Buscar

o sono

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O Sono, destacando o sonho o ritmo biológico e a insônia, Revista Psicofisiologia, mongrafia, orientação: Prof.Fernando Pimentel-Souza, alunos: Ana Letícia Martins Ballalai, Cláudia Luciana de Oliveira Motta, Elis Regina Martins Souza, Janaína Marques da Silva, Luciana Vieira de Lima, Patrícia Catta Preta Guatimusin e Regina Coeli Alves Pinto Bastos.
1) I N T R O D U Ç Ã O 
Partindo da constatação de que a quase totalidade dos seres humanos dormem todos os dias cerca de UM TERÇO DO TEMPO, se sugere que o sono deve satisfazer uma necessidade biológica básica do organismo humano. A privação dos sonos, sobretudo dos sonhos, pode provocar efeitos tais como: 
· perda de eficiência no funcionamento mental e físico, 
· irritabilidade e descontrole emocional, 
· tendências para distorção perceptiva, 
· confusão ideacional. 
O sono pode ser desencadeado desde a encefalite letárgica até a estimulação de uma região talâmica. Mas, foi a partir da descoberta dos movimentos oculares rápidos (MOR) (Aserinsky e Kleitman, 1953) que se pôde estabelecer uma caracterização nítida da fisiologia e patologia do sono. O estágio MOR e os estágios, em que não há movimentos oculares rápidos (NMOR) se mostraram monitoráveis pelo eletroencefalograma (EEG) e abriram a possibilidade de analisar o sono. 
A fase NMOR se divide em quatro estágios, onde progressivamente há a lentificação da onda cerebral pelas supressões da estimulação externa e pela predominância de ondas provenientes da ressonância de circuitos cerebrais. O sono MOR é a fase onde ocorrem a maioria das experiências oníricas. No recem nascido (RN) e na criança pequena há elevada quota de sono equivalente ao MOR dos adultos, levando à suposição de que esses períodos seriam importantes para aprendizagem do RN, mas se passa como uma parte da maturação cerebral. 
Considerou-se por muito tempo o sono como um fenômeno passivo, chegando até compará-lo à morte. Mas, o sono, particularmente o sonho, é um fenômeno ativo. Nele ocorre uma mudança de atividades, onde se selecionam as informações que são importantes para o dia procedente e se descartam as inúteis, que saturam o cérebro. O desencadear e a estrutura do sono é regulado pelo ritmo biológico. Atua no desenvolvimento humano, influi nos sonhos, nas funções cardiovasculares, nas mudanças respiratórias, na temperatura etc. Somente agora, cinquenta anos depois de aprender que o cérebro trabalha muito durante o sono, a medicina descobriu que enquanto a pessoa dorme sua mente está se preparando para enfrentar o novo dia. Até bem pouco tempo a insônia e outros distúrbios eram subestimados. 
1.1)Monitoração eletrofisiológica, 1.2)O cérebro é um meio elétrico continuamente em atividade (Foulkes, 1989). 
No sonho é aumentada a freqüência de descarga de neurônios em áreas estratégicas das funções mentais e psicológicas. Os primeiros registros de EEG feitos em uma noite inteira de sono na Universidade de Chicago (Aserinsky & Kleitman, 1953) revelaram que havia um padrão cíclico de quatro estágios de atividades diferentes e tem correlações com variáveis fisiológicas. Estes quatro estágios são (Reimão,1990):
a) Entre os sonos de onda lenta se distinguem:
·           Estágio 1, "sonolência": movimentos oculares vagarosos ou uma quietude quase total. É observado logo após a vigília e tem a duração de poucos minutos. MOR nunca é observado neste estágio. O ritmo alfa da vigília diminui sua amplitude, torna-se descontínuo e é substituído por atividade de baixa freqüência. O tônus muscular fica um pouco menor que durante a vigília. 
·           Estágio 2: ausência de qualquer estimulação exterior claramente definida. É caracterizado pela presença de complexos K e fusos de sono, e pela ausência de ondas alfa de vigília. Os complexos K são uma onda bifásica que podem ocorrer espontaneamente ou relacionar-se às relações de despertar. O estágio dois parece ser intermediário, pois possui ausência das ondas de vigília assim como das ondas delta, que definem os estágios de sono mais profundos. 
·           Estágio 3 e 4: ambos contem considerável atividade de onda delta, apesar de no estágio 3 ainda se registrar presença de fuso. Estes dois estágios não possuem atividade ocular, que é um pouco influenciada pela atividade de onda cerebral.
b) Sono de onda rápida, MOR ou paradoxal.
       O EEG torna-se subitamente mais rápido, acompanhando a progressão no ciclo do sono, verificando-se adicionalmente agrupamentos especiais como fuso de sono e complexos K. Nessa fase o limiar de despertar é muito alto. Há ausência de regularidade no EEG, significando que a descarga de células adjacentes não é sincrônica e a amplitude baixa. Os movimentos oculares predominam na direção horizontal, coincidindo com a maioria dos movimentos quando acordados. A transição do sono MOR para o estágio 1 do sono NMOR não é brusca e ocorre de forma progressiva
 c) Variáveis viscerais.
 O sistema nervoso autônomo (SNA) durante o sono apresentou relação com os ciclos do sono no E
Ritmo cardíaco: há um decrescimento do ritmo cardíaco no decurso duma noite de sono. Também há uma tendência do ritmo cardíaco aumentar uma média de 5% durante os períodos MOR, comparativamente ao ritmo cardíaco durante os episódio precedentes do sono NMOR. Esse aumento não pode ser atribuído a quaisquer mudanças de motilidade corporal, pelo contrário o relaxamento muscular é mais profundo. 
Pressão sanguínea: a tendência básica é que a pressão sanguínea sistólica tem uma queda inicial seguida de uma elevação que se mantém no restante do período de sono.
Respiração: declínio global do ritmo respiratório no decurso de uma noite de sono, mas também o valor médio aumenta nos períodos MOR. 
Resistência elétrica da pele: é a resistência da pele que aumenta, no começo do sono, e continua continuamente, embora mais rápido durante o resto da noite, indicando uma diminuição da ação do SNA simpático quando dormindo. 
Temperatura do corpo: Como o sono é um estado de relativa inatividade, a temperatura do corpo é mais baixa durante o sono que no estado de vigília. 
Resposta sexual periférica: Nos adultos masculinos ocorrem geralmente ereções e maior vascularização na genitália feminina na fase MOR. 
Ontogênese: durante o sono há um processo de maturação, principalmente a fase "MOR". Com a idade o tempo dedicado ao sono diminui na mesma medida que o tempo de vigília aumenta, apesar que possa ser um indício patológico condicionado. Bebês têm mais fases MOR do que os adultos e estes têm mais fases MOR que os idosos.
2) S O N O   e  V I G Í L I A, 2.1) Ritmos circadianos.
Variações em geral estão acopladas à periodicidade de 24 horas da rotação da Terra, de forma que muitas vezes se chegou a pensar que a periodicidade animal e humana seria uma reação passiva do organismo à periodicidade do meio ambiente. Experiências mostraram, porém, que essa periodicidade continua após a exclusão de todos os fatores do meio ambiente. A causa dessa periodicidade não é o meio ambiente e sim processos endógenos próprios do cérebro, certamente interiorizadas ao longo da evolução. O conjunto desses processos chama-se de relógio biológico. O organismo, então desenvolveu um processo endógeno de tal forma que sua periodicidade se aproxima à do meio ambiente, produzindo relativa adaptação no domínio temporal.
       Portanto, o ritmo endógeno é autônomo, capaz de oscilar por si mesmo. Se o organismo for isolado e colocado sob condições constantes artificiais, o período do ritmo biológico desvia-se ligeiramente daquele fornecido pelo meio ambiente, mostrando que o ritmo tem sua própria periodicidade. O ritmo circadiano é sincronizado com a periodicidade das 24 horas do dia através dos sincronizadores de tempo externos. O mais potente destes sincronizadores é o ciclo dia-noite, mas hoje no mundo moderno há muita interferência com a iluminação artificial, luz-escuro. Outros importantes fatores sincronizadores são: as condições sociais, barulho e temperatura.
       O primeiro substrato anatômico e funcional do ritmo biológico a ser identificadofoi o núcleo supra-quiasmático, que se localiza na base do cérebro. Posteriormente evidenciaram-se a presença de outros relógios biológicos. Ao se extrair o núcleo supra-quiasmático em animais e em humanos submetidos ao isolamento tem se demonstrado a dessincronização de dois grupos de funções rítmicas; um grupo que acompanha o ciclo sono-vigília e o outro acoplado ao ritmo circadiano da temperatura corporal. Por exemplo, em um indivíduo em condições constantes de isolamento, seus ritmos circadianos mudam de 24 horas para uma média de 25 horas. Entretanto, funções vegetativas como a temperatura corporal e a secreção de cortisol não seguem um ciclo de 32 horas, que parece estar localizado nos núcleos ventromediais e na área lateral hipotalâmicos (Cipolla-Neto et al, 1988).
       Hoje em dia, milhões de pessoas estão sujeitas a mudanças rápidas nos indicadores ambientais que mostram a passagem de tempo, ou por estarem viajando cruzando meridianos ou por trabalharem, em horários de turnos. As consequencias médicas destas mudanças podem ser classificadas em: os produzidos de forma transitória e os produzidos de forma crônica.
       Alguns distúrbios transitórios do sono e da vigília podem estar associados a mudanças abruptas dos sincronizadores exógenos, por exemplo: uma viagem transmeridiana. A síndrome de mudança rápida do fuso horário se caracteriza por sonolência diurna, insônia com dificuldade de dormir no novo horário e queda do desempenho nas diversas tarefas mentais e físicas. Se estas mudanças ocorrem de forma sistemática, os sintomas se agravariam a ponto de ter risco de várias doenças como distúrbios neurológicos, sonolência excessiva e/ou insônia, problemas cardiovasculares e gastrintestinais.
2.2) Ritmos biológicos e o Desempenho humano no Trabalho. 
 A mais importante contribuição da cronobiologia é a noção de variabilidade das funções biológicos e comportamentais ao longo das vinte e quatro horas do dia, o que faz com que os trabalhadores respondam ou tendam a responder diferentemente a uma mesma situação de trabalho conforme o momento do dia em que ela ocorra.
       Não devemos esquecer que a situação real de trabalho não é um terreno de experimentação em que se podem isolar todas as variáveis que influenciam a atividade do trabalhador. A interação entre vários membros de uma equipe de trabalho pode funcionar como modulador dos ritmos circadianos individuais. O trabalhador está colocando em jogo seu organismo como um todo, pois não há nenhuma tarefa que seja exclusivamente mental ou física. As empresas não podem admitir, do ponto de vista econômico, grandes flutuações na sua produção e, portanto, na sua produtividade, e para isto dispõem de poderosos mecanismos de controle que limitam possíveis flutuações no desempenho. Assim, podemos entender infelizmente porque medidas diretas do desempenho, vistas como resultados quantitativos de tarefas, nem sempre são indicadores fiéis das variações fisiológicas circadianas e de adaptação dos trabalhadores às suas funções.
       Para garantir um bom desempenho, os operadores modificam sua atividade e sua estratégia de trabalho a fim de ajustar as exigências da tarefa à sua capacidade funcional momentânea e que isto se faz à custo de um esforço adicional. Em muitos casos os trabalhadores atingem um nível de carga de trabalho elevado sem que haja variação no desempenho. Se isto já é verdade de dia, à noite, por causa da redução das aptidões humanas e da menor tolerância a exigências da situação, os operadores devem realizar um esforço suplementar para fazer um mesmo trabalho. As consequencias devem ser procuradas ao nível dos trabalhadores e não apenas ao nível da produtividade. Observam-se as condições "espontâneas" dos sujeitos em situação de trabalho, que, utilizando como indicadores comportamentais a atividade locomotora ou postural, as comunicações verbais, a movimentação ocular ou a direção de olhares, constataram não só uma redução da atividade no período noturno e máximo à tarde. Concluíram, assim, que os operadores descobrem estratégias de trabalho que satisfazem melhor o seu estado num dado momento, em resposta às variações circadianas de seu estado funcional.
       A noção de variabilidade do estado funcional dos trabalhadores em função do tempo é diametralmente oposta à concepção dos organizadores do trabalho tradicionais, que se baseiam na suposição de uma grande estabilidade, tanto dos elementos técnicos da produção como dos elementos humanos. Assim, pode-se dizer que as formas de organização temporal do trabalho não levam em conta a variabilidade rítmica circadiana nos indivíduos e prejuízos saúde dos trabalhadores. Definitivamente não se pode exigir um mesmo nível de produtividade em qualquer tarefa e para qualquer trabalho, pois os indivíduos se encontram em estados funcionais diferentes durante o dia. Em alguns momentos podem estar sujeitos a exigências superiores a sua capacidade de resolvê-las e, em outros, inferiores. Outra conclusão importante diz respeito à concepção dos sistemas produtivos que deveriam deixar aos operadores a possibilidade de alterar seus procedimentos de trabalho em função de suas capacidades funcionais. A inflexibilidade de procedimentos operatórios, como prescreve a organização tradicional do trabalho, deve ser evitada.
       Quanto a organização do trabalho em turnos, a cronobiologia interpreta os prejuízos causados como decorrentes de uma desordem temporal do organismo. É unânime a constatação de que o trabalho noturno, seja ele fixo ou alternante com o trabalho diurno é prejudicial à saúde. Portanto, muitas precauções devem ser tomadas para evitar problemas pessoais e das firmas (Rutenfranz et al, 1989).
       O homem é um ser essencialmente diurno e isto significa que toda a sua ordem temporal interna lhe permite um funcionamento diferencial entre o período do dia, concentram-se acordados e conscientes do meio externo, e o período da noite, dedicado em sua maior parte ao sono e a uma consciência íntima. Esta ordem temporal interna é resultante da influência de fatores endógenos, os marca-passos ou osciladores centrais, e de fatores ambientais, os sincronizadores. Diferentemente das outras espécies, para o homem estes sincronizadores naturais não têm um papel tão predominante, pela enorme relevância dos sincronizadores sociais modernos.
       A ampliação dos processos contínuos de produção nas sociedades modernas, principalmente os relacionados com a automatização, tem desrespeitado os horários tradicionais da sociedade e criado para os indivíduos, que neles trabalham, situações em que seus horários de trabalho entram em contradição com os horários socialmente estabelecidos. Quando um trabalhador é submetido a um horário de trabalho noturno, isto é, há um sincronizador cuja fase está invertida em relação aos demais sincronizadores sociais e consequentemente é obrigado a dormir no período diurno, ele sofre influências de fatores como: os horários de trabalho invertidos, enquanto a vida social continua ocorrendo nos horários-padrão, a sociedade, a família etc; e acresce que os diversos ritmos circadianos não são os mesmos. Por exemplo, quanto ao ritmo vigília/sono, a resposta a alguns testes de desempenho, do nível de adrenalina no sangue e o volume urinário se incluem dentre aqueles que se ajustam rapidamente. Já o ritmo da temperatura central, o sono paradoxal, a taxa urinária do 17 hidroxicorticosteróide se adaptam lentamente no decorrer de vários dias. A desordem corporal, causada pelo conflito de sincronizadores e a inércia do sistema circadiano, é suficientemente pronunciada para processar novo ajustamento quando o trabalhador retornar ao turno diurno após um período de trabalho noturno. Prova disso é que a primeira noite de sono noturno após um período de sonos diurnos não apresenta todas as características de um sono de recuperação.
       Existem, ainda, diferenças interindividuais em relação organização da ritmicidade circadiana: os chamados tipos vespertinos e matutinos, com preferênciasopostas quanto aos horários de atividade e repouso, reagem diferentemente ao trabalho em turnos. Também a idade influencia. Sabe-se, por exemplo, que a amplitude da oscilação dos marca-passos endógenos é significativamente reduzida nos mais idosos em relação aos jovens e que o mínimo circadiano da temperatura corporal ocorre mais cedo nos idosos (4:22 h +/- 20 min) do que nos jovens (6:42 h +/- 45 min).
       As rotações com sentido horário, isto é, manhã > tarde > noite, são mais facilmente tolerados que as rotações inversas (noite > tarde > manhã), provavelmente porque é mais fácil de se ajustar a um atraso de fase do que a um adiantamento, uma vez que os períodos endógenos nos ritmos circadianos humanos são superiores a 24 h. As chamadas rotações curtas (2 ou 3 dias em cada turno) também têm sido recomendadas em relação às rotações longas (superiores a 4 dias). Isto se explica através de 2 raciocínios: o primeiro é limitar o déficit de sono quando dos turnos noturnos e o segundo pressupõe que rotações curtas não dariam tempo ao organismo para se ajustar a um horário diferente e, portanto, perturbariam menos a ordem temporal interna.
       Entre as queixas mais frequentes dos indivíduos que trabalham em turnos estão os problemas do sono. Os trabalhadores queixam-se de dificuldades de dormir durante o dia, sono curtos, interrompidos, não reparadores, ou não nutritivos como dizem os turnistas, e de dificuldades em se manter acordados durante o turno da noite principalmente entre as 3 e 4 horas da madrugada. As estratégias utilizadas para combater estes efeitos são variadas, mas todas de eficácia reduzida. Relatam-se casos de trabalhadores que misturam café com coca-cola para combater a sonolência no turno da noite e se utilizam de bebidas alcoólicas para facilitar o sono diurno.
       As perturbações do sono desses trabalhadores ocorrem frente às alterações do ritmo circadiano de sono e vigília, decorrentes das mudanças periódicas dos horários de trabalho. Alguns distúrbios do sono e da vigília podem estar associados a mudanças abruptas dos sincronizadores exógenos quando, por exemplo, de uma viagem transmeridiana, chamada de síndrome de mudança rápida de fuso horário ou "jat leg", de uma mudança transitória do horário de trabalho, trabalho noturno eventual, ou ainda, quando da implantação ou retirada do horário de verão.
       Aparentemente o ciclo de vigília/sono consegue acompanhar as mudanças de fase impostas pelas mudanças nos horários de trabalho com relativa dificuldade, isto é, os trabalhadores deslocam o seu horário de deitar e de levantar conforme seu horário de trabalho. Porém, este deslocamento não significa que a estrutura interna do sono se tenha ajustado porque todas as características do sono/hora de dormir, de acordar, aparecimento do primeiro episódio do sono paradoxal etc estão relacionados com as flutuações circadianas de outras variáveis, como a temperatura, que, no caso do trabalhador em turnos, estão bem defasados.
       Em trabalhadores em turnos o que se vê é que os episódios de sono diurno, principalmente os primeiros, além de terem uma menor duração, não apresentam uma estrutura temporal típica dos diferentes estágios do sono, nem mantém a proporção normal destes estágios entre si, ou seja, nota-se que o retardo para entrar em sono MOR é menor e que a duração do primeiro episódio do sono MOR é maior que os subseqüentes, além disso, a incidência do sono profundo diminui, aumentando as incidências dos estágios 2 e 1, além dos episódios de vigília intercalados. Desta forma, do ponto de vista fisiológico, o sono diurno não é equivalente ao sono noturno. Realmente o sono diurno dos trabalhadores em turnos é qualitativa e quantitativamente deficiente fazendo com que esta população sofra cronicamente de privação de sono, o que tem repercussões sérias por toda a vida.
       Alguns exemplos de consequencias do esquema de turnos são: sonolência, insônia com dificuldade de dormir na hora do novo sincronizador social, distúrbios gastrointestinais eventuais, gastrite e úlcera péptica, falta de apetite e/ou sensação de fome, queda do desempenho nas mais diversas tarefas físicas e mentais, queixas de desordem psiquiátrica e cardiovasculares, hipertensão e enfarte do miocárdio. Recentemente, um estudo sueco sobre as influências dos ambientes de trabalho nas doenças cardiovasculares mostrou alguma relação entre patologias cardíacas esquêmicas com o trabalho em turnos. Outros estudos têm-se centrado nas repercussões do trabalho em turnos na vida social e familiar dos trabalhadores. Os horários de trabalho em turno diferentes dos seguidos pela maioria da população e permanentemente em mudança causam uma série de desencontros, perturbando a participação em atividades sociais organizadas como o estudo, a militância em associações culturais ou políticas e na vida familiar. O contacto com inúmeros trabalhadores em turno em diferentes sistemas e em diferentes profissões, tem mostrado como é difícil para eles integrar-se na vida social da comunidade e como é penoso sentir-se marginalizado.
       Comparando taxas de mortalidade entre trabalhadores exercendo profissões semelhantes no setor gráfico, mostraram que, entre trabalhadores noturnos a mortalidade era mais precoce do que os trabalhadores diurnos. Não se pode afirmar com certeza que o trabalho em turnos fosse o responsável pelos resultados, mas é um dos fatores a serem levados em conta.
3) Transtornos do sono. 
    A vida moderna com seus avanços tecno-científicos trouxe muitas facilidades ao homem, computadores, Internet, vídeo-conferência, telefonia celular, laser, TV a cabo e outras novidades. O outro lado dessa moeda é que esse mesmo homem sofre de problemas advindos dessa vida corrida, sem tempo, como por exemplo: o estresse pelo excesso de informação, o aumento dos casos de depressão e como não poderia deixar de ser, os distúrbios do sono.
   Grande parte das pessoas apresentam ocasionalmente, problemas para dormir devido a preocupações financeiras, no trabalho, na escola, ansiedade, dores, mudança de vida e sobretudo pelo desemprego, que tanto aflige o Primeiro Mundo quanto o Terceiro. No entanto, em algumas pessoas esses problemas tornam-se crônicos, trazendo consequencias graves para o seu comportamento e a sua qualidade de vida.
   Segundo a American Sleep Disorder Association (ASDA, 1990) os transtornos do sono podem ser divididos em:  
3.1) Dissonias são transtornos que causam ou insônia ou sonolência excessiva. Neste grupo são incluídos os transtornos primários do sono: intrínsecos e extrínsecos ou transtornos relacionados ao ciclo circadiano.
       1.1) Transtornos intrínsecos do sono: são definidos como transtornos primários que se originam ou se desenvolvem "dentro do organismo" ou são devidos a causas internas.
               - lnsônia psicofisiológica: caracteriza-se principalmente por dificuldades em iniciar o sono devido a dois fatores que mutuamente se reforçam: tensão somatizada e condicionamentos negativos aprendidos em relação ao sono.
               -lnsônia idiopática: é definida como incapacidade crônica em obter sono suficiente, provavelmente devido a uma anormalidade dos sistemas neuronais que controlam o ciclo sono/vigília.
       Os transtornos intrínsecos iniciam na infância ou antes da puberdade e persistem durante a vida adulta. As pessoas apresentam irritabilidade, transtornos de atenção, fadiga e, às vezes, sonolência excessiva.
       1.2) Transtornos extrínsecos do sono:
 se originam ou se desenvolvem devido a fatores externos ao organismo, cuja remoção acarreta no desaparecimento do problema. A queixa pode ser tanto de insônia quanto de sonolência excessiva. Os transtornos incluem higiene de sono inadequada, fatores ambientais como ruídos excessivos, altas temperaturas. Além de privação de sono há também transtornos de sono situacional que ocorre em períodos de estresse, morte de ente querido, exames escolares etc.
   Nos transtornos do sono dos ritmos circadianos há um desalinhamento entreos padrões de sono do paciente e os esperados pelos hábitos sociais. Dentro deste grupo incluem-se mudanças de fuso horário, trabalhos em turnos com padrão incompatíveis com o ciclo de sono/vigília, síndrome de atraso e avanço da fase do sono.
3.2) Parassonias são definidas como transtornos que não são anormalidades dos processos responsáveis pelos estados de sono e vigília por si, mas sim problemas orgânicos indesejáveis que ocorrem predominantemente durante o sono.
·           Síndrome de apnéia do sono é definida como uma cessação da passagem de ar pelas vias aéreas superiores, com duração de pelo menos 10 segundos. As hipopnéias de sono quando ocorre uma diminuição da passagem de fluxo aéreo pelas vias superiores. Devido a similaridade e da mesma classificação das apnéias, é empregado o termo "apnéia do sono" referindo-se às duas condições. As apnéias do sono podem levar tanto à queixa de insônia como a sonolência excessiva.
·          Transtornos dos movimentos periódicos dos membros, repetitivos, altamente estereotipados, em especial dos membros inferiores e que ocorrem predominantemente durante o sono. Os movimentos geralmente são acompanhados por despertares que podem ser breves ou prolongados, a queixa do paciente tanto pode ser de insônia intermediária, sono pouco reparadora ou sonolência excessiva.
·          Síndrome de pernas inquietas se caracteriza por sensações desagradáveis nas pernas, geralmente antes do início do sono, levando a pessoa a uma necessidade incontrolável de mexê-las.
·          Narcolepsia é sonolência excessiva associada a cataplexia, perda súbita da tensão muscular, e outros fenômenos do sono MOR como alucinações hipnagógicas, experiências de percepção vívida ocorrendo na transição sono/vigília acompanhada por intenso medo, às vezes com a impressão da presença de terceiros no ambiente. A pessoa não consegue evitar o sono e adormece seja quando dirigindo, conversando ou em outras situações quaisquer.
·          Hipersonia idiopática tem origem presumivelmente em alguma disfunção do SNC, caracterizando-se por sonolência excessiva diurna, com cochilos prolongados e quase sempre reparadores, sendo que o sono noturno em geral é longo, sem queixa de despertares à noite. Muitos pacientes, apresentam grande dificuldade para despertar pela manhã, ficando confusos e apresentando atitudes agressivas. A sonolência excessiva aumenta diversos riscos de acidentes graves, podendo surgir transtornos psicológicos que levam a sérias dificuldades no relacionamento pessoal e profissional.
·          Transtorno comportamental de sono MOR se caracteriza por ausência de atonia muscular em sono MOR com atividades motoras elaboradas associadas. Os pacientes apresentam os mais variados comportamentos, por vezes violentos, com ferimentos que podem ser severos e até mesmo chegar à agressão física do(a) companheiro(a). Quando despertados, os pacientes relatam sonhos, na maioria dos casos apavorantes.
·           Sonambulismo consiste numa sequencia de comportamentos complexos como: sentar-se na cama, olhos abertos, pouco contato com o ambiente. A pessoa pode levantar e caminhar até o banheiro. Amnésia ao despertar. Surge a partir dos estágios 3 e 4, no primeiro terço da noite. Podem durar de menos de um minuto a mais de 30 minutos. Admite-se que o sonambulismo se inicie mais freqüentemente no infância entre 5 e 10 anos de idade, podendo ocorrer em qualquer idade.
·          Terror noturno geralmente se inicia em pré-escolares e pode ocorrer por toda a infância. Ocorre em menor percentagem em adultos, por isso nossa caracterização será feita com criança. Os episódios de terror noturno geralmente ocorrem no primeiro terço da noite e se manifestam de maneira alarmante. A criança, que estava dormindo calmamente, senta-se de maneira abrupta no leito e grita intensamente. Quando despertada, durante este episódio, a criança não recorda o ocorrido. Nos casos em que há lembrança de algum conteúdo, este geralmente não é complexo, mas sim fragmentado, por exemplo: a imagem de alguém estranho entrando no quarto. Estes episódios duram geralmente menos de 30 segundos, podendo chegar a 20 min. Após os mesmos, a criança volta a dormir calmamente.
·          Bruxismo se caracteriza por um ranger de dentes durante o sono por contrações rítmicas do músculo masséter e de outros músculos da região oral. O ranger de dentes durante o sono pede ocorrer em qualquer idade, mas atinge seu pico na infância e adolescência. Dos 3 aos 10 anos de idade observamos que cerca de 1/3 das crianças apresentam este comportamento de maneira esporádica. O bruxismo ocorre primariamente no estágio 2 e nas transições entre estágios. Quando se inicia a partir dos estágios 3 e 4 pode ser o ritmo alfa entremeado com traços de estágios profundos.
·          Pesadelo é um episódio em que ocorre mais no sono NMOR, onde não há relaxamento muscular suficiente, ou no sonho, demonstrando ansiedade. No sono MOR surge geralmente a partir do terço final da noite e pede seguir-se de despertar completo. Podem ser encontrados durante os cochilos diurnos que durem mais de uma hora. Caso ocorram com freqüência, podem, como complicação, levar à fobia do sono, ou provocar interrupções repetidas do sono MOR, insônia de manter o sono, acarretando problemas no sono regular e nas emoções. Os pesadelos transitórios e situacionais ocorrem em qualquer idade e virtualmente em todas as pessoas. Ocorre mais na primeira década de vida.
·          Sonilóquio é a emissão de fala ou outro som durante o sono, sem que exista noção crítica, subjetiva e simultânea do evento. As características do sonilóquio podem variar desde sonos ininteligíveis, palavras isoladas, frases incoerentes, até o enunciar claro de sentenças. Geralmente dura 1 minuto e ocorre esporadicamente. O conteúdo dos sonilóquios, quando ocorrem durante os estágios NMOR, refere-se mais a acontecimentos recentes, reais e da vida diária, enquanto que nos sonos MOR faz alusão a acontecimentos mais afetivos. Em crianças os sonilóquios são normais e passageiros.
·          Enurese é caracterizada pela micção, iniciando-se geralmente no sono profundo NMOR, em um individuos que já deveria ter adquirido controle vesical voluntário durante a vigília. A micção durante o sono após os três anos de idade é considerada enurese.
·           Epilepsia se caracteriza por ser uma doença neurológica onde uma descarga elétrica de grande amplitude é capaz de levar excessiva excitação às células nervosas, saltando os circuitos neuronais. O sono interfere na epilepsia e vice-versa. Os estágios NMOR são um período apropriado para o desencadeamento de crises porque há um grande aumento amplitude das ondas cerebrais, propiciando crises convulsivantes, que ocorrem geralmente no estágio dois da fase NMOR. As drogas anti-epiléticas tendem a produzir uma diminuição no número de crises e podem até reorganizar o sono destes indivíduos. Sugerem-se algumas técnicas para auxiliar nesta prevenção: evitar dormir fora de hora, evitar dormir uma hora além do seu horário normal, não dar cochiladas sobretudo prolongadas, evitar tomar café ou chá à noite etc.  
3.3) Transtornos de sono clínicos/psiquiátricos. 
Grande número de transtornos clínicos/psiquiátricos estão acompanhados por alteração de sono, causando tanto insônia como sonolência excessiva. Pode-se citar várias doenças neurológicas, cardíacas, gástricas que são acompanhadas de alteração de sono. Neste grupo, as queixas de sono podem ser decorrentes de um comprometimento primário de estruturas relacionadas ao ciclo sono/vigília de algum desconforto decorrente da doença, dores, pruridos etc, da medicação utilizada ou do estado ansioso ocasionado pela doença.
3.4)  Outros transtornos de sono.
Apenas citaremos alguns dos representantes desse grupo, a saber: sono curto, sono longo, mioclonias fragmentárias, transtorno do sono relacionado à menstruação, transtorno do sono relacionado à gravidez etc, devido à diversidade do grupo.
 4) CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A INSÔNIA.
   Na pesquisa abaixode Reimão (1993) foram ouvidos mais de 6.136 pacientes e surgiram revelações inquietantes: quase metade dos insones leva um ano para buscar ajuda médica, se automedicam e não conseguem combater a insônia. CONCLUSÃO: UM TERÇO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA DORME MAL e DEZ MILHÕES SOFREM DE ALGUM TIPO DE INSÔNIA. A MEDICINA ESTÁ SE BENEFICIANDO DAS TERAPIAS E DIAGNÓSTICOS, QUE MELHORARAM TANTO, E ESTÃO SENDO TRATADOS MAIS DE CINQUENTA DISTÚRBIOS DAS FALHAS DA MENTE EM REPOUSO, ANTES ATRIBUÍDOS À DEPRESSÃO PSÍQUICA E MALES ORGÂNICOS.
_________________________________________________________-
Quantos humanos sofrem de insônia
_________________________________________
Idade porcentagem (%)
_________________________________________
Menores de 20 anos 1,2
De 21 a 40 anos 32,1
De 41 a 60 anos 44,0
De 61 a 80 anos 20,2
Mais de 80 anos 1,9
__________________________________________________________
A incidência por sexo (%)
__________________________________________________________ 
Feminino 63,7
Masculino 36,0
__________________________________________________________
A quanto tempo sofre (%)
_________________________________________________________
 Há mais de um ano 42,2
De um a doze meses 43,0
Menos de um mês 14,2
Tipos de insônia (%)
_______________________________________________________
Dificuldade de adormecer 46,9
Despertar noturno 18,7
Despertar precoce 8,5
Vários tipos combinados 25,5
_______________________________________________________
Como se sente pela manhã (%)
_______________________________________________________
  Muito mal 9,9
Mal 40,9
Normal 19,5
Bem 21,4
Excelente 8,0
______________________________________________________
Que sonhos tem (%)
_______________________________________________________
Muitos e vividos 9,9
Alguns sonhos 21,0
Normais 17,4
Poucos sonhos 31,4
Não sonha 18,6
_________________________________________________________________ 
4.1) Classificação.
 A ASDA (1990) estruturou uma classificação dos diferentes tipos de insônia, baseada no agrupamento de sinais, sintomas e freqüencia, que são os seguintes: 1) insônia vinculada a transtornos emocionais ou conflitos, denominada psicológica,18% dos casos; 2) insônia associada a afecções psiquiátricas (neurose, depressão, mania, esquizofrenia etc, 41%; 3) insônia relacionada ao uso de psico-estimulantes (cafeína, anfetamina, anorexígenos etc; 4) insônia dependente do desenvolvimento de tolerância aos hipnóticos ou sua retirada brusca, 14,6%; 5) insônia vinculada ao alcoolismo crônico; 5) insônia relacionada aos transtornos respiratórios durante o sono (apnéia. etc), 7,2%; 6) insônia vinculada ao aparecimento de mioclonias noturnas e a síndrome das pernas inquietas, 14,3%; 7) insônia dependente de fatores ambientais, afecções médicas, intoxicações, 4,8%, 8) insônia subjetiva sem achados objetivos, pacientes que procuram o médico por insônia, não mostrando contudo, qualquer anormalidade.
4.2) Duração:
Insônia transitória: se vincula a situação de tensão, como a apreensão de uma viagem de avião ou anterior a uma cirurgia;
Insônia de curta duração: se vincula também a situações mais duradouras de tensão, como perda de emprego, falecimento de familiar, não excedendo alguns dias.
Insônia de longa duração ou crônica: dura meses ou anos e se vincula aos tipos de insônia já citados anteriormente, cronificados.
4.3) Causas.
   Lembrando que o sono não é uma atividade passiva, o nosso cérebro trabalha selecionando o que deve ficar na memória e o que pode ser jogado fora. Segundo Fernando Pimentel de Souza (1992), professor da UFMG, o homem que não dorme bem é um cidadão de segunda classe, apto para o trabalho físico, mas incapaz de desempenhar um bom trabalho intelectual.
 Quando os ritmos externos saem muito fora do ritmo natural, ocorre a insônia. Há três formas de manifestação da insônia:
·           dificuldade para dormir,
·           sono fragmentado e
·           despertar precoce.
   A insônia pode ter várias causas, é um sintoma que pode decorrer de transtornos emocionais, afecções psiquiátricas, uso de psico-estimulantes, alcoolismo etc.
   O ruído é um dos sincronizadores ou perturbadores do ritmo do sono mais importantes. Pessoas que moram perto de autopistas, aeroportos, grandes centros urbanos etc. têm uma redução média de 35% na parte na parte mais nobre do sono, os estágios NMOR profundos e paradoxal (Vallet, 1982). O ruído torna o sono mais leve, causando danos fisiológicos, psicológicos e intelectuais. As cidades mais barulhentas do Brasil são Rio de Janeiro e São Paulo, estando Belo Horizonte em lugar de destaque, provocando na grande maioria de seus habitantes altos níveis de estresse e consequentemente, uma população com persistente insônia (Álvares & Pimentel-Souza, 1992; Pimentel-Souza et al, 1996).   
Um número gigantesco de pessoas, que não são doentes, mas que trocam o sono por trabalho e diversão, também perde horas de repouso. Executivos levam montanhas de papel para casa, estudantes se matam noite adentro às vésperas de provas, mães de recem nascidos trançam pela casa com seus filhos no colo durante a madrugada, motoristas de caminhão, leitores vorazes, pessoas em cargo de responsabilidade costumam dormir menos do que precisam por vaidade, motivação ou para vender a imagem do dinamismo.
Pessoas acham que podem dispensar noventa ou cem horas de sono por mês para trabalhar ou se divertir mais. Isso é um erro, um adulto em geral precisa, em média, de sete a oito horas de sono por noite, se não tiver uma estrutura de sono especial. Algumas pesquisas, no entanto, descobriram pessoas sadias muito acima e abaixo dessa faixa. Mas atenção, só uma pessoa em cem precisa de mais de dez horas por noite para se refazer e só uma em cem precisa de apenas quatro horas para estar bem refeita no dia seguinte. Pode se tratar de aprendizado ou herança, pois elas se tornam ou nascem assim. 
4.4) Consequências.
   Quem fica acordado quando deveria estar dormindo, seja por algum distúrbio de saúde, por obrigação, estilo de vida ou mesmo motivos externos, tem uma conta a resgatar com o organismo. Essas pessoas têm um déficit de sono o qual é cobrado no dia seguinte, ano após ano, na forma de irritação, dificuldades de concentração, lapsos de memória, acordando no dia seguinte sentindo-se mal ou muito mal etc.
   Os mais numerosos devedores de sono são as pessoas que sofrem de insônia. A pesquisa demonstrou que quase a metade dos insones brasileiros é do tipo que não consegue adormecer, um terço acorda sobressaltado à noite e apenas oito em cem têm a insônia terminal. São cerca de vinte milhões de adultos com um dos três tipos de distúrbios no Brasil.
   O médico Charles Pollak, da Universidade de Cornell, considera "O déficit de sono é a maior fonte de limitação da capacidade das pessoas nas sociedades modernas. É espantoso que só tenhamos acordado para isso nos últimos anos". Pessoas com sono atrasado podem andar, ouvir e enxergar como todas as outras, porém a habilidade de raciocínio, o poder de fazer julgamentos e manter a atenção ficam abalados. Dois em cada dez acidentes de trabalho são causados por noites mal dormidas. Baixo desempenho escolar e profissional, acidentes nas estradas estão associados ao déficit de sono. Em virtude deste déficit é que se flagram trabalhadores cochilando no ônibus e senhores cabeceando em reuniões. 
4.5) Tratamento.
   Adormecer descansa o corpo, alivia os problemas emocionais, mas para o cérebro, é um período de intensa atividade. Durante as diversas etapas do sono, o cérebro desliga certos circuitos que funcionam mais durante o período em que está acordada e, ao mesmo tempo, liga outros neurônios que vão zelar pelo organismo durante o repouso. O processo pode ser comparado a um mergulho em que o nadador vai lentamente explorando regiões cada vez mais profundas. Cada profundidade corresponde a um estágio do sono sadio.
   Terapias que misturam técnicas de relaxamento, técnicas psicoterápicas e comportamentais e administração de hipnóticos podem curar quase 90% dos casos de insônia. Dados revelaram queas mulheres são mais decididas que os homens quando se trata de procurar um médico, alguns homens acham que é demonstração de coragem pessoal enfrentar noites mal dormidas.
- Medidas terapêuticas gerais: O que fazer? Aconselhar o paciente a:
-evitar de cochilar ou dormir durante o dia,
-aumentar a atividade física durante o dia e evitá-la antes de se deitar,
-restringir café, cigarro, bebidas alcoólicas, principalmente nas horas próximas de se deitar,
-regularizar o horário de ir para cama,
-evitar situações mentalmente estimulantes pouco antes de dormir,
-comer pouco à noite e somente alimentos leves,
-aprender a relaxar,
-um banho quente ajuda também,
-levantar pela manhã em horário regular ajuda a estabilizar o ritmo circadiano,
-a temperatura do dormitório e a roupa de dormir devem ser agradáveis,
-música suave e relação sexual facilita o aparecimento do sono,
-técnicas psicoterápicas e terapias comportamentais ajudam no sentido de reduzir seus temores em relação à insônia e desviar sua atenção dela, como por exemplo: hipnose, o relaxamento muscular progressivo, o condicionamento clássico e a biorretroalimentação.
   Após detalhado exame médico, se constatada a necessidade temporária, pode-se administrar hipnóticos, em doses terapêuticas, para pacientes com insônia. Cloridrato é um sonífero que tem efeitos colaterais graves se for administrado em altas doses. Anti-histamínicos são usados para alergias, provocam sonolência e têm muitos efeitos colaterais. Antidepressivos em doses muito baixas induzem bem o sono, principalmente daqueles que têm insônia de infância e sono não restaurador. Podem causar boca seca, prisão de ventre, aceleração do pulso, problemas urinários e impotência. Tranqüilizantes e soníferos são praticamente a mesma coisa. Os tranqüilizantes ajudam relaxar e a diminuir a ansiedade. Aspirina funciona como sonífero, mas tende a diluir o sangue e demora quatro horas para atuar.
   Hipnóticos barbitúricos apresentam as seguintes características: elevada toxidade em altas dosagens, estimulam o sistema microssomal hepático, acelerando o metabolismo de outros produtos, provoca dependência e com 10 a 20 dias ocorre o desenvolvimento de tolerância ao seu efeito.
   Características dos benzodiazepínicos: não associados a outros depressores do sistema nervoso central não são letais, não estimulam o sistema microssomal hepático, dificilmente levam à dependência física, quando usados sob controle e são eficazes por curto prazo. Em pacientes idosos, devido a uma diminuição da eficiência funcional do sistema microssomal hepático, responsável pela degradação dos benzodiazepínicos, têm um efeito potencializado.
   Quando utilizamos um hipnótico, desejamos um efeito temporário, restrito normalmente ao período noturno. O hipnótico ter uma duração mais prolongada quando sua distribuição e inativação forem lentas
   Na insônia transitória, ou de curta duração, deve-se administrar, por até três dias, pequena dose de um hipnótico de eliminação rápida. Para a insônia de longa duração, após avaliação exaustiva do ponto de vista médico-psiquátrico deve-se administrar hipnóticos específicos.
   Os hipnóticos de curta ação diminuem o atraso do sono, o tempo de vigília após o início do sono, o tempo total de vigília e o número de despertares. Há um aumento do tempo total de sono. Ocorre a diminuição do estágio um e aumento do estágio dois. O sono MOR sofre poucas modificações. A duração dos estágios três e quatro diminuem.
   Os hipnóticos são contra-indicados nos seguintes casos: pacientes com apnéia do sono e alcoólatras. Hipnóticos que deprimem o sistema nervoso central potencializam o efeito do álcool e gestantes.
   Por terem efeitos colaterais mais amenos e eficazes, apresentaremos uma visão mais detalhada a respeito dos benzodiazepínicos. Os benzodiazepínicos não atuam nos mecanismos diretamente responsáveis pelo sono. Induzem e mantêm o sono provavelmente porque provocam a redução da tensão emocional e do hiperalerta, possibilitando a atuação dos mecanismos fisiológicos indutores do sono. Os benzodiazepínicos interagem com o neurotransmissor GABA, inibitório. Eles potencializam os efeitos do GABA e são inativos na ausência deste. Os benzodiazepínicos exercem uma ação depressora mais seletiva sobre o sistema nervoso central. Não interferem com a excitabilidade da membrana neuronal, nem diminuem a transmissão excitatória. Não interferindo diretamente com a liberação de transmissores excitatórios, nem diminuindo a resposta a esses transmissores, seus efeitos se restringem a potencializar a transmissão inibitória do neuro-transmissor GABA.
   O mecanismo de ação dos benzodiazepínicos não está completamente esclarecido. Cada um de seus diversos efeitos pode decorrer de uma mesma ação unitária em diferentes sistemas ou, com menor probabilidade, de ação diferencial em receptores específicos para cada efeito. São efeitos típicos dos benzodiazepínicos: sedativo-hipnótico, tranqüilizante-ansiolítico, relaxante muscular, anticonvulsivante, indutor de amnésia. A maioria dos benzodiazepínicos são bem absorvidos pelo trato gastrointestinal e atravessam a barreira hematocerebral com relativa facilidade. Ao chegar na corrente sangüínea a maioria dos benzodiazepínicos liga-se extensamente a proteínas plasmáticas e teciduais. Os benzodiazepínicos são amplamente distribuídos aos diversos fluidos e tecidos biológicos. A velocidade da distribuição depende da perfusão tecidual, da ligação a proteínas e das características físico-químicas de cada droga. É essencial considerar não só o composto original do benzodiazepínico, mas seus metabólicos ativos.
   Drogas com efeito prolongado se acumulam e são mais propensas a determinar efeitos residuais, como sonolência e prejuízo do desempenho na manhã seguinte. Entretanto, podem exercer um efeito ansiolítico potencialmente benéfico para pacientes ansiosos com insônia. Pode também contribuir para que os efeitos das drogas cessem lentamente após sua retirada, atenuando os efeitos rebote observados após a interrupção abrupta de hipnóticos de ação curta. Permitem a utilização de um esquema de administração intermitente.
   Os benzodiazepínicos de efeito prolongado diminuem acentuadamente os estágios três, quatro, e MOR e aumentam a duração do estágio dois. Há um aumento de atividade delta durante o estágio dois, resultando na manutenção da quantidade total de ondas lentas durante o tempo total de sono.
   Os benzodiazepínicos interferem principalmente na velocidade de desempenho em tarefas envolvendo repetição de atos simples, aprendizado e memória de longa duração.
   Pode ocorrer dependência física após uso prolongado ou doses muito elevadas. Quando há interrupção abrupta do uso dos benzodiazepínicos há sintomas de abstinência mais graves do que quando a interrupção é gradual. O rebote do sono MOR consiste em aumento significativo dessa fase do sono em relação à sua linha de base após a suspensão de uma droga que diminui acentuadamente esse estágio do sono.
   Os benzodiazepínicos podem estar associados a fenômenos de "toxicidade comportamental", as chamadas reações paradoxais. Os principais tipos de reação paradoxal são depressão, distúrbios do comportamento, hostilidade, agressão e ira. Há atitudes que podem facilitar o combate à insônia, por exemplo: reduzir o tempo de sono, não forçar a dormir sem sono, não ter medo da insônia etc.
   Segundo o Instituto Americano de Saúde, o uso contínuo de sonífero é condenado porque provoca amnésia parcial, depressão e, em alguns casos, dependência física. 
5)   S  O  N  H  O  S, 5.1) Aspectos Gerais. 
   Relatos de sonhos se conhecem desde a Antiguidade e o início da humanidade. As pessoas adormecidas espantam-se com o conteúdo de seus sonhos. Comparando os conteúdos temáticos destes sonhos vemos que são impressionantemente semelhantes aos dos sonhos atuais, como por exemplo os descritos por Artemidorus no século II D.C. Acreditava-se que os sonhos eram pouco frequentes, mas estudos fisiológicos atuais demonstraram que os sonhos ocorremregularmente em quase todo o período de sono MOR, variando apenas a capacidade de relatá-los.
   Os sonhos mais relatados são aqueles correspondentes aos últimos períodos MOR da noite. O sonho é considerado a quinta fase do sono, na qual a atividade cerebral é maior. É nele que os quadros vividos na vida de vigília são repassados um a um. Neste caso, vemos que a importância do sonho é fundamental e saber compreendê-los e analisá-los enriquece muito nossas vidas, pois descobrimos as razões que nos fizeram comportar. Podemos encontrar a chave de nosso comportamento atual com origem em outras épocas de nossa vida. Quem sonha, acorda mais criativo e quem deixa de sonhar, sobretudo por dias consecutivos, fica de péssimo humor, tem dificuldade de concentração e de atenção.
   Os sonhos podem também surgir durante o sono NMOR (não MOR), mas estes são menos recordados, menos vívidos e geralmente em forma de períodos de racionalização relacionados com a vigília prévia, e geralmente tornam-se pesadelos. 
5.2) Aspectos fisiológicos. 
   Os sonhos ocorrem logo após um fase MOR ou quando acordados durante ele, e pouco ocorrência é relacionada à fase NMOR. Daí, pode-se concluir que os sonhos ocorrem freqüentemente, quando é percorrido uma fase de sonho MOR. Assim, é possível considerar as variações orgânicas que ocorrem durante o sono MOR como tendo correlações com os sonhos. Os RN que, devido ao desenvolvimento insuficiente do córtex cerebral, dificilmente poderiam estar em condições de ter uma experiência onírica, principalmente visual, auditiva etc, mas apresentam fase semelhante ao MOR do adulto, até no EEG.
5.3) Função do SONHO: 
Passamos um terço de nossa vida dormindo. Uma pessoa de setenta anos, passou em média vinte ou mais anos dormindo. Desses vinte anos, cinco serão em estado de sonho, pois em média 25% do sono é ocupado pelos sonhos O tempo médio de sono adulto durante uma noite é de sete horas e meia, durando cerca uma hora e meia no total dos seus quatro ou cinco sonhos.
   Levantamentos abaixo de Hartmann (1973, citado por Garfield 1977) mostraram que crianças tem um período maior de "sonho" do que adultos.
____________________________________________________________
  Idade porcentagem de Sonho durante o sono (%)
____________________________________________________________ 
Recém nascido 45 a 65
18 aos 30 anos 20 a 25
30 aos 50 anos 18 a 25
Mais de 50 anos  13 a 18 
_____________________________________________________________
  Algumas pessoas afirmam não sonhar, mas na verdade, elas não conseguem se recordar dos seus sonhos. Alguns remédios são inibidores dos sonhos. Suspeita-se que drogas com os barbituratos, os fenotiaziminas, o álcool e as anfetaminas diminuem a duração dos sonhos. A cafeína, a aspirina e as benzodiazepinas parecem não exercer nenhuma influência, enquanto que a reserpina e o LSD parecem aumentar o tempo gasto em sonho.
   De Koninck et al (1989) demonstraram que o sonho tem uma função muito importante na consolidação da memória. As emoções devem ter a ver com a seleção dos assuntos e com o que vamos aprender. Mais informações sobre a função do sono e do sonho ver capítulo de Pimentel-Souza (aceito). 
5.4)    S O N H O S      C R I A T I V O S.
   Garfield (1977), PhD em Psicologia Clínica da Temple University of Philadelphia, viajou por dezoito meses pela Europa, Oriente Médio, Extremo Oriente e llhas do Pacífico, onde colheu dados e realizou extensas pesquisas. Ela ensina a programar e controlar os sonhos; como entendê-los, utilizá-los e tornar-se consciente durante o sonho, ampliando assim, o campo da percepção, facilitando a resolução de problemas pessoais e profissionais. Veremos alguns casos:
Como planejar sonhos:
"As pessoas diferem-se da capacidade de recordar-se de seus sonhos, não da capacidade de sonhar." (Garfield, 1977). Pesquisadores nos laboratórios dos sonhos, têm-se interessado mais pela forma dos sonhos do que propriamente por seu conteúdo ou significado. Por outro lado, pode-se concluir porém que é possível controlar os sonhos, este controle é conseguido pelas pessoas através da auto-observação correta, para poderem fornecer a si mesmas as informações de retorno a fim de modelarem os seus sonhos.
   Através do controle dos sonhos, as pessoas podem moldá-los de forma que eles se tornem utilmente conscientes. As soluções que eles produzem para os problemas e as criações artísticas que eles permitem, enriquecem a vida real. A medida que este ciclo de amadurecimento prossegue, a pessoa funciona cada vez mais como um todo, uma unidade humana, parte da qual funciona enquanto a pessoa está acordada e parte da qual funciona enquanto a pessoa está sonhando e, cada uma delas promove e auxilia o desenvolvimento da outra.
   Ornstein, pesquisador no Lan Gley-Porter Neuropsychiatric Institute de São Francisco, baseia sua teoria de que o hemisfério esquerdo do cérebro especializa-se nos processos mentais racionais, enquanto que o direito dedica-se a funções criativas e intuitivas, nas pessoas destras. De fato, Foulkes (1996) considera que o núcleo central da consciência do sonho é em síntese o mesmo do acordado, envolvendo ambos os lobos frontais hemisféricos, o sistema límbico e as áreas da memória. A cultura ocidental dá ênfase à racionalidade enquanto que a oriental enfatiza a intuição, mas ambos são importantes no indivíduo total. "Se usarmos nossa mente em estado de vigília, para moldar nossos sonhos e aceitarmos na vida real os produtos criativos dos mesmos, provavelmente estaremos integrando os poderes de nossa mente." (Garfield, 1977).
·        Sonhadores da Antiguidade e de hoje: 
executavam um grande número de rituais para obterem os sonhos. Possuíam uma técnica especial conhecida como "incubação do sonho", que era definida como o ato de ir a um local sagrado com o propósito de dormir para sonhar com um deus, ou sobre um deus, pois acreditavam que precisavam de deuses e templos. Isto ficou famoso na Grécia antiga à consulta aos oráculos do Templo de Delfos. Os sonhos eram usados como instrumento para obter resposta às suas indagações ou para curar moléstias.
   As técnicas modernas do uso dos sonhos como instrumento terapêutico descendem das práticas utilizadas pelos antigos. De acordo com eles, os elementos essenciais para se induzir o sonho que se quer ter são: 1º) Colocar-se num lugar onde não esteja sujeito a nada que o distraia do assunto do sonho que procura ter, 2º) Formular claramente o sonho que se deseja, definindo bem o assunto, por exemplo: "Quero um sonho que me diga o que fazer sobre...", "Quero sonhar que estou voando." etc, 3º) Após formular claramente o assunto, traduzir a intenção em frase concisa e positiva, por exemplo: " Hoje à noite eu vou voar em meu sonho.", 4º) O corpo deve estar completamente relaxado quando fizer sugestões para um determinado sonho, 5º) Durante o estado de sonolência e descontração, repetir para si mesmo, diversas vezes, o sonho que se quer ter, 6º) Visualizar o sonho desejado como se ele estivesse acontecendo. Visualizar os resultados dele, 7º) Acredite que seu subconsciente pode produzir o sonho desejado, 8º) Depois que o sonho induzido foi obtido, deve-se rever sua mensagem e considerar sua sabedoria e aplicabilidade. Enquanto ainda estiver na cama pela manhã, em estado sonolento, pense sobre as imagens do sonho da noite. Escolha o mais significativo e faça-o reaparecer em sua memória. Questione os elementos que surgirem, as imagens, as pessoas. Procure definir o caráter dominante e o dominado. Registre tudo no tempo presente. Compartilhe com outras pessoas os seus sonhos, 9º) Faça observações ou desenvolva atividades importantes para o sonho desejado, especialmente antes de dormir.
   A indução do sonho é uma técnica a ser aprendida, portanto exige-se tempo, prática e acima de tudo persistência.
·        Sonhadores criativos: 
no passado a maior parte deles descobriu a inspiração nos sonhos por acidente, porém pode-se induzir deliberadamente sonhos de criações artísticas. À medida que se aprende a recordar eregistrar os sonhos, há possibilidade de se dar o primeiro passo no sentido de poder usar o poder criativo em toda sua extensão. Os elementos da produção criativa estão por toda parte e sobretudo dentro de cada pessoa. O material já existe, o que falta é uma recombinação para que se torne criativa. Quanto maior e mais variado o campo da experiência pessoal da pessoa criativa, maiores suas possibilidades de descobrir uma nova combinação.
   Nos sonhos têm-se acesso à grande coleção de fatos estocados durante toda a vida da pessoa. À medida que a pessoa desenvolve maiores aptidões para os sonhos criativos, maior a probabilidade de ter sonhos criativos mais consistentemente. Ao produzir e usar os símbolos dos sonhos criativos no estado acordado, a pessoa fará mais do que criar um produto e sim criar a sua autêntica personalidade.
   Alguns aspectos considerados essenciais pelos sonhadores para o alcance dos "sonhos criativos", são: 1) Eliminar imagens amendrontadoras através do desenvolvimento de imagens positivas, 2) Acumular experiências vividas e deixá-las registradas, 3) Adquirir informações relevantes sobre o assunto de interesse e envolver-se por completo, 4) Desenvolver aptidões conscientes no campo de interesse, de forma a gerar um produto criativo tanto dormindo quanto acordado, 5) Concentrar atenção no assunto de interesse por diversos dias, 6) Após ter o sonho criativo, visualizar e registrar o mais rápido possível, escrevendo, citando, gravando ou representando, transportando-o para uma forma concreta, 7) Dar atenção especial aos sonhos repetidos, peculiares e excêntricos, 8) Livrar-se de processos mentais rígidos para abrir o campo da percepção, 9) Permitir-se oportunidade, tranqüilidade e privacidade para o trabalho criativo, 10) Persistir em produzir e usar os símbolos de seus sonhos, de forma a integrar a personalidade e aumentar a probabilidade de ocorrência de produtos criativos, 11) Julgar os sonhos criativos ou as idéias somente após gerá-los e nunca durante, 12) Desenvolver aptidões avançadas sobre sonhos criativos.
·        Sonhadores nos índios norte-americanos: 
atribuíam importância especial aos sonhos, como parte do sistema religioso, através da comunicação com os espíritos sobrenaturais e como parte integrante do sistema social, visto que as pessoas que sabiam interpretá-los ocupavam posição de destaque na vida tribal.
   Quase sempre os sonhos eram utilizados para prever o futuro, havendo rituais para afastar os sonhos maus e atrair os sonhos bons. Algumas vezes os sonhos eram utilizados para tratamento de problemas psicológicos, como se fosse uma psicoterapia primitiva, à qual se descobriam desejos ou a indicação de que se deveriam adotar certos rituais para a necessária cura. Cada tribo considerava que seu método de utilização do sonho era o melhor.
   Há muitos pontos de semelhança entre os sonhadores da antiguidade e o dos índios norte-americanos. Ambos aprenderam a importância dos sonhos e desenvolveram técnicas para se obter sonhos com sucesso. As pressões culturais levaram à criação de "um sonho padrão de cultura", um sonho exigido pela sociedade em que viviam. Tanto os sonhadores da antiguidade quanto os índios recebiam recompensas se tivessem um sonho "correto" para a sociedade deles.
   Em nossa sociedade não há um "sonho padrão" e nem recompensas pelos sonhos premonitores. A recompensa pelos sonhos criativos vem pelo prazer do produto criativo ou do desenvolvimento de uma aptidão na vida consciente.
   Alguns princípios que podemos extrair dos costumes dos índios norte-americanos são: 1)As pessoas que considerem os sonhos importantes e válidos estão naturalmente predispostos a lembrar-se deles e utilizá-los. Aprimorando as técnicas para sonhar criativamente, os sonhos serão mais completos, 2) Pode-se considerar o estado de sonho como um outro nível da realidade, portanto os amigos no sonho podem ser tão reais quanto os amigos que se pode tocar quando acordado, 3) Quanto mais tranqüilo for o seu dia, maior a probabilidade de ter sonhos e de ter consciência deles, 4) Os símbolos apresentados durante o sonho geralmente tem relação com fatos concretos da vida da pessoa, 5) O uso apropriado dos sonhos leva ao desenvolvimento das próprias habilidades, aprimorando as aptidões e permitindo à pessoa tornar-se mais independente, com maior autonomia e determinação.
·        Sonhadores senoi
 abrangem uma grande tribo primitiva, em torno de 12 mil indivíduos, que vivem nas florestas montanhosas da Malásia. Suas casas familiares são construídas para durar de cinco a seis anos. Alimentam-se de abóboras, inhames, bananas, arroz, e mandioca, que plantam na floresta. São basicamente vegetarianos, mas caçam alguns animais e pescam. São um povo essencialmente musical e completamente pacífico. Embora cooperativos, são individualistas e criativos, evidenciando um notável amadurecimento emocional, segundo pesquisadores que fizeram observações durante longos períodos. Acredita-se que esta maturidade emocional seja consequencia do uso excepcional que os senoi fazem de seus sonhos.
   Os senoi possuem três regras básicas para os sonhos:
1. Enfrentar e vencer o perigo em um sonho, sempre atacar a imagem e nunca fugir. Lutar com o inimigo até a morte se for necessário. Para os senoi, a morte de um inimigo no sonho liberta uma força positiva que será útil posteriormente. Qualquer pessoa que no sonho se mostrar agressiva ou recusar a ajudá-lo deve ser vista como inimigo. Nos sonhos só são inimigos enquanto se tem medo deles. Após vencer a agressão do inimigo, deve-se pedir um presente a ele tal como um poema, uma canção, uma idéia etc, para se obter um reconhecimento do mesmo na vida real. Deve se correlacionar os fatos do sonho com a vida real; se um amigo negar ajuda no sonho ou se mostrar agressivo, deve-se dizer isto a ele para que possa desmanchar esta imagem negativa, na vida real. Se a própria pessoa que sonha se mostra agressiva no sonho, deve-se tentar ser mais amável na vida real. Se outra pessoa, se não o que sonha, for atacada no sonho, deve-se dizer a ela para que possa se prevenir na vida real.
2. Alcançar de encontro ao prazer, gozar as sensações permitindo que elas continuem e intensifiquem até conseguir o prazer total. Os Senoi acreditam que o amor em sonhos nunca é excessivo, incestuoso ou impróprio e que representa partes que precisam ser integradas. Deve-se pedir um presente ao amante no sonho, para se obter um reconhecimento na vida real.
3. Alcançar um resultado positivo, seja qual for a situação no sonho. Deve sempre agir no sentido de obter um final benéfico. Se a situação no sonho for de medo ou constrangedora, deve-se revertê-la para uma situação de prazer e descontração para alcançar um resultado agradável. Por exemplo, se estiver caindo comece a voar e chegue a um lugar interessante e desfrute de todos as sensações agradáveis ao máximo.
   Através das regras dos Senoi de controle dos sonhos, pode-se desenvolver autoconfiança e criatividade na vida real. Os vôos em sonhos permitem uma sensação de liberdade interior e abertura para novas aventuras. Os poemas e canções que emergem na mente ao acordar, dão uma grande satisfação de criatividade.
   O sistema senoi proporciona às pessoas um meio de enfrentar os medos onde eles se originam, ou sejam na mente, sem haver necessidade de anos de terapia. As pessoas podem trabalhar em seus problemas enquanto dormem e podem obter progresso, evitando que seus receios aumentem e até mesmo eliminar os que já existem. Enfim, o sistema senoi pode promover a saúde emocional.
·        Sonhadores lúcidos:
 tem consciência de estar sonhando. Esta consciência pode variar do simples pensamento à uma libertação total do corpo, tempo e espaço. Eles sentem o sonho como se fosse real, tendo a liberdade de criar praticamente qualquer acontecimento que queira.
   No sonho lúcido a consciência que aparece no sonho é o ponto central, sendo a ação um fator secundário. O sonho lúcido é o sonho no qual se está consciente de sonhar e o sonho pré-lucidoé aquele no qual se suspeita de estar sonhando, sem a compreensão total de estar realmente sonhando.
   Os sonhos lúcidos oferecem oportunidades ilimitadas para experimentações: vôos, percepção extrasensorial, praticar técnicas, aperfeiçoar aptidões, vencer medos irracionais, portanto tudo é possível em um sonho lúcido. Pode-se até mesmo programar um sonho lúcido ou esperar para escolher o que se quer sonhar depois de iniciá-lo.
·        Sonhadores Iogues:
 desenvolveram um controle de seus corpos que podem entrar em estado de meditação para aumentar a capacidade de controle dos sonhos. Ao alcançar a consciência no sonho, deve-se induzir nele quaisquer alterações que desejar, reconhecer as imagens amedrontadoras e identificar os sonhos como sonhos enquanto ainda estiver sonhando. Os Iogues acreditam que os sonhos uma vez identificados como sonhos, podem tornar-se completamente livre do medo, proporcionando sonho com propósitos criativos e terapêuticos.
5.5) Como desenvolver o controle dos sonhos:
 Segundo Garfield (1977) para desenvolver o controle dos sonhos é necessário que se mantenha um diário dos sonhos para que se ajude a recordar dos sonhos. Pode-se ter recordação completa dos sonhos, para isto deve-se aceitá-los, valorizá-los, sem qualquer distinção.
   Algumas considerações são necessárias para poder recordar os sonhos, a saber: 1) Antes de se deitar, deve-se assumir o compromisso de se lembrar de todos os sonhos que tiver à noite. Assumir este compromisso verbalmente, por exemplo: "Vou me lembrar de todos os sonhos desta noite.", 2) Colocar um bloco e uma caneta perto da cama para anotá-los, 3) Programar um horário para poder acordar naturalmente, 4) Ao acordar naturalmente, a pessoa estará acordando de um sonho MOR, portanto deve-se permanecer imóvel para que as imagens fluam novamente à mente. Se nenhuma imagem surgiu, faça uma revisão mental das pessoas importantes para desencadear associações com o sonho recente, 5) Quando a lembrança dos sonhos houver se completado em uma posição, deve-se mudar suavemente para outras afim de obter novas imagens, 6) Após o encerramento da recordação de imagens, anotar tudo que surgiu no memória: às vezes no decorrer do dia outras imagens vão surgindo, anotá-las também, 7) A recordação do sonho é mais rica e mais completa logo após o período MOR, por isso os sonhos tidos durante a manhã são mais fáceis de serem lembrados. Após um período de treinamento, pode-se acordar após todos os períodos MOR e anotar todos os sonhos sem com isto prejudicar o sono, 8) Deve-se tentar anotar os sonhos com os olhos fechados para não haver interferência na recordação do mesmo, 9) Ao valorizar os sonhos, aceitá-los e anotá-los cria-se uma sintonia transformando o "estado de sonho" mais cooperativo, 10) Deve-se compartilhar os sonhos com pessoas interessadas, o que ajuda a lembrar-se destes com mais detalhes, 11) Nomeie os sonhos para discernir aquele que merece uma atenção especial, com ajuda do diário dos sonhos, 12) Pode-se tentar uma tradução dos sonhos, isto permite aprender mais sobre si mesmo.
   A capacidade de recordação dos sonhos é aumentada com o exercício de recordá-los e através da importância dada a eles como surgem na memória com mais freqüência e mais completos. Manter um diário dos sonhos permite auto-conhecimento e desenvolvimento da autoconfiança. O estado de sonho responde às atitudes em estado de vigília, portanto, deve-se considerar os sonhos como aspectos importantes e significativos da vida e que são influenciados conscientemente por quem os produz. Nos sonhos tudo é permitido, tudo é possível, basta apenas um criador consciente para que tudo exista.  
6) O SONO no RECÉM NASCIDO e no LACTENTE.
   O primeiro ano de vida merece atenção à parte, pois apresenta características do ciclo sono-vigília que espelham a maturação fisiológica acelerada do sistema nervoso central. Os ciclos de sono em RN em geral duram 60 minutos e no decorrer dos dois primeiros anos de vida prolongam-se até 90 minutos e assim se mantém até a idade avançada. O sono nos primeiros meses de vida pode ser classificado em quieto (lento ou calmo), ativo (rápido) e indeterminado. A periodicidade do ciclo do sono tende a ser estável por volta das 36 semanas de idade gestacional, durante 40/60 minutos para o sono quieto e o sono ativo respectivamente.
6.1) Estágios do S O N O.
1. Sono quieto (lento, assemelha-se ao sono NMOR do adulto): caracteriza-se por respiração regular, olhos fechados sem movimentos oculares rápidos, descontínuo alternante, sem movimentos do corpo, exceto movimentos ocasionais da boca ou susto.
2. Sono ativo (rápido, paradoxal assemelha-se ao sono MOR do adulto): caracteriza-se por olhos fechados com movimentos oculares rápidos mais evidentes a partir da 32ª semana de idade gestacional, de padrão contínuo, respiração irregular, movimentos de corpo já com 28 semanas e redução do tônus muscular mais evidente a partir de 40 semanas.
3. Sono intermediário é o sono não classificado tipicamente como quieto ou ativo.
   O sono constitui uma das principais atividades do RN e difere significativamente do sono adulto. Assim, o percentual de sono MOR diminui com a maturação, sendo maior em neonatos que nas crianças mais velhas e adultos. Ao nascimento, o sono ativo ocupa 40-50% do tempo total do sono, enquanto o sono quieto dura 35-45% e, o indeterminado, 10-15%. Este índice elevado de sono ativo decresce progressivamente no 1º ano de vida, atingindo níveis de 25% antes do primeiro ano de idade, que se mantém constante até a idade adulta.
   A diferenciação dos estágios NMOR a partir do sono quieto ocorre no primeiro ano de vida. Aos 6 meses já se pode utilizar a classificação em estágios 1, 2, 3, 4 e MOR, apesar de serem substancialmente diferentes do adulto. Fusos de sono surgem a partir da 6ª semana de idade e os complexos K já estão vistos aos 5 meses de vida, caracterizando o estágio 2. O estágio 3 passa a ser bem definido a partir da 12ª semana de vida e o estágio 4, é visto a partir dos 4 meses. 
7) O SONO na IDADE AVANÇADA e suas IMPLICAÇÕES.
   O aumento do número de pessoas com mais de 65 anos representa alterações importantes nos padrões demográficos de todo mundo e tendem a ocasionar profunda consequência social, econômica, médica e pessoal. Os idosos geralmente queixam-se da qualidade do sono, de insônia e fazem mais uso de drogas hipnóticas do que outras faixas etárias.
   Os distúrbios do sono no idoso, especialmente as insônias, também apontam para possíveis disfunções subjacentes, sejam elas físicas, psicológicas, alterações no meio ambiente ou problemas sociais. Tais distúrbios no idoso podem ter como causa, diferentes fatores: a mudança de hábitos que surge com a aposentadoria, a perda de entes queridos como esposa, filhos e amigos, o aumento do uso de medicamentos, a deficiência de vários órgãos, as doenças advindas da idade e as alterações no ritmo do dia-a-dia. 
7.1) Modificações na arquitetura do sono.
   Estudos de laboratório do sono em pessoas idosas mostram que elas apresentam alterações definidas, no EEG, no ciclo e na composição do sono, a saber: diminuição da amplitude de ondas lentas, o componente restaurador do sono; diminuição do número de movimentos de olhos durante o sono MOR; aumento do tempo gasto na cama com queda do tempo total dormindo; aumento no número e duração de acordares; redução tanto da duração total do sono MOR, como do intervalo de tempo entre o início do sono e o sono MOR; aumento no número de mudanças de um estágio do sono para outro; aumento na frequência de cochilos durante o dia.
   Além dessas alterações, há evidências de uma redução da amplitude e de uma dessincronização dos ritmos circadianos. Mas, tudo isto se trata de um levantamento estatístico e não necessariamente o destino de todo idoso. 4
7.2) Causas dos distúrbios do sono no idoso.
·        Problemas médicos com distúrbios de sono secundários: 
tanto doenças físicas ou psiquiátricas, quanto problemas decorrentes da idade avançada causam desconforto no indivíduo,podendo alterar o seu sono. Podemos citar, por exemplo, a doença de Parkinson, cujos pacientes reclamam de insônia e sonolência excessiva durante o dia. Essas queixas são decorrentes da perturbação da dor, dificuldades ao deitar-se, movimentar-se na cama e ao levantar, além de pesadelos. Dentro dos distúrbios psiquiátricos podemos citar as depressões e demências, que geralmente associam-se com insônia na velhice.
·        Distúrbios primários do sono:
 esses distúrbios são comuns no idoso, podemos citar por exemplo a apnéia do sono. Obesidade e ronco são duas características comuns nos indivíduos com apnéia do sono.
        As pessoas idosas apresentam alterações frequentes dos ritmos circadianos que são regidos por estímulos externos, tais como a luz, hora das refeições e do dia. Os idosos, por terem maior probabilidade de apresentarem deficiência visual, auditiva e ainda viverem isolados do ambiente social, podem ter uma diminuição na percepção dos estímulos externos, o que leva a uma dessincronização interna. Os pacientes com tais distúrbios reclamam de sonolência em excesso no início da tarde e antecipação do despertar pela manhã, pois o seu ritmo está avançado quando comparado ao relógio biológico padrão. Esse fato explica o porquê dos idosos, com freqüência, irem para cama e acordarem mais cedo.
·        Problemas farmacológicos:
a porcentagem estimada de idosos que fazem uso de uma medicação ou mais de uma, ao mesmo tempo, é de 90%. Como efeito colateral do uso de tais medicações, surgem os distúrbios do sono, como a insônia ou sonolência excessiva durante o dia. O aumento da incidência de efeitos colaterais, de medicações, nos idosos; está diretamente relacionada à dose administrada. Além dos hipnóticos, o idoso abusa freqüentemente do álcool. É verdade que o álcool inicialmente promova o sono, porém, em doses maiores excita e intoxica, passando a causar acordares precoces.
·           Problemas psicológicos e sociais: 
as mudanças no meio social, a falta do que fazer, leva muitos idosos a tirarem uma "soneca" durante o dia. Esses cochilos podem ser interpretados como uma distribuição do tempo total de sono pelo período de 24 horas. Mas, dessincronizam a estrutura do sono grupado, perdendo funções muito nobres, diminuindo a capacidade ao trabalho em geral.
  O isolamento, o calor excessivo, viver em dificuldades financeiras, além de vários fatores comportamentais relacionados à idade, incluindo redução da atividade física, redução à exposição à luz do dia podem prejudicar o sono do idoso.
Aspectos importantes na prescrição de hipnóticos para pacientes idosos: 
a prescrição de hipnóticos deve se limitar a períodos de estresse significativo, observando a dose específica para o caso. Iniciar com doses pequenas, o tempo de uso do medicamento deve ser limitado, a resposta ao medicamento deve ser revista com base nos efeitos colaterais, ter como propósito o encerramento da medicação após um curto espaço de tempo.
8)    C   O  N  C  L  U  S  Ã  O.
Pelas considerações feitas podemos destacar a importância do sono não só em seus aspectos fisiológicos, mas psicológicos e mentais. Fazemos nossas as palavras do Professor Ferrando Pimentel de Souza de que o sono talvez seja o momento mais importante da nossa vida em termos de atividades intelectuais e psicológicas. Quando dormimos, estamos aprendendo, e não apenas no aspecto cognitivo, mas também no aspecto de emotivo.
   Atualmente há uma preocupação em produzir demais para se ganhar mais dinheiro e/ou elevar o status social. Devido a isso, as pessoas preferem não dormir ou dormir menos do que precisam, acarretando diversos distúrbios. Por causa desses distúrbios do sono, as pessoas estão sonhando menos. Isto acaba refletindo na perda da qualidade de vida e no aumento dos problemas psicológicos. Estas pessoas se preocupam demais no sentido financeiro e acabam se esquecendo do fundamental, que é a qualidade de vida. Chega a ser engraçado, pois no fundo o que uma boa situação financeira busca, para estas pessoas, é justamente uma qualidade de vida melhor, se esquecendo, ou muitas vezes não tendo a informação, que o dormir bem seria o principal fator que as deixaria preparadas para enfrentar as diversas dificuldades de seu cotidiano.
   O sono envolve muitos outros aspectos como por exemplo a poluição sonora. O barulho é um malefício, pois sacrifica o sono em geral e encurta os sonhos. As estruturas arquitetônicas e urbanísticas da maioria das cidades modernas, por intermédio do barulho, podem exercer influências maléficas sobre o sono, fazendo um efeito de caixa acústica. As condições sociais, a falta de um lugar adequado para dormir sem barulhos e com penumbra, atrapalham o sono e o desempenho acordado. A insônia já acomete 35% da população nas cidades do Primeiro Mundo e na metrópole de São Paulo essa porcentagem chega a 73% (Braz, 1988). A falta de sono produz uma crescente irritabilidade, associada essa irritabilidade a crescente onda de assassinatos, suicídios, violência em geral e acidentes de trabalho, situações estas que geram um ciclo de tensão no qual o indivíduo quando vai deitar não consegue dormir.
   A má qualidade de vida interfere no sono, e a falta de sono interfere na qualidade de vida. Podemos, com isso dizer que um é reflexo do outro. Assim, se não tomarmos sérias providências em relação a ambos seremos gravemente prejudicados, e o que é mais importante, não apenas em nível individual, mas no que diz respeito a saúde pública da Sociedade inteira.
 9) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
· Álvares PAS e Pimentel-Souza F. A Poluição Sonora em Belo Horizonte. Revista de Acústica e Vibrações, 10: 22-42,(1992).
· Aserinsky E, Kleitman N. Regularly ocurring periods of eye motility, and concomitant phenomena, during sleep, Science, 118:273-274 (1953).
· Cipolla-Neto J et al. Introdução à Cronobiologia. Icone, São Paulo (1988).
· De Koninck J, Lorrain D, Christ G, Proulx G, Coulombe D. Intensive language and increases in rapid eye movement sleep: evidence of a performance factor. International Journal Psycho-physiology, 8:43-47,(1989).
· Foulkes, David. A Psicologia do Sono. (1989).
· Foulkes D. Sleep and dreams. Sleep, 19(8): 609-624,(1996).
· Garfield, Patrícia. Sonhos Criativos. Nova Fronteira, (1977).
· Jouvet, Michel. O sonho. Revista "Recherche". Seuil, Paris. (1977).
· Laboratório de Psicofisiologia, UFMG. Internet:www.icb.ufmg.br/lpf. (1997).
· Júnior, ART. Sinais e Sintomas em Psicogeriatria. (1989).
· Neto, D. V. C. - Distúrbios de Sono no Idoso (1994).
· Pimentel-Souza F. Cidadão de Segunda classe. Jornal "Estado de Minas", 9 de maio (1990).
· Pimentel-Souza F. Dormir (bem) é preciso". Entrevista ao Jornal "Estado de Minas", 10 de fevereiro, 1991(Internet:www.icb.ufmg.br/lpf)
· Pimentel-Souza F; Carvalho JC; Siqueira AL. Noise and quality of sleep in two hospitals in the city of Belo Horizonte, Brazil. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, 29:515-520, (1996). (Internet:www.icb.ufmg.br/lpf)
· Pimentel-Souza F. Pertubação do sono pelo ruído. Revista Brasileira de Neurologia e Psiquiatria (aceito). (Internet:www.icb.ufmg.br/lpf)
· Reimão, Rubens. Sono na Infância, Aspectos Normais e Principais Distúrbios. (1985).
· Reimão, Rubens. Sono, Aspectos Atuais. (1990).
· Reimão R. Entrevista para a "Revista Veja", 20 de janeiro,(1993).
· Rutenfranz J et al. Trabalho em turnos e noturno. Hucitec, são Paulo. (1989).
· Schmidt. Vigília, Sono, Sonhos. Em Neurofisiologia, EPU/Springer/Edusd, São Paulo (1979).
· Tavares, S. M. A. - Transtornos de Sono (1995).
· Vallet M. La perturbation du sommeil par le bruit. Médicine sociale et préventive, 27:124-131, (1982).

Continue navegando