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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ BACHARELADO EM HISTÓRIA MATHEUS DE ARAÚJO BISPO . Reflexões Teórico-Práticas Sobre a História da Educação Luziânia 2021 Matheus de Araújo Bispo Reflexões Teórico-Práticas Sobre a História da Educação Prática como componente curricular (PCC) apresentada à disciplina de História da Educação na Universidade Estácio de Sá (UNESA), referente ao 1º período do curso de bacharel em história. Prof.ª Claudia de Freitas Lopes Soares Machado da Silva Luziânia 2021 Esta prática como componente curricular (PCC) tem como objetivo revisitar a história da educação, identificando as características dos modelos educacionais no decurso da história, assim como suas contribuições para a formação dos sujeitos e das sociedades, levantando alguns fatos e situações que se destacam da história da educação no Brasil e no Mundo, bem como a importância do diálogo produtivo entre história e pedagogia, e as contribuições dos povos e dos fatos históricos observadas nas propostas pedagógicas das escolas através de uma reflexão crítica sobre como essas contribuições estão presentes na constituição dos modelos de formação do sujeito. Sabe-se que nas chamadas comunidades primitivas havia uma forma de educação, antes mesmo da organização escolar e da construção da escola em si, denominada “forma primitiva de educação”, visava adaptar a criança ao meio físico e social, se tornando fundamental para a sobrevivência dessas “comunidades primitivas”, pois transmitia os conhecimentos acumulados pelo grupo sendo caracterizada principalmente pela imitação, em que ensinava o uso das armas, a caça, a colheita, a linguagem oral, o culto aos mortos, as técnicas de transformação e domínio do ambiente, entre outros conhecimentos. É evidente a falta de um professor como conhecemos hoje no processo educativo, essa função era assumida pelos pais e pelos mais velhos da tribo, considerados mais sábios e cumpriam o papel de líder religioso da comunidade (BORTOLOTI, 2015). Nas comunidades tribais as crianças aprendem imitando os gestos dos adultos nas atividades diárias e nos rituais. Tanto nas tribos nômades como naquelas que já se sedentarizaram, para se ocupar com a caça, a pesca, o pastoreio ou a agricultura, as crianças aprendem “para a vida e por meio da vida”, sem que ninguém esteja especialmente destinado para a tarefa de ensinar. (ARANHA, 2006, p. 35) Embora boa parte dos estudos de história abordarem prioritariamente a história ocidental, em consequência disso a história da educação também sofre essa influência, dando ênfase sempre ao estudo da civilização grega. Ofuscando as contribuições das chamadas civilizações orientais, sendo que muitos aspectos culturais do Egito, Mesopotâmia, Índia, China e o povo hebreu foram incorporados pelas culturas grega e romana no ocidente. Essas sociedades tiveram aspectos em comum que afetaram diretamente o sistema educacional, todas apresentavam uma evidente distinção das camadas sociais, um estado teocrático e centralizador, o que as conduziu às práticas educacionais tradicionalistas, tornando inviável grandes transformações sociais (BORTOLOTI, 2015). A invenção da escrita, atribuída aos povos mesopotâmicos, foi um “divisor de águas” para se dar início à interpretação do mundo oriental e ocidental. Acarretou na organização de um sistema educativo um pouco mais formal, deixado na mão de especialistas, com a principal finalidade de preservar o passado coletivo e o poder de poucos. Pode-se dizer que o sistema educacional das civilizações orientais na antiguidade foi responsável pela formalização do processo de ensino e aprendizado, incorporação do método mnemônico ao processo de ensino e aprendizagem, educador como único detentor do saber a ser transmitido, invenção da escrita, criação do ensino superior, formação centrada no ritual, aluno passivo sempre receptivo, castigos físicos como parte do processo educacional e educação dedicada à conservação e continuidade do sistema sócio-político e dos valores vigentes (BORTOLOTI, 2015). A respeito da antiguidade ocidental temos como principais expoentes culturais as civilizações grega e romana. Para se ter uma compreensão do pensamento educacional grego, é preciso entender o rumo que a formação deveria tomar, tendo a Paidéia como a formação integral do homem, que consistia no equilíbrio entre corpo e espírito, esse ideal foi muito relevante em Atenas principalmente, lançando bases para que futuramente se possa idealizar a superação da visão pragmática e utilitarista da educação, para buscar uma formação mais abrangente e globalizante, a civilização grega foi centrada principalmente na laicização, na racionalidade e na universalidade fazendo com que a Grécia ocupasse um lugar de domínio no mundo ocidental (BORTOLOTI, 2015). Esparta e Atenas deram vida a dois ideais de educação: um baseado no conformismo e no estatismo, outro na concepção de Paidéia, de formação humana livre e nutrida de experiências diversas, sociais, mas também culturais e antropologias. (CAMBI, 1999, p.82) Dentre algumas características peculiares da educação grega temos a figura do pedagogo, que era um escravo que orientaria os meninos em suas primeiras atividades intelectuais e o surgimento da educação superior, com os sofistas e os filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles. A partir da antiguidade grega que sugiram as bases para o que chamamos de ciência moderna, que encontramos as primeiras tentativas de racionalização do universo, porque a cultura mostrou ser livre o suficiente para integrar a realidade, com isso pode-se salientar quatro fatores que possibilitaram o desenvolvimento da ciência e cultura grega, a curiosidade intelectual sendo o primeiro, facilitando a incorporação de outras culturas, seguido pela ausência de uma religião dogmática e impositiva, a organização política em cidades-estados e não um grande império, o que permitia p contato entre os indivíduos e a proximidade com as técnicas de produção, apesar das diferenças sociais, influenciava à reflexão e ao desenvolvimento da argumentação e da dialética, que os instigava ao contraste de ideias entre os indivíduos (BORTOLOTI, 2015). Tal é a genuína Paidéia grega, considerada modelo por um homem de estado romano. Não brota do individual, mas da ideia. Acima do homem como ser gregário ou como suposto eu autônomo, ergue-se o homem como ideia. A ela se aspiram os educadores gregos, bem como os poetas, artistas e filósofos. (JAEGER, 1995, p.15) Na Roma antiga a educação além de elitista tinha como objetivo formar o cidadão racional, capaz de pensar e se comunicar convincentemente, enfatizando a retórica, a filosofia não se estabeleceu sistematicamente. Era assumida uma posição mais pragmática, em torno das atividades cotidianas e para a ação política. De mesmo modo que a filosofia, a pedagogia em Roma também estava dirigida às questões práticas (BORTOLOTI, 2015). Até os 7 anos, as crianças permaneciam sob os cuidados da mãe ou de outra matrona, “mulher respeitável”. Depois dessa idade, as crianças aprendiam no lar os serviços domésticos, enquanto o pai se encarregava pessoalmente da educação do filho. O menino o acompanhava às festas e aos acontecimentos mais importantes, ouvia o relato das histórias dos heróis e dos antepassados, decorava a Lei das Doze Tábuas, desenvolvendo desse modo a sua consciência histórica e o patriotismo. (ARANHA, 2006, p. 89) A educação de Roma pode ser chamada cosmopolita porque espalhou suas características por todas as províncias do estado. Haviam professores gregos que ensinavam em várias localidades, surgiram as escolas elementares e o jogo era um facilitador do aprendizado. As escolassuperiores apareceram no império de Cícero, voltadas para jovens da elite que teriam carreira política, estudando política, filosofia, direito e praticavam exercícios físicos. Apesar de cosmopolita, era aristocrática, voltada para atividades que afastavam o trabalho manual, realizado pelos escravos. A principal característica que temos da cultura romana é a língua, o português, o francês, o espanhol, o italiano e romeno são derivações do latim. Não era uma língua uniforme, pois apresentava singularidades de uma região para outra, permaneceu como um único idioma até o século III, porém com “sotaques” diferentes. A maior parte dos livros no ocidente até o início da Idade Moderna era em latim culto, ainda é a língua oficial da igreja católica (BORTOLOTI, 2015). Após a ruptura do vasto Império Romano, e o surgimento do período que ficou conhecido como Idade Média, do sistema educacional às únicas que resistiram foram as escolas cristãs, que eram vinculadas aos mosteiros e as grandes catedrais, portanto já apresentavam uma estrutura organizada e não se tinha uma preocupação com a formação de novos sacerdotes. Para se fazer uma interpretação da história da educação desse período, deve-se enfatizar que a educação que surgiu nessas escolas religiosas era centralizada na visão teocêntrica de mundo, ao contrário da visão antropocêntrica do pensamento greco-romano. Com isso toda a cultura antiga foi considerada pagã e os aspectos incorporados passaram a ter sentido religioso. A intelectualidade era praticamente restrita à igreja, com os mosteiros sendo os principais centros de cultura e arte, fazendo com que a educação consequentemente se tornasse estritamente católica e extremamente excludente, visto que a igreja estava interessada em formar seus futuros líderes, para guiarem uma população inerte. Com o estudo fechado a aqueles que seguiriam a carreira religiosa e para poucos leigos, a cultura clássica passou por um verdadeiro processo de releitura, ocorrendo a transformação ou esquecimento induzido dos aspectos que não convergiam com a doutrina católica. Nos mosteiros as crianças eram educadas até os quinze anos, com castigos e repreensões assim como ocorria na antiguidade, entretanto não se deve entender essas punições como simples sadismo pedagógico, mas sim como um reflexo da visão teocêntrica de mundo, os castigos eram igualmente frequentes nas práticas religiosas (BORTOLOTI, 2015). A passagem da criança pela família e pela sociedade era muito breve e muito insignificante para que tivesse tempo ou razão de forçar a memória e tocar a sensibilidade. (...) se ela morresse então, como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer muito caso, pois uma outra criança logo a substituiria. A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato. (ARIÈS, 1981, p. 10). O período conhecido como Renascimento foi resultado da superação de uma cultura dominada pela doutrina Católica durante a Idade Média, e tinha um viés humanista, colocando novamente o homem no centro das atenções. Esse período é chamado dessa maneira porque foi quando o racionalismo presente na cultura greco- romana foi reconhecido e valorizado novamente. Alguns estudiosos ignoram a relevância do renascimento para a educação, graças aos estudos antropológicos que a educação se tornou expressão e as exigências didáticas que colocou em ação (BORTOLOTI, 2015). Deve ser concedido a ele o método de atribuir grande importância no plano didático aos jogos e à educação física, no âmbito de uma revalorização, depois de decidida negação medieval do mundo físico e natural, e mais ainda de descobrir a infância, o valor da vida infantil, da sua especificidade e de assegurar-lhe um lugar não secundário no quadro do mais amplo contexto social (CAMBI, 1999, p. 226) As universidades mantiveram características medievais e demoraram para serem tomadas pelo espírito humanista, foram substituídas pelas academias, que permitiam um estudo livre e sem caráter prático. Entretanto, ainda não havia especificamente uma filosofia da educação, mas sim partes de reflexão pedagógica completando uma reflexão filosófica mais ampla. Nesse período também há uma preocupação maior com as crianças se refletirá na elaboração de noções analíticas, de teorias sobre o desenvolvimento infantil, o fortalecimento do colégio, sendo o lugar social que se torna presente essa transformação, o mundo da criança de separa por completo do mundo do adulto (BORTOLOTI, 2015). Os colégios que na Idade Média, eram apenas alojamentos para jovens estudantes das universidades europeias, passarão a significar, no mundo moderno, uma racionalidade institucional extremamente sincronizada a uma dada concepção especificamente moderna de infância e de adolescência, de tempo e de espaço escolar (BOTO, 2002, p.25) Os estudantes começaram a ser separados em classes de acordo com seu nível de conhecimento. A matriz dos estudos exigiu uma nova organização do tempo da escola, dividindo os dias em horários, a determinação de tarefas e a divisão dos meses de acordo com os conteúdos ensinados a cada período, antecedendo a data dos exames. O controle do tempo com sinos e relógios foi incorporado no meio escolar, se afastando aos poucos das práticas das faculdades de artes como exemplo (BORTOLOTI, 2015). A escola também sofreu uma mudança significativa que de certa forma rompeu com o ensino veiculado pelas escolas católicas, muito baseado em métodos mnemônicos e individualizado que predominou ao longo do período anterior ao século XV. Naquele período as instituições escolares não possuíam de um modelo de organização sistematizado. Em uma mesma sala de aulas havia alunos de várias idades; ausência de um currículo estabelecido; constante indisciplina e outros problemas. (GARCIA, 2014, p. 316) Foi com os protestantes que os pobres conseguiram mais espaço na educação, principalmente nos países que foram atingidos pela reforma porque a formação religiosa se tornou mais liberal e possibilitou a livre interpretação das sagradas escrituras. Com isso, a alfabetização se estendeu para meninos e meninas, sendo assumida pelas autoridades municipais, que tinham a ideia de que a língua de origem deveria ser a base da educação, também eram favoráveis ao estudo do grego, latim e do hebraico, das ciências e das artes, além da leitura dos clássicos traduzidos para o vernáculo (BORTOLOTI, 2015). Graças à estrita colaboração entre a nova Igreja reformada e as autoridades civis, sobretudo as da Saxônia, efetuou-se primeiro uma reorganização das escolas municipais e, sucessivamente, chega-se a fundar algumas escolas secundárias financiadas e controladas pelo Estado. Nascem assim os ginásios, que são o primeiro e mais duradouro núcleo da escola nacional alemã. Mais lento, porém, é o desenvolvimento das escolas populares, o que não dá razão àqueles que atribuem a Lutero o mérito de haver dado início à moderna escola popular (CAMBI, 1999, p. 250). Quando a contrarreforma se mostrou necessária para a igreja católica, foi estimulada a criação de ordens religiosas para a formação de novos quadros, favorecendo o caminho pedagógico, pois era preciso reformular os métodos de instrução e atingir um número maior de estudantes, dada a necessidade de aumentar o número de católicos. Assim foi criada a ordem religiosa de maior destaque no campo educacional, que foi a companhia de jesus e os pressupostos organizados por Inácio de Loyola, o que direcionou grande parte da educação na Europa e nas Américas por mais de dois séculos. Explicitamente, a missão da Companhia de Jesus era a de catequizar, ou seja, conseguir adeptos à fé católica, tornar os índios mais dóceis e submissos, adaptando-os à mão de obra. Verificamos, porém, que implicitamente ela afastou-se deste objetivo voltando-se para a educaçãode elites, pois assim agindo, garantia para si lucros financeiros e a formação de futuros sacerdotes, o que não lhe era assegurado na proposta inicial da educação estava excluído o povo, e graças à Companhia de Jesus, o Brasil permaneceu, por muito tempo, com uma educação voltada para a formação da elite dirigente. (RIBEIRO, 1993, p. 16) Até o século XVII a educação religiosa como a da companhia de jesus, permaneceu predominante, porém não foi capaz de impedir o florescimento do pensamento pedagógico laico. Começou a ficar evidente nos estados absolutistas a necessidade de uma instrução e a educação pública, o ensino superior continuou desconexo e as academias ganharam ainda mais relevância com a revolução industrial e a valorização da pesquisa científica. O pensamento filosófico desse período se destacou com Descartes, Locke e Bacon, valorizavam o racionalismo e a consciência como ponto inicial para se construir conhecimento, o maior educador desse período foi Comenius, denominado como o “pai da pedagogia” (BORTOLOTI, 2015). Comenius pretendia tornar a aprendizagem eficaz e atraente mediante cuidadosa organização das tarefas. Ele próprio se empenhava na elaboração de manuais – uma novidade para a época – e minuciosamente detalhava o procedimento do mestre, segundo gradações das dificuldades e com ritmo adequado à capacidade de assimilação dos alunos (ARANHA, 2006, p. 157) No Período conhecido como Iluminismo ocorreram importantes reformas educacionais nos séculos XVIII e XIX. Deve-se enfatizar desse período primordialmente, a preocupação em resgatar o conhecimento acumulado até então pela humanidade com a elaboração da enciclopédia, idealizada por Diderot e D’alambert. Um dos principais ideólogos do pensamento educacional desse período, senão o principal, foi o filosofo Jean Jacques Rousseau, na sua obra Emílio está presente sua concepção educacional, indicando os limites do liberalismo e questionando o papel dos colégios religiosos além do o uso exagerado da razão na educação, o autor divide em cinco etapas de vida seu ideal de formação pedagógica, infância, puerícia, puberdade, adolescência e jovem adulto. É importante ressaltar que a concepção rousseauniana de que a infância é separada da vida adulta é uma inovação, pois entende a criança como portadora de uma bondade natural e dimensiona cada etapa da vida com suas peculiaridades, demandando ações pedagógicas diferentes para cada. Essa educação idealizada é conhecida como naturalista, também chamada de negativa, por duvidar da sociedade constituída (BORTOLOTI, 2015). A primeira educação deve ser puramente negativa, ela consiste não em ensinar a virtude e a verdade, mas em proteger o coração do vício e a mente do erro. Se puderdes não fazer nada e não deixar fazer nada; se puderdes levar vosso aluno sadio e robusto até a idade de doze anos (...) sem preconceitos, sem hábitos (...) muito logo terei entre as mãos o mais sensato dos homens; e, começando com não fazer nada, tereis feito um prodígio de educação (ROUSSEAU, 1968). Pode-se dizer que Augusto Comte, criador do positivismo, tentou de certo modo, agregar tudo o que era ciência experimental para pensar o homem e o problema social. No período predominava o cientificismo, a pregação da ciência como salvadora do mundo, é observável no pensamento de Comte uma teoria evolutiva nos moldes da montada por Charles Darwin, mas aplicada à sociedade, para o autor a sociedade se desenvolve por um processo evolutivo que pode ser visto nos estágios teológico, metafísico e científico positivista. De outro lado Hegel idealizou um pensamento para explicar a realidade como um todo, expondo que a realidade é a realização da Ideia, do Espírito Absoluto. Portanto, identifica-se uma crise de paradigmas filosóficos e científicos para se pensar a realidade humano-social principalmente. O idealismo alemão perde de vista a importância do indivíduo, coletiviza excessivamente e deturpa a concepção de Pestalozzi de tornar panteísta a concepção de Deus e a sua própria proposta de educação popular. Pestalozzi ficou conhecido como mestre, fundador e diretor de escolas, em grande parte de sua vida e em suas obras literárias se preocupou com os problemas do homem e procurou uma resposta, afirmando que esse precisava ser guiado, enfatizando o valor da educação e da família para o desenvolvimento da criança (BORTOLOTI, 2015). Enquanto inovadores ingleses experimentavam o ensino mútuo, na Suiça atuava J.H. Pestalozzi, declaradamente seguindo a trilha aberta por Rousseau, mas bem diferente deste, especialmente pelo seu operoso filantropismo e pela sua capacidade de traduzir os princípios em práticas. Sua ambição foi a de “juntar aquilo que Rousseau separava”, isto é, o homem natural e a realidade histórica; e o fez aderindo ao seu tempo e também se fechando dentro dos limites ideais de uma sociedade predominantemente pré-industrial. Todavia, seu exemplo concreto e suas intuições de Psicologia infantil e de didática constituíram um dos pontos de partida de toda a nova pedagogia e de todo o novo engajamento educativo do Oitocentos. (MANACORDA, 1992, p. 261). No final do século XIX diversos segmentos, socialistas, religiosas e ético- científicas se juntam com a finalidade de construir uma nova sociedade na qual o processo educativo desempenhe um papel totalmente diferente do que desemprenhava no passado, dadas as novas condições de mundo que levaram muitos pensadores a entender que o sistema educacional vigente até então era utilizado para manter o proletariado submisso aos interesses do capitalismo. A pedagogia do século XX, além de dever muito à psicologia, sociologia e de outras ciências, como a economia, a linguística, a antropologia, entre outras, tem evidenciado a necessidade presente desde a idade Moderna, que é a inclusão da cultura científica como conteúdo ensinado. Da mesma maneira que aconteceu no século anterior, se reafirmou a necessidade da escola pública, gratuita e obrigatória. A ampliação da educação infantil e dos outros níveis de ensino, da rede escolar, principalmente pela expansão da indústria e do comércio, à diversidade das profissões técnicas e burocracia na administração dos negócios, porém essa ampliação não garantiu mobilidade social e profissional. O ideário de escola nova contribuiu muito como instrumento de democratização da sociedade (BORTOLOTI, 2015). Desde o final do século XIX até a década de 1940, em decorrência da ampliação das oportunidades de estudo, verificou-se maior mobilidade e ascensão social, sobretudo para a classe média. Segundo a expressão de Wright Mills, surgia uma ‘nova classe média’ formada pelos White collors, ‘colarinhos brancos’, ou seja, gerentes, vendedores, empregados de escritórios e profissionais liberais assalariados (ARANHA, 2006, p. 246). O movimento escola novista foi resultado da tentativa de superar a escola tradicional, muito rígida, magistrocêntrica e mnemônica. Exigia métodos ativos, com ênfase nos processos de conhecimento e não apenas no resultado, para isso as atividades tinham o aluno como centro objetivando a iniciativa do mesmo, valorizou- se ao contrário da escola tradicional, os jogos, os exercícios físicos, as práticas de desenvolvimento da motricidade e da percepção, com a finalidade de aperfeiçoar diversas habilidades do aluno simultaneamente. Nas décadas de 1920 e 1930, as discussões sobre a educação e seus métodos se tornaram presentes no Brasil, os liberais, os conservadores, os socialistas, os anarquistas e também os militares, tentaram se posicionar através da educação. Os conservadores, representando os católicos, defendiam a “pedagogia tradicional”, assim como foi apresentada por Herbart, os liberais eram favoráveis a Escola nova e acreditavam que seria necessário escolher a escola única, obrigatória, gratuita e com novas técnicas,baseadas nos parâmetros científicos apresentados pela Psicologia, Sociologia e Biologia (BORTOLOTI, 2015). A contraposição de idéias entre católicos e liberais, que no período do Estado Novo foi marcante para o sistema educacional, teve um novo momento na década de 50, gerado pelo conflito escola pública "versus" escola particular a escola particular foi defendida pelos donos das escolas privadas e pela Igreja Católica, a qual afirmava que a escola pública não via seus alunos integralmente, limitando-se a desenvolver sua inteligência e outras caraterísticas ligadas ao conhecimento formal, ou seja, a escola pública "não educava". Somente a escola confessional estava apta a educar, ou seja, a desenvolver a inteligência e formar o caráter, a partir de uma filosofia integral de vida, inexistente na escola pública. Os "católicos" defendiam a subvenção pública às escolas particulares, o direito das famílias na formação integral de seus filhos e baseavam-se na doutrina católica do papa Pio XII, além de considerarem os defensores da escola pública como comunistas, e, portanto, inimigos de Deus, da família e da Pátria. (RIBEIRO, 1993, p. 25) Frente à exploração desmedida e a desigualdade de classes no século XIX, acarretou no descontentamento e organização dos proletários e intelectuais que pensaram o socialismo frente ao liberalismo burguês. Os educadores do segmento socialista defendiam a luta pela democratização do ensino e pela escola única, sem distinção entre formar e profissionalizar, a valorização do pensar e fazer, voltado para transformação do mundo, a desmistificação da alienação e da ideologia, instigando a consciência de classe. Paralelamente ao socialismo, que tinha como maiores expoentes Marx e Engels, surgiram as ideias anarquistas, que se caracteriza por se opor ao estado, burguês ou socialista, criticando o estado, a igreja e todas as instituições que possuíam uma hierarquia, incluindo a escola autoritária. As teorias construtivistas na educação representaram a busca de alternativas que levassem em consideração a complexidade do processo de construção do conhecimento baseadas em pesquisas científicas realizadas pela psicologia, sociologia, psicanálise, medicina, biologia linguística, dentre outras para compreender a mente da criança e o desenvolvimento cognitivo (BORTOLOTI, 2015). Essa nova atitude, portanto, recusa o objetivismo, porque o mundo que conhecemos não aparece tal como é, mas depende de como nós o vemos; recusa o realismo (o pensamento não é o espelho do mundo); aceita o princípio da auto-organização: todo conhecimento resulta de organizações e reorganizações sucessivas em níveis de complexidade cada vez maiores. O construtivismo realça justamente a capacidade adaptativa da inteligência e da afetividade, dando condições para que o processo de amadurecimento não seja ilusório, o que acontece quando resulta de pressões externas sem a “gestação” por parte do sujeito (ARANHA, 2006, p. 276). É importante ressaltar a trajetória do educador brasileiro Paulo Freire que é uma das mais significativas da história da educação, com suas contribuições à educação popular e educação de jovens e adultos, o autor se ligava a uma concepção libertadora da educação, que pregava a educação para transformar a sociedade e ser acessível às classes populares. Suas primeiras atuações educacionais foram em 1962 na cidade de angicos no Rio Grande do Norte, conseguindo alfabetizar 300 trabalhadores em 45 dias, modelo que foi adotado pelo governo federal com implementação dos “círculos de cultura” para atingir cerca de 2 milhões de adultos. Para Freire o movimento de libertação deve partir dos próprios oprimidos, cuja pedagogia será ‘aquela que tem de ser forjada por ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade”. Se tratando de um trabalho de conscientização e de politização, não bastando o oprimido ter consciência crítica da opressão, mas que se disponha a transformar a realidade. “A práxis é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo, sem ela, é impossível a superação da contradição opressor-oprimido” (BORTOLOTI, 2015). Portanto, observa-se que ao longo da história da educação, se analisada de maneira linear, que as características e contribuições para formação de sujeitos e das sociedades vão sendo incorporadas e ressignificadas de acordo com os interesses vigentes de cada período, entretanto observa-se sempre um movimento de democratização do ensino, exceto pelo período medieval de domínio da igreja católica no sistema educacional que tinha como objetivo o teocentrismo e manter uma população apática. A implementação de escolas gratuitas, acessíveis para as classes menos favorecidas e como instrumento transformador de mundo também é observável, tendo em vista que o sistema educacional era extremamente elitista em suas origens e continua em muitos aspectos de inclusão. Por isso o diálogo não somente com a história, mas com a filosofia, psicologia, sociologia, e outras ciências humanas se mostram tão importantes para a pedagogia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORTOLOTI, K. F. História da Educação. 1ª ed. Rio de Janeiro: SESES, 2015. ARANHA, M. L. de A. História da Educação e da Pedagogia. Geral e do Brasil. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2006. CAMBI, F. História da Pedagogia. São Paulo: Editora Unesp, 1999. JAEGER, W. PAIDÉIA: A formação do homem Grego. Tradução: Artur M. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1995. RIBEIRO. P. R.M. História da educação no brasil: Notas para uma reflexão. Paidéia, FFCLRP – USP, Rib. Preto, 4, Fev/Jul, 1993. MANACORDA, M.A. História da educação. Da antiguidade aos nossos dias. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 1992. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Confissões. Tradução: Fernando Lopes Graça: Portugália, 1968. BOTO, C. O desencantamento da criança: entre a Renascença e o Século das Luzes. In: FREITAS, M. C. de; KUHLMANN JUNIOR, M. (org.). Os intelectuais na história da infância. São Paulo: Cortez, 2002. ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. GARCIA, R. A. G. A didática magna: uma obra precursora da pedagogia moderna? Revista HISTEDBR On-line, Campinas, nº 60, p. 313-323, dez, 2014.