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Direito Civil 
Nairo José Borges Lopes 
 
 
A Persistência da Memória (Salvador Dalí, 1931) 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 1 
 
1 FATOS JURÍDICOS. CLASSIFICAÇÃO E 
EFEITOS 
 
 
"O real não está nem na saída, nem na chegada: ele se dispõe para a gente 
é no meio da travessia." (Riobaldo, o filósofo do Sertão de Guimarães 
Rosa) 
 
 A vida é uma sucessão de acontecimentos, de fatos originados por vezes da força 
da natureza e em outras oportunidades da conduta humana. O valor e o efeito desses 
fatos não são iguais. A norma jurídica é que irá dar valor a esses fatos, qualificando-os, 
adjetivando-os e juridicizando-os (Fato – Valor – Norma). 
 Os fatos são relevantes para o direito quando interferem, direta ou indiretamente, no 
relacionamento intersubjetivo (inter-humano), afetando de algum modo o equilíbrio ou a 
posição entre as pessoas (físicas e/ou jurídicas) em sociedade (relações jurídicas). Dada a 
relevância, a norma imputa certos efeitos e/ou consequências quando esses fatos 
ocorrem. 
 
FATO JURÍDICO E FATO MATERIAL (AJURÍDICO) 
 
 O fato jurídico se caracteriza pela produção de efeitos jurídicos, por isso se 
diferencia do fato material, que não produz efeitos jurídicos relevantes ou merecedores de 
consideração. 
 Não importa a NATUREZA INTRÍNSECA DO FATO (o fato em si), mas sim a 
produção de EFEITOS NORMATIZADOS. 
Uma chuva de granizo pode ou não ser fato jurídico, a depender de seus efeitos. 
 Assim, o Direito está contido no Mundo Fático. 
 
Para que um acontecimento pertença ao mundo jurídico, é preciso que ele passe por 
diferentes momentos: 
1) Definição pela norma jurídica da hipótese fática merecedora de qualificação; 
2) Concreção da hipótese definida na realidade (realização concreta da hipótese); 
3) Incidência automática da norma sobre a hipótese; 
4) Juridicização do acontecimento. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 2 
 
Exemplo: nascimento 
 
Ou, de forma mais simples (Maria Helena Diniz): 
1) Fato: qualquer evento que atue sobre o direito subjetivo + 
2) Juridicização: declaração/incidência da norma jurídica que confere efeitos ao fato 
(direito objetivo). 
 
DEFINIÇÃO DE FATO JURÍDICO E A QUESTÃO DOS EFEITOS 
 
Duas definições podem ser dadas sobre os fatos jurídicos, levando em conta (ou 
não) a produção de efeitos: 
 - Caio Mário da Silva Pereira: fatos jurídicos são os acontecimento em virtude dos 
quais começam, se modificam ou se extinguem as relações jurídicas. 
 - Washington de Barros Monteiro: fatos jurídicos são os acontecimentos 
contemplados pela lei, dos quais decorrem o nascimento, subsistência e perda dos 
direitos. 
 Veja-se que todas definições levam em conta apenas os efeitos jurídicos do fato 
(aquisição, modificação, conservação e extinção). Porém, existem fatos jurídicos que nem 
sempre produzirão efeitos, fugindo, assim, da definição desses autores. 
 Nelson Rosenvald cita o caso do testamento, que, uma vez revogado, jamais 
produzirá efeitos, mas mesmo assim é considerado fato jurídico. Seus efeitos seriam 
produzidos após a morte, mas se revogado deixará de existir, sem nunca ter produzido 
efeito algum (entendimento semelhante é adotado por Pontes de Miranda e Pietro 
Perlingieri). 
 A conceituação adequada do fato jurídico deverá levar em conta essa possibilidade 
de ocorrência dos efeitos. 
 Assim, os efeitos estão no ato apenas em potência. Poderão vir a ocorrer, porém, 
isso não o descaracteriza como fato jurídico. 
CONCEITO DE FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO 
é o acontecimento natural ou humano capaz de produzir 
efeitos (criar, modificar, conservar ou extinguir direitos ou 
situações jurídicas concretas) na ordem jurídica. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 3 
 
 
 
CLASSIFICAÇÃO (CONFORME CARLOS ROBERTO 
GONÇALVES) 
 
FATOS NATURAIS 
 
 Os fatos naturais, também denominados fatos jurídicos em sentido estrito, 
dividem-se em: 
■ ordinários, como o nascimento e a morte, que constituem respectivamente o 
termo inicial e final da personalidade, bem como a maioridade, o decurso do tempo; 
■ extraordinários, que se enquadram, em geral, na categoria do fortuito e da força 
maior: terremoto, raio, tempestade etc. 
 
FATOS HUMANOS LÍCITOS – ATOS LÍCITOS OU ATOS 
JURÍDICOS EM SENTIDO AMPLO 
 
 Os atos lícitos dividem-se em: 
 ■ ato jurídico em sentido estrito ou meramente lícito; 
 ■ negócio jurídico; e 
 ■ ato-fato jurídico. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 4 
 
 Nos dois primeiros exige-se a manifestação de vontade. No último, não há 
manifestação de vontade, daí sua natureza híbrida. 
 
ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO. 
 
 Quando o ato e seus efeitos (consequências) já se encontram previstas na lei, 
não havendo, por isso, qualquer dose de escolha da categoria jurídica. 
 Exemplos: 
(1) a notificação, que constitui em mora o devedor, 
 (2) o reconhecimento de filho e adoção, 
 (3) a tradição, 
 (4) a ocupação 
 (5) o uso de uma coisa 
 (6) casamento. 
 
 A ação humana se baseia NÃO numa vontade qualificada, mas em simples 
intenção, como quando alguém fisga um peixe, dele se tornando proprietário graças ao 
instituto da ocupação. O ato material dessa captura não demanda a vontade qualificada 
que se exige para a formação de um contrato, p. ex.. Por essa razão, nem todos os 
princípios do negócio jurídico, como os vícios do consentimento e as regras sobre nulidade 
ou anulabilidade, aplicam-se aos atos jurídicos em sentido estrito não provenientes de uma 
declaração de vontade, mas de simples intenção (CC, art. 185) 
 Quando se adota ou reconhece um filho, não é possível selecionar os efeitos que 
incidirão sobre esse ato jurídico. A paternidade deve ser exercida de forma completa e nos 
termos do que a lei já determina, não havendo margem de escolha, do tipo exercer os 
deveres de pai somente aos finais de semana etc. 
 
NEGÓCIO JURÍDICO 
 
 É, em regra, bilateral. Exige vontade qualificada. Permite a criação de situações 
novas e a obtenção de múltiplos efeitos. A manifestação de vontade tem finalidade 
negocial: criar, modificar e extinguir direitos. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 5 
 
 Mas há negócios jurídicos unilaterais, em que ocorre o seu aperfeiçoamento com 
uma única manifestação de vontade e se criam situações jurídicas: testamento, 
instituição de fundação, doação etc. 
 
ATO-FATO JURÍDICO 
 
 Criação: Pontes de Miranda 
 Acontecimento ocasional produzido pelo homem que possui relevância jurídica: 
achar tesouro (CC 1.264). É fato humano, porém sem a manifestação da vontade. 
 
 Dá-se valor à consequência do ato, o fato resultante, sem se levar em 
consideração a vontade de praticá-lo. Muitas vezes, o efeito do ato não é buscado nem 
imaginado pelo agente, mas é fruto de uma conduta e é protegido pela lei, como no caso 
da pessoa que acha, casualmente, um tesouro. A conduta do sujeito não tinha por fim 
imediato adquirir-lhe a propriedade do tesouro (metade do tesouro), mas isso acaba 
ocorrendo, por força do disposto no art. 1.264 do Código Civil, ainda que se trate de um 
absolutamente incapaz. É que há certas ações humanas que a lei encara como fatos, sem 
levar em consideração a vontade, a intenção ou a consciência do agente, demandando 
apenas o ato material de achar. 
 Assim, o louco, pelo simples achado do tesouro, torna-se proprietário de parte dele. 
Essas ações são denominadas pela doutrina atos-fatos jurídicos, expressão divulgada 
por Pontes de Miranda 
 
ATOS ILÍCITOS 
 
 Não criam direitos, mas deveres e obrigações 
 Os atos ilícitos, por serem praticados em desacordo com o prescrito no 
ordenamento jurídico, em vez de direitos, criam deveres, obrigações. 
 Ato ilícito é fonte de obrigação: a de indenizar ou ressarcir o prejuízo causado. É 
praticado com infração a um dever de conduta, por meio de ações ou omissões culposas 
ou dolosas do agente, das quais resulta dano para outrem (CC, arts. 186 e 927). 
EFEITOS (CONSEQUÊNCIAS) DOS FATOSJURÍDICOS 
 A corrente majoritária sobre o fato jurídico e seus efeitos leva em consideração que 
fato jurídico é aquele que importa ao Direito porque possui capacidade de criar, modificar, 
conservar e extinguir direitos ou relações jurídicas (Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona). 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 6 
 
 Nelson Rosenvald utiliza a expressão ―consequências dos fatos jurídicos‖. 
 Aquisição, modificação, conservação e extinção dos direitos. 
AQUISIÇÃO DE DIREITOS 
 
 CONCEITO: ―A aquisição de um direito é a sua conjunção [incorporação, união, 
encontro] com seu titular.‖ O direito de propriedade se adquire quando alguém dele se 
torna dono, por exemplo. 
 
 FORMAS DE AQUISIÇÃO: 
 
 Os DIREITOS DE PERSONALIDADE adquirem-se pelo mero nascimento com vida 
(art. 2º). 
 Os DIREITOS PATRIMONIAIS se adquirem de das seguintes formas, as quais não 
são excludentes, mas se completam quando possível: 
a) Modo originário: a aquisição não tem relação com nenhum titular anterior. Não 
há transferência do direito (não há translatividade, nem relação de sucessão). O 
direito surge pela primeira vez. 
Ex.: ocupação de uma coisa abandonada (CC 1263) 
Avulsão (CC 1251); 
Caça e a pesca; 
Usucapião (CC 1238 e 1260. 
 
b) Modo derivado: ocorre a aquisição a partir de uma transmissão de direitos entre 
uma pessoa e outra (há sucessão). Nesse caso, o direito é adquirido com todas 
as qualidades ou defeitos do título anterior, visto que ninguém pode transferir 
mais direitos do que tem. 
Ex.: compra e venda de um bem. 
Ex.: se há uma hipoteca ou servidão num imóvel, ela será transferida ao adquirente 
(ninguém pode transferir mais direitos do que tem) 
 
 Quanto às vantagens para as partes: 
a) Gratuita: quando só o adquirente aufere vantagem. 
Ex.: herança; doação pura (sem encargo); 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 7 
 
 
b) Onerosa: quando se exige do adquirente uma contraprestação, possibilitando a 
ambos a obtenção de benefícios, como na compra e venda e locação. 
 
 Quanto à sua EXTENSÃO, a aquisição pode ser: 
 
a) a título singular — a que ocorre no tocante a bens determinados: em relação ao 
comprador de um imóvel, por exemplo, na sucessão inter vivos, e em relação ao 
legatário, na sucessão causa mortis; 
 
b) a título universal — quando o adquirente sucede o seu antecessor na totalidade de 
seus direitos, como se dá com o herdeiro (herança sem testamento). 
 
 Quanto ao TEMPO da aquisição: 
a) direito atual: é o direito subjetivo já formado e incorporado ao patrimônio da 
pessoa, podendo já ser exercido. 
Ex.: Direitos da personalidade, compra e venda de um bem móvel. 
 
b) Direito futuro: é o que ainda não se constituiu por completo, não podendo ser 
exercido. Há fatos pendentes que precisam ocorrer para a aquisição completa. A 
―aquisição ocorre gradativamente‖. 
Ex.: se se compra uma casa a prestações mensais, a aquisição da propriedade 
somente ocorrerá com o pagamento da última parcela (CC 524)1. 
 
c) expectativa de direito: mera possibilidade ou esperança de se adquirir um direito, 
como o direito dos filhos herdarem bens dos pais quando estes morrerem. A 
expectativa não é amparada pelo direito. 
Ex.: as tratativas iniciais de um contrato não geram o direito de realizar a avença; 
direito de herança em vida. 
 
 
1
 Art. 524. A transferência de propriedade ao comprador dá-se no momento em que o preço esteja 
integralmente pago. Todavia, pelos riscos da coisa responde o comprador, a partir de quando lhe foi 
entregue. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 8 
 
d) Direito eventual: é um direito incompleto, porém já iniciado, já passada a fase 
preliminar. Desfruta de proteção jurídica. Depende de evento futuro para ser, de 
fato, exercido. Ver art. 130 CC2. 
Ex.: contratos aleatórios (seguro – art. 757, CC); aceitação de proposta de compra e 
venda (CC 434, primeira parte)3. Venda de coisa alheia: vender algo que ainda não possui, 
deve-se aguardar adquiri-la. 
 
e) Direito condicional: depende da ocorrência de alguma condição (evento futuro e 
incerto – CC 121), porém já se encontra completamente constituído. Apenas sua 
eficácia fica dependente do evento, que é elemento externo ao ato. 
Ex.: um advogado propõe que seu estagiário tornará sócio se este se formar em 
Direito. 
CONSERVAÇÃO DE DIREITOS: 
 
 Para resguardar ou conservar seus direitos, muitas vezes, necessita o titular tomar 
certas medidas ou providências preventivas ou repressivas, judiciais ou extrajudiciais. 
As relações econômicas e sociais tornam inevitável e constante o conflito de interesses e a 
violação de direitos. 
 Medidas de caráter preventivo: ANTES da VIOLAÇÃO. 
Visam garantir e acautelar o direito contra futura violação. Podem ser: 
 a) de natureza extrajudicial: asseguram o cumprimento de obrigação, como as 
garantias reais (hipoteca, penhor, alienação fiduciária em garantia etc.) e as pessoais 
(fiança, aval); e 
 b) de natureza judicial: correspondentes às medidas cautelares (urgentes) 
previstas no Código de Processo Civil (arresto, sequestro, caução, busca e apreensão, 
protesto, notificação, interpelação, interdito proibitório – ameaça etc.). 
 Medidas de caráter repressivo: DEPOIS da VIOLAÇÃO. 
Visam restaurar o direito violado. A pretensão é deduzida em juízo por meio da ação. 
Ao Poder Judiciário compete dirimir os conflitos de interesses, salvo as hipóteses de 
escolha pelas partes do sistema de mediação e arbitragem. Nessa linha, dispõe a 
Constituição Federal que ―a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça a direito‖ (art. 5º, XXXV). 
 
2
 Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar 
os atos destinados a conservá-lo. 
3
 Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto: 
I - no caso do artigo antecedente; 
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; 
III - se ela não chegar no prazo convencionado. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 9 
 
 A defesa privada ou autotutela só é admitida excepcionalmente, porque pode 
conduzir a excessos e injustiças. É prevista no art. 188, I e II, do Código Civil4, no caso 
de legítima defesa, exercício regular de um direito e estado de necessidade, e no capítulo 
da posse, em que se permite ao possuidor fazer uso da legítima defesa e do desforço 
imediato para manter-se ou restituir-se na posse por sua própria força, contanto que o faça 
logo e não se exceda (art. 1.210, §1º)5. 
MODIFICAÇÃO DE DIREITOS: 
 
 Os direitos subjetivos nem sempre conservam as características iniciais e 
permanecem inalterados durante sua existência. Podem sofrer mutações quanto ao seu 
objeto, quanto à pessoa do sujeito e, às vezes, quanto a ambos os aspectos. 
 A manifestação da vontade, com finalidade negocial, pode objetivar não apenas a 
aquisição e a conservação de direitos mas também sua modificação. 
 A modificação dos direitos pode ser: 
■ Objetiva: quando diz respeito ao seu objeto. 
 Pode ser: 
 a) qualitativa — o conteúdo do direito se converte em outra espécie, sem que 
aumentem ou diminuam as faculdades do sujeito. 
Ex.: dação em pagamento: é o caso, por exemplo, do credor por dívida em dinheiro 
que anui/concorda em receber determinado objeto, do mesmo valor, a título de dação em 
pagamento; e 
 b) quantitativa — o objeto aumenta ou diminui no volume ou extensão, sem 
também alterar a qualidade do direito. 
Ex.: aluvião (art. 1250, CC): quando o proprietário de um terreno ribeirinho constata o 
acréscimo de terras nele havido em decorrência do fenômeno da aluvião. 
 ■ Subjetiva: quando diz respeito à pessoa do titular, permanecendo inalterada a 
relação jurídica primitiva. 
 Alteração inter vivos: 
 Ex.: a cessão de crédito (art. 286), a desapropriação (art. 1.228, §3º) e aalienação são exemplos da primeira hipótese. 
 
4
 Art. 188. Não constituem atos ilícitos: 
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; 
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. 
5
 Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e 
segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. 
§ 1
o
 O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que 
o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou 
restituição da posse. 
 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 10 
 
 
 Alteração causa mortis: na sucessão causa mortis, desaparece o titular do 
direito, que se transmite incontinenti (imediatamente) aos herdeiros com a 
morte do de cujus. 
 O caso dos direitos personalíssimos: 
 Certos direitos, por serem personalíssimos, constituídos intuitu personae, são 
insuscetíveis de modificação subjetiva, como sucede com os direitos de família puros. 
EXTINÇÃO DE DIREITOS: 
 
 Por diversas razões podem extinguir-se os direitos. Costumam ser mencionadas, 
dentre outras, as seguintes: o perecimento do objeto sobre o qual recaem, alienação, 
renúncia, abandono, falecimento do titular de direito personalíssimo, prescrição, 
decadência, confusão, implemento de condição resolutiva, escoamento do prazo, 
perempção da instância e desapropriação. 
 Algumas causas de extinção dos direitos podem ser: 
 a) subjetivas: quando o direito é personalíssimo e morre o seu titular. 
 Ex.: direito de preferência (CC 520)6; direito de revogar a doação (CC 560)7; 
 b) objetivas: perecimento do objeto sobre o qual recaem. 
 Ex.: extinção do penhor (CC 1.436, II)8, campo invadido pelo mar etc.; 
 c) concernentes ao vínculo jurídico: perecimento da pretensão ou do próprio 
direito material, como na prescrição e na decadência. 
 Outros tipos de perda ou extinção: 
 Alienação: transferência de um objeto a outro titular. A perda ocorre para o primeiro 
titular 
 Renúncia: o titular de um direito (crédito, por exemplo) desiste de exercê-lo, 
renuncia a ele. 
 Abandono: intenção do titular deixar a coisa porque não deseja mais ser seu dono. 
Ex.: jogar fora um objeto 
 
 
6
 Art. 520. O direito de preferência não se pode ceder nem passa aos herdeiros. 
7
 Art. 560. O direito de revogar a doação não se transmite aos herdeiros do doador, nem prejudica os do 
donatário. Mas aqueles podem prosseguir na ação iniciada pelo doador, continuando-a contra os herdeiros 
do donatário, se este falecer depois de ajuizada a lide. 
8
 Art. 1.436. Extingue-se o penhor: (...) 
II - perecendo a coisa; 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 11 
 
2 NEGÓCIO JURÍDICO E SUA CLASSIFICAÇÃO 
 
CONCEITO 
 
 Surgimento da denominação: 1749, na Alemanha. 
 Formulação doutrinária: Savigny 
 Os negócios jurídicos (por exemplo, os contratos) são, provavelmente, o tipo mais 
importante de atos jurídicos (sentido amplo = fatos humanos). Além de serem fenômenos 
da vontade, são fruto das necessidades econômicas e sociais das mais diversas. 
Realizamos negócios jurídicos muitas vezes não por querermos fazê-lo, mas por 
necessidade, umas mais urgentes, outras nem tanto. 
 
NEGÓCIO JURÍDICO é o acordo de vontades, que 
surge da participação humana e projeta efeitos 
desejados e criados por ela, reconhecidos pelo 
Direito, tendo por fim (finalidade negocial) a 
aquisição, modificação, transferência, conservação 
ou extinção de direitos. 
É uma composição de interesses. 
 Francisco Amaral (apud GONÇALVES, 2010, p. 318-319): Negócio jurídico é ―a 
declaração de vontade privada destinada a produzir efeitos que o agente pretende e 
o direito reconhece. Tais efeitos são a constituição, modificação ou extinção de 
relações jurídicas, de modo vinculante, obrigatórios para as partes intervenientes.‖ 
 
TEORIA ADOTADA PELO CC 2002 
TEORIA VOLUNTARISTA (TEORIA DA VONTADE). É dominante no Brasil, por exemplo, 
pela expressão do art. 112 do CC (nas declarações de vontade se atenderá mais à 
intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem). 
 
 Vontade = elemento volitivo = elemento propulsor do ato negocial 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 12 
 
 
A VONTADE DEVE GUARDAR SINTONIA COM OS VALORES CONSTITUCIONAIS, A 
ORDEM PÚBLICA E O SOLIDARISMO SOCIAL (VIDE PRINCÍPIO DA SOCIALIDADE) 
 Na teoria objetivista, que não é dominante entre nós, o negócio jurídico seria mais 
um meio concedido pelo ordenamento jurídico para a produção de efeitos jurídicos 
desejados pelas partes. 
 
TRANSFORMAÇÃO DA TEORIA DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 
 Possui relação com a própria modificação da teoria da vontade, que abandona a 
igualdade formal em busca da igualdade material e da proteção da pessoa humana. 
 Veja-se o exemplo do contrato de adesão, que leva em conta a sociedade de massa 
(relações jurídicas em massa, em grande quantidade), principalmente no âmbito do direito 
do consumidor. O contrato de adesão é aquele no qual o aderente (contratante) não pode 
negociar e discutir as cláusulas, mas tão-somente aderir ao pré-estabelecido pela outra 
parte. 
 A modificação na teoria do negócio jurídico diz respeito à aplicação dos princípios 
constitucionais nas relações negociais, que devem prezar pelo solidarismo social, 
buscando proteger quem tem menos poder na relação jurídica. A vontade das partes 
continua sendo o elemento principal do negócio, mas ela deve observar normas de caráter 
equitativo (justo), em busca do bem comum. 
Entram em cena os conceitos de boa-fé objetiva, proteção da confiança, função 
social do contrato. 
 Ex.: proteção da confiança => apresentação de cheque pós-datado: se uma 
empresa diz para seu cliente que admite o pagamento de cheque pós-datado (―bom para‖) 
e, no dia seguinte o deposita (antes de vencido o prazo combinado), houve a quebra de 
confiança (boa-fé objetiva), podendo a empresa sujeitar-se à indenização pelo dano moral 
cometido contra o cliente (Sum. 370 STJ). 
CLASSIFICAÇÃO 
 
 Os negócios jurídicos podem ser mais bem estudados se divididos em grandes 
grupos (classes), com diversidade de regimes legais, segundo vários critérios. A doutrina 
não é uníssona (pacífica) quanto à classificação. Adotaremos a classificação de Carlos 
Roberto Gonçalves. Segundo o referido autor, na classificação são considerados: 
■ número de declarantes; 
■ vantagens para as partes; 
■ momento da produção dos efeitos; 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 13 
 
■ modo de existência; 
■ formalidades a observar; 
■ número de atos necessários; 
■ modificações que podem produzir; 
■ modo de obtenção do resultado etc. 
 Abaixo, trataremos das principais: 
 
1 UNILATERAIS, BILATERAIS E PLURILATERAIS 
 
 Quanto ao número de declarantes ou de manifestações de vontade necessárias 
ao seu aperfeiçoamento (à sua constituição), os negócios jurídicos classificam-se em 
unilaterais, bilaterais e plurilaterais. 
 
 ■ Unilaterais: são os que dependem de uma única manifestação de vontade, 
como ocorre no testamento, no codicilo, na instituição de fundação, na renúncia de 
direitos, na procuração, nos títulos de crédito, na confissão de dívida, na renúncia à 
herança e na promessa de recompensa. Subdividem-se em: 
a) receptícios: aqueles em que a declaração de vontade tem de se tornar 
conhecida do destinatário para produzir efeitos, como ocorre na denúncia ou resilição 
(art. 473, CC) de um contrato e na revogação de mandato (art. 682, I, CC); e 
b) não receptícios: aqueles em que o conhecimento por parte de outras pessoas é 
irrelevante, como se dá no testamento. 
 
 ■ Bilaterais: são os que dependem de duas manifestações de vontade 
coincidentes sobre o objeto. Essa coincidência chama-seconsentimento mútuo ou 
acordo de vontades, que se verifica nos contratos em geral. Subdividem-se em: 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 14 
 
a) bilaterais simples: aqueles em que somente uma das partes aufere vantagens, 
enquanto a outra arca com os ônus, como ocorre na doação pura (art. 538, CC) e no 
comodato (art. 579, CC); e 
b) sinalagmáticos: aqueles que outorgam ônus e vantagens recíprocos, como na 
compra e venda e na locação. Essa denominação deriva do vocábulo grego sinalagma, 
que significa contrato com reciprocidade. Podem existir várias pessoas no polo ativo e 
também várias no polo passivo sem que o contrato deixe de ser bilateral pela existência de 
duas partes. Dizer ―partes‖ significa identificar de que lado do negócio elas estão. Uma 
parte podem incluir várias pessoas. Por exemplo, na compra e venda de imóvel. Marido e 
mulher podem estar do mesmo lado (vendedores), formando, assim, a mesma ―parte‖ no 
negócio. 
 ■ Plurilaterais: são os contratos que envolvem mais de duas partes, como o 
contrato de sociedade com mais de dois sócios e os consórcios de bens móveis e 
imóveis. As deliberações, nesses casos, decorrem de decisões da maioria (decisão 
colegiada). 
 
2 GRATUITOS E ONEROSOS, NEUTROS E BIFRONTES 
 
 Em relação às vantagens patrimoniais que podem produzir, os negócios jurídicos 
classificam-se em gratuitos e onerosos, neutros e bifrontes. 
 ■ Negócios jurídicos gratuitos são aqueles em que só uma das partes aufere 
vantagens ou benefícios (se assemelha ao bilateral simples), como ocorre na doação 
pura e no comodato. Não há contraprestação da outra parte. 
 ■ Negócios jurídicos onerosos são aqueles em que ambos os contratantes 
auferem vantagens, às quais, porém, corresponde uma contraprestação da outra parte. 
Exemplos: compra e venda (CC 481), a locação (CC 565 e Lei. 8.245/1991), a 
empreitada (CC 610) etc. Todo negócio oneroso é bilateral, porque a prestação de uma 
das partes envolve uma contraprestação da outra. Mas nem todo ato bilateral é oneroso. 
Doação é contrato (negócio jurídico bilateral), porém gratuito. O mesmo ocorre com o 
comodato e pode ocorrer com o mandato. Os negócios onerosos subdividem-se em: 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 15 
 
a) comutativos: de prestações certas e determinadas. As partes podem antever as 
vantagens e os sacrifícios, que geralmente se equivalem, decorrentes de sua celebração, 
porque não envolvem nenhum risco. Ex.: compra e venda; e 
b) aleatórios: caracterizam-se pela incerteza, para as duas partes, sobre as 
vantagens e sacrifícios que deles pode advir. É que a perda ou lucro dependem de um fato 
futuro e imprevisível. O risco é da essência do negócio, como no jogo e na aposta (CC 
814). 
 
 ■ Negócios jurídicos neutros são os que se caracterizam pela destinação dos 
bens. Não podem ser incluídos na categoria dos onerosos nem dos gratuitos, pois lhes 
falta atribuição patrimonial. Em geral, coligam-se aos negócios translativos, que têm 
atribuição patrimonial. Enquadram-se nessa modalidade os negócios que têm por 
finalidade a vinculação de um bem, como o que o torna indisponível pela cláusula de 
inalienabilidade (impede a venda, doação etc. do bem) e o que impede a sua 
comunicação ao outro cônjuge mediante cláusula de incomunicabilidade (o bem deixa 
de ser partilhável em caso de eventual divórcio – CC 1668, I). A instituição do bem de 
família, a renúncia abdicativa (CC, 1804, parágrafo único), que não aproveita a quem 
quer que seja, e a doação remuneratória (CC 540) também podem ser lembradas. 
 ■ Negócios jurídicos bifrontes são os que podem ser onerosos ou gratuitos, 
segundo a vontade das partes, como o mútuo (CC 586), o mandato (CC 653), o depósito 
(CC 627). A conversão só se torna possível se o contrato é definido na lei como negócio 
gratuito, pois a vontade das partes não pode transformar um contrato oneroso em benéfico 
(gratuito), visto que subverteria sua causa. Nem todos os contratos gratuitos podem ser 
convertidos em onerosos por convenção das partes. A doação e o comodato, por exemplo, 
ficariam desfigurados se tal acontecesse, pois se transformariam, respectivamente, em 
venda e locação. 
 
3 ―INTER VIVOS‖ E ―MORTIS CAUSA‖ 
 
 Levando-se em conta o momento da produção dos efeitos, os negócios jurídicos 
dizem-se inter vivos e mortis causa. 
 ■ Inter vivos: destinam-se a produzir efeitos desde logo, isto é, estando as partes 
ainda vivas, como a promessa de venda e compra (CC 1417), a locação, a permuta 
(CC 533), o mandato (CC 653), o casamento (CC 1511) etc. 
 ■ Mortis causa: são os negócios destinados a produzir efeitos após a morte do 
sujeito, como ocorre com o testamento (CC 1857), a doação estipulada em pacto 
antenupcial para depois da morte do testador. O evento morte, nesses casos, é 
pressuposto necessário à sua eficácia. Os negócios jurídicos mortis causa são sempre 
nominados ou típicos (já previstos na lei). 
 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 16 
 
4 PRINCIPAIS, ACESSÓRIOS E DERIVADOS 
 
 Quanto ao modo de existência, os negócios jurídicos denominam-se principais, 
acessórios e derivados. 
 ■ Principais são os que têm existência própria e autônoma. Não dependem da 
existência de qualquer outro, como a compra e venda (CC 481), a locação e a permuta. 
 ■ Acessórios são os que têm sua existência subordinada à do contrato principal, 
como se dá com a cláusula penal (CC 408), a fiança (CC 818), o penhor (CC 1431) e a 
hipoteca (CC 1473). Em consequência, como regra, seguem o destino do principal (o 
acessório segue o principal), salvo estipulação em contrário por vontade das partes ou pela 
lei. Desse modo, a natureza do acessório é a mesma do principal. Extinta a obrigação 
principal, extingue-se também a acessória, mas o contrário não é verdadeiro. 
 ■ Negócios derivados ou subcontratos são os que têm por objeto direitos 
estabelecidos em outro contrato, denominado básico ou principal (sublocação e 
subempreitada, p. ex.). Têm em comum com os acessórios o fato de que ambos são 
dependentes de outro. Diferem, porém, pela circunstância de o derivado participar da 
própria natureza do direito versado no contrato-base. Nessa espécie de contrato, um dos 
contratantes transfere a terceiro, sem se desvincular, a utilidade correspondente à sua 
posição contratual (uma parte ocupará o lugar da outra, que cedeu). O locatário, por 
exemplo, transfere a terceiro os direitos que lhe assistem, mediante a sublocação. O 
contrato de locação não se extingue, e os direitos do sublocatário terão a mesma extensão 
dos direitos do locatário, que continua vinculado ao locador. 
 
5 SOLENES (FORMAIS) E NÃO SOLENES (DE FORMA LIVRE) 
 
 Em atenção às formalidades a observar, os negócios jurídicos apresentam-se 
como solenes, também chamados de formais, e não solenes ou de forma livre. 
 ■ Solenes são os negócios que devem obedecer à forma prescrita em lei (forma 
estabelecida pela lei) para se aperfeiçoarem. Quando a forma é exigida como condição 
de validade do negócio, este é solene e a formalidade é ad solemnitatem ou ad 
substantiam, isto é, constitui a própria substância do ato (é da essência do negócio), 
como a escritura pública na alienação de imóvel acima de certo valor = + de 30 salários 
mínimos (CC 108), o testamento público como manifestação de última vontade (CC 
1.864), a renúncia da herança (instrumento público ou judicial - CC 1.806) etc. Todavia, 
determinada forma pode ser exigida apenas como prova do ato. Nesse caso, trata-se de 
uma formalidade ad probationem tantum, como ocorre com a lavratura do assento do 
casamento no livro de registro, determinada no art. 1.536 do Código Civil. Diz-se 
que, em regra, a formalidade é ad probationem nos casos em que o resultado do negócio 
jurídico pode ser atingido por outro meio. 
 ■ Não solenes são os negócios de forma livre. Basta o consentimento para 
a sua formação. Como a lei não reclama nenhuma formalidade para o seu 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 17aperfeiçoamento, podem ser celebrados por qualquer forma, inclusive a verbal. Podem 
ser mencionados como exemplos, dentre inúmeros outros, os contratos de locação e de 
comodato. Em regra, os contratos têm forma livre, salvo expressas exceções. Dispõe, 
com efeito, o art. 107 do Código Civil que ―a validade da declaração de vontade não 
dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir‖. 
 
6 DISPOSITIVOS E OBRIGACIONAIS 
 
 Levam em conta as modificações que podem produzir. Distinguem-se em 
dispositivos e obrigacionais. 
 
 ■ Dispositivos: são os utilizados pelo titular para alienar, modificar ou extinguir 
direitos. Pode o titular de um direito de natureza patrimonial dispor de seus direitos, por 
exemplo, concedendo remissão de dívida (perdão – CC 385), constituindo usufruto em 
favor de terceiro ou com a tradição (transferência de propriedade de coisas móveis – o ato 
de entregar o objeto do negócio jurídico). 
 ■ Obrigacionais: são os que, por meio de manifestações de vontade, geram 
obrigações para uma ou ambas as partes, possibilitando a uma delas exigir da outra o 
cumprimento de determinada prestação, como sucede nos contratos em geral. 
Frequentemente o negócio dispositivo completa o obrigacional. A alienação de uma 
propriedade, de natureza dispositiva, que se consuma com o registro do título ou da 
tradição, é precedida (quando algo vem antes) do contrato de compra e venda, de 
natureza obrigacional, pelo qual o adquirente se obriga a pagar o preço e o alienante a 
entregar a coisa objeto do negócio. 
 
7 REGRAS DE INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 
Algumas regras: 
a) nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada 
do que ao sentido literal da linguagem (CC 112). Prevalência da teoria da 
vontade; 
b) Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do 
lugar de sua celebração (CC 113); 
EMENTA: SEGURO DE VIDA. SUICÍDIO. ART. 798 DO CC/2002. 
PREMEDITAÇÃO. COMPROVAÇÃO PELA SEGURADORA. PRESUNÇÃO DE 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 18 
 
BOA-FÉ DO SEGURADO. I - Nos termos da reiterada jurisprudência do STJ, 
"A interpretação do art. 798, do Código Civil de 2002, deve realizar-se de 
modo a compatibilizar o seu ditame ao disposto nos arts. 113 e 422 do 
mesmo diploma legal, que evidenciam a boa-fé como um dos princípios 
norteadores da nova codificação civil. Nessa linha, o fato de o suicídio ter 
ocorrido no período inicial de dois anos de vigência do contrato de seguro, 
por si só, não autoriza a companhia seguradora a eximir-se do dever de 
indenizar, sendo necessária a comprovação inequívoca da premeditação 
por parte do segurado, ônus que cabe à seguradora, conforme as Súmulas 
105/STF e 61/STJ expressam em relação ao suicídio ocorrido durante o 
período de carência" (AgRg no AREsp 42273/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE 
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 18/10/2011, DJe 
25/10/2011). (TJMG - Apelação Cível 1.0324.12.004598-8/001, Relator(a): 
Des.(a) Mota e Silva , 18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 03/02/2015, 
publicação da súmula em 09/02/2015) 
c) Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se restritivamente (CC 
114); 
d) Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, 
dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente (CC 423); 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇAO COMINATÓRIA - CONTRATO 
COLETIVO DE PLANO DE SAÚDE - BENEFICIÁRIO - LEGITIMIDADE ATIVA - 
CIRURGIA DE QUADRIL - COLOCAÇÃO DE PRÓTESE - NEGATIVA DO 
PLANO DE SAÚDE PARA PAGAMENTO DA PRÓTESE - CLÁUSULA 
CONTRATUAL RESTRITIVA - ABUSIVIDADE - INTERPRETAÇÃO 
FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR - DANO MORAL - CONFIGURAÇÃO. 
 
Ainda que celebrado o contrato de seguro de saúde antes do advento da 
Lei 9.656/98, as previsões nele encerradas devem ser interpretadas em 
consonância com as disposições do Código de Defesa do Consumidor. 
 
A cláusula que limita ou restringe procedimentos cirúrgicos dos quais 
depende a vida do segurado são nulas por contrariarem a boa-fé, pois 
criam uma barreira à realização da expectativa legítima do consumidor, 
contrariando prescrição médica, provocando um desequilíbrio no contrato 
ao ameaçar o objetivo do mesmo, que é ter o serviço de saúde de que 
necessita o segurado, o que gera o dever de ressarcir o segurado que teve 
o procedimento cirúrgico negado. 
 
Gera dano moral indenizável a negativa de cobertura da prótese necessária 
ao sucesso da cirurgia de quadril, pois gera angústia e dor psicológica ao 
paciente, em virtude da incerteza sobre o tratamento da patologia sofrida. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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V.V. Des. Batista de Abreu. (TJMG - Apelação Cível 1.0024.12.279640-
2/001, Relator(a): Des.(a) Pedro Aleixo , 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 
23/10/2014, publicação da súmula em 30/10/2014) 
e) A transação interpreta-se restritivamente (CC 843); 
f) A fiança não admite intepretação extensiva (CC 819); 
g) A intenção das partes pode ser apurada pelo modo como vinham executando o 
contrato, na dúvida, da maneira menos onerosa ao devedor; 
h) As cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente, mas em 
conjunto com as demais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 20 
 
3 DOS DIFERENTES PLANOS/DIMENSÕES DO 
NEGÓCIO JURÍDICO. ESCADA PONTEANA 
 
 
 O Código Civil de 2002 inicia-se já com a abordagem dos planos do negócio 
jurídico.9 No caso do art. 104, os de validade. 
 A divisão do estudo do negócio jurídico em planos ou dimensões é de grande valia 
para a organização da disciplina, de modo que passa por todas as fases de constituição do 
negócio jurídico. 
 Assim, não tem como o negócio ser eficaz (gerar efeitos desejados pelo sujeito), se 
antes ele não for válido e, logicamente, existir. 
São, portanto, os planos do negócio jurídico: a existência, a validade e a eficácia. 
Os dois primeiros elementos do negócio jurídico são essenciais (sem eles não há negócio 
jurídico), o último (eficácia), que compreende a condição, o termo e o encargo, é elemento 
acidental, isto é, pode haver ou não. 
 Essa formulação gradativa se deve a Pontes de Miranda, importante civilista 
brasileiro. Por isso, alguns autores (como Flávio Tartuce) tratam os planos do negócio 
jurídico como ―Escada Ponteana‖. 
 
(Flávio Tartuce) 
 
9
 Isso porque as disposições que se seguem aplicam-se todas aos negócios jurídicos. Algumas delas é que 
se aplicam aos atos jurídicos em sentido estrito, conforme preceitua o art. 185. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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PLANO DA EXISTÊNCIA PLANO DA VALIDADE PLANO DA EFICÁCIA 
Manifestação de vontade Vontade livre e consciente 
 
Condição 
Termo 
Encargo 
Agente Agente capaz 
 
Objeto 
Objeto lícito, possível, 
determinado ou 
determinável 
Forma Prescrita ou não defesa em 
lei 
 
PLANO DA EXISTÊNCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO. 
 
O plano da existência contempla os elementos constitutivos abaixo elencados (na 
falta de um deles, o negócio não existirá). 
PLANO DA EXISTÊNCIA 
Manifestação de vontade 
Agente 
 
Objeto 
Forma 
 
Aqui somente se menciona os substantivos. 
Veja-se que não há previsão sobre a teoria da existência no Código Civil de 2002, 
pois o art. 104 já se inicia no plano da validade. Porém, por razões didáticas e, até mesmo, 
práticas, se considera o plano existencial. 
São esses os requisitos de existência do negócio jurídico. 
 
a) MANIFESTAÇÃO DA VONTADE: pressuposto básico do negócio jurídico. 
A manifestação de vontade, por vezes, é limitada pelo princípio da supremacia da 
ordem pública (fruto do princípio da socialidade), possibilitando que o Estado interfira na 
relação jurídica privada para promover a igualdade entre as partes (dirigismo contratual). 
Exemplo disso é a Lei do Inquilinato (locações) e, principalmente, o CDC. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERALPágina 22 
 
A vontade, uma vez manifestada, obriga o contratante (obrigatoriedade dos contratos 
pacta sunt servanda) 
Pode ser expressa, tácita ou presumida. 
 EXPRESSA: palavra escrita ou falada, gestos ou sinais. Tem que 
possibilitar o conhecimento imediato pela outra parte. 
 TÁCITA: resulta de um comportamento do agente (pronto pagamento após 
ser informado do preço; aceitação de herança, realizando atos próprios da 
qualidade de herdeiro – art. 1.805). Nos contratos a regra é que seja 
expressa 
 PRESUMIDA (é estabelecida pela lei): Silêncio: regra geral: art. 111, CC. EX.: 
art. 539, CC/2002 = aceitação de doação pura10; aceitação de herança (art. 
1.807) 
O silêncio pode ser interpretado como manifestação tácita da vontade quando a lei, 
as circunstâncias ou os usos e costumes o autorizarem (art. 111). A vontade, uma vez 
manifestada, obriga o contratante, segundo o princípio da obrigatoriedade dos contratos 
(pacta sunt servanda), ao qual se opõe o da onerosidade excessiva (art. 478). 
Finalidade negocial da vontade: intenção criar, conservar, modificar ou extinguir 
direitos; 
 
b) AGENTE EMISSOR: sem o sujeito (pessoa natural ou jurídica) não se pode falar em 
ato, mas simplesmente em fato jurídico em sentido estrito (fato natural) 
 
c) IDONEIDADE DO OBJETO: objeto é a coisa ou a utilidade física ou ideal que ela gera. 
É o bem em torno do qual giram os interesses das partes. A vontade deve recair sobre 
objeto apto, que possibilite a realização do negócio que se tem em vista, uma vez que 
cada contrato tem objeto específico. 
Ex.: Objeto do mútuo: bem fungível (art. 589, CC) 
 Comodato: bem infungível (art. 579, CC) 
 Prestação de serviços: a própria atividade do sujeito passivo 
 
d) FORMA: meio pelo qual a declaração de vontade se exterioriza. 
 
 
10 Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que 
o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação 
não for sujeita a encargo. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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PLANO DA VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO 
PLANO DA VALIDADE 
Vontade livre e 
consciente 
Agente capaz 
Objeto lícito, possível, 
determinado ou 
determinável 
Prescrita ou não defesa 
em lei 
 
Este plano contempla os requisitos para o negócio jurídico se tornar perfeito, ser 
válido. 
São verdadeiros qualificadores, adjetivos, a qualificar os elementos essenciais. 
Se faltar alguns dos elementos, o negócio é inválido (nulo ou anulável). 
O art. 104 do CC estabelece os requisitos de validade de caráter geral. Os 
requisitos de validade de caráter específico podem variar de acordo com cada negócio. 
Na compra e venda, os elementos essenciais a coisa, o preço e o consentimento. 
 
a) a CAPACIDADE DO AGENTE: é a aptidão para intervir e realizar negócio jurídico como 
sujeito. Trata-se da capacidade de fato (de exercício). A manifestação de vontade somente 
se faz válida e livre se o seu emissor possui plena capacidade para a prática dos atos da 
vida civil. 
 
b) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL 
- Lícito: que não contraria a lei, a moral ou os bons costumes. Pode ter outras 
denominações, como objeto jurídico ou imediato, que se denomina prestação (dar, 
fazer ou não fazer). O objeto material ou mediato é o bem sobre o qual incide a 
relação jurídica. 
- Possível: 
 Impossibilidade física do objeto: deve ser absoluta, desafiando as lei da natureza. 
Por exemplo, vender terreno na lua. Se a impossibilidade for relativa, aplica-se a regra do 
art. 106 do CC/2002. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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 Impossibilidade jurídica: quando o direito proíbe a realização dos negócios em 
relação a determinados objetos. Por exemplo, não se admite negócio sobre herança de 
pessoa viva (art. 426) ou sobre bens fora do comércio. 
- Determinado ou determinável: o determinável equivale a dizer relativamente 
indeterminado ou suscetível de determinação no momento da execução. Admite-se, por 
isso, a venda de coisa incerta (art. 243). Por exemplo, vender safra de café futura. 
 
c) FORMA PRESCRITA E NÃO DEFESA: a forma é o meio de revelação (de 
exteriorização) da vontade. Forma prescrita é aquela já determinada pela lei. Não defesa é 
a não proibida (não vedada) expressamente pelo ordenamento jurídico. A forma 
possibilitará, com maior ou menor segurança, a prova do negócio. 
 Existem dois sistemas para se determinar a forma: o consensualismo (forma livre) e 
o formalismo (forma obrigatória). O Brasil adotado o consensualismo, pois, em regra, a 
forma do negócio jurídico é livre, salvo se a lei, para maior segurança e seriedade, exigir 
forma específica, por exemplo escritura pública ou mesmo particular. Ver art. 107, do 
CC/2002. Ver também art. 166, IV e V, CC/2002. 
 Espécies de forma: 
 - livre (art. 107): predomina no direito brasileiro. É qualquer meio de manifestação 
de vontade; 
 - especial ou solene (artigos 108, 1.964; 1.609 e 62): exigida pela lei como 
requisito de validade do negócio; 
 - e contratual (art. 109): quando as próprias partes dizem qual forma deverá ser 
seguida. 
REGRAS DE REPRESENTAÇÃO 
Art. 115 a 120 
 Trata-se de regras sobre a validade da manifestação da vontade praticada por 
intermédio de terceiros, os representantes. A representação pode ser legal ou voluntária. 
 - Legal: representante legal dos menores (os pais), dos menos incapazes (os 
tutores) e dos maiores incapazes (os curadores). 
 - Convencional: se escolhe o representante, é voluntária. Um mandato 
(procuração). 
 
 
 
 
 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 25 
 
PLANO DA EFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO. 
ELEMENTOS ACIDENTAIS: CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO. 
Art. 121 e ss. 
PLANO DA EFICÁCIA 
Condição 
Termo 
Encargo 
 
FACULTATIVOS: Esses elementos são introduzidos facultativamente pela vontade 
das partes. Já os elementos de existência e validade são exigidos pela lei. Por isso, são 
autolimitações à vontade, pois as partes que escolhem quando inseri-los em um negócio. 
ATOS PATRIMONIAIS: Se aplicam nos atos de natureza patrimonial (compra e 
venda, doação), mas não nos de natureza pessoal (casamento, adoção, emancipação). 
 
CONDIÇÃO 
CONCEITO: Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando 
exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento 
futuro e incerto. O evento não pode ser certo como a morte (nesse caso será termo). 
Elementos: futuridade e incerteza. 
ESPÉCIES DE CONDIÇÃO 
 
a) quanto ao modo de atuação: 
 a) condição suspensiva (art. 125): os efeitos somente se produzirão se 
 ocorrer o evento futuro e incerto: 
 - Exemplos: doação: dou-te uma casa se/quando casar. 
 - Contrato de honorários com advogado: quando o pagamento dos 
honorários ficar condicionado ao término do processo 
 - Compra e venda: comprarei sua casa quando sair meu 
 financiamento. 
 
 b) condição resolutiva (art. 127): o negócio produz efeitos até que 
 ocorra o evento futuro e incerto. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 26 
 
 Ex.: - farei uma poupança em seu favor até você passar no 
 vestibular 
 - Doarei a você os alugueis de minha casa até você se formar 
 - A financeira (Banco) é proprietária do veículo (alienação 
 fiduciária) até que ocorra o integral pagamento das parcelas 
 - Empresto minha caso (ou meu carro) até você se formar 
 
b) Quanto à licitude: lícitas ou ilícitas. Deve respeitar a lei, a ordem pública e os 
bons costumes (padrão de moralidade média da sociedade). 
 
 a) Serão ilícitas quando (arts. 122 e 123)11: 
 - privarem de todo efeito o negócio jurídico (perplexas): compra e 
 venda de imóvel sob a condição do comprador não habitá-lo 
 - condições ilícitas ou de fazer coisa ilícita: doar um dinheiro se 
 alguém matar o desafeto do doador. 
 - Que proíba alguém de secasar (direito de liberdade individual) 
 - proibição de mudar de religião (direito de liberdade de crença/de 
 religião); 
 - obrigar a permanecer em determinado lugar 
 - as incompreensíveis ou contraditórias: empresto minha casa desde que 
 você não a use, more ou alugue 
 
c) quanto à possibilidade: a impossibilidade pode ser física ou jurídica. 
- as físicas ou juridicamente impossíveis: 
 
a) fisicamente impossíveis: ex.: dou-te um prêmio se você trazer um café em 
dois segundos; uma doação à pessoa se ela trouxer o mar até Minas Gerais); 
 
 
11 Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons 
costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o 
sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. 
Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: 
I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; 
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; 
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 27 
 
b) juridicamente impossíveis (doar um dinheiro à pessoa se ela renunciar ao 
seu trabalho) 
 
d) quanto à fonte: 
 a) casuais: dependem de caso fortuito, de fato alheio à vontade das 
 partes 
 - te darei tal quantia se chover amanhã 
 
 b) puramente potestativas: são arbitrárias (não pode) 
 decorrem da vontade exclusiva uma das partes. Se a eficácia do negócio se 
subordinar ao arbítrio de uma só das partes (de quem propõe), não se admite. Ex.: farei 
uma poupança em seu favor se se eu quiser 
 c) simplesmente potestativas: dependem da vontade de uma das partes, mas 
também de fatores externos. 
 - Promessa de doação de o beneficiado vencer um torneio esportivo. 
 
Quanto à realização ou ao estado em que se encontram, as condições dividem-se em: 
a) Pendente: enquanto ainda não se verifica ou não se frustra o evento futuro e 
incerto. Enquanto pendente a condição suspensiva, não ocorre a aquisição do 
direito. 
b) Implementada: Quando ocorre o evento futuro e incerto, diz-se que ou o 
implemento da condição. 
c) Frustrada: quando não ocorre a condição. Se suspensiva, considera que o negócio 
sequer existiu, muito embora possa o titular do direito eventual praticar atos de 
conservação do bem que irá receber (art. 130). 
 
TERMO 
CONCEITO: É o evento futuro e certo que subordina o início ou o término da 
eficácia jurídica de determinado negócio jurídico. 
Elementos: futuridade e certeza. 
Os negócios instantâneos, que se consumam em um ato só, não necessitam de 
previsão deste elemento (termo). 
 
Espécies: 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
Página 28 
 
 
Termo incerto: quando a data da ocorrência é incerta, mas sabe-se que ela 
ocorrerá (evento morte). Ex.: te venderei a casa quando meu pai, que nela habita, falecer) 
Termo certo: possui data definida no calendário, ou um lapso de tempo 
determinado para ocorrer. Ex.: me pagará em 20/05/2015; me pagará em 10 dias; ―bom 
para 30 dias‖ 
Termo inicial (dies a quo): é a data ou momento certo para início da produção 
dos efeitos do negócio jurídico. O direito já se adquire, porém se torna exigível (direito de 
cobrar, p. ex.) somente quando ocorrer o termo inicial. 
 Ex.: me prestará serviços de transporte a partir de fevereiro, quando começarem as 
aulas; os pagamentos das parcelas começarão em 30/60/90 dias. 
Termo final (dies ad quem): é a data ou momento que determina a extinção dos 
efeitos do contrato. 
 Ex.: prestará serviços até 25/10/2015; a última parcela será em 25/10/2015. 
 O espaço de tempo compreendido entre o termo inicial e o final se denomina 
 prazo. 
Termo convencional: fixados pelas partes 
Termo legal: determinado pela lei 
Termo de graça: concessão feita ao devedor para que cumpra a obrigação 
(prorrogação do vencimento) 
 
ENCARGO 
CONCEITO: é a determinação acessória acidental do negócio jurídico que impõe ao 
beneficiário um ônus a ser cumprido, em prol de uma liberalidade maior. É uma 
autolimitação da vontade. 
NÃO CUMPRIMENTO DO ENCARGOS 
 Exigir: ex. art. 553 (obrigatoriedade do encargo) 
 Revogar o negócio: Ex. art. 562 
 
CASOS 
 Doação de imóvel para Prefeitura construir escola, creche, lar de idosos etc. 
 Deixar herança (testamento) para alguém cuidar de pessoa, animal etc. 
 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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EXPRESSÕES: ―para que‖; ―com a obrigação de‖; ―com o encargo de‖ 
 
ENCARGOS ILÍCITOS OU IMPOSSÍVEIS: considera-se não escrito, salvo se for o 
motivo determinante do negócio, caso em que o invalidará (Art. 137) 
 No caso do art. 137, remanesce o negócio puro, principal. Se o encargo da doação 
é que o beneficiário faça uma viagem turística a Saturno, prevalecerá a doação, afastando 
o encargo impossível fisicamente. 
Porém, no caso de doar um valioso imóvel para que nele seja construída uma casa 
de prostituição, se invalidará tudo, porque o motivo determinante da doação é ilícito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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4 DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 
CONCEITO: são imperfeições que podem surgir no negócio jurídico, decorrentes de 
desvios e anomalias na formação da vontade ou na sua declaração. 
 
Vontade validade = livre e consciente e de boa-fé 
 
DEFEITOS = gênero 
 
 ESPÉCIES: 
a) Vícios do consentimento: afetam a formação da vontade (livre) 
1 - Erro ou ignorância 
2 - Dolo 
3 - Coação 
4 - Lesão 
5 - Estado de perigo 
b) Vícios sociais: afetam a declaração da vontade (boa-fé) 
1 - simulação 
2 - fraude contra credores 
 
1 ERRO OU IGNORÂNCIA 
 
CONCEITO: erro é a falsa percepção da realidade ao realizar o negócio jurídico. O total 
desconhecimento da realidade caracteriza a ignorância. O CC 2002 trata os dois institutos 
da mesma forma. 
 
 Quem erra, erra sozinho. Se a pessoa é induzida em erro, se configura o dolo. 
 
 Erro substancial e escusável (perdoável, justificável – qualquer pessoa naquelas 
circunstâncias erraria)12: é aquele que ocorre sobre elemento essencial do negócio 
jurídico, como os citados pelo art. 139. 
 
- Escusabilidade: não se admite erro daquele que atuou com elevado grau de displicência 
ou negligência. 
 
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de 
vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por 
pessoa de diligência normal (escusabilidade), em face das circunstâncias 
do negócio. 
 
 
12 Diverge ncia acerca da questa o da cognoscibilidade (princípio da confiança): para ser anula vel, na o se 
considera se era escusa vel, mas sim se a outra parte tinha conhecimento do erro e da ignora ncia e poderia, pelas 
circunsta ncias, intervir, esclarecendo o outro negociante (princí pio da confiança) (Enunciado 12 do CJF – I Jornada 
de Direito Civil). 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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Art. 139. O erro é substancial quando: 
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a 
alguma das qualidades a ele essenciais; 
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se 
refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo 
relevante; 
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o 
motivo único ou principal do negócio jurídico. 
 
Art. 139: 5 HIPÓTESES DE ERRO SUBSTANCIAL 
a) Erro sobre a natureza do negócio: acredita ser doação, mas é compra e venda 
b) Erro sobre a identidade do objeto: querer comprar determinado animal, mas levar outro; 
querer comprar lote valorizado, mas comprar outro em péssima localização em rua de 
mesmo nome; 
c) Erro sobre a qualidade do objeto: querer comprar relógio dourado de ouro, mas era 
dourado de latão. Anel de ouro e anel de cobre; quadro de pintor famoso, mas era réplica;d) Erro sobre a pessoa (identidade ou qualidade): doação a João, achando ser ele o salvador 
de seu filho, mas quem salvou foi Roberto; 
e) Erro de direito: importei mercadoria cuja circulação no dia anterior havia sido proibida 
(admite-se a anulação, não implicando em ato ilícito – ver sempre as circunstâncias do 
caso concreto). 
 
PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO - CONVALESCIMENTO DO ERRO: art. 14213 e 14414 
 
2 DOLO- Art. 145 
 
CONCEITO: todo artifício malicioso empregado por uma das partes ou por terceiro 
com o propósito de prejudicar outrem, quando da celebração do negócio jurídico. 
Dolo é o erro provocado por terceiro. 
Dolus malus: art. 145 – é aquele artifício que consegue ludibriar uma pessoa 
sensata e atenta. 
Dolus bônus: tolerável no comércio em geral. Exaltação do bem a ser vendido. 
Dolo principal ou essencial: é o que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual este 
não se realizaria. 
 
13 Art. 142. O erro de indicaça o da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaraça o de vontade, na o viciara o 
nego cio quando, por seu contexto e pelas circunsta ncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada. 
14 Art. 144. O erro na o prejudica a validade do nego cio jurí dico quando a pessoa, a quem a manifestaça o de 
vontade se dirige, se oferecer para executa -la na conformidade da vontade real do manifestante. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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Dolo acidental: art. 146 - não impediria a realização do negócio, mas seria 
realizado de outro modo. Ex.: carro cor sólida e carro de cor metálica (pode exigir a 
compensação pelo abatimento do preço). 
Requisitos: 
a) Intenção de induzir 
b) Malícia grave 
c) Seja a causa determinante 
d) Que proceda do outro contratante ou de terceiro 
Obs.: não se exige prova do efetivo prejuízo. Basta a prova do artifício malicioso ou 
ardiloso para induzir em erro. 
Dolo Positivo: há uma ação de um dos negociantes para induzir o outro em erro. 
Dolo negativo ou omissão dolosa: Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o 
silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra 
parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se 
teria celebrado. A principal diferença com o erro é que no dolo há a intenção de auferir 
alguma vantagem de forma ardilosa, maliciosa, porém de forma omissiva. 
Dolo de terceiro: art. 148 
 
3 COAÇÃO – Art. 151 
CONCEITO: pressão física ou moral (psicológica) exercida sobre a pessoa, sobre seus 
bens ou à pessoa de sua família para obrigá-la a realizar negócio jurídico. 
Coação traduz violência: morte, cárcere privado, desonra, mutilação, escândalo etc. 
Tipos: 
Coação física (vis absoluta): age diretamente sobre o corpo da vítima, privando 
completamente sua autonomia. Nesse caso, a doutrina entende que não há vício do 
consentimento, pois sequer deixa margem de liberdade para a vítima escolher ou não 
praticar o ato. Ex.: segurar a mão da pessoa à força para assinar contrato ou colocar suas 
impressões digitais. 
Coação relativa ou moral (vis compulsiva): vício do consentimento - atua sobre a 
vontade da vítima, sem privá-la totalmente, deixando margem de escolha, podendo optar 
entre a relação do negócio jurídico e o dano que o terceiro lhe ameaça impor. Ex.: ameaçar 
revelar um segredo da pessoa caso ela não assine o contrato; ameaçar um dano à 
integridade da pessoa se ela não celebrar o contrato. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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Condições da vítima – critério subjetivo: art. 152 – uma velhinha conseguiria coagir um 
lutador a negociar sob ameaça? 
Requisitos: 
a) Causa determinante do negócio 
b) Dano iminente, considerável e grave 
c) Injusta 
d) Atual ou iminente 
e) Justo receio 
f) Pessoa, bens ou família 
Excludentes da coação: Exercício regular de direito (ameaçar protestar um cheque não 
pago); temor reverencial (respeito ou obediência aos pais, ao superior hierárquico) 
Coação por terceiro: vicia o ato se a parte beneficiada tivesse ou devesse ter 
conhecimento da coação. Ambos respondem pelo vício (o terceiro e o beneficiado). 
Se a parte beneficiada nada sabia ou, pelas circunstâncias, não lhe fosse possível saber 
da coação, permanece válido o negócio, porém, pode o coagido pedir indenização para o 
terceiro que praticou a coação (art. 155). 
 
4 ESTADO DE PERIGO – Art. 156 
Dano físico ou pessoal 
O estado de perigo ocorre no momento em que se declara vontade assumindo 
obrigação excessivamente onerosa, por conta da necessidade de salvar a si ou a alguém a 
quem se ligar por vínculo afetivo. 
Ex.: 
Exigência de cheque-caução (garantia) para atendimento ou internação em caráter de 
urgência; 
Venda de um bem a preço vil para suprir necessidade de saúde 
Realização de péssimo negócio para obter quantia do resgate de um parente sequestrado 
Promessa de doação de quantia exorbitante a quem salvar um ente querido acidentado 
 
Diferença de coação: o negociante beneficiado não agiu com ameaça 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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5 LESÃO – Art. 157 
Razões essencialmente econômicas 
CONCEITO: prejuízo decorrente da desproporção existente entre as prestações de 
um determinado negócio jurídico, em face do abuso da inexperiência, necessidade 
econômica ou leviandade (inconsequência, afoiteza) de um dos declarantes. 
ELEMENTOS: 
Elemento objetivo: desproporção/desequilíbrio econômico – lucro exagerado 
Elemento subjetivo: inexperiência, premente necessidade econômica (obter recursos) 
EXEMPLO: Para evitar falência e cumprir com sua dívida, a pessoa vende seu 
imóvel a preço vil, inferior ao preço de mercado. 
Aquele que, diante da necessidade de continuar a atividade, paga preço exorbitante pelo 
fornecimento de água, numa época de seca. 
O conhecimento da parte sobre a premente necessidade da outra é irrelevante. 
FRAUDE CONTRA CREDORES – ART. 158 
 
CONCEITO: É o ato pelo qual o devedor desfalca o seu patrimônio, a ponto de se tornar 
insolvente, com o intuito de prejudicar os seu credores. Caracteriza-se a insolvência 
quanto o ativo, ou seja, o patrimônio do devedor, não é suficiente para responder pelo seu 
passivo. 
 
PRESSUPOSTOS: 
a) Elemento subjetivo: conluio fraudulento (consilium fraudis) - conhecimento da 
insolvência pela outra parte. Má-fé. Sobretudo em transmissões onerosas. 
 
Exceção: Má-fé presumida (dispensa prova do conluio): 
- alienação a título gratuito15 
- Insolvência notória (art. 159): títulos protestados, várias ações em andamento 
- Insolvência presumida (art. 159): motivo para conhecimento pelo adquirente (ART. 
159): parentesco, preço vil, amizade íntima etc. 
 
b) Elemento objetivo: prejuízo ao credor (eventus damni). 
 
OUTRAS HIPÓTESES LEGAIS: 
a) transmissões onerosas: provas de ambos os pressupostos: eventus damni (que a 
redução reduziu o devedor à insolvência) e o consilium fraudis (a má-fé do terceiro 
adquirente); 
 
15 Doaça o feita por devedor reduzido a insolve ncia. 
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b) (i) transmissões a título gratuito e (ii) remissão de dívida (CC 158): nesses casos os 
credores não precisam provar o conluio fraudulento, pois a lei presume o propósito de 
fraudar. A remissão (ou perdão) de dívida também constitui uma liberalidade, que reduz o 
patrimônio do devedor. Ex.: doação a filhos, parentes; 
c) Pagamento de dívida não vencida (art. 162): Quando o devedor já insolvente paga o 
credor quirografário dívida ainda não vencida (CC 162). Se já tiver vencida a dívida, nada 
haverá; 
d) Concessão de garantias de dívidas (art. 163): quando o devedor já insolvente concede 
garantias de dívidas a algum credor, colocando-o em posição mais vantajosa que os 
demais (se anula somente a garantia). 
 
AÇÃO PAULIANA OU REVOCATÓRIA: tem natureza desconstitutiva: anula as alienações 
ou concessões fraudulentas, determinandoo retorno do bem ao patrimônio do devedor 
(acervo). São legitimados ativos os credores quirografários (sem garantia), que já o eram 
ao tempo da alienação fraudulenta (art. 158, §1º). Os credores com garantia real só 
poderão ajuizá-la se a garantia se tornar insuficiente (CC 158, §1º). A legitimação passiva 
é do devedor insolvente e da pessoa com quem ele celebrou a estipulação considerada 
fraudulenta, bem como dos terceiros adquirentes, que hajam procedido de má-fé (CC 161). 
 
SIMULAÇÃO – ART. 167 
 
CONCEITO: é uma declaração enganosa da vontade, visando aparentar negócio diverso 
do efetivamente desejado. 
 
ESPÉCIES: 
a) Absoluta: as partes não realizam nenhum negócio. Apenas fingem realizar (aparência 
externa), para prejudicar terceiro, subtraindo os bens de eventual execução ou partilha 
Exemplo: emissão cheque em favor de amigo e para saldá-lo dá um bem em pagamento 
para que esse bem não entre na partilha do divórcio; 
b) Relativa: as partes procuram ocultar o negócio verdadeiro, prejudicial a terceiro ou 
realizado em fraude à lei, dando-lhe aparência diversa. 
Compõe-se de dois negócios: o simulado, aparente, e o dissimulado, o oculto, mas 
verdadeiramente desejado. 
Exemplo: (i) para pagar menos imposto, as partes celebram negócio em valor inferior ao 
real. Simulado: preço menor; dissimulado: preço real. Anulado o valor aparente, valerá o 
valor real (ver efeitos abaixo). 
(ii) para doar bem à amante, transfere bem a terceiro, que transferirá para aquela. 
Simulado: compra e venda; dissimulado: doação. 
 
EFEITOS: se absoluta, acarreta a nulidade do negócio simulado. Se relativa, também será 
nulo, porém subsistirá o negócio dissimulado, se válido for na forma e no conteúdo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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4 TEORIA DA INVALIDADE DO NEGÓCIO 
JURÍDICO arts. 166 a 184 
 
 
CONCEITO 
Invalidade é a sanção imposta pela lei ao ato negocial em virtude da não observância de 
determinados requisitos legais, objetivando restituir a normalidade e a segurança das 
relações jurídicas. 
 
ABRANGÊNCIA DA EXPRESSÃO 
Nulidade e anulabilidade = gradação 
A expressão invalidade abrange a nulidade e a anulabilidade do negócio jurídico. 
 
ATO INEXISTENTE, NULO E ANULÁVEL 
- A doutrina menciona também o negócio jurídico inexistente (quando lhe falta algum 
elemento estrutural, como o consentimento). 
- O negócio é nulo quando ofende preceitos de ordem pública, que interessam à 
sociedade (CC 166 e 167). 
- É anulável quando a ofensa atinge o interesse particular de pessoas que o legislador 
pretendeu proteger (CC 171). 
 
ESPÉCIES DE NULIDADE: 
a) Absoluta e relativa (anulabilidade); 
b) Expressa ou textual (quando a lei declara nulo determinado negócio) e virtual ou implícita 
(quando a lei se utiliza de expressões como não pode, não se admite, etc.); 
 
Nulidade absoluta 
 
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: 
a) celebrado por pessoa absolutamente incapaz; 
b) for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; 
c) o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; 
d) não revestir a forma prescrita em lei; 
e) for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a 
sua validade; 
f) tiver por objetivo fraudar lei imperativa; 
g) a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem 
cominar sanção. 
h) em caso de simulação 
 
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS 
a) Pode ser alegada por qualquer interessado ou pelo MP (quando couber intervir) 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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b) O juiz pode reconhecer de ofício. 
c) Ato nulo não admite convalidação (confirmação) (art. 16916): declara-se nulo e 
caberá às partes praticar novo ato, porém afastando os defeitos. Há quem admita 
que poderá convertê-lo em ato válido, se possível for suprir a nulidade. 
d) Não produz efeitos jurídicos (desde seu nascimento): a declaração de nulidade 
produz efeitos ex tunc (retroage para atingir desde o nascimento do ato)17 
e) Objeto de ação declaratória. 
f) pode ser reconhecida a qualquer tempo 
 
 
Nulidade relativa (anulabilidade) 
 
A nulidade é menos grave. Está entre a nulidade absoluta e a plena validade do negócio. 
 
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável 
o negócio jurídico: 
a) por incapacidade relativa do agente; 
b) por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão 
(vícios do consentimento) ou fraude contra credores. 
 
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS 
a) Pode ser alegada somente pelos interessados 
b) O juiz não pode reconhecer de ofício. 
c) Ato anulável admite convalidação (confirmação) (art. 17218) – princípio da 
conservação (medidas sanatórias) 
d) Produz efeitos jurídicos até sua anulação: a anulação produz efeitos ex nunc. 
Porém, quanto à possibilidade de requerer perdas e danos ou ressarcimento, ela 
evitará o enriquecimento ilícito da parte beneficiada. Veja exemplo no rodapé19. 
e) Objeto de ação anulatória. 
f) Regra geral: prazo de 4 anos para requerer anulabilidade (art. 17820). Regra 
subsidiária: Ou 2 anos conforme art. 17921 (caso da venda de ascendente a 
descendente – art. 496) 
 
16 Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo. 
17 “Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo 
possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.” A expressão anulado deve ser entendida em sentido amplo, 
aplicando-se também à nulidade. 
18 Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro. 
19 Pessoa celebrou negócio jurídico em virtude de lesão (vício do consentimento). Deu entrada (sinal) de 15 mil reais. Após 
a invalidação do ato, ela deverá ser ressarcida da entrada paga. 
20 Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: 
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; 
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; 
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade. 
21 Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, 
será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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Nulidade e anulabilidade 
 
Diferenças: 
a) A anulabilidade é decretada no interesse privado da pessoa prejudicada. A nulidade é de 
ordem pública e decretada no interesse da própria coletividade; 
b) A anulabilidade pode ser suprida pelo juiz, a requerimento das partes (CC 168, p. u.), ou 
sanada pela confirmação (CC 172). A nulidade não pode ser sanada pela confirmação nem 
suprida pelo juiz; 
c) A anulabilidade não pode ser pronunciada de ofício. A nulidade, ao contrário, deve ser 
pronunciada de ofício pelo juiz (CC 168, p. u.); 
d) A anulabilidade só ode ser alegada pelos prejudicados, enquanto a nulidade pode ser 
arguida por qualquer interessado, ou pelo MP (CC 168); 
e) Ocorre a decadência da anulabilidade em prazos mais ou menos curtos. A nulidade nunca 
prescreve (CC 169); 
f) O negócio anulável produz efeitos até o momento em que é decretada a sua invalidade. O 
efeito é, pois, ex nunc (natureza desconstitutiva). O pronunciamento do juiz sobre a 
nulidade, por sua vez, produz efeitos ex tunc, ou seja, desde o momento da emissão da 
vontade (natureza declaratória). 
 
Questões especiais: 
a) A invalidade do instrumento não induz à do negócio jurídico sempre que este puder ser 
provado por outro meio (CC 183); 
b) A invalidade parcial de um negócio não o prejudicará na parte validade, se esta puder se 
separar, tiver autonomia própria (CC 184); 
c) Se o negócio jurídico for nulo, mas contiver os requisitos de outro, poderá o juiz fazer a sua 
conversão, sem decretar a nulidade (CC 170).DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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5 ATO ILÍCITO E ABUSO DE DIREITO – art. 186 
e seguintes 
 
 
CONCEITO: é uma das espécies de fato jurídico. 
É o ato praticado com infração de um dever legal de não lesar a outrem (neminem 
laedere – a ninguém se deve lesar). Tal dever é imposto a todos nos artigos 186 e 927 do 
CC. Também o comete aquele que pratica abuso do direito. 
 
 Todo aquele que violar direito e causar dano a outrem fica obrigado a indenizá-lo. 
 
Antes da denominada Lex Aquilia, prevalecia a responsabilidade pessoal do agente. 
Hoje a responsabilidade é somente patrimonial. Admite-se a prisão civil somente do 
devedor de pensão alimentícia. 
 
Noções prévias. Da inexistência de diferença ontológica entre ilícito penal e ilícito 
civil. 
 
Em ambos os casos, a responsabilidade decorre de um fato juridicamente 
qualificado como ilícito, ou não desejado pelo Direito. 
 
Na primeira (penal), a responsab. é pessoal: o réu responde com privação de liberdade. 
Na civil, a responsabilidade é patrimonial, pois é o patrimônio do devedor que responde 
por suas obrigações. 
 
a) Responsabilidade Civil: violações privadas (interesse lesado é privado) 
b) Responsabilidade penal: repressão pública (interesse lesado é público) 
 
c) Exemplo: um sujeito, guiando seu veículo, ultrapassa o sinal vermelho e atropela um 
pedestre, causando-lhe lesões graves. Esse ato, por si só, pode gerar consequências 
nas três esferas de responsabilidade: 
i) civil (danos à pessoa, à integridade física = indenização) 
ii) penal (lesão corporal de natureza grave = privação da liberdade) 
iii) + administrativa (normas de trânsito = multa). 
 
 
Responsabilidade de acordo com a origem: contratual e extracontratual (aquiliana). 
 
a) Origem contratual: 
 
Prejuízo decorrente de infração à normas de um contrato. Descumprimento do acordo 
de vontades das partes (contrato). Gera perdas e danos (CC 389). A culpa é presumida, 
pois o contratante já sabia que deveria cumprir determinada obrigação. 
 
Exemplos: 
- artista contratado que não comparece ao show (contrato de prestação de serviços) 
- pegar um bem emprestado e não zelar por ele, estragando-o (contrato de 
comodato) 
- inquilino que deixa de pagar o aluguel (contrato de aluguel) 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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b) Origem extracontratual: 
 
Quando a responsabilidade deriva de infração ao dever legal e genérico de conduta 
(CC 927) imposto a qualquer pessoa, diz-se que a responsabilidade é extracontratual ou 
aquiliana. Tem origem no dever de não lesar outrem, fora de uma relação contratual. 
 
c) Consequência: desencadeia um processo de indenização, destinado a reparar ou a 
compensar o dano sofrido. Em ambas a consequência é a mesma: obrigação de ressarcir 
o prejuízo causado. 
 
 
Responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva 
 
a) Responsabilidade subjetiva: teoria da culpa (precisa provar culpa). A responsabilidade 
subjetiva se funda na ideia de culpa lato sensu (abrange o dolo e a culpa em sentido estrito 
ou stricto sensu). 
 
Para ela ocorrer, deve haver a prova da culpa (lato sensu). 
 
Exemplos: acidente de trânsito; danos à honra da pessoa decorrente de difamação, 
lesão à integridade física, moral etc. 
 
b) Responsabilidade objetiva: teoria do risco (art. 927, parágrafo único e art. 933) e da 
culpa presumida (arts. 936, 937 e 938). Não precisa provar culpa. 
A teoria objetiva se funda no risco. 
É dispensada a prova da culpa, devendo ser provado apenas o dano e o nexo causal. 
 
Para essa teoria, todo dano deve ser indenizado, independentemente se o sujeito agiu com 
culpa (se ele quis ou atuou de forma negligente, imprudente ou com imperícia). 
 
Exemplos: dano a passageiros de veículo de transporte; danos ao consumidor; danos 
decorrentes de imóvel em ruínas; danos decorrentes animal, dano moral decorrente de 
inscrição indevida do nome no SPC/SERASA (dívida inexistente) etc. 
 
c) Teoria adotada pelo CC/2002: O CC se filiou, em princípio, pela teoria da 
responsabilidade subjetiva (art. 186), mas também admite em algumas hipóteses a 
responsabilidade objetiva, por exemplo nos casos do art. 927, p. u., e art. 933). 
 
Imputabilidade e responsabilidade: a questão da capacidade 
 
a) Responsabilidade dos privados de discernimento e dos menores 
 
REGRA: Sendo o inimputável privado de discernimento, ele não pode ser 
responsabilizado civilmente. No caso, a responsabilidade será atribuída ao seu 
representante legal (curador, tutor, genitor) (art. 932). 
 
EXCEÇÃO 1: Se este não dispuser de meios suficientes ou não tiver a obrigação de 
responder pelo prejuízos que causarem, será responsável o próprio incapaz. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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EXCEÇÃO 2: Se a indenização imposta for capaz de levá-lo à privação do necessário 
(CC 928, caput e p. u.), a vítima não será ressarcida. 
 
EMANCIPAÇÃO VOLUNTÁRIA: Obs.: a emancipação voluntária concedida pelos 
pais não os exime da responsabilidade civil de arcar com a indenização decorrente de atos 
dos filhos (art. 932). 
 
Pressupostos da responsabilidade extracontratual (aquiliana) 
 
a) Ação ou omissão 
 
 Ação é atitude positiva da pessoa, que causa dano a outrem. 
 A omissão, quando a pessoa deveria agir e não o faz (negativa), também pode 
configurar o dano. 
 
Ato próprio (artigos 186 e 927) 
 Quando a pessoa que deverá suportar a indenização é a própria causadora do 
dano. 
 
Ato de terceiro (art. 932) 
Quem pratica o ato é terceiro que esteja sob a guarda ou vigilância de quem será 
responsabilizado. Hipóteses do art. 932. 
 
Fato da coisa e do animal (artigos 936 e 937) 
 Fato da coisa: art. 937 (danos decorrentes de imóvel em ruínas 
 Fato do animal: art. 936 (o dono responde pelo dano causado) 
 
b) Culpa ou dolo do agente 
 
 Trata-se do estudo do elemento subjetivo do ato ilícito, também chamado de culpa 
em sentido amplo. Para se verificar a ocorrência do ato ilícito, o CC/2002 exige que se 
comprove o elemento subjetivo (dolo ou culpa em sentido estrito). O CC/2002 adota, 
assim, como regra, a teoria da responsabilidade civil subjetiva, em que se deve comprovar 
a culpa. 
 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária (dolo), negligência ou 
imprudência (culpa), violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente 
moral, comete ato ilícito. 
 
 Dolo: é a violação deliberada, intencional, do dever jurídico. 
 
 Culpa em sentido estrito (imprudência, negligência e imperícia): consiste na falta de 
diligência ou cuidado exigida a qualquer pessoa (homem médio). 
 
- Imprudência: irresponsabilidade, risco excessivo e desnecessário, que não foram 
previstos pelo sujeito. 
Exemplo: ultrapassar veículo a 120km/h, em uma curva. 
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL 
 
 
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- Negligência: é o descuido, a desatenção, consistente em um não agir. 
Exemplos: sair de viagem sem verificar os pneus do carro, que estavam carecas, 
ou os freios, em más condições; médico que esquece de retirar a gaze do paciente, vindo 
a causar sua morte ou danos graves; 
 
- Imperícia: pessoa que não observa regras técnicas que deveria conhecer. 
Exemplos: um motorista profissional que, em condições normais, não consegue 
fazer uma curva; anestesista que erra na dose do anestésico e mata o paciente; 
 
c) Relação de Causalidade (nexo causal) 
 
É o nexo causal entre a ação ou omissão do agente e o dano verificado. Vem expressa 
no verbo causar empregado no art. 186. Sem ela não existe a obrigação de indenizar. 
Determinado dano somente ocorreu por causa de determinada ação ou omissão. 
Se não há relação entre o dano e a ação ou omissão do sujeito, não se está 
configurado este pressuposto do ato ilícito. 
 
Exemplo: acidente de veículo que somente ocorreu em virtude de conversão 
inoportuna do outro condutor; morte que somente ocorreu por conta do ato lesivo praticado 
pelo causador do dano. 
 
d) Dano 
 
É o pressuposto inafastável,

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