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Extensão ou Comunicação

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Extensão ou comunicação
O contexto em que a palavra se encontra delimita um sentido, o termo extensão aplicado primeiramente ao arquitetônico sofreu uma extensão significativa, extensão no sentido de ampliar seu significado, possuindo um sentido especifico em cada área.
No presente estudo, seu significado indica a ação de estender, quem estende, estende alguma coisa a ou até alguém. Saussure caracteriza que a compreensão da significação dos termos depende de uma dinâmica presente na estrutura. Trier desenvolve um conceito de “campos linguísticos” em que existe uma relação estrutural de dependência entre as palavras. Além desses a concepção de campos associativos de Bally onde se estabelecem relações associativas que vão se desdobrando entre os campos significativos dos vários termos, é utilizada na busca das dimensões associativas desse termo extensão.
 Dentro do seu campo associativo esse termo se relaciona com diversos termos que tem semelhança na sua ação, onde o homem aquele que recebe conhecimento, é colocado como coisa, ou seja, não participa do processo de transformação do mundo.
A partir desta analise critica busca-se também o entendimento quanto as intenções educativas, visto que existe uma imposição do extensionista na aceitação das populações rurais sobre seu papel no campo, quando o conceito de extensão tende a domesticação, no sentido de que os camponeses substituam seus conhecimentos diante dos conhecimentos apresentados, uma mudança nas ações de enfrentamento para com a natureza que levara mudanças em seus resultados, que se contrapõe com uma relação educativa. 
Quando o conceito de extensão, inferioriza aquele que recebe, que não caracteriza o papel do extensionista, como educador sua tarefa se assemelha ao conceito de comunicação. Onde o papel do extensionista deve ser esclarecer sobre a problematização, o quanto isso interfere para o camponês e o quanto pode ser resolvido, ajudar no entendimento do homem sobre a questão e permitir que o homem atue sobre ela. 
A extensão educativa, educar e educar-se é uma troca de saberes, entre os que reconhecem que pouco sabem, e tem muito mais para aprender e aqueles que creem não saberem nada e permitem-se aprender algo. 
O trabalho do agrônomo educador, que se dá no domínio do humano, envolve um problema filosófico, não é possível essa reflexão, já que o que a extensão substitui uma forma de conhecimento por outra. A aceitação do conhecimento oferecido deve servir de instrumento para o camponês. 
O homem conhece diferentes formas de relações com o mundo, e é importante a compreensão do conhecimento humano, onde o conhecimento do mundo é visto como algo que se pode absorver e depositar em alguém, desconsiderando que o conhecimento não é único e estático, que se estabelece diferente diante de pessoas, situações e socialização em geral entre os seres vivos. 
O conhecimento não é onde um ser, objeto, recebe o que se impõe simplesmente, é necessário curiosidade e interesse daquele que recebe em função da sua realidade. É uma relação de busca e construção onde o homem só consegue construir enquanto sujeito e não objeto. Quando o sujeito se apropria do aprendido e aplica. Diante do observado onde ainda não existe um conhecimento surge uma opinião ou doxa, ou seja o observado permanece externo ao homem, perceptível porem não existe uma percepção crítica sobre. 
Um homem estabelece uma relação onde não pode se desligar do mundo, através de suas ações sobre ele recebe resultados em troca na sua realidade, através dos processos de transformação que condicionam suas ações. 
Existe uma relação entre os fatos, de forma clara ou não, na percepção de um fato é possível relaciona-los com base na realidade cultural em que se encontra quem os observa.
Culturas magicas, maiorias camponesas da américa latina.
 A percepção mágica, sobre situações reais que incidem sobre o concreto, sobre a realidade, impedem a ação da razão do homem sobre os desafios, os fatos, isto se dá com a relação do homem com o mundo natural e histórico-social. Essa percepção magica tanto leva a perdas para o camponês como obstaculiza o trabalho do extensionista. Existe, contudo, uma base cultural que sustenta a lógica desse pensamento e leva a uma resistência à transformação dessa estrutura. 
Novos elementos observados, são alterados para que tenham base na originalidade, existe uma relação muito próxima entre o camponês e seu mundo natural, onde é pertencente dele mais do que se assemelha com os transformadores. É essa relação de pertencimento que dificulta a compreensão verdadeira dos fatos, onde surge a percepção mágica. 
Quando a observação é feita de uma situação e de seus elementos, de forma admiradora e não aderida, quando existe um potencial criado através da experiencia as fórmulas mágicas são desprezadas. 
Seja doxa ou pensar magico, são formas ingênuas de captação da realidade, formas desarmadas de conhecimento pré-cientifico. Não se pode substituir esse comportamento magico por uma forma em razão para se atuar, tendo a recusa como resposta, pois essa substituição envolve o cultural e sua estrutura social. Diante disso o extensionista deve tentar primeiramente usar a capacitação técnica mostrando e transformando a percepção da realidade, tentar superar o conhecimento sensível que vem da sua estruturação social e percepção magica por um conhecimento que alcance a razão da realidade. 
 A educação popular deve através da problematização das relações do homem com o mundo, do homem com o homem e do homem-mundo, possibilitar que aprofundem sua tomada de consciência da realidade e da razão que pode transformar-se através do desprendimento do homem da parte a qual está preso, e percebe-se como uma totalidade. 
Um equívoco se repete, quando não se percebe que a relação entre técnica e uma aplicação pratica é condicionada histórico-socialmente. 
Para discutir com os camponeses qualquer questão de ordem técnica, é necessário que os camponeses tenham já uma visão sobre, se não é preciso mostrar para que se estabeleça uma, para que o camponês tenha uma visão entre o apresentado e outras dimensões da realidade. Na discussão da erosão por exemplo em que não é apenas um fenômeno natural, e que existe um desafio de ordem cultural. A forma do homem camponês encarar o mundo de forma natural faz com que a percepção seja de certa forma cultural, visto que as respostas que eles atribuem a problemas naturais são respostas com base cultural. 
O termo que se faz necessário agora não é o de extensão, mas sim de conscientização que permite que os indivíduos tenham conhecimento crítico da sua posição no mundo como transformadores, que se coloquem como sujeito. O papel do extensionista vai além da formação técnica desses indivíduos.
Como o homem trabalha e consegue refletir sobre si e sobre sua atividade, sobre as relações, não se estabelece como um ser em adaptação, mas sim em transformação, um ser que toma decisão. Envolve sua relação com o mundo, sua relação sobre ele, ações que se dão em níveis diferentes. Em uma percepção real ou magica, que reflete na nossa compreensão sobre as próprias ações. 
Toda invasão existe o sujeito que invade um espaço histórico-cultural para aplicar outra visão de mundo que vem de um outro espaço histórico-cultural, onde a tentativa é de sobrepor os valores do seu espaço em relação ao outro. Existe uma relação antagônica entre invasor e invadidos. 
O invasor atua e forma que os invadidos pensem estar atuando, os invasores dão a palavra, proíbem a dos invadidos, pensam sobre eles e não com eles, a invasão pressupõe a conquista a manipulação, e para firmar seus objetivos precisam de ações distintas que deem suporte a ela.
Os invadidos são persuadidos a serem objetos da ação do invasor, são passiveis e dóceis, o invasor enche de subprodutos da sua cultura, caracterizando sua conquista.
Não existe organização da cultura invadida, a manipulação explora os indivíduos e os coloca novamente na mesma condição de objeto e não de sujeito estimulando e mantendo a massificação dos indivíduosda cultura invadida, onde não atuam mais como transformadores, não conhecem criticamente sobre suas ações. Agem e reagem em função do invasor. 
Manipulação e conquista são termos da invasão cultural, termos que se relacionam a domesticação. O humanismo não as aceita, este tem como sentido a dialogicidade, onde deve existir e viver-se o diálogo, ou seja, não invadir, não manipular, se empenhar na transformação constante da realidade. 
Mesmo que nem todos os extensionistas, se apropriem e utilizem esse termo de invasão cultural, não se pode ignorar a existência dessa dentro do campo associativo do termo extensão. 
Quando trabalhadores sociais se definem quanto assistencialistas com um sentido educativo, estão se equivocando a menos que tenham optado pela ação de domesticação que já se contradiz ao sentido do extensionista. O trabalhador social deve se reconhecer como parte de um todo com o indivíduo assistido que gerou uma mudança, um resultado e não como o agente da mudança. Os indivíduos assistidos não podem ser objetos da sua ação. 
O extensionista assim como o trabalhador social, precisa manter-se lucido e crítico, não pode estatizar suas técnicas e estender aos indivíduos de forma que invadam sua cultura. 
Existe um argumento utilizado em defesa da invasão cultural onde no geral é caracterizado pela perda de tempo da dialeticidade, onde os resultados são lentos, duvidosos e demorados, isso a tornaria inviável, não estimula a produtividade apesar da capacidade de produzir. 
Essa visão é um tanto quanto pequena, onde o papel do extensionista é visto apenas como o ser capaz de aumentar a produção e produtividade, onde estender o conhecimento a novos indivíduos não se relaciona com a ação desses indivíduos dentro da sua realidade, como ser que transforma e opina, e melhora o mundo e a realidade que vive para ele.
Há ainda a situação de superioridade, onde os agrônomos extensionistas acreditam que não tem nada para aprender e sim somente a ensinar, visto que eles tem um conhecimento científico que os camponeses não tem, ignorando a extensão educativa onde existiria uma troca de saberes, mas não se reconhecem como sabedores de pouco e nem o quanto ou que possam aprender algo com pessoas que tem conhecimento cientifico inferior. 
Afirmam quanto mais ativo seja aquele que deposita e mais passivos e dóceis sejam aqueles que recebem os depósitos, mais conhecimento haverá. Ignorando também que conhecimento não é o que se observa, e sim que além de existir uma curiosidade, é preciso criar entendimento e aplicação.
 Algumas afirmações caracterizam descrença no homem simples, subestima sua capacidade de refletir, levando a crer absolutamente na sua ignorância, para isso é preciso que haja quem os considere assim., Mas os que assim afirmam, se classificam a si mesmos como aqueles que sabem, relativizam a sua própria ignorância visto que absolutizam a ignorância dos outros.
A resistência dos camponeses em relação aos diálogos oferecidos pelos extensionistas estabelecem uma relação que pode gerar essa reação, de afirmações as quais estejam relacionadas a perda de tempo, claro, esses que afirmam não levam em consideração a ação cultural sobre as ações desses camponeses, razões culturais os condicionam assim como razões culturais condicionam os agrônomos extensionistas ao se depararem com a resistência dos camponeses insistirem na invasão cultural. 
A estrutura latifundiária é fechada e obstaculiza a mobilidade social, onde há hierarquia e naturalmente os estratos mais baixos são considerados como inferiores. Isso se estende, quando os que possuem terras são superiores aos que não possuem, quando os que tem conhecimento cientifico são superiores aos que não possuem. Onde as relações pessoais entre essas classes não eliminam a distância social entre eles. 
Neste tipo de relações estruturais, rígidas e verticais, não há lugar realmente para o diálogo. E é nestas relações rígidas e verticais que se vem constituindo historicamente a consciência camponesa, como consciência oprimida. Nenhuma experiência dialógica. Nenhuma experiência de participação. Em grande parte, inseguros de si mesmos. Sem o direito de dizer sua palavra, e apenas com o dever de escutar e obedecer. É natural, assim, que os camponeses apresentem uma atitude quase sempre, ainda que nem sempre, desconfiada com relação àqueles que pretendem dialogar com eles. No fundo, esta atitude é de desconfiança também de si mesmos. Não estão seguros de sua própria capacidade. Introjetam o mito de sua ignorância absoluta. É natural que prefiram não dialogar. 
Com esse comportamento não se pode pensar em aprofundar esse pensamento sobre o não dialogo, para romper o silencio do camponês é necessário um diálogo que problematize o seu silencio e as causas, volta então o papel do extensionista de conscientização, o camponês precisa da consciência critica sobre as estruturas sociais e de como essas estruturas sociais influenciaram a sua posição e ação e o quanto isso reflete nas sua posição e ação agora, apresentar, esclarecer sobre essas situações é importante para o desenvolvimento do pensamento do camponês sobre suas novas ações. O trabalho do extensionista não se esgota, é continuo, vai além do domínio da técnica, pois, a aplicação da técnica precisa do homem, que não exclui sua posição social, histórico-cultural. 
A produção e o aumento é fundamental para a nação, portanto, não pode ser ignorado, mas a produção não existe sozinha e é dependente de diversos fatores, é ingenuidade ignorar o fator produção porem também é ingenuidade ignorar os fatores que influenciam. Depende principalmente do fato homem e o fator homem é influenciado por todos esses aspectos já abordados. O tempo perdido não pode ser um termo utilizado nessa condição. Não há que considerar perdido o tempo do diálogo que, problematizando, critica e, criticando, insere o homem em sua realidade como verdadeiro sujeito da transformação. Ainda quando, para nós, o trabalho do agrônomo-educador se restringisse apenas à esfera do aprendizado de técnicas novas, não haveria como comparar a dialogicidade com a antidialogicidade. Toda demora na primeira, demora simplesmente ilusória, significa um tempo que se ganha em solidez, em segurança, em autoconfiança e Inter confiança que a antidialogicidade não oferece.
Há, indiscutivelmente, um equívoco nestas dúvidas que, como dissemos, quase sempre são afirmações. E o equívoco resulta possivelmente em muitos casos, da incompreensão do que é diálogo, do que é saber, de sua constituição. O que se pretende com o diálogo não é que o educando reconstitua todos os passos dados até hoje na elaboração do saber científico e técnico. Não é que o educando faça adivinhações ou que se entretenha num jogo puramente intelectualista de palavras vazias.
O que se pretende com o diálogo, em qualquer hipótese, é a problematização do próprio conhecimento em sua indiscutível reação com a realidade concreta na qual se gera e sobre a qual incide, para melhor compreendê-la, explicá-la, transformá-la. Se a educação é dialógica, é óbvio que o papel do professor, em qualquer situação, é importante. problematizando-os sempre. Poder-se-á dizer, uma vez mais, que tudo isso requer tempo. Que não há tempo a perder, visto que existe um programa que deve ser cumprido. E, uma vez mais, em nome do tempo que não se deve perder, o que se faz é perder tempo, alienando-se a juventude com um tipo de pensamento formalista, com narrações quase sempre
exclusivamente verbalistas. Narrações cujo conteúdo “dado” deve ser passivamente recebido e memorizado para depois ser repetido.
O diálogo problematizador não depende do conteúdo que vai ser problematizado. Tudo pode ser problematizado. O papel do educador não é o de “encher” o educando de “conhecimento”, de ordem técnica ou não, mas sim o de proporcionar, através da relação dialógica educador educando, a organização de um pensamento correto em ambos.
É importante conhecer a razão além de saber sobre algo, aprender, decorar sem compreender a razão não muda o sere nem o seu pensamento sobre o que se aprende ou se observa.
O que defendemos é precisamente isto, se o conhecimento científico e a elaboração de um pensamento rigoroso não podem prescindir de sua matriz problematizadora, a apreensão deste conhecimento científico e do rigor deste pensamento filosófico não pode prescindir igualmente da problematização que deve ser feita em torno do próprio saber que o educando deve incorporar.
A reforma agrária não é uma questão simplesmente técnica. Envolve, sobretudo, uma decisão política, que é a que efetua e impulsiona as proposições técnicas que, não sendo neutras, implicitam a opção ideológica dos técnicos. Daí que tais proposições, para falar só neste aspecto, tanto possam defender ou negar a presença participante dos camponeses como reais co-responsáveis pelo processo de mudança. Como também possam inclinar-se pelas soluções tecnicistas ou mecanicistas que, aplicadas ao domínio do humano, como, indubitavelmente, o é o domínio em que se verifica a reforma agrária, significam fracassos objetivos ou êxitos aparentes.
“Não são as técnicas, mas sim a conjugação de homens com instrumentos o que transforma uma sociedade.” No processo da reforma agrária, não se deve tomar uma posição exclusivista em relação ao técnico ou ao humano. Toda prática de reforma agrária que conceba estes termos como antagônicos é ingênua.
Na modernização, de caráter puramente mecânico, tecnicista, manipulador, o centro de decisão da mudança não se acha na área em transformação, mas fora dela. A estrutura que se transforma não é sujeito de sua transformação. No desenvolvimento, pelo contrário, o ponto de decisão se encontra no ser que se transforma e seu processo não se verifica mecanicamente. Desta maneira, se bem que todo desenvolvimento seja modernização, nem toda modernização é desenvolvimento.
A reforma agrária deve ser um processo de desenvolvimento do qual resulte necessariamente a modernização dos campos, com a modernização da agricultura. Se tal é a concepção que temos da reforma agrária, a modernização que dela resulte não será fruto de uma passagem mecânica do velho até ela, o que, no fundo, não chegaria a ser propriamente uma passagem, porque seria a superposição do novo ao velho. 
Parece-nos que deve ficar muito claro que, se a transformação da estrutura lati fundista, com a mudança da posse da terra, ao que se segue a aplicação da nova tecnologia, é um fator indiscutível de mudança na percepção do mundo dos camponeses, isto não quer dizer que se prescinda da ação também sobre o quadro cultural.
Em última análise, a reforma agrária, como um processo global, não pode limitar-se à ação unilateral no domínio das técnicas de produção, de comercialização, mas, pelo contrário, deve unir este esforço indispensável a outro igualmente imprescindível: o da transformação cultural, intencional, sistematizada, programada.
É urgente que nos defendamos da concepção mecanicista. Em sua ingenuidade e estreiteza de visão, tende a desprezar a contribuição fundamental de outros setores do saber. Tende a se tornar rígida e burocrática.
Falar a um tecnicista da necessidade de sociólogos, de antropólogos, de psicólogos sociais, de pedagogos, no processo de reforma agrária, é algo que já provoca um olhar de desconfiança. Falar-lhe da necessidade de estudos na área da antropologia filosófica e da linguística já é então um escândalo que deve ser reprimido.

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