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Direito Constitucional STJ-convertido

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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
Atualizado em 13/10/2019: novos julgados + questões 
 
Pontos atualizados: nº 01 (Info 640); nº 01 (Info 641); nº 01 (Info 642); nº 11 (Info 648) 
 
 
 
1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
1.1. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: É possível que o magistrado condene o autor da ofensa 
a divulgar a sentença condenatória nos mesmos veículos de comunicação em que foi cometida 
a ofensa à honra – (Info 642) – IMPORTANTE!!! 
 
O direito à retratação e ao esclarecimento da verdade possui previsão na CF/1988 e no 
Código Civil, não tendo sido afastado pelo STF no julgamento da ADPF 130/DF. 
O princípio da reparação integral (arts. 927 e 944 do CC) possibilita o pagamento da 
indenização em pecúnia e in natura, a fim de se dar efetividade ao instituto da 
responsabilidade civil. 
Dessa forma, é possível que o magistrado condene o autor da ofensa a divulgar a sentença 
condenatória nos mesmos veículos de comunicação em que foi cometida a ofensa à honra, 
desde que fundamentada em dispositivos legais diversos da Lei de Imprensa. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1771866-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 12/2/19 (Info 642). 
 
OBS: 
Imagine a seguinte situação hipotética: João publicou um livro contendo acusações contra 
Pedro (magistrado que estava, na época, como Presidente de um Tribunal) de ter praticado 
atos espúrios no exercício de suas funções. Pedro ajuizou ação contra João (autor do livro) e 
contra a editora que o publicou pedindo que os réus fossem condenados a: 
• pagar indenização por danos morais decorrentes da publicação da obra; 
• publicar o inteiro teor da decisão condenatória e da petição inicial nas futuras edições 
do livro e em revista de grande circulação. 
 
Contestação: Os requeridos contestaram a demanda alegando que: 
1) não houve ato ilícito, considerando que a publicação da obra estava amparada no 
direito constitucional à liberdade de expressão; 
2) o pedido para publicação da sentença condenatória não tem fundamento legal, 
considerando que essa possibilidade estava prevista no art. 75 da Lei de Imprensa (Lei 
5.250/67): 
Art. 75. A publicação da sentença cível ou criminal, transitada em julgado, na 
íntegra, será decretada pela autoridade competente, a pedido da parte 
prejudicada, em jornal, periódico ou através de órgão de radiodifusão de real 
circulação, ou expressão, às expensas da parte vencida ou condenada. 
 
Ocorre que o STF, no julgamento da ADPF 130-DF, considerou que a Lei de Imprensa não foi 
recepcionada pela CF/88. Logo, o pedido do autor para publicação da sentença condenatória 
não teria substrato jurídico. 
 
O STJ concordou com os pedidos do autor? SIM. 
 
Respeito aos direitos da personalidade: De fato, o STF decidiu que a Lei de Imprensa, em sua 
inteireza, não foi recepcionada pela CF/88, sendo, portanto, inválida: STF. Plenário. ADPF 
130, Rel. Min. Carlos Britto, julgado em 30/04/2009. Vale ressaltar, contudo, que a não 
recepção da Lei de Imprensa não exime os seus agentes (profissionais da imprensa) de 
observar as regras civis para o exercício dessa atividade, devendo respeitar os direitos da 
personalidade, que abarcam o nome, a honra e a intimidade. Além disso, estão também 
sujeitos às normas que tratam sobre a responsabilidade civil, previstas nos arts. 186, 187 e 
927 do Código Civil. 
 
Elementos de ponderação para a tensão entre liberdade de expressão e os direitos da 
personalidade: O STJ estabeleceu, para situações de conflito entre a liberdade de expressão e 
os direitos da personalidade, os seguintes elementos de ponderação: 
a) o compromisso ético com a informação verossímil; 
b) a preservação dos chamados direitos da personalidade, entre os quais incluem-
se os direitos à honra, à imagem, à privacidade e à intimidade; e 
c) a vedação de veiculação de crítica jornalística com intuito de difamar, injuriar 
ou caluniar a pessoa (animus injuriandi vel diffamandi). 
Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 801.109/DF, Rel. Min. Raul Araújo, j. 12/6/12. 
 
Liberdade de expressão não é absoluta: A regra geral é a liberdade de informação. Entretanto, 
não se trata de liberdade absoluta. Seu exercício encontra limites no dever de respeito aos 
demais direitos e garantias fundamentais também protegidos: 
(...) 3. Os direitos à informação e à livre manifestação do pensamento não 
possuem caráter absoluto, encontrando limites em outros direitos e garantias 
constitucionais que visam à concretização da dignidade da pessoa humana. 4. 
No desempenho da função jornalística, as empresas de comunicação não podem 
descurar de seu compromisso com a veracidade dos fatos ou assumir uma 
postura injuriosa ou difamatória ao divulgar fatos que possam macular a 
integridade moral do indivíduo. (...) STJ. 3ª Turma. REsp 1.567.988/PR, Rel. Min. 
Paulo de Tarso Sanseverino, j. 13/11/18. 
 
Narrativa de fatos verídicos ou verossímeis: Em princípio, não configuram ato ilícito as 
publicações que narrem fatos verídicos ou verossímeis, mesmo que tais opiniões sejam 
severas, irônicas ou impiedosas. Essa conclusão se mostra ainda mais forte em se tratando 
notícias ou críticas envolvendo a atividade profissional de figuras públicas que exerçam cargos 
estatais, gerindo interesses da coletividade. Portanto, a assunção de cargos públicos, como a 
presidência de um Tribunal, torna o sujeito uma pessoa pública, cujos atos estão sujeitos a 
maior exposição e mais suscetíveis à mitigação dos direitos de personalidade. No entanto, 
mesmo em tais hipóteses, a liberdade também não será absoluta. Assim, se ficar 
demonstrado, no caso concreto, que o autor da obra não teve compromisso ético com a 
informação verdadeira, violou direitos da personalidade e fez críticas com nítido propósito de 
difamar, injuriar ou caluniar a pessoa atingida, estará plenamente configurado o ato ilícito 
capaz de ensejar a condenação ao pagamento de indenização por danos morais. 
 
Publicação da decisão judicial e da petição inicial: Conforme vimos, a Lei de Imprensa não 
mais subsiste em nosso ordenamento jurídico, não tendo sido recepcionada pela CF/88. Por 
consequência, de fato, não é mais válida a previsão do art. 75 da Lei 5.250/67, que possibilitava 
a publicação da sentença cível ou criminal, transitada em julgado, na íntegra, a pedido da parte 
prejudicada, em jornal, periódico ou através de órgão de radiodifusão de real circulação, ou 
expressão, às expensas da parte vencida ou condenada. Contudo, apesar disso, ainda existe 
fundamento constitucional e legal para que o juiz determine ao jornal, revista ou editora a 
divulgação da íntegra da sentença que o condenar em danos morais. A isso se chama “direito 
de retratação e de esclarecimento da verdade”. 
 
Fundamentos do direito de retração e de esclarecimento da verdade: Os direitos ao 
esclarecimento da verdade, à retificação da informação inverídica ou à retratação não foram 
banidos do ordenamento jurídico brasileiro com a declaração de não recepção da Lei de 
Imprensa. Tais direitos continuaram existindo com amparo em outros dispositivos da 
legislação civil vigente. Desse modo, ainda existem dispositivos que autorizam esses direitos. 
Quais dispositivos o magistrado pode utilizar para fundamentar essa imposição? Arts. 927 e 
944 do Código Civil: 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. 
 
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. 
 
O art. 927 do CC impõe àquele que, cometendo ato ilícito, causar dano a outrem, a obrigação 
de repará-lo, ao passo que o art. 944 do mesmo diploma legal determina que a indenização seja 
medida pela extensão do dano. Isso significa que a principal função da indenização é 
promover a reparação da vítima, anulando, ao máximo, os efeitos do dano. Especificamente 
sobre o dano moral, oportuno relembrar que ele decorre de um dever jurídico geral de 
abstenção assumido por toda a coletividade perante o seu titular: o dever de não violar osdireitos inerentes à sua personalidade. 
 
Assim, violado esse dever de abstenção, ocasionando a ofensa à honra e à imagem do 
recorrente, cabe a ele a pretensão de restaurar o seu direito. Por sua vez, a jurisdição deve 
dispor de meios para garantir a pacificação social, o que inclui afastar ou mitigar os efeitos 
nefastos do dano. Por isso, a reparação deve ser buscada de forma ampla, admitindo não só 
a pecúnia, mas também a reparação in natura, nos casos em que ela se mostrar proporcional, 
possível e adequada. 
 
Nessa linha de raciocínio, tal entendimento foi cristalizado no Enunciado 589 da VII Jornada 
de Direito Civil: “a compensação pecuniária não é o único modo de reparar o dano 
extrapatrimonial, sendo admitida a reparação in natura, na forma de retratação pública ou 
outro meio.” 
 
O CC/2002 determina que a pessoa que causar dano a outrem fica obrigada a repará-lo. 
Quando o juiz condena o jornal/revista a publicar em suas páginas, na íntegra, a sentença 
condenatória, isso configura uma forma de reparação específica da honra do autor. 
 
A reparação dos danos morais com pagamento de dinheiro é apenas uma compensação pelo 
sofrimento causado à vítima. No entanto, a publicação da sentença que condena o 
jornal/revista é um modo de divulgar, para a coletividade, que a honra daquela pessoa deve 
ser respeitada e que o órgão de imprensa praticou um ato ilícito. Em suma, a divulgação da 
sentença condenatória é considerada como uma forma de reparação específica do dano moral. 
 
Desse modo, é possível que sentença condenatória determine a sua divulgação nos mesmos 
veículos de comunicação em que foi cometida a ofensa à honra, desde que fundamentada 
em dispositivos legais diversos da Lei de Imprensa. 
 
Não é censura: Vale ressaltar, por fim, que não se trata de censura ou controle prévio dos 
meios de comunicação social e da liberdade de expressão, pois não se está impondo 
nenhuma proibição de comercialização da obra literária, nem mesmo se determinando que 
as edições até então produzidas sejam recolhidas ou destruídas, o que seria de todo contrário 
ao ordenamento jurídico. 
 
Direito de retratação x direito de resposta: Oportuno ressaltar, ainda, que o direito de 
publicação da sentença não pode ser confundido com o direito de resposta. 
 
 
1.2. DIREITOS DOS IDOSOS: Idosos que gozam de gratuidade no transporte coletivo, 
além de não pagarem a passagem, também são isentos das tarifas de pedágio e de utilização 
dos terminais – (Info 641) – IMPORTANTE!!! Concursos MP e DPE!!! 
 
A reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 
2 (dois) salários-mínimos, prevista no art. 40, I, do Estatuto do Idoso, não se limita ao valor 
das passagens, abrangendo eventuais custos relacionados diretamente com o transporte, em 
que se incluem as tarifas de pedágio e de utilização dos terminais. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1543465-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 13/12/18 (Info 641). 
 
OBS: 
Transporte gratuito para idosos: O “transporte” é classificado como direito social, estando 
garantido pelo caput do art. 6º da CF/88: 
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta 
Constituição. 
 
No caso específico dos idosos maiores de 65 anos, a CF/88 garantiu a eles a gratuidade do 
transporte coletivo urbano: 
Art. 230 (...) 
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes 
coletivos urbanos. 
 
Nota-se, portanto, que o constituinte teve especial atenção ao transporte dos idosos, revelando-
se tratar, além de um direito, de uma verdadeira garantia, pois tem por objetivo, além de 
facilitar o dever de amparo ao idoso, assegurar sua participação na comunidade, seu bem-estar 
e sua dignidade, conforme o disposto nos arts. 229 e 230 da CF/88. 
 
Regulamentação pelo Estatuto do Idoso: O Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03) regulamentou 
esse direito nos arts. 39 e 40. O art. 39 prevê a gratuidade no caso de transportes coletivos 
urbanos e semiurbanos. Neste caso, a gratuidade é total e sem um número máximo de 
assentos, ou seja, todo e qualquer idoso maior de 65 anos terá direito à gratuidade desde que 
comprove a sua idade. Veja: 
Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade 
dos transportes coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços 
seletivos e especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares. 
§ 1º Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer 
documento pessoal que faça prova de sua idade. 
§ 2º Nos veículos de transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados 
10% (dez por cento) dos assentos para os idosos, devidamente identificados com 
a placa de reservado preferencialmente para idosos. 
§ 3º No caso das pessoas compreendidas na faixa etária entre 60 (sessenta) e 65 
(sessenta e cinco) anos, ficará a critério da legislação local dispor sobre as 
condições para exercício da gratuidade nos meios de transporte previstos no 
caput deste artigo. 
 
Vale ressaltar que o STF julgou improcedente ADI proposta contra este art. 39, declarando 
que ele é constitucional: 
O art. 39 da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) apenas repete o que dispõe o 
§ 2º do art. 230 da Constituição do Brasil. A norma constitucional é de eficácia 
plena e aplicabilidade imediata, pelo que não há eiva de invalidade jurídica na 
norma legal que repete os seus termos e determina que se concretize o quanto 
constitucionalmente disposto. STF. Plenário. ADI 3768, Rel. Min. Cármen Lúcia, 
julgado em 19/09/2007. 
 
O art. 40, por sua vez, dispõe sobre a gratuidade para os idosos no transporte coletivo 
interestadual. Ex: um ônibus que vai de SP ao RJ. Neste caso, as empresas são obrigadas a 
fornecer apenas 2 vagas gratuitas e apenas para os idosos que comprovem ter baixa renda. 
Se houver mais interessados, somente os 2 primeiros terão gratuidade e os demais gozarão 
apenas de desconto. Confira: 
Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual observar-se-á, nos termos 
da legislação específica: 
I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual 
ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos; 
II – desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no valor das passagens, 
para os idosos que excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 
(dois) salários-mínimos. 
Parágrafo único. Caberá aos órgãos competentes definir os mecanismos e os 
critérios para o exercício dos direitos previstos nos incisos I e II. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: João, idoso, precisava ir de São Paulo até o Rio 
de Janeiro. Vale ressaltar que a sua única fonte de renda é a aposentadoria que recebe no valor 
de 1 salário-mínimo. João foi informado de que teria direito à passagem grátis. Ele foi, então, 
até a empresa de transporte coletivo levando sua carteira de identidade e um cadastro feito na 
Secretaria Estadual de Assistência Social comprovando que ele tem renda inferior a 2 salários-
mínimos. Pediu, então, para ter direito à gratuidade. A funcionária da empresa explicou que 
ele teria direito à passagem gratuita, mas teria que pagar: 
• a tarifa de pedágio; e 
• a tarifa de utilização dos terminais rodoviários. 
 
A atendente afirmou que as empresas são autorizadas a cobrar essas tarifas por força do art. 
8º, § único do Decreto 5.934/06 e do art. 6º, § único da Resolução 1.692/06 da ANTT: 
Parágrafo único. Não estão incluídas no benefício as tarifas de pedágio e de 
utilização de terminais. 
 
João não se conformou com as explicações e procurou o MPF. O Procurador da República 
ajuizou ação civil pública contra a União e a ANTT pedindo para declarar a nulidade do 
parágrafo único do art. 8º do Decreto 5.934/2006, bem como do parágrafo único do art. 6º da 
Resolução 1.692 da ANTT, deforma a garantir que os idosos maiores de 65 anos não 
pagassem nenhum tipo de valor (nem passagem nem tarifa) já que é isso que determina o art. 
40, I, da Lei 10.471/03. 
 
O pedido do MPF foi acolhido pelo STJ? SIM. É o que foi decidido no Info 641 do STJ. 
 
O art. 40, I, da Lei 10.741/03 assegura a reserva de 2 vagas gratuitas, por veículo, para idosos 
com renda igual ou inferior a 2 salários-mínimos. O Decreto Presidencial e a Resolução da 
ANTT, por sua vez, estabelecem que essa gratuidade não será completa, exigindo o pagamento 
de tarifas de pedágio e de utilização dos terminais. Desse modo, tais atos (Decreto e 
Resolução), que deveriam apenas regulamentar o disposto do art. 40 do Estatuto do Idoso, 
acabaram exorbitando (ultrapassando) o poder regulamentar, ao criar ressalva não prevista 
na lei. 
 
Não se pode interpretar que o inciso I do art. 40 garante a gratuidade apenas da passagem. 
 
Note-se, ainda, em relação ao pedágio, que o custo para a operacionalização das empresas de 
transportes é estável. Independentemente de o veículo transportar 5 ou 30 passageiros, um ou 
dois idosos com a garantia da gratuidade, o valor devido ao pedágio será o mesmo. Sendo 
assim, a questão atinente ao equilíbrio econômico-financeiro deverá ser resolvida pelas 
transportadoras com o poder concedente, com a observância do disposto na legislação 
específica. 
 
 
1.3. O STJ não pode determinar que as companhias aéreas ofereçam transporte gratuito 
para pessoas com deficiência com base em um exercício hermenêutico da Lei nº 8.899/94 – (Info 
640) 
 
A Lei 8.899/94 previu que as pessoas com deficiência possuem direito à gratuidade no 
transporte coletivo interestadual. Esta Lei foi regulamentada pela Portaria Interministerial 
nº 003/01, que, no entanto, afirmou que apenas as empresas de transporte rodoviário, 
ferroviário e aquaviário teriam o dever de oferecer essa gratuidade. Houve, assim, uma 
omissão quanto ao transporte aéreo. 
O MP propôs ação civil pública na qual pretendia garantir a gratuidade também no 
transporte aéreo. Ao julgar um recurso neste processo, o STJ afirmou que não poderia 
conceder o pedido. Isso porque: 
O STJ não possui competência constitucional para ampliar os modais de transporte 
interestadual submetidos ao regime da gratuidade prevista na Lei nº 8.899/94 e nos atos 
normativos secundários que a regulamentam. 
Na hipótese de se verificar omissão legislativa, incumbe ao interessado legitimado lançar 
mão dos remédios constitucionais disponíveis para suprir a inatividade legislativa. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1155590-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 27/11/2018 (Info 640). 
 
 
 
1.4. DIREITO À SAÚDE: Requisitos para a concessão judicial de medicamentos não 
previstos pelo SUS – (Info 633) – IMPORTANTE!!! RECURSO REPETITIVO!!! 
 
Em, 25/04/2018, o STJ, ao julgar o REsp 1.657.156-RJ (Info 625), afirmou que o poder público 
é obrigado a conceder medicamentos mesmo que não estejam incorporados em atos 
normativos do SUS, desde que cumpridos três requisitos. 
Em 12/09/2018, o STJ decidiu retificar o terceiro requisito da tese anteriormente fixada: 
Redação original Redação após os embargos 
A concessão dos medicamentos não 
incorporados em atos normativos do 
SUS exige a presença cumulativa dos 
seguintes requisitos: 
(...) 
3) existência de registro na ANVISA do 
medicamento. 
A concessão dos medicamentos não 
incorporados em atos normativos do SUS 
exige a presença cumulativa dos seguintes 
requisitos: 
(...) 
3) existência de registro do medicamento na 
ANVISA, observados os usos autorizados 
pela agência. 
 
O que o STJ quis dizer com essa mudança: 
• Em regra, não é possível que o paciente exija do poder público o fornecimento de 
medicamento para uso off-label; 
• Excepcionalmente, será possível que o paciente exija este medicamento caso esse 
determinado uso fora da bula (off-label) tenha sido autorizado pela ANVISA. 
Em outras palavras, o requisito do registro na ANVISA afasta a possibilidade de 
fornecimento de medicamento para uso off-label, salvo se autorizado pela ANVISA. 
 
A tese fixada ficou, portanto, com esta nova redação: 
A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a 
presença cumulativa dos seguintes requisitos: 
a) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por 
médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, 
assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; 
b) Incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito; 
c) Existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados pela 
agência. 
 
Além disso, o STJ decidiu alterar a data de início da produção dos efeitos desta decisão: 
Modula-se os efeitos do presente repetitivo de forma que os requisitos acima elencados 
sejam exigidos somente quanto aos processos distribuídos a partir da data da publicação 
do acórdão, ou seja, 4/5/2018. 
Explicando melhor: 
a) Os três requisitos cumulativos estabelecidos no acórdão (REsp 1.657.156-RJ) são 
aplicáveis a todos os processos distribuídos na primeira instância a partir de 4/5/2018; 
b) Quanto aos processos pendentes, com distribuição anterior a 4/5/2018, é exigível apenas 
um requisito que se encontrava sedimentado na jurisprudência do STJ: a demonstração da 
imprescindibilidade do medicamento. 
STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1657156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 12/9/18 (recurso 
repetitivo) (Info 633). 
 
OBS: 
DECISÃO PROFERIDA EM 25/04/2018 (INFO 625) 
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi diagnosticado com glaucoma e o 
oftalmologista prescreveu determinado colírio indicado para essa enfermidade. O problema é 
que tal remédio não está especificado na lista de medicamentos que o SUS é obrigado a fornecer 
gratuitamente para a população (Portaria 2.982/09 do Ministério da Saúde). 
 
O juiz pode obrigar que o Estado forneça esse medicamento? O Poder Judiciário pode 
determinar que o Poder Público forneça remédios que não estão previstos na lista do SUS? Em 
25/4/18, o STJ decidiu que SIM, mas desde que cumpridos três requisitos. Foi fixada, então, a 
seguinte tese: 
A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS 
exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos: 
1) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado 
expedido por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou 
necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da 
moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; 
2) Incapacidade financeira do paciente de arcar com o custo do medicamento 
prescrito; e 
3) Existência de registro do medicamento na Agência Nacional de Vigilância 
Sanitária (Anvisa). 
STJ. 1ª Seção. REsp 1657156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 25/4/18 (recurso 
repetitivo) (Info 625). 
 
Vejamos abaixo alguns dos argumentos jurídicos debatidos pelo STJ. 
 
Inexistência de violação ao princípio da separação dos Poderes: O entendimento acima não 
viola o princípio da separação dos Poderes. Isso porque uma das tarefas primordiais do 
Poder Judiciário é atuar para a efetivação dos direitos fundamentais, especialmente aqueles 
que se encontram previstos na CF/88. Assim, não há que se falar em violação ao princípio da 
separação dos Poderes, quando o Poder Judiciário intervém no intuito de garantir a 
implementação de políticas públicas, notadamente, como no caso em análise, em que se busca 
a tutela do direito à saúde. 
 
“Seria distorção pensar que o princípio da separação dos poderes, originalmente 
concebido com o escopo de garantia dos direitos fundamentais, pudesse ser 
utilizado justamente como óbice à realização dos direitos sociais, igualmente 
relevantes.” (STJ. 2ª Turma. REsp 1.488.639/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 
16/12/2014). 
 
É a posição também do STF: 
(...) É firme o entendimento deste Tribunal de que o Poder Judiciário pode, sem 
que fique configurada violaçãoao princípio da separação dos Poderes, 
determinar a implementação de políticas públicas nas questões relativas ao 
direito constitucional à saúde. (...) STF. 1ª Turma. ARE 947.823 AgR, Rel. Min. 
Edson Fachin, julgado em 28/6/2016. 
 
Fundamento constitucional: O direito à saúde foi consagrado pela CF/88 como direito 
fundamental do cidadão, corolário do direito à vida, bem maior do ser humano. O art. 196 da 
CF/88 estabelece que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante 
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao 
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. 
A propósito do tema, o STF, ao interpretar os arts. 5º, caput, e 196 da CF/88, consagrou o 
direito à saúde como consequência indissociável do direito à vida, assegurado a todas as 
pessoas (STF. 2ª Turma. ARE 685.230 AgR/MS, Rel. Min. Celso de Mello, DJe de 25/3/13). 
Para alcançar esse objetivo, a Carta Constitucional determinou a criação de um sistema único 
de saúde (SUS), que tenha como uma de suas diretrizes o “atendimento integral” da população 
(art. 198, II, da CF/88). 
 
Fundamento infraconstitucional: A fim de dar concretude ao SUS, foi editada a Lei 8.080/90, 
que prevê que o Poder Público deverá fornecer assistência integral, inclusive farmacêutica: 
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado 
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. 
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de 
políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de 
outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso 
universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e 
recuperação. 
(...) 
Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e 
instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e 
indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único 
de Saúde (SUS). 
(...) 
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde 
(SUS): 
I - a execução de ações: (...) 
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica; 
 
Em 2011, foi editada a Lei 12.401/11 que incluiu diversos dispositivos na Lei 8.080/90 tratando 
sobre a assistência terapêutica e prevendo o fornecimento de medicamentos. Veja o que diz o 
art. 19-M, um dos dispositivos acrescentados: 
Art. 19-M. A assistência terapêutica integral a que se refere a alínea d do inciso I 
do art. 6º consiste em: 
I - dispensação de medicamentos e produtos de interesse para a saúde, cuja 
prescrição esteja em conformidade com as diretrizes terapêuticas definidas em 
protocolo clínico para a doença ou o agravo à saúde a ser tratado ou, na falta do 
protocolo, em conformidade com o disposto no art. 19-P; (...) 
 
O art. 19-P afirma que a dispensação (fornecimento) de medicamentos será feita com base no 
protocolo clínico ou de diretriz terapêutica e, na falta disso, com base nas relações de 
medicamentos do SUS: 
Art. 19-P. Na falta de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, a dispensação 
será realizada: 
I - com base nas relações de medicamentos instituídas pelo gestor federal do SUS, 
observadas as competências estabelecidas nesta Lei, e a responsabilidade pelo 
fornecimento será pactuada na Comissão Intergestores Tripartite; 
II - no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de forma suplementar, com 
base nas relações de medicamentos instituídas pelos gestores estaduais do SUS, e 
a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada na Comissão Intergestores 
Bipartite; 
III - no âmbito de cada Município, de forma suplementar, com base nas relações 
de medicamentos instituídas pelos gestores municipais do SUS, e a 
responsabilidade pelo fornecimento será pactuada no Conselho Municipal de 
Saúde. 
 
O art. 19-Q trata sobre o procedimento para incorporação, exclusão ou alteração, pelo SUS, de 
novos medicamentos: 
Art. 19-Q. A incorporação, a exclusão ou a alteração pelo SUS de novos 
medicamentos, produtos e procedimentos, bem como a constituição ou a 
alteração de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, são atribuições do 
Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão Nacional de Incorporação de 
Tecnologias no SUS. (...) 
 
O STJ entende que o fato de o medicamento não integrar a lista básica do SUS não tem o 
condão de eximir os entes federados do dever imposto pela ordem constitucional, porquanto 
não se pode admitir que regras burocráticas, previstas em portarias ou normas de inferior 
hierarquia, prevaleçam sobre direitos fundamentais (STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 
405.126/DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, DJe 26/10/16). 
 
Vamos agora fazer algumas observações sobre os três requisitos impostos pelo STJ: 
 
PRIMEIRO requisito 
O primeiro requisito exigido pelo STJ foi o seguinte: 
“Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado 
expedido por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou 
necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da 
moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;” 
 
Sobre esse primeiro requisito, é importante que sejam feitas três observações: 
 
Primeira observação. Na I Jornada de Direito da Saúde, organizada pelo CNJ, foi aprovado o 
enunciado 15 dizendo como deve ser este laudo médico. O STJ acolhe esse enunciado. Veja 
a sua redação: 
Enunciado 15: As prescrições médicas devem consignar o tratamento necessário 
ou o medicamento indicado, contendo a sua Denominação Comum Brasileira 
(DCB) ou, na sua falta, a Denominação Comum Internacional (DCI), o seu 
princípio ativo, seguido, quando pertinente, do nome de referência da substância, 
posologia, modo de administração e período de tempo do tratamento e, em caso 
de prescrição diversa daquela expressamente informada por seu fabricante, a 
justificativa técnica. 
 
Desse modo, a parte, quando for fazer o pedido do medicamento junto ao Poder Judiciário, 
deverá ficar atenta a isso. 
 
Sobre o tema, o STJ esclareceu, em embargos de declaração, que: 
O laudo médico apresentado pela parte não vincula o julgador, isto é, cabe ao 
juiz avaliar o laudo e verificar se as informações constantes nele são suficientes 
para a formação de seu convencimento quanto à imprescindibilidade do 
medicamento. STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito 
Gonçalves, j. 12/9/18 (recurso repetitivo (Info 633). 
 
Segunda observação. Este laudo médico não precisa ser assinado por médico vinculado ao 
SUS: 
“(...) Ressalte-se, ainda, que não há no ordenamento, jurídico brasileiro 
qualquer exigência que condicione o fornecimento de medicamento à 
prescrição exclusivamente por médico da rede pública. (...)” (STJ. AgInt no REsp 
1.309.793/RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 7/4/17). 
 
Assim, o laudo deve ser emitido pelo médico que assiste o paciente, seja ele público ou privado. 
 
Terceira observação. O laudo médico deverá comprovar duas circunstâncias: 
1ª) Imprescindibilidade ou necessidade do medicamento pleiteado para o 
tratamento da doença; e 
2ª) Ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS. 
 
Em outras palavras, o remédio pedido judicialmente deve ser imprescindível ou necessário e 
aqueles que existem no SUS não podem substitui-lo. 
 
(...) O STF tem se orientado no sentido de ser possível ao Judiciário a 
determinação de fornecimento de medicamento não incluído na lista 
padronizada fornecida pelo SUS, desde que reste comprovação de que não haja 
nela opção de tratamento eficaz para a enfermidade. (...) STF. 1ª Turma. RE 
831.385 AgR/RS, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 6/4/15. 
 
(...) A alegada circunstância de que o medicamento Lantus não consta da lista de 
medicamentos do SUS deve ceder lugar às afirmações do médico que a 
acompanha, quando afiança que todos os tratamentos disponibilizados pelarede pública e já ministrados à menor mostraram-se ineficazes no combate aos 
vários episódios de hipoglicemias graves, com perda de consciência e crises 
convulsivas por ela sofridas. (...) STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.068.105/RS, Rel. 
Min. Sérgio Kukina, DJe de 30/06/2016. 
 
No mesmo sentido é o enunciado 14 da I Jornada de Direito da Saúde do CNJ: Não 
comprovada a inefetividade ou impropriedade dos medicamentos e tratamentos fornecidos 
pela rede pública de saúde, deve ser indeferido o pedido não constante das políticas públicas 
do Sistema Único de Saúde. 
 
Cabe ao juiz avaliar, a partir dos elementos de prova juntados pelas partes, a 
alegada ineficácia do medicamento fornecido pelo SUS decidindo se, com a 
utilização do medicamento pedido, poderá haver ou não um relevante acréscimo 
na resposta terapêutica. STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. 
Benedito Gonçalves, j. 12/9/2018 (recurso repetitivo) (Info 633). 
 
SEGUNDO requisito 
Vamos relembrar o segundo requisito exigido pelo STJ: 
“incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito”. 
 
Desse modo, o segundo requisito consiste na devida comprovação da hipossuficiência daquele 
que requer o medicamento, ou seja, que a sua aquisição implique o comprometimento da sua 
própria subsistência e/ou de seu grupo familiar. 
 
Atenção! Não se exige comprovação de pobreza ou miserabilidade, mas, tão somente, a 
demonstração da incapacidade de arcar com os custos referentes à aquisição do 
medicamento prescrito. Ex: a pessoa pode ser servidora pública, concursada, recebendo R$ 5 
mil por mês; neste caso, não se trata de pessoa pobre; o remédio, contudo, custa R$ 100 mil 
cada dose. Ela não terá condições de adquiri-lo, preenchendo, portanto, o presente requisito. 
 
TERCEIRO requisito 
O terceiro requisito exigido pelo STJ diz respeito: 
“à existência de registro na ANVISA do medicamento”. 
 
Assim, exige-se que o medicamento pretendido já tenha sido aprovado pela ANVISA. Esta 
exigência decorre de imposição legal, tendo em vista o disposto no artigo 19-T, II, da Lei nº 
8.080/90: 
Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS: 
I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento, produto e 
procedimento clínico ou cirúrgico experimental, ou de uso não autorizado pela 
Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA; 
II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento 
e produto, nacional ou importado, sem registro na Anvisa. 
 
Fazendo uma interpretação teleológica do art. 19-T, verifica-se que a intenção do legislador 
foi a de proteger o cidadão dos medicamentos experimentais, sem comprovação científica 
sobre a eficácia, a efetividade e a segurança do medicamento, a fim de assegurar o direito à 
saúde e à vida das pessoas. 
 
Modulação dos efeitos: O STJ decidiu modular os efeitos dessa decisão e afirmou que “os 
critérios e requisitos estipulados somente serão exigidos para os processos que forem 
distribuídos a partir da conclusão do presente julgamento” (25/4/18). A modulação tem por 
base o art. 927, § 3º, do CPC: 
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal 
Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos 
repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e 
no da segurança jurídica. 
 
Dessa forma, a tese fixada neste julgamento não vai afetar os processos que ficaram 
sobrestados aguardando a definição do tema. 
 
E a oferta de procedimentos terapêuticos não previstos na lista do SUS (inciso II do art. 19-M 
da Lei nº 8.080/90)? O julgado acima comentado não abarca essa hipótese. O STJ e o STF ainda 
terão que se debruçar sobre essa discussão. A “tendência”, contudo, na minha opinião, será 
adotar os mesmos critérios acima explicados. 
 
JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM 12/09/2018 
Embargos de declaração: Quando o acórdão acima foi publicado, o Estado do Rio de Janeiro, 
que era parte no recurso especial, opôs embargos de declaração pedindo que o STJ acrescente, 
no terceiro requisito da tese acima fixada, que não é possível o fornecimento de remédios 
para uso off-label, ou seja, para tratamento de enfermidade diversa daquelas indicadas na 
bula e autorizadas pela ANVISA. Em outras palavras, o embargante disse o seguinte: STJ, 
explique, no terceiro requisito, que o Poder Público não é obrigado a fornecer remédios para 
uso off-label. 
 
O que é uso off-label de medicamento? É uma expressão em inglês que, em tradução literal, 
significaria “fora de indicação” (Off = fora / label = indicação). Para que um medicamento seja 
fabricado ou comercializado no Brasil, ele precisa de registro (autorização) na Anvisa. Ao pedir 
o registro de um medicamento, o fabricante ou responsável apresenta à autarquia as indicações 
daquele remédio, ou seja, para que enfermidades a droga foi testada e aprovada. Essas 
indicações (e sua respectiva eficácia) são baseadas em pesquisas e testes que levam anos para 
serem concluídos. Assim, por exemplo, quando o fabricante do remédio Dorflex foi registrá-lo 
na Anvisa, ele informou que este medicamento foi idealizado e testado para ser utilizado como 
“relaxante muscular”. Essa é a indicação deste remédio. Ocorre que, muitas vezes, um 
medicamento que foi planejado para determinada finalidade, quando entra no organismo 
humano, acaba trazendo outros benefícios que não haviam sido previstos. Esse efeito 
inicialmente não previsto é percebido pelos médicos, que passam a receitar aquele 
medicamento não apenas para aquela indicação inicialmente pensada e sim para outra 
finalidade que não havia sido prevista. Quando isso ocorre, dizemos que há a prescrição e o 
uso do medicamento off-label, ou seja, fora da sua indicação. Assim, o medicamento off-label 
é aquele cujo médico prescreve para uma determinada finalidade que não consta 
expressamente na sua bula. O exemplo mais famoso de medicamento off-label é o AAS (ácido 
acetilsalicílico). Este remédio foi desenvolvido para ser um mero analgésico. Posteriormente, 
contudo, percebeu-se que ele servia para outras finalidades, como, por exemplo, para a 
prevenção de infartos. Assim, atualmente, muitos médicos prescrevem o AAS para prevenir 
infartos, mesmo isso não sendo uma indicação oficial do remédio. 
 
O STJ acolheu este pedido dos embargos de declaração? SIM. A Lei 8.080/90 regula as ações e 
serviços de saúde executados, pelo Governo ou pela iniciativa privada, em nosso país. O art. 
19-T desta Lei prevê o seguinte: 
Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS: 
I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento, produto e 
procedimento clínico ou cirúrgico experimental, ou de uso não autorizado pela 
Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA; 
II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento 
e produto, nacional ou importado, sem registro na Anvisa. 
 
Este artigo apresenta duas vedações distintas: 
1) proíbe o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso pelo SUS de 
medicamento que foi empregado ou prescrito fora do uso autorizado pela 
ANVISA, ou seja, quando o medicamento foi prescrito para tratamento não 
indicado na bula e aprovado no registro em referido órgão regulatório (inciso I). 
2) impede a dispensação (fornecimento), o pagamento, o ressarcimento ou o 
reembolso pelo SUS de medicamento que não tenha ainda sido registrado na 
ANVISA (inciso II). 
 
Assim, nos termos da legislação vigente, no âmbito do SUS, somente podem ser utilizados 
medicamentos que tenham sido previamente registrados ou com uso autorizado pela 
ANVISA. Em outras palavras, a legislação proibiu, no âmbito do SUS, uso de medicamentos 
off-label. A exigência de registro na ANVISA e do uso dentro das especificações aprovadas 
pela agência reguladora é medida que visa proteger o usuário do sistema de saúde, pois estes 
medicamentos foram submetidos a estudos clínicos que comprovaram a sua qualidade,a sua 
efetividade e a sua segurança. Vale ressaltar, contudo, que a ANVISA, com fundamento no 
art. 21 do Decreto nº 8.077/2013 autoriza, em caráter excepcional, a utilização de 
medicamentos fora das prescrições aprovadas no registro. Em outros termos, a própria 
ANVISA autoriza, excepcionalmente, o uso de medicamentos off-label. Um exemplo é o 
Avastin, que é indicado, segundo a sua bula, para o tratamento de vários tipos de câncer. 
Apesar disso, a ANVISA autoriza que ele seja utilizado no SUS para tratamento de distúrbio 
oftalmológico (Degeneração Macular Relacionada à Idade) por meio da Resolução de Diretoria 
Colegiada - RDC nº 111. Trata-se, portanto, de autorização da ANVISA para a utilização off-
label deste medicamento. Assim, podemos estabelecer a seguinte regra e exceção: 
• Em regra, não é possível que o paciente exija do poder público o fornecimento de 
medicamento para uso off-label; 
• Excepcionalmente, será possível que o paciente exija este medicamento caso esse 
determinado uso fora da bula (off-label) tenha sido autorizado pela ANVISA. Ex: um 
paciente do SUS com Degeneração Macular Relacionada à Idade poderia, em tese, desde que 
cumpridos os demais requisitos, exigir que o poder público fornecesse a ele o “Avastin” para 
tratar esta enfermidade ocular, mesmo não sendo esta a finalidade do medicamento prevista 
na sua bula. 
 
Explicando o tema em uma frase: o requisito do registro na ANVISA afasta a possibilidade de 
fornecimento de medicamento para uso off-label, salvo se autorizado pela ANVISA. 
Diante disso, o STJ decidiu retificar o terceiro requisito da tese anteriormente fixada: 
Redação original Redação após os embargos 
A concessão dos medicamentos não 
incorporados em atos normativos do 
SUS exige a presença cumulativa dos 
seguintes requisitos: 
(...) 
3) existência de registro na ANVISA do 
medicamento. 
A concessão dos medicamentos não incorporados 
em atos normativos do SUS exige a presença 
cumulativa dos seguintes requisitos: 
(...) 
3) existência de registro do medicamento 
na ANVISA, 
observados os usos autorizados pela agência. 
 
MODULAÇÃO DOS EFEITOS 
No julgamento do dia 25/4/18, o STJ havia decidido modular os efeitos da decisão, 
estabelecendo que aquele acórdão somente produziria efeitos a partir da conclusão daquele 
julgamento (25/04/2018). 
 
Em 12/9/18, o STJ decidiu alterar a redação do terceiro requisito da tese (conforme explicado 
acima). Diante disso, como houve essa alteração, o STJ entendeu que não poderia surpreender 
os jurisdicionados, razão pela qual, de ofício, resolveu modificar também o início da produção 
dos efeitos do acórdão. 
 
Assim, o STJ afirmou o seguinte: os requisitos acima elencados somente podem ser exigidos 
quanto aos processos distribuídos a partir da data da publicação do acórdão embargado (a 
publicação ocorreu em 4/5/2018): 
Modula-se os efeitos do presente repetitivo de forma que os requisitos acima 
elencados sejam exigidos de forma cumulativa somente quanto aos processos 
distribuídos a partir da data da publicação do acórdão embargado, ou seja, 
4/5/2018. STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 
j. 12/9/18 (recurso repetitivo) (Info 633). 
 
Esclarecendo melhor: 
a) Os três requisitos cumulativos estabelecidos no acórdão (EDcl no REsp 
1.657.156-RJ) são aplicáveis a todos os processos distribuídos na primeira 
instância a partir de 4/5/2018; 
b) Quanto aos processos pendentes, com distribuição anterior a 4/5/2018, é exigível 
apenas um requisito que se encontrava sedimentado na jurisprudência do STJ: a 
demonstração da imprescindibilidade do medicamento. 
 
 
1.5. DIREITO À SAÚDE: Requisitos para a concessão judicial de medicamentos não 
previstos pelo SUS – (Info 625) – IMPORTANTE!!! 
 
A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a 
presença cumulativa dos seguintes requisitos: 
(I) comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por 
médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, 
assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; 
(II) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito; e 
(III) existência de registro na ANVISA do medicamento. 
STJ. 1ª Seção. REsp 1657156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 25/4/18 (recurso repetitivo) 
(Info 625). 
 
 
 
1.6. INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO: Mera intuição de que está havendo tráfico de 
drogas na casa não autoriza o ingresso sem mandado judicial ou consentimento do morador – 
(Info 606) – IMPORTANTE!!! 
 
O ingresso regular da polícia no domicílio, sem autorização judicial, em caso de flagrante 
delito, para que seja válido, necessita que haja fundadas razões (justa causa) que sinalizem 
a ocorrência de crime no interior da residência. 
A mera intuição acerca de eventual traficância praticada pelo agente, embora pudesse 
autorizar abordagem policial, em via pública, para averiguação, não configura, por si só, 
justa causa a autorizar o ingresso em seu domicílio, sem o seu consentimento e sem 
determinação judicial. 
STJ. 6ª Turma. REsp 1.574.681-RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, j. 20/4/17 (Info 606). 
 
 
 
1.7. SIGILO BANCÁRIO: Publicação no jornal dos nomes dos clientes que tinham contas 
de poupança no banco, em determinado período, representa quebra do sigilo bancário – (Info 
605) 
 
A divulgação de elementos cadastrais dos beneficiários de decisão proferida em ação civil 
pública que determinou o pagamento dos expurgos inflacionários decorrentes de planos 
econômicos configura quebra de sigilo bancário. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.285.437-MS, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 23/5/2017 (Info 605). 
 
 
 
1.8. DIREITO À SAÚDE: Ação pedindo suplemento para criança lactente não perde o 
objeto pelo simples fato de terem se passado vários anos sem o julgamento – (Info 601) 
 
Não há perda do objeto em mandado de segurança cuja pretensão é o fornecimento de leite 
especial necessário à sobrevivência de menor ao fundamento de que o produto serve para 
lactentes e o impetrante perdeu essa qualidade em razão do tempo decorrido para a solução 
da controvérsia. 
Como se trata de direito fundamental da pessoa e dever do Poder Público garantir a saúde 
e a vida, não há que se falar que o pleito se tornou infrutífero pelo simples fato de a solução 
da demanda ter demorado. 
A necessidade ou não do fornecimento de leite especial para a criança deverá ser apurada 
em fase de execução, quando será conferida oportunidade ao demandante para comprovar 
suas alegações. Se ficar realmente comprovada a impossibilidade de se acolher o pedido 
principal, em virtude da longa discussão judicial acerca do tema, nada impede que a parte 
requeira a conversão em perdas e danos. 
STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 26.647-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 2/2/17 (Info 
601). 
 
 
 
1.9. CONTROLE JURISDICIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS: Judiciário pode 
determinar a realização de obras de acessibilidade em prédios públicos – (Info 592) – (DPEAP-
2018) (Proc./IPSM-2018) 
 
O Poder Judiciário pode condenar universidade pública a adequar seus prédios às normas 
de acessibilidade a fim de permitir a sua utilização por pessoas com deficiência. 
No campo dos direitos individuais e sociais de absoluta prioridade, o juiz não deve se 
impressionar nem se sensibilizar com alegações de conveniência e oportunidade trazidas 
pelo administrador relapso. 
Se um direito é qualificado pelo legislador como absoluta prioridade, deixa de integrar o 
universo de incidência da reserva do possível, já que a sua possibilidade é 
obrigatoriamente, fixada pela Constituição ou pela lei. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.607.472-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 15/9/2016 (Info 592). 
(Proc./IPSM-2018-VUNESP): Considerando os direitos e garantias fundamentais, bem 
como a jurisprudência firmada pelo STF e pelo STJ, assinale a alternativa correta: Se um 
direito é qualificado pelo legisladorcomo de absoluta prioridade, deixa de integrar o 
universo de incidência da reserva do possível, já que a sua possibilidade é, preambular e 
obrigatoriamente, fixada pela Constituição ou pela lei, especialmente quando não for 
apresentada justificativa concreta pela pessoa estatal. BL: Info 592, STJ. 
 
 
 
 
OBS: 
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: O MPF ajuizou ação civil pública contra 
a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) requerendo que a instituição fosse condenada 
a adequar seus prédios às normas de acessibilidade a fim de permitir a sua utilização por 
pessoas com deficiência. 
 
Fundamentos invocados no pedido formulado na ACP: Constituição Federal, Convenção 
Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência, Lei 10.098/00 e Decreto 5.296/04. 
 
Importante: em uma prova discursiva ou prática do MPF, Defensoria ou Magistratura 
envolvendo este tema, é fundamental que você mencione todos estes diplomas. Na ação, o 
MPF pediu que as obras começassem em um prazo máximo de 6 meses e que, depois de 
iniciadas, fossem concluídas em até 18 meses. 
 
Contestação: A UFPE contestou a ação invocando, dentre outros argumentos: 
a) que a forma como serão gastos os recursos da Universidade é uma decisão de conveniência 
e oportunidade do reitor, não sendo possível ao Poder Judiciário adentrar no mérito 
administrativo; e 
b) a teoria da reserva do possível, segundo a qual os recursos são limitados e as necessidades 
ilimitadas, de forma que não há condições financeiras de o Poder Público atender a todas as 
demandas sociais. 
 
O pedido do MPF deve ser acolhido, segundo a jurisprudência do STJ? SIM. 
 
Conveniência e oportunidade: Em se tratando de direitos individuais e sociais de absoluta 
prioridade, o juiz não deve se impressionar nem se sensibilizar com alegações de conveniência 
e oportunidade trazidas pelo administrador relapso. Se o Judiciário deixasse de garantir os 
direitos de absoluta prioridade levando em conta tais argumentos, ele estaria fazendo juízo de 
valor ou político em uma esfera na qual o legislador não lhe deixou outra possibilidade de 
decidir que não seja a de exigir o imediato e cabal cumprimento dos deveres, completamente 
vinculados, da Administração Pública. 
 
Reserva do possível: Se um direito é qualificado pelo legislador como absoluta prioridade, ele 
deixa de integrar o universo de incidência da reserva do possível, já que a sua possibilidade é 
obrigatoriamente fixada pela Constituição ou pela lei. Ademais, tratando-se de direito 
essencial, incluso no conceito de mínimo existencial, inexistirá empecilho jurídico para que o 
Judiciário estabeleça a inclusão de determinada política pública nos planos orçamentários do 
ente político, especialmente quando não houver comprovação objetiva da incapacidade 
econômico-financeira da pessoa estatal. Sobre o tema, é interessante conhecer o seguinte 
julgado do STJ que é uma verdadeira aula: 
(...) 1. A tese da reserva do possível assenta-se em ideia de que, desde os romanos, 
está incorporada na tradição ocidental, no sentido de que a obrigação impossível 
não pode ser exigida (Impossibilium nulla obligatio est - Celso, D. 50, 17, 185). Por 
tal motivo, a insuficiência de recursos orçamentários não pode ser considerada 
uma mera falácia. 
2. Todavia, observa-se que a dimensão fática da reserva do possível é questão 
intrinsecamente vinculada ao problema da escassez. Esta pode ser compreendida 
como "sinônimo" de desigualdade. Bens escassos são bens que não podem ser 
usufruídos por todos e, justamente por isso, devem ser distribuídos segundo 
regras que pressupõe o direito igual ao bem e a impossibilidade do uso igual e 
simultâneo. 
3. Esse estado de escassez, muitas vezes, é resultado de um processo de escolha, 
de uma decisão. Quando não há recursos suficientes para prover todas as 
necessidades, a decisão do administrador de investir em determinada área 
implica escassez de recursos para outra que não foi contemplada. A título de 
exemplo, o gasto com festividades ou propagandas governamentais pode ser 
traduzido na ausência de dinheiro para a prestação de uma educação de 
qualidade. 
4. É por esse motivo que, em um primeiro momento, a reserva do possível não 
pode ser oposta à efetivação dos Direitos Fundamentais, já que, quanto a estes, 
não cabe ao administrador público preteri-los em suas escolhas. Nem mesmo a 
vontade da maioria pode tratar tais direitos como secundários. Isso porque a 
democracia não se restringe na vontade da maioria. O princípio do majoritário é 
apenas um instrumento no processo democrático, mas este não se resume àquele. 
Democracia é, além da vontade da maioria, a realização dos direitos 
fundamentais. Só haverá democracia real onde houver liberdade de expressão, 
pluralismo político, acesso à informação, à educação, inviolabilidade da 
intimidade, o respeito às minorias e às ideias minoritárias etc. Tais valores não 
podem ser malferidos, ainda que seja a vontade da maioria. Caso contrário, se 
estará usando da "democracia" para extinguir a Democracia. 
5. Com isso, observa-se que a realização dos Direitos Fundamentais não é opção 
do governante, não é resultado de um juízo discricionário nem pode ser encarada 
como tema que depende unicamente da vontade política. Aqueles direitos que 
estão intimamente ligados à dignidade humana não podem ser limitados em 
razão da escassez quando esta é fruto das escolhas do administrador. Não é por 
outra razão que se afirma que a reserva do possível não é oponível à realização 
do mínimo existencial. 
6. O mínimo existencial não se resume ao mínimo vital, ou seja, o mínimo para se 
viver. O conteúdo daquilo que seja o mínimo existencial abrange também as 
condições socioculturais, que, para além da questão da mera sobrevivência, 
asseguram ao indivíduo um mínimo de inserção na "vida" social. 
(...) 
11. Todavia, a real insuficiência de recursos deve ser demonstrada pelo Poder 
Público, não sendo admitido que a tese seja utilizada como uma desculpa 
genérica para a omissão estatal no campo da efetivação dos direitos 
fundamentais, principalmente os de cunho social. No caso dos autos, não houve 
essa demonstração. (...) 
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 790.767/MG, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 
14/12/2015. 
 
Dessa forma, não se mostra abusiva nem ilegal a fixação de prazo para o início e o fim das 
obras de acessibilidade nos prédios da Universidade Federal. 
 
Precedente semelhante do STF: O STF já enfrentou questão parecida, ocasião em que decidiu 
que o Poder Judiciário pode obrigar a Administração Pública a garantir o direito a 
acessibilidade em prédios públicos: A CF/88 e a Convenção Internacional sobre Direitos das 
Pessoas com Deficiência asseguram o direito dos portadores de necessidades especiais ao 
acesso a prédios públicos, devendo a Administração adotar providências que o viabilizem. O 
Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode determinar que a Administração Pública 
adote medidas assecuratórias de direitos constitucionalmente reconhecidos como essenciais, 
sem que isso configure violação do princípio da separação de poderes. STF. 1ª Turma. RE 
440028/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/10/2013 (Info 726). 
 
Este entendimento do STF já foi cobrado em prova: 
(MPAM-2015): Segundo a jurisprudência do STF, a acessibilidade em escolas depende de 
política pública sujeita à esfera de discricionariedade do administrador público, não 
podendo o Judiciário exercer qualquer tipo de controle, pois estaria se imiscuindo no 
“mérito” administrativo. (errado) 
 
 
 
1.10. SIGILO BANCÁRIO: Requisição pelo MP de informações bancárias de ente da 
administração pública – (Info 572) 
 
Não são nulas as provas obtidas por meio de requisição do MP de informações bancárias 
de titularidade de prefeitura municipal para fins de apurar supostos crimes praticados por 
agentes públicos contra a Administração Pública. 
É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias de contas de 
titularidadeda Prefeitura Municipal, com o fim de proteger o patrimônio público, não se 
podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário. 
STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 20/10/15 (Info 572). 
 
 
1.11. DIREITO À INFORMAÇÃO: Jornal tem direito de obter informações detalhadas dos 
gastos com cartão corporativo do governo – (Info 552) 
 
Determinado jornal solicitou que o governo federal fornecesse a relação dos gastos 
efetuados com o cartão corporativo pela chefe da representação da Presidência da República 
em SP. 
O Governo concedeu ao jornal a relação dos gastos efetuados no período, ou seja, os valores 
despendidos. No entanto, negou-se a fornecer informações detalhadas como os tipos de 
gastos, as datas, valores individuais de cada transação, CNPJ/razão social das empresas 
contratadas etc. 
O STJ entendeu que essa recusa ao fornecimento do extrato completo (incluindo tipo, data, 
valor das transações efetuadas e CNPJ dos fornecedores) constitui ilegal violação ao direito 
de acesso à informação de interesse coletivo (Lei 12.527/11), já que não havia qualquer 
evidência de que a publicidade desses elementos atentaria contra a segurança do Presidente 
e Vice-Presidente da República ou de suas famílias. 
STJ. 1ª Seção. MS 20.895-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 12/11/14 (Info 552). 
 
 
1.12. DIREITO À INFORMAÇÃO: Direito de acesso a informações sobre expedição de 
passaportes diplomáticos – (Info 543) 
 
O Ministério das Relações Exteriores não pode sonegar o nome de quem recebe passaporte 
diplomático emitido na forma do § 3º do art. 6º do Anexo do Decreto 5.978/2006. 
O nome de quem recebe um passaporte diplomático emitido por interesse público não pode 
ficar escondido do público. 
Assim, se um jornal requer essa informação, o Ministro é obrigado a fornecer. 
STJ. 1ª Seção. MS 16.179-DF, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 9/4/2014 (Info 543). 
 
 
1.13. CONTROLE JURISDICIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS: Judiciário pode 
determinar a reforma de cadeia pública ou a construção de nova unidade prisional – (Info 543) 
– IMPORTANTE!!! – (DPEAP-2018) 
 
Constatando-se inúmeras irregularidades em cadeia pública – superlotação, celas sem 
condições mínimas de salubridade para a permanência de presos, notadamente em razão 
de defeitos estruturais, de ausência de ventilação, de iluminação e de instalações sanitárias 
adequadas, desrespeito à integridade física e moral dos detentos, havendo, inclusive, relato 
de que as visitas íntimas seriam realizadas dentro das próprias celas e em grupos, e que 
existiriam detentas acomodadas improvisadamente –, a alegação de ausência de previsão 
orçamentária não impede que seja julgada procedente ação civil publica que, entre outras 
medidas, objetive obrigar o Estado a adotar providências administrativas e respectiva 
previsão orçamentária para reformar a referida cadeia pública ou construir nova unidade, 
mormente quando não houver comprovação objetiva da incapacidade econômico-
financeira da pessoa estatal. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.389.952-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 3/6/14 (Info 543). 
 
Obs: veja também: STF. Plenário. RE 592581/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 13/8/15 
(repercussão geral) (Info 794). 
 
 
 
2. COMPETÊNCIA 
2.1. Competência para julgar MS contra ato do chefe do MPDFT no exercício de atividade 
submetida à jurisdição administrativa federal – (Info 587) – IMPORTANTE!!! 
 
É do TRF da 1º Região (e não do TJDFT) a competência para processar e julgar mandado de 
segurança impetrado contra ato do Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal que 
determinou a retenção de Imposto de Renda (IR) e de contribuição ao Plano de Seguridade 
Social (PSS) sobre valores decorrentes da conversão em pecúnia de licenças-prêmio. 
O Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal, ao determinar a retenção de tributos 
federais por ocasião do pagamento de parcelas remuneratórias (conversão de licenças-
prêmio em pecúnia), está no exercício de função administrativa federal, razão pela qual não 
se pode reconhecer a competência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal para o 
julgamento de mandado de segurança impetrado contra tal ato. 
Obs: quando o MS é impetrado contra atos praticados pelo PGJ-DF sob jurisdição 
administrativa local, a competência será do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.303.154-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 16/6/16 (Info 587). 
 
 
 
3. CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL 
3.1. MPF não tem acesso irrestrito a todos os relatórios de inteligência produzidos pela 
Diretoria de Inteligência da Polícia Federal – (Info 587) – IMPORTANTE!!! 
 
O controle externo da atividade policial exercido pelo MPF não lhe garante o acesso 
irrestrito a todos os relatórios de inteligência produzidos pela Diretoria de Inteligência do 
Departamento de Polícia Federal, mas somente aos de natureza persecutório-penal. 
O controle externo da atividade policial exercido pelo Parquet deve circunscrever-se à 
atividade de polícia judiciária, conforme a dicção do art. 9º da LC 75/93, cabendo-lhe, por 
essa razão, o acesso aos relatórios de inteligência policial de natureza persecutório-penal, 
ou seja, relacionados com a atividade de investigação criminal. 
O poder fiscalizador atribuído ao MP não lhe confere o acesso irrestrito a "todos os 
relatórios de inteligência" produzidos pelo Departamento de Polícia Federal, incluindo 
aqueles não destinados a aparelhar procedimentos investigatórios criminais formalizados. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.439.193-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 14/6/16 (Info 587). 
 
 
 
4. TRIBUNAL DE CONTAS 
4.1. Requisito para integrar Tribunal de Contas – (Info 584) 
 
Membro do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas de Estados ou do Distrito 
Federal que ocupa esse cargo há menos de dez anos pode ser indicado para compor lista 
tríplice destinada à escolha de conselheiro da referida corte. 
STJ. 2ª Turma. RMS 35.403-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 3/3/16 (Info 584). 
 
OBS: 
Como é a composição dos Tribunais de Contas: 
✓ TCU: 9 membros (são chamados de Ministros do TCU). 
✓ TCE: 7 membros (são chamados de Conselheiros do TCE). 
 
Quais são os requisitos constitucionais para ser membro dos Tribunais de Contas? São 
requisitos para ser Ministro do TCU ou Conselheiro do TCE: 
a) nacionalidade brasileira (brasileiros natos ou naturalizados); 
b) mais de 35 e menos de 65 anos de idade; 
c) idoneidade moral e reputação ilibada; 
d) notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de 
administração pública; 
e) mais de 10 anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija 
os conhecimentos mencionados. 
 
Obs: os requisitos acima estão previstos no art. 73, § 1º c/c o art. 75 da CF/88. 
 
Como é a forma de composição do TCU? 
1/3 (3 Ministros) são escolhidos pelo Presidente da República. 
Desses 3 Ministros, o Presidente deverá escolher: 
1 dentre os auditores do TCU (indicados em lista tríplice pelo Tribunal) 
1 dentre os membros do MP que atuam junto ao TCU (também indicados em lista tríplice) 
1 de livre escolha do Presidente (esta escolha é livre, atendidos os requisitos constitucionais). 
 
Todos os indicados pelo Presidente precisarão ser aprovados pela maioria simples do Senado, 
em arguição secreta. 
 
2/3 (6 Ministros) são escolhidos pelo Congresso Nacional. 
 
Os Ministros do TCU terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e 
vantagens dos Ministros do STJ (art. 73, § 3º, CF). 
 
Como é a forma de composição do TCE? 
A CF/88 não traz, de modo detalhado, como deve ser a composição dos Tribunais de Contas 
dos Estados, dizendo apenas que o TCE deve ser formado por 7 Conselheiros e que as normas 
previstas para o TCU aplicam-se, no que couber, ao TCE (art. 75 da CF/88). 
Assim, entende-se que a forma de escolha dos membros do TCE deve ser prevista na respectiva 
Constituição Estadual. O STF, contudo, afirmou que, por força doprincípio da simetria, essas 
regras de escolha dos Conselheiros do TCE devem obedecer ao mesmo modelo estabelecido 
pela Constituição Federal para o TCU (art. 73, § 2º da CF). 
Em suma, a Constituição Estadual deverá detalhar as normas sobre a escolha dos membros do 
TCE, mas tais regras deverão seguir a mesma sistemática adotada para a composição do TCU. 
Esse entendimento deu origem à súmula 653 do STF: 
Súmula 653-STF: No Tribunal de Contas estadual, composto por 
sete conselheiros, quatro devem ser escolhidos pela Assembleia 
Legislativa e três pelo Chefe do Poder Executivo estadual, cabendo 
a este indicar um dentre auditores e outro dentre membros do 
Ministério Público, e um terceiro à sua livre escolha. 
 
Desse modo, os 7 membros do TCE são designados da seguinte forma: 
3 Conselheiros são escolhidos pelo Governador do Estado. 
Desses 3 Conselheiros, o Governador deverá escolher: 
1 dentre os auditores do TCE (indicados em lista tríplice pelo Tribunal) 
1 dentre os membros do MP que atuam junto ao TCE (também indicados em lista tríplice) 
1 de livre escolha do Governador (esta escolha é livre, atendidos os requisitos constitucionais). 
 
4 Conselheiros escolhidos pela Assembleia Legislativa. 
Os Conselheiros do TCE terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, 
vencimentos e vantagens dos Desembargadores do TJ (STF. Plenário. ADI 4190 MC-REF, Rel. 
Min. Celso de Mello, j. 10/03/10). 
 
Art. 73, § 1º, IV, da CF/88 não exige que o candidato ao cargo tenha 10 anos de carreira no MP: 
O art. 73, § 1º, da CF/88 não estabelece que os membros do Ministério Público ou os auditores 
devem ter mais de 10 anos no cargo para poderem ser nomeados para a função de membro do 
Tribunal de Contas. O que o § 1º do art. 73 da CF/88 prevê é que, para ser nomeado membro 
do Tribunal de Contas, a pessoa deve ter mais de 10 anos de exercício de função ou de efetiva 
atividade profissional que exija notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e 
financeiros ou de administração pública. Desse modo, a pessoa pode ter apenas 7 anos, por 
exemplo, no cargo de Procurador de Contas, mas se ela tiver outros 3 anos de atividade 
profissional na qual se exija notórios conhecimentos jurídicos, ela terá preenchido o requisito 
constitucional. 
 
As regras do quinto constitucional (art. 94 da CF/88) não se aplicam para a escolha dos 
Conselheiros do Tribunal de Contas: Realmente o art. 94 da CF/88 prevê a exigência de que o 
membro do MP tenha 10 anos no cargo para que possa ser nomeado Desembargador nos 
Tribunais Regionais Federais ou Tribunais de Justiça, nas vagas destinadas ao chamado 
"quinto constitucional". No entanto, essa regra não se aplica às Cortes de Contas. Os Tribunais 
de Contas, embora se denominem tribunais e tenham alta relevância constitucional, não 
integram o Poder Judiciário, razão pela qual não se pode pretender que normas destinadas a 
reger o Judiciário devam ser aplicáveis a eles, salvo previsão constitucional específica. 
 
 
5. MANDADO DE SEGURANÇA 
5.1. Teoria da Encampação (Sem Info) – (MPGO-2016) 
 
O STJ, no julgamento do MS 015114-DF, no dia 26.08.2015, tendo como Relator o Ministro 
Nefi Cordeiro, da Terceira Seção, afirmou que o STJ firmou entendimento no sentido de 
ser aplicável a teoria da encampação quando a autoridade apontada como coatora, ao prestar 
as informações, não se limita a alegar a sua ilegitimidade, mas defende a prática do ato 
impugnado. A teoria da encampação tem aplicabilidade nas hipóteses em que são atendidos 
os seguintes pressupostos: subordinação hierárquica entre a autoridade efetivamente 
coatora e a apontada na petição inicial, discussão do mérito nas informações e ausência de 
modificação da competência. 
(MPGO-2016): A teoria da encampação no mandado de segurança tem aplicabilidade nas 
hipóteses em que atendidos os seguintes pressupostos: subordinação hierárquica entre a 
autoridade efetivamente coatora e a apontada na petição inicial, discussão do mérito nas 
informações e ausência de modificação da competência. 
 
 
 
 
 
 
7.2. Inadmissibilidade de alteração de pedido e de causa de pedir após a impetração de 
mandado de segurança – (Sem Info) – (TJRJ-2012) 
 
Após a impetração do mandado de segurança, é vedada a alteração do pedido e da causa 
de pedir. Hipótese em que o presente writ não pode ser utilizado para atacar ato diverso. 
STJ. 1ª Seção. AgRg no MS 17.481/DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 22/8/12. 
 
 
 
6. IMUNIDADE PARLAMENTAR 
6.1. Deputado que, em entrevista à imprensa, afirma que determinada Deputada "não 
merece ser estuprada" deve pagar indenização por danos morais – (Info 609) 
 
O Deputado Federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) afirmou que a também Deputada Federal 
Maria do Rosário (PT-RS), “não merece ser estuprada por ser muito ruim, muito feia, não 
faz meu gênero”. E acrescentou que, se fosse estuprador, "não iria estuprá-la porque ela não 
merece". 
O STJ entendeu que a conduta do parlamentar não está abrangido pela imunidade 
parlamentar e que, portanto, ele deveria ser condenado a pagar indenização por danos 
morais em favor da Deputada. Decidiu o Tribunal: 
As opiniões ofensivas proferidas por deputados federais e veiculadas por meio da 
imprensa, em manifestações que não guardam nenhuma relação com o exercício do 
mandato, não estão abarcadas pela imunidade material prevista no art. 53 da CF/88 e são 
aptas a gerar dano moral. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.310-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/8/17 (Info 609). 
 
OBS: Sobre o tema, vale ressaltar que o STF já recebeu denúncia e queixa-crime contra 
Bolsonaro pelo mesmo fato. Para maiores informações, veja: STF. 1ª Turma. Inq 3932/DF e Pet 
5243/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 21/6/2016 (Info 831). 
 
 
7. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
7.1. Não há violação à reserva de plenário na decisão que decreta a nulidade de ato 
administrativo por violação à CF/88 – (Info 546) 
 
O STJ afirmou que não há ofensa à cláusula da reserva de plenário quando o órgão 
fracionário do Tribunal reconhece, com fundamento na CF/88 e em lei federal, a nulidade 
de um ato administrativo fundado em lei estadual, ainda que esse órgão julgador tenha 
feito menção, mas apenas como reforço de argumentação, à inconstitucionalidade da lei 
estadual. 
No caso concreto, o Tribunal de Justiça, por meio de uma de suas Câmaras (órgão 
fracionário) julgou que determinado ato administrativo concreto que renovou a concessão 
do serviço público sem licitação seria nulo por violar os arts. 37, XXI, e 175 da CF/88 e a Lei 
8987⁄95. Além disso, ele mencionou, como mais um argumento, que a Lei Estadual que 
autorizava esse ato administrativo seria inconstitucional. 
Não houve violação porque o ato administrativo que foi declarado nulo não era um ato 
normativo. Ademais, a menção de que a lei estadual seria inconstitucional foi apenas um 
reforço de argumentação, não tendo essa lei sido efetivamente declarada inconstitucional. 
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.435.347-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 
19/8/2014 (Info 546). 
 
OBS: 
Controle difuso de constitucionalidade: No chamado controle difuso de constitucionalidade, 
também adotado pelo Brasil, ao lado do controle abstrato, qualquer juiz ou Tribunal pode 
declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo no caso concreto. No entanto, se 
o Tribunal for fazer essa declaração, deverá respeitar a cláusula de reserva de plenário. 
 
Cláusula de reserva de plenário: A chamada “cláusula de reserva de plenário” significa que, se 
um Tribunal for declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, é obrigatória 
que essa declaração de inconstitucionalidade seja feita pelo voto da maioria absoluta do 
Plenário ou do órgão especial deste Tribunal. Esta exigência da cláusula de reserva de plenário 
tem como objetivo conferir maior segurança jurídica para as decisões dos Tribunais, evitando-
se que, dentro de um mesmo Tribunal, haja posições divergentes acerca da constitucionalidadede um dispositivo, gerando instabilidade e incerteza. A reserva de plenário é também 
conhecida como regra do full bench, full court ou julgamento en banc e está prevista no art. 97 da 
CF/88 e no NCPC. 
 
 
7.2. Amicus curiae e momento limite para a sua intervenção – (Info 540) – CUIDADO!!! 
NCPC – VIDE ART. 138, §3º - LEGITIMIDADE RECURSAL!!! 
 
O pedido de intervenção, na qualidade de amicus curiae, em recurso submetido ao rito do 
art. 543-C do CPC, deve ser realizado antes do início do julgamento pelo órgão colegiado. 
Isso porque, uma vez iniciado o julgamento, não há mais espaço para o ingresso de amicus 
curiae. De fato, já não há utilidade prática de sua intervenção, pois nesse momento 
processual não cabe mais sustentação oral, nem apresentação de manifestação escrita, e, 
segundo assevera remansosa jurisprudência, o amicus curiae não tem legitimidade recursal, 
inviabilizando-se a pretensão de intervenção posterior ao julgamento. 
STJ. Corte Especial. QO no REsp 1.152.218-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 7/5/14 (Info 
540) 
 
 
 
8. PODER LEGISLATIVO 
8.1. Possibilidade de juiz afastar vereador da função que ocupa – (Info 617) – 
IMPORTANTE!!! 
 
É possível que o Juiz de primeiro grau, fundamentadamente, imponha a parlamentares 
municipais as medidas cautelares de afastamento de suas funções legislativas sem 
necessidade de remessa à Casa respectiva para deliberação. 
STJ. 5ª Turma. RHC 88804-RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 7/11/17 (Info 617). 
 
OBS: 
Os vereadores possuem foro por prerrogativa de função? Em regra, não. Os vereadores, em 
regra, são julgados criminalmente por juízes de 1ª instância. 
Exceção: a Constituição Estadual pode prever que o Tribunal de Justiça será competente para 
julgar vereadores. Essa previsão da CE é válida: 
(...) Não afronta a Constituição da República, a norma de 
Constituição estadual que, disciplinando competência originária do 
Tribunal de Justiça, lha atribui para processar e julgar vereador. 
STF. 2ª Turma. RE 464935, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 3/6/08. 
 
Imagine que determinado vereador está respondendo a processo em 1ª instância por crimes 
contra a Administração Pública. O juiz poderá aplicar medidas cautelares contra esse 
vereador, dentre elas a medida de afastamento de suas funções (art. 319, VI, do CPP)? SIM. 
Vale ressaltar que as normas de imunidade formal previstas no art. 53, § 2º da CF/88 para 
Deputados Federais e Senadores NÃO se aplicam para os vereadores. Nesse sentido: 
(...) Os edis, ao contrário do que ocorre com os membros do 
Congresso Nacional e os deputados estaduais não gozam da 
denominada incoercibilidade pessoal relativa (freedom from arrest), 
ainda que algumas Constituições estaduais lhes assegurem 
prerrogativa de foro. (...) 
STF. 1ª Turma. HC 94059, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 6/5/08. 
 
Assim, é plenamente possível que o juiz determine a aplicação de medida cautelar de 
afastamento das funções de vereador (e de Presidente da Câmara Municipal), desde que o 
magistrado o faça fundamentadamente. 
 
Para que haja esse afastamento das funções, é necessário autorização da Câmara dos 
Vereadores? NÃO. Não existe na legislação tal exigência. 
 
 
9. PODER JUDICIÁRIO 
9.1. Limitação do pagamento de diárias a juiz federal – (Info 614) 
 
É ilegal a limitação de duas diárias e meia semanais, à luz do art. 5º da Resolução CJF nº 
51/2009, quando o deslocamento de juiz federal convocado para substituição em tribunais 
regionais for superior a esse lapso. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.536.434-SC, Rel. Min. Og Fernandes, j. 17/10/17 (Info 614). 
 
 
 
10. MINISTÉRIO PÚBLICO 
10.1. Intimação pessoal dos membros do Ministério Público no processo penal – (Info 611) 
– ATENÇÃO! MINISTÉRIO PÚBLICO! 
 
O termo inicial da contagem do prazo para impugnar decisão judicial é, para o Ministério 
Público, a data da entrega dos autos na repartição administrativa do órgão, sendo 
IRRELEVANTE que a intimação pessoal tenha se dado em audiência, em cartório ou por 
mandado. 
STJ. 3ª Seção. REsp 1.349.935-SE, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, j. 23/8/17 (recurso 
repetitivo) (Info 611). 
 
 
 
10.2. Termo inicial da ação civil para a perda do cargo – Atenção! Ministério Público!! 
IMPORTANTE!!! – (MPSC-2016) 
 
Na hipótese de membro de Ministério Público Estadual praticar falta administrativa 
também prevista na lei penal como crime, o prazo prescricional da ação civil para a 
aplicação da pena administrativa de perda do cargo somente tem início com o trânsito em 
julgado da sentença condenatória na órbita penal. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.535.222-MA, Rel. Min. Og Fernandes, j. 28/3/2017 (Info 601). 
 
OBS: 
Imagine a seguinte situação hipotética: Chegaram indícios no Ministério Público de que João, 
Promotor de Justiça vitalício, teria praticado solicitado, em razão de sua função, vantagem 
indevida. Diante disso, a Corregedoria do Ministério Público instaurou Processo 
Administrativo Disciplinar para apurar o suposto delito. Em 2011, foi prolatada decisão no 
PAD recomendando a propositura de ação penal e de ação civil de perda do cargo contra o 
referido Promotor. 
 
Neste PAD, o Promotor poderia ter sido demitido? Se um membro do Ministério Público 
pratica uma infração disciplinar grave, ele poderá ser condenado, em processo administrativo, 
à pena de demissão? NÃO. Os membros do MP gozam de vitaliciedade e somente podem 
perder o cargo por sentença judicial transitada em julgado (art. 128, § 5º, I, “a”, da CF/88). 
Além da CF/88, essa vitaliciedade foi regulamentada pelo art. 38, § 1º da Lei 8.625/93 (Lei 
Orgânica Nacional do MP) e pelo art. 57, XX, da LC 75/93 (Estatuto do MPU). Essas leis 
preveem que é necessária a propositura de uma ação civil para a decretação da perda do cargo 
contra o membro do Ministério Público que tiver praticado uma infração disciplinar grave. 
 
Lei nº 8.625/93: O § 2º do art. 38 da Lei 8.625/93 (que trata sobre os membros do MP estadual) 
exige que a ação para perda do cargo seja proposta contra o Promotor de Justiça pelo 
Procurador-Geral de Justiça, após autorização do Colégio de Procuradores: 
Art. 38. (...) 
§ 1º O membro vitalício do Ministério Público somente perderá o 
cargo por sentença judicial transitada em julgado, proferida em 
ação civil própria, nos seguintes casos: 
I - prática de crime incompatível com o exercício do cargo, após 
decisão judicial transitada em julgado; 
II - exercício da advocacia; 
III - abandono do cargo por prazo superior a trinta dias corridos. 
§ 2º A ação civil para a decretação da perda do cargo será proposta 
pelo Procurador-Geral de Justiça perante o Tribunal de Justiça local, 
após autorização do Colégio de Procuradores, na forma da Lei 
Orgânica. 
 
LC 75/93: O inciso XX do art. 57 da LC 75/93 (que versa sobre os membros do MPU) afirma 
que a ação para perda do cargo deve ser proposta pelo PGR, após autorização do Conselho 
Superior do MPF: 
Art. 57. Compete ao Conselho Superior do Ministério Público 
Federal: 
XX - autorizar, pela maioria absoluta de seus membros, que o 
Procurador-Geral da República ajuíze a ação de perda de cargo 
contra membro vitalício do Ministério Público Federal, nos casos 
previstos nesta lei; 
(...) 
Art. 242. As infrações disciplinares serão apuradas em processo 
administrativo; quando lhes forem cominadas penas de demissão, 
de cassação de aposentadoria ou de disponibilidade, a imposição 
destas dependerá, também, de decisão judicial com trânsito em 
julgado. 
 
Voltando ao exemplo: Em 2012, o Procurador-Geral de Justiça ajuizou ação penal contra o 
Promotor no Tribunal de Justiça (art. 96, III, da CF/88) pela prática de corrupção passiva (art. 
317 do CP).Em 2016, o Tribunal de Justiça condenou o réu a uma pena de 2 anos. Houve o 
trânsito em julgado. 
 
O Tribunal de Justiça poderá determinar a perda do cargo, com base no art. 92, I, “a”, do CP 
(São também efeitos da condenação: a perda do cargo quando aplicada pena privativa de 
liberdade por tempo igual ou superior a um ano,

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