Buscar

ATUAÇÃO-COM-GRUPOS-EM-SÁUDE

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
ATUAÇÃO COM GRUPOS EM SÁUDE 
1 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
FACULESTE ............................................................................................ 2 
Introdução ................................................................................................ 3 
A Psicologia Social da Saúde .............................................................. 5 
A prática do psicólogo na atenção primária ......................................... 8 
1) Saúde Reprodutiva ....................................................................... 9 
2) Saúde das crianças .................................................................... 10 
3) Adolescentes .............................................................................. 10 
4) Idosos ......................................................................................... 10 
A atuação do psicólogo em grupos terapêuticos ................................ 12 
Práticas grupais e atenção primária à saúde ..................................... 14 
Da necessidade de superação de algumas tradições em saúde .... 17 
Recursos e ferramentas para conversas dialógicas ....................... 19 
Autonomia e dependência na promoção da saúde......................... 22 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 28 
 
 
 
2 
 
 
 
FACULESTE 
 
 
 
A história do Instituto FACULESTE, inicia com a realização do sonho de 
um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para 
cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a FACULESTE, 
como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A FACULESTE tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas 
de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
Introdução 
 
 
O grupo como objeto de estudos ganhou densidade na psicologia social 
durante a segunda guerra mundial, com Kurt Lewin (1890-1947), considerado 
por muitos autores como fundador da psicologia social. A Dinâmica de Grupo ou 
ciência dos pequenos grupos, é para alguns autores o objeto e método da 
psicologia social, limita-se porém ao estudo empírico da interação dentro dos 
grupos. Sendo porém relevantes as suas contribuições sobre a estrutura grupal, 
os estilos de liderança, os conflitos e motivações, espaço vital ou o campo de 
forças que determinam a conduta humana possuem diversas aplicações e entre 
elas a psicologia infantil e a modificação de comportamentos seja para benefícios 
dietéticos (estudos de pesquisa – ação realizados com Margareth Mead) seja 
para melhor a produtividade e desempenho nos ambientes de trabalho. 
A Psicologia Social pode ser entendida como o estudo das relações 
humanas a partir de um viés individual até uma perspectiva mais ampla, ou 
social, sendo que este ramo enfoca mais o indivíduo. Trata-se de uma ponte 
entre a Psicologia e a Sociologia, agregando valores dessas duas áreas 
científicas. Assim sendo, este ramo considera o indivíduo como influenciado pelo 
meio que o forma e também o sujeito como elemento que altera o ambiente em 
que vive. 
4 
 
 
A necessidade da atuação desse ramo está no fato de que as relações 
sociais influenciam a conduta e os estados mentais dos indivíduos. Por outro 
lado, a consciência coletiva de uma sociedade é um campo fértil para estudos, 
como assinala Regader (2015). Portanto, Cherry (2016) ressalta que a 
Psicologia Social não observa apenas as influências do meio, mas também 
estuda as percepções desse meio, tratando-o como uma entidade, visando 
compreender o comportamento social; e analisa as interações que 
compreendem a sociedade. 
Cherry (2016) escreve que é comum o fato de que a Psicologia Social seja 
confundida com a sabedoria popular, Psicologia da personalidade e a Sociologia, 
e expõe as diferenças entre elas. Enquanto a sabedoria popular, que também 
pode ser chamada de senso comum, é baseada em observações anedóticas e 
interpretações subjetivas, a Psicologia Social emprega métodos científicos e 
estudos empíricos sobre os fenômenos sociais. 
Os pesquisadores não apenas fazem suposições sobre como as pessoas 
se comportam, eles planejam e fazem experimentos que permitem destacar a 
relação entre diferentes variáveis. Ao contrário da Psicologia da personalidade, 
que estuda os traços individuais, características e pensamentos, a Psicologia 
Social estuda situações cotidianas, estando interessada sobre o impacto dos 
ambientes sociais e interações sobre atitudes e comportamentos. 
Em relação à Sociologia, que se interessa pelo impacto de instituições e 
cultura sobre o comportamento dos indivíduos, a Psicologia Social considera 
variáveis situacionais que afetam o comportamento social. Portanto, percebe-se 
que estas duas áreas têm tópicos similares, mas analisam essas questões a 
partir de perspectivas diferentes. Há quem veja psicologia social em todos as 
áreas dos estudos do comportamento humano. Sobre isso, a psicóloga Lauriane 
dos Santos ressalta: 
 
5 
 
 
 
A Psicologia Social da Saúde 
 
A psicologia social, tendo como arena de atuação a complexa relação 
entre a esfera individual e a social, tem necessariamente uma vocação 
interdisciplinar, sendo suas fronteiras permeáveis às contribuições de uma 
variedade de outras disciplinas afins (Spink, 2003). “Cabe à psicologia social 
recuperar o indivíduo na intersecção de sua história com a sociedade. 
Abandonar, portanto, a dicotomia indivíduo-sociedade” (Spink, 2003, p. 40). 
A psicologia (social) comunitária utiliza-se do enquadre da psicologia 
social, privilegiando o trabalho com os grupos, buscando colaborar para a 
formação da consciência crítica e “para a construção de uma identidade social e 
individual orientadas por preceitos eticamente humanos” (Freitas, 1996, p. 73). 
Segundo Ronzani & Rodrigues (2006), “a psicologia comunitária constitui 
um importante campo teórico-prático para o trabalho em Atenção Primária à 
Saúde (APS), uma vez que pode possibilitar uma maior aproximação das 
questões de relevância social das comunidades. Costa e Lopez (1989) afirmam 
que é através da atuação da Psicologia Comunitária que programas de saúde 
podem ser aplicados ao âmbito local de cada comunidade. 
A Psicologia da Saúde e a Psicologia Comunitária estabeleceriam, assim, 
uma relação na qual esta última se converteria em um instrumento de 
implementação dos programas que envolvem conceitos da primeira. Seria 
através da Psicologia Comunitária, propõem Costa e López (1989), que os 
programas de saúde se tornariam ágeis e integrados ao tecido social em que os 
processos de saúde, adoecimento e morte se dão, e é justamente nesse nível 
que a intervenção preventiva deveria ocorrer. Entretanto, o que se deve tentar 
obter da comunidade é que a mesma analise e modifique seus comportamentos 
tentando torná-los favoráveis à saúde. Assim, a Psicologia Comunitária seria um 
ponto de ligação entre o sistema de saúde e a comunidade, numa configuração 
dinâmica e móvel. 
6 
 
 
A Psicologia Social da Saúde configura-se como um campo de 
conhecimento e prática que trata das questões psicológicas com enfoque mais 
social, coletivo e comunitáriovoltado para a saúde. Segundo Marín (1995, apud 
Camargo-Borges e Cardoso, 2005), caracteriza-se pela interlocução da 
Psicologia Social – com seus conhecimentos e técnicas – com o âmbito da saúde 
e destaca a interação como ponto fundamental do processo saúde-doença. A 
interação refere-se tanto ao homem e seu ambiente quanto aos diversos atores 
sociais presentes no cuidado com saúde. O autor ainda salienta que todas as 
atividades da Psicologia Social da Saúde centram-se mais na busca de uma 
saúde integral e não somente na saúde mental. 
 
Para Spink (2003), a psicologia social da saúde é como um campo 
ampliado de atuação do psicólogo nas instituições de saúde. Essa ampliação 
ocorreria, principalmente, em relação ao referencial de trabalho utilizado e 
exercido, pois, segundo a autora, a intervenção deve ser contextualizada, ou 
seja, é importante compreender toda a história e o contexto da instituição na qual 
será implementada uma ação, assim como as pessoas que compõem essa 
instituição. Faz-se necessário compreender que cada organização tem sua 
realidade local, sua cultura de relações e as histórias específicas das pessoas 
que recorrem a esses serviços. 
A autora explica o que seria a Psicologia Social da Saúde: A primeira 
característica é o compromisso com os direitos sociais pensado numa ótica 
7 
 
 
coletiva. Foge, portanto, das perspectivas mais tradicionais da psicologia 
voltadas à compreensão e processos individuais ou intra-individuais. Dialoga 
com teorias e autores que pensam as formas de vida e de organização na 
sociedade brasileira contemporânea. Tende a pesquisar e atuar em serviços de 
atenção primária, em contextos comunitários, em problemas de saúde em que 
pesam a prevenção à doença e a promoção da saúde ou onde há necessidade 
de acompanhamento continuado (como as doenças crônicas e a saúde mental). 
Tende ainda a atuar na esfera pública (2003, p. 27). 
Ainda a mesma autora coloca que a Psicologia Social da Saúde tem como 
características principais a atuação centrada em uma perspectiva coletiva e o 
comprometimento com os direitos sociais e com a cidadania. Rompe, portanto, 
com enfoques mais tradicionais centrados no indivíduo. A atuação se dá 
principalmente nos serviços de atenção primária à saúde, focaliza a prevenção 
da doença e a promoção da saúde, e com extrema importância o incentivo dos 
atores sociais envolvidos para a geração de propostas de transformação do 
ambiente em que vivem. Trata-se, portanto, de um processo de transformação 
crítica e democrática que potencializa e fortalece a qualidade de vida (Spink, 
2003). 
A Psicologia Social da Saúde objetiva trabalhar dentro de um modelo mais 
integrado, reconhece a saúde como um fenômeno multidimensional em que 
interagem aspectos biológicos, psicológicos e sociais e caminha para uma 
compreensão mais holística do processo saúde-doença-cuidado. Dessa maneira 
sua inserção na atenção primária pode ser útil para contribuir na transformação 
das práticas em saúde rumo à integralidade (Camargo-Borges e Cardoso, 2005). 
Traz conceitos potentes e propostas de ação que muito se aproximam aos 
pressupostos de trabalho da atenção primária. Vemos que os dois discursos se 
organizam em torno de eixos que apostam na construção do fazer conjunto, 
coletivo e valorizam a localidade e as interações dela decorrentes. 
Os pressupostos da Psicologia Social da Saúde ecoam, nesse modo de 
organização do trabalho, à medida que têm como ponto fundamental também a 
contextualidade e a interação com ações construídas coletivamente a partir das 
imprevisibilidades do cotidiano. Assim, tanto a ESF (estratégia de saúde da 
família) como esse campo da psicologia privilegiam o processo de produção de 
8 
 
 
conhecimento e a construção das intervenções a partir das práticas sociais, dos 
processos interativos e da cultura. A proposta, portanto, é a de que qualquer 
entendimento do processo saúde-doença-cuidado possa ser analisado e referido 
a partir de seu contexto, ou seja, a partir da compreensão de uma pessoa, 
pertencente à determinada família, inserida numa comunidade específica, e 
assim por diante (Camargo-Borges e Cardoso, 2005, p. 30). 
Assim, a Psicologia Social da Saúde viria ao encontro da Atenção Primária 
à Saúde (APS), especificamente do Programa de Saúde da Família (PSF), no 
objetivo de construir um modelo de atenção à saúde pertinente à realidade local 
e gerador de interlocuções entre equipe de saúde e comunidade. Nesse sentido, 
a parceria pode ser útil para pensar discursos, na saúde, que propiciem a 
construção de espaços viabilizadores de acolhimento e a construção do vínculo, 
contribuindo para a reflexão e a problematização dessas práticas que se 
propõem coletivas. 
 
 
 
 
 
A prática do psicólogo na atenção primária 
 
Martinez Calvo (1994) coloca que a promoção de saúde se origina nas 
ciências que se ocupam do comportamento social. 
Se nas propostas da atenção primária objetiva-se trabalhar com 
promoção, o interesse para a psicologia é evidente. As ações promocionais, 
segundo Calatayud, necessitam apoiar-se em conceitos puramente psicológicos, 
tais como: hábitos, atitudes, motivação, interações pessoais e familiares e 
habilidades. Faz algumas recomendações para o trabalho dos psicólogos: 
1) identificar os problemas que requerem atenção prioritária; 
9 
 
 
2) para esta identificação, as informações sobre a comunidade são a fonte 
para a tomada de decisões; 
3) trabalhar em equipe com profissionais de outras disciplinas, 
compartilhando conhecimentos; 
4) estimular a participação dos membros da comunidade, levando em 
conta sua opinião na definição das prioridades e as estratégias, tornando-os 
multiplicadores (Calatayud, 1999). 
Segundo Calatayud (1999), há um conjunto de temas que geralmente 
aparecem como prioritários para a psicologia na atenção primária, “e este caráter 
prioritário se deve ao fato de que são temas que mais afetam o estado de saúde 
das pessoas, os quais se recebem a correta atenção, podem conduzir a 
melhorias importantes na saúde da população (Calatayud, 1999, p. 169). 
Como veremos adiante, cada um destes temas relaciona-se com 
aspectos biológicos, sociais e psicológicos. Estes últimos nos servirão de pauta 
para guiar o trabalho do psicólogo na atenção primária. 
 
1) Saúde Reprodutiva 
 
Alguns problemas que afetam a saúde reprodutiva e podem ser 
abordados pela psicologia: 
- práticas sexuais que conduzem a gravidez indesejada, ou contágio de 
doenças sexualmente transmissíveis; 
- gravidez na adolescência; 
- aborto induzido; 
- comportamento de risco para o bom desenvolvimento da gravidez 
(álcool, drogas, etc.); 
- preparação insuficiente da gestante e da família para os cuidados físicos 
e emocionais do recém-nascido; 
10 
 
 
- insuficiente conhecimento de comportamentos paternos que propiciem 
a satisfação das necessidades psicológicas do bebê no primeiro ano de vida. 
Segundo o autor (op. cit., p. 172), tais questões podem ser trabalhadas 
com grupos para adolescentes, gestantes, grupos com familiares das gestantes, 
grupos com mães a respeito das necessidades do primeiro ano de vida da 
criança, entre outros. 
 
2) Saúde das crianças 
 
Alguns problemas frequentes que afetam as crianças e que podem ser 
abordados pela psicologia: 
- ambiente doméstico prejudicial; 
- maus-tratos à criança; 
- dificuldades de aprendizagem. 
Tais dificuldades podem ser abordadas, segundo Calatayud (1999), 
através de grupos com as crianças, para que elas coloquem suas dificuldades, 
intervenção junto aos familiares, identificação de ambientes familiares 
prejudiciais, entre outros. 
 
3) Adolescentes 
 
Os adolescentes constituem um grupo que abre espaço para várias 
possibilidades de trabalho. Podem ser abordados os seguintes temas, através 
de grupos, palestras, ou, se necessário, individualmente: início da vida sexual,gravidez indesejada, drogas, álcool, dificuldades familiares etc. 
 
4) Idosos 
 
Também os idosos são citados pelo autor como um grupo potencial de 
trabalho. Vários aspectos podem ser abordados. Entre eles: distância dos 
familiares, solidão, morte do cônjuge ou amigos, aumento das limitações físicas, 
tempo ocioso, diminuição da autoestima, depressão etc. 
11 
 
 
Pelo que vimos até o momento, podemos considerar que existem diversos 
pontos em comum entre os princípios norteadores do PSF e aqueles que devem 
também subsidiar o trabalho do psicólogo, como, por exemplo, o atendimento da 
demanda de acordo com as necessidades dos indivíduos (e não de cima para 
baixo); a busca do resgate da autonomia, da autoestima e da cidadania; a ênfase 
na criação de vínculo entre o profissional e o cliente; a valorização dos saberes 
individuais e grupais; o respeito às diferenças; a relação de compromisso e 
corresponsabilidade dos profissionais com os usuários; a visão do humano como 
ser integral e não exclusivamente biológico; a valorização de ações de 
prevenção, promoção e manutenção da saúde, e não somente cura e 
reabilitação; o enfoque centrado nas potencialidades para o crescimento e não 
apenas na erradicação do sintoma ou da doença; a valorização do contexto 
social, histórico, cultural, ambiente familiar e psicológico dos indivíduos, além da 
dimensão orgânica e fisiológica (Soares, 2003). 
A finalidade do PSF, como já visto, é o acompanhamento da clientela, 
dentro do seu contexto sociocultural, de forma a aproximar a família, a 
comunidade e os profissionais, com vistas principalmente à promoção da saúde 
para melhoria da qualidade de vida da população. A inserção do psicólogo na 
equipe de saúde da família também deve visar à promoção da saúde da 
população, no que concerne à atenção para os aspectos psicológicos, tanto em 
termos de prevenção quanto de promoção (Cardoso & Santos, 2000). 
Cardoso (2002, p. 4) aponta como objetivos gerais da atuação do 
psicólogo no PSF, independente da clientela atendida, os de atuar junto à 
comunidade, fornecendo e difundindo informações sobre saúde mental; 
identificar pessoas portadoras de doenças orgânicas crônicas com 
comprometimentos emocionais que demandem assistência psicológica; 
possibilitar espaço terapêutico de trocas de experiências, com vistas ao 
desenvolvimento das potencialidades das pessoas para atender às próprias 
necessidades, proporcionando, além da melhora do quadro clínico, a da sua 
qualidade de vida; atuar junto aos profissionais da equipe do PSF, para integrar 
esforços, estimular a reflexão e a troca de informações sobre a população 
atendida e facilitar a avaliação e a evolução clínica. 
12 
 
 
O psicólogo pode abarcar ainda, além do atendimento individual, 
avaliação da demanda, estudos de caso e o incentivo para facilitação da 
comunicação entre a comunidade e a equipe de saúde, já que muitas vezes os 
pacientes revelam dados nem sempre acessíveis à equipe. O teatro informativo 
pode ser utilizado para fornecer informações sobre o que é a psicologia e o 
trabalho do psicólogo, tais como seus objetivos, a questão do sigilo, a 
composição dos grupos, esclarecimento sobre as concepções errôneas a 
respeito da psicoterapia e do psicólogo. A visita domiciliar é outra atividade que 
auxilia na divulgação do trabalho, ajuda a conhecer um pouco da realidade das 
pessoas atendidas e, quando necessário, a prestar assistência psicológica a 
pacientes impossibilitados de sair de sua residência (Cardoso, 2002, pp. 05-06). 
Dentro desta mesma ideia, Ronzani acrescenta que uma das funções do 
psicólogo pode ser o acolhimento dos novos pacientes, fazendo 
encaminhamentos, quando necessário, intervenção psicossocial, 
desenvolvendo oficinas terapêuticas, atendendo a pacientes graves, fazendo 
visitas domiciliares e proporcionando suporte familiar, especialmente para 
aqueles portadores de transtornos mentais (Ronzani, 2001, p. 40). 
Duran-Gonzáles (1995 apud Ronzani, 2002) apontam que o profissional 
de APS deve estar capacitado para proporcionar mudanças de atitudes da 
população; entrar em contato com indivíduos que possam influenciar 
diretamente nas práticas de saúde da população. O psicólogo então se torna um 
ator importante na medida em que pode promover a participação da comunidade 
no autocuidado e ainda ser o ponto de intersecção entre a população e a equipe 
de saúde. 
 
A atuação do psicólogo em grupos terapêuticos 
 
A vida humana sempre se processou em grupos. Os indivíduos nunca 
deixaram de se transformar, de acordo com as condições – geográficas, 
históricas, técnicas, culturais. Da mesma forma, a ideia que a pessoa tem de si 
mesma, de seu grupo e da relação entre ambos, está sempre se transformando. 
13 
 
 
De acordo com Zimermam (2004), no início de 1948, Bion organizou os 
seus grupos unicamente terapêuticos, a partir dos quais fez importantes 
observações e contribuições que permanecem vigentes e inspiradoras na 
atualidade. Dentre as concepções originais acerca da dinâmica do campo grupal 
vale a pena destacar as seguintes: cultura do grupo, grupo de trabalho (GT), o 
grupo e os mecanismos psicóticos e a contratransferência do grupoterapeuta, 
entre outros. 
Em trabalhos com grupos, de acordo com Bechelli (2005), a atuação do 
psicólogo caracteriza-se em manter o foco na fala do grupo, apoiar os 
participantes que se sentem embaraçados, mediar conflitos e assegurar o 
cumprimento das regras estabelecidas, bem como, promover sentimentos 
positivos que venham a auxiliar em seus processos interpsíquicos e 
interpessoais através de seus comportamentos e reações, facilitando a tomada 
de decisão e certo controle sobre os medos e ansiedades que porventura 
possam surgir na dinâmica grupal. 
 
Desse modo, o psicólogo enquanto facilitador grupal, deve ater-se a uma 
postura criativa, coerente com o grupo, flexível, espontânea, de modo a facilitar 
a interação de seus membros. Tal postura adquire-se através de um profundo 
contato com o aporte teórico de terapias de grupo, e também através das 
vivências grupais, as quais são ricas fontes de experiência e aprendizado. O 
14 
 
 
termo facilitador é utilizado para denominar o profissional que possibilitará que o 
processo do grupo se desenvolva. 
A ideia de agir desse profissional é de que este não irá dirigir ou 
determinar o processo do grupo, mas tão somente proporcionar condições 
facilitadoras para o seu desenvolvimento. O facilitador não tem nenhum 
programa a priori para o grupo, ele não chega com algo pronto e lança para o 
grupo. O que interessa à sua proposta é que as pessoas, as realidades 
existenciais presentes no grupo efetivamente se encontrem, e que os membros 
dos grupos possam se descobrir uns aos outros e a si 
. Neste sentido, o papel do facilitador não será de dirigir o grupo, impor 
regras, ou normas, mas de viabilizar o processo de desenvolvimento do grupo, 
dentro do seu próprio ritmo (MOREIRA, 1999). No âmbito específico do hospital, 
o psicólogo irá atuar de acordo com os pressupostos citados acima, e 
respeitando a especificidade do ambiente; sua atuação terá também 
especificidades próprias. Inicialmente poderá fazer um levantamento nos 
prontuários, buscando visualizar aqueles pacientes que não poderão estar 
presentes devido a impedimentos que o impossibilite, e também visualizar 
aqueles com uma maior demanda emocional (VERONEZE & BENFICA, 2010). 
De acordo com Silva Filho (2006), citado por Veroneze & Benfica (2010), as 
dimensões que englobam a inter-relação entre cultura, sociedade e biologia 
demandam do psicólogo um olhar holístico que busque abranger tais aspectos, 
ultrapassando aquele oriundo de uma única disciplina. 
A atuação do psicólogo em grupos terapêuticos é de fundamental 
importância, pois viabiliza a elaboração psicossocial de seus participantes, 
fortalece sua autoestima, cria vínculos afetivos,diminui a resistência das 
relações interpessoais, possibilitando a expressividade dos mesmos. 
 
Práticas grupais e atenção primária à saúde 
 
Como alternativa à oferta de atendimento na modalidade de psicoterapia 
individual, os espaços grupais de assistência têm sido incentivados na APS. 
15 
 
 
Todavia, em muitos casos, repetem-se, nos grupos, algumas posturas criticadas 
pela filosofia do sistema de saúde. Psicólogos de todo o país mencionam, em 
estudo realizado pelo Conselho Federal de Psicologia, que os grupos realizados 
na APS terminam, muitas vezes, sendo espaço para detecção de doenças e para 
orientação dos usuários sobre como eles devem viver suas vidas para 
manterem-se saudáveis, mantendo-se a tradição de medicalização da saúde. O 
atendimento em grupo é positivamente avaliado pelos psicólogos participantes 
do estudo no que concerne à possibilidade de envolvimento dos usuários e de 
integração com os profissionais de saúde. 
Ferreira Neto e Kind, em seu estudo sobre práticas grupais e promoção 
da saúde, apontam a relevância do investimento em grupos que se distanciem 
do modelo de normatização em saúde, com abertura para o trabalho coletivo. Os 
autores destacam como positivos os grupos que ultrapassam o formato 
educativo e que não trazem orientações prontas sobre como as pessoas devem 
ser ou agir, com pouco espaço para acolher os saberes populares. Em sua 
pesquisa, os referidos pesquisadores perceberam que os grupos com avaliação 
satisfatória de seus coordenadores e participantes são aqueles que foram 
construídos em respostas às demandas locais dos usuários, deixando para 
segundo plano as referências teóricas e técnicas no campo da dinâmica de 
grupo. Muitos profissionais entrevistados afirmaram que estar em grupo com os 
usuários do serviço permite uma maior aproximação com a sua vida cotidiana, 
fortalecendo vínculos instituição-comunidade. Além disso, os entrevistados 
afirmaram que os atendimentos em grupo possibilitam melhor escuta, reflexão e 
diálogo entre profissional e usuário do que ocorre nos atendimentos individuais. 
Outro benefício da proposta de grupos para promoção de saúde é evitar que a 
necessidade de detecção de uma doença seja a única forma das pessoas 
receberem cuidado. Sendo assim, nos grupos, as pessoas não precisam tecer 
narrativas de problemas para terem espaços de acolhimento, suporte, 
convivência e sociabilidade. Por fim, os grupos mais destacados positivamente 
foram aqueles que mantinham uma atitude avaliativa com relação ao seu 
trabalho. 
Importantes questionamentos têm sido levantados sobre a prática grupal 
e APS. O primeiro deles é: como superar o foco na patologia com a proposição 
16 
 
 
de grupos homogêneos? Nessa pergunta, os autores convidam à reflexão sobre 
a composição grupal, mostrando que, muitas vezes, os grupos homogêneos não 
apenas mantêm formatos prescritivos, como servem para diminuir a demanda e 
otimizar os atendimentos. Nesse sentido, a aposta não é no potencial das trocas 
estabelecidas entre coordenador e participantes para co-construção da saúde. 
O atendimento permanece focado em “indivíduos em grupo”, com orientações 
em massa. 
 
 
Outro questionamento é sobre a garantia do potencial participativo em um 
grupo, o que os autores chamam de protagonismo autogestivo dos usuários das 
instituições de saúde. Em seu estudo, os referidos pesquisadores perceberam 
elementos de sujeição nos grupos realizados no âmbito da Estratégia Saúde da 
Família (ESF). Como enfatizam os autores, o termo participação muitas vezes é 
pensado como apenas a postura do coordenador de convidar os usuários a 
falarem sobre os atendimentos oferecidos, em uma atitude paternalista. 
Diferentes graus de co-condução dos grupos na ESF são identificados, com a 
convivência da valorização do saber técnico especializado e a abertura às 
decisões comunitárias. Os coordenadores entrevistados acreditam que as 
17 
 
 
práticas poderiam ser mais participativas, considerando que os usuários têm 
muito a ensinar aos profissionais. Já os usuários mencionaram que participar 
das decisões é importante, mas que também desejam receber informações dos 
profissionais. 
O terceiro questionamento levantando é sobre como evitar uma noção de 
autonomia individualista, ou seja, como evitar que o grupo seja espaço para 
controle sobre a vida das pessoas? O desafio aqui é o reconhecimento do saber 
popular, do empoderamento do usuário e da superação da dependência do 
saber técnico. Por exemplo, alguns psicólogos entrevistados mencionaram ter 
dificuldade em validarem os grupos de convivência e atividades físicas, dando 
maior valor aos grupos com foco na palavra, como as terapias de grupo, ainda 
que a população atendida mencionasse maiores ganhos com outras 
modalidades grupais que, em alguns casos, inclusive, prescindiam da presença 
de um profissional na coordenação. 
 Pensar novas propostas de grupos em saúde a partir desses 
questionamentos pode propiciar práticas grupais em maior consonância com os 
princípios do SUS. Porém, para tanto, algumas tradições em saúde precisam ser 
superadas. 
 
Da necessidade de superação de algumas tradições em saúde 
 
A primeira tradição é a da especialidade profissional, que promove a 
valorização do conhecimento científico especializado em detrimento do 
conhecimento popular. Nessa tradição, o jogo de posicionamento mais comum 
é do profissional de saúde como aquele que detém o conhecimento e poder 
sobre o outro (usuário) e do usuário como alguém passivo frente às decisões 
tomadas que o envolvem. 
Nessa tradição, o diálogo pode ser obstruído quando o profissional 
entende que existe apenas uma verdade sobre o que acontece com o usuário – 
a verdade “científica”, e que, portanto, qualquer entendimento que o usuário tiver 
sobre seu corpo e sua vida que seja distinto da lógica científica deverá ser 
18 
 
 
ignorado ou modificado. Importante ressaltar que não se trata de má intenção do 
profissional, mas de entender que suas ações respondem a discursos em saúde 
que legitimam essa forma de agir como cuidado ao outro. 
 Diferentes discursos sustentam diferentes práticas. A partir do discurso 
construcionista social, saúde é considerada como construção social, portanto, os 
sentidos sobre o que é saúde e como promovê-la, propagados pelos discursos 
científicos, não são tomados como a verdade última sobre como as coisas são, 
mas como produções contextualizadas histórica e socialmente. Aqui, tomamos 
construção social como a matriz na qual a ideia de saúde é formada, incluindo 
discursos, sentidos, instituições e condições materiais de produção. 
A segunda tradição é a da neutralidade afetiva do profissional, que 
entende que seu conhecimento técnico não deve ser influenciado por uma 
proximidade afetiva com o usuário, o que o impediria de formular julgamentos 
isentos e objetivos em relação à atenção oferecida. Na avaliação da promoção 
de práticas dialógicas, entende-se que é justamente a proximidade afetiva entre 
as pessoas que propicia uma escuta genuína. Ao entrevistar usuários e 
coordenadores de grupo, o estudo capturou relatos de como a afetividade 
promovida pelas interações e as aproximações entre profissional e usuário no 
grupo favoreceram a eliminação das estereotipias no relacionamento e 
mudanças na forma de vida – tanto dos usuários como dos profissionais. 
Dada a tradição da neutralidade afetiva e da especialidade profissional, é 
praticamente tabu pensar um atendimento em saúde a partir dos ganhos que ele 
pode oferecer ao profissional. Todavia, quem vive o cotidiano de uma UBS sabe 
a importância que esses encontros afetivos têm para incrementar a sensação de 
potência e a motivação dos profissionais. No diálogo, sentir-se ouvido é uma 
conquista relacional dependente da sensibilidade e do esforço de todos os 
agentes envolvidos na conversação. 
A terceira tradição éa da relação hierarquizada entre profissional e 
usuário, em uma diferença de posições que garantiria o respeito à autoridade 
profissional. Nesse jogo de posicionamentos, o profissional é quem, a priori, 
define as intervenções em saúde a serem implementadas. Ainda que, na 
atualidade, muito se discuta sobre a participação da população na construção 
19 
 
 
das políticas em saúde, com o advento do controle social, a noção de autonomia, 
da forma como muitas vezes é entendida nesse cenário, põe nas mãos do 
profissional a definição sobre quem é ou não autônomo na tomada de decisões 
em saúde. 
Especialmente, considerando-se o atendimento de pessoas 
diagnosticadas com psicopatologias, essa abertura para co-condução do 
tratamento pode ser ainda menor. Não são poucos os desafios enfrentados por 
profissionais para considerarem seriamente como propostas terapêuticas 
alternativas mencionadas pelos usuários, quando elas diferem demais daquilo 
que o profissional aprendeu como o mais eficaz para o caso em questão. A 
polêmica aqui guarda relação com a impossibilidade de convivência de múltiplas 
realidades em saúde, sem que, com isso, se perca a importância do 
conhecimento profissional especializado. 
As propostas propagadas pelas políticas públicas em saúde 
contemporâneas estão na contramão dessas tradições. Elas preconizam a 
horizontalização e humanização das relações profissional-usuário, da 
possibilidade da comunidade participar da construção dessas políticas, via 
controle social. Acreditamos que alguns recursos e ferramentas podem colaborar 
para a construção de condições objetivas para a superação dessas tradições. 
Dentre as alternativas, iremos considerar a potencialização dos processos 
grupais como instrumental para a instauração de uma práxis transformadora. 
 
Recursos e ferramentas para conversas dialógicas 
 
Ao pensarmos práticas grupais, partimos da crítica da noção de grupo, 
propagada tradicionalmente pela literatura psicológica, como grupo-essência ou 
grupo-unidade. Nessa concepção, grupo é tomado tal qual um indivíduo, com 
fenômenos que se repetem no tempo e uma dinâmica particular. Nessa apostila, 
tomamos o grupo como construção social, ou seja, grupo como um processo 
constante de transformação, definido e constituído a partir das práticas 
discursivas que circunscrevem o para que ele serve, como ele deve ser feito, 
quem deve participar e como deve ser o papel do seu coordenador. Por entender 
20 
 
 
grupo dessa maneira optamos, nesta apostila, pelo uso do termo “processo 
grupal” ao invés de “grupo”, para evitar sua essencialização e enfatizar o 
acontecer grupal em constante transformação e redefinição. 
 
 Processos grupais em saúde são espaços de constantes negociações 
entre coordenação e participantes sobre como deve ser esse processo, 
negociações marcadas por circunscritores que incluem aspectos da própria 
instituição e dos sentidos que coordenadores e participantes trazem sobre como 
deve ser um atendimento desse tipo. A perspectiva construcionista social não 
informa uma técnica grupal a ser seguida, mas, a partir de seus pressupostos, 
inspira a criação de recursos e ferramentas que podem ser utilizados na busca 
de conversas dialógicas. Consideramos um processo grupal dialógico aquele no 
qual duas ou mais pessoas se tornam responsivas ao que acontece entre elas 
na conversa, de forma a permitir que a diferença apareça, seja legitimada a partir 
das lógicas discursivas que a sustentam e seja explorada com curiosidade. 
Uma ferramenta interessante é a das conversas preparatórias pré-
processo grupal. Essas conversas foram propostas para participantes que iriam 
iniciar uma terapia de grupo, todavia, tal recurso pode ser exportado para outros 
contextos. Nessas conversas o coordenador propõe que a pessoa antecipe sua 
21 
 
 
participação no espaço grupal pensando sobre o que gostaria de conversar 
nesse espaço e como gostaria que esse processo grupal acontecesse. Entre 
outros aspectos, essas sessões de preparação permitem, segundo os autores, 
antecipar as possíveis dificuldades que o participante imagina que possa 
vivenciar ao estar em relação com os demais participantes, pensando desde 
esse momento inicial em possíveis estratégias para lidar com elas. Permitem 
também que se estabeleçam contratos de coresponsabilização sobre como deve 
ser o processo grupal de forma a atender as expectativas dos participantes. 
Dessa maneira, o participante é tomado como copartícipe tanto dos sucessos 
como dos eventuais fracassos do processo grupal. Outra ferramenta útil para 
proposta de processos grupais é a construção do contexto conversacional, 
que é a construção colaborativa do contrato grupal. 
Nesse contrato são mencionados os aspectos inegociáveis (por exemplo, 
possibilidades de local e horário para o encontro entre as pessoas, número 
máximo de participantes, quem o coordenará, entre outros circunscritores) e 
negociados os aspectos possíveis de serem ajustados (como os objetivos do 
processo grupal, o formato das conversas, os temas que animarão os diálogos, 
entre outros). 
Em cada processo grupal os aspectos inegociáveis serão distintos, 
podendo haver maior ou menor flexibilidade de negociação. Na construção do 
contexto conversacional os participantes são convidados a falarem sobre o que 
precisam para se sentirem confortáveis nos encontros grupais, sobre quais são 
suas expectativas, qual seu papel em relação ao da coordenação e como 
poderão avaliar o êxito do que estão produzindo juntos. 
Um recurso considerado valioso para a promoção de processos grupais 
é a reflexividade, tomada do campo das teorias sobre produção de 
conhecimento, para pensarmos a possibilidade de adoção de uma postura auto-
reflexiva dos coordenadores na condução de práticas grupais. Reflexividade é a 
busca, por parte do coordenador, de avaliar que sentidos sobre o mundo 
sustentam sua prática, quais são os valores, crenças e formas de vida que ele 
prioriza e de que forma essa priorização fala de sua história de socialização, de 
pertença a grupos sociais específicos, de interações ao longo da vida, que vão 
22 
 
 
oferecendo repertórios discursivos específicos para definição de bem-estar e 
oferta de cuidado. 
Uma postura auto-reflexiva permite a delimitação dos potenciais e das 
fragilidades das ações em saúde. A partir da perspectiva construcionista social, 
essa avaliação sobre quem somos, sobre o para quem endereçamos nossas 
ações e sobre os contextos de produção de sentidos não é sinônimo de uma 
análise precisa, verdadeira e final sobre os potenciais e limites da atuação 
profissional, mas a oportunidade de não se perder de vista a especificidade 
histórico-cultural de qualquer proposta de assistência. 
Por fim, outro recurso importante reside na postura apreciativa dos 
coordenadores em relação às qualidades dos usuários. A partir da perspectiva 
construcionista social, práticas discursivas participam da construção de 
realidades, portanto, descrições problemáticas favorecem a produção de 
realidades problemáticas, podendo manter as pessoas em um estado de 
impotência e desânimo em relação à sua situação de vida. A perspectiva 
construcionista social propõe entendermos a identidade como fluida e não 
estável. Essa posição favorece a exploração da multiplicidade de eus que 
constituem as pessoas, de modo a aproveitar cada uma de suas habilidades 
para lidar com diferentes situações. 
Não se está em pauta a pergunta sobre quem são realmente os 
participantes do grupo, pois o real, nesse caso, depende das trocas discursivas 
de definição dos eus dos participantes. A ênfase do coordenador está em quem 
os participantes podem ser, como querem se colocar em suas relações e o que 
querem produzir a partir delas. Especialmente em grupos formados por pessoas 
usualmente descritas nos serviços de saúde a partir de suas doenças, pensaro 
“eu” como múltiplo é apostar que no grupo possam aparecer as versões de si 
capazes de enfrentar desafios, de buscar soluções criativas, de criar bons 
relacionamentos e de se viver a vida de maneira positiva. 
 
Autonomia e dependência na promoção da saúde 
 
23 
 
 
A ação autônoma em saúde, defendida pelos profissionais, pelo Estado e 
pelas agências internacionais, admite diferentes sentidos, desde os mais 
libertários que considerem a complexidade, a riqueza e a potencialidade dos 
seres humanos (SOARES; CAMARGO JR, 2007) a sentidos que reproduzem 
racionalidades na desprofissionalização e desinstitucionalização do cuidado, 
com apelo à ajuda mútua e à solidariedade da população para que esta possa 
resolver seus problemas de saúde (NOGUEIRA, 2003b). 
Desde Kant, o conceito de autonomia, que tem suas raízes históricas na 
cultura política grega, é aplicado ao indivíduo e muitas vezes confunde-se com 
o conceito de liberdade, consistindo na qualidade de um indivíduo de tomar suas 
próprias decisões, com base em sua razão individual (SCRAMM, 1998). 
No sentido kantiano, autonomia reveste-se de uma responsabilidade 
moral de uma elite sobre aqueles acusados de não seguir a norma ou a razão 
(MARTINS, 2004). Do ponto de vista semântico, autonomia é uma palavra grega 
que comporta ao mesmo tempo autos que significa “o mesmo, ele mesmo e por 
si mesmo” e nomos, que significa “uso, lei, convenção, instituição”. Assim, pode 
ser interpretada como a capacidade apresentada pelos homens de se 
autodeterminarem frente uma legislação moral estabelecida pela vontade 
humana. 
Segundo Schramm (1998, p. 4), o sentido geral da palavra autonomia 
indica a capacidade dos homens de se darem suas próprias leis e compartilhá-
las com seus semelhantes ou "a condição de uma pessoa ou de uma 
coletividade, capaz de determinar por ela mesma a lei à qual se submeter". 
Nessa definição, pode-se constatar uma ambiguidade semântica entre a 
referência à esfera individual e à esfera coletiva ou, ainda, entre um conteúdo 
ideal - que indica a capacidade de autodeterminação e de um agente moral ser 
o verdadeiro autor de suas ações - por um lado, e um conteúdo de realidade, por 
outro, consistente no fato de o ser humano estar vinculado a seus semelhantes 
por meio de instituições tais como leis, normas, convenções e usos, legitimadas 
coletivamente (SCHRAMMM 1998, p. 4). Assim, autonomia e heteronomia fazem 
parte de um conjunto complexo cujos elementos são, em princípio, distinguíveis 
e inseparáveis. 
24 
 
 
Telles (1999) admite que a noção de espaço público se qualifica como 
espaço de deliberação conjunta, por meio da qual os homens se tornam 
interessados e responsáveis pelas questões que dizem respeito a um destino 
comum, ou seja, o espaço público se revela e se determina como uma 
comunidade politicamente organizada. Nessa comunidade, é preciso 
estabelecer “regras de convivência”, “leis” que expressam as referências a partir 
das quais cada um pode reconhecer o outro como seu semelhante. Nesse 
sentido, 
 
Nogueira (2003b) explicita que praticamente todas as versões de 
autonomia do sujeito produzidas repetidamente pelos filósofos desde Kant têm 
em comum aquilo que se pode chamar de uma opção pela subjetividade o que, 
em muitos casos, quer dizer liberdade para criar seu próprio futuro com base nas 
escolhas concretas de cada individuo, dispensando, portanto, a referência de um 
conteúdo moral predeterminado. Remete a uma pretensão ética que se tornou 
um princípio ideológico fundamental da modernidade capitalista, assumindo, 
então, o caráter de condição natural: o princípio de independência original, 
natural, dos indivíduos (FLEURY-TEIXEIRA, et al, 2008; NOGUEIRA, 2003b). 
Ante essa concepção cabe problematizar o sentido expresso de 
autonomia como contrário de dependência, ou como liberdade absoluta, 
condição impossível de ser alcançada numa sociedade marcada pelo controle 
social e pela vigilância exercidos pela indústria cultural que produzem uma certa 
forma de ser, de viver, de pensar, de sentir. Nessa sociedade, entendo 
autonomia no sentido expresso por Onocko e Campos (2006), como a 
capacidade do sujeito de lidar com sua rede de dependências, considerando-a 
como componente de um viver em sociedade no qual há constantemente criação 
e reinvenção das formas de socialidade e dos estilos de existência. 
Assim, autonomia e dependência conformam uma oposição recíproca no 
campo das relações sociais e de saúde. Enquanto a primeira, situada no campo 
da moral, invoca ações livres e independentes da população em relação à saúde 
25 
 
 
e as formas de obtê-la, a segunda, situada no campo político, pressupõe uma 
relação de dependência da promoção da saúde para com as formas de 
organização da sociedade. 
Vive-se num mundo onde se divulga a autonomia, mas, no entanto, 
bloqueia-se sua concretização. Os valores contemporâneos têm levado ao 
cerceamento do direito à cidadania, ou seja, o direito de viver a própria vida, 
resguardando-se a individualidade de cada um. O mercado parece ser a 
afirmação viva da liberdade individual e sua teoria e defesa na economia liberal 
são expressões imediatas dessa realidade (FLEURY-TEIXEIRA et al, 2008). 
Assim, a autonomia identifica-se com as relações sociais e todo o 
ordenamento social estabelecido sobre a livre competição entre indivíduos 
naturalmente independentes. O saber médico desenvolveu-se orientado por uma 
versão positiva de saúde com um cunho acentuadamente higienista e vitalista 
em que a saúde é vista como expansão da vitalidade por meio de hábitos sadios, 
exercícios, regimes alimentares, sentimentos positivos (LUZ, 2005). 
A saúde, nesse contexto, torna-se o que Luz (2000, 2005) denomina de 
mandamento, paradigma universal com efeito normalizador, e adquire 
características de uma utopia. Nesse sentido, o esporte, a dança, a alimentação, 
a caminhada, o trabalho podem ser vistos como práticas de saúde ou de riscos 
à saúde dependendo da intenção, da intensidade, da frequência e da quantidade 
com que ocorrem. 
 
Nogueira (2003a) adverte que a promoção, similarmente à disciplina 
clássica da higiene do final do século XIX, constitui um projeto de medicalização 
da totalidade da existência humana e não só da doença. Um projeto de 
medicalização que tem a capacidade de moldar a seus propósitos a cultura 
26 
 
 
contemporânea afetando o modo como as pessoas cuidam de seu corpo e de 
sua saúde. 
Entende-se essa “sanitização” da vida como uma nova forma de 
medicalização social, na qual promover a qualidade de vida e diminuir a 
vulnerabilidade e riscos à saúde tornam-se finalidades das instituições médicas 
e não-médicas que, para contrapor a doença como categoria estratégica, 
assume a saúde como mandamento e como necessidade social (LUZ, 2000, 
2005). 
Esse pensamento sustenta a afirmação de que as construções no campo 
da promoção da saúde carregam um discurso sobre saúde e cuidado que 
impõem uma ordenação à vida: “tem que fazer exercícios físicos”, “não pode 
fumar”, “sexo só com camisinha”, que perpassam as relações na sociedade e 
atuam como mecanismos de “controle social dos corpos” constituindo o poder 
das práticas sanitárias na determinação dos modos de vida. 
Nessa sociedade, a preocupação com a qualidade de vida e a 
concentração de relevância na busca incessante pela saúde contribui para que 
as ações de promoção da saúde sejam reduzidas a um conjunto normativo de 
“novos consumos em saúde” consolidando o que Nogueira (2001) denomina de 
Higiomania. Para o autor, a adoração da saúde, que é também uma mania 
coletiva de saúde, é autonomista, no sentido de que ter saúde está ao alcance 
de todos, desde que sigam a norma correta de estilo de vida, adotem certos 
hábitos e evitem os riscos sobre os quais são advertidos. Entretanto, quando se 
toma como objeto de análise a promoção da saúde, comseu conjunto de ações 
de caráter objetivo e subjetivo, há que se considerar a concepção de autonomia 
que efetivamente é proposta e construída. 
No contexto das sociedades capitalistas neoliberais, essa concepção 
pode carregar uma representação científica e cultural de uma autonomia 
regulada, estimulando a livre escolha segundo a lógica de mercado, e do 
consumo de ações e serviços de sanitização da vida, ao mesmo tempo em que 
diminui a responsabilidade do Estado perante a saúde das populações 
(CZERESNIA, 2003). 
27 
 
 
Assim, promoção da saúde como um campo das práticas sanitárias exige 
repensar o significado da autonomia das pessoas em seus modos de vida. 
Questiona-se a responsabilização dos sujeitos em/por seus processos saúde-
doença, mas sem culpabilizá-los e sem negar o papel do Estado na elaboração 
de políticas e na criação de oportunidades para as escolhas em saúde. 
28 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
Bechelli, Luiz Paulo de C.; Santos, Manoel Antônio dos. O terapeuta na 
psicoterapia de grupo. Rev. Latino-Am. Enfermagem v. 13 nº 2. Ribeirão Preto 
mar./abr. 2005. 
Calatayud, F. M. (1999). Introducion a la psicología de la salud. Havana: 
Editora Paidos. 
Camargo-Borges C, Japur M. Sobre a (não) adesão ao tratamento: 
ampliando sentidos do autocuidado. Texto Contexto-Enf. 2008; 17(1): 64-71. 
Camargo-Borges C, Mishima S, McNamee S. (2008). Da autonomia à 
responsabilidade relacional: explorando novas inteligibilidades para as práticas 
de saúde. Gerais Rev. Interinstitucional Psicol. 2008; 1(1): 8-19. 
Camargo-Borges, C., & Cardoso, C. L. (2005). A psicologia e a estratégia 
saúde da família: Compondo saberes e fazeres. Psicologia e Sociedade, 17 (2), 
26-32. 
Cardoso, C. L. (2002). A inserção do psicólogo no Programa de Saúde da 
Família. Psicologia, Ciência e Profissão, 22 (1), 2-9. 
Cherry, Kendra. Basics of Social Psychology. Verywell. 
Conselho Federal de Psicologia (CFP). Práticas profissionais de 
psicólogos e psicólogas na atenção básica à saúde. Brasília: CFP; 2010. 
Conselho Regional de Psicologia SP – CRPSP. (2016, 11 de abril). Edgar 
Barrero: “Precisamos de uma psicologia latino-americana transformadora”. 
Jornal PSI, (186). Recuperado de http://www.crpsp.org/site/fique-de-olho- -
interna.php?noticia=1187&titulo=Edgar%20Barrero:%20%93Precisamos%20de
%20uma%20psicologia%20latino-americana%20transformadora%94 
Costa, M., & López, E. (1989). Salud Comunitária. Barcelona: Ediciones 
Martínez Roca. 
Czeresnia, D., O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e 
promoção. In: Czeresnia, D., Freitas, C.M. (orgs.) Promoção da saúde: 
conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003, p. 39-54. 
Ferreira Neto JL, Kind L. Promoção da saúde: práticas grupais na 
Estratégia Saúde da Família. São Paulo: Hucitec; Belo Horizonte, MG: Fapemig; 
2011. 
Fleury-Teixeira, P. et al. Autonomia como categoria central no conceito de 
promoção da saúde. Cienc. Saúde Coletiva, v. 13, supl 2, p. 2115-2122, 2008. 
Freitas, M. F. Q. (1996). Psicologia na Comunidade, Psicologia da 
Comunidade e Psicologia Social Comunitária. In R. H. F. Campos (orgs.). 
Psicologia Social e Comunitária: da solidariedade à autonomia. Petrópolis, Rio 
de Janeiro: Vozes, 54-81. 
Luz, M.T. Novos saberes e práticas em Saúde Coletiva: estudos sobre 
racionalidades médicas e atividades corporais. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 2005. 
29 
 
 
Martins, A. Biopolítica: o poder médico e a autonomia do paciente em uma 
nova concepção de saúde. Interface – Comunicação, Saúde, Educ., v. 8, n. 14, 
p. 21-32, 2004. 
McNamee S, Hosking DM. Research and social change: a relational 
constructionist approach. New York/Oxford: Routledge; 2012. 
Moreira, Virginia. Grupo de encontro com mulheres vítimas de violência 
intrafamiliar. Estudos de Psicologia 1999. 
Nogueira, R.P. A saúde pelo avesso. Natal (RN): Editora Seminare, 
2003b. 
Onocko, R.T., Campos, G.W.S. Co-construção de autonomia: o sujeito em 
questão. In: CAMPOS, G.W.S. et al. Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo: 
Hucitec, Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2006. p. 669-688. 
Organização Mundial de Saúde. Carta de Ottawa, aprovada na I 
Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em 1986. 
Regader, Bertrand. ¿Qué es la Psicología Social? Psicología y Mente. 
Ronzani, T. M. & Rodrigues, M. C. (2006). O psicólogo na atenção 
primária à saúde: contribuições, desafios e redirecionamentos. Psicologia, 
Ciência e Profissão, 26 (1), 132-143. 
Ronzani, T. M. (2002). Novas políticas e velhas práticas: um estudo sobre 
identidade de médicos de PSF. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal 
de Minas Gerais, Belo Horizonte. 
Schramm, F. R. A Autonomia Dificil. Bioetica, v. 6, n. 1, p. 27-37, 1998. 
Soares, C. T. (2003). Descobrindo Caminhos: Possibilidades de Atuação 
do Psicólogo no Programa de Saúde da Família. Monografia de conclusão de 
curso, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora. 
Soares, J.C.R.S., CamargO Jr., K.R. A autonomia do paciente no 
processo terapêutico como valor para a saúde. Interface – Comunic, Saúde, 
Educ, v. 11, n. 21, p. 65-78, 2007. 
Spink, M. J. (2003). Psicologia social e saúde: práticas, saberes e 
sentidos. Petrópolis: Vozes. 
Telles, V. S. Direitos Sociais: Afinal do que se Trata? Belo Horizonte: Ed. 
UFMG, 1999.

Continue navegando