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Síntese da aula 05 - Plasticidade da percepção (parte 2)

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Aula 05 
 
Na aula do dia 29/12 nós finalizamos a parte de Cognitivismo e começamos uma 
discussão mais contemporânea do campo da percepção: a discussão sobre a Plasticidade 
da Percepção. Aqui, a discussão vai além da questão “A percepção pode ser influenciada 
culturalmente?”, para “A que nível e de que modos essa influência se daria?”. 
Nós, então, pensamos de que modo a percepção pode ser influenciada: 
↳ Através da aprendizagem – exemplo dos óculos de inversão, de Ivo Kohler. 
Nesse caso, com os óculos, a luz que vem de cima parece vir de baixo e a luz 
que vem de baixo parece vir de cima. A pessoa que utiliza os óculos, no início, 
enxerga tudo de cabeça para baixo e tem dificuldades para realizar as ações e 
tarefas diárias, mas, com o tempo, se acostuma e passa a realizá-las 
normalmente. Quando retira os óculos, vê tudo de cabeça para baixo novamente 
e precisa, mais uma vez, reaprender a realizar as ações e tarefas diárias. 
↳ Através da atenção – vídeo do experimento do macaco. Nesse vídeo, dois times 
estão passando a bola. O professor então pediu para que as pessoas contassem 
quantas vezes a bola foi passada para as pessoas que estavam de camisa preta. 
No fim do vídeo foi relatado que havia alguém vestido de macaco andando no 
vídeo. Apenas alguns estudantes notaram a presença do macaco. Esse é um 
exemplo de cegueira inatencional. Quando se está tão focado em uma coisa, 
que não se percebe outra. 
OBS: Surgiu uma dúvida relacionada a aprender a direcionar a atenção. A dúvida era se seria 
possível aprender a direcionar a atenção. Por exemplo, um juiz de basquete poderia aprender 
a direcionar a atenção para os movimentos, atendendo as regras do jogo, etc. Sim, os efeitos 
estão relacionados. Um juiz de basquete é capaz de aprender a direcionar a sua atenção de 
um modo diferente de outras pessoas que não tem essa necessidade. 
Continuando nossa matéria, foram citados outros fatores que podem vir a afetar a 
percepção: estados afetivos e volitivos, crenças, valores, desejos. Pensemos, então, na outra 
questão trazida em aula: um aluno relatou que estava fazendo uma trilha e que tinha medo 
de cobras. Ao longo da trilha ele estava tão focado olhando ao seu redor procurando por 
cobras que quando uma passou perto de seu pé, ele nem percebeu. Só soube do que 
acontecera, porque seus amigos o avisaram. 
A questão que fica é: esses fatores são capazes de afetar nossa percepção? 
Inicialmente, precisamos fazer uma distinção do que queremos dizer com “afetar como 
percebemos”. Como já vimos, determinados fatores são capazes de afetar, até certo ponto, a 
forma como vemos o mundo (é o caso dos músicos treinados a perceberem notas específicas, 
os enólogos que percebem cheiros, texturas e sabores de vinhos que outras pessoas não 
percebem, etc). Entretanto, quando entramos nesse debate sobre se a percepção é afetada 
ou não, penetrada ou não, por nossos estados volitivos e nossos processos cognitivos 
superiores, o que queremos dizer é: esses processos são capazes de afetar como 
percebemos as propriedades físicas dos objetos, do ambiente, em um nível primário? 
Para responder essa pergunta, temos duas teorias que prevalecem mais. Uma que 
defende a Modularidade da percepção, ou seja, que ela é impenetrável por eles, e outra que 
defende a Penetrabilidade da percepção. 
 
Encapsulamento ou Modularidade da Percepção (J. Fodor e Z. Pylyshyn) 
Essa teoria afirma que o contexto social e os outros processos cognitivos não são 
capazes de afetar a forma com que percebemos o mundo. Exclui-se dessa teoria as 
percepções motoras (por exemplo, quando uma criança aprende a andar ou falar). A teoria 
da Modularidade da Mente, de Fodor, vai dizer que parte de nossa mente estaria organizada 
em módulos, os quais não se comunicam entre si. Desse modo, a percepção seria 
encapsulada. Eles se utilizam também da teoria de D. Marr, de visão inicial e visão tardia. 
Desse modo, nós teríamos o “input sensorial” do ambiente e nossa visão inicial nos daria 
o produto do ambiente. A nossa visão inicial, em conjunto com os pressupostos, nos levaria a 
representação visual inicial das propriedades físicas do ambiente (as cores, o tamanho, etc). 
Isso, então, nos levaria a visão tardia. A visão tardia nos levaria a representação visual final 
do ambiente e a categorização de propriedades não físicas (categorização de alta ordem). 
Estes, por sua vez, influenciariam nos processos afetivos e volitivos e em nossos processos 
cognitivos superiores (pensamentos e crenças, por exemplo). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foi trazido então, alguns estudos para exemplificar como a penetrabilidade da 
percepção é analisada. 
↳ Experimento do azul com os russos – No russo, não existe um termo para 
“azul”. Contudo, existe um termo que denota o que chamamos de “azul escuro” e 
outro que denota o que chamamos de “azul claro”. Dessa forma, a hipótese é que 
quem fala russo precisa distinguir entre mais tons do nós, no que se refere a cor 
azul. O que para nós é “azul”, claro ou escuro, para eles seriam duas cores 
diferentes. Dessa forma, em um experimento, pessoas que falavam inglês (língua 
que divide as cores de forma parecida com o português) e pessoas que falavam 
russo, foram apresentadas a 3 tonalidades de azul. Elas, então, precisaram dizer 
qual das duas últimas cores seria igual a primeira apresentada. Os resultados 
desse experimento mostraram que os falantes de russo são capazes de perceber 
muito mais rápido qual a cor mais parecida, o que mostra que eles têm uma maior 
capacidade de distinção entre tonalidades devido a linguagem deles. A 
discriminação de cor se mantinha independente da língua falada, o que mudava 
era apenas a velocidade com que a discriminação ocorria. 
↳ Experimento da separação de cores na tabela – uma mesma tabela de cores 
era apresentada para um falante da língua inglesa e um falante de berinmo (língua 
natal de Papua-Nova Guiné). Os experimentadores pediam então para que a 
pessoa traçasse uma linha separando uma cor de outra (o que é vermelho do que 
é amarelo, por exemplo). Os resultados mostram que a separação das tabelas é 
extremamente diferente dependendo de como classificamos as cores em nossa 
língua. 
Figura 1. Esquema referente a explicação descrita acima.

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