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ESTADO DE NECESSIDADE

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MÓDULO 2: DO CRIME E SUAS 
EXCLUDENTES 
 
TEMA 2 – ILÍCITO E SUAS EXCLUDENTES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Trata de excludente de ilicitude prevista no art. 24 do Código Penal, consoante o qual: 
 
Considera-se estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que 
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, 
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. 
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o 
perigo. 
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser 
reduzida de um a dois terços. 
 
Conceito: 
 
O Estado de Necessidade trata de situação em que o sujeito se vê diante de um conflito de bens 
lícitos, decorrente de perigo que não deu causa, sendo compelido a adotar postura para 
salvaguardar um dos bens em detrimento do outro. 
 
 Ressalte-se que, para gozar desta dirimente, o agente não pode ter concorrido para a situação 
de perigo que se abate sobre bens, tampouco possuir alternativa diversa do sacrifício de um 
deles, para resguardar o outro. 
 
Portanto, de plano, denota-se que o Estado de Necessidade traduz situação excepcional e 
subsidiária, pois dispondo de outros meios – leia, podendo salvar ambos os bens –, não poderá 
o sujeito se socorrer desta excludente. 
 
Ademais, na ponderação entre os bens, o agente deve primar pela preservação daquele de maior 
valor, assim justificando a exclusão da ilicitude, pois, do contrário, somente será beneficiado com 
a redução de sua reprimenda ou, quando muito, com o afastamento de sua culpabilidade (§2º). 
 
 
 
 
 
Aula II – Estado de Necessidade 
 
Espécies: 
 
Agressivo = quando a ação se volta em face de coisa ou pessoa não causadora do perigo (ex.: 
arrobar porta de apartamento alheio para ter acesso ao parapeito, onde um animal subiu e está 
preso) – os arts. 929 e 930 estabelecem, nesse caso, o dever de indenização ao terceiro que 
não causou do perigo, bem como a possibilidade de ação regressiva, se o autor do perigo for 
identificado; 
 
Defensivo = quando a ação se volta em face da coisa* causadora do perigo (ex: matar pit bull 
que o ataca), não incluindo pessoa. Nessa situação, o art. 929 do CC dispensa o dever de 
indenização. 
 
*ATENÇÃO: estado defensivo contra pessoa causadora de perigo é LEGÍTIMA DEFESA 
 
Requisitos: 
 
- quanto ao estado de perigo: 
 
a) atual = significa que o risco é presente, ou seja, está em via de se concretizar não se 
admitindo o chamado perigo iminente (que é perigo futuro, perigo de perigo), pois incerto e de 
difícil demonstração, assim como o perigo passado, porquanto já superado; 
 
b) involuntário = afinal, não pode se socorrer da excludente o próprio responsável por 
ocasionar a situação de perigo, seja por dolo ou por culpa (decorrente de imprudência, 
negligência ou imperícia, que também são voluntária em sua origem); 
 
 
c) distante de dever legal = de acordo com o §1º do art. 24, afinal, aqueles cuja profissão se 
destina ao combate de perigo (policias, bombeiros, guarda-vidas), não podem dele se furtar, 
afinal são peritos na solução de conflitos dessa ordem, munidos dos ensinamentos e ferramentas 
aptas à minorar os efeitos deletérios; 
 
OBS: o entendido predominante segue no sentido de que o “dever legal” deve ser interpretado 
em sentido amplo, abrangendo o deve decorrente de lie ou de qualquer outro instrumento 
normativo, como por exemplo aquele que se dá por força de contrato, como no caso dos 
seguranças privados, salva-vidas de clubes e monitores de festas infantis. 
 
 
 
- quanto à necessidade: 
 
a) própria ou de terceiro = aqui em prestígio a solidariedade, o conflito pode se dar em 
prejuízo do agente ou de outrem, ainda sim permitindo-lhe agir em assistência alheia; 
 
b) inevitável = diz respeito a inexistência de quaisquer alterativas para sanear o conflito, 
sendo, portanto, medida imprescindível que autoriza o sacrifício de um deles em favor do outro; 
 
 
c) proporcional = considerando os bens em confronto, somente se justifica o perecimento 
quando do bem de menor valor, porquanto razoável resguardar o bem de maior valor. 
OBS: se o conflito tratar de bens de valor semelhante, de acordo com a teoria unitária1, adotada 
pelo Código Penal, o sacrifício igualmente será justificante, afastando-se a ilicitude. Em síntese, 
temos: 
 
Justificante Sacrifício de bem igual ou menor Exclui a ilicitude 
Exculpante Sacrifício de bem maior Reduz a pena ou exclui a 
culpabilidade* 
 * quando inexigibilidade de conduta 
 
Situações Específicas: 
 
 - Aborto Necessário 
 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio de salvar 
a vida da gestante 
 
- Constrangimento Ilegal 
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe 
haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a 
lei permite, ou a fazer o que ela não manda. § 3º - Não se compreendem na disposição 
deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, se justificada por iminente perigo de 
vida; II - a coação exercida para impedir suicídio. 
 
 
 
1 Situação diferente é contemplada pela legislação alemã, a qual adota a teoria diferenciadora, que entende exculpante o 
perecimento de bens com maior ou igual valor, e justificante, somente o resguardo dos bens de maior valor. 
 
 
- Violação de Domicílio 
 
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade 
expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: 
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas 
dependências: II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali 
praticado ou na iminência de o ser. 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
“Recentemente, jornal de grande circulação nacional publicou matéria relatando um fato um tanto 
quanto inusitado acontecido na Austrália. 
 
Segundo o periódico, uma mulher de 22 anos de idade estabeleceu um pacto com seu namorado. 
Tal acordo previa que em caso de infidelidade do rapaz, a traída poderia se vingar da forma que 
bem entendesse. (...)” 
 
Para a íntegra do texto, segue link abaixo: 
 
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONSENTIMENTO DO OFENDIDO NA LESÃO 
CORPORAL EM CONSONÂNCIA COM A LEI N. 9099/90. 
 
FONTE BIBLIOGRÁFICA 
 
NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2016 – notas 116 a 123 do art. 24; 
 
NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Vol. 1, 
págs. 448 a 455; 
 
 
https://jus.com.br/artigos/44549/breves-consideracoes-sobre-o-consentimento-do-ofendido-na-lesao-corporal-em-consonancia-com-a-lei-n-9099-90
https://jus.com.br/artigos/44549/breves-consideracoes-sobre-o-consentimento-do-ofendido-na-lesao-corporal-em-consonancia-com-a-lei-n-9099-90

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