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PCC UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
BACHARELADO EM HISTÓRIA 
 
 
 
 
 
MATHEUS DE ARAÚJO BISPO 
 
 
 
 
 
 
 
. 
 
 Reflexões Teórico-Práticas Sobre a História da Educação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luziânia 
2021 
Matheus de Araújo Bispo 
 
 
 
 
 
 
Reflexões Teórico-Práticas Sobre a História da Educação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prática como componente curricular (PCC) 
apresentada à disciplina de História da 
Educação na Universidade Estácio de Sá 
(UNESA), referente ao 1º período do curso de 
bacharel em história. 
 
Prof.ª Claudia de Freitas Lopes Soares 
Machado da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luziânia 
2021 
Esta prática como componente curricular (PCC) tem como objetivo revisitar a 
história da educação, identificando as características dos modelos educacionais no 
decurso da história, assim como suas contribuições para a formação dos sujeitos e 
das sociedades, levantando alguns fatos e situações que se destacam da história da 
educação no Brasil e no Mundo, bem como a importância do diálogo produtivo entre 
história e pedagogia, e as contribuições dos povos e dos fatos históricos observadas 
nas propostas pedagógicas das escolas através de uma reflexão crítica sobre como 
essas contribuições estão presentes na constituição dos modelos de formação do 
sujeito. 
Sabe-se que nas chamadas comunidades primitivas havia uma forma de 
educação, antes mesmo da organização escolar e da construção da escola em si, 
denominada “forma primitiva de educação”, visava adaptar a criança ao meio físico e 
social, se tornando fundamental para a sobrevivência dessas “comunidades 
primitivas”, pois transmitia os conhecimentos acumulados pelo grupo sendo 
caracterizada principalmente pela imitação, em que ensinava o uso das armas, a caça, 
a colheita, a linguagem oral, o culto aos mortos, as técnicas de transformação e 
domínio do ambiente, entre outros conhecimentos. É evidente a falta de um professor 
como conhecemos hoje no processo educativo, essa função era assumida pelos pais 
e pelos mais velhos da tribo, considerados mais sábios e cumpriam o papel de líder 
religioso da comunidade (BORTOLOTI, 2015). 
Nas comunidades tribais as crianças aprendem imitando os gestos dos 
adultos nas atividades diárias e nos rituais. Tanto nas tribos nômades como 
naquelas que já se sedentarizaram, para se ocupar com a caça, a pesca, o 
pastoreio ou a agricultura, as crianças aprendem “para a vida e por meio da 
vida”, sem que ninguém esteja especialmente destinado para a tarefa de 
ensinar. (ARANHA, 2006, p. 35) 
Embora boa parte dos estudos de história abordarem prioritariamente a história 
ocidental, em consequência disso a história da educação também sofre essa 
influência, dando ênfase sempre ao estudo da civilização grega. Ofuscando as 
contribuições das chamadas civilizações orientais, sendo que muitos aspectos 
culturais do Egito, Mesopotâmia, Índia, China e o povo hebreu foram incorporados 
pelas culturas grega e romana no ocidente. Essas sociedades tiveram aspectos em 
comum que afetaram diretamente o sistema educacional, todas apresentavam uma 
evidente distinção das camadas sociais, um estado teocrático e centralizador, o que 
as conduziu às práticas educacionais tradicionalistas, tornando inviável grandes 
transformações sociais (BORTOLOTI, 2015). 
A invenção da escrita, atribuída aos povos mesopotâmicos, foi um “divisor de 
águas” para se dar início à interpretação do mundo oriental e ocidental. Acarretou na 
organização de um sistema educativo um pouco mais formal, deixado na mão de 
especialistas, com a principal finalidade de preservar o passado coletivo e o poder de 
poucos. Pode-se dizer que o sistema educacional das civilizações orientais na 
antiguidade foi responsável pela formalização do processo de ensino e aprendizado, 
incorporação do método mnemônico ao processo de ensino e aprendizagem, 
educador como único detentor do saber a ser transmitido, invenção da escrita, criação 
do ensino superior, formação centrada no ritual, aluno passivo sempre receptivo, 
castigos físicos como parte do processo educacional e educação dedicada à 
conservação e continuidade do sistema sócio-político e dos valores vigentes 
(BORTOLOTI, 2015). 
A respeito da antiguidade ocidental temos como principais expoentes culturais 
as civilizações grega e romana. Para se ter uma compreensão do pensamento 
educacional grego, é preciso entender o rumo que a formação deveria tomar, tendo 
a Paidéia como a formação integral do homem, que consistia no equilíbrio entre corpo 
e espírito, esse ideal foi muito relevante em Atenas principalmente, lançando bases 
para que futuramente se possa idealizar a superação da visão pragmática e utilitarista 
da educação, para buscar uma formação mais abrangente e globalizante, a civilização 
grega foi centrada principalmente na laicização, na racionalidade e na universalidade 
fazendo com que a Grécia ocupasse um lugar de domínio no mundo ocidental 
(BORTOLOTI, 2015). 
Esparta e Atenas deram vida a dois ideais de educação: um baseado no 
conformismo e no estatismo, outro na concepção de Paidéia, de formação 
humana livre e nutrida de experiências diversas, sociais, mas também 
culturais e antropologias. (CAMBI, 1999, p.82) 
Dentre algumas características peculiares da educação grega temos a figura 
do pedagogo, que era um escravo que orientaria os meninos em suas primeiras 
atividades intelectuais e o surgimento da educação superior, com os sofistas e os 
filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles. A partir da antiguidade grega que 
sugiram as bases para o que chamamos de ciência moderna, que encontramos as 
primeiras tentativas de racionalização do universo, porque a cultura mostrou ser livre 
o suficiente para integrar a realidade, com isso pode-se salientar quatro fatores que 
possibilitaram o desenvolvimento da ciência e cultura grega, a curiosidade intelectual 
sendo o primeiro, facilitando a incorporação de outras culturas, seguido pela ausência 
de uma religião dogmática e impositiva, a organização política em cidades-estados e 
não um grande império, o que permitia p contato entre os indivíduos e a proximidade 
com as técnicas de produção, apesar das diferenças sociais, influenciava à reflexão e 
ao desenvolvimento da argumentação e da dialética, que os instigava ao contraste de 
ideias entre os indivíduos (BORTOLOTI, 2015). 
Tal é a genuína Paidéia grega, considerada modelo por um homem de estado 
romano. Não brota do individual, mas da ideia. Acima do homem como ser 
gregário ou como suposto eu autônomo, ergue-se o homem como ideia. A ela 
se aspiram os educadores gregos, bem como os poetas, artistas e filósofos. 
(JAEGER, 1995, p.15) 
Na Roma antiga a educação além de elitista tinha como objetivo formar o 
cidadão racional, capaz de pensar e se comunicar convincentemente, enfatizando a 
retórica, a filosofia não se estabeleceu sistematicamente. Era assumida uma posição 
mais pragmática, em torno das atividades cotidianas e para a ação política. De mesmo 
modo que a filosofia, a pedagogia em Roma também estava dirigida às questões 
práticas (BORTOLOTI, 2015). 
Até os 7 anos, as crianças permaneciam sob os cuidados da mãe ou de outra 
matrona, “mulher respeitável”. Depois dessa idade, as crianças aprendiam no 
lar os serviços domésticos, enquanto o pai se encarregava pessoalmente da 
educação do filho. O menino o acompanhava às festas e aos acontecimentos 
mais importantes, ouvia o relato das histórias dos heróis e dos antepassados, 
decorava a Lei das Doze Tábuas, desenvolvendo desse modo a sua 
consciência histórica e o patriotismo. (ARANHA, 2006, p. 89) 
A educação de Roma pode ser chamada cosmopolita porque espalhou suas 
características por todas as províncias do estado. Haviam professores gregos que 
ensinavam em várias localidades, surgiram as escolas elementares e o jogo era um 
facilitador do aprendizado. As escolassuperiores apareceram no império de Cícero, 
voltadas para jovens da elite que teriam carreira política, estudando política, filosofia, 
direito e praticavam exercícios físicos. Apesar de cosmopolita, era aristocrática, 
voltada para atividades que afastavam o trabalho manual, realizado pelos escravos. 
A principal característica que temos da cultura romana é a língua, o português, o 
francês, o espanhol, o italiano e romeno são derivações do latim. Não era uma língua 
uniforme, pois apresentava singularidades de uma região para outra, permaneceu 
como um único idioma até o século III, porém com “sotaques” diferentes. A maior parte 
dos livros no ocidente até o início da Idade Moderna era em latim culto, ainda é a 
língua oficial da igreja católica (BORTOLOTI, 2015). 
Após a ruptura do vasto Império Romano, e o surgimento do período que ficou 
conhecido como Idade Média, do sistema educacional às únicas que resistiram foram 
as escolas cristãs, que eram vinculadas aos mosteiros e as grandes catedrais, 
portanto já apresentavam uma estrutura organizada e não se tinha uma preocupação 
com a formação de novos sacerdotes. Para se fazer uma interpretação da história da 
educação desse período, deve-se enfatizar que a educação que surgiu nessas 
escolas religiosas era centralizada na visão teocêntrica de mundo, ao contrário da 
visão antropocêntrica do pensamento greco-romano. Com isso toda a cultura antiga 
foi considerada pagã e os aspectos incorporados passaram a ter sentido religioso. A 
intelectualidade era praticamente restrita à igreja, com os mosteiros sendo os 
principais centros de cultura e arte, fazendo com que a educação consequentemente 
se tornasse estritamente católica e extremamente excludente, visto que a igreja 
estava interessada em formar seus futuros líderes, para guiarem uma população 
inerte. Com o estudo fechado a aqueles que seguiriam a carreira religiosa e para 
poucos leigos, a cultura clássica passou por um verdadeiro processo de releitura, 
ocorrendo a transformação ou esquecimento induzido dos aspectos que não 
convergiam com a doutrina católica. Nos mosteiros as crianças eram educadas até os 
quinze anos, com castigos e repreensões assim como ocorria na antiguidade, 
entretanto não se deve entender essas punições como simples sadismo pedagógico, 
mas sim como um reflexo da visão teocêntrica de mundo, os castigos eram igualmente 
frequentes nas práticas religiosas (BORTOLOTI, 2015). 
A passagem da criança pela família e pela sociedade era muito breve e muito 
insignificante para que tivesse tempo ou razão de forçar a memória e tocar a 
sensibilidade. (...) se ela morresse então, como muitas vezes acontecia, 
alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer muito caso, 
pois uma outra criança logo a substituiria. A criança não chegava a sair de 
uma espécie de anonimato. (ARIÈS, 1981, p. 10). 
O período conhecido como Renascimento foi resultado da superação de uma 
cultura dominada pela doutrina Católica durante a Idade Média, e tinha um viés 
humanista, colocando novamente o homem no centro das atenções. Esse período é 
chamado dessa maneira porque foi quando o racionalismo presente na cultura greco-
romana foi reconhecido e valorizado novamente. Alguns estudiosos ignoram a 
relevância do renascimento para a educação, graças aos estudos antropológicos que 
a educação se tornou expressão e as exigências didáticas que colocou em ação 
(BORTOLOTI, 2015). 
Deve ser concedido a ele o método de atribuir grande importância no plano 
didático aos jogos e à educação física, no âmbito de uma revalorização, 
depois de decidida negação medieval do mundo físico e natural, e mais ainda 
de descobrir a infância, o valor da vida infantil, da sua especificidade e de 
assegurar-lhe um lugar não secundário no quadro do mais amplo contexto 
social (CAMBI, 1999, p. 226) 
As universidades mantiveram características medievais e demoraram para 
serem tomadas pelo espírito humanista, foram substituídas pelas academias, que 
permitiam um estudo livre e sem caráter prático. Entretanto, ainda não havia 
especificamente uma filosofia da educação, mas sim partes de reflexão pedagógica 
completando uma reflexão filosófica mais ampla. Nesse período também há uma 
preocupação maior com as crianças se refletirá na elaboração de noções analíticas, 
de teorias sobre o desenvolvimento infantil, o fortalecimento do colégio, sendo o lugar 
social que se torna presente essa transformação, o mundo da criança de separa por 
completo do mundo do adulto (BORTOLOTI, 2015). 
Os colégios que na Idade Média, eram apenas alojamentos para jovens 
estudantes das universidades europeias, passarão a significar, no mundo 
moderno, uma racionalidade institucional extremamente sincronizada a uma 
dada concepção especificamente moderna de infância e de adolescência, de 
tempo e de espaço escolar (BOTO, 2002, p.25) 
Os estudantes começaram a ser separados em classes de acordo com seu 
nível de conhecimento. A matriz dos estudos exigiu uma nova organização do tempo 
da escola, dividindo os dias em horários, a determinação de tarefas e a divisão dos 
meses de acordo com os conteúdos ensinados a cada período, antecedendo a data 
dos exames. O controle do tempo com sinos e relógios foi incorporado no meio 
escolar, se afastando aos poucos das práticas das faculdades de artes como exemplo 
(BORTOLOTI, 2015). 
A escola também sofreu uma mudança significativa que de certa forma 
rompeu com o ensino veiculado pelas escolas católicas, muito baseado em 
métodos mnemônicos e individualizado que predominou ao longo do período 
anterior ao século XV. Naquele período as instituições escolares não 
possuíam de um modelo de organização sistematizado. Em uma mesma sala 
de aulas havia alunos de várias idades; ausência de um currículo 
estabelecido; constante indisciplina e outros problemas. (GARCIA, 2014, p. 
316) 
Foi com os protestantes que os pobres conseguiram mais espaço na educação, 
principalmente nos países que foram atingidos pela reforma porque a formação 
religiosa se tornou mais liberal e possibilitou a livre interpretação das sagradas 
escrituras. Com isso, a alfabetização se estendeu para meninos e meninas, sendo 
assumida pelas autoridades municipais, que tinham a ideia de que a língua de origem 
deveria ser a base da educação, também eram favoráveis ao estudo do grego, latim 
e do hebraico, das ciências e das artes, além da leitura dos clássicos traduzidos para 
o vernáculo (BORTOLOTI, 2015). 
Graças à estrita colaboração entre a nova Igreja reformada e as autoridades 
civis, sobretudo as da Saxônia, efetuou-se primeiro uma reorganização das 
escolas municipais e, sucessivamente, chega-se a fundar algumas escolas 
secundárias financiadas e controladas pelo Estado. Nascem assim os 
ginásios, que são o primeiro e mais duradouro núcleo da escola nacional 
alemã. Mais lento, porém, é o desenvolvimento das escolas populares, o que 
não dá razão àqueles que atribuem a Lutero o mérito de haver dado início à 
moderna escola popular (CAMBI, 1999, p. 250). 
 Quando a contrarreforma se mostrou necessária para a igreja católica, foi 
estimulada a criação de ordens religiosas para a formação de novos quadros, 
favorecendo o caminho pedagógico, pois era preciso reformular os métodos de 
instrução e atingir um número maior de estudantes, dada a necessidade de aumentar 
o número de católicos. Assim foi criada a ordem religiosa de maior destaque no campo 
educacional, que foi a companhia de jesus e os pressupostos organizados por Inácio 
de Loyola, o que direcionou grande parte da educação na Europa e nas Américas por 
mais de dois séculos. 
Explicitamente, a missão da Companhia de Jesus era a de catequizar, ou 
seja, conseguir adeptos à fé católica, tornar os índios mais dóceis e 
submissos, adaptando-os à mão de obra. Verificamos, porém, que 
implicitamente ela afastou-se deste objetivo voltando-se para a educaçãode 
elites, pois assim agindo, garantia para si lucros financeiros e a formação de 
futuros sacerdotes, o que não lhe era assegurado na proposta inicial da 
educação estava excluído o povo, e graças à Companhia de Jesus, o Brasil 
permaneceu, por muito tempo, com uma educação voltada para a formação 
da elite dirigente. (RIBEIRO, 1993, p. 16) 
Até o século XVII a educação religiosa como a da companhia de jesus, 
permaneceu predominante, porém não foi capaz de impedir o florescimento do 
pensamento pedagógico laico. Começou a ficar evidente nos estados absolutistas a 
necessidade de uma instrução e a educação pública, o ensino superior continuou 
desconexo e as academias ganharam ainda mais relevância com a revolução 
industrial e a valorização da pesquisa científica. O pensamento filosófico desse 
período se destacou com Descartes, Locke e Bacon, valorizavam o racionalismo e a 
consciência como ponto inicial para se construir conhecimento, o maior educador 
desse período foi Comenius, denominado como o “pai da pedagogia” (BORTOLOTI, 
2015). 
Comenius pretendia tornar a aprendizagem eficaz e atraente mediante 
cuidadosa organização das tarefas. Ele próprio se empenhava na elaboração 
de manuais – uma novidade para a época – e minuciosamente detalhava o 
procedimento do mestre, segundo gradações das dificuldades e com ritmo 
adequado à capacidade de assimilação dos alunos (ARANHA, 2006, p. 157) 
No Período conhecido como Iluminismo ocorreram importantes reformas 
educacionais nos séculos XVIII e XIX. Deve-se enfatizar desse período 
primordialmente, a preocupação em resgatar o conhecimento acumulado até então 
pela humanidade com a elaboração da enciclopédia, idealizada por Diderot e 
D’alambert. Um dos principais ideólogos do pensamento educacional desse período, 
senão o principal, foi o filosofo Jean Jacques Rousseau, na sua obra Emílio está 
presente sua concepção educacional, indicando os limites do liberalismo e 
questionando o papel dos colégios religiosos além do o uso exagerado da razão na 
educação, o autor divide em cinco etapas de vida seu ideal de formação pedagógica, 
infância, puerícia, puberdade, adolescência e jovem adulto. É importante ressaltar que 
a concepção rousseauniana de que a infância é separada da vida adulta é uma 
inovação, pois entende a criança como portadora de uma bondade natural e 
dimensiona cada etapa da vida com suas peculiaridades, demandando ações 
pedagógicas diferentes para cada. Essa educação idealizada é conhecida como 
naturalista, também chamada de negativa, por duvidar da sociedade constituída 
(BORTOLOTI, 2015). 
A primeira educação deve ser puramente negativa, ela consiste não em 
ensinar a virtude e a verdade, mas em proteger o coração do vício e a mente 
do erro. Se puderdes não fazer nada e não deixar fazer nada; se puderdes 
levar vosso aluno sadio e robusto até a idade de doze anos (...) sem 
preconceitos, sem hábitos (...) muito logo terei entre as mãos o mais sensato 
dos homens; e, começando com não fazer nada, tereis feito um prodígio de 
educação (ROUSSEAU, 1968). 
Pode-se dizer que Augusto Comte, criador do positivismo, tentou de certo 
modo, agregar tudo o que era ciência experimental para pensar o homem e o 
problema social. No período predominava o cientificismo, a pregação da ciência como 
salvadora do mundo, é observável no pensamento de Comte uma teoria evolutiva nos 
moldes da montada por Charles Darwin, mas aplicada à sociedade, para o autor a 
sociedade se desenvolve por um processo evolutivo que pode ser visto nos estágios 
teológico, metafísico e científico positivista. De outro lado Hegel idealizou um 
pensamento para explicar a realidade como um todo, expondo que a realidade é a 
realização da Ideia, do Espírito Absoluto. Portanto, identifica-se uma crise de 
paradigmas filosóficos e científicos para se pensar a realidade humano-social 
principalmente. O idealismo alemão perde de vista a importância do indivíduo, 
coletiviza excessivamente e deturpa a concepção de Pestalozzi de tornar panteísta a 
concepção de Deus e a sua própria proposta de educação popular. Pestalozzi ficou 
conhecido como mestre, fundador e diretor de escolas, em grande parte de sua vida 
e em suas obras literárias se preocupou com os problemas do homem e procurou uma 
resposta, afirmando que esse precisava ser guiado, enfatizando o valor da educação 
e da família para o desenvolvimento da criança (BORTOLOTI, 2015). 
Enquanto inovadores ingleses experimentavam o ensino mútuo, na Suiça 
atuava J.H. Pestalozzi, declaradamente seguindo a trilha aberta por 
Rousseau, mas bem diferente deste, especialmente pelo seu operoso 
filantropismo e pela sua capacidade de traduzir os princípios em práticas. Sua 
ambição foi a de “juntar aquilo que Rousseau separava”, isto é, o homem 
natural e a realidade histórica; e o fez aderindo ao seu tempo e também se 
fechando dentro dos limites ideais de uma sociedade predominantemente 
pré-industrial. Todavia, seu exemplo concreto e suas intuições de Psicologia 
infantil e de didática constituíram um dos pontos de partida de toda a nova 
pedagogia e de todo o novo engajamento educativo do Oitocentos. 
(MANACORDA, 1992, p. 261). 
No final do século XIX diversos segmentos, socialistas, religiosas e ético-
científicas se juntam com a finalidade de construir uma nova sociedade na qual o 
processo educativo desempenhe um papel totalmente diferente do que 
desemprenhava no passado, dadas as novas condições de mundo que levaram 
muitos pensadores a entender que o sistema educacional vigente até então era 
utilizado para manter o proletariado submisso aos interesses do capitalismo. A 
pedagogia do século XX, além de dever muito à psicologia, sociologia e de outras 
ciências, como a economia, a linguística, a antropologia, entre outras, tem evidenciado 
a necessidade presente desde a idade Moderna, que é a inclusão da cultura científica 
como conteúdo ensinado. Da mesma maneira que aconteceu no século anterior, se 
reafirmou a necessidade da escola pública, gratuita e obrigatória. A ampliação da 
educação infantil e dos outros níveis de ensino, da rede escolar, principalmente pela 
expansão da indústria e do comércio, à diversidade das profissões técnicas e 
burocracia na administração dos negócios, porém essa ampliação não garantiu 
mobilidade social e profissional. O ideário de escola nova contribuiu muito como 
instrumento de democratização da sociedade (BORTOLOTI, 2015). 
Desde o final do século XIX até a década de 1940, em decorrência da 
ampliação das oportunidades de estudo, verificou-se maior mobilidade e 
ascensão social, sobretudo para a classe média. Segundo a expressão de 
Wright Mills, surgia uma ‘nova classe média’ formada pelos White collors, 
‘colarinhos brancos’, ou seja, gerentes, vendedores, empregados de 
escritórios e profissionais liberais assalariados (ARANHA, 2006, p. 246). 
O movimento escola novista foi resultado da tentativa de superar a escola 
tradicional, muito rígida, magistrocêntrica e mnemônica. Exigia métodos ativos, com 
ênfase nos processos de conhecimento e não apenas no resultado, para isso as 
atividades tinham o aluno como centro objetivando a iniciativa do mesmo, valorizou-
se ao contrário da escola tradicional, os jogos, os exercícios físicos, as práticas de 
desenvolvimento da motricidade e da percepção, com a finalidade de aperfeiçoar 
diversas habilidades do aluno simultaneamente. Nas décadas de 1920 e 1930, as 
discussões sobre a educação e seus métodos se tornaram presentes no Brasil, os 
liberais, os conservadores, os socialistas, os anarquistas e também os militares, 
tentaram se posicionar através da educação. Os conservadores, representando os 
católicos, defendiam a “pedagogia tradicional”, assim como foi apresentada por 
Herbart, os liberais eram favoráveis a Escola nova e acreditavam que seria necessário 
escolher a escola única, obrigatória, gratuita e com novas técnicas,baseadas nos 
parâmetros científicos apresentados pela Psicologia, Sociologia e Biologia 
(BORTOLOTI, 2015). 
A contraposição de idéias entre católicos e liberais, que no período do Estado 
Novo foi marcante para o sistema educacional, teve um novo momento na 
década de 50, gerado pelo conflito escola pública "versus" escola particular a 
escola particular foi defendida pelos donos das escolas privadas e pela Igreja 
Católica, a qual afirmava que a escola pública não via seus alunos 
integralmente, limitando-se a desenvolver sua inteligência e outras 
caraterísticas ligadas ao conhecimento formal, ou seja, a escola pública "não 
educava". Somente a escola confessional estava apta a educar, ou seja, a 
desenvolver a inteligência e formar o caráter, a partir de uma filosofia integral 
de vida, inexistente na escola pública. Os "católicos" defendiam a subvenção 
pública às escolas particulares, o direito das famílias na formação integral de 
seus filhos e baseavam-se na doutrina católica do papa Pio XII, além de 
considerarem os defensores da escola pública como comunistas, e, portanto, 
inimigos de Deus, da família e da Pátria. (RIBEIRO, 1993, p. 25) 
Frente à exploração desmedida e a desigualdade de classes no século XIX, 
acarretou no descontentamento e organização dos proletários e intelectuais que 
pensaram o socialismo frente ao liberalismo burguês. Os educadores do segmento 
socialista defendiam a luta pela democratização do ensino e pela escola única, sem 
distinção entre formar e profissionalizar, a valorização do pensar e fazer, voltado para 
transformação do mundo, a desmistificação da alienação e da ideologia, instigando a 
consciência de classe. Paralelamente ao socialismo, que tinha como maiores 
expoentes Marx e Engels, surgiram as ideias anarquistas, que se caracteriza por se 
opor ao estado, burguês ou socialista, criticando o estado, a igreja e todas as 
instituições que possuíam uma hierarquia, incluindo a escola autoritária. 
As teorias construtivistas na educação representaram a busca de alternativas 
que levassem em consideração a complexidade do processo de construção do 
conhecimento baseadas em pesquisas científicas realizadas pela psicologia, 
sociologia, psicanálise, medicina, biologia linguística, dentre outras para compreender 
a mente da criança e o desenvolvimento cognitivo (BORTOLOTI, 2015). 
Essa nova atitude, portanto, recusa o objetivismo, porque o mundo que 
conhecemos não aparece tal como é, mas depende de como nós o vemos; 
recusa o realismo (o pensamento não é o espelho do mundo); aceita o 
princípio da auto-organização: todo conhecimento resulta de organizações e 
reorganizações sucessivas em níveis de complexidade cada vez maiores. O 
construtivismo realça justamente a capacidade adaptativa da inteligência e 
da afetividade, dando condições para que o processo de amadurecimento 
não seja ilusório, o que acontece quando resulta de pressões externas sem 
a “gestação” por parte do sujeito (ARANHA, 2006, p. 276). 
É importante ressaltar a trajetória do educador brasileiro Paulo Freire que é 
uma das mais significativas da história da educação, com suas contribuições à 
educação popular e educação de jovens e adultos, o autor se ligava a uma concepção 
libertadora da educação, que pregava a educação para transformar a sociedade e ser 
acessível às classes populares. Suas primeiras atuações educacionais foram em 1962 
na cidade de angicos no Rio Grande do Norte, conseguindo alfabetizar 300 
trabalhadores em 45 dias, modelo que foi adotado pelo governo federal com 
implementação dos “círculos de cultura” para atingir cerca de 2 milhões de adultos. 
Para Freire o movimento de libertação deve partir dos próprios oprimidos, cuja 
pedagogia será ‘aquela que tem de ser forjada por ele, enquanto homens ou povos, 
na luta incessante de recuperação de sua humanidade”. Se tratando de um trabalho 
de conscientização e de politização, não bastando o oprimido ter consciência crítica 
da opressão, mas que se disponha a transformar a realidade. “A práxis é reflexão e 
ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo, sem ela, é impossível a 
superação da contradição opressor-oprimido” (BORTOLOTI, 2015). 
Portanto, observa-se que ao longo da história da educação, se analisada de 
maneira linear, que as características e contribuições para formação de sujeitos e das 
sociedades vão sendo incorporadas e ressignificadas de acordo com os interesses 
vigentes de cada período, entretanto observa-se sempre um movimento de 
democratização do ensino, exceto pelo período medieval de domínio da igreja católica 
no sistema educacional que tinha como objetivo o teocentrismo e manter uma 
população apática. A implementação de escolas gratuitas, acessíveis para as classes 
menos favorecidas e como instrumento transformador de mundo também é 
observável, tendo em vista que o sistema educacional era extremamente elitista em 
suas origens e continua em muitos aspectos de inclusão. Por isso o diálogo não 
somente com a história, mas com a filosofia, psicologia, sociologia, e outras ciências 
humanas se mostram tão importantes para a pedagogia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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São Paulo: Moderna, 2006. 
 
CAMBI, F. História da Pedagogia. São Paulo: Editora Unesp, 1999. 
 
JAEGER, W. PAIDÉIA: A formação do homem Grego. Tradução: Artur M. Pereira. São 
Paulo: Martins Fontes, 1995. 
 
RIBEIRO. P. R.M. História da educação no brasil: Notas para uma reflexão. Paidéia, 
FFCLRP – USP, Rib. Preto, 4, Fev/Jul, 1993. 
 
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São Paulo: Cortez, 
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ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 
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GARCIA, R. A. G. A didática magna: uma obra precursora da pedagogia moderna? 
Revista HISTEDBR On-line, Campinas, nº 60, p. 313-323, dez, 2014.

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