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Ginecologia – Saúde da Mulher I: Caso Clínico I 23/02/2018 – M5 Professora Lenita VULVOVAGINITES Introdução · Vulvoviginites = leucorreia = corrimento vaginal. · Existem 3 infecções principais do epitélio escamoso, que são: candidíase, vaginose bacteriana e a tricomoníase (é a única considerada uma IST). · As infecções do epitélio glandular são as cervicites. Quando essa infecção ultrapassa o orifício interno, se transforma em uma DIP (doença inflamatória pélvica) · O epitélio glandular, após a produção inicial de hormônios, se exterioriza. É um epitélio frágil e não aguenta o pH ácido da vagina e assim, a partir disso, sofre uma metaplasia escamosa (fisiológico). No exame especular, observa-se uma mancha vermelha chamada de mácula rubra. · É importante se observar a JEC porque é exatamente nesta área de metaplasia escamosa, onde está ocorrendo multiplicação celular e onde há células jovens, que é o local de ataque do vírus HPV. · Uma ejaculação próxima da vulva pode levar à gravidez. · CC1 Cristina, 28 nos, procurou atendimento na UBS de seu bairro relatando corrimento vaginal abundante, claro, sem odor ou prurido. Relata que essa queixa a incomoda desde a menarca. Ao exame, observou-se conteúdo vaginal aumentado, claro; colo com extensa mácula rubra periorificial, sem alterações. 1) Como se define o sintoma corrimento vaginal? É uma secreção, com aspecto variado, emitido pela vagina que se exterioriza pelo introito vaginal – exceto menstruação. 2) Quais informações devem ser obtidas na anamnese para a caracterização e investigação desse sintoma? CARACTERIZAÇÃO INVESTIGAÇÃO Cor Prurido/ardência Consistência Sintomas urinários Odor Dispareunia (dor durante a relação sexual) Relação com o ciclo menstrual Atividade sexual OBS: sinusorragia – sangramento durante a relação sexual. 3) Que informações devem ser obtidas no exame físico para caracterização e investigação desse sintoma? · Dor à palpação de hipogástrio; · Lesões vulvares (hiperemia, lesões por coçadura, bolhas); · Hiperemia das paredes vaginais; · Característica do conteúdo vaginal: cor, odor, consistência; · Característica do colo uterino: hiperemia, friabilidade (sangra facilmente), sensibilidade; · Dor à mobilização de útero e anexos. 4) Após a propedêutica adequada o diagnóstico foi de corrimento vaginal fisiológico. Quais as características deste tipo de corrimento? Conteúdo vaginal claro, com consistência variável no decorrer do ciclo menstrual: · Mais intenso a partir do 8 dia; · Pico em torno do 12 e 14 dia (periovulatório – “clara de ovo”) – pico de estrogênio · Segunda fase do ciclo menstrual (corrimento mais espesso) – pico de progesterona · Pré-menstruo (corrimento mais fluido – secreção endometrial) Não apresenta sintomas associados (prurido, dor pélvica, dispareunia...). 5) Qual a conduta? Orientação e explicação de que este tipo de corrimento é fisiológico. CORRIMENTO VAGINAL FISIOLÓGICO · Secreções vulvares: glândulas de Bartholin, glândulas de Skene e glândulas sebáceas · Conteúdo de origem vaginal: transudato da parede vaginal, células vaginais descamadas, microrganismos saprófitas (Lactobacillus acidophilus > 80%/ 20%: aeróbicos e anaeróbicos) – o epitélio vai se renovando. OBS.: O Lactobacillus acidophilus pega o glicogênio de uma célula que está escamando e o transforma em ácido lático e peróxido de hidrogênio, deixando o ambiente vaginal ácido. · Conteúdo de origem cervical: muco cervical, células cervicais descamadas · Conteúdo de origem endometrial: secreção endometrial, células endometriais descamadas A vagina não é um ambiente estéril. Porém, o pH ácido faz com que todo esse microambiente se mantenha em equilibro. Quando esse pH é desequilibrado, pode-se iniciar uma infecção – vaginose bacteriana, por exemplo. No caso de ingestão de antibiótico, há morte de parte da flora vaginal – oportunidade para manifestação de candidíase. MECANISMOS DE DEFESA VAGINAL · Barreira física: epitélio escamoso estratificado · Barreira química e imunológica: pH ácido e anticorpos IgA inespecíficos e IgG específicos · Microbiota saprófita: acúmulo de lactobacilos · Mecanismo de competição · Acidificação do meio · CC2 Marlene, 32 anos, queixa-se de corrimento vaginal amarelado, com odor desagradável, que piora durante a menstruação e o coito. Nega prurido ou outros sintomas vulvares ou vaginais; nega dor pélvica, dispareunia ou alterações urinárias. Nega doenças atuais ou pregressas e uso de medicamentos. Tem um único parceiro sexual há 10 anos; faz uso de anticoncepcional oral como método contraceptivo, não utilizando preservativo nas relações sexuais. Exame físico: conteúdo vaginal aumentado acinzentado, fluido; colo e paredes sem alterações. 6) Quais são as hipóteses diagnósticas após a realização da anamnese e do exame físico? Vaginose bacteriana – primeira hipótese. ASPECTOS CLÍNICOS · Secreção vaginal acinzentada de odor desagradável · Piora após o coito e com o fluxo menstrual (alcalinização do meio – ambiente vaginal): o sêmen é básico e a vagina ácida. Esse conteúdo dentro da vagina junto ao sêmen, libera aminas voláteis (putrecina/cadaverina), dando o odor de “peixe podre”. O sangue também é básico · Assintomática 50% dos casos DIAGNÓSTICO Pega-se uma lâmina, uma espátula e colhe-se a secreção da paciente. Nessa lâmina, são colocadas substâncias básicas para observar se libera cheiro: KOH – mesmo papel do sêmen e do sangue menstrual. · Critérios de Amsel: presença de 3 dos 4 critérios define o diagnóstico · Corrimento acinzentado ou branco acinzentado, homogêneo, fino · pH vaginal > 4,5 · Teste de aminas positivo (“Whiff test”)/ tricomoníase: positivo ou não/ candidíase: sempre negativo · Presença de “clue cells”ou células guias/células alvo (célula descamada vaginal normal entupida, aderida de bactérias) na avaliação da secreção vaginal por microscopia a fresco 7) Qual a propedêutica adequada ao caso? 8) A conclusão diagnóstica foi vaginose bacteriana. Explique o que é vaginose e como, possivelmente, se chegou a esse diagnóstico. É uma alteração da microbiota vaginal – não é um processo infeccioso. É uma síndrome clinica polimicrobiana caracterizada pela ausência de lactobacilos e por crescimento excessivo de organismos anaeróbicos facultativos, com proliferação de uma flora mista. Só é tratada em determinados casos específicos e se a paciente tem queixas. OBS: a professora disse vai considerar pH, teste da lâmina (positivo ou negativo) e como é a lâmina fresca para fechar o diagnóstico. 9) Qual a conduta adequada ao caso? Tratamento com metronidazol – comprimido ou vaginal (um ou outro). Três meses depois, Marlene comparece à UBS, assintomática, para realizar coleta de colpocitologia oncótica (“preventivo”). Ao exame percebe-se conteúdo vaginal moderado, com odor desagradável; colo uterino e paredes vaginais sem alterações, semelhante ao quadro anteriormente apresentado. 10) Qual a conduta? Nenhuma, pois a paciente encontra-se assintomática. No final da consulta, Marlene relata que está com atraso menstrual (DUM há 45 dias), fez teste de farmácia e foi positivo. Acha que está grávida. 11) Essa informação influencia na conduta traçada no item anterior? Na gravidez se faz o tratamento obrigatoriamente com metronidazol ou clindamicina. O tratamento deve ser recomendado para mulheres assintomáticas, grávidas, na presença de comorbidades, ou com potencial risco de complicações (previamente à inserção de DIU, cirurgias ginecológicas e exames invasivos no trato genital). · CC3 Priscila, 27 anos, refere prurido vulvar há 5 dias, que se intensificou nas ultimas 24 horas. Corrimento vaginal concomitante, esbranquiçado e grumoso. Iniciou tratamento para sinusite com amoxacilina-clavulanato há 15 dias. Nega dor pélvica, dispaurenia, alterações urinárias, doenças atuais ou pregressas e uso de medicamentos. Tem um único parceiro sexual há 3 meses; faz uso de anticoncepcional oralcomo método contraceptivo e utiliza preservativo de forma adequada em todas as relações sexuais. Exame físico: vulva hiperemiada e edemaciada com diversas escarificações por coçadura; conteúdo vaginal aumentado brancacente, grumoso; colo e paredes vaginais hiperemiadas. 12) Qual é a principal hipótese diagnóstica? Candidíase/vulvovaginite fúngica. ASPECTOS CLÍNICOS · Corrimento vaginal branco, grumoso e inodoro · Teste das aminas: negativo · Disúria externa: ardência causada pela urina · Hiperemia vaginal · Edema de vulva · Prurido intenso 13) Quais são as etapas necessárias para a confirmação diagnóstica? O que se espera encontrar em cada uma delas? · pH < 4,5 · Teste das aminas negativo · Microscopia: leucócitos abundantes, presença de hifas e esporos 14) Qual a conduta? Miconazol creme por 7 dias (primeira opção) ou nistatina creme 14 dias. Fluconazol 150 mg dose única.
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