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LITERATURA INFANTIL Sumário LITERATURA INFANTIL: REFLEXÕES E PRÁTICAS ...................................................... 2 A FUNÇÃO DA LITERATURA ................................................................................................ 9 LITERATURA INFANTIL: REFLEXÕES E PRÁTICAS A Literatura Infantil pode ser vista como uma porta de entrada para o universo maravilhoso da leitura. Para entendermos bem a importância dessa literatura na formação do ser humano, faz-se fundamental olhar para a variedade de textos que a compõem: fábulas, contos de fadas, contos maravilhosos, mitos, lendas, adaptações de grandes clássicos da literatura mundial, parlendas, trava-línguas, adivinhas, além de textos autorais narrativos e poéticos. Temos, assim, um rico material repleto de histórias, memórias, diversidade cultural, fantasia, encantamento e valores humanos. A escola, por seu caráter pedagógico, por vezes direciona ou prioriza a função didática dos textos direcionados à infância. Muitas das atividades pós-leitura propostas no espaço escolar ainda visam apenas uma compreensão mais literal do texto literário. Por exemplo, pergunta-se: ✓ Quem a Chapeuzinho foi visitar? ✓ Que animal ela encontrou na floresta? ✓ Como ela foi salva? Essa compreensão textual é válida, mas acaba por resultar em respostas únicas, nada imaginativas. Não devemos esquecer que literatura é antes de tudo arte e, como tal, tem a função de exercitar o nosso pensamento poético – relacionado com o imaginar que é uma outra forma de pensar, sentir, perceber e conhecer o mundo e a nós mesmos. A linguagem artística é plurissignificativa, permitindo diversas interpretações, pois faz um apelo à nossa criatividade e sensibilidade. Algo a ser explorado com perguntas como: ✓ Além do lobo, que outros animais Chapeuzinho pode ter encontrado na floresta? ✓ Se você encontrasse um lobo, o que faria? ✓ O que diria a ele? ✓ O que você aprendeu com essa história? ✓ O que gostou? ✓ O que não gostou? ✓ O que mudaria? O primeiro contato das crianças com essa literatura se dá, em geral, intermediado pela narração de um adulto; mas este, nem sempre, permite o contato físico delas com o livro, sobretudo quando são bebês. Isso acontece mesmo no ambiente escolar; entre os motivos podem estar: não querer que os livros sejam danificados ou julgar que, só a partir dos 2 anos, a criança esteja a apta para usufruir desse contato adequadamente. No entanto, o livro deve ser considerado pelos educadores como um brinquedo a ser oferecido para toda criança. Afinal, ter livros ao alcance das mãos é essencial para incentivar o interesse pela leitura. Existem livros especialmente produzidos para essa faixa etária do 0 aos 2 anos. Eles são feitos de material como papel cartonado, plástico ou tecido – mais resistentes à manipulação da criança – e possuem texturas, formas e cores que visam estimular o tato e a visão, alguns apresentam recursos sonoros. A proposta desse tipo de obra é estimular os sentidos e a sensibilidade do bebê que começa a realizar suas próprias leituras: olhando, colocando na boca, apertando, sentindo, cheirando, brincando. Entretanto, vale ressaltar que a criança precisa ser inserida no universo das narrativas. Por exemplo: enquanto a professora dá banho no bebê e ele manipula um livro com desenhos de animais, seria ideal que ela lhe contasse uma história ou cantasse uma cantiga associada àquelas ilustrações, que não apenas se focasse no ensino das palavras e na relação destas com figuras, mas já começasse a mostrar para a criança que o livro é um suporte para a narração e a imaginação. A formação de uma bebeteca na escola, com uma gama variada de tipos de livros e outros materiais de leitura, mostra-se um recurso bastante eficiente por ampliar possibilidades de experiências leitoras nessa fase do desenvolvimento infantil. Esse material de leitura pode ser acondicionado em caixas de madeira ou papelão decoradas, que devem ser colocadas no chão, ao alcance dos bebês, para que eles escolham livremente o que irão ler. É importante não se limitar aos já citados livros para bebês; essas caixas devem oferecer livros infantis também feitos de papel comum, com formas e tamanhos variados; revistas; quadrinhos; álbuns ilustrados; livros só-imagens, entre outros. Adicionar fantoches e bonecos, que possam representar personagens das histórias infantis, nessas caixas também contribui para tornar ainda mais significativo e lúdico o ato da leitura. A mediação nesses momentos não deve ser diretiva, mas o educador precisa estar presente, próximo, e se colocar à disposição das necessidades das crianças nesse momento exploratório e de descobertas. O exemplo e o gesto são grandes educadores. Ler para uma criança, de qualquer idade, é fundamental para despertar sua curiosidade pelo objeto livro e pelas narrativas que ele guarda. Ler com elas também é essencial. Lembrem-se: as ilustrações podem ser lidas pelas crianças. Portanto, a leitura pode começar pela capa, quando o professor a mostra para a turma e, juntos, eles a leem e imaginam como será essa narrativa. Vamos supor que nessa capa há a ilustração de dois meninos. O professor pode, então, suscitar as primeiras inferências com questionamentos como: ✓ Quem são? ✓ Qual a idade deles? ✓ São irmãos ou amigos? ✓ Por que vocês acham que são irmãos?... Logo no início da narração, podemos fazer inferências a partir do título da obra e levantar hipóteses sobre o que vai acontecer aos personagens. Podemos também parar a narração no meio e tentar adivinhar o final, para depois verificarmos se conseguimos ou não acertar – ou conversarmos sobre o final imaginado pelos alunos, se este era mais ou menos interessante que aquele dado pelo autor e por quê. Inferência e levantamento de hipóteses são técnicas de compreensão, usadas ao longo da leitura de um livro para que essa atividade seja construída coletivamente, tornando-a dinâmica, envolvente e prazerosa. Porém, ler ou contar histórias vai muito além do que simplesmente dizer as palavras de um texto escrito ou oral. A narração, seja ela feita de memória ou lida, precisa mostrar que quem narra entende que uma história não é feita apenas de palavras escritas, mas de imagens articuladas numa narrativa capazes de nos transportar para outros mundos. Essas palavras precisam soar, pois o componente sonoro da narração é fundamental – é necessário ter cadência e fluência. Para isso, devemos sempre nos preparar para uma narração: ✓ Primeiro leia o livro ou ensaie a história em voz alta. ✓ Gravar-se e ouvir-se, antes dessa partilha com os alunos, pode ajudar muito. ✓ Incentivar que os alunos depois façam o mesmo para se apresentarem para a sala, num sarau ou roda de leitura, também pode mostrar para eles o quanto ler e contar são habilidades que precisam ser exercitadas como qualquer outra. É fundamental considerarmos também que contar histórias não é só para quem ainda não é leitor fluente. Ouvir e contar histórias, sem o suporte de um livro, é uma arte sem idade. Uma atividade ancestral, uma herança milenar de nossa humanidade. Colocar-se em roda, sentando-se confortavelmente para partilhar histórias, é algo que pode estar presente na escola desde o ensino infantil até o médio. Tanto para a apresentação em saraus, como em rodas de leitura ou rodas de contação de histórias, a preparação prévia do narrador é imprescindível. Ela implica não só os ensaios, mas também o planejamento da ação narrativa. Como foi dito, as palavras precisam soar, ganhar vida na voz de quem as lê ou conta. Para isso, deve-se estudar o texto e encontrar momentos que possibilitem variações na voz durante a narração: há trechos em que podemos falar mais alto; outros, mais baixo ou até sussurrar, de acordocom o clima da história. Há partes que pedem para ser oralizadas com alegria e vivacidade; outras, com comedimento ou um tom mais triste. Para identificá-las, o narrador deverá usar sua sensibilidade para perceber e recriar esses climas durante sua performance. Caso sinta-se à vontade, poderá fazer vozes diferentes nas falas dos personagens e incluir sons e onomatopeias em determinados pontos como: “de repente, escutou-se um barulho... toc-toc-toc-toc...” Esse som, especificado ou não no texto original, poderá ser reproduzido, enquanto se narra, utilizando-se duas cascas de coco seco, batidas uma contra a outra, ou um agogô de castanhas. Apitos que imitam sons de pássaros, paus- de-chuva, tambores, carrilhão de chaves, bem como outros instrumentos e objetos sonoros são elementos que tornam a narração ainda mais lúdica e encantadora. No entanto, deve-se utilizá-los de modo complementar à narrativa, ou seja, eles não devem se sobrepor à história. Os exageros no uso de recursos externos à narrativa podem distrair o ouvinte, em vez de levá-lo a se aprofundar na experiência de escuta. Esse conselho sobre não exagerar nos estímulos para os ouvintes, de qualquer idade, estende-se para o uso de gestos, expressões faciais e objetos como lenços, bonecos... Saber dosar é o segredo, e o aprendemos na medida em que praticamos e observamos a nós mesmos e a outros narradores. Sugere-se que todas as ações que serão realizadas durante a narração sejam anotadas em forma de roteiro para facilitar os ensaios e garantir uma boa performance. Se o educador quiser ampliar ainda mais o leque de possibilidades de recursos lúdicos para narrar histórias poderá pesquisar sobre o uso e confecção de aventais ou tapetes para contação; teatro de sombras, de fantoches, de marionetes e de dedoches. Propor para os alunos que eles próprios recontem as histórias escutadas nas rodas em forma de teatro – seja o clássico com cenários, falas memorizadas e figurinos ou estes últimos aqui citados – permite que as crianças, já a partir dos 3 anos de idade, se apropriem, de maneira crítica e imaginativa, dos conteúdos históricos, sociais e culturais presentes nos textos literários. A literatura nos coloca em contato com aqueles que vieram antes de nós. Ela nos permite criar laços com os que estão ao nosso redor. É nutrição, socialização e, sobretudo, humanização. Quando bem trabalhada no espaço escolar, revela- se um verdadeiro tesouro na preparação de nossas crianças para a vida. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/ensino- medio/203-literatura-infantil-reflexoes-e-praticas. Acesso em 30jun2020 http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/ensino-medio/203-literatura-infantil-reflexoes-e-praticas http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/ensino-medio/203-literatura-infantil-reflexoes-e-praticas A FUNÇÃO DA LITERATURA "BONS LIVROS SABEM O QUE SÃO OS HUMANOS E NÃO O QUE DEVEM SER" Conversa com Teresa Colomer POR Carola Ojeda Carola Ojeda – Um dos aspectos mais polêmicos discutidos em torno da literatura infantil e juvenil diz respeito à função da literatura para crianças e jovens. Esta literatura tem uma função definida? Teresa Colomer – Pensar sobre as funções da literatura para crianças e jovens é muito importante, pois nos diz se vale a pena se esforçar para oferecê-la às meninas e aos meninos. Podemos resumir essa função em três partes: ✓ A primeira é a de abrir a porta ao imaginário humano configurado pela literatura. Me refiro ao imenso repertório de imagens, símbolos e mitos de que nos utilizamos como fórmulas tipificadas para entender o mundo e as relações com as pessoas. Frequentemente os encontramos no folclore e permeiam a literatura de todos os tempos. As pessoas usam essas imagens, personagens ou mitos para melhorar sua forma de verbalizar e dar forma a seus próprios sonhos e perspectivas sobre o mundo. É importante que se faça isso, e a força educativa da literatura está centrada, principalmente, no fato de que ela facilita formas e materiais para essa ampliação de possibilidades: permite estabelecer uma visão diferente sobre o mundo, colocar-se no lugar do outro e ser capaz de distanciar-se das palavras usuais ou da realidade em que se está imerso, como se fosse possível contemplarmos algo pela primeira vez. É uma via de conhecimento, uma reflexão da humanidade, que está contida nos livros, uma herança e uma possibilidade a qual as crianças devem ter acesso. ✓ A segunda é que ler (ou escutar) literatura infantil supõe que as crianças tenham a possibilidade de dominar a linguagem e as formas literárias básicas sobre as que se sustentam e se desenvolvem as competências interpretativas dos indivíduos ao longo de sua educação literária. As pessoas nascem com uma predisposição inata pelas palavras, pela capacidade de representar o mundo, regular a ação, simplificar e ordenar o caos da existência e expressar sensações, sentimentos e beleza. As crianças crescem com o jogo da linguagem. Através de ambos, se situa um espaço intermediário entre a individualidade e o mundo, o que cria um efeito de distância que lhes permite pensar sobre a realidade e assimilá-la. Jogo e linguagem, jogo e literatura estão sempre intimamente unidos. A literatura é um discurso deliberado, que permite prestar atenção nas palavras, descobrir como criam os efeitos em nós, assim como é também a melhor escola para não estar à mercê dos discursos alheios (políticos, ideológicos, de manipulação entre as pessoas etc.). ✓ A terceira é que oferece uma representação articulada do mundo que serve como instrumento de socialização das novas gerações. A literatura infantil e juvenil sempre teve essa função muito clara. Foi precisamente o propósito de educar socialmente o que marcou o nascimento dos livros dirigidos à infância. Os livros infantis foram perdendo a carga didática ao longo dos tempos em benefício de sua vertente literária, mas não há dúvida de que ampliam o diálogo entre as crianças e a coletividade, fazendo com que saibam como é ou como gostariam que fosse o mundo real. Por isso se fala de literatura infantil e juvenil como se fala de uma agência educativa, como são, também, protagonistas, a família e a escola. Nesse sentido, não há documento melhor que a literatura infantil para saber a forma em que a sociedade deseja ver a si mesma... CO – Qual papel deve assumir o mediador em termos de promover ou minimizar as funções que muitas vezes se atribuem à Literatura Infantil e Juvenil? E o que fazer com aqueles valores que insistem em aparecer nos livros? TC – Essa pergunta se refere, na realidade, à terceira função, que tende a ser a mais presente em relação aos valores presentes nos livros: ✓ o que esse livro ensina em termos morais? ✓ Ou o que ele ensina em termos escolares, e qual o tema que ele trata? Essas duas perguntas não parecem ser o melhor ponto de partida para escolher os livros, ainda que existam obras com temas deliberadamente educativos, há algumas que mantêm a qualidade literária. Podemos escolhê-los pontualmente por seus temas ou valores, mas o melhor é simplesmente eleger bons livros “literários” que fazem saber como são as pessoas e não como deveriam ser. CO – Como você define os livros de boa qualidade? De que não se pode abrir mão quando se fala de qualidade literária? TC – A literatura infantil é um produto artístico, como é a literatura e a arte em geral. Os critérios que permitem dizer se um livro ou uma ilustração são bons servem igualmente para os livros infantis e juvenis, ainda que se leve em consideração a experiência de vida e a história de leitura das crianças. O critério se forma, fundamentalmente, por comparação. Como sabemos que um vinho, um beijo ou um quadrosão bons? Basicamente por comparação com nossa experiência nisso. Por isso, é importante que os mediadores tenham lido muitos livros de qualidade que formarão seu horizonte de expectativas para julgar os livros que lerão e que lhes permitirão detectar aqueles que ampliarão a experiência infantil e perdurar na memória. As crianças lerão algumas centenas de livros durante a infância e a adolescência. Existem milhares de livros entre os quais podemos selecionar esses poucos. Sendo assim, cada mediador pode formar seu repertório de livros com os quais se sente confortável, considera de qualidade e são suficientemente diversos para proporcionar diferentes experiências literárias a diferentes tipos de leitores. Compartilhar as leituras com os demais colegas é um bom instrumento para que os mediadores descubram livros ou vejam qualidades que não tinham percebido naqueles que eles já conhecem. Os seminários de literatura infantil nas escolas de uma região ou um conselho de livreiros especializados podem ajudar. E, claro, a internet facilita este contato, já que existem bons sites que nos levam diretamente a ler livros que alguém que merece nossa confiança avaliou como bom. CO – Qual é seu livro preferido? Por quê? TC – Essa é uma pergunta impossível de ser respondida! Poderia dar listas imensas, já que os livros são carregados de experiência pessoal: os livros que foram parte da minha infância, os que apreciei com meus filhos ou com meus alunos, os que fazem parte de uma ou de outra idade, os que têm ilustrações deslumbrantes, os que te dão de presente um personagem inesquecível, os que emocionam, nos fazem rir ou prender a respiração, viver em outros tempos ou lugares...definitivamente, tudo isso faz com que você queira que todo mundo possa ler... Normalmente, esses livros favoritos têm muitos adoradores e carregam a capacidade que permite nos conectar com os outros, descobrir que habitamos os mesmos mundos ficcionais. Assim, os livros que perduram com o passar do tempo (porque os leitores gostam e não porque a escola os adote ou as editoras os reeditem, já que eles vendem por sua fama histórica) é uma boa pista para saber onde estão os livros melhor escritos e melhor ilustrados. Aproveitem! Entrevista exclusiva publicada no blog Pensando la LIJ em 06/01/2014. Disponível em: https://pensandolalij.wordpress.com/2014/01/06/los-buenos-libros-hacen-saber-como-son-los- humanos-y-no-como-deberian-ser/. Acesso em 07jul2020. Teresa Colomer coordena um grupo de pesquisa em literatura infantil e juvenil, da Universidade Autônoma de Barcelona, GRETEL, e é diretora de programas de pós-graduação da mesma universidade. Conta com mais de 200 publicações sobre literatura para crianças e jovens e é, certamente, uma das vozes mais autorizadas quando queremos mergulhar nos livros, na literatura e nos leitores. Carolina Ojeda trabalha na Fundación La Fuente e para o Diplomado FLIJda Universidade Católica de Chile. Estudou Literatura e Pedagogia na Universidade Católica e fez o Máster en Libros y Literatura para niños y jóvenes da UAB – Universidad Autónoma de Barcelona. TRADUÇÃO THAIS ALBIERI http://pensandolalij.wordpress.com/2014/01/06/los-buenos-libros-hacen-saber-como-son-los-humanos-y-no-como-deberian-ser/ https://pensandolalij.wordpress.com/2014/01/06/los-buenos-libros-hacen-saber-como-son-los-humanos-y-no-como-deberian-ser/ https://pensandolalij.wordpress.com/2014/01/06/los-buenos-libros-hacen-saber-como-son-los-humanos-y-no-como-deberian-ser/
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