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AULA 1 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Profª Franciane Heiden Rios 2 CONVERSA INICIAL Quando falamos de Organização do Trabalho Pedagógico (OTP), estamos, de fato, falando de uma visão sistêmica do processo educacional. Trata-se da organização que apresenta e justifica as metas e as prioridades da escola e do trabalho docente diante dos objetivos de aprendizagem – no nosso caso, para a educação infantil. Ou seja, organizar o trabalho pedagógico nada mais é do que pensar a escola e o que faremos nesse espaço para cumprir o que consideramos ser os objetivos de aprendizagem para a educação infantil. Entretanto, esse nosso “considerar” não é resultado de desejos e concepções individuais, afinal, existe uma regulamentação nacional que direciona e orienta o trabalho nessa etapa de educação. Assim, conhecer esses documentos e textos é essencial para perceber como se dá a OTP na educação infantil e compreender por que ela caminha para essa, e não para aquela direção. Nesta aula, iniciaremos essa trajetória de aprendizagem apresentando e definindo as percepções e definições da identidade da educação infantil nos documentos regulatórios nacionais: Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e Base Nacional Comum Curricular – BNCC, sempre com apoio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) n. 9.394/1996. Conhecer esses documentos nos permitirá compreender os objetivos formativos da educação infantil, o perfil do profissional dessa etapa e a especificidade de cuidar e educar, concebendo, portanto, elementos fundamentais para a organização didático- pedagógica nesses espaços. CONTEXTUALIZANDO Você já esteve recentemente em uma sala de educação infantil? Se sim, já percebeu que algumas coisas estão diferentes: mais brinquedos, menos mesas, mais tintas, menos cadernos... Caso não tenha estado ou se deparou com algo diferente, observe estas fotos: 3 Figura 1 – Sala de aula de educação infantil Fonte: Arquivo próprio – Sala de aula de Luciane de Fátima Borsch (autorizada para uso). Essas transformações dos espaços físicos nada mais são que a materialização das concepções pedagógicas da escola, ou seja, como a Organização do Trabalho Pedagógico prevê os tempos, espaços e ações para aprender. Assim, qual a origem dessa perspectiva de educação infantil que temos em nosso imaginário, que desconfigura a sala de aula e pensa a criança com base em outra perspectiva? É nesse cenário de constantes transformações e mudanças de paradigmas que refletiremos como se dá a Organização do Trabalho Pedagógico na educação infantil. TEMA 1 – OBJETIVOS FORMATIVOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Para planejar e organizar qualquer aspecto da educação infantil, precisamos inicialmente saber o que queremos desse processo formativo. É como nos diz o ditado popular: “Para iniciar o caminho é preciso, primeiramente, saber onde se quer chegar”. Assim, para organizar o trabalho pedagógico na educação infantil, precisamos saber quais os objetivos formativos dessa etapa. 1.1 A proposta pedagógica atual para a educação infantil Em discussão geral, “toda e qualquer proposta para a educação infantil deve ter como referência a criança como protagonista de sua aprendizagem, afinal, ela não é uma abstração, mas sim produtora e produto da história e da cultura” (Faria, 1999). Essa visão resulta na concepção da criança como sujeito capaz e competente para interagir e intervir, descontruindo ou construindo cultura no meio em que está inserida. Portanto, mais que conteúdos, a proposta pedagógica, e consequentemente a Organização do Trabalho Pedagógico, deve 4 garantir à criança “[...] acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens [...]” (Brasil, 2010, p. 13), oferecendo condições e recursos para que usufruam de seus direitos civis, humanos e sociais. Nesse sentido, tem-se o currículo como "um conjunto de práticas que busca articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico [...]” (Brasil, 2009b – art. 3, Resolução n. 05/2009 do Conselho Nacional de Educação/Câmera de Educação Básica), promovendo a formação integral. Organizar o trabalho pedagógico com base nessas premissas estabelecidas em documentos norteadores deve ter como principal objetivo respeitar e promover as vivências e linguagens da infância, permitindo que a criança possa apreender, compreender e construir novos conhecimentos, transformando sua prática social. Mais que conteúdos, o que precisa ser organizado e promovido na educação infantil são experimentações e vivências, pois a criança é tida como [...] sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura" (Brasil, 2009b – art. 4, Resolução n. 05/2009 do Conselho Nacional de Educação/Câmera de Educação Básica). Essa promoção de experiências e vivências e o objetivo principal para a educação infantil que, como aprendizagem, deve resultar saberes, a fim de que as crianças tenham autonomia para: Figura 2 – Pilares para a Educação Fonte: baseado nos 4 pilares para a Educação – Unesco. Para conhecer, conviver, ser e fazer, as crianças devem ter sua especificidade respeitada. Por esse motivo, a Organização do Trabalho Pedagógico deve ter como eixos estruturantes as interações e a brincadeira, CONHECER CONVIVER FAZER SER 5 afinal, “[...] brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças” (Brasil, 2017). Nessa perspectiva, avançamos para compreender um pouco mais essas especificidades e suas orientações, a princípio em sua materialização na Base Nacional Comum Curricular da Educação Infantil. TEMA 2 – BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR DA EDUCAÇÃO INFANTIL A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento que define os direitos de aprendizagens das crianças na educação infantil. Ela é um pouco mais completa que as Diretrizes que veremos adiante, pois reflete diretamente em elaboração de currículos, formação inicial e continuada de professores, material didático, avaliação e apoio pedagógico. Conforme a LDB n. 9.394/1996, a base estabelece conhecimentos, competências e habilidades que se espera que as crianças desenvolvam durante o tempo de permanência na educação infantil, contemplando desde a etapa da creche até a pré-escola. Cabe aqui uma reflexão: acreditamos na integralidade da educação infantil e da infância; nesse sentido, a fração creche e pré-escola só é aqui utilizada por ser a nomenclatura aplicada nos documentos oficiais. Assim, por creche entendemos a faixa etária que condiz com as crianças de 0 a 3 anos e 11 meses e, por pré-escola, com as crianças de 4 a 5 anos e 11 meses. Pensando na Organização do Trabalho Pedagógico, é com base na BNCC que se efetivam os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento em cinco campos de experiência, sendo eles: Figura 3 – Cinco campos de experiência dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento Fonte: Brasil, 2016. O eu, o outro e o nós Corpo, gestos e movimentos Traços, sons, cores e formas Escuta, fala, pensamento e imaginação Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações 6 O olhar de quem pensa o trabalho pedagógico, ao se deparar com os campos de experiência, deve ser “afinado” para compreender que esse arranjo curricular deve acolher “[...] as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes,entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural” (Brasil, 2016), ou seja, não se resumem a conteúdo. Um exemplo acerca dessa diferenciação é a prática apresentada na Figura 4: Figura 4 – Era Medieval Fonte: acervo da autora, sala de aula da Professora Luciane de Fátima Borsch. Por meio da interação e da brincadeira, a proposta exposta na Figura 4 tinha como objetivo a vivência das crianças em aspectos de outra época, como determinados costumes, alimentação, vestimentas e músicas. Entretanto, essa vivência não é pensada e organizada na forma de conteúdos (“Hoje vamos falar sobre...), mas pela organização do espaço, pensado e adaptado, disponível para as interações por meio de brincadeiras e experimentações, cabendo ao professor mediar as situações para oportunizar as aprendizagens que se esperam como, por exemplo, o objetivo EI02EF041, que prevê: “Formular e responder perguntas sobre fatos da história narrada, identificando cenários, personagens e principais acontecimentos” (Brasil, 2016). 1 Todos os objetivos serão apresentados e detalhados na Aula 5, quando retomaremos à BNCC, aprofundando esse conteúdo. 7 Portanto, para organizar o que se propõe à educação infantil, é preciso compreender e ter como parâmetro que a BNCC estabelece conhecimentos, competências e habilidades esperadas das crianças ao final dessa etapa, que podem ser oportunizadas por um trabalho junto à Floresta Amazônica ou sobre o Rio Guaíba, devendo ser contextualizado com a realidade desses atores do processo de aprendizagem para a formação integral desses sujeitos e transformação social, prevendo justiça, democracia e inclusão. TEMA 3 – DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL – DCNS As diretrizes, diferentes da BNCC, são mais amplas, e não trazem em seu texto de forma explícita os objetivos de aprendizagem e o que efetivamente deve ser trabalhado em cada campo de experiência. Podem ser definidas como um conjunto de orientações que auxilia o professor em seu planejamento, e ao pedagogo nas concepções necessárias para promover a formação integral das crianças na educação infantil. As DCNs são previstas na Lei LDB n. 9.394/1996 e convergem com a incumbência da União de “[...] estabelecer, em colaboração com os Estados, Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil [...] que nortearão os currículos e os seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar a formação básica comum” (Brasil, 2010). Esse documento contribui com a OTP, diferentemente da BNCC, ao estabelecer princípios e concepções gerais sobre os atores da educação infantil. Por exemplo, não poderíamos falar de interação como eixo estruturante das práticas se concebêssemos a criança assim como Platão: “[...] entre todas as criaturas selvagens, a criança é a mais intratável; pelo próprio fato dessa fonte de razão que nela existe ainda ser indisciplinada, a criança é uma criatura traiçoeira, astuciosa e sumamente insolente, diante do que tem que ser atada, por assim dizer, por múltiplas rédeas [...]” (Platão, 2010, p. 302). Assim, os destaques desse documento para a Organização do Trabalho Pedagógico para a educação infantil são as seguintes definições2, que orientam o sistema educacional nacional como um todo: Educação infantil: como primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de 2 DCNEIs, Brasil, 2010. 8 idade em jornada integral ou parcial. O credenciamento e regulação são feitas pelos municípios. Criança: sujeito histórico e de direitos, protagonista de seu processo de aprendizagem, imerso em e produtor de cultura. Currículo: conjunto de práticas que deve articular experiências e saberes das crianças com aqueles já estabelecidos pela sociedade, promovendo seu desenvolvimento integral. Proposta pedagógica ou projeto político-pedagógico: orientações para as ações das creches e pré-escolas que, pautadas pelos documentos regulatórios, definem metas e estratégias para efetivar os objetivos de aprendizagem esperados ao final da etapa da educação infantil. Se pensarmos na nossa disciplina, podemos afirmar, portanto, que é na Proposta Pedagógica que a Organização do Trabalho Pedagógico se inicia, pois é desse documento que partem as abstrações sobre o que deverá ser efetivado para que não se deturpem as concepções de educação infantil, criança e currículo que estruturam e dão forma aos objetivos dessa etapa. Entretanto, sabemos que documentos e propostas só tomam forma e ganham vida com a ação humana; por isso, é fundamental percebemos também qual a concepção de profissional para essa etapa da educação básica. TEMA 4 – PERFIL PROFISSIONAL DOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL Assim como toda a estrutura da educação infantil, o profissional da infância também está passando por reconfigurações. Sabe-se que, não há muito tempo, para “cuidar” das crianças pequenas era necessário apenas o ensino fundamental. Temos casos de profissionais conhecidos como “babás” que nem essa etapa de escolarização básica haviam completado. Mas o que de fato isso tem a nos dizer? Afinal, apenas a escolarização é o que qualifica o profissional para atuar com crianças pequenas? Não, e já sabemos disso pela observação da realidade das creches e pré- escolas municipais. Se partíssemos da origem da educação infantil, quando ela integrava as políticas da assistência social, de fato não havia ou se fazia necessário formação técnica e teórica para atuação, pois o objetivo desses espaços era o de suprir as necessidades básicas em relação à higiene, 9 alimentação, descanso e integridade física, possibilitando às mães o ingresso e permanência no mercado de trabalho. Mas aqui repousa nossa reflexão sobre o profissional da educação infantil: sendo a EI atualmente parte das políticas educacionais, sabendo das concepções estruturantes dos documentos basilares e avançando no reconhecimento da importância educativa dessa etapa, ainda podemos dizer que o profissional sem formação específica deve permanecer? Não. Esses profissionais necessitam de qualificação, porém, não de uma qualificação massiva ou descaracterizada; precisam ter oportunidade de construir saberes teórico-práticos para promover a aprendizagem integral das crianças. Faz-se necessário que, conforme nos aponta Konder (1988), esses profissionais possam refletir no plano teórico sobre a dimensão criativa de sua atividade, avançando para “[...] uma ação material, objetiva, transformadora, que corresponde a interesses sociais e que, considerada do ponto de vista histórico-social, não é apenas produção de uma realidade material, mas sim criação e desenvolvimento incessantes da realidade humana” (Sánchez Vázquez, 1977, p. 213). Esse perfil e os desafios em relação ao profissional da educação infantil impactam profundamente as estratégias de Organização do Trabalho Pedagógico, afinal, os desafios são muitos para articular uma equipe diversa, com diferentes patamares formativos e teóricos. Entretanto, avançamos, e precisamos perceber como essa identidade profissional está descrita nos documentos regulamentadores. 4.1 Identidade do profissional da educação infantil Por integrar a Educação Básica, no que se refere à formação, o docente da educação infantil também responde ao art. 62 da LDB 9.394/1996: A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio,na modalidade Normal. (Brasil, 1996) A “autorização” para docência sem graduação apenas será concedida até 2024, prazo estabelecido pelo Plano Nacional da Educação. De acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil, os profissionais da educação infantil devem ser valorizados, selecionados exclusivamente por via de concurso 10 público na esfera pública e ter o piso salarial nacional garantido. Ou seja, esse professor não é diferente em categoria dos profissionais dos outros níveis educacionais; ele não é e não deve ser menos capacitado, visto como auxiliar, como cuidador, ou subcategorizado como um profissional de menor valor. Conforme documento regulatório: [...[ faz-se necessário que estes profissionais, nas instituições de educação infantil, tenham ou venham a ter uma formação inicial sólida e consistente acompanhada de adequada e permanente atualização em serviço. Assim, o diálogo no interior da categoria tanto quanto os investimentos na carreira e formação do profissional pelas redes de ensino é hoje um desafio presente, com vista à profissionalização do docente de educação infantil. Em consonância com a LDB, este Referencial utiliza a denominação “professor de educação infantil” para designar todos os/as profissionais responsáveis pela educação direta das crianças de zero a seis anos3, tenham eles/elas uma formação especializada ou não. (Brasil, 1998, p. 41) Esse documento evidencia o perfil polivalente do professor, mas que, diante das reflexões até aqui propostas, avança não para o trabalho “[...] com conteúdos de diversas naturezas” (Brasil, 1998, p. 41), mas para a efetivação de uma proposta pedagógica pensada com base nas interações e brincadeiras, que contemplem e expandam os campos de experiência, permitindo às crianças protagonismo em seu processo de aprendizagem. Ainda, desses profissionais espera-se a percepção da necessidade de cuidar e educar, qualificando ações em rotinas diárias com vistas ao melhor aprender, desenvolver e ser das crianças. Por isso a necessidade de avançar na definição da indissociabilidade do cuidar e educar na educação infantil. TEMA 5 – CUIDAR E EDUCAR: O TRABALHO ARTICULADO PARA A FORMAÇÃO INTEGRAL Cuidar e educar é ter consciência do fazer pedagógico na educação infantil. É perceber a integralidade do desenvolvimento da criança, respeitando a diversidade, a especificidade e a realidade peculiares à infância. Dessa forma, a OTP na educação infantil deve ser flexível e atenta, não mecanizando práticas ou estabelecendo regras que, com o tempo, passem a não ser mais efetivas ou justas, como, por exemplo, definir quais horários e quantas vezes uma criança pequena, que está aprendendo a controlar seus esfíncteres, poderá ir ao 3 Com a lei que estabeleceu o ensino fundamental de 9 anos, essa faixa etária passou a ser de 0 a 5 anos. 11 banheiro. Cuidar e educar são ações indissociáveis e complementares, e devem ser pensadas reconhecendo que o desenvolvimento, a aprendizagem e a formação do ser não ocorrem de maneira fragmentada e compartimentada. 5.1 Cuidar Cuidar envolve conhecimentos e habilidades para identificar as necessidades expressas e silenciadas das crianças. É perceber o que a criança precisa e refletir sobre a necessidade do olhar profissional sobre como proceder para efetivar essa demanda. É o cuidado e estímulo durante uma troca de fraldas; é a conversa afetiva em momentos de descanso; é a inserção de alimentos novos nos horários das refeições: “A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica procedimentos específicos” (Brasil, 1998, p. 24). Portanto, educar e cuidar são indissociáveis no processo educativo. A educação infantil tem como obrigação acolher as vivências extraescolares das crianças, articulando-as nas propostas pedagógicas, e as atividades de cuidado fazem parte dessas experiências. Cabe, porém, na educação infantil, a qualificação dessas práticas, sendo processos pensados e articulados diante de princípios pedagógicos. 5.2 Educar A palavra educar remete a dois momentos de tomada de consciência: aquele do educador, professor e pedagogo, que passa a compreender suas ações na educação infantil, e aquele da formação integral da criança, que é protagonista nesse processo de aprendizagem, crescendo como pessoa, cidadã e sujeito do mundo. Assim, o educar na educação infantil e na concepção dos documentos basilares pode ser compreendido como [...] propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, 12 emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis. (Brasil, 1988, p. 23) O cuidar e o educar são, portanto, indissociáveis para a formação integral das crianças da educação infantil, e devem ser pensados de forma articulada e complementar nas propostas pedagógicas para que a ação docente resulte em práticas contextualizadas e que respeitem a individualidade de cada criança. A OTP deve, assim, contemplar cuidados físicos, interações e brincadeiras para a aprendizagem, desenvolvimento cognitivo, simbólico, social e emocional das crianças pequenas. FINALIZANDO Nesta aula, iniciamos as discussões referentes à Organização do Trabalho Pedagógico na educação infantil. Utilizamos como referência os dois documentos e as normativas que se destacam no cenário atual: a BNCC e as Diretrizes Curriculares. Percebemos que a BNCC é mais dirigida e pontual ao definir objetivos de aprendizagem mínimos a serem contemplados nessa etapa da educação infantil; já as DCNs iniciam o processo identitário, apresentando concepções que fundamentam e justificam as escolhas pedagógicas para a orientação das práticas na educação infantil. O que evidenciamos como necessário após a trajetória de aprendizagem desse primeiro momento é que você, aluno e aluna, tenha subsídios para pensar a educação infantil no sentido da formação integral das crianças, concebendo-as como seres históricos e sociais, ativos no seu processo de aprender, pois é apenas com base nessa percepção de EI que será possível organizar o trabalho com vistas à ampliação de experiências, conhecimentos e habilidades das crianças da creche e da pré-escola. LEITURA COMPLEMENTAR Texto de abordagem teórica CARTAXO, S. R. M. Pressupostos para a educação infantil. Curitiba: InterSaberes, 2013. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788582124017>. Acesso em: 17 jul. 2018. 13 Indicamos a leitura do Capítulo 1, “Aspectos fundantes da educação infantil”, pois nele são abordados e retomados conceitos importantes para o trabalho pedagógico e sua organização. Afinal, conceber e conceituar a infância e suas especificidades é fundamental para qualquer proposta educativa a ser desenvolvida. Texto de abordagem prática CHAVES, M. Práticas pedagógicas na educação infantil: contribuições da teoria histórico-cultural. Fractal: Revista de Psicologia, v. 27, n. 1, p. 56-60, jan.-abr. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/fractal/v27n1/1984-0292-fractal- 27-1-0056.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2018. Esse artigo é de autoria de Marta Chaves, professora da UniversidadeEstadual de Maringá/UEM e coordenadora do GEEI – Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação Infantil. Compõe a 27ª Edição da Revista de Psicologia Fractal e traz em seu desenvolvimento análises e reflexões importantes para a compreensão das rotinas da educação infantil, tendo como teoria analítica os fundamentos da Teoria Histórico-Cultural, o que permite avançar nas discussões acerca da necessária humanização para a formação integral nessa etapa da escolarização. Saiba mais O MUNDO SOB A PERSPECTIVA DA CRIANÇA. TEDx Talks. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=VW87Oa14tMQ>. Acesso em: 17 jul. 2018. Esse vídeo traz algumas reflexões sobre a experiência de Isabela Minatel sobre ser mãe e como essa condição transformou sua vida. Porém, o que é mais importante na sua fala para nós que trabalhamos com a educação infantil é a compreensão de que a criança e o que propomos a ela não pode ser única e exclusivamente resultado do olhar do adulto. 14 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. Parecer CEB 022/98. Brasília: MEC, 1998. _____. Ministério da Educação. Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil, 1999. _____. Ministério da Educação. Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. Parecer CEB 020/2009. Brasília: MEC, 2009a. _____. Ministério da Educação. Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. Resolução CEB 05/2009. Brasília: MEC, 2009b. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis de anos de idade. Brasília: FNDE, 2006. _______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília: MEC, 2010. KONDER, L. O futuro da filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. PLATÃO. As leis, ou da legislação e epinomis. Tradução: Edson Bini. 2. ed. Bauru/SP: Edipro, 2010. SÁNCHEZ VÁZQUEZ, A. Filosofia da práxis. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
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