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História-Medieval

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CURSO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL 
FAVENI – FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIA MEDIEVAL 
 
 
ESPÍRITO SANTO 
 
 
2 
 
 
SUMÁRIO 
1 CONCEITO DE IDADE MÉDIA ................................................................... 4 
2 A CRONOLOGIA DA IDADE MÉDIA .......................................................... 5 
Primeira idade média .................................................................................... 5 
Alta idade média ........................................................................................... 5 
Idade média central ....................................................................................... 5 
3 OS ELEMENTOS DA TRANSIÇÃO DA IDADE ANTIGA PARA A IDADE 
MÉDIA 6 
4 CONHECENDO AS FONTES DA HISTÓRIA ............................................. 9 
5 ÉDITO DE MILÃO (313).............................................................................. 9 
6 ÉDITO DE TESSALÔNICA (380) .............................................................. 11 
7 SOBRE A ORIGEM DOS FRANCOS ....................................................... 12 
8 O ISLAMISMO: MAOMÉ, ORGANIZAÇÃO DA RELIGIÃO E 
IMPORTÂNCIA PARA O EXPANSIONISMO, LEGADO CULTURAL ....................... 12 
8.1 Maomé e as Origens do Islamismo .................................................... 13 
8.2 A Expansão do Islã ............................................................................ 14 
9 AS TRANSFORMAÇÕES POLÍTICAS, ECONÔMICAS E SOCIAIS DA 
ALTA IDADE MÉDIA ................................................................................................. 15 
9.1 Recuperação econômica: ................................................................... 17 
10 OS ELEMENTOS FORMADORES DO FEUDALISMO ......................... 17 
11 A QUESTÃO DA TERRA NA IDADE MÉDIA ........................................ 19 
11.1 Os senhores .................................................................................... 19 
11.2 Os trabalhadores ............................................................................. 20 
11.3 Os domínios e os senhorios: a divisão interna ................................ 20 
12 A SOCIEDADE FEUDAL ....................................................................... 21 
13 O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO .................................... 22 
13.1 Renascimento Comercial ................................................................ 23 
 
3 
 
13.2 Renascimento Urbano .................................................................... 24 
14 A CULTURA MEDIEVAL E A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA .... 25 
14.1 Educação ........................................................................................ 26 
15 REFERÊNCIAIS BIBLIOGRÁFICOS ..................................................... 27 
16 LEITURA COMPLEMETAR ................................................................... 33 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 CONCEITO DE IDADE MÉDIA 
 
 
Fonte: www.colegioweb.com 
 
Durante muito tempo a Idade Média ficou conhecida como Idade das Trevas. Isto 
significa dizer que ela não teria trazido nenhuma contribuição para a história do 
mundo, em especial do Ocidente. Teria sido um período dominado pela barbárie e 
pela cegueira do conhecimento. Os homens que construíram este conceito sobre a 
Idade Média buscaram condena-la em todos os aspectos que caracterizaram a vida 
social da mesma: a arte sob influência de povos ditos bárbaros, a vida social e 
política organizada segundo os parâmetros da fé católica, dentre outros fatores. 
No século XVI, os renascentistas estavam desenvolvendo um novo conceito de arte 
baseada no que havia sido produzido no mundo greco-romano. Para estes, a Idade 
Média, ao admitir outras influências sobre a sua arte, além da clássica, acabou por 
barbarizá-la, daí designarem a arte deste período como gótica. Foram alguns destes 
homens que primeiro utilizaram os termos “Idade Média” e “Idade das Trevas”. 
Nos séculos posteriores, o XVII e o XVIII, os intelectuais racionalistas, os 
protestantes, os burgueses e os iluministas acrescentaram novas críticas ao período 
e ampliaram ainda mais a visão negativa da Idade Média. 
Os historiadores do século XX, movidos pelo desejo de compreender o 
homem do passado em seu próprio tempo, desenvolveram métodos e novas teorias 
que, ao serem aplicadas ao estudo da Idade Média, levaram-nos a compreender a 
riqueza da produção cultural deste período e a forma como o mesmo influenciou na 
construção da Europa 
 
5 
 
Ocidental. Seus estudos têm revelado a importante contribuição étnica, linguística, 
política, cultural que estas sociedades legaram para o mundo europeu moderno. 
 
2 A CRONOLOGIA DA IDADE MÉDIA 
 
 
Fonte: https://jogadorpensante.com 
 
Neste tópico adotamos uma cronologia que consideramos mais completa, 
conforme nos alerta o autor do texto em que a extraímos, Hilário Franco Júnior, por 
trabalhar com a concepção de história como resultado de um processo e não de 
fatos isolados (Franco Júnior, 2001, p. 14-17). Este autor divide o período que 
compreende os séculos IV a meados do XVI em quatro momentos distintos que 
trazem uma relativa coesão interna: 
Primeira idade média (séculos IV-VIII): é o período de encontro entre os 
elementos que vão fundamentar as sociedades medievais – a herança romana, a 
herança germânica e o Cristianismo. 
Alta idade média (séculos VIII-X): período de alianças entre o poder 
germânico e a Igreja, que culminou no Império Carolíngio, marcado pela 
recuperação econômica e pela expansão territorial e cristã. 
Idade média central (séculos XI-XIII): período de apogeu da Idade Média, 
onde vigoram em sua máxima expressão o feudalismo, o renascimento urbano e 
comercial, as artes, o poder da Igreja, dentro outros fatores. 
 
6 
 
Baixa idade média (Séculos XIV-XVI): período de crise, marcado por 
guerras, pestes e fome, pela recessão demográfica e monetária. Mas também 
gestam-se os valores e as transformações do mundo moderno como a reforma 
protestante, os descobrimentos, o renascimento artístico e cultural, numa resposta à 
crise do início do período. 
 
3 OS ELEMENTOS DA TRANSIÇÃO DA IDADE ANTIGA PARA A IDADE 
MÉDIA 
 
 
Fonte: Fonte: www.google.com.br 
 
Pode-se verificar que os romanos conquistaram praticamente toda a região ao 
redor do Mar Mediterrâneo, consolidando um Império em que este foi seu eixo 
principal. Uma das mais significativas mudanças operadas na Europa Ocidental com 
a decadência do Império e o início da Idade Média foi o deslocamento do centro da 
sua vida social para o norte, sobrevivendo durante alguns séculos num ritmo de vida 
em que o mar, a vida urbana e as relações comerciais deixaram de ter na região a 
referência que tinham durante o mundo antigo. 
A decadência do mundo romano é atribuída a diferentes fatores, e aqui 
destacaremos alguns dos que consideramos mais significativos: 
 
7 
 
 Pax Romana: o fim das guerras de conquistas e de ampliação do Império põe 
fim aos recursos representados pelos saques e a fácil obtenção da mão-de-
obra escrava, que desenvolvia o trabalho produtivo. 
 Elevação do sistema tributário, para a manutenção do Estado, afetando os 
pequenos proprietários de terras e levando a concentração da riqueza e de 
poder aos grandes latifundiários. 
 Declínio do comércio e da vida urbana, movimento de ruralização. 
Como podemos ver, o Império Romano estava vivendo um grave momento de 
declínio interno quando se soma a estes fatores a invasão dos povos germânicos na 
sua parte ocidental. Os povos germânicos invadiram a Europa Ocidental em dois 
momentos distintos: 
 Uma primeira geração - visigodos, suevos, burgúndios, ostrogodos e 
vândalos – ocupa diferentes territórios da Europa ocidental a partir de 406. Os 
visigodos e suevos fixaram-se na Península Ibéricaorganizando reinos na 
região. O que mais sobreviveu foi o dos visigodos, que foi destruído pelos 
árabes em 711. Os ostrogodos fixaram-se na península itálica sofrendo no 
século VI as ameaças do Império Bizantino e depois com as invasões de 
lombardos. Os vândalos fixaram-se e organizaram um reino no norte da África 
e os burgúndios no centro da Europa. 
 Segunda geração de invasores – anglo-saxões, francos, alamanos, bávaros – 
ocupam a área da Grã-Bretanha, Gália e outros territórios do centro europeu 
a partir da segunda metade do século V. Composta de povos pagãos e 
conservando o contato com a pátria-mãe germânica tiveram mais 
oportunidade de estabilidade, graças à conversão ao catolicismo, o que 
facilitou o contato com os romanos, além de se caracterizarem pela 
superioridade militar. 
 
 
8 
 
 
Fonte: 4.bp.blogspot.com 
 
O Cristianismo, por outro lado, veio se desenvolvendo de forma significativa 
ao longo deste período. Em 313, o Imperador Constantino, através do Édito de 
Milão, tornou o 
Cristianismo uma religião livre de perseguições e em 380 o Imperador 
Teodósio transformou o Cristianismo em religião oficial do império através do Édito 
de Tessalônica. A partir de então, a religião cresceu em número de adeptos, vindos 
de diferentes grupos sociais, e teve a oportunidade, com a ajuda do Estado, de 
organizar-se internamente. 
Durante este período, a Igreja organizou seu clero regular, seu clero secular o 
seu patrimônio e a sua liturgia. Prestou, também, importante assistência a população 
durante as invasões germânicas, estabelecendo alianças com os invasores à 
medida em que estes 
conquistavam o poder. Como herdeira do legado cultural e do patrimônio do 
Império Romano, a Igreja tornou-se a mais homogênea e duradoura instituição do 
Ocidente. 
Podemos concluir, então, que a união dos três elementos descritos acima 
caracterizou o desenvolvimento das sociedades medievais no Ocidente: a herança 
do mundo romano, a herança do mundo germânico e o Cristianismo. 
Vejamos qual foi, segundo Fernand Braudel, a contribuição de cada um deles 
(Braudel, 1989, p. 3-5): 
 
 
9 
 
 
 
Ao final deste período, os reis francos iniciaram um processo de expansão 
territorial e política, e da união de seus interesses com os da Igreja Católica nasceu 
o Império Carolíngio, que iremos estudar no próximo bloco. 
 
4 CONHECENDO AS FONTES DA HISTÓRIA 
 
 
Fonte: https://sciart.eu/pt/tags/historia 
 
5 ÉDITO DE MILÃO (313) 
 
Eu, Constantino Augusto, e eu também, Licíno Augusto, reunidos felizmente 
em Milão para tratar de todos os problemas que se relacionam com a segurança e o 
bem público, cremos ser o nosso dever tratar junto com outros assuntos, que 
 
10 
 
merecem a nossa atenção para o bem da maioria, tratar também daqueles assuntos 
nos quais se funda o respeito à divindade, a fim de conceder tantos aos cristãos 
quanto a todos os demais a faculdade de seguirem livremente a religião que cada 
um desejar, de maneira que toda a classe de divindade que habita a morada celeste 
seja propícia a nós e a todos os que estão sob a nossa autoridade. 
Assim, temos tomado esta saudável e retíssima determinação de que a 
ninguém seja negada a faculdade de seguir livremente a religião que tenha 
escolhido para o seu espírito, seja a cristã ou qualquer outra que achar mais 
conveniente; a fim de que a suprema divindade a cuja religião prestamos está livre 
homenagem possa nos conceder o seu favor e benevolência. Por isso, é 
conveniente que vossa excelência saiba que temos resolvido anular completamente 
as disposições que lhe foram enviadas anteriormente com relação ao nome dos 
cristãos, por encontrá-las hostis e pouco apropriadas à nossa Clemência, e temos 
resolvido permitir a todos os que queiram observar a religião cristã, de agora em 
diante, que o façam livremente sem ter que sofrer nenhuma inquietação ou moléstia. 
Assim, pois, acreditamos ser o nosso dever dar a conhecer com clareza estas 
decisões à vossa solicitude, para que saiba que temos concedido aos cristãos a 
plena e livre facilidade de praticar a sua religião ... Levou-nos a agir assim o desejo 
de não aparecer como responsáveis por diminuir em nada qualquer religião ou culto 
... E além, disso, no que diz respeito aos cristãos, decidimos que lhes sejam 
devolvidos os locais onde anteriormente se reuniam, sejam eles propriedade do 
nosso fisco, ou tenham sido comprados por particulares, e que os cristãos não 
tenham de pagar por eles nenhuma classe de indenização ... e como consta que os 
cristãos possuíam não só locais de reuniões habitual, mas também outros 
pertencentes à sua comunidade ... ordenamos que lhe sejam devolvidos sem 
nenhum tipo de equívoco nem de oposição ... Em todo o dito anteriormente (vossa 
excelência) deverá prestar o apoio mais eficiente à comunidade dos cristãos, para 
que as nossas ordens sejam cumpridas o mais depressa possível e para que 
também neste assunto a nossa Clemência vale pela tranquilidade pública. Desta 
maneira, como já temos dito anteriormente, o favor divino que em tantas e tão 
importantes ocasiões nos tem sido propício, continuará ao nosso lado 
constantemente, para o êxito das nossas empresas e para a prosperidade do bem 
público. 
 
11 
 
Lactancio. (De mortibus persecutorum) Sobre la muerte de los perseguidores. 
introd.., trab. Española e notas de R. Teja. Madrid: Gredos, 1982. XLVIII, p.2-3. In: 
Apud Pedrero Sanchéz, p. 27-8. 
 
6 ÉDITO DE TESSALÔNICA (380) 
 
Os imperadores Graciano, Valentiniano e Teodósio Augusto: édito ao povo da 
Cidade de Constantinopla. 
É a nossa vontade que todos os povos regidos pela administração de nossa 
Clemência pratiquem a religião que o divino apóstolo Pedro transmitiu aos romanos, 
na medida em que a religião por ele introduzida tem prosperado até os nossos dias. 
É evidente que esta é a religião que professa também o pontífice Damaso, e Pedro, 
bispo de Alexandria, homem de apostólica santidade; isto é, que de acordo com a 
disciplina apostólica e a doutrina evangélica, devemos acreditar na divindade do Pai, 
do Filho e do Espírito Santo com igualdade de majestade e sob (a noção) da Santa 
Trindade. 
 
Fonte: 2.bp.blogspot.com 
 
Ordenamos que todas aquelas pessoas que seguem esta norma tomem o 
nome de cristãos católicos. Porém, o resto, aos quais consideramos dementes e 
insensatos, assumirão a infâmia dos dogmas heréticos, os lugares de suas reuniões 
não receberão o nome de igreja e serão castigados em primeiro lugar pela divina 
 
12 
 
vingança, e, depois, também, (por justo castigo) pela nossa própria iniciativa, que 
providenciaremos de acordo como juízo divino. 
Dado no terceiro dia das calendas de março, no ano de quinto consulado de 
Graciano e do primeiro consulado de Teodósio Augusto. (28 de fevereiro de 380). 
Código Teodosiano. XVI, 1-2. In: Tuñón de Lara, M. Textos y documentos de 
História Antigua, Media y Moderna. Barcelona: Labor, 1984. p.127 (Historiade 
EspañaXI). In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 28-9. 
 
7 SOBRE A ORIGEM DOS FRANCOS 
 
(...) Muitos autores contam que estes povos saíram da Panômia e que se 
estabeleceram primeiro na margem do Reno; tendo em seguida atravessado este 
rio, passaram à Turíngia e aí, nas aldeias ou nas cidades, escolheram reis 
cabeludos, que foram buscar na primeira, e, se assim posso dizer, à mais nobre das 
suas famílias. 
(...) Mas este povo mostrou-se sempre entregue a cultos fanáticos sem ter 
qualquer conhecimento do verdadeiro Deus. Fez imagens das florestas e das águas, 
dos pássaros, dos animais selvagens e dos outros elementos aos quais tinha por 
hábito prestar um culto divino e oferecer sacrifícios (...)” 
São Gregório de Tours [Bispo de Tours – 538-595 – 1º historiador da França]. 
Historiae Ecclesiasticae Francorum. Lib. II, IX-X. Trad. De Guadet e Taranne. 
Paris, 1836. 
In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 33. 
 
8 O ISLAMISMO: MAOMÉ, ORGANIZAÇÃODA RELIGIÃO E IMPORTÂNCIA 
PARA O EXPANSIONISMO, LEGADO CULTURAL 
 
Agora, vamos sair um pouco da Europa Ocidental e deter o nosso olhar sobre 
outro espaço geográfico do mundo medieval, observando a Península Arábica, do 
outro lado do mar, lugar onde nascia uma nova sociedade que viria marcar de forma 
permanente, nos séculos futuros, a história da humanidade. Vamos seguir o nosso 
caminho em direção ao mundo islâmico. 
 
 
13 
 
8.1 Maomé e as Origens do Islamismo 
O Islamismo nasceu e expandiu-se, para além das fronteiras da Península 
Arábica, no período medieval marcando a história universal desde então. 
A Península Arábica teve um papel decisivo nas relações econômicas entre 
Ocidente e Oriente devido às caravanas que atravessaram os desertos 
transportando mercadorias e a navegação de cabotagem através de seu extenso 
litoral. Os árabes eram povos politeístas e nômades cuja língua era semita, a 
aramaica. 
 
Fonte: www.geocities.ws/lumini_religioes 
 
O Islã nasceu no século VII com Maomé. Este nasceu em Meca em 570 d. C. 
Meca era um importante centro comercial da Arábia Ocidental e de peregrinação, 
devido ao santuário de Caaba, onde inúmeros deuses eram cultuados. 
Maomé era filho de mercadores da tribo coraixitas que mantinham acordo 
com tribos pastoris de Meca. Após sua experiência de revelação, - onde diz receber 
as profecias de Alá, que ele passa a reconhecer como o único deus - Maomé sofreu 
a perseguição da aristocracia mercantil de Meca, que não aceitava o monoteísmo de 
sua pregação. Ele fugiu para Medina em 16 de julho de 622 e esta data ficou 
conhecida como hégira marcando o início do calendário islâmico. 
Em Medina ocorreu a organização definitiva do Alcorão e a instituição da 
peregrinação, prece regular, esmola e jejum. Maomé foi o sintetizador de doutrinas e 
preceitos existentes em outras formas religiosas, como o judaísmo, com as quais 
manteve contato através de viagens à Palestina. O conteúdo que resultou desta 
 
14 
 
experiência revestiu-se de um aspecto nacional (língua, origens, primeiros adeptos 
árabes) e um aspecto internacional (acolhendo todos os povos sem distinção de 
raça tal qual o Cristianismo). 
Após a morte de Maomé, em 632, os califas iniciaram o processo de 
expansão do Islã e do poder árabe sobre outros territórios. 
 
8.2 A Expansão do Islã 
 
O sucesso da expansão dos árabes, e por consequência do Islamismo, pelo 
Oriente explica-se pela: 
 Fraqueza dos adversários (Bizâncio e Pérsia estavam exauridos pelas 
contínuas lutas); 
 O entusiasmo dos adeptos movidos por motivos religiosos e pela 
possibilidade de riqueza; 
 O bom acolhimento dos povos dominados por Bizâncio (para sírios, judeus e 
egípcios os árabes foram considerados libertadores). 
 
Os primeiros califas foram: 
 Abu Bakr (632-34) – sogro de Maomé, conquista a Arábia e o sul da 
Palestina. 
 Umar Ibn Abd al-Khattab (634-44) – avança até Damasco, parte do Império 
Sassânida (Pérsia), províncias sírias e egípcias do Império Bizantino; 
 Uthman ibn Affan (644-56) – desloca o poder de Medina para as cidades do 
norte, da Síria e do Iraque, gerando conflitos com os conversos antigos e 
recentes do islamismo; 
 Ali ibn Abi Talib (656-61) – primo de Maomé, tem um governo marcado pelos 
conflitos com Medina, que pretendia retomar o controle do império. 
Os conflitos levaram ao poder a família dos Omíadas, que não possuíam 
laços familiares com Maomé e tornaram a transmissão do califado hereditária. Estes 
levaram a capital do império para Damasco e avançaram até o norte da África e 
Península Ibérica e deram os primeiros passos em direção a Índia. A subida ao 
 
15 
 
poder desta família dividiu os árabes em sunitas e xiitas. Os xiitas não concordavam 
com o califado nas mãos de não familiares de Maomé e pretendiam uma 
interpretação rigorosa dos preceitos do Alcorão. 
Após séculos os Omíadas foram substituídos pelos Abássidas, que 
transferiram a capital do império para Bagdá, no Iraque. No século X as contradições 
do sistema de governo centralizado e burocrático levaram a fragmentação do 
mesmo. 
A partir do séc. XI, iniciou-se a intolerância religiosa e a guerra santa. Este 
período foi marcado pelo declínio desta sociedade após aliança entre o califa de 
Bagdá e os turcos seldjúcidas. 
 
9 AS TRANSFORMAÇÕES POLÍTICAS, ECONÔMICAS E SOCIAIS DA ALTA 
IDADE MÉDIA 
 
Fonte: cafehistoria.ning.com 
 
No século IX várias transformações modificaram o cenário europeu ocidental. 
Abaixo, comentaremos algumas destas mudanças: 
 
 
 
Novas invasões desestabilizam o espaço europeu (islâmicos, normandos, 
húngaros): 
http://cafehistoria.ning.com/photo/1980410:Photo:11599?context=user
 
16 
 
Ao norte e por mar - escandinavos ou normandos (vikings): seus objetivos 
eram a pilhagem; fizeram isto devastando o litoral, abadias e cidades europeias. 
Suecos atacaram a Rússia, noruegueses atacaram a Irlanda e dinamarqueses 
invadiram pelo mar do norte e 
Canal da Mancha. 
Em 980, os normandos tornaram-se senhores da Inglaterra, conquistando-a 
definitivamente em 1066; em 911 criaram o reino da Normandia no norte da Gália de 
onde enxamearam o ocidente e deixaram sua marca; e em 1029 ocuparam a Itália 
meridional e a Sicília. Os normandos controlavam o comércio através do mar do 
Norte. 
 
Fonte: www.fatosdesconhecidos.com.br 
 
Ao sul e por mar - os islâmicos invadiram a costa italiana ao longo do século 
IX, controlando boa parte do mediterrâneo e o comércio nele realizado. 
Ao leste e por terra: húngaros ou magiares. Instalaram-se no território russo 
no século VII, de onde foram expulsos por povos turcos iniciando, a partir de 899, 
invasões sistemáticas nas fronteiras do leste da França Oriental e da Germânia, 
além de excursões na França e Itália também. 
A vitória sobre os húngaros em 955, pelo rei Otão I, ajudou no surgimento do 
poder da dinastia otoniana que restaurou o poder imperial carolíngio, fundando o 
Sacro Império Germânico, que durou de 936 a 1806, sob o território da Itália e 
Germânia. Otão I foi sagrado pelo papa João XII, em 961. Os húngaros 
sedentarizam-se e cristianizaram-se fundando o reino da Hungria. 
 
 
17 
 
9.1 Recuperação econômica: 
 
Segundo Jacques Le Goff, verificamos a partir do século IX uma recuperação 
da economia medieval no Ocidente, desestabilizada desde o século V pela 
decadência romana e invasões germânicas. Este século foi decisivo no campo das 
transformações econômicas para a Cristandade Ocidental (Le Goff, 1995, p. 80-5). 
Foi o início do renascimento econômico, resultado de uma renovação do comércio 
nos séculos VIII e IX, decorrentes do: 
 apogeu do comércio da Frísia e do porto de Duurstede; 
 reforma monetária de Carlos Magno; 
 melhoria da produção agrícola: novos sistemas de atrelamento de animais, 
divisões de terrenos cultivados, avanços das técnicas de cultivo. 
 O século X foi um período de novidades decisivas, especialmente no domínio 
do cultivo e da alimentação. 
Le Goff atribui este despertar do Ocidente ao: 
1) Estímulo externo: formação do mundo islâmico – administrando metrópoles 
urbanas e consumidoras - que suscitaram no Ocidente germânico o aumento da 
produção de matérias primas para exportação para Córdoba, Fustat, Cairo, 
Damasco, Bagdá. São madeiras, ferro, estanho, mel e escravos. 
2) Estímulo interno: progresso técnico verificado no próprio solo ocidental – 
agrícola, com aumento das áreas cultivadas e seu rendimento; militar, no uso do 
estribo que permitiu melhor domínio do cavalo e gerou uma nova classe de 
guerreiros, os cavaleiros. 
- Os grandes proprietários promoveram exploração intensa do solo e geraram 
pequenos excedentes de produção entregues aos mercadores (Le Goff, 1995, p. 84-
5). 
 
10 OS ELEMENTOS FORMADORES DO FEUDALISMO 
 
O Feudalismo não possuiu as mesmas características e nem teve uma 
evolução simultânea em toda a Europa. Embora concretamentesó podemos falar de 
uma sociedade feudal na Idade Média Central, iniciamos a discussão sobre este 
 
18 
 
tema neste espaço dedicado à Alta Idade Média para mostrar como sua 
consolidação dependeu de processos históricos deste período. 
Segundo Loyn, no Dicionário da Idade Média, “...as origens da sociedade 
feudal situam-se melhor na França setentrional dos séculos IX e X, com o declínio 
da monarquia carolíngia (na Inglaterra, de maneira mais dramática em 1066, com a 
conquista normanda), e seu desaparecimento no século XVI (Loyn, 1997, p.146). 
Considerando a visão deste autor, listamos alguns dos elementos que 
caracterizam o feudalismo e a sua origem, seguindo uma ordem de importância: 
 A supremacia de uma classe de guerreiros especializados, chamados 
cavaleiros, que formavam a classe dominante, surgindo o feudalismo deste 
processo de ascensão da cavalaria; 
 
 
Fonte: http://www.coladaweb.com/historia/o-sistema-feudal 
 Relações de suserania e vassalagem, marcadas por vínculos de obediência e 
proteção que ligam homem a homem e, dentro da classe guerreira, assumem 
a forma específica denominada vassalagem (Bloch, Marc APUD Loyn, 1997, 
p. 146). Esta relação foi originada de uma “forma de encomendação 
germância antiga, pela qual um homem livre se submetia a um outro por um 
ato de homenagem (as mãos juntas colocadas entre as do senhor), 
confirmado por um juramento sagrado de fidelidade e vassalagem e 
usualmente acompanhada pela outorga de um feudo” (Loyn, 1997, p.146). 
 A existência do feudo, “que é a essência dominial do feudalismo e vincula o 
senhorio e as relações feudais à terra” (Loyn, 1997, p.146). O feudo era 
outorgado por investidura. 
http://www.coladaweb.com/historia/o-sistema-feudal
 
19 
 
Segundo Loyn, feudo era a terra de um senhor, confiada a seu vassalo em 
troca de serviços meritórios, os quais incluíam serviços militares, ajuda e conselhos. 
(Loyn, 1997, p.146). 
 A existência da propriedade senhorial, representada no castelo que “era o 
símbolo e a essência do senhorio feudal, que se impunha à terra por meio 
dos homens montados que tinham sua base dentro de suas sólidas muralhas” 
(Loyn, 1997, p.146). 
 A existência de um campesinato mantido em sujeição dentro de um senhorio. 
É bom lembrar que, além de cavaleiros, nobres possuíam relações 
feudalizadas com monarquia medieval e a Igreja. Esta última recebia a concessão 
de feudos “em troca do serviço de rezar” (Loyn, 1997, p. 146). Mas sobre isto 
falaremos no próximo bloco, ao tratarmos sobre a sociedade feudal. 
 
11 A QUESTÃO DA TERRA NA IDADE MÉDIA 
 
 
Fonte: www.google.com.br 
 
11.1 Os senhores 
A posse dos domínios territoriais era de três grupos distintos: a Igreja, a 
Coroa e a nobreza. Os domínios da Igreja eram indivisos, ao contrário dos outros 
que sofriam divisões sucessivas devido a doações e partilhas sucessórias. Isto 
 
20 
 
explica o fato de a Igreja possuir a maior parte das terras do Ocidente cristão ao final 
da Alta Idade Média. 
 
11.2 Os trabalhadores 
 
Encontramos, nas propriedades feudais, os camponeses. Temos camponeses 
livre, não-livres e escravos. A tendência é que a partir do século XII os encontremos 
em sua maioria na condição de servos. Estes trabalhadores colocavam-se sob o 
domínio dos seus 
senhores em troca de proteção e de um pedaço da terra para usufruto 
pessoal. Para isto, sujeitavam-se ao cumprimento de obrigações pessoais e 
encargos como descreveremos no item abaixo, sobre as propriedades senhoriais. 
 
11.3 Os domínios e os senhorios: a divisão interna 
Vejamos como estavam divididas as propriedades do clero e da nobreza ao longo da 
Idade Média: 
 A Alta Idade Média predominou a economia agrária dominial, baseada no 
modelo da villa romana. Neste período a grande propriedade era designada 
de domínio. 
O domínio era dividido em: terra indominicata (reserva senhorial) e terra 
mansionaria (mansus). Os mansus eram partes do território destinadas ao usufruto 
dos camponeses, desde quando estes cumprissem sua parte no contrato 
estabelecido com os seus senhores. 
As prestações pagas por servos ao senhor eram em forma de encargos em 
espécie e em dinheiro por ano e encargos em prestações de serviços na reserva 
(corvéia). O fundamento da economia dominial: prestação de serviços na reserva 
senhorial pelos camponeses livres, mas dependentes. 
No século IX este regime já encontrava-se descaracterizado, sendo as 
corvéias substituídas por dinheiro. 
 
21 
 
 A Idade Média Central observamos a passagem da agricultura dominial para 
a senhorial. Segundo Hilário Franco Júnior o “senhorio era um território que 
dava a seu detentor poderes econômicos (fundiários) ou jurídicos-fiscais 
(banal)” e o feudo “era uma cessão de direitos, geralmente, mas não 
necessariamente sobre um senhorio” (Franco Júnior, 2001, p. 37). Portanto, 
não se deve confundir senhorio com feudo. O senhorio era assim 
caracterizado: “era um território que dava a seu detentor poderes econômicos 
(senhorio fundiário) ou jurídico-fiscais (senhorio banal), muitas vezes ambos 
ao mesmo tempo (Franco Júnior, 2001, p. 37)”. 
Durante este período observamos a diminuição das terras destinadas aos 
camponeses, e os mansus foram transformados em tenências, lotes menores e com 
maiores encargos. Os encargos destinados aos camponeses eram de duas 
espécies: 
 Senhorio fundiário: censive (pequena renda fixa – censo) paga em dinheiro ou 
espécie. Mão-morta - transferência hereditária. Champart - proporcional ao 
rendimento da colheita. Corvéia. 
 Senhorio banal: taxas pelo uso de moinhos, lagar, forno, bosques 
albergagem, alojamento, multas e taxas judiciárias, talha. 
Com o seu poder ampliado devido ao poder banal sobre o senhorio, que 
agora o senhor passava a possuir, este acabava aumentando a exploração sobre os 
camponeses através da criação das taxas listadas acima. Verificamos também uma 
diminuição da reserva senhorial devido a criação de novas tenências, ao progresso 
das técnicas agrícolas que não exigiam necessariamente terras tão extensas para 
manter o mesmo nível de produção e a cessão de feudos para os vassalos. 
Este foi um período marcado por um intenso crescimento da produção 
consequência da ampliação da mão de obra e de terras e da difusão de diferentes 
técnicas (sistema trienal, charrua, força motriz animal, adubo mineral, moinho de 
água e de vento). 
 
12 A SOCIEDADE FEUDAL 
 
É preciso destacar a importância da Igreja na consolidação do modelo de 
sociedade feudal, pois é através do seu intermédio que se dá, segundo Franco 
 
22 
 
Júnior, a conexão entre os vários elementos que compunham esta formação social. 
O autor lembra que a Igreja era a maior detentora de terras e detinha o controle da 
vida dos indivíduos, além de ser a legitimadora das relações de suserania e 
vassalagem e da dependência dos servos em relação aos seus senhores (Franco 
Júnior, 2001, p. 89). 
Que elementos caracterizam esta sociedade? 
 Podemos lembrar, em primeiro lugar, da ideologia da ordem, que leva a 
mesma a ser pensada dentro de uma lógica de imutabilidade e dificulta a 
mobilidade social, além de promover a tradição e a obediência nas relações 
sociais. 
 Esta ideologia por outro lado, baseada na ideia de uma ordem celeste e 
imutável que inspiraria o modelo de vida dos homens, deu origem a uma 
forma de divisão social em que uns oram, outros combatem e outros 
trabalham. 
Mas, principalmente a partir da Idade Média Central, outros grupos começam 
a crescer dentro deste: eram trabalhadores assalariados, artesãos, burgueses, 
resultado do renascimento comercial e urbano do período. Estas transformações 
viriam, séculos mais tarde, alterar profundamente este modelo de sociedade. 
 
Fonte: www.miniweb.com.br 
 
13 O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO 
 
23 
 
13.1 Renascimento Comercial 
As transformações na agricultura da Europa Ocidental apartir do século X 
levaram à produção de um excedente agrícola que gerou o revigoramento do 
comércio na região. Isto levou a um amplo crescimento demográfico e urbano na 
região: havia mais mão-de-obra e melhor qualidade na alimentação o que ampliava 
cada vez mais a produção. 
 
 
Fonte: alunosonline.uol.com.br 
 
O crescimento demográfico e urbano gerou a ampliação das atividades 
artesanais em cidades próximas a rios e estradas, produzindo um progresso 
econômico. E o que resultou disto? Vejamos: 
 Desenvolvimento do comércio marítimo e fluvial. 
 Surgimento e o renascimento de muitas cidades europeias. Este processo era 
resultado do povoamento dos pontos de encontros das atividades comerciais 
- feiras, estimuladas por reis e nobres, através da emissão de salvo-condutos 
para os mercadores garantindo a sua segurança na região. 
 Desenvolvimento da indústria da construção (igrejas, mosteiros, castelos, 
palácios, prédios públicos e militares). 
 Desenvolvimento da indústria têxtil: panos de lã em Flandres, Itália e 
Inglaterra. 
 Organização da produção nas cidades através das corporações de ofício. 
 
24 
 
 Monetarização da economia, promovendo o retorno da circulação da moeda. 
 Nascimento das atividades bancárias: nasce na Itália - câmbio, depósitos, 
empréstimos, transferências, crédito. 
 
13.2 Renascimento Urbano 
Segundo Jacques Le Goff as cidades medievais nasceram como sucessoras 
das antigas cidades, devido ao despertar da vida comercial e do desenvolvimento 
agrícola do Ocidente, desenvolvendo-se a partir desta função econômica: renovação 
das trocas de mercadorias. Nasceram ao longo dos rios ou estradas frequentadas 
por comerciantes, também por iniciativa senhorial, para poder taxá-las, ou de um 
entreposto comercial ou de um mercado rural (Le Goff, 1995, p. 102-13). 
Estas cidades foram também importantes espaços de trocas das grandes 
rotas comerciais. Aqui identificamos algumas destas cidades: 
 Veneza e Gênova – cidades italianas, com parcas possibilidades agrícolas 
que empurram-nas para as atividades mercantis. As Cruzadas promoveram o 
seu crescimento pelo Extremo Oriente (especiarias, seda, perfumes), mar 
Egeu e mar Negro (matéria prima para indústria têxtil). 
 Hansa Teutônica – associação formada por cidades alemãs do norte, ligada a 
expansão germânica sobre a Europa oriental. Em 1161, mercadores alemães 
criaram associações, que em meados do séc. XIV transformaram-se em 
associações de cidades. 
O eixo que caracterizou as atividades comerciais por elas desenvolvidas foi: 
 Novgorod-Reval-Lubeck-Hamburgo-Bruges-Londres. 
 Eram comercializados: mel e cera da Rússia, trigo e madeira da Polônia e da 
Prússia, minerais da Hungria, peixe da Noruega e da Islândia, cobre e ferro 
da Suécia, vinho da Alemanha do sul, sal da França e de Portugal, lã da 
Inglaterra e tecidos de Flandres. 
Os pontos de encontros entre o eixo mediterrânico, controlado pelas cidades 
italianas, e o eixo nórdico, controlado pelas cidades alemãs eram as feiras e os 
burgos, como o de Champanhe, que deu origem a uma cidade. 
 
25 
 
As cidades são também áreas de produção “industrial”, ampliadas pelo 
desenvolvimento do artesanato urbano, devido as crescentes necessidades de uma 
população (rural e urbana) em expansão e mais exigente. Temos o desenvolvimento 
da indústria têxtil -Flandres, Itália e Inglaterra -, e da construção. 
Devido às atividades artesanais e comerciais que ocorriam com cada vez 
maior intensidade nas cidades, vamos encontrar nestas a formação de corporações 
de ofícios, que derivaram de confrarias religiosas, destinadas a devoção e caridade. 
Estas corporações generalizaram-se após 1120. As mais antigas eram de 
mercadores e as mais recentes de artesãos. Elas funcionavam como um conjunto de 
oficinas com monopólio da atividade comércio ou artesanal para impedir 
concorrência. 
A leitura de dois textos, Le Goff (1995, p. 87-140) e Franco Júnior (2001, p. 
36-46) em especial permitiram a seleção das informações acima sobre o comércio e 
as cidades. 
 
 
 
 
 
 
14 A CULTURA MEDIEVAL E A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA 
 
 
Fonte: www.estudopratico.com.br 
 
 
26 
 
A cultura e a arte na Idade Média desenvolvem-se principalmente no 
ambiente monástico. Segundo Hilário Franco Júnior, na Idade Média Central o 
primado cultural transferiu-se dos mosteiros para as cidades, principalmente no 
ensino e na arquitetura (Franco Júnior, 2001, p. 102-122). 
14.1 Educação 
Devido ao crescimento das cidades e dos grupos sociais nela existentes, 
vemos a partir do século XI as escolas urbanas ganharem mais destaque que as 
monásticas, transformando-se em universidades no século XIII, que funcionavam 
como corporações eclesiásticas. 
O método de estudo destas escolas urbana era a escolástica. A escolástica 
consistia num “conjunto de leis sobre como pensar determinado assunto” (Franco 
Júnior, 2001, p. 118). 
Quais eram estas leis? Vejamos o que nos diz este autor: 
A- Leis de linguagem para buscar o sentido exato da palavra; 
B- Leis de demonstração usando a dialética, uma forma de provar certa 
posição recorrendo a argumentos contrários; 
C - Lei da autoridade, recurso a fonte cristã e do pensamento clássico para 
fundamentar as ideias defendidas; 
D - Leis da razão: utilizável para uma compreensão mais profunda. . 
As etapas de estudo eram: 
 Lectio, leitura, comentário e análise do texto. 
 Disputatio ou debate sobre o assunto. 
Também verificamos neste período a revalorização do estudo do direito 
antigo, devido à necessidade das monarquias nascentes e da população urbana, e 
da medicina, num lento processo de dessacralização da natureza, que permitiu a 
ampliação dos estudos. 
 Anterior a Idade Média Central: Arte românica. Esta arte marca o período 
posterior as invasões dos normandos, islâmicos e húngaros – séculos XI e 
XII, terminando por volta de 40-60. Inúmeras igrejas foram construídas. O que 
caracteriza este estilo artístico? Vejamos: 
 
27 
 
Não havia arte pela arte, feita pelo seu valor estético e sim eram elaboradas 
com finalidade exclusivamente didática, marcada pelo simbolismo. Arte arquitetônica 
expressa na construção de templos a ideia de construir “fortalezas de Deus” (largas 
paredes, grossos pilares e poucas janelas), transmitindo a ideia de que somente 
dentro da igreja (edifício religioso) e da Igreja (instituição) era possível a salvação 
(Franco Júnior, 2001, p. 111). 
 Idade Média Central: Arte gótica. O estilo gótico resultou do renascimento 
urbano e comercial verificado na Europa. Este estilo nasce por volta de 1140, 
no sul da França, e a primeira experiência verificou-se na construção da 
basílica de Saint-Denis (1132-44). Ocorreu um desenvolvimento importante 
da arquitetura que levou as igrejas góticas a elevarem-se “a grandes alturas”, 
verificando-se também a introdução de vitrais, arcos ogivais e rosáceas. 
A escultura também adquire função decorativa e pedagógica (Batista Neto, 
1988, p. 215). Neste período a arte não deixa de ser religiosa, inclusive estará 
sempre ligada ao sagrado, mas há influência da cultura popular na sua elaboração, 
da burguesia local e da monarquia. Quais as suas características? Vejamos: 
Novas necessidades espirituais e práticas, ligadas a valorização da relação 
entre fé e razão, e a cultura que está se desenvolvendo nas escolas urbanas. 
. Deus como luz (vitrais) e valorização do seu lado humano (culto à Virgem); 
valorização da natureza como parte essencial da criação (realismo). Arquitetura 
busca equilíbrio entre a vida ativa e a contemplativa (Franco Júnior, 2001, p. 111). 
 
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33 
 
16 LEITURA COMPLEMETAR 
 
Nome do autor: Marcos Emílio Ekman Faber 
 
Fonte: historiali.dominiotemporario.com 
Data do acesso: 09/05/2016 
 
O NASCIMENTO DA IDADE MÉDIA A PARTIR DA ANÁLISE 
COMPARATIVA DAS OBRAS: PASSAGENS DA ANTIGUIDADE AO 
FEUDALISMO E DECLÍNIO E QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO 
 
 
 Marcos Emílio Ekman Faber 
Resumo 
 Neste artigo analiso o fim do Império Romano do Ocidente e a consequente 
fragmentação de poder na Europa. Minha análise ocorre a partir de três pontos 
principais: os motivos do declínio econômico romano; as invasões bárbaras e; a 
cristianização do Império, assim como o papel desempenhado pela igreja cristã no 
processo de reestruturação européia. Como metodologia, utilizei a análise 
comparativa das obras Passagens da Antiguidade ao Feudalismo de Perry Anderson 
e Declínio e Queda do Império Romano de Edward Gibbon. Sendo o primeiro um 
autor marxista e o segundo um livro clássico, escrito no séc. XVIII, de um autor 
iluminista que influenciou as gerações que o seguiram. 
 
 Palavras-chave: Crise do Império Romano. Nascimento da Idade Média. 
Mão-de-obra escrava. 
 
Introdução 
 
A proposta deste artigo é analisar o nascimento da Idade Média européia a partir da 
análise comparativa das obras Passagens da Antiguidade para o Feudalismo3 de 
Perry Anderson e Declínio e Queda do Império Romano de Edward Gibbon. Os 
autores foram escolhidos por serem representantes de vertentes históricas distintas, 
 
34 
 
mas também por terem vivido em épocas diferentes. Enquanto o primeiro autor é um 
historiador contemporâneo adepto do materialismo histórico dialético em sua versão 
contemporânea, o segundo é fruto do século XVIII – Declínio e Queda do Império 
Romano foi escrito entre 1766-1788 – Gibbon, um iluminista, influenciou as gerações 
que o seguiram, principalmente os historiadores positivistas. Neste artigo a versão 
de Declínio e Queda que será analisada é a edição abreviada. A comparação das 
duas obras será centralizada na análise de três aspectos principais: a questão 
econômica, procurando entender quais os motivos do declínio econômico romano; a 
questão militar, principalmente relacionada às invasões bárbaras e; a questão 
religiosa com a cristianização do Império e a proibição aos cultos pagãos. 
Para compreendermos as diferenças teóricas e metodológicas ente os dois 
autores é importante entendermos que existem três correntes distintas de 
pensamento sobre o final do Império Romano. Uma primeira corrente, que chamo de 
internalista, atribui a ruína do Impérioàs questões internas, ou seja, o Império 
Romano chegou ao seu colapso devido a problemas estruturais no seio do próprio 
Império; outra corrente, que chamo de externalista, afirma que o Império Romano 
ruiu por causas externas ao Império, ou seja, pela cristianização do Império e/ou 
pelas invasões bárbaras5 , como é o caso de Edward Gibbon e; uma terceira 
corrente, que chamo de conciliadora, que imputa o final do Império Romano a uma 
combinação de causas internas e externas, como é o caso de Perry Anderson. Por 
motivos óbvios, analisaremos principalmente a segunda e a terceira hipóteses. 
Outro fator importante neste artigo é a preocupação com a compreensão do 
contexto histórico em que ocorreu o fim do Império Romano do Ocidente levando-o a 
fragmentação do poder político na Europa, para isso, analiso também outros autores 
que auxiliam na compreensão do fundo histórico aqui abordado. 
 
A questão econômica 
 
A questão econômica, ou seja, os motivos que levaram à crise econômica do 
Império Romano são, por mais que possa parecer contraditório, o ponto em que os 
dois autores aqui analisados mais se aproximam. Apesar de Gibbon não atribuir 
muita importância às questões econômicas, suas afirmativas sobre a crise 
econômica romana se aproximam às de Perry Anderson, porém, este último, ao 
 
35 
 
contrário de Gibbon, atribui à crise econômica um papel decisivo no queda do 
Império Romano. Para Anderson, o esgotamento do trabalho escrava foi o principal 
motivo do colapso romano (ANDERSON, 2004, p. 82-83). 
Edward Gibbon afirma que o gigantismo, ou seja, a extensão territorial, do 
Império dificultava a administração e a proteção das fronteiras, representando 
gastos significativos ao Estado romano. 
 
O declínio de Roma foi a natural e inevitável consequência da grandeza imoderada. A 
prosperidade fez com que amadurecesse o princípio de decadência; as causas de destruição 
se multiplicaram com a extensão das conquistas; e, tão logo o tempo ou os acidentes 
removeram os sustentáculos artificiais, a estrutura desabou sob seu próprio peso. A história 
de sua ruína é simples e óbvia; em vez de perguntar por que o Império Romano foi destruído, 
devemos antes surpreender-nos de ele ter durado tanto (GIBBON, 2005, p. 538). 
 
 Perry Anderson, que concorda com tal teoria, acrescenta que a Pax 
Romana representou, antes de tudo, o ápice do Império, mas também o início de 
sua ruína. Pois, os altos gastos estatais na modernização do Império – construção 
de estradas, diques, aquedutos, etc. –, crescia a cada ano, assim, a crise econômica 
que assolava Roma gerou uma série de conflitos internos no Império. Ao suspender 
as guerras de conquistas, também acabou por inviabilizar um sistema que era 
baseado na mão-de-obra escrava. 
 
O poder militar estava mais intimamente ligado ao crescimento econômico 
do que talvez em qualquer outro modo de produção, antes ou depois, 
porque a principal fonte de trabalho escravo eram normalmente prisioneiros 
de guerra, enquanto o aumento das tropas urbanas livres para a guerra 
dependia da manutenção da produção doméstica por escravos; os campos 
de batalha forneciam a mão-de-obra para os campos de cereais e viceversa 
– os trabalhadores capturados permitiam a criação de exércitos de cidadãos 
(ANDERSON, 2004, p. 28). 
 
Para o autor, o mais grave do modelo escravista romano era a inexistência de 
um mecanismo interno que possibilitasse sua renovação, assim, no momento em 
que a renovação de escravos fosse inviabilizada haveria uma grave crise no 
sistema, como de fato ocorreu (ANDERSON, 2005, p. 82). A saída encontrada para 
a crise da mão-de-obra foi criar o sistema de colonatos, porém, essa solução 
 
36 
 
aparentemente positiva tornou-se um sério problema ao promover a ruralização da 
sociedade romana, pois ao conceder incentivos ao novo sistema, muitos 
trabalhadores urbanos abandonaram as cidades em busca de espaço no campo. O 
problema da mão-de-obra somente seria resolvido com o progressivo processo de 
transformação dos trabalhadores livres em servos, o que somente se completaria 
muitos anos depois quando a nobreza carolíngia adotaria o sistema de servidão 
forçando os trabalhadores a submeterem-se a um sistema onde ficavam presos a 
terra que cultivavam, lançando, assim, os alicerces do feudalismo que iria dominar o 
cenário europeu nos séculos seguintes. 
 A transferência de cidadãos para o campo e a ruralização da sociedade 
romana inviabilizaram a manutenção do exército, pois gerava indiretamente uma 
ausência de alistados, fato este que enfraquecia a defesa das fronteiras, 
possibilitando a entrada de bárbaros no território. A solução encontrada foi a de 
permitir o alistamento de estrangeiros nas legiões romanas. 
 
A questão militar 
Neste ponto, os autores possuem divergências essencialmente no peso que 
atribuem às invasões bárbaras10 no processo de ruína do Império Romano. Ficando 
mais claro o contexto histórico em que cada um dos autores viveu, pois elementos 
de seus dias estão muito presentes nas teorias de cada um. Para Gibbon, um inglês 
que apoiou arduamente a Revolução Francesa, inclusive morando muitos anos na 
França durante a Revolução (GIBBON, 2005, p. 28-29), os bárbaros representavam 
um retrocesso, um atraso civilizacional. Para ele as hordas invasoras eram hostis 
aos ideais de liberdade, de igualdade e de propriedade, importantes itens do ideário 
iluminista. 
 
As leis e os costumes das nações modernas protegem a segurança e a 
liberdade do soldado vencido; o cidadão pacato, outrossim, raras vezes tem 
razões de queixar-se de que sua vida ou mesmo sua fortuna ficaram 
expostas à fúria da guerra. No desastroso período da queda do Império 
Romano, que pode ser justificadamente datada do reinado de Valente, a 
felicidade e a segurança de cada indivíduo eram atacadas, e as artes e as 
obras de séculos, rudemente desfiguradas pelos bárbaros da Cítia e da 
Germânia. (GIBBON, 2005, p. 446). 
 
Para este autor, os bárbaros representavam a desestabilização da civilização 
grecoromana e eram, portanto, os grandes vilões no processo de desintegração do 
 
37 
 
Império Romano. Para Gibbon, a Idade Média, um período terrível, fora o resultado 
da vitória da barbárie sobre a civilização (GIBBON, 2005, p. 544-545). 
Já Perry Anderson, um marxista – escreveu Passagens da Antiguidade ao 
Feudalismo ainda durante a Guerra Fria –, analisou as invasões bárbaras do ponto 
de vista socioeconômico. Para ele, a proteção militar às fronteiras gerava elevados 
gastos ao Império, sendo muito difícil a manutenção e sua preservação. Outro 
elemento importante foi ocasionado pela ruralização da sociedade romana em 
consequência da crise da mão-deobra escrava, fatores que enfraqueciam o exército, 
pois desestimulavam o alistamento militar. A solução foi permitir a entrada de 
bárbaros nas fileiras do exército romano. Já no século III, as legiões romanas 
estavam abarrotadas de soldados germânicos, com alguns ocupando importantes 
cargos de comando no exército (ANDERSON, 2004, p. 82-85). Portanto, nos séculos 
IV e V, quando ocorreram as invasões, o território romano já convivia há muito 
tempo com a maioria dos povos invasores. 
As tribos bárbaras que entraram no Império Romano eram basicamente tribos 
rurais e patriarcais divididas em clãs de famílias. Em geral, não tinham noções de 
Estado. A base agrária era formada por camponeses livres e a terra era coletiva, 
com raríssimas exceções tinham escravos (ANDERSON, 2004, p. 109-110). Já 
nesta época, o cristianismo não se restringia ao Império Romano, padres e bispos já 
tinham ultrapassavam as fronteiras do Império em direção aos territórios bárbaros. 
Assim, quando os invasores chegaram a Roma, a sua maioria era formada por 
cristãos. 
Se para Edward Gibbon, as invasões bárbaras tiveram papel decisivo na 
queda do Império Romano, com os germânicos representando a vitória da anarquiapolítica sobre uma civilização mais avançada, para Anderson, os bárbaros fizeram 
parte de um processo de reconstrução da sociedade romana em ruína, não sendo 
os responsáveis pela queda do Império, que já estava em crise há muito tempo, mas 
os responsáveis pela sua reformulação ao possibilitar a síntese entre sua cultura e a 
romana. 
 
A questão religiosa 
É difícil imaginar um estudo sobre a Idade Média sem uma análise criteriosa 
da religiosidade que impregnou todo o período. Portanto, os autores aqui 
 
38 
 
comparados analisaram exaustivamente o papel da Igreja Cristã12 no processo de 
formação do medievo. Mas também é neste ponto que os dois autores apresentam 
mais discordâncias. 
A começar pelo fato de que somente Gibbon descreve as causas de a Igreja 
tornar-se parte do Estado romano e como ela se sobrepôs ao paganismo. O autor 
afirma que isto somente foi possível com a vitória do cristianismo sobre a religião 
pagã romana. As causas, segundo ele, foram: 
 
O inflexível zelo e, se nos é permitido usar tal expressão, a intolerância dos 
cristãos – derivada, em verdade, da religião judaica, mas purificada pelo 
espírito acanhado e antissocial que, em vez de atrair, dissuadir os gentios 
de abraçar a lei de Moisés. II. A doutrina de uma vida futura, valorizada por 
toda e qualquer circunstância ocasional que pudesse dar peso e eficácia a 
essa importante verdade. III. Os poderes miraculosos atribuídos à Igreja 
primitiva. IV. A pura e austera moralidade dos cristãos. V. A união e a 
disciplina da república cristã, que formou aos poucos um Estado 
independente que se desenvolveu no coração do Império Romano 
(GIBBON, 2005, p. 236). 
 
Para o autor, os mesmos motivos que levaram a vitória do cristianismo sobre 
o culto pagão formaram as causas de sua interferência na queda do Império. Gibbon 
colocou a Igreja como a principal causadora da queda do Império Romano, para ele 
os cristãos foram o principal motivo da ruína e crise de Roma (2005, p. 539-540), 
pois a Igreja imobilizou o Estado romano ao desviar a atenção do imperador de 
questões relativas à manutenção estatal para o combate às seitas e heresias13 que 
surgiam no seio do cristianismo. 
Anderson, que não descarta esta teoria, completa afirmando que a Igreja ao 
tornar-se uma segunda burocracia mantida pelo Estado (2004, p. 126-127), onerava 
os cofres romanos a tal ponto que ajudou no colapso econômico romano. Porém, 
para Anderson, o papel da Igreja não foi tão decisivo e aponta que outros fatores 
foram mais importantes para a crise econômica romana, como os vistos 
anteriormente – principalmente a crise da mãode-obra escrava. 
Para ele, a Igreja desempenhou um papel muito mais ligado à transição entre 
dois modos de produção, um em extinção – o escravista – e outro na sua gênese – o 
feudal. Assim, a Igreja representou muito mais um processo de conciliação entre 
duas épocas do que o de desintegração de uma. Pois, a Igreja teve muita 
importância para o surgimento da sociedade medieval, sendo responsável pela 
preservação de parte importante da cultura e da legislação romana, desempenhando 
 
39 
 
papel fundamental no processo de síntese entre as culturas romana e bárbara 
(ANDERSON, 2004, p. 130). Enquanto Gibbon denuncia que a Igreja, ao transformar 
a sociedade romana numa sociedade intolerante e austera, corrompeu a cultura 
clássica greco-romana, Anderson chama a atenção para o fato de que: 
 
Parte de um gigantesco processo de assimilação e adaptação dessa cultura 
por uma população mais vasta, que iria arruiná-la e salvaguardá-la no 
colapso de sua infraestrutura tradicional. A mais impressionante 
manifestação desta transmissão foi ainda outra vez a da linguagem. (...) 
Com a cristianização do Império, os bispos e o clero das províncias 
ocidentais, assumindo a conversão em massa da população rural, 
latinizaram permanentemente sua fala durante os séculos IV e V. As línguas 
romanas foram o efeito desta popularização, um dos elos sociais mais 
essenciais de continuidade entre a Antiguidade e a Idade Média 
(ANDERSON, 2004, p. 130-131). 
 
 Portanto, para Anderson, a participação da Igreja teve importante papel 
e lugar no processo de transição entre o final do Império Romano e o nascimento do 
medievo. 
 
Sua eficácia autônoma não seria encontrada na esfera de estruturas de 
relações econômicas ou sociais, onde às vezes tem sido equivocadamente 
procurada, mas na esfera cultural acima destas relações (ANDERSON, 
2004, p. 131). 
 
A civilização clássica, definida por seu desenvolvimento superestrutural sem 
precedentes na história da humanidade, necessitava de um aparelho ideológico que 
a preservasse do colapso romano, a Igreja cumpriu este papel (ANDERSON, 2005, 
p. 131). Apesar de não discordar integralmente de Gibbon, que colocava a Igreja 
como uma das principais culpadas pelo fim do Império Romano, Anderson atribuiu à 
Igreja a sobrevivência da cultura romana, sendo esta essencial no processo de 
assimilação cultural dos povos bárbaros ao legado greco-romano. Desempenhando, 
assim, um importante papel no nascimento da Idade Média e no surgimento do 
feudalismo. 
A Igreja foi a indispensável ponte entre duas épocas, numa passagem 
“catastrófica” e não “cumulativa” entre dois modos de produção. (...) 
Significativamente, foi o mentor oficial da primeira tentativa sistemática de 
fazer “renascer” o Império no Ocidente – a monarquia carolíngia. Com o 
Estado Carolíngio, começa a história do feudalismo propriamente dito. 
(ANDERSON, 2004, p. 131). 
 
 
40 
 
 Para Perry Anderson, o cristianismo foi peça importante no processo 
de desintegração do Império Romano, mas, ao mesmo tempo, foi de extrema 
importância na preservação da cultura latina. Sem o cristianismo não existiria a 
síntese entre a cultura romana e a germânica que resultaram na sociedade feudal 
(ANDERSON, 2004, p. 136-137). 
 
CONCLUSÃO 
 
Ao lermos as obras aqui analisadas podemos perceber o quanto devemos, 
ainda hoje, aos clássicos da literatura historiográfica, trata-se de um grande 
exercício intelectual entrar em contato com livros que influenciaram e ainda 
influenciam o entendimento histórico hoje disponível. Como professor e historiador, 
lastimo que a maioria dos jovens estudantes de história pouco ou nada sabe sobre 
os autores clássicos. Assim, se faz necessário cada vez mais revisar e estudar 
essas obras. Ao lermos Declínio e Queda do Império Romano e Passagens da 
Antiguidade ao Feudalismo percebemos que mesmo sendo Edward Gibbon um 
iluminista e Perry Anderson um marxista, eles tiveram ideias e teorias em comum, 
mesmo que na maior parte das vezes tenham discordado. 
 Ao acreditar que os motivos da queda do Império Romano estavam em 
questões externas, Gibbon retirou o peso da crise econômica que Roma enfrentava. 
Já Perry Anderson, conciliou as questões internas e externas como motivadoras da 
crise e queda de Roma, pois para ele, apesar da participação da Igreja como peso 
burocrático onerando os cofres públicos, o problema do esgotamento da mão-de-
obra escrava foi tão ou mais importante para o colapso do Império. 
Já as três questões propostas pelo artigo – questões econômica, militar e 
religiosa –, percebemos o quanto os autores divergem ou se aproximam 
dependendo da situação analisada. Como é o caso da questão econômica, apesar 
das ideias de Gibbon se aproximarem das de Anderson no que se refere às causas 
da crise econômica romana. Os dois se distanciam no grau de importância que dão 
a esta questão, já que, devido a sua orientação teórica, somente Perry Anderson 
analisou com profundidade os problemas relativos ao esgotamento da mão-de-obra 
escrava e, por consequência, do modo de produção assentado na escravidão. 
 
41 
 
Na questão militar, principalmente com relação às invasões bárbaras, os 
autores apresentam diferenças significativas na leitura que fazem. Para Gibbon, as 
invasões representaram a vitória daanarquia sobre a civilização. Já para Anderson, 
o episódio representou um processo de reestruturação de uma sociedade em crise e 
sua consequente superação. Já a questão religiosa foi outra que gerou muita 
divergência entre os dois autores. Apesar de ambos considerarem a Igreja Cristã 
uma causa importante no processo de crise romana, foi Gibbon quem afirmou que a 
Igreja teve papel decisivo neste processo. Enquanto que Anderson defendeu a 
posição de que a Igreja, apesar de sua parcela na crise romana, desempenhou um 
importante papel como preservadora do legado romano, sendo responsável pelo 
processo de síntese entre as culturas romana e bárbara. 
 Por fim, ler e comparar as duas obras se torna um exercício de 
percepção indispensável ao estudante do medievo, pois apesar das grandes 
diferenças teóricas e metodológicas, os dois autores são complementares para o 
entendimento do tema, o que torna o estudo de ambos, indispensável na 
compreensão dos motivos que levaram à queda do Império Romano e no 
consequente nascimento da Idade Média. 
 
Referências 
 
ANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. 5a.ed. São 
Paulo: Brasiliense, 2004. 
 
BANNIARD, Michael. A Alta Idade Média Ocidental. Lisboa: Europa-América, 
1985. 
 
FABER, Marcos Emílio Ekman. O Império Carolíngio e a Síntese Feudal. 
Disponível em: Acesso em 01 de mar. de 2010. 
 
FRANCO JR, Hilário. A Idade Média: Nascimento do Ocidente. 2ª. ed. São 
Paulo: Brasiliense, 2005. 
 
GONZELES, Justo L. A Era das Trevas. São Paulo: Editora Vida Nova, 2006. 
 
42 
 
 
MENDONÇA, Sonia Regina de. O Mundo Carolíngio. São Paulo: Brasiliense, 
1985. 
 
PEDRERO-SÁNCHES, Maria Guadalupe. História da Idade Média: Textos e 
Testemunhas. São Paulo: UNESP, 2000. 
 
WERNER, Karl Ferdinand. A Formação do Império Carolíngio. In: História 
Viva, São Paulo, n. 22, Ago. 2005, p. 38-43.

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