeo, para, querendo, apresentar(em) defesa no prazo de quarenta e oito horas (Lei nº 9.504/1997, art. 96, § 5º), exceto quando se tratar de pedido de direito de resposta, cujo prazo será de vinte e quatro horas (Lei nº 9.504/1997, art. 58, § 2º). (...) § 4º Se houver pedido de medida liminar, os autos serão conclusos ao Juiz Eleitoral, que os analisará imediatamente, procedendo-se em seguida à imediata citação do representado, com o envio da contrafé da petição inicial e da decisão proferida na forma prevista neste artigo. (...) 22 “Art. 24. Ao despachar a inicial, o Juiz Eleitoral adotará as seguintes Resolução do TSE n.º 23.462/201523 (atualizar de acordo com a resolução de 2020, quando publicada), assim como os arts. 300, caput24, 30125, 49726 do Novo Código de Processo Civil, providências: (...) b) determinará que se suspenda o ato que deu origem à representação, quan- do relevante o fundamento e do ato impugnado puder resultar na ineficácia da medida, caso seja julgada procedente (Lei Complementar nº 64/1990, art. 22, inciso I, alínea b); (...)”. (Grifos acrescidos). 23 “Dispõe sobre representações, reclamações e pedidos de resposta pre- vistos na Lei nº 9.504/1997 para as eleições de 2016.” 24 “Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elemen- tos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. (...).” 25 “Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direi- to.” 26 “Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determi- nará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente. (...).” 40 no sentido de ser garantido à Representante a concessão da tutela antecipatória, a fim de fazer cessar de imediato os ilícitos perpetrados pelos Representados. (justificar a urgência) Ante o exposto, é a presente para requerer a Vossa Excelência: a) liminarmente, inaudita altera pars, o deferimento de tutela antecipatória para determinar que os Representados apaguem as mensagens enviadas para grupos de WhatsApp e para pessoas que remeteram individualmente com os vídeos indicados nesta Inicial, assim como cessem o seu envio, sob pena de pagamento de multa de R$5.000,00 (cinco mil reavis) por mensagem, ou de outras medidas cominatórias aptas a garantir a tutela específica postulada no caso em tela; b) a notificação dos Representados para, querendo, apresentar Contestação; a produção de todas as provas em Direito admitidas, inclusive pela oitiva do rol de testemunhas em anexo; c) no mérito, o julgamento procedente da pretensão da Representante no sentido de confirmar a obrigação dos Representados de cumprirem as obrigações de fazer e não-fazer postuladas no pedido liminar, assim como condená-los à multa do art. 57-D, §2º, da Lei Federal n.º 9.504/97. Termos em que Pede Deferimento. Cidade – XX, XX de xxx de 201x. XXXXXX OAB/XX XXX ROL DE TESTEMUNHAS (se cabível). a) ; 41 O direito de resposta é um tipo de representação específica cujo objetivo é veicular uma mensagem para responder uma ofensa por exposição de um fato sabidamente inverídico que prejudique candidato ou partido político. Trata-se de um procedimento extremamente célere, que deve ser proposto nos prazos decadenciais do art. 58, §1º, da LF n.º 9.504/97. A legitimidade passiva é ampla, qualquer ofensor que veicular mensagem atentatória pode ser obrigado a transmitir a resposta. Recentemente, o TSE decidiu que, inclusive, é cabível direito de resposta por ofensa transmitida por carro de som27. A seguir o modelo da petição inicial para o caso de ofensa em propaganda eleitoral gratuita na televisão. 27 RESPE nº 22274 - CACULÉ – BA, Acórdão de 24/09/2019, Relator(a) Min. Sergio Silveira Banhos, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 12/11/2019. Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx Zona Eleitoral do Estado do xxx. (COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO NÃO COLIGADO OU CANDIDATO), (em caso de Coligação indicar os partidos integrantes), por meio de seu Representante (emcaso de Coligação ou partido), XXXX, (qualificação), vem, por meio de seu Advogado, perante Vossa Excelência, com fundamento no art. 58, caput28, da Lei Federal n.º 28 “Art. 58. A partir da escolha de candidatos em convenção, é assegura- do o direito de resposta a candidato, partido ou coligação atingidos, ainda que de forma indireta, por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamató- ria, injuriosa ou sabidamente inverídica, difundidos por qualquer veículo de comunicação social. (...).” DIREITO DE RESPOSTA MODELO DE PETIÇÃO 42 9.504, de 30 de setembro de 199729, apresentar pedido de DIREITO DE RESPOSTA em desfavor de (OFENSOR), (qualificação), em virtude dos fatos e fundamentos jurídicos adiante arrazoados. A Representante é coligação integrada pelos partidos xxx, que lançou como candidatos aos cargos de prefeito e vice-prefeito de xxx nesta eleição municipal, xxx e xxxx. Já o Representado é xxxx. Ocorre que, em xxx, o Representado veiculou propaganda no horário eleitoral gratuito em bloco às xxhxxmin na emissora xx, no com o seguinte conteúdo: (xxx) Tal propaganda expressou mensagem caluniosa e sabidamente inverídica. (detalhamento do porquê a mensagem se enquadra nesse conceito) Está evidente, portanto, que o caso é de incidência do art. 58, caput, da Lei Federal n.º 9.504/97, o qual dispõe: “Art. 58. A partir da escolha de candidatos em convenção, é assegurado o direito de 29 “Estabelece normas para as eleições.” resposta a candidato, partido ou coligação atingidos, ainda que de forma indireta, por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamatória, injuriosa ou sabidamente inverídica, difundidos por qualquer veículo de comunicação social. (...)” (Grifos acrescidos). O TSE, sobre o assunto, possui entendimento firme no seguinte sentido: “ELEIÇÕES 2014. ELEIÇÃO PRESIDENCIAL. PROPAGANDA ELEITORAL. DIREITO DE RESPOSTA. INSERÇÃO. OFENSA DIRETA A CANDIDATA. PROCEDÊNCIA. 1. É assente nesta Corte que as críticas, mesmo que veementes, fazem parte do jogo eleitoral, não ensejando, por si sós, o direito de resposta, desde que não ultrapassem os limites do questionamento político e nem descambem para o insulto pessoal, para a imputação de delitos ou de fatos sabidamente inverídicos. 43 2. Os representados não se limitaram a tecer críticas de natureza política a adversários, ínsitas ao debate eleitoral franco e aberto. 3. Ao se valerem dos termos “corrupção” e “roubalheira”, fizeram alusão direta a prática de crimes capitulados na legislação penal brasileira. 4. O art. 58 da Lei nº 9.504/97 dispõe que “a partir da escolha de candidatos em convenção, é assegurado o direito de resposta a candidato, partido ou coligação atingidos, ainda que de forma indireta, por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamatória, injuriosa ou sabidamente inverídica, difundidos por qualquer veículo de comunicação social”. 5. Configurada ofensa à honra da candidata. 6. Representação julgada procedente para conceder o direito de resposta de 1 (um) minuto no rádio (bloco das 12h) e 2 (dois) minutos na televisão (1 minuto no bloco das 13h e 1 minuto no das 20h30), que deverão ser veiculados durante o horário eleitoral gratuito do Partido representado, nos termos do art. 58, § 3º, III, da Lei nº 9.504/9730.” No caso dos autos (subsumir o caso ao dispositivo legal e ao precedente). Ante o exposto, é a presente para requerer a Vossa Excelência: a) a notificação do Representado para, querendo, apresentar Contestação; b) no mérito, a concessão do direito de resposta para determinar a veiculação de resposta pelo período de xxx, nos termos do art. 58, §2º, III, da Lei Federal n.º 9.504/97. Termos em que Pede Deferimento. Cidade – XX, XX de xxx de 201x. XXXXXX OAB/XX XXX 30 Rp - Representação nº 127927 - BRASÍLIA – DF, Acórdão de 23/09/2014, Relator(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto, Publica- ção:PSESS - Publicado em Sessão, Data 23/09/2014. 44 REPRESENTAÇÃO POR CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO (COMPRA DE VOTO) O instituto da captação ilícita do sufrágio foi introduzido no sistema jurídico eleitoral por meio da Lei Federal n.º 9.480/9931, com objetivo de especificar de modo mais evidente as sanções para as pessoas que buscassem comprar votos e corromper a liberdade dos eleitores por meio da oferta de vantagens. Desde a edição da referida lei, a compra de um único voto pode resultar na cassação de registro de candidatura ou diploma, além de multas. As condutas consideradas ilícitas são “doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição”. Assim, a mera promessa já pode configurar a captação ilícita de sufrágio, não é necessária a efetiva entrega da vantagem. 31 “Altera dispositivos da Lei no 9.504, de 30 de setembro de 1997, e da Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código Eleitoral.” A conduta só é tipificada nesse ilícito se ocorrer entre o registro de candidatura e o dia da eleição. É preciso ficar evidenciado especial fim de agir de obter o voto do eleitor. Na esfera penal, a conduta também é tipificada como crime pelo art. 299 do Código Eleitoral. A representação por captação ilícita de sufrágio pode ser proposta contra os agentes políticos beneficiados e contra os autores dos fatos. A falta de citação do autor do fato, porém, não configura causa de extinção da ação32. As sanções são de multa e cassação do registro, do mandato ou do diploma do candidato, e, caso ocorra do registro ou diploma, leva à inelegibilidade reflexa do 32 Nesse sentido: TSE, AI - Agravo Regimental em Agravo de Instru- mento nº 74816 - TRÊS RIOS – RJ, Acórdão de 25/09/2018, Relator(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrô- nico, Data 18/10/2018. 45 art. 1.º, I, j, da LCF n.º 64/90. O rito procedimental da medida judicial é o previsto pelo art. 22 da LCF n.º 64/90, por isso, muitos chamam essa representação de ação de investigação judicial eleitoral. Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx Zona Eleitoral do Estado do xxx. (COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO NÃO COLIGADO, PARTIDO COLIGADO DE FORMA ISOLADA SE DEPOIS DA ELEIÇÃO OU CANDIDATO), (em caso de Coligação indicar os partidos integrantes), por meio de seu Representante (em caso de Coligação ou partido), XXXX, (qualificação), vem, por meio de seu Advogado, perante Vossa Excelência, com fundamento no art. 41-A33 da Lei Federal n.º 9.504, de 30 de setembro de 199734, propor a presente REPRESENTAÇÃO POR CAPTAÇÃO ILÍCITA DE VOTO em desfavor de (CANDIDATOS BENEFICIADO E AUTORES DO FATO), já qualificado nos 33 “Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prome- ter, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinqüenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma, observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990. § 1o Para a caracterização da conduta ilícita, é desnecessário o pedido explíci- to de votos, bastando a evidência do dolo, consistente no especial fim de agir. § 2o As sanções previstas no caput aplicam-se contra quem praticar atos de violência ou grave ameaça a pessoa, com o fim de obter-lhe o voto. § 3o A representação contra as condutas vedadas no caput poderá ser ajuiza- da até a data da diplomação. § 4o O prazo de recurso contra decisões proferidas com base neste artigo será de 3 (três) dias, a contar da data da publicação do julgamento no Diário Oficial.” (Grifos acrescidos). 34 “Estabelece normas para as eleições.” MODELO DE PETIÇÃO 46 autos dos respectivos registrosde candidatura que tramitaram perante este Juízo (no caso dos candidatos; no caso dos autores do fato precisa qualificar), em virtude dos fatos e fundamentos jurídicos adiante arrazoados. I – FATOS. Xxx e XXx, Primeiro e Segundo Réus, (disputam ou disputaram) a eleição de xxx, de Cidadde, sob a indicação da Coligação “xxx”, integrada pelo Partido xxxx Ocorre que, em xx, os Réus tiveram sua campanha beneficiadas pela compra do voto de eleitores do município por meio da promessa/entrega de vantagem consistente de xxxx. (descrição dos fatos). II – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA. Há quase duas décadas, a sociedade brasileira pressionou o Congresso Nacional a aprovar a Lei Federal n.º 9.480, de 28 de setembro de 199935, com objetivo de especificar de modo mais evidente as sanções para candidatos e agentes políticos que buscassem comprar votos e corromper a liberdade dos eleitores por meio da oferta de vantagens indevidas. Passado tanto tempo, infelizmente, a prática ainda é corriqueira nos pleitos eleitorais, demandando dos integrantes da Justiça Eleitoral e de seus auxiliares, incluindo a Advocacia e o Ministério Público, a manutenção da vigilância e do combate a essa prática nefasta, que continua a distorcer o regime democrático do país. O Tribunal Superior Eleitoral tem dado sua contribuição no sentido de dar efetividade à citada expressão legislativa. De acordo com 35 “Altera dispositivos da Lei no 9.504, de 30 de setembro de 1997, e da Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código Eleitoral.” 47 a jurisprudência dessa Egrégia Corte, resta configurada a captação ilícita de sufrágio (art. 41-A, caput, da Lei Federal n.º 9.504/97) quando o candidato anui com a tentativa de compra de voto realizada por correligionário possuidor de vínculo político e familiar com os beneficiários das condutas ilícitas, conforme se extrai do seguinte precedente: “AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. ELEIÇÕES 2008. PREFEITO. REPRESENTAÇÃO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. ART. 41-A DA LEI 9.504/97. CONFIGURAÇÃO. CONHECIMENTO PRÉVIO. DEMONSTRAÇÃO. (...) 2. A caracterização da captação ilícita de sufrágio pressupõe a ocorrência simultânea dos seguintes requisitos: a) prática de uma das condutas previstas no art. 41-A da Lei 9.504/97; b) fim específico de obter o voto do eleitor; c) participação ou anuência do candidato beneficiário na prática do ato. Na espécie, o TRE/MG reconheceu a captação ilícita com esteio na inequívoca distribuição de material de construção em troca de votos - promovida por cabos eleitorais que trabalharam na campanha - em favor das candidaturas do agravante e de seu respectivo vice. O forte vínculo político e familiar evidencia de forma plena o liame entre os autores da conduta e os candidatos beneficiários. Na hipótese dos autos, os responsáveis diretos pela compra de votos são primos do agravante e atuaram 48 como cabos eleitorais - em conjunto com os demais representados - na campanha eleitoral. (...)36” (Grifos acrescidos). No caso dos autos (subsumir os fatos ao dispositivo legal e precedente). III – PEDIDOS Em face do exposto, os Autores postulam a Vossa Excelência: a) a citação dos Réus para, querendo, contestarem a presente Ação de Investigação Judicial Eleitoral; b) a produção de todas as provas em Direito admitido, inclusive com a realização de audiência de instrução para ouvir as testemunhas arroladas adiante (indicar outras provas, sob pena de preclusão); 36 Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral n.º 815659, Relato- ra: Ministra Fátima Nancy Andrighi, Publicação: DJE, em 6-2-12. c) a notificação do Ministério Público para acompanhar o Feito; d) no mérito, a procedência da pretensão desta Ação, com a aplicação das sanções do art. 41-A da Lei Federal n.° 9504/97 em desfavor dos Réus. Termos em que Pede Deferimento. Cidade – XX, XX de xxx de 201x. XXXXXX OAB/XX XXX ROL DE TESTEMUNHAS. a) ; 49 As condutas vedadas são espécies do gênero abuso de autoridade ou do poder político. Os arts. 73 a 78 da LF n.º 9.504/97 visa impedir determinadas ações dos agentes públicos que podem desequilibrar as condições da disputa eleitoral. O conceito de agente público engloba os agentes políticos, servidores públicos (independente da forma de provimento do cargo), ou quem simplesmente exerce uma função pública (art. 73, §1º). Quando falamos da Lei das Eleições, apresentamos um breve resumo de quais seriam as condutas vedadas expressamente positivadas. O marco temporal da proibição à essas condutas vedadas, na maioria dos casos, corresponde ao período dos três meses que antecedem a eleição, outras – como as relacionadas à nomeação, demissão e revisão de remuneração de servidores – se estendem até a posse dos eleitos, uma é durante todo o ano eleitoral (art. 73, §10) e outra refere-se ao primeiro semestre do ano eleitoral (art. 73, VII). As representações por conduta vedada podem ser propostas até a data da diplomação dos eleitos (art. 73, §12). As sanções são de multa, cassação do registro ou do diploma, e caso essa ocorra geram a inelegibilidade reflexa do art. 1.º, I, j, da LCF n.º 64/90. A maior discussão em torno dessa medida judicial relaciona-se à obrigatoriedade da formação do litisconsórcio passivo. Por prudência, recomenda-se que sempre sejam indicados como réus todos os autores dos fatos (agentes públicos) que estejam relacionados à conduta vedada. Este precedente do TSE evidencia o REPRESENTAÇÃO POR CONDUTA VEDADA AO AGENTE PÚBLICO 50 debate existente em torno da matéria: “DIREITO ELEITORAL. RECURSOS ESPECIAIS ELEITORAIS. ELEIÇÕES 2016. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL POR ABUSO DO PODER POLÍTICO. REPRESENTAÇÃO POR CONDUTA VEDADA. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO DE EMÍDIO BICALHO E PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO DE FARIAS MENEZES DE OLIVEIRA. 1. Recursos especiais eleitorais contra acórdão do TRE/MG, que, reformando parcialmente sentença, manteve a cassação dos diplomas do prefeito e vice-prefeito do Município de Dionísio/MG, eleitos no pleito de 2016, bem como a condenação de ambos à inelegibilidade por 8 anos, em razão da prática de conduta vedada e da configuração do abuso do poder político, determinando, ainda, a realização de novas eleições. 2. Julgamento conjunto de representação por conduta vedada (Rp nº 412-26) ajuizada em desfavor do candidato a prefeito eleito (Farias Menezes de Oliveira) e do candidato a vice-prefeito reeleito (Emídio Braga Bicalho) e de AIJE por abuso do poder econômico e político (AIJE nº 422-70) ajuizada contra esses candidatos, o prefeito à época dos fatos (Frederico Henriques Figueiredo Coura Ferreira) e o pai deste último (José Henriques Ferreira). 3. Hipótese em que o então prefeito teria feito uso promocional da entrega efetiva de lotes a 195 famílias em programa social da Prefeitura Municipal, com a alteração do cronograma para que a imissão na posse se desse em período próximo às eleições municipais - 51 embora as obras de infraestrutura no local ainda não estivessem concluídas -, com o objetivo de beneficiar o candidato a prefeito apoiado e o então vice-prefeito, candidato à reeleição para o mesmo cargo. I - RECURSO DE EMÍDIO BRAGA BICALHO 4. É intempestivo o recurso especial eleitoral interposto após o fim do tríduo legal. O recorrente não se desincumbiu do ônus de comprovar a alegada indisponibilidade do sistema da Justiça Eleitoral, de modo que seu recurso não deve ser conhecido. II - RECURSO DE FARIAS MENEZES DE OLIVEIRA Representação por conduta vedada. 5. Em relação à Rp nº 412-26, o acórdão regional entendeu configurada a conduta vedada do art. 73, IV, da Lei nº 9.504/1997, relativa ao uso promocional de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social, pelo prefeito à época dos fatos. No entanto, a representação foi ajuizada apenas contra os candidatos beneficiados. 6. De acordo com o entendimento
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