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Gestão Democrática e Interfaces com os Espaços Educativos W B A 0 17 2 _ v1 .4 2/167 Gestão Democrática e Interfaces com os Espaços Educativos Autora: Rosa Maria de Freitas Rogerio Como citar este documento: ROGERIO, Rosa Maria de Freitas. Gestão Democrática e Interfaces com os Espaços Educativos. Valinhos: 2016. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: A Gestão democrática da escola 04 Unidade 2: Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea 26 Unidade 3: A escola como espaço de participação da comunidade: humanização e ética na gestão democrática da escola 47 Unidade 4: As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar 67 Unidade 5: Organização da escola, gestão escolar e suas características 88 Unidade 6: O gestor escolar como gestor de pessoas: considerações sobre os relacionamentos interpessoais e a cultura organizacional da escola 107 Unidade 7: Âmbitos organizativo-administrativo, pedagógico e participativo da gestão escolar 128 Unidade 8: A gestão dos processos comunicativos na escola 148 2/167 3/167 Apresentação da Disciplina Nesta disciplina temos como principal objetivo compreender a gestão democrática na comunicação e no relacionamento interpessoal nos espaços educativos. Partindo desse objetivo, você vai estudar o conceito de gestão democrática no contexto da gestão escolar, frente às demandas econômicas, políticas e culturais da sociedade contemporânea. Além disso, você vai compreender melhor quem são as pessoas que podem e devem participar da gestão da escola, entendendo-a como espaço de participação da comunidade, no contexto do diálogo, da humanização e da ética na gestão democrática dessa instituição educativa. Você vai ver, também, as concepções que fundamentam as teorias da administração escolar e a organização e gestão da escola, com destaque para os elementos da gestão participativa, da gestão democrática, da autonomia da escola e da descentralização administrativa. Outro tema dessa disciplina será o estudo do relacionamento interpessoal e das relações de poder no cotidiano da escola e suas implicações para o trabalho pedagógico. Ao longo da disciplina, você conhecerá, também, a estrutura organizacional interna da escola, com destaque para o papel do conselho escolar, da equipe de direção, do setor técnico administrativo, do setor pedagógico, dos docentes, dos estudantes, dos pais e da comunidade escolar e as implicações dessa estrutura para as relações entre os sujeitos que a compõem. Ao final da disciplina, você poderá compreender como ocorre o processo comunicativo no contexto da gestão escolar. 4/167 Unidade 1 A Gestão democrática da escola Objetivos » Compreender o que é gestão democrática da escola. » Identificar quais elementos contribuem para a gestão democrática da escola. » Conhecer uma experiência de escola democrática para além da gestão. Unidade 1 • A Gestão democrática da escola5/167 Introdução Quando o assunto é “gestão democrática da escola” qual é a primeira coisa que vem à sua mente? Geralmente as pessoas re- lacionam a gestão democrática da escola à possibilidade de participação dos vários sujeitos que vivenciam o cotidiano esco- lar – estudantes, professores, familiares dos estudantes e demais profissionais de educação – nas tomadas de decisões e no compartilhamento de ações sobre o dia a dia da escola. E essas pessoas estão certas, pois a ideia de democracia está diretamen- te relacionada à ideia de participação. É preciso lembrar que as atividades desenvolvidas na escola por diretores, vice-diretores, assistentes de direção, coordenadores pedagógicos, orientadores educacionais e demais funcionários técnico-administrativos, que constituem a gestão escolar, têm como principal objetivo fornecer meios e criar condições para que a aprendizagem e o desenvolvimento de crianças, adolescentes, jovens e adultos possam acontecer na perspectiva da emancipação humana. Nesse contexto, gestão escolar é o conjunto de atividades desenvolvidas por diversos profissionais no interior da escola, que contribuem para que os/as estudantes se apropriem do saber sistematizado produzido pela humanidade, para poderem viver melhor. Queremos destacar que a gestão escolar, ancorada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), não pode ser qualquer tipo de gestão, mas sim Unidade 1 • A Gestão democrática da escola6/167 uma gestão democrática, que tem como pressuposto a participação de todos os sujeitos envolvidos no cotidiano da escola. eles contribuem para a solução dos problemas e das dificuldades. Quando o coletivo identifica que o encaminhamento proposto não surtiu o efeito desejado, esse mesmo coletivo planeja outra ação, até conseguir responder ao problema ou à dificuldade. Essa forma coletiva de gestão encontra-se fundamentada no diálogo, no reconhecimento e na valorização das diversidades sócio-histórico-culturais das pessoas envolvidas no cotidiano escolar e nos seus respectivos interesses, no respeito às decisões construídas coletivamente e na corresponsabilização de todos pelo bom desenvolvimento e pelas aprendizagens dos/das estudantes. Para saber mais Para saber mais sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, acesse o site do Planalto. Nessa perspectiva, entendemos a gestão democrática como uma forma coletiva de cuidar da escola, na qual os sujeitos envolvidos no seu cotidiano reconhecem as situações pelas quais a escola passa, refletem sobre elas, planejam encaminhamentos, acompanham o desenvolvimento deles e avaliam se Unidade 1 • A Gestão democrática da escola7/167 A seguir, destaque para alguns princípios da gestão democrática da escola: a. Promoção de processos de organização e gestão, alicerçados no estímulo ao trabalho coletivo e participativo dos profissionais da escola. b. Relações democráticas devem acontecer em todos os espaços da escola. c. A escola e todos que dela fazem parte, devem estar abertos às questões e às demandas da sociedade. d. Valorização da diversidade cultural. e. Envolvimento e a participação dos estudantes, dos pais/familiares e da comunidade como um todo no cotidiano da escola, não somente nas instâncias deliberativas. f. Envolvimento das famílias nas atividades da escola de maneira qualificada para além das festas, datas comemorativas e reuniões de pais. g. Participação de todos os segmentos – profissionais, estudantes, famílias – na (re)elaboração, na execução e no acompanhamento do Projeto Político Pedagógico. É nesse momento que enfatiza,ps a importância do Projeto Político Pedagógico (PPP) como elemento que dá materialidade à gestão democrática da escola, porque ele é a objetivação das deliberações coletivas Unidade 1 • A Gestão democrática da escola8/167 sobre o processo educativo. Você poderá compreender melhor o que é o PPP daqui a pouco. Não é somente nos colegiados escolares que a gestão democrática está presente, mas também em outros âmbitos de relações na escola, por exemplo, na entrada e na saída dos estudantes, quando é necessário uma organização e um cuidado especial para que tudo transcorra tranquilamente para todos; na realização das aulas, onde o professor planeja a atividade de ensino e organiza sua aula de modo democrático e respeitoso, considerando a participação dos alunos, etc. Você verá, também, que a participação das pessoas no cotidiano escolar demanda o trabalho coletivo, colaborativo, compartilhado e corresponsável e conhecerá a experiência de uma escola pública democrática da Rede Municipal de Ensino de São Paulo. 1. O Projeto Político Pedagógico: Elemento da Gestão Democrática Você deve estar se perguntando: mas afinal o que é o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola? O PPP é a identidade pedagógica da escola, que costura e articula as ações isoladas dos professores das diversas áreas do saber e que contém os princípios que orientamtodas as ações da escola. Ou seja, o PPP Unidade 1 • A Gestão democrática da escola9/167 apresenta os pressupostos teórico- filosóficos educacionais, as condições de trabalho e os objetivos pedagógicos da escola, que precisam ser considerados pelos professores no momento de planejar suas aulas, mas que também precisam ser considerados pelos demais profissionais da escola, pelos estudantes e pelas famílias dos estudantes. Por que o Projeto Político Pedagógico (PPP) está sendo compreendido como um elemento da gestão democrática? Porque ele é um projeto que deve ser construído coletivamente, com a participação de todos os sujeitos envolvidos no cotidiano escolar e que deve sustentar todas as atividades desenvolvidas e realizadas neste espaço educativo. Concordo com Libâneo (2013, p. 133) quando diz que: Para saber mais O Projeto Político-Pedagógico assume nomenclaturas diversas no território nacional. Ele também é conhecido como Projeto Educativo, Projeto Pedagógico, Projeto Pedagógico-Curricular, Projeto Curricular, Plano de Escola, Projeto Escolar, entre outros nomes. Unidade 1 • A Gestão democrática da escola10/167 O projeto [...] é o meio pelo qual os agentes diretos da escola tornam- se sujeitos históricos, isto é, capazes de intervir conscientemente e coletivamente nos objetivos e nas práticas de sua escola, na produção social do futuro da escola, da comunidade, da sociedade. Desse modo, compreendemos o PPP como elemento da gestão democrática, pois ele pressupõe a intervenção e a participação das pessoas nos objetivos e nas práticas escolares. Pinto (2011, p. 139) também ajuda a compreender o PPP nessa perspectiva ao dizer que “[...] o PPP é o instrumento pelo qual a escola garante o exercício de sua autonomia”, pois o exercício da autonomia pressupõe a participação das pessoas. O PPP pode ser entendido como uma bússola que orienta o norte a ser seguido e as ações necessárias a serem tomadas para que os objetivos educativos sejam alcançados e para que a aprendizagem seja garantida a todos os estudantes. Destacamos que o Projeto Político Pedagógico não pode pertencer somente aos coordenadores pedagógicos e orientadores educacionais e que professores, funcionários, equipe diretiva, pais e estudantes precisam participar da (re)elaboração, da atualização e do acompanhamento do Unidade 1 • A Gestão democrática da escola11/167 PPP. Sobre isso, o MEC (BRASIL, 2004, p.24) esclarece que: O Projeto político-pedagógico ocupa um papel central na construção de processos de participação e, portanto, na implementação de uma gestão democrática. Envolver os segmentos na elaboração e no acompanhamento do projeto pedagógico constitui um grande desafio para a construção da gestão democrática e participativa. Por isso defendemos que o PPP é um elemento da gestão democrática. 2. Escola Democrática: Democracia para Além da Gestão Você já ouviu falar em “escola democrática”? E em “escola democrática” na rede pública de ensino de São Paulo? Pois é, existem experiências de escolas públicas que se organizam numa perspectiva radicalmente democrática. Apresentaremos a você uma escola democrática paulistana em que a democracia existe para além das questões da gestão escolar. Essa escola é a Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, na Unidade 1 • A Gestão democrática da escola12/167 região do bairro do Butantã, em São Paulo. O Amorim Lima, como é conhecida, é uma escola pública, que vem organizando-se numa perspectiva democrática há mais de uma década, quando os professores, os gestores, demais profissionais, estudantes e pais uniram-se para construir outro modelo de escola, que organiza seus tempos e espaços de aprendizagem de forma interdisciplinar e por projetos de trabalho. A proposta democrática do Amorim Lima pressupõe a participação do estudante desde o primeiro ano do Ensino Fundamental para definir, planejar, executar e avaliar projetos de seu interesse. Além disso, há uma assembleia em que todos participam para conversarem sobre os assuntos do dia-a-dia, inclusive os estudantes. O professor é um mediador que orienta os estudantes e fica a disposição para ajuda-los quando for necessário. Os estudantes são protagonistas nos seus processos de aprendizagem e nos processos relacionais no interior da escola, inclusive tomando decisões para mediar conflitos entre outros estudantes. Para saber mais A EMEF Amorim Lima inspirou-se na experiência da Escola da Ponte, de Portugal, para construir seu projeto democrático de escola. Unidade 1 • A Gestão democrática da escola13/167 Mas o que o Amorim Lima tem de diferente em relação às outras escolas? Os estudantes têm a liberdade de escolher as atividades que desejam fazer, e essas atividades estão baseadas em projetos de trabalho. Inspirada pela Escola da Ponte, o Amorim Lima derrubou as paredes entre as salas de aula para que professores e estudantes pudessem conviver e compartilhar experiências. Link Link. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=Z5veeZ8qYfw>. Acesso em: 30 abr. 2016. Para saber mais Para saber mais sobre o Projeto Político Pedagógico do Amorim Lima, acesse. Disponível em: <http://amorimlima.org.br/ institucional/projeto-politico-pedagogico/> Link Link. Disponível em: <http:// educacaointegral.org.br/experiencias- internacionais/escola-da-ponte-radicaliza- ideia-de-autonomia-dos-estudantes/> https://www.youtube.com/watch?v=Z5veeZ8qYfw https://www.youtube.com/watch?v=Z5veeZ8qYfw http://amorimlima.org.br/institucional/projeto-politico-pedagogico/ http://amorimlima.org.br/institucional/projeto-politico-pedagogico/ http://educacaointegral.org.br/experiencias-internacionais/escola-da-ponte-radicaliza-ideia-de-autonomia-dos-estudantes/ http://educacaointegral.org.br/experiencias-internacionais/escola-da-ponte-radicaliza-ideia-de-autonomia-dos-estudantes/ http://educacaointegral.org.br/experiencias-internacionais/escola-da-ponte-radicaliza-ideia-de-autonomia-dos-estudantes/ http://educacaointegral.org.br/experiencias-internacionais/escola-da-ponte-radicaliza-ideia-de-autonomia-dos-estudantes/ Unidade 1 • A Gestão democrática da escola14/167 Você pode perceber, a partir do exemplo do Amorim Lima, que os princípios da gestão democrática fundamentam as relações democráticas nos diferentes espaços e nas diferentes atividades da escola. Unidade 1 • A Gestão democrática da escola15/167 Glossário Corresponsabilização: compartilhamento da responsabilidade por algo. Princípios: elementos que fundamentam as ações a serem realizadas pelas pessoas. Projetos de trabalho: projetos de pesquisa e de estudo elaborados pelos estudantes, com a mediação dos professores, para resolver alguma situação problema da vida real. Questão reflexão ? para 16/167 Como você viu, a gestão democrática da escola pressupõe alguns princípios. Reflita sobre esses princípios e apresente um exemplo de escola que você conheça e que também se orienta pelos princípios da gestão democrática. Caso você não conheça uma escola assim, você pode analisar quais elementos estão faltando na escola que você conhece para que a gestão democrática seja uma realidade. 17/167 Considerações Finais » Gestão democrática é uma forma de administração e organização da escola que pressupõe a participação de todos os segmentos: docentes, discentes, demais profissionais, pais/familiares. » Os princípios da gestão democrática buscam garantir que as relações democráticas estejam em todos os espaços e em todas as atividades da escola. » O Projeto Político Pedagógico é um elemento da gestão democrática, construído com a participação de todos, devendo sustentar as atividades desenvolvidas e realizadas na escola. » A escola democrática pressupõe a igual participação de estudantes, professores, demais profissionais e família dos estudantes. Todas as pessoas que fazem parte do cotidiano escolar são responsáveis por tudo queacontece na escola. Além disso, os estudantes têm a possibilidade de gerir seu tempo na escola e de ser o protagonista de sua aprendizagem. Unidade 1 • A Gestão democrática da escola18/167 Referências BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselho Escolar, gestão democrática da educação e escolha do diretor. Brasília: Ministério da Educação; Secretaria de Educação Básica, 2004. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ ce_cad5.pdf>. Acessado em 01/05/2016. LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 6ª ed. São Paulo: Heccus Editora, 2013. PINTO, Umberto de Andrade. Pedagogia escolar: coordenação pedagógica e gestão escolar. São Paulo: Cortez, 2011. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_cad5.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_cad5.pdf 19/167 1 - Qual o principal objetivo da gestão escolar? a) Garantir que os professores possam ter boas condições de trabalho. b) Zelar pelo bom funcionamento da escola. c) Fornecer meios e criar condições para que a aprendizagem e o desenvolvimento de crianças, adolescentes, jovens e adultos possam acontecer. d) Garantir que cada um faça apenas o seu trabalho, sem se preocupar com o trabalho dos outros. e) Criar condições para que os estudantes possam aprender melhor e alcançar bom resultado nas avalições externas Questão 1 20/167 2 - A gestão democrática da escola está fundamentada: Questão 2 a) Na tomada de decisões coletivamente, mas que garante um destaque para a figura do diretor de escola. b) No diálogo e na valorização da cultura dominante que sempre conseguir garantir educação de qualidade para seus estudantes até a década de 1970. c) Na valorização das ações individuais de cada profissional, pois cada um precisa saber bem o que fazer. d) No respeito às decisões construídas coletivamente e na corresponsabilização de todos pelo bom desenvolvimento e pelas aprendizagens dos/das estudantes. e) No envolvimento dos adultos – professores, funcionários, familiares – nas decisões coletivas da escola. 21/167 3. O que é o Projeto Político Pedagógico da escola? a) É um projeto que indica quais são os objetivos da escola e que não precisa ser atualizado, pois os objetivos continuam os mesmos. b) É o registro das intenções educativas da escola com vistas a cumprir as diretrizes curriculares do MEC. c) É o plano de trabalho dos profissionais da escola, que é elaborado apenas pelos profissionais. d) É o projeto de trabalho da escola, que representa as intenções educativas dos professores e dos gestores, pois eles são profissionais experientes. e) É a bússola que orienta o norte a ser seguido e as ações necessárias a serem tomadas para que os objetivos educativos sejam alcançados. Questão 3 22/167 4. Por que o Projeto Político Pedagógico (PPP) está sendo compreendido como um elemento da gestão democrática? a) Porque ele precisa ser lido por todos, no início do ano letivo, para que as pessoas conheçam as intenções educativas da escola. b) Porque ele deve ser construído coletivamente, com a participação de todos os envolvidos no cotidiano escolar e que deve sustentar as atividades desenvolvidas e realizadas neste espaço educativo. c) Porque ele deve ser construído coletivamente, para projetar quais são os objetivos a serem alcançados apenas pelo conjunto dos professores. d) Porque ele é um instrumento importante, que garante o exercício da democracia na escola, já que os profissionais da educação participam de sua elaboração. e) Porque ele é o registro das decisões coletivas tomadas no âmbito das reuniões pedagógicas e que conta com a participação dos professores e dos gestores apenas. Questão 4 23/167 5. Quais são as características de uma escola democrática? a) Os estudantes são protagonistas nos seus processos de aprendizagem e nos processos relacionais no interior da escola, inclusive tomando decisões para mediar conflitos entre outros estudantes. b) Os profissionais da escola democrática abrem mão de seu papel decisório e delegam todas as decisões para os alunos. c) Os familiares participam do cotidiano da escola e suas opiniões têm mais peso que as opiniões dos estudantes e dos profissionais. d) Os gestores escolares dessa escola radicalizam a experiência democrática ao permitir que os estudantes tenham mais participação do que os profissionais. e) Os estudantes participam das instâncias deliberativas da escola apenas quando apresentam bom rendimento escolar. Questão 5 24/167 Gabarito 1. Resposta: C. A função social da escola é promover o acesso dos estudantes ao saber sistematizado. Por isso, o principal objetivo da gestão escolar é fornecer meios e criar condições para que a aprendizagem e o desenvolvimento de crianças, adolescentes, jovens e adultos possam acontecer. 2. Resposta: D. A gestão democrática da escola está diretamente relacionada à participação e à corresponsabilização de todos os sujeitos que fazem parte do cotidiano da escola. 3. Resposta: E. O PPP é a identidade pedagógica da escola, que costura e articula as ações isoladas dos professores das diversas áreas do saber e que contém os princípios que orientam todas as ações da escola. 4. Resposta: B. O PPP pressupõe a intervenção e a participação das pessoas nos objetivos e nas práticas escolares, por isso ele deve ser construído coletivamente, com a participação de todos os sujeitos envolvidos no cotidiano escolar. 25/167 5. Resposta: A. A escola democrática pressupõe a igual participação de estudantes, professores, demais profissionais e família dos estudantes e incentiva o protagonismo das crianças e dos adolescentes. Gabarito 26/167 Unidade 2 Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea Objetivos » Conhecer a relação entre a gestão escolar e as demandas da sociedade contemporânea. » Compreender o currículo como síntese das relações da escola com as demandas da sociedade. » Entender as relações entre gestão escolar e currículo. Unidade 2 • Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea27/167 Introdução Você já parou para pensar se as escolas têm levado em consideração as demandas da sociedade contemporânea? Antes de tentar responder essa pergunta, é importante lembrar que a escola é a instituição que promove a humanização do sujeito por meio do acesso à cultura. Isso quer dizer que as ações e as atividades que acontecem na escola são planejadas, coordenadas e acompanhadas por profissionais e por demais sujeitos implicados nelas para que o estudante desenvolva suas máximas potencialidades, construa e exercite sua autonomia, aprimore sua criticidade, sua leitura de mundo, em ambientes bem organizados, agradáveis, atrativos e desafiadores. Você deve estar se perguntando: quais são as demandas da sociedade contemporânea? A seguir, elencamos algumas delas: a. Enfrentamento das desigualdades sociais. b. Flexibilização das relações do mundo do trabalho. Para saber mais Demandas da sociedade contemporânea referem-se às exigências que a vida em sociedade coloca para todos os indivíduos. Por exemplo: exigência de estar conectado à rede mundial de computadores para ter acesso a informações. Unidade 2 • Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea28/167 c. Formação dos sujeitos para a emancipação humana e para o mundo do trabalho. d. Compreensão da complexidade da realidade. e. Valorização da diversidade cultural. f. Respeito à identidade de gênero e à diversidade sexual. g. Ampliação do acesso à informação pela rede mundial de computadores e pelos dispositivos eletrônicos, tais como, smartphones. Quais relações você consegue estabelecer entre a gestão escolar e as demandas econômicas, políticas e culturais presentes em nossa sociedade? Podemos dizer que a principalrelação está no âmbito do currículo, pois quando as formas tradicionais de se apropriar do conhecimento, da cultura e de produzi- los entram em crise e são questionadas, devido às demandas da sociedade contemporânea, o currículo é diretamente atingido e, consequentemente, a forma de organizar e de administrar a escola. Entendemos currículo como prática social em constante movimento, síntese de múltiplas determinações e de múltiplos interesses, que se objetiva num conjunto de princípios que fundamentam ações e práticas pedagógicas, que têm como objetivo principal relacionar as experiências e os saberes dos estudantes, com os conhecimentos produzidos e sistematizados pela humanidade, de modo Unidade 2 • Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea29/167 a promover o desenvolvimento integral e a emancipação humana de crianças, adolescentes, jovens e adultos. A partir do entendimento sobre o conceito de currículo, encontramos nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (BRASIL, p. 27) a relação entre o currículo e a gestão escolar: Quanto à concepção e à organização do espaço curricular e físico, se imbricam e se alargam, por incluir no desenvolvimento curricular ambientes físicos, didático-pedagógicos e equipamentos que não se reduzem às salas de aula, incluindo outros espaços da escola e de outras instituições escolares, bem como os socioculturais e esportivo- recreativos do entorno, da cidade e mesmo da região. Essa ampliação e diversificação dos tempos e espaços curriculares pressupõe profissionais da educação dispostos a reinventar e construir essa escola, numa responsabilidade compartilhada [...]. Unidade 2 • Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea30/167 O texto do MEC mostra que a relação entre gestão escolar e currículo configura-se na necessidade do trabalho compartilhado dos profissionais da educação para ampliar e diversificar os tempos e espaços curriculares. Para entender melhor essa relação entre a gestão escolar e as demandas da sociedade contemporânea, consubstanciadas no currículo, você verá a seguir duas reflexões, uma sobre o currículo como síntese das relações da escola com as demandas da sociedade e outra sobre as relações entre a gestão escolar e o currículo. 1. Currículo Como Síntese das Relações da Escola com as Demandas da Sociedade Contemporânea Para entender o currículo como síntese das relações da escola com as demandas da sociedade é precisamos ter em mente a relação escola-sociedade como ponto de partida e de chegada, pois o currículo refere-se aos objetivos explícitos que a escola pretende alcançar. Link <http://portal.mec.gov.br/secretaria-de- educacao-basica/apresentacao> http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/apresentacao http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/apresentacao Unidade 2 • Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea31/167 Lembrando que a função social da escola é a promoção do acesso de estudantes ao conhecimento sistematizado, para que aprendam e se desenvolvam na perspectiva da emancipação humana, a escola existe em função de uma demanda da própria sociedade: a exigência de educar os seres humanos para a vida em um mundo cada vez mais complexo, plural, tecnológico, com injustiças sociais, com diversidades culturais, etc. A reflexão sobre as demandas que a sociedade contemporânea imputa à escola e ao currículo também podem ser compreendidas a partir da seguinte explicação de Sacristán (2013, p. 266). [...] a sociedade do conhecimento ou da informação propõe novos sentidos ao conhecimento ‘ensinável’, regulamentações muito distintas desses conteúdos, formas de colocar os aprendizes em contato com os conteúdos, novas fórmulas de controle, assim como uma ruptura das coordenadas espaço temporais tradicionais com as quais se regulava um artefato cultural construído, como é o currículo. Unidade 2 • Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea32/167 As formas de colocar os aprendizes em contato com os conteúdos e a ruptura das coordenadas espaço temporais tradicionais se relacionam diretamente às atribuições da gestão escolar, uma vez que os profissionais de educação da escola são os responsáveis por planejar, organizar, realizar e acompanhar as atividades e as práticas pedagógicas que serão oferecidas aos estudantes. Você sabe que existe um documento produzido pelo Ministério da Educação que norteia as questões relativas aos currículos das escolas brasileiras? Esse documento chama-se “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica” e propõe, como o próprio nome indica, diretrizes que “estabelecem a base nacional comum, responsável por orientar a organização, a articulação, o desenvolvimento e a avaliação das propostas pedagógicas de todas as redes de ensino brasileiras” (BRASIL, 2013. p.4). Você pode observar que quando o documento diz “organização, articulação e avaliação das propostas pedagógicas” ele está se referido ao âmbito da gestão escolar. Por isso é muito estreita a relação entre currículo e gestão escolar. Podemos dizer que a gestão escolar, por meio do Projeto Político Pedagógico, é quem ‘coloca o currículo em ação’ no cotidiano da escola. 2. As Relações entre Gestão Es- colar e Currículo O modo como a escola se organiza é fundamental para o desenvolvimento e a objetivação do currículo escolar. Em outras palavras, a gestão escolar como Unidade 2 • Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea33/167 organização de processos pela mobilização de pessoas para busca de fins educativos é responsável por pensar os ambientes, as relações e as experiências que podem ajudar cada um dos estudantes a aprender e se desenvolver, na perspectiva da emancipação humana. É preciso lembrar que a gestão escolar também se ocupa da gestão e da organização do currículo: Na organização e gestão do currículo, as abordagens disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar requerem a atenção criteriosa da instituição escolar, porque revelam a visão de mundo que orienta as práticas pedagógicas dos educadores e organizam o trabalho do estudante. Perpassam todos os aspectos da organização escolar, desde o planejamento do trabalho pedagógico, a gestão administrativo- acadêmica, até a organização do tempo e do espaço físico e a seleção, disposição e utilização dos equipamentos e mobiliário da instituição, ou seja, todo o conjunto das atividades que se realizam no espaço escolar, em seus diferentes âmbitos (BRASIL, 2013, pp.27- 28). Unidade 2 • Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea34/167 O conjunto de atividades que se realiza no espaço escolar orienta-se a partir de um currículo, expresso no Projeto Político Pedagógico, e a gestão da escola, através das funções de cada profissional de educação, é responsável por planejar, organizar, realizar e acompanhar essas atividades. Por isso que destaco a relação entre gestão escolar e currículo. Vou dar alguns exemplos dessa relação: 1. Quando a comunidade escolar se reúne, via Conselho de Escola, para deliberar sobre o uso de recursos financeiros para a compra de materiais que contribuirão para a promoção do trabalho pedagógico da escola – realização das aulas, organização e manutenção da biblioteca, dos laboratórios (se houver) e de outros espaços educativos, por exemplo, quadra, pátio, jardins, sala de vídeo, há uma relação direta entre gestão escolar e currículo, pois para que este se objetive é preciso a ação da gestão. 2. Algumas escolas no Brasil reinventaram-se e reorganizaram- se por meio do trabalho coletivo dos diversos sujeitos (profissionais de educação, estudantes e comunidade) liderados pela gestão escolar, para se constituírem como Escolas Democráticas, que organizam seus currículos e seus tempos e espaços de aprendizagem de modo interdisciplinar, relacional,dialógico e emancipatório. Unidade 2 • Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea35/167 3. A distribuição das aulas em um cronograma semanal, a organização do horário de entrada e saída dos estudantes, dos horários de merenda escolar e de recreio e a elaboração de regras de convivência são algumas ações que a gestão escolar, com a participação de toda comunidade escolar, precisa planejar, desenvolver e acompanhar, pois elas também fazem parte do currículo. Você acabou de ver que as relações entre gestão escolar e currículo estão presentes em todas as ações do cotidiano escolar porque essa gestão é quem assegura a promoção do currículo. Unidade 2 • Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea36/167 Glossário Demanda da sociedade: manifestação de uma exigência e/ou solicitação que a sociedade coloca para a vida das pessoas. Humanização do sujeito: processo sócio-histórico-cultural de tornar-se ser humano. Flexibilização das relações do mundo do trabalho: mudanças nas relações de trabalho que fragilizam a situação do trabalhador e precarizam as condições de trabalho. Questão reflexão ? para 37/167 Assista ao vídeo “D-28-Gestão Curricular – Entrevista de Abertura”, e produza uma resenha sobre ele. Lembre-se de que uma resenha é um texto que apresenta uma síntese do que foi assistido, acrescido da sua reflexão sobre esse tema. 38/167 Considerações Finais » Demandas da sociedade contemporânea se referem-se às exigências que a vida em sociedade coloca para todos os indivíduos, tais como, o enfrentamento das desigualdades sociais e a flexibilização das relações do mundo do trabalho. » A relação entre a gestão escolar e as demandas da sociedade contemporânea se dá no âmbito do currículo. » O modo como a escola se organiza é fundamental para o desenvolvimento e a objetivação do currículo escolar. » As relações entre gestão escolar e currículo estão presentes em todas as ações do cotidiano escolar porque essa gestão é quem assegura a promoção do currículo. Unidade 2 • Gestão escolar frente às demandas da sociedade contemporânea39/167 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. SACRISTÁN, José Gimeno. O currículo na sociedade da informação e do conhecimento. In: SACRISTÁN, José Gimeno (org.). Saberes e incertezas sobre o currículo. Porto Alegre: Penso, 2013, pp. 261-272. 40/167 1 - A escola é a instituição que promove a humanização do sujeito por meio do acesso à cultura. Isso quer dizer que: a) Se não for a escola, não há outra instituição que contribua para a formação do sujeito como ser humano, nos princípios democráticos. b) A escola surge no Brasil para que a população mais carente tenha acesso ao saber sistematizado e tenha direito à mesma educação oferecida para a elite do país. c) Os gestores escolares são os únicos responsáveis pelo processo de humanização do sujeito, já que dirigem as escolas e os currículos. d) As ações e as atividades que acontecem na escola são planejadas, coordenadas e acompanhadas por profissionais e por demais sujeitos implicados nelas para que o estudante desenvolva suas máximas potencialidades. e) Os professores precisam incluir em seu planejamento temas ligados à humanização do sujeito. Questão 1 41/167 2 – Identifique a seguir quais são as demandas da sociedade contemporânea: a) Formação dos sujeitos para a emancipação humana e para o mundo do trabalho e preservação da elite cultural. b) Formação dos sujeitos para a emancipação humana e para o mundo do trabalho e manutenção das desigualdades sociais. c) Formação dos sujeitos para a emancipação humana e para o mundo do trabalho e flexibilização das relações do mundo do trabalho. d) Formação dos sujeitos para a emancipação humana e para o mundo do trabalho e simplificação da complexidade da realidade. e) Formação dos sujeitos para a emancipação humana e para o mundo do trabalho e redução do acesso à informação pela rede mundial de computadores. Questão 2 42/167 3 - Quais relações você consegue estabelecer entre a gestão escolar e as demandas econômicas, políticas e culturais presentes em nossa sociedade? a) A principal relação está no âmbito do currículo, pois o currículo é diretamente atingido e influenciado pelas demandas da sociedade contemporânea e essa influência gera consequências para a forma de se organizar e de se administrar a escola. b) As relações entre gestão escolar e demandas da sociedade se dão no âmbito das relações interpessoais no interior da escola, pois os sujeitos têm visões de mundo diferentes. c) As relações se dão no âmbito do currículo, pois este precisa responder às demandas e preparar os estudantes para a competitividade do mundo do trabalho. d) Essas relações acontecem por meio da formação dos gestores escolares, pois eles são responsáveis por entender a complexidade da sociedade e transpor isso para o currículo. e) É possível estabelecer relações apenas entre o conteúdo das disciplinas e os temas da sociedade contemporânea. Questão 3 43/167 4 – As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica são diretrizes que: a) Instituem a base do currículo para que todas as escolas se organizem da mesma forma. b) Estabelecem a base nacional comum do currículo de todas as redes de ensino brasileiras. c) Determinam o currículo a ser seguido por todas as redes de ensino brasileiras. d) Introduzem princípios do currículo tradicional a ser seguido por todas as redes de ensino brasileiras. e) Prescrevem os conteúdos de ensino, objetivados no currículo, para que todas as redes de ensino garantam sua aplicabilidade. Questão 4 44/167 5 - Explique a relação entre gestão escolar e currículo: a) A relação entre gestão escolar e currículo refere-se ao papel dos professores, orientados pelos gestores, no momento do planejamento das aulas. b) Gestão escolar e currículo estão ligados ao princípio do Projeto Político Pedagógico, que diz que os gestores é quem decidem sobre o currículo. c) A relação entre gestão escolar e currículo está presente apenas nas atividades pedagógicas das salas de aulas, porque essas atividades asseguram a promoção do currículo. d) A relação entre gestão escolar e currículo diz respeito ao que os gestores realizam no cotidiano escolar. e) A relação entre gestão escolar e currículo está presente em todas as ações do cotidiano escolar porque essa gestão é quem assegura a promoção do currículo. Questão 5 45/167 Gabarito 1. Resposta: D. A humanização do sujeito por meio do acesso à cultura é o que lhe possibilita o desenvolvimento de suas máximas potencialidades. 2. Resposta: C. A sociedade impõe aos sujeitos a exigência de sua formação na perspectiva da emancipação humana e no preparo para o mundo do trabalho, pois as relações do mundo do trabalho têm se modificado a cada dia. 3. Resposta: A. As demandas da sociedade contemporânea legam à escola a necessidade de considera- las no momento de sua organização e do estabelecimento de princípios e objetivos da educação, dessa forma é através do currículo que as demandas da sociedade aparecem no Projeto Político Pedagógico da escola. 4. Resposta: B. Essas diretrizes estabelecem a base nacional comum para o currículo. Isso quer dizer que há a necessidade de se considerar esse documento no momento de se elaborar os currículos de toda e qualquer rede de ensino brasileira. 46/167 5. Resposta: E. Considerando que currículo é um conjunto de ações e atividades pedagógicas, fundamentadas em princípios, que tem como objetivo a aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes, a relação entre gestão escolar e currículo se refere- se a todas as ações do cotidiano escolar, porque essa gestão é quem assegura a promoção do currículo. 47/167 Unidade 3 A escolacomo espaço de participação da comunidade: humanização e ética na gestão democrática da escola Objetivos » Compreender a escola como espaço de participação da comunidade escolar. » Entender a relação entre humanização e gestão democrática da escola. » Reconhecer a ética como princípio da gestão democrática da escola. Unidade 3 • A escola como espaço de participação da comunidade: humanização e ética na gestão democrática da escola 48/167 Introdução A comunidade escolar precisa buscar e fortalecer seu espaço de participação no cotidiano da escola. Pergunto a você: quem são as pessoas que fazem parte da comunidade escolar? Em geral, as pessoas que fazem parte dessa comunidade estão envolvidas nas ações e nas atividades do cotidiano da escola, por exemplo: professores, estudantes, profissionais da limpeza, da cozinha, da manutenção predial; profissionais técnico- administrativos (secretaria, inspetoria de alunos), gestores (diretor, coordenador pedagógico, orientador educacional, supervisor escolar/de ensino), pais ou responsáveis pelos estudantes. As escolas que você conhece têm ou tinham abertura para o diálogo com a comunidade escolar? De que forma acontece ou acontecia esse diálogo? Perguntamos, pois entendemos que o diálogo implica consideração da voz e da ideia do outro e porque acredito que o diálogo é o primeiro elemento que permite a participação dos sujeitos da comunidade escolar no espaço da escola. Concordo com Paulo Freire (2001a, p. 52) quando defende que “ensinar exige disponibilidade para o diálogo” e acrescento que a participação da comunidade escolar exige da escola, e em especial dos gestores escolares, disponibilidade para o diálogo. Você já parou para pensar como tem acontecido a participação da comunidade escolar no cotidiano da escola? Em nossas experiências escolares, tanto no âmbito Unidade 3 • A escola como espaço de participação da comunidade: humanização e ética na gestão democrática da escola 49/167 da pesquisa acadêmica, quanto no âmbito da atuação profissional, percebemos que, muitas vezes, os pais ou responsáveis vão à escola apenas quando são convidados para festas e para as reuniões de pais e mestres ou nos momentos que são convocados para resolverem alguma situação-problema de seus filhos. Muitas vezes, presenciei os pais e/ou familiares dos estudantes sendo mal recebidos pelos funcionários da secretaria ou da zeladoria da escola. Entendi que essa má recepção estava relacionada a fatores como: despreparo dos profissionais da secretaria para atendimento respeitoso ao público; ausência de participação desses profissionais nas reuniões de conselho de escola e nas reuniões pedagógicas, dificultando o acesso desses profissionais a informações importantes do cotidiano da escola e falta de formação continuada em serviço para que eles possam desenvolver- se profissionalmente. A situação descrita anteriormente nos leva a pensar que a não participação dos funcionários da secretaria no conselho de escola tem dificultado a participação dos pais dos estudantes nesse órgão colegiado. Por isso que a participação de todos os sujeitos pertencentes à comunidade escolar precisa ser valorizada, defendida e estimulada no interior da escola. Acredito que a chave para a valorização, a defesa e o estímulo a essa participação esteja relacionada diretamente com a gestão democrática da escola, pois não há como Unidade 3 • A escola como espaço de participação da comunidade: humanização e ética na gestão democrática da escola 50/167 promover a participação das pessoas num ambiente não democrático. Algumas pessoas questionam-se: como é possível estimular a participação das pessoas no cotidiano da escola quando ainda não há gestão democrática? O movimento para o estabelecimento de uma gestão democrática da escola e o movimento para a promoção da participação da comunidade escolar precisam acontecer ao mesmo tempo, pois só se consolida a gestão democrática quando há participação das pessoas. A comunidade escolar não precisa esperar que primeiro a gestão torne-se democrática para poder, a partir daí, haver a participação, a própria comunidade deve construir essa democracia ocupando seu espaço de participação. Você vai ver a seguir a reflexão sobre a escola como espaço de participação da comunidade a partir de dois âmbitos: da humanização e da ética. 1. A Relação entre Humanização e Gestão Democrática da Escola A primeira questão que deve estar rondando em seus pensamentos agora é: o que é humanização? Entendemos humanização como o processo em que o homem, ser biológico, transforma-se em ser humano, ser social. Um exemplo: o bebê, quando nasce, vai aprendendo a ser um ser humano na relação com outros seres humanos, pois o que a natureza, Unidade 3 • A escola como espaço de participação da comunidade: humanização e ética na gestão democrática da escola 51/167 em termos biológicos, lhe deu, não lhe garante a continuidade da vida e não lhe é suficiente para viver em sociedade. Quando o bebê recebe o alimento, é cuidado em suas necessidades de higiene, recebe afeto e srelaciona-se com as outras pessoas, ele vai aprendendo a ‘ser gente’, ele vai se tornando ‘humano’. O processo de humanização não apresenta um final, pois as transformações pelas quais a sociedade passa exige também a transformação do ser humano para que ele possa lidar com as mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais. Leontiev (1978) ajuda a entender esse processo de humanização quando explica que o homem como ‘ser social’ humaniza-se a partir de suas relações com a vida em sociedade. Entendo que o processo contínuo de humanização relaciona-se com o espaço de participação da comunidade escolar na escola porque esse espaço demanda disponibilidade ao diálogo, ao respeito aos diferentes pontos de vista e visões de mundo e à consideração da opinião do outro. Acredito que é a partir da participação que as pessoas vão continuamente aprendendo a ser gente na relação com outras pessoas, e com isso, vão criando um mundo mais humano, mais justo, mais democrático e melhor de ser vivido. Concordo com Ferreira (2004, p. 1243) quando diz que: Unidade 3 • A escola como espaço de participação da comunidade: humanização e ética na gestão democrática da escola 52/167 Fraternidade, solidariedade, justiça social, respeito, bondade e emancipação humana, mais do que nunca, precisam ser assimilados e incorporados como consciência e compromisso da gestão democrática da educação – princípios que necessitam nortear as decisões a serem tomadas no sentido da humanização e da formação de todas as pessoas que vivem neste planeta. A escola não é apenas espaço para a escolaridade das pessoas, mas principalmente para a formação humana de sujeitos, por isso que a possibilidade de participação gera o desenvolvimento humano. Explicamos esse raciocínio com dois exemplos: a. Quando a merendeira, o vigilante e a faxineira da escola participam da reunião de conselho de escola sobre a destinação da utilização dos recursos financeiros para melhorar as condições de aprendizagem das crianças e dos adolescentes e podem tirar dúvidas e pedir explicações sobre qual a melhor maneira de utilizar esse recurso, eles também aprendem a corresponsabilizar-se pelo uso desse dinheiro, podendo emitir suas opiniões sobre isso. Unidade 3 • A escola como espaço de participação da comunidade: humanização e ética na gestão democrática da escola 53/167 b. Uma mãe, ao ser questionada sobre a importância de se participar do conselho de escola, responde que ele é importante e é: [...] bom porque em parte a comunidade pode saber como a escola é por dentro. O que é feito com nossos filhos, a utilização do dinheiro. Antes, a comunidade ficava do portão para fora. Só entrávamos na escola para saber das notas e reclamações dos filhos. [...] (FREIRE, 2001, p. 76) Os dois exemplosmostram quem o exercício da participação promove aprendizados democráticos, que contribuem para a emancipação da pessoa, tais como: • a criação de um ambiente respeitoso; • a promoção da humanização (o desenvolvimento humano) de todas as pessoas que frequentam a escola; • a melhoria dos relacionamentos, enfrentando preconceitos; • o exercício da cidadania (com direitos e deveres); • o envolvimento em todas as decisões fundamentais da escola. Unidade 3 • A escola como espaço de participação da comunidade: humanização e ética na gestão democrática da escola 54/167 2. Ética: Princípio da Gestão De- mocrática O que vem à sua mente quando você pensa sobre ética? Quando penso sobre ética, as primeiras ideias que me veem à cabeça são: escolha, opção, decisão, conduta, liberdade. A ética diz respeito à condição que o sujeito tem de fazer escolhas, de optar, de decidir, de conduzir e isso se relaciona diretamente com a liberdade, pois somente no plano da liberdade é possível fazer escolhas. Entendo que ao fazer escolhas, o sujeito ético, se compromete com aquilo que escolheu, responsabiliza-se por suas escolhas. Nessa perspectiva relaciono a ética ao âmbito da participação. A eticidade se dá na possibilidade da participação porque a ética “lida com aquilo que pode ser diferente do que é” (GIANNETTI DA FONSECA, 1993, p. 19). Aquilo que pode ser diferente do que é no cotidiano da escola depende da escolha e da participação das pessoas da comunidade escolar. Paulo Freire (2001b, p. 36) lembra bem que “mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos seres éticos”. Unidade 3 • A escola como espaço de participação da comunidade: humanização e ética na gestão democrática da escola 55/167 No terreno educacional, a ética relaciona- se com a participação da comunidade escolar no cotidiano da escola, por isso entendemos a ética como princípio da gestão democrática. Quando os membros da comunidade escolar fazem escolhas e tomam decisões, eles se corresponsabilizam por elas, pois “uma ética política que se pretenda verdadeiramente humana supõe primordialmente a restauração do sujeito Para saber mais A ética não se impõe, mas se revela através das escolhas que as pessoas fazem em diversos âmbitos da vida. responsável” (MORIN, 1998, p. 71). Relaciono essa reflexão de Edgar Morin com o seguinte pensamento de Paulo Freire (2001b, p, 37): “[...] se mudar é uma possibilidade e um direito, cabe a quem muda – exige o pensar certo – que assuma a mudança operada. Do ponto de vista do pensar certo não é possível mudar e fazer de conta que não mudou”. Sendo a ética um princípio da gestão democrática, cabe aos sujeitos da comunidade escolar consolidar e fortalecer seu espaço de participação no cotidiano da escola. Unidade 3 • A escola como espaço de participação da comunidade: humanização e ética na gestão democrática da escola 56/167 Glossário Emancipação humana: tem como finalidade a humanização dos sujeitos para que estes possam gozar de liberdade e viver uma vida plena. Eticidade: qualidade daquilo que é ético. Pensar certo: pensar de modo reflexivo, crítico, ético e democrático. Questão reflexão ? para 57/167 Faça a leitura do artigo “Ética e Educação – Caminhos Buberianos Ferdinand Röhr” e em seguida responda à pergunta. Considerando a reflexão proposta pelo artigo, como você analisa a relação entre ética e educação? 58/167 Considerações Finais » O diálogo é o primeiro elemento que permite a participação dos sujeitos da comunidade escolar no espaço da escola. » A não participação dos funcionários da secretaria no conselho de escola dificulta a participação dos pais dos estudantes nesse órgão colegiado. » A escola é espaço para a formação humana de sujeitos, por isso que a possibilidade de participação gera o desenvolvimento humano, a humanização. » A ética, no terreno educacional, diz respeito à condição que o sujeito tem de fazer escolhas, de optar, de decidir, de conduzir e isso se relaciona com a possibilidade da participação da comunidade escolar no cotidiano da escola. Unidade 3 • A escola como espaço de participação da comunidade: humanização e ética na gestão democrática da escola 59/167 Referências FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Repensando e ressignificando a gestão democrática da educação na “cultura globalizada”. Educ. Soc., Campinas , v. 25, n. 89, p. 1227-1249, dez. 2004 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 73302004000400008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 09 maio 2016. FREIRE, Paulo. Política e educação. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2001a. _____. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 20ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001b. GIANNETTI DA FONSECA, E. Vícios privados, benefícios públicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. LEONTIEV, Alexis. O homem e a cultura. In: LEONTIEV, Alexis. O Desenvolvimento do Psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978, p.273-280. MORIN, Edgar. A ética do sujeito responsável. In: CARVALHO, Edgard de Assis; ALMEIDA, Maria da Conceição; FIEDLER-FERRARA, Nelson; COELHO, Nelly Novaes; MORIN, Edgar. Ética, solidariedade e complexidade. São Paulo: Palas Athenas, 1998, pp. 65-77. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302004000400008&lng=pt&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302004000400008&lng=pt&nrm=iso 60/167 1 - Quem são as pessoas que fazem parte da comunidade escolar? a) Estudantes e seus pais, professores, gestores, funcionários técnico-administrativos e funcionários da manutenção e da cozinha. b) Os profissionais de educação, com destaque para os gestores. c) Os professores e os estudantes, pois eles são os principais sujeitos do processo ensino- aprendizagem. d) Os familiares, os estudantes e os funcionários técnico-administrativos, pois eles estão submetidos à gestão escolar. e) Todos os funcionários da escola, pois eles são os responsáveis por administrar a comunidade escolar. Questão 1 61/167 2 - Por que a participação de todas as pessoas que fazem parte da comunidade escolar precisa ser valorizada, defendida e estimulada no interior da escola? a) Porque os pais precisam saber das ações que acontecem no interior da escola. b) Porque a não participação dos funcionários da secretaria no conselho de escola tem dificultado a participação dos pais dos estudantes nesse órgão colegiado. c) Porque os estudantes, os maiores interessados no sucesso da escola, precisam estar informados sobre o que acontece na escola. d) Porque os gestores escolares não conseguem sozinhos conduzir a escola. e) Porque os professores e os funcionários da secretaria precisam dialogar para poder oferecer um serviço melhor ao cidadão. Questão 2 62/167 3 – A comunidade escolar precisa esperar que primeiro a gestão torne-se democrática para poder, a partir daí, participar do cotidiano da escola? a) Sim, pois não há como participar de um ambiente não democrático. b) Sim, porque a hierarquia precisa ser respeitada e são os gestores que promovem a gestão democrática. c) Não, porque a própria comunidade deve construir essa democracia ocupando seu espaço de participação. d) Não, porque todas as escolas já se organizam de modo democrático. e) Não, porque a comunidade precisa esperar que o Secretário de Educação publique um decreto transformando a gestão da escola em gestão democrática. Questão 3 63/167 4 - É possível relacionar a humanização com a participação da comunidade escolar? Questão 4 a) Não, porque o ser humano está condicionado pela sociedade em que vive e, dessa forma, sua participação é limitada. b) Não, porque a humanização não tem a ver com a participação da comunidade escolar. c) Sim, porque a participação da comunidade escolar,numa gestão democrática, permite que as pessoas sejam mais solidárias e amigas. d) Sim, pois as transformações pelas quais a sociedade passa exige também a transformação do ser humano para que este possa lidar com as mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais. e) Sim, porque é por meio da participação que as pessoas vão continuamente aprendendo a ser gente na relação com outras pessoas, e com isso, vão criando um mundo mais humano, mais justo, mais democrático e melhor de ser vivido. 64/167 5 - Por que a ética é considerada como princípio da gestão democrática? Questão 5 a) Porque ela refere-se às lutas políticas pela democracia no ambiente escolar. b) Porque ela relaciona-se com os princípios da moral institucional. c) Porque na escola quem não é ético é antiético. d) Porque a ética relaciona-se com a participação da comunidade escolar no cotidiano da escola. e) Porque a ética relaciona-se com a participação de pessoas cuja moral é bem elevada. 65/167 Gabarito 1. Resposta: A. As pessoas que fazem parte dessa comunidade estão envolvidas nas ações e nas atividades do cotidiano da escola. 2. Resposta: B. A defesa e o estímulo a essa participação estão relacionados diretamente com a gestão democrática da escola, pois não há como promover a participação das pessoas num ambiente não democrático. 3. Resposta: C. O movimento para o estabelecimento de uma gestão democrática da escola e o movimento para a promoção da participação da comunidade escolar precisam acontecer ao mesmo tempo, pois só se consolida a gestão democrática quando há participação das pessoas. 4. Resposta: E. A escola não é apenas espaço para a escolaridade das pessoas, mas principalmente para a formação humana de sujeitos, por isso que a possibilidade de participação gera o desenvolvimento humano. 66/167 Gabarito 5. Resposta: D. Sendo a ética um princípio da gestão democrática, cabe aos sujeitos da comunidade escolar consolidar e fortalecer seu espaço de participação no cotidiano da escola. 67/167 Unidade 4 As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar Objetivos » Entender a relação entre as teorias da administração de empresas e as teorias da administração escolar. » Conhecer as principais teorias da administração escolar no Brasil. » Compreender as críticas às teorias da administração escolar no Brasil. Unidade 4 • As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar68/167 Introdução As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar se originam nas teorias da administração de empresas. Muitas vezes, as teorias administrativas são chamadas de teorias das organizações ou teorias organizacionais. É preciso lembrar que as teorias da administração de empresas estão diretamente ligadas à organização do trabalho nas empresas ao passo que o campo da administração escolar elabora proposições teóricas sobre a organização do trabalho na escola. Você pode perceber que são dois campos muito distintos e com objetivos muito diferentes: empresa e escola. O principal objetivo das empresas capitalistas é reduzir os custos de produção, a partir da exploração do trabalhador, para acumular mais capital. Já o principal objetivo das escolas é promover o acesso de crianças, adolescentes, jovens e adultos ao conhecimento sistematizado pela humanidade, na perspectiva da emancipação humana. Nesse contexto, não podemos fazer uma transposição direta das teorias da administração de empresas para o cotidiano da escola. Você vai ver brevemente quais são as características das duas principais teorias da administração de empresas. a. Teoria da administração científica: elaborada no início do século XX; tem como principal representante o norte-americano Frederick Winslow Taylor (1856-1915). Essa teoria buscava reduzir o desperdício de Unidade 4 • As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar69/167 tempo e de materiais e elevar o índice de produtividade, de modo que tornasse mais eficiente a realização de tarefas repetitivas para padronizar o processo produtivo. Na perspectiva taylorista, o homem é como se fosse uma máquina ou parte de uma máquina. Na época em que essa teoria foi elaborada, as condições de trabalhos eram desumanas, os salários eram muito baixos e as jornadas de trabalho eram muito extensas. Ou seja, não havia a menor preocupação com a situação do trabalhador, apenas com a situação do patrão em otimizar a produção e aumentar seus lucros. Outra característica do taylorismo foi a divisão do trabalho, ou seja, separou- se o processo de planejamento do processo de execução: enquanto uns pensam a atividade, outros a executam. b. Teoria clássica das organizações ou teoria clássica da administração: elaborada no início do século XX; tem como principal representante o francês Jules Henri Fayol (1841- 1925). Essa teoria foi elaborada a partir de estudos de Fayol sobre a atividade de administração geral de empresa, sobre o processo administrativo, ou seja, partiu da observação do trabalho dos administradores e do modo como estes conseguiam organizar as Unidade 4 • As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar70/167 empresas. Fayol também se baseou na racionalização e no controle das atividades humanas e defendia que o gerenciamento podia ser ensinado por meio de uma teoria da administração. Dessa forma, Fayol também opera sua teoria na perspectiva da divisão do trabalho, pois separa os trabalhadores que planejam e gerenciam o processo de produção da empresa dos trabalhadores que executam e realizam a produção. As teorias de Taylor e Fayol influenciaram e continuando influenciando o ramo da administração de empresas e também da administração escolar. A seguir você verá como os primeiros teóricos da administração escolar no Brasil basearam-se nas da administração de empresas. Para saber mais Para saber mais sobre as contribuições de Fayol para os estudos das teorias da administração, acesse o artigo “Publicações póstumas de Henri Fayol: revisitando sua teoria administrativa”. Unidade 4 • As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar71/167 1. Das Teorias da Administração de Empresa para as Teorias da Administração da Escola Apesar dos objetivos e do cotidiano da escola serem muito diferentes dos objetivos e do cotidiano das empresas, as teorias da administração escolar tiveram suas origens nas teorias da administração. Você vai ver a seguir quais são as principais teorias da administração escolar. a. Teoria de Antonio de Arruda Carneiro Leão (1887-1966): sua teoria é elaborada no início do século XX quando há a complexificação do processo administrativo da educação com a expansão da oferta de vagas nas escolas. Essa teoria localiza a administração escolar no âmbito da administração, em especial, na teoria clássica de Henri Fayol, com destaque para a organização e a hierarquia de funções. b. Teoria de José Querino Ribeiro (1907-1990): sua teoria – que tem como principal obra “Ensaio de uma teoria da administração Escolar” – apresenta influência do movimento da Escola Nova e das teorias de Frederick W. Taylor e Henri Fayol. Unidade 4 • As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar72/167 [...] A administração escolar vai funcionar como um instrumento executivo, unificador e de integração do processo de escolarização, cuja extensão, variação e complexidade ameaçam a perda do sentido da unidade que deve caracterizá-lo e garantir-lhe o bom êxito [...]. (RIBEIRO, 1986, p. 30). c. Teoria de Manuel Bergström Lourenço Filho (1897-1970): em sua teoria sobre administração e organização da escola, Lourenço Filho entende essa administração como uma atividade complexa que necessita distribuir as tarefas, nesse contexto, ele parte da ideia de divisão do trabalho, assim como Frederick W. Taylor e HenriFayol. Além de situar a administração escolar nas teorias clássicas da administração, Lourenço Filho também a situa no campo da psicologia, com destaque para a valorização das relações humanas no espaço da escola e inaugura uma linha teórica compreendida como “comportamento administrativo”. Lourenço Filho defende que organizar ou administrar a escola diz respeito a Unidade 4 • As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar73/167 “[...]bem organizar elementos (coisas e pessoas) dentro de condições operativas (modos de fazer), que conduzam a fins determinados. [...] É regular tudo isso, demarcando esferas de responsabilidade e níveis de autoridade nas pessoas congregadas, a fim de que não se perca a coesão do trabalho e sua eficiência geral [...]” (LOURENÇO FILHO, 2007, pp. 46 e 47). Para saber mais Para saber mais sobre Antonio de Arruda Carneiro Leão e sua teoria, acesse. Disponível em: <http://www.serie-estudos.ucdb.br/index.php/serie-estudos/article/viewFile/495/391> Para saber mais sobre José Querino Ribeiro, leia o artigo “Formação de gestores escolares: a atualidade de José Querino Ribeiro”. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/ v30n107/08.pdf> http://www.serie-estudos.ucdb.br/index.php/serie-estudos/article/viewFile/495/391 http://www.scielo.br/pdf/es/v30n107/08.pdf http://www.scielo.br/pdf/es/v30n107/08.pdf Unidade 4 • As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar74/167 d. Teoria de Anísio Spínola Teixeira (1900-1971): sua teoria está baseada em sua experiência como administrador em órgãos da educação (Secretário de Educação no Distrito Federal e Inspetor Geral de Ensino em Salvador). Anísio Teixeira contesta a ideia que as teorias da administração de empresas podem ser empregadas no cotidiano da escola. Link Disponível em: <http://univesptv.cmais.com.br/escola-nova> Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/tve/video/educadores-lourenco-filho> http://univesptv.cmais.com.br/escola-nova http://tvescola.mec.gov.br/tve/video/educadores-lourenco-filho Unidade 4 • As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar75/167 [...]Em educação, o alvo supremo é o educando a que tudo mais está subordinado; na empresa, o alvo supremo é o produto material, a que tudo mais está subordinado. Nesta, a humanização do trabalho é a correção do processo de trabalho, na educação o processo é absolutamente humano e a correção um certo esforço relativo pela aceitação de condições organizatórias e coletivas aceitáveis. São, assim, as duas administrações polarmente opostas [...](TEIXEIRA, 1964, p. 15). Como você acabou de ver, as teorias da administração de Taylor e Fayol influenciaram decisivamente as teorias da administração escolar de Antonio de Arruda Carneiro Leão, José Querino Ribeiro e Manuel Bergström Lourenço Filho. Anísio Teixeira, ainda na primeira metade do século XX, tece uma crítica à transposição das teorias da administração de empresas para a administração escolar. Unidade 4 • As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar76/167 2. Crítica as Teorias da Admi- nistração Escolar Como você viu ao longo dessa aula, as teorias da administração escolar sofreram influência direta das teorias da administração de empresas. Anísio Teixeira, ainda na primeira metade do século XX tece críticas a essa influência. Você vai conhecer dois estudiosos da educação que também teceram críticas à relação entre administração escolar e administração de empresas, especialmente a partir da década de 1980. Essas críticas referem-se ao reconhecimento que a educação escolar é um fenômeno social muito particular que necessita de outras teorias sobre sua organização e sua administração. Miguel Arroyo (1979, p. 39), em sua crítica às teorias da administração de empresas aplicadas ao contexto escolar, afirma que “[...] a insistência em apresentar a racionalidade administrativa como necessidade ‘natural’ ao bom funcionamento das instituições oculta a dimensão política de todo processo administrativo [...]”. Essa dimensão política refere-se, como o próprio autor defende, a um “[...] fazer pensado, crítico, atento ao modelo de um homem a ser educado e às relações entre a escola e a sociedade [...]” (ARROYO, 1979, p.46). Não dá para padronizar as atividades da administração escolar porque cada escola localiza- se em um contexto sócio-histórico- cultural específico e apresenta demandas Unidade 4 • As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar77/167 específicas. Vitor Paro em seu livro intitulado “Administração Escolar: introdução crítica” (PARO, 1988) estuda as condições de uma administração escolar voltada para a transformação social, na perspectiva do materialismo histórico dialético. Paro entende que a “[...] administração é a utilização racional de recursos para a realização de fins determinados. Assim pensada, ela se configura como uma atividade exclusivamente humana [...]” (PARO, 1988, p.18). O autor defende que a administração escolar transformadora (PARO, 1988, p. 151) concretiza-se na oposição à administração de empresa, cujo objetivo é acumular capital com base na exploração do trabalhador, pois o objetivo da escola, por meio da administração escolar transformadora, é promover e garantir o acesso de crianças, jovens, adolescentes e adultos ao conhecimento sistematizado, na perspectiva da emancipação humana. Arroyo e Paro trazem elementos sócio- histórico-culturais para o âmbito da reflexão sobre a administração escolar, pois essa não pode se pautar pelo exemplo das teorias da administração de empresas porque a escola é o lugar da emancipação humana e não da desumanização com a exploração do trabalhador. Unidade 4 • As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar78/167 Glossário Escola Nova: foi um movimento de estudiosos da educação, liderados por John Dewey, no EUA, no início do século XX, que defendia o aprendizado pela experiência. Na década de 1930, no Brasil, essas ideias serviram de base ao Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Materialismo histórico dialético: “é um referencial teórico que possibilita a compreensão das relações e dos fenômenos sociais como fruto das múltiplas determinações culturais e históricas” (ROGERIO, 2015, p. 27). Emancipação humana: uma forma de sociabilidade na qual os homens possam ser livres e possam desenvolver amplamente suas potencialidades, na perspectiva da solidariedade e não na perspectiva de oposição e de concorrência. Questão reflexão ? para 79/167 A partir da realidade escolar que você conhece, seja como estudante ou como profissional, elabore um texto dissertativo relacionando as questões da administração escolar da realidade que você conhece com as teorias estudadas. 80/167 Considerações Finais » As teorias da administração de empresas propostas por Frederick W. Taylor e Henri Fayol, no início do século XX, influenciaram as teorias da administração escolar no Brasil. » As principais teorias da administração escolar brasileira, influenciadas por Taylor e Fayol, foram elaboradas por Antônio de Arruda Carneiro Leão, José Querino Ribeiro e Manuel Bergström Lourenço Filho. » Anísio Teixeira, ainda na primeira metade do século XX, tece uma crítica à transposição das teorias da administração de empresas para a administração escolar. » Miguel Arroyo e Vitor Paro fazem críticas à influência das teorias da administração de empresas para a administração escolar porque reconhecem que a educação escolar é um fenômeno social muito particular, que necessita de outras teorias para sua organização e sua administração. Unidade 4 • As concepções que fundamentam as teorias da administração escolar81/167 Referências ARROYO, Miguel G. Administração da educação, poder e participação. Educação e Sociedade. Ano I, n. 2, jan./1979. Campinas: CEDES. LOURENÇO FILHO, Manuel Bergström. Organização e AdministraçãoEscolar: curso básico. 8ª edição. Brasília: INEP/MEC, 2007 PARO, Vitor. Administração Escolar: introdução crítica. 3ª. Edição. São Paulo: Cortez, 1988. RIBEIRO, José Querino. Ensaio de uma teoria da Administração Escolar. São Paulo: Saraiva, 1986. ROGERIO, Rosa Maria de Freitas. Possibilidades e limites para uma coordenação compartilhada do trabalho pedagógico no CEU. Tese de Doutorado. 204p. São Paulo: Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 2015. TEIXEIRA, Anísio Spínola. Natureza e função da Administração Escolar. Cadernos de Administração Escolar, n.º 1. Salvador: ANPAE, 1964. 82/167 1 – O principal objetivo das empresas capitalistas é: a) Oferecer trabalho para que as pessoas possam viver. b) Permitir que, com o trabalho, as pessoas possam conquistar uma vida melhor. c) Promover o desenvolvimento profissional do trabalhador. d) Garantir um salário que custeie todas as necessidades do trabalhador. e) Reduzir os custos de produção, a partir da exploração do trabalhador, para acumular mais capital. Questão 1 83/167 2 - O que é a divisão do trabalho? a) É uma forma de melhorar a produtividade e garantir boas condições de trabalho para o operário. b) É uma forma de garantir que cada pessoa cuide de uma parte do processo produtivo, para que todos possam se desenvolver profissionalmente. c) É a separação dos trabalhadores menos qualificados e dos trabalhadores mais qualificados. d) É a separação do processo de planejamento do processo de execução: enquanto uns pensam a atividade, outros a executam. e) É a separação das diversas atividades dentro da empresa, para que todos possam conhecer todo o processo produtivo. Questão 2 84/167 3 – Qual objetivo da Teoria da Administração Científica de Frederick W. Taylor? a) Melhorar o desempenho dos administradores de empresa, de modo que estes pudessem promover o desenvolvimento profissional dos trabalhadores. b) Promover a administração de empresas de modo econômico e solidário, considerando as necessidades de trabalho dos operários. c) Reduzir o desperdício de tempo e de materiais e elevar o índice de produtividade, de modo que tornasse mais eficiente a realização de tarefas repetitivas para padronizar o processo produtivo. d) Ampliar a participação dos operários nas decisões da administração das empresas, pois estes são os trabalhadores que melhor conhecem o processo produtivo. e) Garantir o acesso de todos os trabalhadores da empresa ao processo de administração da mesma. Questão 3 85/167 4 - Quais são os principais teóricos da administração escolar no Brasil que sofreram influências das teorias de Taylor e Fayol? a) Antônio de Arruda Carneiro Leão, Manuel Bergström Lourenço Filho e Miguel Arroyo. b) Antônio de Arruda Carneiro Leão, José Querino Ribeiro e Manuel Bergström Lourenço Filho. c) Antônio de Arruda Carneiro Leão, José Querino Ribeiro e Miguel Arroyo. d) Antônio de Arruda Carneiro Leão, José Querino Ribeiro e Vitor Paro. e) Antônio de Arruda Carneiro Leão, Manuel Bergström Lourenço Filho e Vitor Paro. Questão 4 86/167 5 - Porque Miguel Arroyo e Vitor Paro fazem críticas à influência das teorias da administração de empresas para a administração escolar? a) Porque reconhecem que a educação escolar é um fenômeno social muito particular, que necessita de outras teorias para sua organização e sua administração. b) Porque eles não concordavam com a ideia da divisão do trabalho, proposto por Taylor e Fayol. c) Porque eles acreditam que a administração de empresas não é tão complexa quanto a administração de escolas. d) Porque eles não reconhecem as teorias da administração como teorias científicas. e) Porque eles entendem que o cotidiano da escola é muito mais simples que o cotidiano das empresas. Questão 5 87/167 Gabarito 1. Resposta: E. A empresa capitalista precisa produzir lucro. O lucro ou mais-valia só é produzido quando há redução dos custos da produção e exploração do trabalho do trabalhador. 2. Resposta: D. A divisão do trabalho refere-se ao modo como as tarefas de cada pessoa são divididas, separadas e organizadas. 3. Resposta: C. Na perspectiva taylorista, o homem é como se fosse uma máquina ou parte de uma máquina. 4. Resposta: B. Miguel Arroyo e Vitor Paro tecem severas críticas às influências das teorias de Taylor e Fayol para a administração escolar. 5. Resposta: A. A escola não pode pautar-se pelo exemplo das teorias da administração de empresas porque a escola é o lugar da emancipação humana e não da desumanização através da exploração do trabalhador. 88/167 Unidade 5 Organização da escola, gestão escolar e suas características. Objetivos » Reconhecer as especificidades dos conceitos de organização e gestão escolar. » Refletir sobre as características da gestão escolar democrática: descentralização, participação e autonomia. » Entender a importância do Projeto Político Pedagógico para a organização e a gestão da escola Unidade 5 • Organização da escola, gestão escolar e suas características89/167 Introdução Quando você pensa na escola, você a pensa como uma organização? Eu entendo a escola como uma “organização”, na mesma perspectiva apontada por Libâneo (2013, p.87), ou seja, como uma “[...] unidade social que reúne pessoas que interagem entre si e que opera por meio de estruturas e processos organizativos próprios, a fim de alcançar os objetivos da instituição. [...]”. A ideia de organização apresenta uma “visão de conjunto”, em que as partes que o constitui são interdependentes entre si. Então a relação entre essas partes é fundamental para que o conjunto, ou, no contexto da escola, o trabalho coletivo, funcione. A escola é uma organização que se orienta pelos objetivos educativos previstos na legislação educacional e propostos no Projeto Político Pedagógico, contando com o trabalho de diversos profissionais e com a participação dos estudantes e de seus responsáveis, que se relacionam por meio de processos organizativos, que tem como principal característica a interação entre as pessoas, com objetivo da promoção da formação humana. Por isso, nessa disciplina, você estuda a gestão escolar na perspectiva democrática, no escopo das comunicações e das relações interpessoais. Para que uma organização alcance seus objetivos, é necessária a gestão dela, que encontra-se diretamente relacionada às escolhas que se faz para seu melhor funcionamento. Nessa perspectiva, compreendemos gestão escolar como: Unidade 5 • Organização da escola, gestão escolar e suas características90/167 [...] uma das áreas de atuação profissional na educação destinada a realizar o planejamento, a organização, a liderança, a orientação, a mediação, a coordenação, o monitoramento e a avaliação dos processos necessários à efetividade das ações educacionais orientadas para a promoção da aprendizagem e formação dos alunos [...]. (LÜCK, 2009, p. 23). Você viu na aula anterior as primeiras teorias da administração escolar no Brasil e suas características, que se relacionavam à ideia da administração como um procedimento racional, sequencial, hierarquizado e baseado na divisão do trabalho. A tarefa de administrar referia-se a emitir ordens e controlar o cumprimento dessas ordens, sem considerar a opinião do trabalhador. Partindo dessas teorias e dos conceitos de organização e de gestão escolar consideramos que esses dois conceitos são mais complexos do que o conceito de administração escolar, porque eles referem-se às funções e responsabilidades dos profissionais de educação da escola para a promoção das condições, com os recursos necessários, do melhor funcionamento dessa instituição. Por esses motivos destacamos que a gestão escolar é responsável por articular, coordenar e acompanhar o trabalho dos profissionais da escola na perspectiva de garantir condições para a melhoria da aprendizagem dos estudantes.