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OUVINDO A VOZ DO CLIENTE W BA 07 24 _v 1. 0 22 © 2019 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Pedro Vaz Mendes Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Haruze Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Luz, Lucineide Bispo dos Reis L979o Ouvindo a voz do cliente/ Lucineide Bispo dos Reis Luz, Flávia Lima Frossard Belli – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019. 97 p. ISBN 978-85-522-1475-5 1. Serviços ao cliente. 2. Desdobramento da função qualidade. I. Luz, Lucineide Bispo dos Reis. II. Belli, Flávia Lima Frossard. Título. CDD 300 Responsável pela ficha catalográfica: Thamiris Mantovani CRB-8/9491 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ mailto:editora.educacional%40kroton.com.br?subject= http://www.kroton.com.br/ 3 3 OUVINDO A VOZ DO CLIENTE SUMÁRIO Apresentação da disciplina 4 Vantagem competitiva segundo Porter 5 O que é valor agregado para o cliente 24 Percepção de valor para o cliente: modelo de Kano 41 Engenharia de valor 61 Quality Function Deployment – Desdobramento da Função Qualidade 81 A experiência do cliente 100 Estudo de caso: Kano e QFD (Quality Function Deployment – Desdobramento da Função Qualidade) 119 44 Apresentação da disciplina Olá, meu caro aluno! Olá, minha cara aluna! Seja muito bem-vindo(a) à disciplina Ouvindo a Voz do Cliente. Nesta disciplina, você irá aprender como as empresas vencem a competição pela conquista do cliente. Aprenderá que, nos dias de hoje, o maior desafio é compreender as vontades e as necessidades do cliente. Vontades estas que, muitas vezes, não são conhecidas pelos próprios clientes, mas faz parte da função das empresas traduzir tais necessidades. E para isso, você desenvolverá algumas competências nesta disciplina, tais como: • desenvolver uma pesquisa segundo o modelo de Kano: para produto ou serviços; • conhecer e saber quando usar a engenharia de valor; • aplicar o Desdobramento da Função Qualidade (QFD) para projeto ou serviços; • conhecer os objetivos da Gestão da Experiência do Cliente e como fazê-lo. Os temas da disciplina estão apresentados na seguinte ordem: • O que é valor agregado para o cliente. Implicações em P&D e Marketing. • Percepção de valor para o cliente. Modelo de Kano. • Engenharia de valor. • Quality Function Deployment (QFD) – Desdobramento da Função Qualidade. • A experiência do cliente. • Estudo de caso: Kano e QFD. Vamos aos estudos! Superabraço 55 5 Vantagem competitiva segundo Porter Autora: Flávia Frossard Objetivos • Conhecer as características da era da informação e sua influência no processo de concorrência entre as empresas. • Aprender o modelo das cinco forças de Porter e aplicar nos estudos de análise de concorrência. • Entender no contexto empresarial a influência da estratégia e da eficácia operacional no processo de construção de uma vantagem competitiva de acordo com o conceito de Porter. 66 1. A era da informação Vivemos desde meados da década de 1980 na era da informação. No início dos anos 2000, a popularização das novas tecnologias de informação em conjunto com a expansão do acesso à internet têm modificado substancialmente a forma como as pessoas se relacionam com as empresas. O excesso de informação tem gerado cada vez mais dúvidas aos clientes e a concorrência está ainda mais acirrada. Com a popularização dos computadores pessoais e smartphones, a produção de conteúdos por parte do cidadão comum e a interação ganharam um espaço fundamental no cotidiano. Se antes as mídias tradicionais eram as responsáveis pela produção de conteúdo, por meio dos profissionais de comunicação, na era da informação, qualquer cidadão se tornou produtor de conteúdo. Agora, em questões de poucos minutos após uma pesquisa ou compra, o cliente já divulga nas suas redes sociais suas opiniões e avaliações de um produto ou serviço. O consumidor também está mais exigente e demanda das empresas cada vez mais um atendimento personalizado, em múltiplas plataformas e em tempo real. Dentro desse contexto, como uma empresa pode se diferenciar no mercado de trabalho? Quais ferramentas podem ajudá-la a ser mais competitiva? Em busca das melhores respostas para esses questionamentos, iremos trabalhar neste tema o conceito de vantagem competitiva do autor Michel Porter. Você irá estudar o detalhamento do conceito de estratégia e a apresentação do modelo das cinco forças de Porter que envolve clientes, fornecedores, novos entrantes, produtos substitutos e a rivalidade entre os concorrentes. Na sequência, iremos trabalhar o conceito de vantagem competitiva em busca de compreender de maneira prática quais são as melhores condições de uma empresa competir perante os seus concorrentes. 77 7 PARA SABER MAIS Michel Porter nasceu em 1947 em Michigan, nos Estados Unidos. É professor da Harvard Business School e um dos maiores especialistas atuais sobre competitividade estratégica e planejamento empresarial. 1.1 O modelo das cinco forças A empresa Netflix é uma das maiores provedoras via streaming de filmes e séries de televisão em nível mundial. Em 2018, ultrapassou os 100 milhões de assinantes, mas você sabia que este nem sempre foi o principal negócio dessa empresa? A Netflix surgiu em 1997, nos Estados Unidos, no auge das locadoras de DVDs. Era uma empresa de locação de filmes on-line, em que o DVD chegava à casa das pessoas pelo correio. Apenas dois anos após a sua criação, os sócios perceberam que precisavam continuar a inovar e passaram a oferecer uma assinatura mensal que permitia uma locação ilimitada de filmes. Dez anos após o seu nascimento, a Netflix lançou o serviço de streaming, o grande responsável pela revolução em nível mundial nas assinaturas de TVs a cabo e locação de filmes. Na sequência, em poucos anos, eles já estavam produzindo conteúdo original e expandindo os seus negócios em todo o mundo. O que faz com que uma empresa possa ter uma vantagem competitiva em relação a outra? Como se diferenciar no mercado e, principalmente, como manter um negócio em longo prazo? A estratégia é fundamental no mundo empresarial, ela representa um conjunto de ações que podem ajudar um determinado modelo de negócio a criar ou alcançar uma posição. Para Porter (1986), ela é um mecanismo de defesa contra as forças competitivas do mercado, o que ele chama de cinco forças de Porter. 88 Esse modelo das cinco forças apresenta uma proposta que avalia a performance de uma empresa a partir da média de desempenho dos concorrentes do setor. Veja agora cada uma das forças e um exemplo prático da sua ação: 1. Rivalidade entre os concorrentes: o mercado está cada vez mais competitivo, sendo explorado em todos os seus aspectos. Sendo assim, avaliar a concorrência e gerar ações de diferenciação é fundamental para sobreviver. Isso pode ser realizado por diversos fatores,como preço, novidade e propaganda. Contextualizando, no exemplo da Netflix, ao perceber que o mercado de locação física de filmes estava em decadência, a empresa rapidamente passou a oferecer uma assinatura mensal para assistir a filmes on-line. Enquanto as locadoras tradicionais abriram processos de falência, a Netflix alcançou o mercado mundial. 2. Poder de negociação dos clientes: com cada vez mais informação, o cliente está mais exigente e com maior poder de barganha. Ele escolhe a forma de pagamento, o estilo de atendimento e as características do produto. O cliente exige cada vez mais que a venda seja personalizada e de acordo com as suas necessidades. No exemplo apresentado, podemos ver que, buscando atender cada vez mais aos pedidos dos clientes e se manter atual, a Netflix tem investido na produção de conteúdo original. 3. Poder de negociação dos fornecedores: além dos clientes, as empresas também precisam lidar com o poder de barganha dos fornecedores, seja, por exemplo, por meio de aumento do preço ou redução da qualidade. Essa negociação precisa ser acompanhada continuamente, uma vez que pode influenciar 99 9 diversos critérios internos ao negócio. Como um exemplo de barganha do fornecedor, após muitas negociações sem sucesso, em 2018, a Disney anunciou que vai lançar o seu próprio canal de streaming. Sendo assim, seus filmes não estarão mais disponíveis na Netflix. Um desafio para a Netflix será manter seus assinantes oferecendo outros conteúdos que possam substituir os que serão perdidos. 4. Ameaça da entrada de novos concorrentes: Porter destaca que a quarta ameaça é a possível entrada de novos concorrentes no mercado; isso pode ocorrer com frequência e uma empresa que está hoje no auge pode fechar as portas. Novas potencialidades geram novos desejos no mercado. A Blockbuster foi por muitos anos líder de mercado no segmento de locadoras, entretanto, com o passar dos anos, seguiu com o mesmo modelo de negócio sem acompanhar as inovações tecnológicas. Com as mudanças na sociedade e a entrada de novos concorrentes como a Netflix, a empresa acabou indo à falência. 5. Ameaça de produtos substitutos: além dos novos concorrentes, outra ameaça é a entrada de novos produtos. Na década de 1980 e 1990, o modo mais popular de se ouvir música era por walkman ou discman, equipamentos portáteis que utilizavam fitas ou CDs. Quando a Apple lançou o Ipod, que se popularizou com o MP3/ MP4, ninguém esperava esse tipo de produto, mas ao entrar no mercado, em poucos meses substituiu a tecnologia anterior. Um dos grandes desafios do marketing é criar novos desejos no mercado e novas potencialidades. 1010 Figura 1 – Modelo das cinco forças de Porter Fonte: adaptado de Porter (1989). Para Porter (1979), o modelo das cinco forças é fundamental para se analisar a concorrência entre as empresas e pode ser utilizado em qualquer setor. Esse modelo colabora com o desenvolvimento da estratégia empresarial para elaboração do planejamento de marketing. A estratégia de uma empresa envolve lidar com a competição. Segundo Porter, para ser competitivo, é preciso incluir e avaliar uma série de fatores até formar uma vantagem competitiva sustentável. Esse processo envolve a busca por participação no mercado, a competição entre concorrentes e a cadeia de relações da empresa. O planejamento estratégico é fundamental para uma empresa melhorar sua eficiência e conseguir alcançar uma vantagem sustentável sobre os seus clientes. Sem concorrência não seria necessário o planejamento estratégico. Poder de Barganha dos Fornecedores Ameaça de Novos Entrantes Ameaça de Produtos Substitutos Poder de Barganha dos Clientes Rivalidade entre Concorrentes 1111 11 Como, então, as empresas podem e devem usar a estratégia com foco na vantagem competitiva na gestão dos seus negócios? O que é a vantagem competitiva? Como se diferenciar e se manter em destaque no mercado? São esses fatores que diferenciam uma empresa de outra e que determinam que um cliente decida por uma empresa ou pela sua concorrente. Na sequência, apresentaremos o que é estratégia, vantagem competitiva e suas características. 2. Estratégia e vantagem competitiva Quando pensamos em uma empresa e suas estratégias de gestão para se destacar perante a concorrência, temos a tendência de acreditar que os seus gestores conhecem detalhadamente o seu negócio, bem como os seus concorrentes. Será mesmo que isso acontece? Sun Tzu (2008, p. 75) diz que: Aquele que conhece o inimigo e a si mesmo, ainda que enfrente cem batalhas, jamais correrá perigo. Aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, às vezes ganha, às vezes perde. Aquele que não conhece nem o inimigo nem a si mesmo está fadado ao fracasso e correrá perigo em todas as batalhas. Mas como garantir que uma empresa conheça tão bem a si mesmo e aos seus “inimigos” (concorrentes)? Porter (1986) diz que, para enfrentar as cinco forças competitivas e gerar ainda mais lucro para uma empresa, é preciso pensar na estratégia como um grupo de ações ofensivas e defensivas dentro do seu contexto empresarial. Isso significa que é preciso compreender todas as informações relativas a um determinado negócio, como, por exemplo, a razão da criação da empresa, sua linha de produtos e serviços, sua forma de fazer negócios, seu público-alvo, padrão de atendimento dentre tantos outros critérios que devem ser verificados. 1212 Quando uma empresa fica no meio-termo, como diria Sun Tzu (2008), por conhecer a si mesmo ou somente conhecer o inimigo, há uma tendência de apresentar uma baixa rentabilidade no negócio, uma vez que, em algum dos lados, seja na área interna ou em relação aos concorrentes, ela falhará. Porter (1986, p. 86) define estratégia como: Estratégia é o estabelecimento dos meios fundamentais para atingir os objetivos, sujeito a um conjunto de restrições do meio envolvente. Supõe: a descrição dos padrões mais importantes da afetação de recursos e a descrição das interações mais importantes com o meio envolvente. Ou seja, para lidar com as influências das cinco forças, a empresa precisa lidar com a diferenciação ou o baixo custo. Esses dois fatores juntos fazem parte das estratégias genéricas que possibilitam uma empresa alcançar a vantagem competitiva descrita por Porter. Essas estratégias incluem três fatores principais: liderança em custo, diferenciação e enfoque. Qual é o grande desafio das gerências? Desenvolver o seu negócio de tal ponto que seja possível criar ou adaptar as competências da empresa para produzir cada vez mais vantagens competitivas. Isso significa estar atento e estudar com profundidade o seu negócio para conhecer com detalhes o motivo de um cliente efetuar uma compra com a sua organização e não com o seu concorrente reciprocamente. Qual é o objetivo de todas essas ações? Sem dúvida, é preciso estabelecer em cada empresa uma posição lucrativa, mas principalmente sustentável, capaz de sobreviver por muitos anos no mercado independentemente da competição empresarial. ASSIMILE Vantagem competitiva é quando uma empresa ou até mesmo um profissional se destaca no seu mercado de trabalho por apresentar um produto ou serviço inovador ou extremamente eficiente. Nesses casos, a concorrência tem grande dificuldade de imitar ou superar o produto/serviço oferecido. 1313 13 A localização de uma empresa é um exemplo de vantagem competitiva. Quanto mais próximo do público e quanto mais benefícios esse público tiver com essa localização (estacionamento gratuito, praça de alimentação, espaço família, entre outros exemplos), maior chance de aumento das vendas. É por essa razão que áreas em shoppings ou regiões centrais das cidades são tão concorridas. Outro exemplo é a qualidade no atendimento e/ou no produto/ serviço. Você já escolheu um restaurante porque sabe que o serviço será personalizado? O consumidor está cada vez mais exigente e, com facilidade,em poucos minutos, torna público tanto um atendimento bom quanto um ruim. Se uma empresa encanta o cliente, demonstra atenção, com certeza ela se destacará perante seus concorrentes. Por fim, você já se decepcionou com uma marca/empresa quando precisou realizar uma troca? O pós-venda também é um exemplo de vantagem competitiva e um fator crucial para a fidelização do cliente. Quando um cliente é bem-tratado até o final da sua compra, e isso incluem reclamações, trocas e serviços de manutenção, existem maiores chances de ele se encantar com o serviço e se tornar um consumidor fiel à marca. Para alcançar essa vantagem, ouvir o cliente por meio de pesquisas de satisfação e monitoramento das redes sociais pode trazer muitas vantagens para uma empresa/instituição. É importante destacar que, para que uma empresa possa apresentar uma vantagem competitiva e ser mais eficiente que os seus concorrentes, ela precisa ter eficácia operacional, ou seja, conhecer detalhadamente o seu momento atual, bem como as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças do ambiente interno e externo da sua empresa. Para isso, deve-se realizar a análise SWOT (sigla para as palavras strengths, weaknesses, opportunities e threats, ou no português, forças, fraquezas, oportunidades e ameaças – FOFA), metodologia criada pelos professores Kenneth Andrews e Roland Christensen, da Harvard Business School, que avalia os cenários e as informações dos ambientes 1414 interno (da organização) e externo (mercado) a partir das forças, oportunidades, fraquezas e ameaças de cada modelo de negócio. Esse procedimento irá ajudar a empresa a fazer um diagnóstico da sua real situação para assim melhorar a execução dos processos, tornando-os mais eficientes em comparação aos seus concorrentes. Dessa forma, Porter desenvolve as estratégias genéricas para que elas possam enfrentar o modelo das cinco forças, ampliando as possibilidades de angariar um maior retorno sobre o seu investimento, bem como manter, de forma sustentável, um crescimento organizacional. 2.1 Como alcançar uma vantagem competitiva? Como você já estudou no tópico anterior, vantagem competitiva é o valor criado para os clientes em relação ao custo para criar esse valor. Mas quando ela deve ser trabalhada? Como criar valor para o cliente? Durante o planejamento estratégico de uma empresa (criação da missão, visão e valores, designação das competências empresariais, realização da análise SWOT), é fundamental que sejam avaliadas as possibilidades de vantagem competitiva sempre focando a criação de valor para o cliente final. Podemos resumir a vantagem competitiva por meio da seguinte fórmula: Quadro 1 – Fórmula vantagem competitiva Vantagem competitiva = eficácia operacional + estratégia Fonte: elaborado pelo autor. 1515 15 A eficácia operacional consiste na análise feita sistematicamente de forma detalhada, avaliando atividade por atividade em busca de definir quais são as atividades essenciais da empresa e quais são as de apoio. A partir dessa avaliação, é possível desenvolver uma cadeia de valores. Esse estudo deve incluir a observação dos processos, as possibilidades de redução de custos e de desperdício. Somente após esse reconhecimento inicial é possível identificar as áreas e atividades que já possuem as melhores práticas. Na sequência, os gestores devem designar essas atividades selecionadas como base para criar a vantagem competitiva e, dessa forma, alcançar uma maior eficácia operacional da empresa. Em relação à estratégia, ela deve trabalhar a diferenciação de uma empresa. Como meu negócio irá se destacar em relação aos outros? O que eu vou fazer? E também, o que eu não vou fazer? A partir da resposta a esses questionamentos, é possível criar um conjunto de atividades com um mix único de valores. Cada estratégia é uma nova forma de se criar uma vantagem competitiva que deve ser sustentável, de acordo com o modelo de cada negócio. As estratégias devem ser divididas em três análises: a estratégia de liderança em custos, a diferenciação e o enfoque. Quadro 2 – Estratégias genéricas em Porter Vantagem competitiva – Escopo competitivo Custo mais baixo Diferenciação Alvo amplo Liderança em custos Diferenciação Alvo estreito Enfoque em custos Enfoque em diferenciação Fonte: adaptado de Porter (1980). A estratégia da liderança em custos está focada em fazer com que a empresa possa operar com o menor custo possível. Ou seja, é preciso muito controle por parte da empresa, com relatórios frequentes de 1616 todos os processos e custos envolvidos. Além disso, é fundamental uma coordenação constante da mão de obra, bem como dos processos de produção e distribuição. Com essas ações, é possível alcançar uma maior participação no mercado e oferecer um custo menor do produto/serviço final em relação aos seus concorrentes. Elas também oferecem para a empresa maiores margens de lucro e poder de negociação com clientes e fornecedores, uma vez que, com melhor desempenho, é possível realizar novos investimentos. Já em relação à diferenciação, este é um fator que exige grandes habilidades de marketing, uma vez que este irá proteger o negócio contra as forças competitivas dos concorrentes. Após a seleção das áreas com melhores práticas na empresa, no momento da avaliação da eficácia operacional, é possível selecionar os produtos e serviços que possuam diferenciais, sejam eles em relação a qualidade, desempenho ou características únicas que justifiquem preços mais altos. Essas características devem ser diferentes de outros produtos ou serviços já oferecidos pelos concorrentes. Para que essa estratégia tenha maior sucesso, é importante que a empresa foque os seus esforços na sua principal diferença em um determinado segmento ou mercado. Com isso, é possível alcançar maior fidelidade dos clientes e assim dispersar a concorrência e a busca do consumidor por novos produtos. O terceiro e último ponto das estratégias é o enfoque, que é o foco da empresa, ou seja, o que ela mais deseja. Pode ser um certo grupo de compradores, um segmento da linha de produtos ou até mesmo um mercado geográfico específico. O importante nessa estratégia é definir como alvo um nicho de mercado especializado e direcionar os esforços da empresa para esse segmento. 1717 17 Neste caso, a vantagem competitiva é alcançada pela abordagem da liderança em custo ou pela diferenciação, mas em um nicho de mercado mais restrito. Com isso, é possível explorar as necessidades do seu consumidor de forma específica e oferecer um produto e/ou serviço cada vez mais próximo do desejado pelos clientes. Quadro 3 – Estratégias genéricas de Porter (1980) Força da indústria Liderança em custo Diferenciação Enfoque Novos entrantes Capacidade de reduzir preços em retaliação a potenciais entrantes Lealdade do consumidor pode desencorajar potenciais entrantes Foco otimiza o desenvolvimento de competências essenciais que podem agir como barreiras de entrada Poder dos consumidores Capacidade de oferecer preços reduzidos para consumidores com alto poder de barganha Consumidores têm menor poder de barganha devido a poucas alternativas de produtos Consumidores têm menor poder de barganha devido a poucas alternativas de produtos Poder dos fornecedores Maior flexibilidade diante da ocorrência de aumentos de insumos Consumidores são menos sensíveis a repasses de preço Fornecedores são fortes devido ao baixo volume, mas foco em diferenciação facilita repasses no aumento de preços Ameaça de substitutos Uso de preço baixo para defesa contra substitutos Consumidores se tornam leais a produtos diferenciados, reduzindo a ameaça de substitutos Produtos especializados são mais difíceis de substituir Rivalidade interna Melhor capacidade de competir por preço Lealdade à marca afasta consumidores das rivais Rivais não conseguem atender às necessidades dos consumidores Fonte: adaptadode Porter (1980). Conclusão Para concluir, Porter (1986) condena a indefinição. Para o autor, um grande problema é não desenvolver nenhuma das opções acima ou querer adotar dois ou mais tipos de estratégias e acabar sem sucesso em nenhum deles. É preciso ser diferente e ter foco. 1818 Além disso, a gestão operacional precisa de mudança contínua. É preciso ter uma lista de práticas e análises que são constantemente revisitadas em prol de ajudar a empresa a alcançar certo objetivo. Em resumo, a vantagem competitiva precisa ter valor para o cliente e ser sustentável. Além disso, é fundamental buscar procedimentos específicos e ter objetivos claros para que possam ser alcançados. Sempre lembrando que eles devem ser constantemente atualizados conforme as variações do mercado. Voltando ao exemplo da Netflix, você pode ver que, para se manter competitiva no mercado, a empresa, por meio das constantes inovações oferecidas aos seus clientes (entrega de filmes pelo correio, assinatura on-line dos filmes, streaming, conteúdo próprio), conseguiu criar a sua estratégia de vantagem competitiva e tem, assim, apresentado melhores possibilidades de competir, atuar e sobreviver no mercado. Quando uma empresa não consegue definir os seus objetivos e estratégias, tem maior chance de ter uma performance abaixo da dos seus concorrentes. Encontrar uma vantagem competitiva é fundamental para a sobrevivência de um modelo de negócio/empresa. Na era da informatização, com a abundância de informações e as constantes mudanças e evoluções tecnológicas, fica o grande desafio para as empresas: conhecer e acompanhar de perto o seu negócio e ser capaz de manter uma vantagem competitiva sustentável em longo prazo. TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação: com o crescimento do streaming, empresas como Netflix e YouTube causaram um grande desconforto às operadoras de TV paga. Enquanto um pacote de TV custa em média R$ 150, a assinatura do streaming está em torno de R$ 20, sem contar a possibilidade de assistir à programação quantas vezes tiver 1919 19 interesse em qualquer horário. Com isso, as empresas de TV têm constantemente acionado judicialmente os fornecedores de streaming, exigindo que destes seja cobrado mais impostos, bem como seja realizado um maior controle da programação oferecida. A justificativa das empresas de TV é que a perda de clientes da parte deles é devida à concorrência injusta. Você concorda com essas ações judiciais? Será que as empresas de TV paga estão construindo uma vantagem competitiva por meio dessas ações? Em que elas deveriam investir o seu tempo e dinheiro para realmente alcançar a diferenciação no mercado? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Em 1979, Michel Porter publicou um artigo definindo o modelo das cinco forças. Esse modelo é amplamente divulgado para análises de concorrência. Para ser competitivo, é preciso avaliar uma série de fatores até formar uma vantagem competitiva sustentável. Dentre as cinco forças apresentadas por Porter, assinale a alternativa que representa a força que, em uma negociação relativa a matéria-prima, por meio de um aumento no preço ou diminuição da qualidade de um produto/serviço, a empresa pode perder o seu espaço no mercado. a. Rivalidade entre os concorrentes. b. Poder de negociação dos clientes. 2020 c. Poder de negociação dos fornecedores. d. Ameaça de novos entrantes. e. Ameaça de produtos substitutos. 2. A vantagem competitiva pode ser representada pela fórmula “vantagem competitiva = eficácia operacional + estratégia”. Em relação às estratégias genéricas de Porter, considere as afirmações a seguir: I. A liderança em custos é a capacidade de reduzir preços perante a retaliação de potenciais entrantes, ao poder de barganha de clientes e a ocorrência de aumento de insumos. II. Relativo à diferenciação, cabe às empresas oferecerem produtos inéditos aos consumidores. O nível de fidelização dos clientes não influenciará esta etapa. III. O enfoque indica como estratégia trabalhar com nichos específicos de mercado, dificultando o potencial de novos entrantes e a barganha dos consumidores, facilitando o repasse de aumentos devido ao critério de diferenciação e dificultando a rivalidade dos concorrentes por apresentar produtos mais especializados. Estão corretas somente as afirmações: a. I e II. b. I e III. 2121 21 c. I, II e III. d. II e III. e. Somente a I. 3. Identifique se são (V) verdadeiras ou (F) falsas as alternativas abaixo. A vantagem competitiva é o valor criado para os clientes em relação ao custo para criar esse valor. Sobre esse conceito, podemos afirmar que: ( ) Porter afirma que uma empresa deve escolher duas ou mais estratégias genéricas ou não adotar nenhuma delas a fim de alcançar uma vantagem competitiva no mercado. ( ) Para garantir o sucesso e a sustentabilidade de uma vantagem competitiva, o processo de gestão operacional precisa de acompanhamento e mudança contínua. ( ) Uma vantagem competitiva deve apresentar valor ao cliente e ser sustentável em longo prazo. ( ) Na era da informação, encontrar uma vantagem competitiva é fundamental para a sobrevivência de um modelo de negócio/empresa. ( ) Empresas que têm dificuldade ou não conseguem definir de maneira clara os seus objetivos e estratégias estão mais tendenciosas a apresentarem uma performance abaixo da dos seus concorrentes. 2222 Assinale a alternativa correta: a. V-F-V-V-F. b. V-V-F-V-V. c. V-V-F-F-F. d. F-V-V-V-V. e. F-V-F-V-V. Referências Bibliográficas CERTO, S. Administração estratégica. São Paulo: Makron Books, 1993. PORTER, M. How competitive forces shape strategy. Harvard Business Review, mar./abr. 1979. . Competitive strategy: techniques for analysing industries and competitors. New York: Free Press, 1980. . Estratégia competitiva. Rio de Janeiro. Elsevier, 1986. . Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Elsevier, 1989. . Estratégia competitiva. São Paulo: Campus, 2005 TZU, S. A arte da guerra. São Paulo: Record, 2008. WRIGHT, P. & KROLL, M. Administração estratégica: conceitos. São Paulo: Atlas, 2009. Gabarito Questão 1 – Resposta C As empresas também precisam lidar com o poder de barganha dos fornecedores, seja, por exemplo, por meio de aumento do preço ou redução da qualidade, principalmente em relação ao fornecimento de matéria-prima. 2323 23 Questão 2 – Resposta B A fidelização do cliente é fundamental no processo de estratégia de diferenciação. Isso porque, quanto mais leal o cliente, mais desencorajado ficam os novos entrantes, os concorrentes e os consumidores ficam menos sensíveis ao repasse de preços. Questão 3 – Resposta D Porter condena a indefinição, ou seja, quando uma empresa não desenvolve nenhuma das estratégias genéricas ou tenta adotar dois ou mais tipos de estratégias. 2424 O que é valor agregado para o cliente Autora: Lucineide Bispo dos Reis Luz Objetivos • Analisar a figura e a importância do cliente. • Compreender o que é valor agregado para o cliente. • Conhecer como o marketing atua no serviço ou produto com o objetivo de agregar valor. • Avaliar as implicações em P&D no produto ou serviço a fim de atender à vontade do cliente. 2525 25 1. Introdução Cara aluna, caro aluno. Seja muito bem-vindo(a). Esta unidade de ensino propõe o entendimento sobre quem é o cliente de determinado produto e serviço em relação aos seus tipos e modelos. Muitas vezes imaginamos o cliente como a pessoa que adquire o produto, a mercadoria e o serviço com a finalidade de atender à sua necessidade. Você verá que nem sempre o cliente adquire algo com tal objetivo. Algumas vezes, trata-se somente de um caso de intermediação, e por isso deve ser tratado pelas empresas de uma forma distinta. E, por que não dizer, seja na forma de consumidor final ou encarnado na figura do intermediário, o cliente deve ser tratado de uma forma diferente e especial.A fim de compreender essa diferenciação que você estudará nesta unidade a importância de se entender o cliente. Mas esse não é o único objetivo deste capítulo! Adicionalmente, mas não menos importante, será analisado o que é valor agregado e como o cliente percebe se um produto, uma mercadoria ou um serviço tem ou não. Será que podemos considerar que o valor agregado é um diferencial no momento da escolha do cliente? Até o final desta leitura, você deverá estar apto para responder a essa questão. Desejo-lhe excelente reflexão sobre o assunto! 2626 1.1 O cliente Você já deve ter se deparado com a seguinte cena ou ouviu alguém comentar que presenciou: após um longo dia cansativo de trabalho e de tarefas diversas, uma pessoa precisa ir até o supermercado para realizar as compras principais do mês para seu lar. Após passar duas horas escolhendo atenciosamente suas mercadorias, dirige-se até o caixa e encontra filas gigantescas com tempo de espera de cerca de uma hora. A pessoa até pensa em deixar as compras e ir para casa, mas se lembra de que realmente necessita dos itens que estão no seu carrinho e, por isso, decide pacientemente esperar. E lá se foram algumas horas de descanso que poderia desfrutar ao lado de seus familiares! Certamente você deve ter pensado em várias possibilidades que esse cliente pode ter articulado em sua mente, a fim de evitar que tal desperdício de tempo ocorra novamente. E ainda deve ter imaginado soluções que devem ser adotadas pelos gestores do supermercado a fim de reduzir o tempo de espera do cliente nas longas filas do caixa. Afinal, o cliente não é o motivo de existência de qualquer empresa? Pois bem, o cliente pode realizar aquisições de forma individual ou de forma coletiva: • Clientes individuais são as pessoas e seus familiares, além do governo como ente público, que têm necessidades a serem preenchidas pelo mercado. • Clientes coletivos são os que têm a necessidade de atender a grupos de pessoas, como o governo em relação à sociedade. Como atender a demandas nas áreas da educação, ordem pública e limpeza, como exemplos. 2727 27 Além disso, o cliente pode ser conhecido como: • Cliente de transição, também conhecido como a pessoa que adquire um produto, uma mercadoria ou contrata um serviço não para si, mas para repassar a alguém. Como, por exemplo, uma pessoa comprou comida para seu animal de estimação; o governo contratou um serviço que atenderá a população de determinada região; um pai compra lanches para consumo de seu filho na escola, entre outros exemplos. • Cliente consumidor final, como o nome sugere, realiza a aquisição para si, a fim de atender às suas necessidades. Como, por exemplo, a pessoa compra sua refeição em uma lanchonete; a pessoa adquire um carro para atender às suas necessidades; o governo adquire armários, computadores e impressoras para uso de seus funcionários que estão alocados em suas repartições, entre outros exemplos. Assim, embora tenha destinos distintos, ao fazer a aquisição, o cliente em algum momento fez uma escolha e, nos casos tanto de cliente de transição quanto de consumidor final, realizaram ou realizarão (parcelamentos, financiamentos, etc.) a quitação do que foi adquirido. O cliente pode assumir diversas funções diante de suas necessidades perante o fornecedor (seja de produtos, mercadorias ou serviços). O cliente pode ser o que irá adquirir, ou a pessoa que irá pagar, ou até aquela que irá somente consumir. Veja mais detalhes: • O adquirente: o cliente assume tal função quando está realizando a compra de algo, independente se realizará a quitação ou não. Nessa função, o cliente faz somente a escolha para atender a uma necessidade sua ou de outras pessoas. • O quitador financeiro: o cliente ocupa essa função quando se torna responsável pelo pagamento ao fornecedor do item que escolheu ou do item escolhido por outra pessoa. Trata-se da fase de desembolso financeiro por parte do responsável. 2828 • O consumidor: o cliente consumidor exerce essa função, independente das anteriores. O cliente pode consumir o bem (produto ou mercadoria) ou o serviço sem ter escolhido e sem ter realizado a quitação. Por exemplo: João gosta de comer pastel na feira todas as quartas. É algo que ele tem como rotina. Certo dia, ele escolheu três pastéis, um para ele, outro para o colega de serviço Pedro e o terceiro para a Ana, sua chefe. Mas Pedro já havia lhe dado o dinheiro um dia antes. Nesse caso, avalie quem foi (ou foram) o(s) adquirente(s), quitador(es) e os consumidor(es). Você pode afirmar que houve somente um adquirente? Quantos quitadores fizeram parte dessa história? E quanto aos consumidores? Veja que esses conceitos estão mais próximos de nós do que imaginamos! Mas por que devemos ter essa separação de conceitos? Pois precisamos entender as necessidades e osanseios dos clientes a fim de obtermos o reconhecimento e a fidelidade deles, não é mesmo? Mais adiante você verá mais detalhes sobre isso. Por enquanto, vamos continuar tentando entender o cliente e o seu comportamento diante de suas escolhas. Portanto, os clientes podem ainda assumir outras funções, tais como: • Influenciador: é o cliente que exerce o poder de influenciar alguém sobre a compra de algum produto, mercadoria ou serviço. O objetivo do influenciador é fazer com que outra pessoa tenha a mesma experiência que ele teve ao obter determinado item. • Indicador: são os clientes que indicam produtos, mercadorias ou serviços para outros clientes. Não se trata dos vendedores, mas pessoas que normalmente consomem algum produto e 2929 29 comentam sobre este a outras pessoas. É muito comum o uso do termo indicação nesse caso. Não com o intuito de fazer a pessoa adquirir, como no caso do influenciador, mas somente de revelar que existe tal produto ou serviço que atendem a determinadas necessidades. Por fim, precisamos tratar também de outra divisão muito importante: os clientes internos e os clientes externos das companhias. • Clientes internos: são as pessoas que atuam internamente dentro de uma organização. Sabemos que uma empresa é subdividida em diversos setores ou áreas. E um setor transfere informações para outros setores a fim de que as especialidades (setores de recursos humanos, financeiro, contabilidade, vendas, entre outros) atendam ao objetivo principal da empresa, que é obter o lucro em seus negócios. • Clientes externos: são o foco de qualquer empresa. São os que irão usufruir dos bens e serviços que a empresa disponibiliza no mercado e são chamados de externos por não fazerem parte do quadro de empregados da empresa. PARA SABER MAIS Tanto a iniciativa privada como a pública têm seus clientes internos e externos. As empresas governamentais, basicamente, não têm a preocupação de atender com objetivo de lucro, mas devem sempre visar o bem-estar social de forma abrangente. Os seus clientes internos são os seus funcionários, muitas vezes concursados e de carreira pública que trabalham para manter a organização necessária para que o governo atinja o objetivo maior, que é o de atender os clientes externos que, no geral, é a população com suas inúmeras necessidades. 3030 Certamente, nesta primeira parte do capítulo, você percebeu o excesso de detalhamento para compreendermos a figura e os atos dos clientes no mercado consumidor. Na segunda parte, você irá compreender os meios ou formas que o cliente faz uso para perceber se um produto, uma mercadoria ou um serviço tem um valor agregado. Será que é possível perceber e diferenciar um bem ou serviço que tem valor agregado de outro que não apresenta essa característica? 1.2 O cliente e o valor agregado Você avaliou as várias formas de compreender as atitudes do cliente diante da aquisição de bens e serviços no tópico anterior. E agora deve avaliar o que faz com que o cliente escolha um determinado produto. Será que a relação de menor valor é suficiente no momento de escolhado cliente? Por exemplo: uma indústria do ramo açucareiro, ao produzir seu produto, apura o preço de venda ideal para que obtenha o lucro desejado. Na composição do preço de venda, avalia os custos incorridos (realizados), as despesas necessárias, os impostos que incidem de acordo com as leis e acrescenta o lucro esperado. Com tais informações, apresenta tais valores em suas tabelas de preço e notas fiscais de vendas aos seus clientes. ASSIMILE Markup, metodologia de preço de vendas. Vários são os métodos de precificação de um produto, mercadorias ou serviços prestados. Para utilizá-la, é 3131 31 necessário conhecer os valores das despesas fixas (DF), despesas variáveis (DV), a margem de lucro esperada (ML) de determinado bem ou serviço, além de ter apurado de forma correta o valor de todos os custos incorridos (CP), ou seja, utilizados na formação do bem, ou necessário na prestação de serviços. A fórmula utilizada é: Markup = 100/100-(DF+DV+ML Após apurar o resultado, deve-se aplicar a outra fórmula: Preço de venda = CP x markup Exemplo: se DF for $ 10,00; DV for $ 15,00; ML for $ 40,00; CP for $ 25,00, o preço de venda será de $: 71,43 Considere: Markup = 100/100-(DF+DV+ML Markup = 100/100-(10+15+40) = 100/35 = 2,85714285 e Preço de venda = CP x markup Preço de venda = 25 x 2,85714285 = 71,43 Imagine que um supermercado fez a aquisição de açúcar dessa indústria. Após realizar a compra com nota fiscal, o supermercado irá acrescentar valores que correspondem aos seus gastos e seu lucro antes de expor a mercadoria na prateleira. E o supermercado fará o mesmo com os produtos do concorrente da fábrica de açúcar. Logo, o supermercado tratará as concorrentes do ramo açucareiro da mesma forma, tanto em relação ao tratamento dado aos valores como no caso de disponibilizarem espaços em suas prateleiras. Assim, ficará a cargo dos clientes escolherem o açúcar que desejam consumir nesse determinado supermercado. 3232 Dessa forma, o valor agregado ficará evidente ao cliente? Será possível perceber com facilidade se um tem valor agregado em relação ao outro? Antes de avaliar a resposta, vamos a alguns conceitos ligados a valor agregado para construirmos uma análise completa sobre o tema. Dar valor a algo ou alguma coisa está ligado à ideia de percepção do cliente. Veja alguns conceitos sobre o significado da palavra percepção: • Segundo o dicionário Aurélio (2014), percepção é: “Ação ou efeito de perceber, de compreender o sentido de algo por meio das sensações ou da inteligência: percepção do sofrimento, do clima”. • Consta no dicionário Aurélio (2014): “Avaliação sobre coisas ou seres a partir de um julgamento ou opinião”. • De acordo com dicionário Michaelis (2016), que afirma que percepção se trata da “capacidade de distinguir por meio dos sentidos ou da mente; inteligência”. • Para o dicionário Michaelis (2016), “qualquer sensação física manifestada através da experiência”. Assim, é possível compreender que o cliente percebe (tem a percepção sobre) o valor agregado de um bem ou serviço no momento da aquisição de acordo com aquilo que ele valoriza, ou seja, de acordo com seu interesse em relação ao que está adquirindo. Exemplos: • Se o cliente valoriza um bom atendimento, no sentido de atendimento atencioso e personalizado, este pode ser o valor agregado que ele percebe no momento da compra. E pode ser o diferencial que o fará escolher o bem ou a contratação do serviço de um fornecedor em detrimento de outro. • Se um comércio oferece compras on-line aos seus clientes e disponibiliza um site de busca fácil de produtos, e ainda realiza entregas rápidas, esse pode ser o valor agregado percebido por um grupo de clientes. 3333 33 • Se o cliente está disposto a esperar uma hora para que sua refeição seja feita por um chef internacional, em vez de consumir um lanche rápido, podemos perceber o valor que ele dá a essa escolha. • Caso o cliente avalie ir a um supermercado mais longe de casa por não ter longas filas nos caixas, esse pode ser o valor agregado que fará com que o cliente sempre frequente esse comércio. Certamente percebeu que vai além do ato de escolher somente pelo custo de determinado bem ou serviço. Pode ser, citando o exemplo anterior, que, ao ir a um supermercado mais longe, o cliente adquira bens com valores mais elevados e terá considerado como valor agregado a relação de benefícios em relação aos custos dos bens que precisa adquirir a fim de atender às suas necessidades. Figura 2 – Pontos de contato com o cliente Fonte: TarikVision/iStock.com. ID: 912215582. https://www.istockphoto.com/br/portfolio/TarikVision?mediatype=illustration 3434 Assim, as companhias precisam ficar atentas a procedimentos ou processos internos em seus setores, considerando sua cadeia de informações, que impactam diretamente a agregação de valores, como ilustrado na figura acima, como, por exemplo: • Setor de vendas: por se tratar de um setor responsável pelo atendimento ao cliente, deve se atentar ao local onde realiza a venda; deve oferecer um atendimento diferenciado e personalizado; avaliação e apresentação em relação a garantias oferecidas ao cliente; o comprometimento com a entrega do produto ou realização do serviço contratado; adotar uma política de crédito clara ao cliente. • Setor de disponibilização/fornecimento: por algumas empresas, é tratado como setor de logística, cuja maior responsabilidade é a de gerenciar a disponibilização do bem no ambiente de vendas. • Setor de qualidade: adoção de critérios de qualidade bem estabelecidos e auditados, sempre com o objetivo de atender a excelência. • Atendimento pós-venda ao cliente: preocupação em atender o cliente com a mesma atenção adotada na fase de venda do bem ou serviço, em caso de necessidade de atendimento no pós-venda, principalmente em casos de quebras, trocas ou complementos de serviços. As empresas devem apresentar preocupação constante com relação à avaliação desse diferencial, principalmente na área de pesquisa & desenvolvimento e na área do marketing. Veja de uma forma mais detalhada como ocorre a agregação de valor nesses dois importantes setores de uma empresa: pesquisa e desenvolvimento (P&D) e marketing, propriamente ditos. 3535 35 1.2.1 Pesquisa & desenvolvimento O setor de pesquisa & desenvolvimento, muito conhecido como P&D, tem funções essenciais no processo de agregação de valor de bens e/ ou serviços. Principalmente por se preocupar em não só criar produtos que serão fontes de receitas da empresa no futuro, mas a de aprimorar os produtos e serviços já existentes e oferecidos aos clientes. Essa busca constante por melhorias deve levar à fidelização de clientes e à constante agregação de valores de acordo com as necessidades de mudanças de hábitos e atitudes. Sem o objetivo de esgotar o assunto, mas com o objetivo de permitir uma reflexão sobre a importância do setor P&D, o setor deve se questionar com frequência sobre: • necessidade de lançamento de novos produtos de acordo com a missão de valores da companhia. Exemplo: o setor não pode ter o foco somente na necessidade do cliente. Deve-se avaliar se tal produto está imbutido no fim social da empresa; • formas de entender as necessidades do cliente. Exemplo: consultas a redes sociais; divulgação e experimentos em meios digitais; questionamentos por meio de pesquisa de mercado, entre outros exemplos; • adoção de estratégias, junto com a diretoria, que busquem a competitividade constante dos bens e serviços fornecidos; • adotar meios ou formas de gerenciar a agregação de valor no produto que está em elaboração ou em criação. Mesmo que algumas empresas não tenham formada seu setor de P&D, pode se adotar critérios de agregação de valor por meio de outros setores, como por meio do setor comercial ou pela contratação de consultores especializados no ramo que a empresa atua. 3636 1.2.2 Marketing O setor de marketing é outro importantesetor que implica diretamente a agregação de valores de um bem ou serviço. Pelo fato de ter como foco principal o cliente e a satisfação em relação às suas necessidades, o setor de marketing deve se preocupar com a agregação de valor percebida pelo cliente no momento da aquisição. As atividades presentes nesse setor, que podem auxiliar no aumento da percepção do cliente em relação ao bem ou serviço contratado, são: • elaboração de estratégias de vendas para satisfazer a necessidade de clientes; • análise e verificação constante dos canais de vendas, a fim de atender às necessidades pontuais (locais) dos clientes. • prática e busca da competitividade, por meio da análise de mercado e do comportamento dos concorrentes; • busca de retorno financeiro do negócio, visando a lucratividade; • adoção de estratégias gerenciais; • adoção de políticas de marketing agressivo, de forma pontual; • entrega ao cliente de bem ou serviço percebido pelo cliente (valor); • avaliação de novos mercados; • propostas de mudanças nos bens e serviços com o objetivo de aumento da percepção por parte do cliente; • comunicação interna e externa de forma constante. Esse processo auxilia na concretização de mudanças necessárias a fim de melhorar a imagem da empresa em relação aos seus bens e serviços. 3737 37 E muitas outras práticas são adotadas pelo setor de marketing de qualquer empresa, com o objetivo de aumentar a percepção que o cliente tem a respeito do que está sendo oferecido. Entender o cliente e seus anseios é a fase inicial para se entender o que é valor agregado e suas implicações tanto no processo de pesquisa & desenvolvimento como na área de marketing. O cliente sempre será o foco principal e, como nenhuma empresa tem um único cliente em um único momento, sempre haverá a necessidade de compreendermos qual a função e o papel que este está adotando ao adquirir um bem ou contratar um serviço. Ao compreender isso, as empresas começam a entender como devem se comportar para que o cliente perceba o seu diferencial em relação ao concorrente. As companhias que tratam os clientes como mais um consumidor de seus produtos precisam rever suas práticas e adotar técnicas que permitam avaliar o que o cliente espera de sua companhia. Certamente isso propiciará um retorno mais satisfatório dentro de um curto espaço de tempo. Agora que a relação dos temas abordados está claro a você, peço que realize os exercícios propostos e discuta nos fóruns com os seus colegas de turma, ok? Um superabraço! TEORIA EM PRÁTICA Analise a seguinte situação: Victor sempre viajou com sua família de carro, mas desta vez decide viajar de avião, por querer propriciar uma experiência nova a sua esposa e seus dois filhos. Ele entra em um site de busca e coloca o destino final. O valor está além do orçamento estipulado em sua 3838 mente e decide ir a uma loja física, perto de seu serviço, que vende pacotes de viagem. Após ter esperado somente três minutos, ele foi cordialmente atendido por Ana, que lhe ofereceu um café com biscoitos. Percebeu que o ambiente contava com um ar-condicionado climatizado e que a cadeira era muito confortável. Ana lhe apresentou a mesma proposta presente no site, mas ofereceu formas de descontos e parcelamentos que fez com que Victor aceitasse a proposta. De acordo com o conhecimento obtido na unidade de ensino, avalie quais foram os valores agregados que fizeram com que Victor contratasse os serviços de viagem de forma presencial. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Por se tratar de um setor responsável pelo atendimento ao cliente, deve-se atentar ao local onde realiza a venda; deve oferecer um atendimento diferenciado e personalizado; avaliação e apresentação em relação a garantias oferecidas ao cliente; o comprometimento com a entrega do produto ou realização do serviço contratado; adotar uma política de crédito clara ao cliente. Essa abordagem trata do setor: a. Setor de vendas. b. Atendimento ao cliente. c. Setor de qualidade. d. Contabilidade. e. Setor de fornecimento. 3939 39 2. Este setor, por algumas empresas, é tratado como setor de logística, cuja maior responsabilidade é a de gerenciar a disponibilização do bem no ambiente de vendas. Estamos falando de qual setor? a. Setor de vendas. b. Atendimento ao cliente. c. Setor de qualidade. d. Contabilidade. e. Setor de fornecimento. 3. Este setor deve ter a preocupação em se apresentar com a mesma atenção adotada na fase de venda do bem ou serviço, em caso de necessidade de atendimento no pós- venda, principalmente em casos de quebras, trocas ou complementos de serviços. Trata-se da tarefa do: a. Setor de vendas. b. Atendimento ao cliente. c. Setor de qualidade. d. Setor de contabilidade. e. Setor de fornecimento. 4040 Referências Bibliográficas FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Positivo, 2014. MALHOTRA, N. k. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. MICHAELIS: dicionário escolar da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 2016. SANTOS, A. S. dos [Org.] Marketing de relacionamento. São Paulo: Pearson, 2015. SILVA, F. G. da; ZAMBON, M. S. [Orgs.]. Gestão do relacionamento com o cliente. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013. Gabarito Questão 1 – Resposta A. É o setor de vendas que é responsável pelo atendimento ao cliente, deve-se atentar ao local onde realiza a venda; deve oferecer um atendimento diferenciado e personalizado; avaliação e apresentação em relação a garantias oferecidas ao cliente; o comprometimento com a entrega do produto ou realização do serviço contratado; adotar uma política de crédito clara ao cliente. Questão 2 – Resposta E. Setor de fornecimento é tratado por algumas empresas como setor de logística, cuja maior responsabilidade é a de gerenciar a disponibilização do bem no ambiente de vendas. Questão 3 – Resposta B. O setor de atendimento ao cliente deve ter a preocupação de se apresentar com a mesma atenção adotada na fase de venda do bem ou serviço, em caso de necessidade de atendimento no pós-venda, principalmente em casos de quebras, trocas ou complementos de serviços. 4141 41 Percepção de valor para o cliente: modelo de Kano Autora: Lucineide Bispo dos Reis Luz Objetivos • Compreender o que são atributos e sua importância. • Conhecer o modelo de Kano et al. (1984). • Entender a aplicabilidade do modelo de Kano et al. (1984). • Conhecer a técnica de Berger (1983) para avaliar numericamente os resultados apresentados no modelo de Kano et al. (1984). 4242 1. Introdução Olá caro(a) aluno(a)! Seja muito bem-vindo(a) à nossa unidade de estudos sobre o modelo de Kano, que propõe uma forma de entender a percepção de valor utilizada pelo cliente ao avaliar o bem ou o serviço que está adquirindo ou contratando. Este tema é muito importante e interessante por trazer um entendimento acerca do grau de satisfação de um cliente sobre determinado bem ou serviço e, como consequência, descreve formas de atingir a fidelização do cliente em relação, principalmente, à marca do produto que está sendo consumido. Como se trata de algo intangível, existem diversas propostas para se medir a percepção de valor de um cliente. E uma delas, conhecida como a teoria de Kano el al., definida no ano de 1984, você estudará nesta unidade. Esta, certamente, propõe uma forma concisa para os empresários entenderem melhor os seus clientes, principalmente pelo fato de prever a aplicação de algo muito prático: a necessidade de ouvir constantemente o cliente! Vamos aos estudos? Desejo-lhe excelente estudo sobre o tema! 2. Atributos Imagine a seguinte situação: Katarina é casada, tem uma filha de 3 anos e sempre morou em cidades grandes, onde nunca teve dificuldades para abastecer sua casa com produtos que satisfazem as necessidades de sua família. Em sua casa, ainda tem um cachorro, um gato e um papagaio 4343 43 de estimação. Seu marido,após receber uma promoção profissional em seu emprego, foi transferido para uma cidade pequena, no interior, e isso levou a família a se mudar. No primeiro mês, na fase em que estava conhecendo a cidade, Katarina começou a sentir a ausência de grandes marcas de produtos nos supermercados, além da falta de caixas eletrônicos pela cidade e, também, percebeu inflexibilidade de horário de alguns serviços, dentre outras coisas. Em conversa com a população local, Katarina percebeu que tudo girava em torno das necessidades que já estavam estabelecidas pelos moradores da cidade antes de ela e sua família se mudarem para lá. O gerente do supermercado comentou que, após diversas mudanças no oferecimento de produtos de grandes marcas, as atuais oferecidas (marcas locais, principalmente) satisfaziam plenamente as necessidades de seus clientes e que o lucro teria se mantido estável desde que passou a ouvir e entender a clientela. E é justamente isso que a técnica da realização de pesquisa periódica propõe! Tal técnica define a prioridade que se deve dar ao se ouvir o consumidor para entender o que é satisfação ou insatisfação, sob a ótica de quem está comprando um produto ou contratando um serviço. Ao ouvir o cliente, pode-se apurar quais são os atributos essenciais do bem ou serviço que são relevantes para o cliente no momento de suas escolhas. E, principalmente, levará ao entendimento de quais são os atributos menos relevantes para o consumidor. Com isso, o empresário poderá investir menos esforços nesse item, não é mesmo? Mas o que significa o termo atributo? 4444 ASSIMILE Atributo. O termo atributo está ligeiramente relacionado a algo intangível. Isso é, que não tem forma material. A avaliação de qualidade de um bem ou serviço está muito mais ligado a valores pessoais do que a fatores externos tangíveis. Por isso, deve-se adotar a premissa de que a qualidade positiva atribuída por uma pessoa não necessariamente será a qualidade positiva atribuída por outra pessoa. E isso leva à busca constante de satisfazer o maior número de clientes possível em um determinado período de tempo. Segundo o dicionário Michaelis (2016), podemos conceituar atributo como: • “aquilo que é característica de alguém ou de alguma coisa”; • “qualquer qualidade positiva”; • “sinal distintivo; símbolo”; • “propriedade essencial de uma substância”; • “palavra que se junta ao substantivo para lhe exprimir a qualidade ou determinação; adjetivo”. Vários são os significados do termo “atributo”, e, sem ter a intenção de excluir os demais significados, o primeiro apresentado exprime muito bem o sentido que será abordado nesta unidade de ensino, ao tratar o termo como “característica”. Para entendermos os atributos de algo, devemos avaliar e adotar a forma mais adequada de medir as suas características. Para tanto, a presente aula propõe o entendimento acerca do modelo de Kano et al., elaborado em 1984, como você verá a seguir. 4545 45 3. Modelo de Kano, Seraku, Takahashi e Ichi Tsuji No ano de 1984, os autores japoneses Noriaki Kano, Nobuhiko Seraku, Fumio Takahashi e Schin Ichi Tsuji publicaram um artigo chamado Attractive Quality and Must-Be Quality em um periódico japonês chamado Journal of the Japanese Society for Quality Control. Nesse artigo, os autores elaboraram uma forma de elencar os atributos percebidos pelos consumidores e que, portanto, deveriam chamar a atenção dos empresários para satisfazerem os seus clientes. Figura 3 – Pesquisa de satisfação Fonte: Jane_Kelly/iStock.com. ID: 852835166. O objetivo maior deste modelo é de conhecer o nível de satisfação ou insatisfação do cliente em relação aos atributos (características) presentes no bem adquirido ou serviço contratado. E para que a apuração seja realizada, os autores propuseram o cumprimento de fases e a tabulação ao final do processo, como você verá a seguir. 4646 3.1 Exemplo de aplicação do modelo de Kano O modelo é dinâmico e de fácil compreensão e nada melhor do que um exemplo para justificar a aplicabilidade do modelo no nosso dia a dia, não é mesmo? Por isso, vamos dar andamento à história de Katarina aplicando os passos propostos no modelo de Kano et al. (1984). Vimos que Katarina ficou muito frustrada ao ir ao supermercado e também ao andar pelas ruas da cidade do interior, onde atualmente reside com a sua família. A fase 1, proposta no método de Kano et al. (1984), propõe que os atributos devam ser elencados de acordo com o que é oferecido pelo bem adquirido ou serviço contratado. Vamos utilizar, como exemplo, o supermercado. Os atributos de um supermercado podem ser: • horário de funcionamento; • limpeza; • disponibilização de grandes marcas nacionais; • frigorífico dentro do supermercado; • padaria dentro do supermercado; • rapidez no atendimento dos caixas; • formas de pagamento; • estacionamento com muitas vagas disponíveis para o período de compras. 4747 47 Veja que foram selecionados oito atributos considerados relevantes para um supermercado. A fase 2, por sua vez, propõe a realização de uma forma de apurar informações oriundas do cliente. Por exemplo, podem ser utilizados entrevistas ou questionários para coleta de tais informações. Mas, para isso, cada atributo deve ser classificado como: • Atrativos (A): são os atributos que satisfazem o cliente quando oferecido de forma adequada a ele. Porém, sua ausência não causa insatisfação quando não é oferecido pela empresa. Exemplo: para alguns clientes, não é essencial ter frigorífico em um supermercado. • Unidimensionais (U): são os atributos que satisfazem o cliente quando oferecido de forma adequada a ele. Mas causam insatisfação quando não são oferecidos pela empresa. E por não serem oferecidos e nem disponibilizados pela empresa, pode levar o cliente a não adquirir ou contratar os serviços. Exemplo: para alguns clientes, é essencial que o supermercado tenha espaço de padaria. • Reversos (R): trata-se de atributos que o local, bem ou serviço tem que causam insatisfação. Exemplo: um supermercado disponibilizar somente marcas regionais em suas prateleiras. • Neutros (N): como o nome propõe, trata-se de atributos que podem ser considerados indiferentes. Se o atributo estiver presente ou não, não será percebido pelo cliente. Exemplo: máquinas de balas ou doces na porta do supermercado. • Obrigatórios (O): são as características já aguardadas pelo cliente e, por isso, não devem aumentar o grau de satisfação acerca do bem ou serviço contratado. Em contrapartida, caso o cliente observe que os atributos obrigatórios não existem, ele se sentirá insatisfeito. Exemplo: fornecimento de pão fresco feito no dia pela padaria do supermercado; limpeza do supermercado e produtos limpos. 4848 Assim, com base nessa teoria apresentada pelo modelo Kano et al. (1984), deve-se elaborar um questionário e atribuir uma escala. A escala proposta é a escala Likert, com o uso das seguintes opções: gosto, aceito, indiferente, deve ser e não gosto. PARA SABER MAIS A escala Likert foi criada por Rensis Likert no ano de 1932 e é uma das escalas mais utilizadas no mundo acadêmico. A escala é medida a partir da soma das respostas apuradas por item questionado e, por isso, é muito útil nas respostas de pesquisas de opiniões. Geralmente, a pessoa consultada é levada a apontar respostas entre os itens likert: discordo totalmente, discordo parcialmente, indiferente, concordo parcialmente e concordo totalmente. Para cada atributo, devem-se elaborar questões a fim de medir a percepção do cliente. Mas para isso, é necessário apresentar dois questionários para cada cliente: um com frases afirmativas (Tabela 1) e outro com frases negativas (Tabela 2). Exemplo: Tabela 1 – Avaliação da percepção dos clientes – aplicação de questionário – questões positivas Questão: aponte a opção que avalia sua expectativa ou percepção sobre os nossos serviços: não gosto (não posso suportar) não aceito (possosuportar) indiferente aceito (obrigatório) gosto Sobre o nosso horário de funcionamento ser até as 22h, de segunda a sábado. X 4949 49 Apresentar limpeza em todas as áreas. X Disponibilizar grandes marcas de produtos nacionais e não somente as marcas regionais. X Oferecer frigorífico dentro do supermercado. X Oferecer padaria dentro do supermercado. X Zelar pela rapidez no atendimento nos caixas. X Disponibilização de variadas formas de pagamento (cheques, dinheiro e cartões de diversas bandeiras). X Disponibilizar estacionamento com muitas vagas disponíveis para o período de compras. X Fonte: elaborada pela autora. Tabela 2 – Avaliação da percepção dos clientes – aplicação de questionário – questões negativas Questão: aponte a opção que avalia sua expectativa ou percepção sobre os nossos serviços: não gosto (não posso suportar) não aceito (posso suportar) indiferente aceito (obrigatório) gosto Sobre o nosso horário de funcionamento não ser até as 22h, de segunda a sábado. X Não haver limpeza em todas as áreas. X Não disponibilizar as grandes marcas de produtos nacionais e somente as marcas regionais. X Não oferecer frigorífico dentro do supermercado. X Não oferecer padaria dentro do supermercado. X Não zelar pela rapidez no atendimento nos caixas. X 5050 Não tornar disponível o uso de variadas formas de pagamento (cheques, dinheiro e cartões de diversas bandeiras). X Não disponibilizar estacionamento com muitas vagas disponíveis para o período de compras. X Fonte: elaborada pela autora. A fase 3 trata da aplicação do questionário aos clientes. Os modelos apresentados pelas Tabelas 1 e 2 foram respondidos como forma de exemplificar como se daria a resposta pelos clientes entrevistados. A fase 4 trata da tabulação, a fim de realizar o levantamento de todos os dados apurados. Mas para que ocorra uma compreensão maior sobre os dois questionários respondidos por cada cliente, deve-se fazer um quadro que revele as duas opiniões do mesmo cliente, tanto em relação às questões positivas como as questões negativas. Por exemplo, em relação à questão 1, a Tabela 3, apresenta as respostas positivas versus negativas da seguinte forma: Tabela 3 – Avaliação do atributo “horário de funcionamento” Coluna de questões positivas Questões negativas Atributo: horário de funcionamento não gosto (não posso suportar não aceito (posso suportar indiferente aceito (obrigatório) gosto não gosto (não posso suportar) não aceito (posso suportar) indiferente 5151 51 aceito (obrigatório) X gosto Fonte: elaborada pela autora. Veja que a Tabela 3 sintetiza a opinião do cliente sobre o horário de funcionamento, presentes nas Tabelas 1 e 2, em que fica claro que o cliente acredita ser obrigatório o supermercado funcionar até as 22h e não pode suportar um supermercado fechar antes das 22h. Veja em relação ao atributo que trata da disponibilização de grandes marcas no supermercado, na Tabela 4. Tabela 4 – Avaliação do atributo de disponibilização de grandes marcas no supermercado Coluna de questões positivas Questões negativas Atributo: disponibilização de grandes marcas de produtos nacionais e não somente as marcas regionais não gosto (não posso suportar não aceito (posso suportar indiferente aceito (obrigatório) gosto não gosto (não posso suportar) não aceito (posso suportar) indiferente X aceito (obrigatório) gosto Fonte: elaborada pela autora. Na Tabela 4, tanto em relação à questão positiva como em relação à questão negativa, para o cliente, é indiferente ter grandes marcas disponíveis nas gôndolas do supermercado. 5252 Após a realização das tabulações de forma individual e de sua respectiva análise, aponta-se a fase 5. Nesta fase 5, devem-se juntar as respostas de todos os clientes, ou seja, tabular todas as respostas de forma conjunta. Deve-se realizar uma tabela para cada questão. No nosso caso, iremos demonstrar somente duas questões (serviço e espaço de frigorífico; e formas de pagamento) de forma aleatória, nas Tabelas 5 e 6, considerando que a empresa aplicou com sucesso cem questionários válidos. Entre parênteses, estão presentes os resultados em valores percentuais. Tabela 5 – Tabulação de todas as respostas sobre a questão de oferecer frigorífico dentro do supermercado Coluna de questões positivas Questões negativas Atributo: serviço e espaço de frigorífico não gosto (não posso suportar não aceito (posso suportar indiferente aceito (obrigatório) gosto não gosto (não posso suportar) não aceito (posso suportar) indiferente 45 (45%) aceito (obrigatório) 20 (20%) 10 (10%) gosto 25 (25%) Fonte: elaborada pela autora. A Tabela 5 demonstra que a maior parte dos clientes age de forma indiferente em relação ao fato de um supermercado dispor ou não de um espaço frigorífico. 5353 53 TABELA 6 – Tabulação de todas as respostas sobre a questão de disponibilização de variadas formas de pagamento Coluna de questões positivas Questões negativas Atributo: formas de pagamento não gosto (não posso suportar não aceito (posso suportar indiferente aceito (obrigatório) gosto não gosto (não posso suportar) não aceito (posso suportar) 30 (30%) indiferente 30 (30%) aceito (obrigatório) 40 (40%) gosto Fonte: elaborada pela autora. A Tabela 6 demonstra que 40 clientes, do total de 100 clientes que responderam aos questionários com questões positivas e negativas acerca de formas de pagamentos, consideram muito relevante a empresa dispor de diversas formas de pagamentos. Na fase 6, deve-se apurar se os atributos são atrativos, unidimensionais, reversos, neutros e obrigatórios, segundo a teoria apresentada por Kano et al. (1984) e aplicado de acordo com a realidade da empresa, conforme Tabela 7. TABELA 7 – Relação de atributos Coluna de questões positivas Questões negativas Aplicável a todos os artibutos não gosto (não posso suportar não aceito (posso suportar indiferente aceito (obrigatório) gosto não gosto (não posso suportar) N U N U A 5454 não aceito (posso suportar) O N N U A indiferente N N N N N aceito (obrigatório) O N N U A gosto A U N U A Legenda: atrativos (A), unidimensional (U), reverso (R), neutro (N) e obrigatório (O). Fonte: elaborada pela autora. Veja um exemplo da Tabela de atributos aplicada à questão de serviço e espaço do frigorífico: Tabela 8 – Relação de atributos com a questão de serviço e espaço de frigorífico Coluna de questões positivas Questões negativas Atributo: serviço e espaço de frigorífico não gosto (não posso suportar não aceito (posso suportar indiferente aceito (obrigatório) gosto não gosto (não posso suportar) N U N U A não aceito (posso suportar) O N N U A indiferente N N N (45%) N N aceito (obrigatório) O N (20%) N (10%) U A gosto A U N U A (25%) Fonte: elaborada pela autora. Em relação à questão de formas de pagamento, a Tabela apresenta o seguinte formato: 5555 55 TABELA 9 – Relação de atributos com a questão de formas de pagamento Coluna de questões positivas Questões negativas Atributo: formas de pagamento não gosto (não posso suportar não aceito (posso suportar indiferente aceito (obrigatório) gosto não gosto (não posso suportar) N U N U A não aceito (posso suportar) O N N U (30%) A indiferente N (30%) N N N N aceito (obrigatório) O (40%) N N U A gosto A U N U A Fonte: elaborada pela autora. Não obstante, no ano de 1993, o estudioso Charles Berger apura a possibilidade de avaliar os resultados apresentados pelo modelo de Kano et al. (1984) em formato de fórmula. Em seus estudos, ele aponta a seguinte fórmula: Satisfação X1= A + U A + U + O + N e Insatisfação X2 = (U + O) – 1 A + U + O + N Se aplicado, levando como base a Tabela 9, obtemos o seguinte resultado, como coeficientes de satisfação e insatisfação dos clientes quanto às formas de pagamento: X1 = 0 + 0,30 = 0,30 de satisfação 0 + 0,30 + 0,40 + 0,30 X2 = (0,30 + 0,40) –1 = – 0,30 de satisfação 0 + 0,30 + 0,40 + 0,30 5656 Para verificação do resultado dado pela fórmula de Berger (1993), deve- se avaliar da seguinte forma: • se o resultado for no grau de satisfação (X1) entre 0 e 0,5, deve-se considerar Neutro; • se o resultado for no grau de satisfação (X1) entre 0,5 e 1, deve-se considerar Atrativo; • se o resultado for no grau de insatisfação (X2) entre 0 e -0,5, deve- se considerar Obrigatório; • se o resultado for no grau de insatisfação (X2) entre -0,5 e -1, deve- se considerar Unidimensional Com isso, você pode aplicar todo o modelo de Kano et al. (1984) com o auxílio de Berger (1993) e avaliar as satisfações e insatisfações do cliente em relação ao bem e/ou serviço de uma empresa, por meio da aplicação de questionários. Aproveite para realizar os cálculos dos outros atributos, não dimensionados neste material, e discutir nos fóruns com os seus colegas de turma sobre quais os atributos essenciais percebidos pelos clientes. Combinado? Um superabraço e bons estudos. TEORIA EM PRÁTICA João sempre teve o hábito de caminhar durante as manhãs, antes de ir trabalhar. Certo dia, a fim de melhorar seu condicionamento físico, João decide se inscrever em uma academia do bairro. 5757 57 Após realizar diversos questionamentos, ele apurou os seguintes pontos positivos em se realizar exercícios em um espaço fechado: segurança, acompanhamento de um profissional, estrutura com armários, banheiros e chuveiros à sua disposição e possibilidade de treinar seis vezes por semana. Em relação aos pontos negativos, João avaliou: mensalidades obrigatórias pelo período de 12 meses, a academia não abre aos domingos e feriados, no período que pode treinar, a academia geralmente fica muito cheia e os aparelhos ficam a maior parte do tempo ocupados. Ajude João a avaliar se deve ou não assinar o contrato com a academia. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Aponte a alternativa que apresenta uma característica do significado do termo “atributo”: a. Valor financeiro. b. Valor contábil. c. Valor socioeconômico. d. Qualquer coisa monetária. e. Propriedade essencial de uma substância. 5858 2. Aponte a alternativa que revela qual é o objetivo principal do modelo de Kano et al. (1984): a. O objetivo maior desse modelo é o de conhecer o nível de satisfação ou insatisfação do cliente em relação aos atributos (características) presentes no bem adquirido ou serviço contratado. b. O objetivo maior desse modelo é de conhecer somente o nível de satisfação do cliente em relação aos atributos (características) presentes no bem adquirido ou serviço contratado. c. O objetivo maior desse modelo é de conhecer somente o nível de insatisfação do cliente em relação aos atributos (características) presentes no bem adquirido ou serviço contratado. d. O objetivo maior desse modelo é de conhecer o cliente pessoalmente, assim torna-se fácil avaliar os atributos (características) presentes no bem adquirido ou serviço contratado. e. O objetivo maior desse modelo é de criar técnicas para aumentar as vendas, cada vez mais. 3. O estudioso Charles Berger, em 1993, criou uma teoria, com o objetivo de: a. Criticar a teoria de Kano et al. (1984). b. Apresentar outra teoria igual à de Kano et al. (1984). c. Avaliar os resultados apresentados pelo modelo de Kano et al. (1984) em formato de fórmula. 5959 59 d. Apresentar novas teoria que desqualificaram o modelo de Kano et al. (1984). e. Avaliar atributos de bens e serviços, mas não contribuindo com nenhuma análise na pesquisa de Kano et al. (1984). Referências Bibliográficas BERGER, C. et al. Kano’s methods for understanding customer-defined quality. Center for Quality Management Journal, v. 2, n. 4, p. 33-35, 1993. KANO, N. et al. Attractive quality and must-be quality. Hinshitsu, v. 14, n. 2, p. 147-156, 1984. MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. MICHAELIS: dicionário escolar da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 2016. SANTOS, A. S. dos [Org.] Marketing de relacionamento. São Paulo: Pearson, 2015. SILVA, F. G. da; ZAMBON, M. S. [Orgs.] Gestão do relacionamento com o cliente. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013. Gabarito Questão 1 – Resposta E Segundo o dicionário Michaelis (2016), podemos conceituar o termo “atributo” como: • “aquilo que é característica de alguém ou de alguma coisa”; • “qualquer qualidade positiva”; • “sinal distintivo; símbolo”; 6060 • “propriedade essencial de uma substância”; • “palavra que se junta ao substantivo para lhe exprimir a qualidade ou determinação; adjetivo”. Questão 2 – Resposta A O objetivo maior desse modelo é de conhecer o nível de satisfação ou insatisfação do cliente em relação aos atributos (características) presentes no bem adquirido ou serviço contratado. Questão 3 – Resposta C No ano de 1993, o estudioso Charles Berger apura a possibilidade de avaliar os resultados apresentados pelo modelo de Kano et al. (1984) em formato de fórmula. 6161 61 Engenharia de valor Autora: Lucineide Bispo dos Reis Luz Objetivos • Entender o que é análise de valor. • Compreender a importância da engenharia de valor. • Aprender como relacionar as duas teorias e obter ganhos para a empresa. • Avaliar um caso prático e como se dá a adoção da engenharia de valor. 6262 1. Introdução Olá caro(a) aluno(a)! Seja muito bem-vindo(a). Esta unidade de ensino propõe aprender a importância e relevância da engenharia de valor no dia a dia das empresas. Será possível observar que, para entender a engenharia de valor, primeiramente deve-se entender o que é a análise de valor. A análise de valor auxiliou diretamente o surgimento da teoria da engenharia de valor e, portanto, devem ser estudadas de forma conjunta. Adicionalmente, você entenderá como as funções de um bem ou serviço, quando identificadas adequadamente, podem trazer diversos ganhos para todos os envolvidos. Vamos aos detalhes do tema? Desejo-lhe excelente estudo sobre o tema! 2. Análise de valor e engenharia de valor Para tratarmos do tema engenharia de valor, você precisa, antes, compreender a importância e os conceitos relacionados à análise de valor e como os dois termos estão relacionados. Vamos a um pouquinho de história. Em meados dos anos de 1940, Lawrence D. Miles trabalhava na empresa americana General Eletric Co. Nesta época, Miles ocupava o cargo como engenheiro do departamento de compras. Na mesma época, estava ocorrendo a Guerra Mundial e o governo proibiu o uso de alguns materiais (tais como níquel e cobre) pelas empresas do país, pois desejava utilizá-los para fazer materiais para uso militar. 6363 63 Com isso, Miles começou a testar materiais alternativos que fossem capazes de ocupar as mesmas funções dos materiais proibidos. Ao longo de sua pesquisa, com conhecimento aplicado, percebeu que desenvolveu materiais que apresentaram melhor desempenho do que os utilizados anteriormente pela empresa. E melhor: observou que os valores gastos foram reduzidos, ou seja, os custos foram menores se comparados aos gastos anteriores com o processo produtivo. E assim teve início a teoria de análise de valor! Mas embora pareça simples e fácil o processo de substituição, Csillag (1995) comenta que há a necessidade de se ter uma técnica com métodos capazes de ter êxito no desenvolvimento de projetos sem que ocorra a perda de recursos da empresa. Uma forma de apurar a melhor técnica a ser utilizada é por meio da compreensão dos termos valor e função: • valor é o gasto mínimo que se tem para comprar um bem ou um serviço; • função é o que desempenha o bem ou o serviço, e é isso que trará satisfação para o cliente. Logo, os bens e serviços que não atendem o cliente de forma satisfatória deveriam ser substituídos, pois não agregam nenhum valor significativo para o cliente e, por isso, a empresa estaria somente perdendo recursos de forma desnecessária.
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