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COTIDIANO ESCOLAR E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Alessandro Frederico da Silveira | Eliane de Moura Silva Luciano Barbosa Justino | Paula Almeida de Castro Valmir Pereira (Organizadores) COTIDIANO ESCOLAR E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Coletânea Fundamentos da Educação, práticas pedagógicas interdisciplinares Volume 1 Campina Grande/PB 2015 Universidade Estadual da Paraíba Prof. Antônio Guedes Rangel Júnior | Reitor Prof. José Ethan de Lucena Barbosa | Vice-Reitor Editora da Universidade Estadual da Paraíba Antonio Roberto Faustino da Costa | Diretor Conselho Editorial Presidente Antonio Roberto Faustino da Costa Conselho Científico Alberto Soares Melo Cidoval Morais de Sousa Hermes Magalhães Tavares José Esteban Castro José Etham de Lucena Barbosa José Tavares de Sousa Marcionila Fernandes Olival Freire Jr Roberto Mauro Cortez Motta Editores Assistentes Arão de Azevedo Souza Editora filiada a ABEU EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA Rua Baraúnas, 351 - Bairro Universitário - Campina Grande-PB - CEP 58429-500 Fone/Fax: (83) 3315-3381 - http://eduepb.uepb.edu.br - email: eduepb@uepb.edu.br Aos Profissionais da Educação do Estado da Paraíba Ao longo dos quatro últimos anos, implantamos diversos projetos estruturantes no âmbito da educação da rede esta- dual de ensino, por entender que, fazer educação é cuidar de pessoas, é promover oportunidades de crescimento, é ofere- cer materiais e insumos de sustentação ao processo ensino e aprendizagem, é dar melhores condições de trabalho e de infraestrutura. É mobilizar esforços e responsabilidades em prol de um projeto educativo mais vigoroso e eficaz. Tendo como marco as duas edições de Curso de Formação Continuada, a primeira iniciada em 2011, tota- lizando uma carga horária de 180 horas, nas modalidades presenciais e semipresenciais e a segunda, iniciada em 2012, totalizando 360 horas, digo que ambas se uniram no mesmo propósito, aquela como sedimentação desta, uma com cará- ter de curso de aperfeiçoamento para todos os profissionais, a outra como garantia de avanço na carreira profissional, de pós-graduação, para graduados e efetivos. Ambas foram Copyright © EDUEPB A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja total ou parcial, constitui violação da Lei nº 9.610/98. A EDUEPB segue o acordo ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil, desde 2009. Editora da Universidade Estadual da Paraíba Antonio Roberto Faustino da Costa | Diretor Arão de Azevêdo Souza | Editor Assistente de projetos visuais Design Gráfico Erick Ferreira Cabral Jefferson Ricardo Lima Araujo Nunes Lediana Costa Leonardo Ramos Araujo Comercialização e Distribução Vilani Sulpino da Silva Danielle Correia Gomes Divulgação Zoraide Barbosa de Oliveira Pereira Revisão Linguística Elizete Amaral de Medeiros Normalização Técnica Jane Pompilo dos Santos Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme decreto nº 1.825, de 20 de dezembro de 1907. FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB conquistas merecidas para uma política pública de melhoria de carreira e de valorização do magistério. Como presidente do Fórum Estadual Permanente de Apoio à Formação Docente, queremos dizer da importância deste para a reflexão, proposição e avaliação da trajetória rea- lizada, juntamente com representantes das diversas instâncias formadoras, incluindo as universidades. É, pois, com justa alegria, que dedicamos este livro à divulgação dos relatos de trabalhos relevantes para o pen- sar, o sentir e o fazer pedagógicos, como também, de práticas educativas bem sucedidas, construídos e/ou sis- tematizados durante o Curso de pós-graduação lato sensu – Especialização em Fundamentos da Educação: Práticas Pedagógicas Interdisciplinares, desenvolvido pela Secretaria de Estado da Educação (SEE) em parceria com a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), nos muni- cípios sedes das Gerências Regionais de Educação, articu- lando diferentes temáticas nos diversos contextos sociais, econômicos e culturais e finalizando em 2014. Esperamos que essas ações, aliadas a outras que virão, sejam motivos para a tomada de decisão e posicionamento frente aos desti- nos da educação, que está em nossas mãos e que precisa ser assumida, cada vez mais na direção da qualidade, a serviço da cidadania e da justiça social. Márcia de Figueiredo Lucena Lira (Secretária de Estado da Educação) SUMÁRIO Apresentação Os cotidianos da Escola Paraibana Contemporânea 1 | PRÁTICA PEDAGÓGICA E COTIDIANO A PRÁTICA PEDAGÓGICA NO ENSINO EM BIOLOGIA Michelly de Carvalho Ferreira | Vagda G. G. Rocha O LABORATÓRIO INVESTIGATIVO NO ENSINO DE QUÍMICA: a experiência em sala de aula Manoel Felix de Santana Neto | Morgana Lígia de Farias Freire O USO DO CELULAR NA ESCOLA: um relato de experiência sob o foco de seus problemas e suas potencialidades Geane Araújo da Silva | Alessandro Frederico da Silveira SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO: da História à prática docente Gustavo Tenório Amorim | Márcio Moreira Brasil Geraldo Eduardo Guedes de Brito | Ricardo Olímpio de Moura 11 23 51 79 101 PERCEPÇÕES SOBRE A ABORDAGEM DE GÊNERO NO ENSINO MÉDIO INOVADOR: Um estudo exploratório da Escola Estadual Profª Liliosa de Paiva Leite Josemar Medeiros da Silva | Verônica Pessoa Silva 2 | ENSINO/APRENDIZAGEM E AS DEMANDAS CONTEMPORÂNEAS DA ESCOLA PARAIBANA REVISITANDO O FRACASSO ESCOLAR: das teorias às práticas Silvio César Lopes da Silva | Paula Almeida de Castro Eliane de Moura Silva DO FAZER CONCRETO AO PENSAMENTO ABSTRATO: a influência do material didático manipulável na construção do conhecimento matemático Marcos Fabiano O. Mangueira | Soraya Maria B. de Almeida Brandão AVALIAÇÃO E PROGRESSÃO CONTINUADA: implicações ao processo de ensino e aprendizagem Ana Cláudia da Silva Sobral | Francisca Pereira Salvino INOVAÇÕES PEDAGÓGICAS: a ludicidade e o uso das novas tecnologias como ferramentas do processo de ensino-aprendizagem Alena Sousa de Melo | Jailson Monteiro Moreira Francisco Jaime Bezerra Mendonça Junior 131 163 275 301 331 363 399 191 217 245 3 | INTERDISCIPLINARIDADE E INTERCULTURALIDADE COMO ÉTICAS DO DIÁLOGO A INTERDISCIPLINARIDADE COMO MÉTODO DE APROXIMAÇÃO PEDAGÓGICA ENTRE O SABER MATEMÁTICO E O SABER GEOGRÁFICO Celso Gomes Ferreira Neto | Filomena Maria G. S. Cordeiro Moita INTERCULTURALIDADE E INTEGRAÇÃO NO AMBIENTE ESCOLAR Maria Aparecida N. de Almeida | Luana Francisleyde P. de Farias PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES: leitura e escrita na educação de jovens e adultos (EJA) Nelsilene dos Santos Silva | Antônio de Brito Freire 4 | LETRAS, ARTES E EDUCAÇÃO FÍSICA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA CONTEMPORÂNEA LEITURA E ESCRITA: o lugar do texto literário em sala de aula Maria Lourdes Andrade Silva | Maria Fernandes de A. Praxedes POR UM ENSINO SIGNIFICATIVO EM LÍNGUA PORTUGUESA ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS Eneida Dornellas de Carvalho | Rosineide da Silva Ferreira 11 APRESENTAÇÃO Os cotidianos da Escola Paraibana Contemporânea Em face da proliferação de estudos sobre o cotidiano naquele momento, 1992, Marli André sinalizou para a necessidade de informar qual categoria enquadrava a descri- ção de cotidiano escolar. Muitos estudos se diziam retratar a realidade escolar fazendo alusão ao cotidiano das escolas e salas de aula ao descreverem as interações que ocorriam em seu interior. Em face da pluralidade de enfoques possíveis sobre um cotidiano tão rico e tão cheio de nuances, carên- cias e utopias tantas, necessitou-se, então, de um melhor detalhamento do que seria o cotidiano escolar. Do que tra- tavam os estudos que afirmavam estudar o cotidiano escolar? Para contribuir com a construção teórica dessa categoria, a mesma autora levantou algumas questões que podem servir de suporte para as discussões propostas para este volume, O ENSINO DE ARTES EM ARARUNA-PB: o que pensa quem faz? Edna Lúcia Bezerra Guedes | Alessandra Gomes Brandão O ENFOQUE DA EDUCAÇÃOTRANSFORMADORA TECENDOSABERES NO CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA Márcia Teresa dos Santos, | Edivan Gonçalves da Silva Júnior Maria do Carmo Eulálio SOBRE OS ORGANIZADORES 423 447 475 12 13 quais sejam, “O que caracteriza a vida escolar cotidiana? Que elementos são específicos da instituição escolar, isto é, só aparecem na escola? Como esses elementos específicos se articulam – ou não – com outras esferas da vida cotidiana?” (ANDRÉ, 1992, p.32). Um aspecto importante a ser considerado são os proces- sos culturais e identitários que se engendram no interior das escolas e salas de aula. Processos estes que são trazidos pelas marcas dos sujeitos escolares, sejam eles alunos ou profes- sores, secretários, supervisores, psicólogos e outros agentes, pelas interações cotidianas entre eles que permutam suas experiências entre a realidade vivenciada fora da escola e a escola como espaço de saber disciplinar e científico. Assim, em grande medida, muitos dos impasses e das possibilidades da escola contemporânea dizem respeito a esta tensa e cria- tiva articulação entre a escola como “sistema” e as práticas da vida que a atravessam. O cotidiano é a um só tempo a premissa e o resultado dos múltiplos processos que caracterizam a vida escolar. O ir e vir de sujeitos escolares molda e emoldura um sem- -número de relações que são estabelecidas para configurar o cotidiano escolar que se fundamenta no compartilhamento de interações e ações que circulam o dentro e o fora dos meios escolares. Entretanto, é preciso bons métodos para avaliar de que forma são estabelecidas essas interações que medeiam os processos de ensino e aprendizagem e que ao mesmo tempo fazem do ambiente escolar um micro cosmos da sociedade como um todo e de seus processos de constituição de sentido, na medida em que tais interações tendem a um ininterrupto diálogo entre formas e modos de vida, memórias e tradições individuais e coletivas, ainda vivas, configurando a rede do cotidiano escolar. Sob este aspecto, o currículo assume o seu papel ao esta- belecer normas de funcionamento acadêmico, que por sua vez vão implicar em novas formatações para o cotidiano da escola tão rico e representativo do mundo e da vida quanto possível. Com base nestes delineamentos, pode-se propor o que seja próprio do cotidiano escolar, que é justamente a sobre- posição de interações mediadas por processos formativos que envolvem sujeitos, currículos e estruturas. Assim, o coti- diano é a fonte e o resultado de papéis sociais desempenha- dos nos meios escolares. É possível perceber o quanto de nossas formas de pen- samento foram sendo moldadas por meio de diferentes pro- cessos a que estamos inseridos enquanto sujeitos integrantes de um determinado espaço escolar. Neste sentido, quaisquer que sejam as modificações pelas quais os processos sociais se inserem na escola, sob a forma do ensino e da aprendizagem, esta deve ser em potencial um lugar de autoavaliação e reformulação singular destes processos. Isto ocorre porque os sujeitos possuem identi- dades múltiplas que lhes permitem manter a circularidade das interações cotidianas e devem encontrar na escola, por hipótese, um lugar de grande relevância para fazer dialogar e negociar esta mesma multiplicidade. 14 15 Como o cotidiano está em constante movimento, cabe esclarecer quais são seus caminhos possíveis para se compre- ender as articulações que esses promovem com as aprendi- zagens no interior, em volta e fora da escola. O livro que o leitor tem em mãos, contempla arti- gos, resultantes dos trabalhos monográficos, que se ali- nham à temática desse primeiro volume da Coletânea Fundamentos da Educação, práticas pedagógicas interdisciplinares, intitulado Cotidiano escolar e práticas peda- gógicas. Os artigos resultam das pesquisas empreendidas pelos grupos que tiveram o cotidiano escolar como seu foco de interesse, cujo núcleo estruturante foi sempre a interlocução e a escrita conjunta entre docentes da Rede Estadual de Ensino e docentes da Universidade Estadual da Paraíba. São todos trabalhos em coautoria, de modo a apontar as ações integradas que foram o princípio norteador da proposta. Esta obra agrupa quatro eixos temáticos: 1. Prática pedagógica e cotidiano; 2. Ensino/aprendiza- gem e as demandas contemporâneas da escola; 3. Interdisciplinaridade e interculturalidade como éti- cas do diálogo; e 4. Letras, artes e educação física na prática pedagógica contemporânea. Na primeira seção de artigos estão reunidas as experiên- cias que buscam dar conta das relações institucionais da escola como sistema de produção de conhecimento e o cotidiano dos sujeitos escolares com suas demandas e especificidades. A prática pedagógica no ensino em biologia de Michelly de Carvalho Ferreira e Vagda G. G. Rocha e O laboratório investigativo no ensino de química: a experiência em sala de aula, de Manoel Felix de Santana Neto e Morgana Lígia de Farias Freire, objetivam “inserir-se no rol de atividades de cunho investigativo, planejadas privilegiando momentos de discussão, dúvidas e debates que colocam os alunos em situações problematizadoras.” O uso do celular na escola: um relato de experiência sob o foco de seus problemas e suas potencialidades, Geane Araújo da Silva e Alessandro Frederico da Silveira mencionam que “as insti- tuições de Ensino devem estar em sintonia com os desafios enfrentados pelos alunos no cotidiano, buscando promover uma reflexão sobre os danos causados pelo uso excessivo do aparelho celular e sobre sua potencialidade como ferra- menta de aquisição de conhecimentos.” Em Sexualidade e educação: da história à prática docente, Luiz Gustavo Tenório Amorim, Márcio Moreira Brasil, Geraldo Eduardo Guedes de Brito e Ricardo Olímpio de Moura pretendem “discutir a diversidade sexual no processo histó- rico da sociedade, a implicação desta no pensamento e o no comportamento dos indivíduos em relação à sexualidade.” Percepções sobre a abordagem de gênero no ensino médio ino- vador: um estudo exploratório da Escola Estadual Profª Liliosa de Paiva Leite, de Josemar Medeiros da Silva e Verônica Pessoa da Silva traz um relato de experiência de uma escola da Rede Estadual de Ensino que em 2012 adotou o Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI). A pesquisa objetivou refletir “sobre teorias que permeiam o discurso do gênero e sua aplicabilidade na diretriz inovadora do programa”, cujos resultados “refletem que há uma tomada de consciência nas relações de gênero” no âmbito da prática escolar. 16 17 Na segunda seção de artigos, encontra-se o eixo temá- tico interface Ensino/aprendizagem e as demandas contemporâneas da escola paraibana, e comporta qua- tro artigos. Em Revisitando o fracasso escolar: das teorias às práticas, Silvio César Lopes da Silva, Paula Almeida de Castro e Eliane de Moura Silva problematizam a partir das perspectivas de pro- fessores que as respostas dadas aos problemas de aprendi- zagem centram-se nos alunos por meio do pressuposto de que “a eles falta alguma coisa – comportamento adequado, atenção, interesse, cognição, bens materiais, trato nas relações etc. Ressalta-se que a tendência é perceber os problemas de aprendizagem como oriundos dos alunos, culpabilizá- -los por suas dificuldades, sem implicações para a escola e a sociedade como um todo.” Do fazer concreto ao pensamento abstrato: a influência do material didático manipulável na construção do conhecimento matemático, Marcos Fabiano Oliveira Mangueira e Soraya Maria Barros de Almeida Brandão debatem sobre o “alto índice de reprovação em Matemática, principalmente nas escolas públicas”, objetivando “refletir sobre o ensino da Matemática atualmente, bem como a aplicabilidade do uso de materiais concretos como recursos didáticos no processo ensino-aprendizagem de conteúdos matemáticos.” Em Avaliação e progressão continuada: implicações ao pro- cesso de ensino e aprendizagem, Ana Cláudia da Silva Sobral e Francisca PereiraSalvino analisam como “os professores compreendem a avaliação no regime de progressão con- tinuada” e identificam “suas implicações nos processos de ensino e aprendizagem, ressaltando a organização curricular em ciclos de formação e os sentidos de avaliação formativa.” Alena Sousa de Melo, Jailson Monteiro Moreira e Francisco Jaime Bezerra Mendonça Junior, no artigo Inovações pedagógicas: a ludicidade e o uso das novas tecnologias como ferra- mentas do processo de ensino-aprendizagem, discorrem sobre “o uso da ludicidade e das novas tecnologias como estratégias motivadoras e facilitadoras da aprendizagem traçando um paralelo entre a escola tradicional e a Nova Escola.” Interdisciplinaridade e interculturalidade como ética do diálogo é o foco da terceira seção do livro, na qual estão perfilados três artigos. Em A interdisciplinaridade como método de aproximação pedagógica entre o saber matemático e o saber geográfico, Celso Gomes Ferreira Neto e Filomena Maria G. S. Cordeiro Moita abordam a aproximação pedagógica entre a Geografia e a Matemática. Analisam como o saber da Matemática pode contribuir para o ensino da Geografia, entendendo que “a multidisciplinaridade da Geografia e da Matemática é sobremaneira relevante para se compreender as múltiplas formas e feições contidas nas formações e nas configurações geográficas.” Interculturalidade e integração no ambiente escolar, de Maria Aparecida Nascimento de Almeida e Luana Francisleyde Pessoa de Farias, propõe-se “uma discussão teórico-metodo- lógica sobre questões de identidade e diversidade”, demons- trando como “a identidade não é adotada como forma de autoafirmação, mas de desqualificação de determinados gru- pos sociais, por isso a intervenção no âmbito educacional a 18 19 fim de propiciar o oferecimento de educação de qualidade guiada por uma pedagogia com a diversidade.” Práticas interdisciplinares: leitura e escrita na educação de jovens e adultos (EJA), Nelsilene dos Santos Silva e Antônio de Brito Freire demonstram “a importância de práticas inter- disciplinares da leitura e da escrita em uma turma de 3º ano do Ensino Médio da Educação de Jovens e Adultos.” Na seção intitulada Letras, artes e educação física na prática pedagógica contemporânea, encontram-se quatro artigos. Leitura e escrita: o lugar do texto literário em sala de aula, de Maria Lourdes Andrade Silva e Maria Fernandes de Andrade Praxedes, pretende “refletir sobre a leitura e a escrita na escola com foco no letramento literário partindo de um estudo sobre os conceitos e orientações acerca des- ses processos, sobretudo na perspectiva de abordagens dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que orientam um ensino de língua portuguesa voltado à diversidade tex- tual que circula na esfera social.” Por um ensino significativo em língua portuguesa através dos gêneros textuais, Eneida Dornellas de Carvalho e Rosineide da Silva Ferreira visam demonstrar que uma atividade peda- gógica, baseada num aporte teórico centrado na teoria dos gêneros e da aprendizagem significativa, pode ser um dispo- sitivo eficiente para superar déficit de escrita e leitura. O ensino de artes em Araruna-Pb: o que pensa quem faz?, de Edna Lúcia Bezerra Guedes e Alessandra Gomes Brandão, provém “de questionamentos acadêmicos sobre o ensino de artes na atualidade, especialmente como ele vem sendo percebido na cidade de Araruna-PB. Os resultados desse estudo demonstram, apesar de todos os avanços nos docu- mentos oficiais, que a arte ainda não é percebida nem apli- cada em todo seu potencial.” O enfoque da educação transformadora tecendo saberes no campo da educação física, de Márcia Teresa dos Santos, Edivan Gonçalves da Silva Júnior e Maria do Carmo Eulálio tem como objetivo principal “a necessidade de demonstrar que a perspectiva da Educação Transformadora pode ser adotada no currículo da Educação Física”, de modo a “promover uma breve discussão sobre os desafios que se apresentam para o professor no exercício de formação e ensino, assim como descrever uma experiência singular no exercício da docência em educação física.” Cremos, portanto, que o primeiro volume da Coleção Fundamentos da Educação, práticas pedagógicas interdisciplinares, há de refletir e ao mesmo tempo ser um indicador das profícuas pesquisas realizadas no âmbito de uma experiência inovadora na Paraíba, de diálogo entre pesquisadores oriundos da escola básica e pesquisadores da educação superior, por si só pouco comum em nosso país, infelizmente, cujos frutos este livro é um indício. Boa leitura. Os organizadores 1 PRÁTICA PEDAGÓGICA E COTIDIANO 23 A PRÁTICA PEDAGÓGICA NO ENSINO EM BIOLOGIA Michelly de Carvalho Ferreira1 Vagda G. G. Rocha2 Introdução O presente artigo trada da prática pedagógica no ensino de Biologia. Neste, investigamos a visão de alunos e de uma professora acerca dessa disciplina, os limites e as possibilida- des de esta ser trabalhada no sentido de conferir aprendi- zagem aos alunos. Entendemos que captar a percepção de alunos e professores acerca de práticas pedagógicas se faz 1 Licenciada em Biologia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Especialista em Ciências Ambientais e Fundamentos da Educa- ção: Práticas Pedagógicas Interdisciplinares. Professora de Biologia do Sistema Estadual de Educação da Paraíba. 2 Doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual da Paraíba. 24 25 importante nesse momento, principalmente porque se busca qualidade em educação. Além de esta temática ser bastante explorada, mas jamais esgotada, considerando o dinamismo presente no espaço escolar. Para alcançar o objetivo pro- posto, optamos por desenvolver uma pesquisa qualitativa por suas propriedades propiciarem um universo de significados, motivações, valores e atitudes, na tentativa de capturar um enfoque mais profundo de relações, processos e fenômenos, buscando, portanto, responder questões particulares, preo- cupando-se como uma realidade que não pode ser quan- tificada, mas que tenha significado e intencionalidade. A discussão a seguir nos mostra, através dos estudos e dados coletados, que é possível dizer que há limites que interfe- rem num ensino de qualidade, tanto de Biologia, como das demais disciplinas do Ensino Médio, entretanto, defendemos a ideia de que se houver inovação e melhores condições de trabalho, a disciplina de Biologia e as demais tendem a ter uma receptividade melhor e, consequentemente, melhor aproveitamento por parte dos alunos. Breve histórico sobre o ensino de biologia Para compreendermos como os conteúdos da disciplina entraram no currículo escolar, faz-se necessário uma breve digressão sobre a mesma. Os passos iniciais do ensino de Biologia no Brasil estão relacionados ao ensino jesuítico aqui no país, bem como à influência da dominação portu- guesa. De acordo com Bizzo (s/d, p.148), após a expulsão dos jesuítas, o Marquês de Pombal contratou Domenico Agostino Vandelli para participar da reforma educacional a ser realizada no Brasil. A Vandelli foi atribuído a organiza- ção dos estudos de história natural. O seu pupilo, Alexandre Rodrigues Ferreira, realizou incursões à Amazônia para coleta de espécimes nativos da flora e da fauna brasileira a serem enviados para Portugal, entretanto, a maior parte desse material acabou por cair em mãos francesas e reme- tida a Paris. Para o professor Leitão (1937), devido a tal fato, a Biologia no Brasil ficou condenada ao atraso ou mesmo dependente da França. Tal atraso pode ser sentido no mate- rial de ciências da época, pois o mesmo apresentava uma certa confusão entre os animais da fauna brasileira e a de outros continentes, a exemplo da África. Para além disso, havia ainda a carência de tradução para a língua portuguesa de materiais estrangeiros e infraestrutura precária de editoras em terras brasileiras. Apenas no Governo Vargas é queBiologia ganha des- taque, juntamente à disciplina Biologia Educacional. Estudava-se evolução, genética, passando pela fisiologia, eugenia e eutecnia. Nesse momento, tenta-se superar a pedagogia tradicional, baseada na imitação de modelos e implantar uma pedagogia nova, reconhecida como cientí- fica e experimental. É importante também pensar no movimento da pós- -graduação no Brasil, pois em 1950 começaram a ser firma- dos acordos entre Estados Unidos e Brasil, com convênios entre escolas e universidades norte-americanas e brasileiras e intercâmbio de estudantes, pesquisadores e professores. 26 27 A maior repercussão dos cursos de pós-graduação ocorreu na década de 1960, com iniciativa significante nas áreas de Ciências, Física e Biologia. Em meados da década de 1980, a pós-graduação, a título de mestrado na área de Física, começa a se expandir dentro do seu Instituto na Universidade de São Paulo (USP), abre espaço na Faculdade em Educação e passa a ser área de pesquisa em várias produ- ções de mestrado e doutorado. Nesse mesmo período, na Universidade Estadual do Estado de São Paulo (UNESP), na cidade de Rio Claro, a Educação Matemática começa a conquistar considerável espaço, a fim de também oferecer cursos em nível de mes- trado. Então, podemos considerar um marco na educação brasileira, pois se institucionalizava, nesse período, a forma- ção em pós-graduação em ensino de Ciências e Matemática. Ainda no período de 1960, repercutiram no Brasil pro- postas americanas de inovações curriculares para o ensino de ciências, através do acordo do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBCC) com a Organização dos Estados Americanos (OEA) para formar professo- res, ensinando-lhes os novos conteúdos de Ciências e Matemática, considerados apropriados para o ensino funda- mental, além dos diversos projetos de capacitação docente e produção de materiais didáticos, financiados pelo acordo entre o Ministério da Educação (MEC), Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Fundação Ford e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). Antes da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases n°4.024/61, as aulas de Ciências Naturais eram ministradas apenas nas duas últimas séries do antigo ginasial. O advento desta lei estendeu a obrigatoriedade do ensino da disciplina a todas as séries do ginásio e aumentou a carga horária no ensino secundário. Em 1971, com a Lei de 5.692, Ciências Naturais passou a ser obrigatória nas oito séries do antigo primeiro grau (BRASIL, 2001). Em 1983, surge o Subprograma Educação para a Ciência (PADCT/SPEC) com o objetivo explícito de “criar uma comunidade, em todo país, na área de ensino de Ciências e Matemática” (CARVALHO, 1994, p.76). O SPEC conce- deu 111 bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado no exterior. Até 1992, havia 29 doutores e 6 pós-doutores for- mados no exterior, além das bolsas oferecidas pelo CNPq. De 1996 a 2011, a formação de pós-graduados se expandiu em cerca de 10% ao ano. Com o passar dos anos, cada área de estudo foi se orga- nizando em seus departamentos, configurando então, de forma independente, seus conhecimentos específicos. É interessante pensar nas atividades humanas, na Ciência e na Tecnologia, fortemente associadas às questões sociais e políticas, ramos de estudo que promovem e interferem na produção do conhecimento. Por isso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCn’s), apresentam a Ciência como colaboradora na compreensão de mundo e suas transfor- mações, no reconhecimento do homem como parte do universo, mas também na sua individualidade, é a meta apre- sentada para o ensino escolar nessa área. A apropriação de 28 29 tais conhecimentos pode contribuir para o questionamento do mundo, bem como para a ampliação das explicações dos fenômenos da natureza e valorização dos modos de inter- venção e uso dos recursos disponibilizados na mesma, e ainda para a compreensão e melhor uso de recursos tecno- lógicos e reflexão sobre questões éticas no tocante à Ciência, à Sociedade e à Tecnologia (BRASIL, 2001). A seleção de conteúdos no ensino de biologia Refletir sobre a disciplina de Biologia, nos faz perceber quão colaboradora desse processo essa disciplina se configura e se apresenta, em virtude de a mesma estar presente em toda parte, desde a leitura de mundo até as questões polêmi- cas da ciência, assim acreditamos ser pertinente despertar a curiosidade do nosso aluno sobre o mundo a sua volta, seja pelas ações dos fenômenos naturais, pela tecnologia ou por sua interferência, enquanto homem, sobre o meio. A questão que se coloca já não é mais a democratização do acesso à educação, mas a da qualificação de suas práticas, da efetividade enquanto instrumento de desenvolvimento moral e intelectual dos estudantes. Para isso, é preciso repen- sar os conteúdos escolares e sua relação com a sociedade e a vida concreta dos estudantes. Entendemos que os saberes escolares tanto na área da Biologia/Ciências Naturais, bem como nas demais áreas de conhecimento devem estar com- prometidos com o significado coletivo da vida e do trabalho produzidos em consonância com a criticidade, a inventivi- dade e a responsabilidade ambiental e social. Passou aquela ideia de escola voltada unicamente para formação intelectual. Na sociedade atual, temos outras exi- gências, os conteúdos precisam estar interligados à vida diá- ria, suas experiências e inquietações, envolvendo homem e mundo, na perspectiva de o estudante ser capaz de for- mar um pensamento crítico, coeso e comprometido com o ambiente a sua volta. Segundo Marandino (2009), o que se pode perceber é que o surgimento das chamadas “disciplinas escolares” está atrelado à demanda pela escolarização de massas no século XIX. Com o capitalismo emergente, a organização do tempo e espaço escolares passa a ser uma consequência do contexto sócio/histórico/cultural do período que se ana- lisa. Isto implica dizer que, para cada momento histórico, há um “modelo” de homem/mulher, de escola, de sociedade. A autora ressalta, porém que, dentro dessa organização, quando se trata do século XIX, com o capitalismo crescendo, é impossível a população permanecer a mesma. Para MARANDINO (2009), a forma de organização do ensino, o currículo, torna-se hegemônica nos currícu- los escolares, passando a estruturar e controlar o tempo e o espaço do sistema escolar em expansão. Faz-se necessário, entretanto, que a prática pedagógica seja criativa possibili- tando ao professor tornar a aula um momento mais produ- tivo, dinâmico, atrativo e envolvente. Para tanto, acreditamos que a qualificação docente é ele- mento de destaque. Quando o docente tem consciência de sua prática, este, ao planejar suas aulas, analisa o conteúdo, esclarece seus objetivos frente às ideias a serem trabalhadas, 30 31 repensa sua explicação de acordo com a turma, a fim de escolher a metodologia mais adequada na expectativa de aprendizagem de determinado conteúdo. Defendemos que os conteúdos devem favorecer a cons- trução, pelos estudantes, de uma visão de mundo formado por elementos inter-relacionados. Devem promover as rela- ções entre diferentes fenômenos naturais e objetos da tecno- logia, entre si e reciprocamente, possibilitando a percepção de um mundo em transformação e sua explicação cientí- fica permanentemente reelaborada; os conteúdos devem ser relevantes do ponto de vista social, cultural e científico, permitindo ao estudante compreender, em seu cotidiano, as relações entre o ser humano e a natureza mediada pela tec- nologia, superando interpretações ingênuas sobre a realidade a sua volta (BRASIL, 1998, p.35). Nessa perspectiva, ao analisar a compreensão de currí- culo escolar em relação às Ciências Biológicas, temos pra- ticamente em nosso país o seguinte perfil: para os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental, 1º ao 5º ano, tem- -se, geralmente, um professor responsável pelos conteúdosreferentes a todas as disciplinas (polivalente), entretanto, é possível encontrar professores responsáveis por apenas duas ou três disciplinas nesse nível de ensino; nos quatro anos finais do ensino fundamental, 6º ao 9º ano, temos a disci- plina de Ciências que envolve conteúdos de Química, Física e Biologia e apenas um professor responsável pela mesma. Observando as propostas curriculares de várias unidades federadas do país, percebemos que se assemelham em rela- ção à carga horária e ao programa de conteúdos, a exemplo dos Estados da Bahia, do Paraná, de São Paulo e do Rio de Janeiro, onde é dedicado um tempo de 12% a 15% do tempo escolar para a aprendizagem de Ciências Biológicas, resul- tando numa média de três a quatro aulas por semana. Cada instituição de ensino tem autonomia na organização do seu currículo, desde que atendidas às exigências das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCNEB). A partir da década de 1960, a Biologia passou a ter influ- ência internacional, ganhou espaço e passou a ser vista como uma disciplina relevante, devido às curiosidades próprias dos conhecimentos naturais, despertando o interesse acadêmico quanto à abordagem de conteúdos, a exemplo dos micror- ganismos que precisavam ser explorados. O conhecimento em Biologia não ficou restrito à divisão apenas do estudo da botânica e da zoologia, mas à existência de todos os seres vivos, fato que provocou o acréscimo de outros conheci- mentos nos currículos escolares, tais como ecologia, gené- tica, bioquímica, biologia molecular, entre outros. Assim, por volta dos anos de 1970, foi pensado um novo componente curricular que envolvesse esses conteú- dos, para a disciplina de Biologia no Segundo Grau, hoje, denominado Ensino Médio. Nesse período, vários projetos nacionais de ensino, incluindo a variedade de livros com o objetivo de obter um currículo de estreito relaciona- mento com a comunidade, foram preparados abrangendo uma ampla gama de concepções sobre o ensino de Biologia (KRASILCHIK,1995). Assim, os autores de livros da época, em consonância com o advento de mais conhecimentos 32 33 para o currículo escolar, passaram a ter especificamente mais conteúdos a serem explorados. Iniciando a década de 1990, os programas predominan- tes de Biologia, no Ensino Médio, abrangiam desde a ori- gem da vida à relação do homem com o meio ambiente. Mesmo assim, ainda se percebia que determinadas infor- mações tinham certa persistência em se manter como antes, assim como a carência em relacionar Ciência, Tecnologia e Sociedade em meio ao desenvolvimento científico. Frente a isso, o Ministério da Educação produziu um referencial com o intuito de orientar os profissionais na área da educação, chamado de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), afirmando que o “papel das Ciências Naturais é o de colaborar para a compreensão do mundo e suas transfor- mações, situando o homem como indivíduo participativo e parte integrante do Universo” (BRASIL, 2001, p.15). Esse documento foi criado como uma carta de inten- ções, de forma a orientar professores a desenvolverem meto- dologias de ensino através das quais o educando pudesse relacionar conteúdos a sua volta. É possível dizer que a partir da criação e distribuição dos parâmetros, toda a educação nacional ganha uma matriz norteadora, com diretrizes peda- gógicas gerais, mas recomendando a valorização das culturas locais. Pois, como afirmam os PCN (BRASIL, 1999, p.27) “as disciplinas convencionais não suprem totalmente no sentido de discutir questões sociais e valores para o pleno exercício da cidadania”. Isso implica dizer que através da proposta dos PCN, tem-se um direcionamento em sentido interdisciplinar, provocando mudança na prática, bem como na interação professor-aluno. Entretanto, questiona-se ainda como deve- ria ser a formação do professor, justamente pela compre- ensão de a educação ser uma área tão importante para o desenvolvimento social. Concepções, práticas e desafios do professor do ensino de biologia Podemos dizer que a formação de professores de Biologia, extensiva às demais licenciaturas, envolve geral- mente duas etapas. No caso de Biologia, uma primeira etapa – a de formação inicial – se dá por meio da vinculação do futuro professor à licenciatura em Ciências Biológicas. Uma segunda etapa – a da formação continuada – é aquela que se inicia com o ingresso na profissão e se estende de modo contínuo durante todo o período da atividade profissional. Assim, não tem como falar em educação de qualidade sem atentar para a formação continuada, já considerada, junta- mente com a formação inicial, uma questão fundamental nas políticas públicas educacionais. O Brasil vem desenvolvendo uma série de ações no sentido de qualificação de seu quadro docente. A Rede Nacional de Educação, criada desde 2004, oferece forma- ção continuada de professores com o objetivo de contri- buir para a melhoria da formação dos professores e alunos. Dentro dessa cadeia nacional, temos várias opções de cursos que atendem a várias realidades, a exemplo do Parfor, criado em 2009, que oferece a educação superior, sem ônus para o 34 35 docente e que se propõe de qualidade, para professores em exercício na rede pública de educação básica, em consonân- cia com a Lei 9394/96. Há ainda o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa que oferece curso presencial de dois anos para os pro- fessores alfabetizadores; o Proinfo Integrado que é um pro- grama de formação voltado para o uso didático-pedagógico das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no cotidiano escolar; o Programa Gestão da Aprendizagem Escolar que oferece formação continuada em língua portu- guesa e matemática aos professores dos anos finais do ensino fundamental em exercício nas escolas públicas; e, por último, o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, regulamentado pela Portaria Ministerial Nº 1.140/2013. Neste último, o Ministério da Educação e as secretarias esta- duais e distrital de educação assumem o compromisso pela valorização da formação continuada dos professores e coor- denadores pedagógicos no ensino médio público, em áreas rurais e urbanas (BRASIL, 2014). Para Ferreira (2006), a formação do profissional exige hoje uma sólida formação humana relacionada diretamente com a sua emancipação como indivíduo social, sujeito his- tórico em nossa sociedade. E como a escola apresenta plura- lidade cultural e de pensamentos, necessita de formação para além de conteúdos e estratégias pedagógicas. Acreditamos que não apenas os conhecimentos pedagógicos podem asse- gurar uma boa didática ou ações pedagógicas, o professor deve ter flexibilidade e sabedoria para conduzir suas turmas diariamente. O fazer docente exige também humanidade. Para Mello (1999), a formação do professor é um pro- cesso inicial e continuado, que se dá no sentido de tentar responder aos desafios que se apresentam no cotidiano esco- lar, principalmente, nesse momento de constantes avanços tecnológicos. Vivemos um momento que requer profissio- nais sempre atualizados e, dentre estes, acreditamos que o professor é o profissional que apresenta maior necessidade de atualização, visto que o mesmo alia as tarefas de ensinar e estudar. E, se assim não for, quando o profissional achar que sabe tudo, distanciando-se da busca pela leitura, pelos cursos ou outras fontes de informação, dificilmente, vai conseguir atender às indagações e aos desafios da docência. É impor- tante que desde o começo do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado (FREIRE, 1998). Compreendemos que o professor de Biologia defende o conhecimento de sua disciplina como aquele que pode proporcionar, ao docente e ao discente muitas direções para encaminhar a prática, seja em observações de campo, prá- ticas realizadas em laboratório, debatesem classe, vídeos, etc. Por isso, Carvalho (2004) propõe pensar a aplicação de determinado conteúdo como uma prática significativa que possa facilitar a compreensão dos alunos. Isso quer dizer que o professor quando percebe a impor- tância que possui a sua prática, encontra neste exercício saberes próprios da construção, necessários para repensar seu 36 37 trabalho e suas atitudes, recriando em si um sujeito capaz de buscar alternativas para o ensino. Ainda em relação ao professor de Biologia, o conteúdo a ser trabalhado deve apresentar proximidade, inter-relação da teoria com a prática, a fim de que um mesmo conte- údo seja devidamente ensinado e experimentado, visando atender a curiosidade do educando. As mudanças propostas na Didática das Ciências não são só conceituais, abrangem também os campos atitudinais e processuais em sala de aula. Não basta ao professor saber, ele deve também saber fazer (CARVALHO; GIL, 2000). Ao pensar no exercício pedagógico do professor, não dá para se limitar ou se restringir a permanecer sempre “na mesma”, nunca fazer algo diferente do que já é costumeiro fazer. No ensino das Ciências ou Biologia, é como se a pró- pria disciplina exigisse ou pedisse de nós, docentes desta área, algo a mais, seja pela natureza a nossa volta, pelas ques- tões éticas, sociais, pela criação de debates, de vídeos aula, seja pelas experiências usando o laboratório, dentre outras atividades. O professor de Ciências, de Biologia ou Ciências na Natureza muito tem a contribuir no processo de ensino- -aprendizagem despertando o aluno para o conhecimento. Porém, dentre os maiores desafios ou dificuldades de efetuar essa prática de forma mais dinâmica ou interativa, estão: 1) a carga horária insuficiente - sendo três aulas semanais, isto sem falar em um sexto horário reduzido, sendo o mais curto e detestado pelos alunos, uns ficam como se fossem obrigados, outros vão embora sem dar uma explicação, além dos que ficam apenas reclamando “tô morrendo de fome professora, libere a gente”; 2) o número excessivo de alunos por turma - quando pensamos em realizar um debate, incentivando a participação dos alunos, inviabiliza a proposta, inclusive de trabalho; 3) a utilização do laboratório de Ciências - tam- bém não é diferente, dependendo da turma, não dá para acomodar todos ao mesmo tempo no lugar, se levar uma parte, a outra fica nos corredores e atrapalha as outras aulas; 4) a utilização da sala de vídeo com equipamento do data show - só o tempo de instalar computador, sintonizar caixa de som e todo equipamento compromete o horário da aula, etc. Essas, dentre outras situações, impedem a nossa aula de ser mais atrativa e dinâmica. Embora os aspectos elencados se assemelhem à realidade de outras áreas ou disciplinas, fri- samos a constância dos mesmos no tocante ao ensino da Biologia. Defendemos que o ensino de Ciências não deve limitar- -se às atividades em si, mas envolver a capacidade reflexiva dos alunos, promovendo diálogos e discussões constantes, assim como comunicações orais e escritas dos resultados de seu trabalho. A metodologia de ensino voltada para a sala de aula depende fundamentalmente da interação professor-aluno, e esta não pode ser antecipada em seus pormenores, embora seja possível planejá-la em linhas gerais. Um mesmo pro- fessor, em uma mesma escola, comumente tem diferentes experiências com seus alunos, em cada uma das salas de aula (BIZZO, 2012). 38 39 O ensino de biologia na fala da professora e de seus alunos Na expectativa de atender aos objetivos da investigação da presente pesquisa, foi aplicado um questionário, respon- dido por 32 alunos, e realizada uma entrevista com uma professora responsável pela disciplina de Biologia na escola, campo de estudo. Os dados foram obtidos durante o pri- meiro semestre de 2014, em uma escola pública de Ensino Fundamental e Médio, da Rede Estadual no Município de Belém-PB. Participaram da pesquisa 32 alunos que cursam o 1º Ano do Ensino Médio, turno tarde e uma professora de Biologia, efetiva e graduada no Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. Na entrevista com a professora da disciplina, tínha- mos a intenção de coletar dados sobre a concepção que a mesma tem do ensino de Biologia no exercício de sua prática docente. Já no questionário respondido pelos alunos, investigamos a ideia que os mesmos têm da disciplina de Biologia. As respostas obtidas foram analisadas numa abor- dagem qualitativa por entendermos que esta nos possibilita um universo de significados, motivações, valores e atitudes, na tentativa de capturar um enfoque mais profundo de rela- ções, processos e fenômenos, buscando, portanto, respon- der questões particulares numa realidade que não pode ser quantificada, mas que tem significado e intencionalidade (MINAYO, 2000). Observando o gráfico 1, a seguir, depreendemos que ao indagarmos sobre como os alunos definiam a disciplina de Biologia, tivemos o resultado seguinte: 62,5% dos 32 alunos que responderam ao questionário, disseram que Biologia era uma disciplina interessante; 18,6% consideram a disciplina curiosa; 12,5% disseram ser legal e apenas 6,2% disseram ser chata. Nenhum aluno marcou a opção ruim. Esses dados são significativos na medida em que revelam que a disciplina é atraente para os alunos. Os conteúdos que esta aborda pare- cem despertar o interesse dos mesmos. Gráfico 1 - Definição da Disciplina de Biologia por parte dos aluno Fonte: As autoras, a partir de dados coletados in loco, 2014 No gráfico 2, trazemos a opinião dos alunos referente aos conteúdos estudados em Biologia. 84,4% dos estudantes disseram que os conteúdos despertam a curiosidade e 6,2% disseram que os conteúdos são interessantes. Entretanto, 40 41 6,2%, afirmaram que os conteúdos estudados nessa disci- plina não despertam a atenção, não são interessantes e 2% se posicionaram dizendo não gostar da linguagem utilizada na disciplina. Depreendemos que estes índices estão em conso- nância com a questão anterior. O fato de 84,4% dos alunos demonstrarem curiosidade ou interesse pelos conteúdos é bastante positivo. Gráfico 2 - Opinião dos alunos quanto aos conteúdos de Biologia Fonte: As autoras, a partir de dados coletados in loco, 2014 Quando indagados quanto ao tipo de aula que mais gos- tam, obtivemos as seguintes respostas: 12,5% dos estudantes disseram gostar mais de momentos de debate de temas polê- micos em classe, 37,5% disseram gostar da aula explicativa e com orientações, 31,2% citaram as aulas de vídeo e exposi- ção de slides com uso do data show e 18,8% mencionaram as aulas práticas, com experiências. Nesses dados, merece atenção o fato de que mais de 1/3 dos entrevistados disse- ram gostar de aulas expositivas, aparentemente sem auxílio de outro recurso didático. Inicialmente, o fato de os alunos apreciarem aulas expositivas é positivo, principalmente se considerarmos a precariedade de algumas escolas, por outro lado, isso pode apresentar indícios de que gostam porque esta é a técnica mais utilizada pelos professores. Estes núme- ros podem ser apreciados no gráfico a seguir. Gráfico 3 - Tipo de aula de que o aluno mais gosta Fonte: As autoras, a partir de dados coletados in loco, 2014 No gráfico 4, temos a opinião dos alunos quando inda-alunos quando inda-lunos quando inda- gados acerca do perfil/postura do professor responsável pela disciplina de Biologia. Para 9,4% dos alunos, o professor de Biologia deve ser sério e inteligente, já para 65,6%, precisa ser dinâmico e alegre, 3,2% disseram que esse professor pre- cisa ter uma posição exigente e ser tipo “caxias” e, 21,8% 42 43 disseram que deve ser exigente, mas também ter atitudes surpreendentes sempre. Entendemos, a partir destas respos- tas, que os alunos preferem professores que ensinem e exijam aprendizado, todavia, com aulas que despertem a atenção, que sejam provocativas, que induzam a curiosidade. Aulas nas quais, os alunos sintamdesejos, sequiosos de conheci- mento, de vontade de aprender. Gráfico 4 - Perfil do Professor de Biologia Fonte: As autoras, a partir de dados coletados in loco, 2014 Mesmo gostando da disciplina de Biologia, quando inda- gados sobre o tempo dispensado para este componente na escola, 78,2% dos alunos disseram ser suficiente o número de aulas por semana, que era um tempo curto para realizar determinadas atividades e 21,8% disseram que o número de aulas era insuficiente para realizar outras atividades além de assistir às explanações da professora. Quanto à metodologia utilizada pelo professor, obti- vemos os seguintes dados: 81,2% disseram que aulas eram muito expositivas; 6,2% disseram que as aulas eram dinâ- micas e 12,6%, que as aulas nem sempre são bem claras, ou seja, os conteúdos não ficam esclarecidos a contento. Esses dados parecem estar em consonância com os dados do grá- fico 3, quando pouco mais de 1/3 dos alunos dizem gostar de aulas expositivas. Aqui, temos mais de 80% dos entrevis- tados que afirmam que as aulas de Biologia que assistem são expositivas. A prática das aulas de laboratório, a vivacidade das aulas de campo, o calor dos debates, certamente não se cons- tituem em rotina nas aulas de Biologia para esses alunos. Entendemos que esta disciplina carece de dinamicidade e não apenas de aulas expositivas. Os conteúdos explorados em Biologia são, por vezes, bastante observáveis e aptos à experimentação, portanto não devem ser explicados apenas oralmente, sem nenhum outro recurso didático. Quanto à relação Aluno X Professor, de acordo com os alunos entrevistados, 34,3% disseram haver espaço para diá- logo e interação com o professor, 3,2% disseram não haver nenhuma forma de interação e, 62,5% comentaram que o espaço da aula é bastante colaborativo. A partir desses dados, 96,8% indicaram que a relação com o professor de Biologia é boa e, portanto, favorece a aprendizagem. Quanto à última questão, que pedia sugestões, dicas ou opiniões a respeito da disciplina de Biologia, muitos fize- ram observações semelhantes uns aos outros, resultando nas seguintes porcentagens: 14,3% disseram que a disciplina 44 45 precisa de mais aulas para reflexão, 47,6% disseram que o professor deve explorar mais o uso de documentários e vídeos e, 38,1%, que deveriam ter mais aulas práticas. Esses dados corroboram com o que afirmamos anteriormente, as aulas precisam ser redimensionadas, avivadas, recriadas, para que os alunos se sintam com vontade de aprender, sequiosos pela aprendizagem. Continuando a apresentação dos dados coletados, agora na fala da professora de Biologia entrevistada. Quando inda- gada sobre a valorização da profissão docente, a professora disse que “baseando-se no fator da remuneração e do pró- prio status social, a profissão encontra-se bastante desvalori- zada, entretanto exige do próprio profissional uma postura diferenciada, a fim de promover essa valorização”. Ao refletir sobre a profissão do professor, a mesma aponta a questão salarial e a forma como a sociedade vê o professor, como se fosse apenas “uma profissão qualquer”. Entendemos que a desvalorização docente constitui-se em fenômeno histórico, é sempre pauta de discussão quando o assunto é educação, mas também quando se discute saúde, infraestrutura, segurança, economia, etc. Enfim, discutem- -se qualidade educacional e valorização docente, entre- tanto temos visto mudanças ainda incipientes nesse sentido. Compreendemos que há algumas políticas públicas, a exemplo do FUNDEB e dos cursos de formação inicial e continuada promovidos pelo governo, contudo ainda temos um longo percurso na valorização pretendida por aqueles que fazem a educação. A partir das respostas dos alunos, vimos que a disciplina de Biologia apresenta desafios ao professor que a ministra. Estes desafios, na fala da entrevistada, são elencados como: a) falta de recursos e investimentos, para dar subsídios didáticos à disciplina; b) carência de aparelhos tecnológicos como o data show; c) estrutura precá- ria para funcionamento do laboratório de Biologia e; d) conscientização dos alunos e dos outros colegas professores sobre a importância da disciplina (infor- mação verbal colhida pelas autoras). Podemos dizer que os desafios elencados pela profes- sora podem ser estendidos às demais áreas do Ensino Médio. A escassez de material aplicado a cada conhecimento e a estrutura física precária de grande número de escolas são manchetes nos noticiários brasileiros com bastante frequên- cia. Entretanto, é necessário que reconheçamos que há, nas escolas, inúmeros programas que tentam apresentar alterna- tivas para estes problemas. Mas, faz-se necessário reconhecer, também, que ainda não foram apresentadas alternativas satis- fatórias. Isso implica numa busca contínua por tais melhorias. Quanto à ideia de “bom” professor de Biologia, a profes- sora entrevistada diz que: É necessário transmitir os conteúdos com responsabilidade e ética, princi- palmente, observar o aluno como um 46 47 ser humano, com suas sensibilidades e limites, buscando traduzir na prática, dentro do contexto dos conteúdos tra- balhados, uma relação com a vida diária, a fim de que eles percebam a presença da Biologia em suas vidas (informação verbal colhida pelas autoras). Ainda segundo a professora entrevistada, o docente deve ter compromisso diante da profissão que escolheu, apresen- tar uma postura diferenciada e olhar para o aluno, buscando se aproximar de suas histórias de vida, tentando relacionar a disciplina com seu cotidiano, a fim de que este veja a neces- sidade do conhecimento associado a suas experiências e ao mundo a seu redor. No tocante às técnicas de ensino para esta professora, “geralmente, o que demonstra chamar a atenção dos alunos é o uso dos recursos tecnológicos, aulas de campo, viagens de estudo, porque como são práticas diferenciadas, eles se interessam e participam ativamente”. É muito comum e perceptível observar as atitudes e o envolvimento dos alunos quando o professor traz uma pro- posta diferente para o cotidiano da sala de aula. Vemos o entusiasmo, a euforia, a curiosidade e realmente a participa- ção, pois muda o ritmo deles. Todavia, a maioria dos alunos da escola pesquisada (80%) afirmou que as aulas carecem do tipo de aula citado pela professora. Carecem de dinami- cidade, de “práticas diferenciadas”, como disse a professora. Temos, portanto, um impasse que, talvez, possa ser atribuído à precariedade das condições físicas e de material didático que muitas escolas públicas apresentam. Isso fica claro, também, quando questionamos a profes- sora sobre a educação no Brasil e a sua relação com a disci- plina de Biologia. De acordo com a professora entrevistada, precisamos de: a) Investimento em equipamentos modernos e no laboratório de Ciências; b) Capacitação para professo- res e; c) Melhoraria na remuneração dos professores. Ainda para a professora entrevistada, a educação brasileira precisa dar um reforço ou apoio à disciplina de Biologia, investindo em equipamentos eletrônicos, abastecendo o laboratório de Ciências, capacitando os professores com cursos de formação e ajustando o salário. Claro que “reforço e apoio” devem ser estendidos às demais disciplinas do cur- rículo escolar. Considerações finais Conforme discutimos nesse trabalho, a prática de ensino faz parte do cotidiano do professor, desde a elaboração do plano de aula, metodologias a serem aplicadas e metas a serem atingidas. Entendemos que, da vivência em sala de aula, após a formação acadêmica, é que, o licenciado obterá uma maior identificação com o fazer docente. A distância entre a formação teórica e a prática docente é uma questão bastante discutida na educação. Acreditamos que a identidade e as concepções que o professor constrói não se fazem apenas nos cursos de licenciatura, mas tam- bém a partir do contato com alunos, colegas de trabalho e 48 49 o ritmo da instituiçãoonde desenvolve a docência. Através da pesquisa realizada, percebemos serem evidentes as dificul- dades do dia a dia e os questionamentos do “como fazer”. Não existe uma resposta pronta, mas a intencionalidade de tentar fazer, mesmo com as adversidades. No caso do pro- fessor de Biologia, têm-se horários limitados, recursos insu- ficientes na escola, ausência de funcionário de apoio, dentre outros. Todavia, advogamos ser possível desenvolver uma boa prática. Percebemos também que a disciplina de Biologia é bem aceita, pois uma grande parcela dos alunos a considera inte- ressante e demonstra se interessar e participar juntamente com a professora entrevistada da exploração dos conteúdos. Quanto à docente entrevistada, é perceptível que existe uma intenção em “querer fazer”, buscar meios e técnicas para atrair o alunado. Entretanto, esse “querer fazer” encon- tra limites frente às intempéries comumente encontradas na profissão docente. No entanto, mesmo frente a tais limites, continuamos defendendo a ideia de que se houver inovação e melho- res condições de trabalho, a disciplina de Biologia tende a ter uma receptividade melhor e, consequentemente, melhor aproveitamento por parte dos alunos. Referências BIZZO, Nélio. Ensino de ciências: pontos e contrapon- tos. São Paulo: Sammus, 2012. ____________.Ciências biológicas. Disponível em: por- tal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/07Biologia.pdf. Acesso em 08 de Nov./2014. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais/Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3. ed. Brasília, v.4, 2001. ____________. Brasília. Ensino Médio, 1998. ____________. Brasília. Ensino Médio, 1999. BRASIL. Programas de Formação Continuada de Professores. Disponível em: portal.mec.gov.br/ Acesso em 05 Maio/ 2014. CARVALHO, A. M. P. O uso do vídeo na tomada de dados: pesquisando o desenvolvimento do ensino em sala de aula. Unicamp: Pro-Posições, 1994. ____________. A. M. P. Ensino de ciências: unindo a pesquisa e a prática. 2004. 50 51 CARVALHO, A. M. P. de; GIL-PÉREZ, D. Formação de professores de ciências. São Paulo: Cortez, 2000. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessá- rios à prática educativa. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1998. FERREIRA, N. S. Carapeto. A gestão da educação e as políticas de formação de profissionais da edu- cação: atuais tendências, novos desafios. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2006. KRASILCHIK, Myriam. Prática de ensino de bio- logia. 4. ed. rev. e ampl. 2. reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995. MARANDINO, Martha. Ensino de biologia: histórias e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez, 2009. MELLO, L. de. Programas Oficiais Para Formação de Professores. Revista Educação e Sociedade, n. 68. Campinas: Cedes. 1999. MINAYO, M. C. Pesquisa social: teoria, método e criati- vidade. São Paulo, 2000. O LABORATÓRIO INVESTIGATIVO NO ENSINO DE QUÍMICA: a experiência em sala de aula Manoel Felix de Santana Neto1 Morgana Lígia de Farias Freire2 Introdução Atualmente, é comum programas de televisão, páginas da internet etc. apresentarem de forma atrativa, visualmente falando, experimentos científicos; e em consequência dessa força midiática, há uma pressão para que seja constante a exe- cução de tais experimentos nas aulas de ciências, particular- mente nas aulas de Química. A referida pressão não é apenas 1 Curso de Especialização em Fundamentos da Educação: Práticas Peda- gógicas Interdisciplinares, Itabaiana. Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Secretaria de Estado da Educação da Paraíba (SEE-PB). E- -mail: mafesane@hotmail.com. 2 Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campus I. E-mail: morga- nalff@gmail.com. 52 53 oriunda do corpo discente, mas de professores, coordenação pedagógica e gestão escolar. Em muitos casos, comungam da ideia de que além de cumprir toda a matriz curricular, o professor deve trazer experimentos para sua aula. A experimentação é vista como redentora de todos os problemas para o ensino e a aprendizagem das ciências naturais, em particular a Química. No entanto, o enfoque demasiado, dado à experimentação, coloca-a como mero instrumento de ilustração e motivação e com isso não explora todas as potencialidades dessa prática pedagógica (HODSON, 1994). Uma forma de amenizar tal situação é o Laboratório Investigativo, nessa estratégia, a participação do aluno dar- -se-á de forma efetiva em todas as fases da experimenta- ção; exercitando, assim, sua capacidade cognitiva de intervir numa situação diária, utilizando os conhecimentos químicos desenvolvidos no âmbito escolar, oportunizando o envol- vimento com um problema e a busca das prováveis solu- ções com a orientação do professor (GIL-PÉREZ; VALDÉS CASTRO, 1996). Na tentativa de ampliar as possibilidades em uma atividade experimental e destacar o papel do aluno, o professor precisa trazer o aluno para o levantamento de hipóteses, para o conflito com os erros e com isso dar pos- sibilidades para um melhor desenvolvimento cognitivo e a mudança conceitual sem apenas ter um resultado estático (GIL-PÉREZ et al., 2005). A crítica ao ensino linear de Ciências e a proposta de uma prática docente investigativa não são recentes, desde o século XIX, alguns autores defendem que o ensino deve transpor o universo conceitual e atingir o procedimental e atitudinal; estimulando o desenvolvimento cognitivo e a compreensão dos fenômenos naturais (HODSON, 1994; GIL-PÉREZ; VALDÉS CASTRO, 1996). Um ponto comum na literatura que promove o ensino investigativo é a sugestão de algumas etapas para se adqui- rir novos conceitos, essa aquisição passa por identificar um problema, propor hipóteses, planejar e executar um processo investigativo; além da reflexão sobre os resultados obti- dos e a relação das novas informações com as anteriores (ZOMPERO; LABURÚ, 2011). Entretanto, na literatura pesquisada, não foram encontradas teorias sobre aprendiza- gem humana que justificassem quantas, quais e como realizar tais etapas numa perspectiva do Laboratório Investigativo. No entanto, uma teoria que pode fornecer os subsídios necessá- rios para fundamentar a prática do Laboratório Investigativo é a Teoria dos Constructos Pessoais de George Kelly. Para Kelly (1963), o homem, por natureza, comporta-se como cientista (metáfora do homem-cientista), levantando teorias, hipóteses e testando-as durante a vida fundamen- tada no seguinte postulado: “Os processos de uma pessoa são psicologicamente canalizados pelas formas com que ela antecipa eventos”. Kelly organizou sua teoria em onze (11) corolários. No corolário da Experiência, Kelly aponta que cada pes- soa colocada em uma problemática, escolhe certas caracte- rísticas construindo sua situação de maneira própria, isto é, o que ele chama de construto pessoal. Geralmente, o homem- -cientista busca desenvolver a sua construção ajustando 54 55 seus construtos a outros superordenados que formam um sistema de construção. Esse corolário nos mostra que uma pessoa se molda progressivamente, produzindo réplicas dos eventos (KELLY, 1963). Assim, uma pessoa capaz de replicar algo é porque passou por uma experiência até atingir uma mudança conceitual. Na Teoria dos Constructos Pessoais, George Kelly define o corolário da Experiência em um ciclo, denominado Ciclo da Experiência de Kelly, representado pela sigla CEK, pois a Experiência não é um momento único. Desta forma, o CEK é fundamentado pelas seguintes fases: (a) antecipação - nessa fase, a pessoa a partir de seus construtos pessoais levanta hipó- teses sobre a situação-problema; (b) investimento - diante da capacidade de replicar o evento anterior, encaminhar-se-á pela pesquisa; (c) encontro - nesse momento, são verificadas as teorias pessoais levantadas até então; (d) validação - no momento que verificadas, as teorias são ou não confirma- das; (e) revisão construtiva - para concluir são reavaliados os pontos deconflitos, podendo com isso gerar novas constru- ções (KELLY, 1963). Essas serão as fases norteadoras do Laboratório Investigativo, que estimularão o desenvolvimento cognitivo e valorização dos conhecimentos prévios dos alunos como ponto de partida para a compreensão de conceitos científi- cos e reflexão de situações problematizadoras. No intuito de inserir-se no rol de atividades de cunho investigativo, planejadas privilegiando momentos de discus- são, dúvidas, debates e que coloquem os alunos em situa- ções problematizadoras; visando o desenvolvimento crítico e autônomo dos alunos, nosso objetivo é apresentar uma intervenção didática, tendo como base o CEK com susten- tação teórica numa perspectiva do Laboratório Investigativo de Química, para identificar o teor de etanol na gasolina em uma turma do 3º ano do Ensino Médio de uma escola pública do Estado da Paraíba. Fundamentos teóricos As práticas experimentais podem ser divididas em duas categorias: verificação - em que os alunos são meros espec- tadores e investigação – em que os alunos são protagonistas do processo de reflexão da problemática discutida (TAMIR, 1977). É fácil percebermos que quando os alunos seguem rotei- ros rígidos sem compreender os reais motivos dos experi- mentos, tem-se um baixo desenvolvimento cognitivo, pois estes estão passando apenas por um processo de reprodução. No entanto, os alunos quando são submetidos às etapas da investigação – levantamento de hipóteses, coleta e análise dos dados e proposição de conclusões - desenvolvem habili- dades cognitivas em níveis mais elevados, estes são inseridos em situações de um grau de complexidade mais elevado, o que é o mais real (DOMIN, 1999). A considerar que, no Laboratório Investigativo, o educador não é proibido de fazer demonstrações, porém deve fazê-las de forma que os alunos sejam questionados sobre algumas hipóteses e pos- sam expor seus argumentos e raciocínios. Ou ainda que os 56 57 alunos procedam em sua investigação com protocolos de auxílio e supervisão do professor (CARVALHO, 1999). Para a construção de uma prática docente eficaz, o pro- fessor deve investigar o que o aluno já conhece e a partir daí prosseguir com a organização das ideias e do desenvolvi- mento integrado e harmônico de competências de um dado conteúdo específico (MACHADO, 1999). Azevedo et al. (2004) orientam que a experimentação, numa ótica investigativa, deve ressaltar aspectos como: per- guntas que alimentem a curiosidade científica dos alunos; espaço para que estes levantem hipóteses, sugiram planos de trabalho, manipulem o(s) experimento(s); coletem e anali- sem dados até chegar a uma conclusão que deve validar ou refutar o conceito inicial. Em suma, uma proposta de Laboratório Investigativo deve negar a experimentação por roteiros pré-estabelecidos pelo professor. O aluno passa de espectador para protago- nista da problematização dos temas propostos. O professor deve promover a passagem do conhecimento empírico para o conhecimento científico (AZEVEDO et al., 2004). O grande desafio reside no fato de que o levantamento e teste de hipóteses são algo muito complexo, uma vez que não se dá de forma direta, nem simples. Conduzir ativida- des experimentais sobre essa ótica é uma atitude perspicaz e deve ter um acompanhamento cauteloso do professor. Por isso, algo que pode ajudar para a elaboração de uma inter- venção didática voltada para o Laboratório Investigativo é a Teoria dos Constructos Pessoais, mais especificamente o CEK. Alguns estudos apontam a eficiência do CEK como referencial teórico de propostas de intervenção pedagógica. Nesta perspectiva, Silva et al. (2012) destacam que a utili- zação do CEK interveio de forma significativa na mudança de concepções de temas complexos dos alunos da Educação de Jovens e Adultos. Os alunos participaram, ativamente, dinamizando o processo de ensino e de aprendizagem e possibilitando uma visão mais ampla dos conceitos traba- lhados. Ferreira et al. (2006) apontam um avanço de 64% a 100% nas respostas consideradas aceitáveis sobre o conceito de onda, após a aplicação do CEK, os autores ressaltam a importância de novas pesquisas para o aprimoramento dessa nova ferramenta metodológica. Bastos et al. (2005) além de indicarem o CEK como proposta metodológica para o ensino das ciências da natureza, ressaltam que, em pesquisa por eles realizada, houve uma mudança na estrutura cogni- tiva de 78% dos alunos submetidos às etapas do ciclo. E, por fim, temos que Rocha et al. (2005) enfatizam a surpresa na mudança de concepções pela influência do CEK. As intervenções pedagógicas acima citadas destacam a eficiência e eficácia da utilização dos estudos de Kelly com fins pedagógicos e também ressaltam a importância do viés investigativo na experimentação. Por isso, a presente pesquisa propõe uma relação das fases do CEK com o Laboratório Investigativo, entendendo que ambos sugerem o conheci- mento como algo inacabado que sofre influência dos aspec- tos históricos, culturais e sociais. 58 59 Descrição das etapas do CEK Para Kelly (1963, p.47) “os processos de uma pessoa são psicologicamente canalizados pelas maneiras por meio das quais ela antecipa eventos”. Conforme Kelly, “os seres humanos constroem sua realidade na qual respondem, e sua resposta está direcionada pelas suas experiências, utilizando conceitos prévios similares para antecipar as ações do com- portamento” (HALL et al., 2000, p.329). A teoria proposta por Kelly é fundamentada em um (1) postulado “Os processos de uma pessoa são psicolo- gicamente canalizados pelas formas com que ela antecipa eventos” (KELLY, 1963, p.47) e onze (11) corolários, são eles: (1) Construção; (2) Experiência; (3) Organização; (4) Individualidade; (5) Dicotomia; (6) Faixa; (7) Escolha; (8) Modulação; (9) Comunalidade; (10) Fragmentação e (11) Sociabilidade. No entanto, para esta proposta que apresenta- mos, deve ser realçado o corolário da Experiência. Partimos do pressuposto que a experimentação, em parti- cular para o ensino de Ciências conduz a profundas implica- ções para a aprendizagem. Pois, a aprendizagem deixa de ter o desígnio de algo terminal e passa a ter um olhar de algo que define o sujeito. Além disso, a experimentação investigativa prioriza os processos de construção e não os resultados finais. Através do corolário da Experimentação, Kelly expõe sua ideia sobre a aprendizagem, “como algo que acontece a uma pessoa em certas ocasiões, pois a aprendizagem não é considerada como algo especial, mas como um sinônimo para qualquer processo psicológico” (NEVES, 2006, p.24). Assim, representa o resultado das tentativas da pessoa de lidar com eventos, com suas experiências (BASTOS, 1992). Concordamos com Bastos (1998) citado por Neves (2006) que para ocorrer à aprendizagem, é necessário que o indivíduo esteja verdadeiramente engajado nesse processo complexo. Para isso, os professores não devem esperar que seus alunos mudem as suas ideias por que tiveram contato com um evento numa dada perspectiva didática. Se os alu- nos não estiverem preparados para este evento, se não tive- rem investido na sua antecipação e se não considerarem que aconteceu de uma forma crítica, nenhuma mudança será observada. É importante salientar que a Experiência para Kelly não representa apenas um simples encontro com um evento, mas um ciclo contendo cinco fases (Figura 1): antecipação, inves- tigação, encontro, confirmação ou desconfirmação e revisão construtiva (KELLY, 1963). Figura 1 - Esquema de blocos do Ciclo da Experiência de Kelly (CEK) Fonte: Neves (2006, p.26) 60 61 Para isso, apresentamos, na Tabela 1, algumas sugestões como exemplos, em que o professor poderá utilizar na pro- posta de um Laboratório Investigativo de Química segundo as várias etapas do CEK. Tabela 1 - Sugestões de atividades didáticas de acordo com as etapas do CEK que poderão ser desenvolvidas na proposta de um Laboratório Investigativode Química ETAPAS DO CEK SUGESTÕES DE ATIVIDADES DIDÁTICAS 1 ANTECIPAÇÃO • Leitura e discussão de texto sobre a temática • Apresentação de vídeos • Realização de um pré-teste 2 INVESTIMENTO • Aula expositiva • Texto • Discussão 3 ENCONTRO • Aula experimental • Discussão 4 VALIDAÇÃO • Preparação para a apresentação dos resultados; • Acompanhamento dos testes e discussão das informações observadas 5 REVISÃO CONSTRUTIVA • Texto para reflexão • Discussão • Realização do pós-teste Fonte - Neves (2006, p.54) modificado Desta forma, sugerimos que a intervenção didática seja iniciada com a exposição do problema (antecipação), que deverá ser buscado na vivência dos alunos, que tenha signi- ficado para eles, que desperte neles a curiosidade epistemo- lógica e com isso a motivação para uma participação efetiva. Reiteramos, também, que numa intervenção didática do Laboratório Investigativo, baseada no CEK, não é vedado ao professor fazer demonstrações, mas essas deverão ocorrer de forma dialogada e que os alunos não sejam reduzidos à categoria de espectadores. Sendo assim, sugerimos que o professor estimule a pes- quisa para que os alunos respondam uma situação-problema; indique fontes de pesquisas; esclareça as normas de segurança necessárias para garantir a integridade dos alunos; oriente na execução de experimentos; proponha adaptações de recur- sos não acessíveis. Para isso, ele deverá organizar ou planejar juntos com os alunos as várias etapas da proposta. Para validação de uma proposta de utilização do CEK apoiando o Laboratório Investigativo no ensino de Química, sugerimos que o professor procure avaliar as várias etapas do ciclo. Uma intervenção didática do laboratório investigativo para o ensino de química norteada pelo CEK A intervenção didática teve início, no ano de 2013, a partir de uma discussão inicial sobre o conteúdo de hidro- carbonetos na disciplina de Química de uma turma do 3º ano do ensino médio de escola pública estadual do Município de Pilar, no Estado da Paraíba. Dessa discussão surgiu o debate sobre as substâncias derivadas do petróleo e, por conseguinte, sobre a gasolina por ser uma substância muito presente no cotidiano de todos e que influência toda a sociedade contemporânea. 62 63 A intervenção didática, aqui descrita, foi planejada para a exposição da Química como ciência experimental, apresen- tando aos alunos como se dá o processo de descoberta atra- vés do método científico e com isso dando elementos para uma familiarização dos alunos com termos, instrumentos e processos inerentes a essa ciência. Destacamos, porém, que não se trata de uma proposta “engessada”. O professor tem a autonomia de usá-la como recurso em outros conteúdos e objetivos. Em virtude da organização dos horários escolares, o tempo planejado para cada etapa deve ser bem delineado, exceto as atividades experimentais, porque estas podem ser feitas no contra turno por ter uma maior liberdade quanto ao tempo. Vale salientar que cada instituição-escola tem suas peculiaridades e pensando nelas, é que, o professor deve organizar toda a logística necessária à execução da proposta. A partir daqui, apresentaremos as fases do CEK aplica- das na intervenção didática do Laboratório Investigativo de Química, partindo desde a temática escolhida até a validação da proposta. 1ª Etapa: Antecipação A elaboração de uma intervenção didática norteada pelo apanhado teórico aqui descrito na turma analisada foi pro- duzida em diálogo coletivo, ou seja, a partir de discussões entre o professor e os alunos da turma, uma vez que todos fazem parte do processo ensino aprendizagem. Nesta etapa, os números de encontros foram dois, num total de 4 horas-aula. Inicialmente, fizemos uma problematização inicial, utilizando de recursos didáticos convenientes, citamos como exemplos: leitura de textos, exibição de vídeos etc. O primeiro encontro consistiu na apresentação da temática e relevância de se determinar o teor de etanol na gasolina. A gasolina por ser uma das principais fontes ener- géticas do mundo, no debate, surgiram muitas perguntas sobre a produção, a composição e a adulteração da gasolina uma vez que são constantes as notícias que são veiculadas nas mídias de massa e nas redes sociais sobre esta temá- tica. Este encontro se constitui de problematização inicial e levantamento das concepções iniciais dos alunos sobre a gasolina e o teor de etanol. No segundo encontro, apre- sentamos, a partir do levantamento das concepções ini- ciais dos alunos, uma atividade que respondesse aos anseios dos mesmos para que estes construíssem as respostas de forma autônoma (AZEVEDO et al., 2004; GIL-PEREZ; VALDÉS CASTRO; HODSON, 1994; SOUZA, 2007; ZOMPERO; LABURÚ, 2011). Para essa atividade, foi observada a Resolução Agência Nacional do Petróleo (ANP), número 57, de 20.10.2011, que destaca o valor da porcentagem de etanol na gasolina comercializada em nosso país. Os valores variam de 20 a 25% dependendo de alguns fatores econômicos, ambientais e sociais. Dessa forma, qual é o problema? É o aumento de forma ilegal do teor de etanol na gasolina. Quando este valor é ultrapassado, os carros que ainda não detêm a tecnologia flex sofrem desgastes porque não foram projetados para um teor 64 65 elevado de etanol em seu motor e o motorista que acom- panha, regularmente, o desempenho de seu carro percebe além do desgaste um aumento no consumo de combustível, pois pode-se chegar ao caso do percentual do etanol ser maior do que o da gasolina. A percepção que a gasolina está adulterada fica mais difí- cil com o aumento da frota de carros flex uma vez que os mesmos são adaptados tanto para etanol quanto para a gasolina. Se os carros flex são adaptados para etanol e gaso- lina, qual seria o problema da porcentagem do etanol ser maior que a estabelecida pela Agência Nacional de Petróleo (ANP)? As respostas foram encontradas no Código de Defesa do Consumidor, pois é estabelecido por ele que o produto deve trazer informações claras sobre sua quantidade, peso, composição, preço, riscos que apresenta e sobre o modo de utilizá-lo. E o mais grave dessa adulteração é que o eta- nol é mais barato e tem um rendimento menor que o da gasolina fazendo com que o consumidor seja lesado por duas vezes. Neste segundo encontro, também apresenta- mos a proposta do Laboratório Investigativo de Química norteada pelo CEK, como dito anteriormente, em que escolhemos uma temática cuja situação-problema foi “o teor de etanol na gasolina”. 2ª Etapa: investimento O investimento ocorreu em três encontros de duas horas-aulas cada um. No primeiro encontro desta etapa, foi pensado num cenário em que os alunos pudessem identi- ficar o teor de etanol na gasolina e pudessem a partir do conteúdo vivenciado em sala de aula exercer sua cidadania, um caso de busca de uma sociedade mais justa e cumpri- dora dos seus deveres. Quando a sociedade é conhecedora de seus direitos e tem acesso a informação dos produtos que a ela são comercializados, força as empresas do comércio a disponibilizar produtos e serviços com melhor qualidade (AMARAL, 1997). No segundo encontro, apresentamos textos e produções textuais através de aulas expositivas. Além disso, foi solicitado que os alunos trouxessem algumas ideias de como determi- nar o teor de etanol na gasolina. Para isso, foi pedido aos alu- nos que fizessem uma leitura do texto Determinação do teor de álcool presente na gasolina comercializada na cidade de Caxias – MA 3. No terceiro encontro, tivemos o que denominamos de trabalho de campo, em que fizemos as coletas de várias amostras em dois postos de abastecimento no município de Pilar – PB. A turma foi dividida em equipes que fizeram os papéis de consumidores e compraram 2L (dois litros) 3 SANTOS R. T. F.; SANTOS M. O.; OLIVEIRA M. M. Determinação do teor de álcool presente na gasolina comercializada na cidade de Caxias – MA. In: VII Congresso Norte e Nordeste de
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