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1 SÍNDROME NEFRÍTICA • Conjunto de sinais e sintomas em que os glomérulos renais estão envolvidos em um processo inflamatório agudo • Síndrome nefrítica clássica - Glomerulonefrite Difusa aguda (GNDA) • Formas ▪ Idiopática: doença primária dos rins ▪ Secundária: infecções, colagenoses • Protótipo: Glomerulonefrite pós- estreptocócica (GNPE) Aspectos clínicos • Hematúria • Proteinúria subnefrótica (menor que 3,5g em 24h) • Oligúria • Edema • Hipertensão arterial • Azotemia (retenção de ureia e creatinina) Exame de sedimento urinário • EAS (Elementos Anormais e sedimentos), urina tipo I, urinálise, EQU (Exame qualitativo de urina) ou sumário de urina • Hematúria de origem glomerular: dismorfismo eritrocitário - Deformadas, fragmentadas e hipocrômicas • Presença de cilindros hemáticos, piúria (leucocitúria) e cilindros leucocitários Proteinúria • Quando os níveis de proteína na urina ultrapassam 150mg/dia • Síndrome nefrítica: não costuma atingir níveis acima de 3,5 g/dia e é do tipo não seletiva Oligúria • Resultante do prejuízo da superfície de filtração dos glomérulos, devido, principalmente à invasão pelas células inflamatórias Edema • Decorrente da retenção renal primária • Também ocorre na região Periorbitária Patogenia • Mais de 70% dos casos de GNDA são decorrentes da deposição glomerular de Imunocomplexos, contendo imunoglobulinas e fatores do complemento • Menos de 30% dos casos cursam sem imunocomplexos na biópsia – casos de glomerulonefrite pauci-imune, geralmente relacionadas à positividade do autoanticorpo ANCA Cilindros 1)Celulares: epiteliais, hemáticos e leucocitários: sempre patológicos 2)Acelulares: hialinos – podem ser encontrados em indivíduos normais Cilindros hemáticos: doença glomerular Cilindros leucocitários: mais associados às nefrites intersticiais 2 GLOMERULONEFRITE AGUDA PÓS- ESTREPTOCÓCICA • Causa mais frequente de GNDA em crianças • 97% dos casos ocorrem em países pobres – incidência de 9,5- 28,5 casos por 100.000 habitantes/ anos • Países ricos – taxa de 0,5 casos por 100 habitantes/ano DEFINIÇÃO E ETIOLOGIA • Sequela renal tardia de uma infecção pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes) Cepas nefritogênicas • Piodermite estreptocócica: impetigo crostoso ou erisipela • Faringoamigdalite • Cepa mais comum GNPE pós-impetigo é a M- tipo 49 • Cepa mais relacionada à GNPE pós- Faringoamigdalite é a M-tipo 12 ‘’Taxa de ataque’’ • Risco de GNDA após uma estreptococcia • Cerca de 15%, variando de 5% (cepas orofaríngeas) até 25% (M-tipo 49 cutâneo) Período de incubação • Orofaringe: 7-21 dias (média 10 dias) • Via cutânea: 15-28 dias (média 21 dias) Idade • Mais frequente entre 2 a 15 anos • Piodermite - faixa pré-escolar (2 a 6 anos_ • Infecção orofaríngea – faixa escolar e adolescência (6-15 anos) Sexo • Meninos 2:1 PATOGÊNESE • Deposição de imunocomplexos nos glomérulos Formas de ‘’ataque pelos imunocomplexos’’ 1. Deposição de imunocomplexos circulantes, formados no sangue por anticorpos do paciente + antígenos estreptocócicos 2. Formação de imunocomplexos in situ 3. Reação cruzada de anticorpos anti- estreptococo produzidos pelo paciente com constituintes normais do glomérulo (mime- tismo molecular) 4. Alterações moleculares em antígenos do glomérulo, tornando-os imunogênicos MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Maioria dos portadores de GNPE é assintomática- alterações laboratoriais subclínicas (ex: micro-hematúria dismórfica) Apresentação típica • Início abrupto de hematúria macroscópica, oligúria, edema e hipertensão arterial • Mal-estar e sintomas gastrointestinais • Dor lombar bilateral por intumescimento da cápsula renal Hematúria macroscópica • Possui tonalidade acastanhada, além de não apresentar coágulos • Observada em 30-50% dos casos Oligúria • Detectada em até 50% dos pacientes • < a 200 ml/dia em 15% dos casos 3 Edema • Cerca de 2/3 dos casos • Tende a ocorrer precocemente na evolução • Inicialmente é periorbitário e matutino, mas pode se tornar grave e evoluir para anasarca Hipertensão arterial • 50- 90% dos casos • Volume-dependente • Pode evoluir para encefalopatia hipertensiva (5 a 10%) • Congestão volêmica → edema agudo de pulmão Hipercalemia • Hipoaldosteronismo hiporreninêmico DIAGNÓSTICO • Procurar manifestações extrarrenais que possam indicar uma etiologia Confirmação diagnóstica • Requer evidências claras de infecção estreptocócica • Dosagem quantitativa de anticorpos anti- exoenzimas estreptocócicas ASLO ou ASO • Anticorpo mais encontrado na GNPE pós- Faringoamigdalite (80-90% dos casos) • Geralmente se elevam de 2-5 semanas após a infecção • Na GNPE pós-impetigo é frequentemente negativo (positivo em 50%) Anti-DNAse B • Anticorpo mais sensível no impetigo (60 a 70% dos casos) • Positivo em 75% dos casos de GNPE pós- Faringoamigdalite Anti-hialuronidase • Segundo anticorpo mais detectado no impetigo Suspeita diagnóstica + anticorpo ausente • Solicitar a pesquisa de outros anticorpos contra enzimas estreptocócicas Queda do complemento (C3 e CH50) • Achado laboratorial obrigatório para o diagnóstico • Alteração inespecífica – pode ocorrer também em outras causas de glomerulonefrite difusa aguda, como a glomerulonefrite membranoproliferativa e o LES • A normalização do complemento é esperada em, no máximo, oito semanas (maioria dos casos normaliza antes de duas semanas) • Glomerulopatias crônicas – complemento permanece reduzido por mais de oito semanas Microscopia ótica • Padrão de glomerulopatia proliferativa- difusa – maioria dos glomérulos (>50%) apresenta infiltrado inflamatório • 5% dos casos há formação de crescentes no espaço de Bowman – pior prognóstico; mais comum em adultos Algoritmo 1. Questionar o paciente sobre faringite ou piodermite recente 2. Verificar se o período de incubação é compatível 3. Documentar a infecção estreptocócica através do laboratório Indicações clássicas de biópsia renal- SBP 1) Anúria ou oligúria "importante" por mais de 72h. 2) C3 baixo que não melhora em até oito semanas. 3) Proteinúria > 50 mg/kg/24h (faixa nefrótica na criança) por mais de quatro semanas. 4) Hipertensão arterial ou hematúria macroscópica por mais de seis semanas. 5) Azotemia "acentuada" ou "prolongada”. Complemento sérico normal. 4 Imunofluorescência • Padrão de glomerulite por imunocomplexos- existem depósitos granulares de IgG/C3 nas paredes dos capilares (endocapilares) e no Mesângio Microscopia eletrônica • ‘’Corcovas’’ ou ‘’gibas’’- característico da GNPE- nódulos subepiteliais eletrodensos formados por depósito de imunocomplexos • Nódulos subendoteliais: quantidade relacionada diretamente com a gravidade das manifestações clínicas DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Outras doenças que cursam com síndrome nefrítica e hipocomplementemia 1) Outras glomerulonefrites pós-infecciosas (ex: endocardite bacteriana subaguda) 2) Glomerulonefrite lúpica 3) Glomerulonefrite Membranoproliferativa (GNMP), também chamada de GN mesangiocapilar Suspeitar de GNMP • Proteinúria na fase nefrótica • Hipocomplementemia persistindo por mais de oito semanas TRATAMENTO • Repouso e restrição hidrossalina • Diuréticos de alça • Vasodilatadores (para a hipertensão, se necessário) • Diálise (se necessário) Diuréticos de alça • Furosemida, ácido etacrílico) • Drogas de escolha para tratamento do edema, da congestão volêmica e da hipertensão Pressão arterial • Se não for controlada com outras medidas, acrescentam-se outros anti-hipertensivoscomo bloqueadores dos canais de cálcio (nifedipina), vasodilatadores (hidralazina) ou IECA (captopril) • Atentar para o risco de hipercalemia • Nitroprussiato de sódio: indicado nos casos de encefalopatia hipertensiva Hemodiálise (com ultrafiltração) • Indicada na vigência de síndrome urêmica, bem como para tratar a congestão volêmica grave refratária à terapia medicamentosa Terapia imunossupressora • Não tem papel confirmado no tratamento da GNPE, porém, pode ser tentada empiricamente (ex: pulsos de metilprednisolona intravenosa) nos raros pacientes que evoluem com a síndrome de Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva (GNRP- crescentes com mais de 50% dos glomérulos na biópdia renal) PROGNÓSTICO • Oligúria: até 7 dias • Hipocomplementenemia: até 8 semanas • Hematúria microscópica: até 1-2 anos • Proteinúria subnefrótica: até 2-5 anos (ou 7-10 anos, segundo alguns autores) Evolução desfavorável • Minoria dos pacientes (1-5% dos casos), em particular os adultos de maior idade. • Resulta em glomeruloesclerose global irreversível • Se muitos glomérulos forem perdidos, os remanescentes acabam sendo "sobrecarregados", o que leva à Glomeruloesclerose Segmentar Focal (GESF) "secundária" • Evoluem com proteinúria progressiva, podendo atingir a faixa nefrótica GLOMERULONEFRITE AGUDA INFECCIOSA, NÃO PÓS- ESTREPTOCÓCICA • Diagnosticadas pela presença de manifestações extra renais típicas, ou mesmo por achados microbiológicos e sorológicos Mais frequentemente envolvidas • Endocardite bacteriana subaguda 5 • Infecções suporativas crônicas (abscessos viscerais, empiemas cavitários, osteomielite) • Shunt VP (ventriculoperitoneal infectado • Pneumonia por micoplasma • Hepatite viral • Mononucleose infecciosa) Costumam estar associadas à 1) Depressão persistente dos componentes do complemento (como C3 e C4) 2) Níveis elevados de fator reumatoide e crioglobulinas circulantes GLOMERULONEFRITE AGUDA NÃO INFECCIOSA FIM
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