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•· . /., __ ,_ ------ ..-..... -..1 . .. __ .· Altor: Marx, Karl,1818-188 Ttulo: Teorias da mais-valia : teoria I tlltll 1111111111flf1111/f I lllll lll/1111111111 lllI 13835503 Ac. 66966 VI üFCE-BEAC KARL MARX Teorias da mais-valia História Crítica do Pensamento Econômico ~··-··---~---- (Livro 4 de O CAPITAL) ---~·······-- ·····-·-······------- Volume 1 ... Tradução de R.EGINALDO SANT' ANNA civili.Zação brasileira Do original em alemão: THEORIEN üBER DEN l-.ffiHRWERT (VIERTER BAND DES "KAPITALS") ERSTER TEIL .MEW, 26.1 Diet:i: Verlag, Berlim, 1974 Capa: .EDUARDO Diagramação; LÊA CAULLIRAUX Revisão: X~~~~ ~~!n1: ~r~8 3 5503 DA:MIÃO NASC'IMENTQ -\,_ ,.Ç_ '\-,_,,ill(?'/:J ~--U~FC~---!<li """""s~tBUO...-.,;;.;TE..;...CA..:.;..:.;;;..;CE..:..-NT-RA....,l ' 3 5 o/~ \-.J-\::.-ô --i-· -9'-5----~ """~\'>~~'-' o I o4 18 ' ;,'P~t~ para a língua portuguesa reservados pelo tradutor à :;;i;J~:J?lTOltt\ CMLIZAÇÃO BRASILEIRA S. A . .-~ Mµniz Batteto. 91-93 X1- lµQ p~ JANEIRO, RJ >,;J~t~so no Brasil ,X;PiiiiteJ in Brazil !-" --- --; (·.·~ ' _,-, ·. . ' : . . . Sumário Nota do tradutor TEORIAS DA MAIS-VALIA HISTÓRIA CRfTICA DO PENSAMENTO ECONOMICO Volume l OBSERVAÇÃO GERAL I. SIR JAMES STEUAR.T Distinção entre lucro de alienação - profit upon aliena· tion - e acréscimo positivo de riqueza 15 II. Os F1s1ocRATAS 1. A pesquisa da origem da mais-valia se transfere da esfera da drculação para a da produção direta. A ten- da fundiária forma única da mai&:valia 19 2. Contradições do sistema fisiocrático: a máscara feu- dal e a essência burguesa; duplicidade na interpreta- ção da mais-valia 25 3 . As três classes sociais de Quesnay. Turgot desen- volve a teoria físiocrática: elementos de análise mais profunda das relações capitalistas 28 4. Paoletti identifica valor com matéria 35 5. Elementos fisiocrátícos da teoria de Smith 36 6. Os fisiocratas, partidários da agricultura em grande escala, a agricultura capitalista ~'.$}1 7. Contradições das idéias políticas dos fisiocratas. Os fisiocratas e a revolução francesa 43 8. Vulgarização da teo:da fisiocrática pelo reacionário prussÍlMlo Schmalz 44 9. Contra a superstição dos fisiocratas 45 IU. A. SMITH 1. Valor: as duas definições de Smith 47 2. Teoria geral da mais-valia segundo Smith. Lucro, ren- da fund.iára e juro - deduções do produto do traba- lho do trabalhador 5 6 3 . Smith descobre a produção de mais-valia em todas as esferas. do trabalho social 64 4. Smith inão compreende a atuação da lei do valor na troca entre capita] e trabalho assalariado 65 j. Identíficação de mais-valia com lucro - elemento vulgar da teoria de Smith 67 6. C..oncepção errônea de Smith: lucro, renda fundiária e salário considetildos fontes de valor 71 7. Smith; concepção anibigua da relação entre valor e renda. Seu conceito de preço natural: a soma de sa- lário, lucro e renda fundiária 73 8. Smith reduz o valor global do produto social a renda. Contradições em suas idéias sobre renda bruta e ren- da liquida _ 76 9 . Say, vulgarizador da teoda smithiarua: identifica o produto social bruto com a renda social. Storch e Ramsay procuram distingui-los - 82 10. Pesquisar como é possível ao lucro e salário anuais comprarem as mercadorias anuais~ que, al,ém de lucro e salário, contêm capital constante 85 a) Impossibilidade de substituir o capital constante dos ptodutores de bens de consumo por ·meio da troca entre esses produtores 85 b) Impossibilidade de repor integralmõDte o capital constante da sociedade por meio da troca entre os produtores dos meios de conswno e os produ- tores dos meios de produção 103 e) Troca de capital por capital entre os produtores de meios de produção. Produto anual do traba- lho e produto anual do novo trabalho adicionado 119 H. Idéias contraditórias de Smith sobre a. medida do valor 131 IV. TEOlUA~ SoBRE TRABALHO PRODUTIVO E IMPRODUTIVO 1. Trabalho produtivo no sentido da produção capitalk· ta: trabalho assalariado que produz mais-valia 132 !";-"{;·;-_~.~ tF;:~ :.:.~~ • 1:-J .:.~• t"' t:. iB~ ("": ff t...:;;;,,,,_,,,.,I~~-~ 2. Idéias dos fisiocratas e mercantilistas sobre trabalh~ -- · · · produtivo 133 3 . Ambigüidade da concepção smithiana de trabalho pro- dutivo 135 a) Primeira concepção: trabalho que se troca por capital 135 b) Segunda concepção de trabalho produtivo: traba- lho que se realiza etn mercadoria 140 4 . O tr8balho produtivo segundo a economia política burguesa vulgar 153 5 . Adeptos das concepções s.mithianas sobre trabalho ptodutívo. Notas para a história do problema 155 a} Rfoudo e Sismondi - adeptos da primeir11 defi- nição smíthiana de trabalho produtivo 155 b) Primeiras tentativas de distinguir entte trabalho produtivo e improdutivo (D'Avenant, Petty) 157 c) John Stuart l\.fill, adepto da segunda concepção smithfana de trabalho produtivo 162 6. Gertnain Gamier 162 a) Confusão do trabalho que se troca por capital, com o trabalho que se troca por renda. A errada concepção de se repor o capital todo pela renda dos consumidores l.63 b) Reposição do capital constante medin.nte troca de capital por capital 167 e) Suposições vulgares na polêmica de Garníer con- tra Smith. O recuo de Garníer para as idéias fi- siocráticas. A idéia do consumo dos traoolhado- res improdutivos como fonte de produção - um retrocesso em- relação aos fisiocratas 178 7. Ch. Ganílh 183 a } Concepção mercantilista de troca e de valor de troca 183 b) Todo trabaJho pago considerado trabalho produ- tivo 189 8. Teoria de Ganilh e Ricardo sobre renda liquida. Ga- nílh a favor do decréscimo da popu1ação produtiva; Ricardo a favor da acumulação do capital e do cres- cimento das forças produtivas 193 9 .. Troca de renda e de cap.ita.l 212 a} Troca de renda por renda 212 b) Troca de renda por capital 216 e) Troca de capital por capital 224 1~. Fertier. Com suas idéias protedqnistas polemiza con- tra a teoria smíthiana do trabalho produtivo e da acumulação. Confusão de Smith no problema da acu- mulação. O elemento vulgar na concepção smithiana dos trabalhadores produtivos 232 -~: H . Lauderdale. Adversário da teoria da acumulação de Smith e da distinção smíthíana entre trabalhadores produtivos e improdutivos 245 12. Produtos ímatetiais de Say. Justificação de um cresci- mento ininterrupto do trabalho improdutivo 248 B. Destutt de Tracy. Concepção vulgar da origem do lu- 'f cro. O capitalista industrial proclamado único traba- lhador produtivo 251 14. Catacterística geral do combate à distinção smithiana entre trabalho produtivo e improdutivo 263 l5. Henri Storch. Vísão não-histórica das relações entre produção material e produção intelectual. Sua con- cepção do "trabalho imaterial" das classes dominantes 266 16. Nassau Senior. Proclamadas produtivas todas as ati- vídades úteís à burguesia. Adúlados a burguesia e o estado burguês 269 17. P Rossi. Desconhecimento da forma social dos fenô- menos econômicos. Concepção vulgar da "économia de trabalho" pelos trabalhadores improdutivos 274 18. Cbalmers defende a prodigalidade dos ricos, do estado e da igreja 281 19. Observações finaís sobre Smith e sobre sua distinção entre trabalho produtivo e improdutivo,. 282 V NECKER O !fntagonismo de classes na sociedade capitalista transmu- tado em contradição entre pobres e ricos 288 VI. DIGRESSÃO. QUADRO ECONÔMICO DE QUESNAY 293 1. Circulação entre nrrendatátio e proprietária da terra. Refluxo do dinheiro para o arrendatário, sem ocorrên- cia de reprodução 294 2 . A circulaçio do dinheiro entre capitalista e trabalha- dor 299 a) Proposição absurda: o salário é adiantamento do capitalista ao trabalhador. Na concepção burgue- sa, o lucro é o prêmio do risco 299 b) Mercadorias que o trabalhador compra do capi- talista. Refluxo do dinheíro sern haver repro- ~ '~ 3 . Circulação entre auendatárfo e manufator segundo o quadro econômico de Quesnay 31.3 4 • Circulação de mercadorias e circulação de dinheiro no quadro econ&mico. Casos diferentes de retorno do di- nheir.o ao ponto de partida .3 i 7 5 . Significação do quadro econômico na hist6ría da eco- nomia política 327 VII. LINGUET Polemiza contra a concepção liberal burguesa da liberdade do trabalhador 329 ADITAMENTOS ÜBSERVAÇÕES DE HOBBES SOBRE O PAPBL ECONÔMICO DA ClftN- CIA> SOBRE O TRABALHO :B VALOR .339 PETTY a) Teoria da população - crítica das profissões im- produtivas 341 b) Determinação do valor pelo tempo de trabalho 343 e) Determinação do preço da terra, da renda e do juro .346 d) «Equivalência natural entre terra e trabalho)) 349 PET'l'Y, SrR DuDJ:.EY Non.Ta~ LoCKE )5.3 LocKE A renda da terra e o juro à luz da teoria burguesa do di- reito natural .354 NoRTH Dinheiro na função de capital. Crescimento do comércio, causa da queda da taxa de juro 358 BERKELEY E A INDÚSTRIA COMO FON'l'E DE RIQUEZA .364 HUMB E MASSIE .-a) O juto 365 h) Hume. Declínio do lucro e juro, decottência do crescimento do comércio e da indústria 365 e) Massie. Juro) parte do lucro, a taxa de lucro ex· plica o nível do juro .367 COMPLEMEN'l'O DO CAPÍTULO SOBRE OS FISIOCRATAS a) Observação ·complementar sobre o quadro econô- mico 371 b) Retrocesso físiocdtíco a idéias mercantilistas. Rei- vindicação da livre concorrência 3 72 c) Quesnay: CY valor não acresce com a troca 3 7 3 BuAT Panegírico da. aristocracia fundiária 375 JOHN GRAY Polemiza, à laz da fisioc1·acia, contra a aristocracia fuodiá- ria 377 DIGRESSÃO Concepção apologética da produtividade de toda profissão 382 PRODUTIVIDADE DO CAPITAL. TRABALHO PRODUTIVO E IMPRODUTIVO a) Produtivída.de do capital - expressão capitalista da produtividade do trabalho social 384 b) Trabalho produtivo no sistema de prodttção ca- pitalista 388 e) Duas fases da troca entre capital e trabalho, dis- tintas na essência ' 392 d) O valor de uso específico do trabalho pr9dutivo para o capital 394 e) Trabalho improdutivo e prestação 'de serviços. Comprá de serviços nas condições do capitalis- mo. Concepção vulgar da relação entre capital e trabalho como troca de serviços 396 f) O trabalho dos artesãos e camponeses na socie- dade capitalista 401 g) Definição acessória do trabalho produtivo: tra- balho que se realiza em riqueza material 40.3 h ) Presença do capitalismo no domínio da produção imaterial 403 i) O problema do trabalho produtivo visto do ân- gulo do processo global da produção rruiterial 404 j ) A indústria de transporte, ramo da produção .tna- terial. O trabalho produtivo na indústria de trans- porte 40j ESBOÇO DOS Pl..ANOS DAS PARTES I E III DE "0 CAPil'AL" a) Plano da parte I ou secção I de "O Capital" 407 b) Plano da parte III ou secção III de "O Capital" 408 e) Plano do capítulo II da parte III de "O Capital" 408 ADENDOS TABELA DE PESOS, MEDIDAS E MOEDAS INGLESAS ÍNDICB ONOMÁSTICO ÍNDICE ANALÍTICO 413 414 418 Nota do tradutor EM SUA PESQt:ISA sobre a questão central do valor excedente, em Teorias da Mais-V alia, analisa Marx as idéias dos economistas que lhe eram anteriores ou contemporâneos e procura registrar o primeiro enunciado e o desenvolvimento posterior das leis econômicas, nas formas historicamente decisivas. Considerava Te01'ias da Mais-Valia a parte histórico-crítica de O Capita/,. Engels assinalava o empenho de Marx em determinar "onde, como e por quem foi, pela primeira vez, expresso um pensamento econômico emergido no cutso do processo histórico". Teorias da Mais-V alia é, por excelência, uma história crltka do pensamento econô.tnico. V árias teorias que foram objeto da análise de Marx ressurgem. hoje sob a aparência de concepções novas, e em relação a estas impor- ta considerar seu exame crítico. Em Teorias da Mais-Valia, ao analisar e criticar as teorias de seus predecessores e contemporâneos, Matt formula suas próprias teorias, em contraposição. É desse modo possível estabdecer relações e comparações entre suas teorias e as dos demais economistas, o que permite um conhecimento e uma avaliação mais seguros de suas idéias e proporciona capacidade maior de compreensão dos demais livros de O Capital. Além disso, certos problemas essenciais receberam em Teorias Ja Mais-V alia um tratamento mais amplo que nos outros livros de 9 O Capital. como é o caso, por exemplo, do trabalho produtivo e iJJlprodutivo, das crises do sístema capitalista, da .renda fundiária absoluta e da nacionalização do solo. Em Marx, as relações econômicas fazem parte da estrutura e do desenvolvimento social, de acordo com sua concepção da história, teoria 11brangente que procura desvendar a interação dos diversos fato- res sociais em sua evolução e transmutações. Para chegar a esses re- sultados, l\.1arx aplica seu método dialético, que transparece nas suas pesquisas sobre os problemas econômicos e sociais. O método e as concepções de 11ai:.x: repercutem de vários modos no mundo atual. Por exemplo, servem de orientação fundamental para o planejamento das sociedades socialistas contribuem para que a teoria econômica acadêmica, nos chamados países ocidentais, reforft mule problemas ou considere novos pl'oblemas; motivam novas teo- rizações e pesquisas referentes às estruturas sociais do capitalismo periférico. Desse modo, abre-se para essas estruturas, ou seja, para os países latino-americanos, africanos e asiáticos, a perspectiva de novas estratégias que enfrentem o problema global do desenvolvimento de- sigual e dependente. Além disso, a ampla visão teórica de Ma:tx se revela, cada vez mais, polltO de partida adequado para as pesquisas relacionadas com a crfse global do capitalismo hodierno, crise qu~ envolve todos os aspectos sociais. O Manuscrito Teorias da Mais-Valia faz parte do imenso manúscrito econ8mico elaborado por Ma.!4, de 1861 a 1863, e composto dos cadernos I a XXIII, com páginas seguídament-e numeradas de 1 a 1472. Obtém- se uma idéia mais aproximada de seu tamanho, considerando-se que uma página inteira redigida por Marx: corresponde, aproximadamente, a duas páginas impressas. O manuscrito continua o trabalho Contri- buição à Critica da Economia Política, publicado em 1859, e ttaz o mesmo título. Esboça de maneira sistemática, embora preliminar e incompleta, as matérias que deves:iarn constituir todos os livros de O Capital. Teorias da Mais-Valia é a parte maior e mais elaborada do ma- nuscrito, e compreende os cadêtnos VI a XV e· XVIII, além de mais de umas quarenta páginas espalhadas pelos cadernos XX, XXI, XXII e XXII!. 10 Os cadernos I a V e XIX a XXIII contêm, a primeira redação dci livto 1. Os cadernos XXI a XXII! tratam de diversos pontos estudados em O Capital, e entte eles certos ternas ampliados depois no livro 2. Nos cadernos XVI e XVII encontram-se esboços depois desenvolvidos e transformados em capítulos do livro 3. Embora Marx, no manuscrito de 1861-1863, desse a Teorias da Mais-V ritía forma mais completa e mais abrangente que a das demais partes de O Capital, destinou-a, depois, a ser o livra 4 dessa obra, devendo ela, portanto, ser a última na ordem de publicação. Kautsky Teorias da Mais-Valia foi primeiro publicada por Kautsky, em 1905-1910. Com o tempo evidenciaram-se certas falhas na reprodu~ ção do manuscrito, como, por exemplo: mudanças na attumação dos assuntos, indicada por Marx; erros de. interpretação, em virtude das dificuldades de decifrar a letra de Ma:tx; supressóes injustificáveis de passagens do manuscrito; erros de tradução pro:a o alemão, de pas- sagens em outras línguas; alteração da teuninología empregada por Marx. Kautsky não levou em conta o índice que Marx: escrevera nas capas dos cademos e que permite entender melhor a disposição das illversas partes da obra; assim~ afastou-se da oríentação marxíana de ordenar as idéias segundo o estádio que ocupam no desenvolvimento do processo histórico, ordenação que não coincide necessariamente com a cronologia dos Autores e obras consíderados. Era mister portanto a publicação integral e correta da obra, de acordo com o manuscrito. A Tradução Há cerca de três d&:adas, pesquisadores na União Soviética iniciaram estudos e investigações do manuscrito, minuciosos e siste- máticos, com o objetivo de reproduzir completa e exatamente Teorias da Mais-V alia, de conformidade com os originais legados por Marx. Levaram a cabo essa tarefa e assim criaram as condições pata se editar integralmente essa obra, em versão russa, ao longo dos anos de 1954 a 1961, e em língua alemã, ao longo de 1956 a 1962. Esta tradução foi feita de acordo coru a edição alemã posterior, publicada em 1974 pela Dietz Verlag de Berlim. Todas as minhas referências ao texto em alemão concernem, portanto, a essa . publica- 11 .ção, · . .que se beneficiou de melhoramentos feitos depois de um con~ fronta do t-exto editado em 19.56 a 1962, com os originais de Matt. Na edição que traduzi, a paginação do m!lllµscrito corre paralela .com a da obra impressa, e de permeio se apresentam todas as inser.; ções e notas de variada natureza, diretamente ligadas à reprodução .do texto do manuscrito. Essa edição exigiu, por isso, um trabalho .gráfico bastante complexo. Ademais, agrega à obra comentários e explicações, na maior parte, de interesse imediato para a melhor com· preensão do texto, colocados em apêndice na pa1te final de cada volume. Nesta tradução aproveitei o material desse agregado e lhe fiz certos acréscimos, para redigir as notas de pé de página que aparecem assinaladas por algarismos arábicos, Nelas procurei adutir esclareci- mentos úteis a certas passagens ou elucidar problemas tenninol6gícos. Apresento, em cinco volumes, a tradução integral da. obra, e, para não agravar a complexidade da realização gráfica, elaborei um suplemento, impresso em separado, com todos os assuntos, notils e inserções, relacionados com a reprodução do texto do manuscrito. Incorporei aos cinco volumes as inserções referidas, quando necessá· rias à melhor compreensão do texto, mas sem destacá-las. Todas elas estão assinaladas no suplemento. Este abrange, entre outras,. as seguintes matérias: lapsos de re· dação do manuscrito; acréscimos feitos de uma ou mais palavras ~xplicativas; as divisões ou subdivisões introdt12idas nos capítulos, com os respectivos dtuios, para facilitar a leitura do texto do ma- nuscrito; algumas passagens que Marx riscou, mas que, em virtude de sua importância, foram incorporadas ao texto; conversão· da pagi- nação e do índice do manuscrito na paginação e no índicé desta tra- dução. No Suplemento, todos os assuntos se agrupam em seções, de acordo com sua natureza, e estão sujeitos a um sistema de remissões que os relaciona com o volume, página e linha correspondentes desta tradução. No final de cada um dos cinco volumes figuram uma tabela de pesos, moedas e medidas, um fndice onomástico e um índice analítico. 12 Observação .geral T onos os ECONOMISTAS íncottem neste erro: não examinam a mais-valia como tal, pura, mas nas fo1111as especiais ele lucro e de renda fundiária.. Os inevitáveis erros te6ricos daí oriundos aparecerão mais adiante, no capitulo III, 1 onde se analisa a forma grandemente mo· dificada que a mais-valia adquire na figura do lucto. 1 Quando Marx iniciou em janeiro de 1862 (caderno VI) a redação da parte do manuscrito de 1861-1863, relativa a Teorias da Muir;-Valia, o cap. III era a terceira parte de sua pesquisa sobre "o capital em geral", e abran· gia o processo de produção do capital, o processo de circulação do capital e a unidade de ambos ou capital e lucro. Em janeiro de 1863 (caderno XVIII), esboça Marx um plano que transfere o desenvolvimento teórico do lema - transformação da mais-valia em lucro - para a parte III ou seção Ill de O Capitul, parle que se tomou o livro 3. Marx, porém, faz um exaus.- tivo estudo histõ.rico-crítioo dé8se tema em Teoriaa da Mais-Valia. conforme se pode verificar ao longo desta tradução. Marx. nos dá aí a mais longa e pormenorizada ex.posição sobre os erros teóricos resultante da confusão entre mais-valia e lucro. Quanto ao desenvolvimento te6rico do tema considerado, ver O Capital. ed. Civilização Brasileira, livro 3, vol. 4, pp. 29-237. 1J CAPITULO l ---·--·------- ---··---~-~- Sir James Steuart DISTINÇÃO ENTRF, LUCRO DE AUENAÇÃO PROFI1.' UPON ALIENATION - E ACRÉSC'.IMO POSlTIVO DE llIQUEZA ÁNTES dos fisiocratas explicava-se a mais-valia, ou melhor, o lucro prisioneiro de sua forma, apenas pela troca, pela venda da. mer- ca.dorla acima do valor. Sir James Steuart, embora não supere, de modo geral, essa idéia estreita, deve ser considerado o economista que a formula cientificamente. Digo "cientifiéamente". Steuart não compartilha a ilusão de achar que a mais-valia obtida pelo capitalista individual/! ao vender a mercadoria acima do valor, seja uma criação de nova riqueza. Assim distingue entre lucro positivo e lucro relativo. "Lucro positivo não significa perda para ninguém; resulta de acréscimo de trabalho, indústria ou engenhosidade, e tem o efeito de aumentar ou acrescer a riqueza social. . . Lucro relativo significa prejuízo para alguém; indica, para as partes interessa- ~ Ca()italista individual ê qualquer capitalista, pessoa fÍISica ou pessoa jurídica, não importa a dimensão de3ta, por oposição à classe capitalista como nm todo. 15 das, oscilação na balança da rique7Al, mas não implica adiçfü) alguma ao fundo geral. . . O composto é fácil de entender; é llquela espécie de lucro •.. , parte relativo, parte positivo ... os dois podem subsistir foseparávcis no mesmo negócio." (_Princi· ples of Pol. Economy, v. I, Tbe Works of Sii- James Steuari etc. ed. pelo General Sir James Steuart, seu filho etc., em 6 vols., pp. 275-276.) ' O lucro positivo provém de "acréscimo de trabalho, indústria e engenhosídade". Como provém daí é o que Steuart não procura ex- plicar. Ao acrescentar que o efeito desse lucro é o de aumentar e engrandecer a riqueza social, Steuart parece reduzi-la apenas a maior volume de valores de uso, obtido em virtude do desenvolvimento das forças produtivas do trabalho, e conceber esse lucro positivo de todo separado do lucro do ~pitalista, lucro este que pressupõe sempre acréscimo do valor de troca. Essa concepção confirma-se plenamente ao continuar ele sua exposição. Diz ele: "No preço das mercadorias considero duas coisas de fato exis- tentes e totalmente diversas entre si: o valor real das mercado- rias e o lucto de alienaçãt/' ( p. 244). O preço das mercadorias encetta assim dois demenros por intei- ro diferentes um do outro; primeiro, o valot real, segundo, o lucro de alienação, o lucro que se realiza com a alienação, a venda. Esse lucro de alienação decorre, assim, de ser o, preço ·da merca- doria maior que o valor ou de serem as mercadorias vendidas acima do valor. O ganho' de tun lado implica sempre perda) do outro. Não se gera adição alguma ao fundo geral. O lucro, isto é, mais-valia, é relativo e reduz-se a "oscilação, para as partes interessadas, na ba- lança da riqueza". O próprio Steuart repele a idéia de ex.plicar por esse meio a mais-valia. Sua teoria da oscilação, para as partes interes- sadas, na balança da riqueza, embora não atinja a natureza e a origem da própria mais-valia, assume importância por ronsíderar a distribui· ção da mais-valia por classes diferentes e rubricas diferentes como lucro, juros, renda fundiária. Stcuart limita todo lucro do capitalista individual a esse "lucro relativo", conforme demonstra o seguinte: 16 O "valor real", diz ele, é determinado, primeiro, pela "quanti- dade" de trabalho que "em média um trabalhador do país pode geralmente efetuar ... num dia, numa semana, num mês etc." Segundo: "pelo valor das despesas de subsistência e necess~rfas. do ttabalhadot, tanto para satisfa:rer suas necessidades pessoais. quanto. para obter os instrumentos próprios de sua pro- fissão, o que se deve considerar em média, como acima ... " T.erceiro: "pelo valor dos materiais" (pp. 244-245). Conheci- dos esses três elementos, fica determinado o preço do produto. O valor real não pode ser mais baixo que o montante dos três; o que o ultrapassa constitui o lucro do manufator. Esse lucro será proporcional à procura e por isso variará segundo as cir- cunstâncias" ( 1. c., p. 24 5). Daí a necessidade de haver grande procura para o florescimento das manufaturas. . . os empre· sáríos manufatureiros regulam seu modo de viver e sua..-1 despe- sas de acordo com o lucro de que têm certeza.. ( 1. e., p'. 246) . .Daí se infere claramente: o lucro do manufator, do capitalista individual, é sempl'e o lucro relativo, lucro de alienação, derivado do excesso do preço da mercadoria sobre o valor real, da 11enda acima do valor. Se todas as mercadorias fossem vendidas pelo valor, não exis- tiria lucro. Steuart escreveu um capítulo especial sobre a matéria e exami- nou em pormenor "como os lucros se incorporam ao preço de custo" ( vol. IH, 1. e., pp. 11 ss.). Steuart repele a idéia - do sistema monetário e do sistema mercantil - de que a venda das mercadorias acima do valor e o lucro daí resulta11te constituem mais-valia, acréscimo positivo da ri- queza''; em contrapartida, mantém a concepção de o lucro do capi- talista individual ser tão-só esse excesso do preço sobre o valor, o lucro decorrente da alienação. Para ele, porém, é apenas relativo, compensando-se o ganho de um com a perda do outro, e reduzin- do-se o movimento a mera "oscilação, para as partes interessadas, na balança da riqueza." A esse respeito Steuart é portanto a expressão racional do sis- tema monetário e do sistema mercantil. O serviço que prestou à teoria do capital consiste em ter mos- trado como sucede o processo de dissociação entre as condições de produção, propriedade de determi11ada classe, e a força de trabalho.r. • Mas até mesmo o sistema monetário não admite esse lucro no interior de um país e sim apenas no intercâmbio com outros países. Nesse ponto concorda com o sistema mercantil, que configur-d esse valor em dinheiro (ouro e prata) e, por isso, encontra a expr~ão da mais-valia no saldo em dinheiro da balança comercial. (Nota feita à margem pelo próprio Auto.r.) ii Na terminologia marxiana têm o me.o;mo sentido as expressões "forçn de trabalho" (ArbeitRlcraft) e "poder de trabalho" (Arbeitsvermõgen). Esta é utilizada em Teorias da Mais-Valia, e aquela nos livros 1, 2 e 3 de O Capi"tal e é a que acabou prevalecendo e se generalizou. Por isso e por não haver dúvidas de sentido, nesta tradução emprega-se geralmente a primeira expres.~ão. 17 Ocupa-se muito com esse processo gerador do capital - sem contudo conçebê-lo diretamente nessa qualidade, embora o considere condição da grande indústria. Observa o processo sobretudo na agricultura. E com acerto acha que só por meio desse processo de dissociação> na agricultura, se gera a indústria manufatureira propriamente dita. A. Smith já supõe condurdo esse processo de dissociação. (Livro de Steuart, 1767, Londres; de Turgot, 1766, e de A. Smith, 1775.)" " Steuart, An inquiry into the principles of politícal economy .• . , 2 vo[s., Londres, 1767; Turgot, Réflexions sur la formati'on et la distribution des tichesses, _Paris, 1766; Smith, An inquiry into 1l1e nature and causes of the wealth of nations, 2 vols., Londres, 1776. 18 CAPITULO li Os fisiocratas 1. A PESQUISA DA ORIGEM DA MAIS·VALIA SB TRANSFERE DA ESPERA DA CIRCULAÇÃO PARA A DA PRODUÇÃO DIRETA. A RENDA FUNDIÁRIA FOPu."1A ÚNICA DA MAIS-VALIA A ANÁLISE do capital, dentro do horizonte burguês, coube essen- cialmente aos fisiocratas. Essa contribuição faz deles os verdadeiros país da economia moderna. Primeiro, analisaram os diversos elemen~ tos materiais ern que· tem existência ou se decompõe o capital du- rante o processo de trabalho. Não se pode censurar os fisioc.ratas por terem, como todos os seus sucessores, considerado como capital estes modos materiais de existência, instrumentos, matérias-primas etc., separados das conclíções sociais em que aparecem na produção capi- talfat.a, ou seja, na forma em que genericamente são elementos do processo de trabalho, dissociado da forma social, erigindo assim o modo capitalista de produção, em modo eterno e natural de produção. Para eles é imperativo que as formas burguesas da produção confi- gurem formas naturais. Tiveram eles o grande mérito de consick.->:rá-las formas fisiológicas da sociedade: formas oriundas da necessidade na- tural da pr6pria produção, independentes da vontade, da política etc. São leis materiais; o etto estava apenas em ver na lei material de de· terminado estádio social histórico, uma lei abstrata que rege por igual todas as formas sociais. 19 Além dessa análise dos elementos materiais em que consiste o capital no processo de trabalho, os fisiocratas determinam as formas que o capital assume na circulação (capital füw, capital circulante, embora lhes dêem ainda outras denominações), e em geral a conexão entte o· processo de circulação e o processo de reprodução do capital. Voltar ao assunto no capítulo sobre circulação.5 A. Smith recolheu o legado dos físiocratas relativo a esses dois pontos principais. Aí seu mérito limita-se a fixar categorias abstratas, a dar nomes precisos às distinções analisadas pelos fisiocratas. Conforme vi.mos,6 a base do desenvolvimento da produção ca- pitalista é, de modo geral, a circunstância de a força de trabalho, a mercadoria dos trabalha.dores, confronrar-se com as condições de tra- balho, na qualidade de mercadorias mantidas na forma de capital e com existência independente deles. ~ essencial detemiinar o valor da força de trabalho na qualidade de mercadoria. Esse valor é igual ao tempo de trabalho requerido para produzir os meios de subsístênciu necessários para reproduzir a força de trabalho, ou igual ao preço dos meios de subsistência necessários à existência do trabalhador como trabalhador. S6 nessa base verifica-se diferença entre o valor da força de trabalho e o valor que ela cria, diferença que não existe nas de- mais mercadorias, pois não há butra mercadoria cujo valor de uso, cuja utilização portanto, possa aumentar seu valor de troca ou os va- lores de troca dela resultantes. Assim constitui fundamento da eco- nomia moderna, envolvida com a análise da produção ~pitalista, con- siderar o valor da força de trabalho algo fixo, magnitude· dada, ·a que ele é na prática em cada caso particular. Por isso, o mínfmo de sa- lário representa, apropriadamente, o eixo da·· teoria físiocrática. Pude- ram chegar a essa formulação sem ter descoberto a' natureza do pró- prio valor, porque o valor da força de trabalho se configura no preço dos meios de subsistência necessários, ou seja, numa soma de determi- nados valores de uso. Por isso, sem penetrar na natureza do valor. puderam considerar o valor da força de trabalho grandeza dada, na medida das necessidades das pesquisas. Erraram depois, ao considerar esse mínimo magnítude invari.áve], totalmente determinada í'ela natu- reza e não pelo estádio hist6tico de desenvolvimento, magnitude essa "6 &se capitulo transformou-se, por fim, no livro 2 de O Capital. Man;: analisa aí as idéia."> fisiocrãticas referentes a capital fixo e círcu1ante, e trata da circulação e da reprodu.ção do capital. Ver O Capltal, Ed. Civilização Brasileira. lívro 2, pp. 1.98-225 e 384-386. 6 Marx: refere-se às páginas 58-60 do caderno ll. do manuscrito de 1861- 1863, nai; quais aborda a transformação de dinheiro em capital e os. com- ponentes desse processo de transformação. Ver O Capital, ob. cit., livro l, pp. 166-197. 20 sujei.ta a vatraçoes. Esse erro, entretanto, em nada altera o acerto abstrato de suas conclusões, pois a diferença entte o valor da força de trabalho e o valor que ela cria de modo algum depende do nível suposto para aquele valor. Os fisiocratas deslocaram a pesquisa sobre a origem da mais-velia, da esfera da circulação para a da produção imediata, e assim lança- ram o fundamento da análise da produção capitalista. Com toda razão estabeleceram o princípio fundamental: só é produtivo o trabalho que gera mais-valia e em cujo produto portanto se contém valor maior que o atingido -pela soma dos valores consumi- dos na sua elaboração. Dado o valor das matérias-primas e materiais e sendo o valor da força de trabalho igual ao mínimo de salário, é evi- dente que essa mais-valia s6 pode cons~stir na q~_antidade de trabalho que o trabalhador deixa para o capitalista e que excede a quantidade de trabalho recebida no salário. Mas os fisíoctatas não a vêem nessa forma, pois ainda não reduziram o valor a sua substância simples, quantidade ou tempo de trabalho. É natural que seu método de expor necessariamente se subordine à sua concepção geral da natureza do valor, que para eles não é de· terminado modo de existência social da atividade humana (trabalho), mas consiste em terra, natureza, em matéria e nas diferentes modifi- cações desta. , De todos os ramos de produção é a agrkultura - a produção primária - aquele onde se manifesta de maneira mais tangível e mais incontestável a diferença entre o valor da força de trabalho e o valor que esta gera, isto é, a mais-valia que a compra da força de tra- balho proporciona a quem emprega essa força. A soma dos meios de subsistência que o trabalhador consome t~o ano, ou a massa de ma- téria que absorve, é menor do que a soma dos meios de subsistência que produz. Na manufatura em geral não se vê o trabalhador pro- duzir seus meios de subsistência nem o excedente sobre eles. O pro- cesso tem a intervenção da compra e venda, dos diversos atos de cit· culação, e requer, para ser compreendido, a análise do valor em geral. Na agricultura revela-se, de imediato, no excesso dos valores de uso produzidos sob.re os valores de uso consumidos pelo trabalhador, e pode-se apreendê-lo sem a análise do valor em geral, sem a clara com- preensão da natureza do valor. Por isso, o mesmo se dá quando se reduz o valor a valor de uso e este a matéria em geral. Para os fisio- cratas, o trabalho agrícola é o único traba/,ho produtivo, porque o consideram o único trabalho que gera mais-valia, e a renda fundiária é a única forma de mais•valía que conhecem. O trabalhador da ma- nufatura não multiplica a matéria; limita-se a transformá-la. A agri- cultura lhe dá o material - a massa de matéria. O trabalhador acres- 21 centa decertb valor à matéria, não com o trabalho, mas com os custos de produção do trabalho: com a soma dos meios de subsístência que consome durante o trabalho, e essa soma é igual ao mínimo de salário que recebe da agricultura. Sendo o trabalho agrícola qualificado de único trabalho produtivo, considera-se forma única do valor exce- denêe7 a forma. de mais-valia que distingue o trabalho agrícola do industrial, a renda funJ iária. 8 Para os fisiocratas, portanto, não existe o lucro propriamente dito do capital, o lucro donde a renda fundiária apenas se destaca. O lucro afigura-se-lhes uma espécie de salário superior pago pelos pro- prietários de terras, consumido pelos capitalistas como renda9 (por isso integra os custos de produção dos proprietários, da mesma ma· neira que o mínimo de salário dos trabalhadores comuns) e que acres- ce o valor da matéria-prima, pois entra nos custos de const4mo .que o capitalista, o industrial, despende enquanto fabrica o produto, trans- forma a matéria-prima em novo produto. Pane dos fisiocratas, como Mirabeau, o velho, taxa de usura contrária à natureza a mais-valia na forma de juro do dinheiro, outra ramificação do lucro. Turgot, ao contrário, justifica o juro argumen- tando que o capitalista financeítçi poderia comprar terra, ou seja, renda fundiária, e por isso seu capital-dinheiro gera necessariamente a mes- ma quantidade de mais-valia que receberia se ele o trans_formasse em propriedade fundiária. Com isso não se quer dizer que o juro do di- nheiro também seja novo valor gerado, mas explica-se por que parte da mais-valia obtida pelos donos das terras flui pnra a· ~pitalista fi. nanceiro na forma de juros, do mesmo modo que por outos motivos 1 Nesta tradução, valor excedente = mais-valia. a Nesta tradução, renda funiliâria = renda da terra. e No uso da palavra "renda", Marie. considera as diferenças U!lua.is da terminologia inglesa entre renda (revenue) e renda (rent). Quando fala em "Revenue" angliciza "revenue.. que tem sua origem no francês ••revenu''. Renda (revenue) designa a mais-valia como rendimento periódico do capital ou uma parte desse rendimento, a qual o capitalista periodicamente con- some ou aõiciona a seu fundo de consumo. Renda (revenue) abrange tam- bém o salário reproduzido pelo trabalhador. Renda (rent), em alemão "Rente", tem o sentido geral de aluguel, arrenilamento; Marx utiliza essa palavra (às vazes, a própria forma inglesa) para designar a renda da terra, forma e.~pecial ile mais-valia preferindo, na maioria dos casos, a exprenão composta "Grundrente" (Grund = terra). Às vezes a palavra "Revenue" se alterna com .. Binkommen" ("income" em inglês), de uso mais freqüente com referência a renda nacional, definida por Mane:, em O Capital, Bd. Ci- vilização Brasileira, livro 3, vol. 6, p. 964. Ver ob. cit., livro J, voJ. 2, p. 688, n. 33; livro 3, vol. 6, pp. 1073 e 1074, e, neste vQlume, p. 138. 22 se explica o fluxo de parte dessa mais-valia na forma de lucro, para o capitalista industrial. O trabalho agrícola é o único produtivo, o único trabalho que gera mais-valia, e por isso a forma de mais-valia que distingue o trabalho agrícola de todos os outros ramos de tra- ba1'1o, a renda fundiária, é a forma geral da mais-valia. Lucro indus- ttial e juro de dinheiro são apenas rubricas em que a renda fundíár.is se reparte e passa em porções determinadas das .mãos dos donos das terras para as de outras classes. Os economistas posteríores, a começar por A. Smith, sustentam concepção oposta~ considerando com acerto o lucro industrial a forma em que o capital se apropria originalmente da mais-valia, por conseguinte, a forma original, geral, da mais-valia., e vêem no juro e na renda fondiál'ia meras :tamificações do lucro in· dustrial, que o capitalista industrial distribui pelas diversas classes, co-proprietárías da mais-valia. Aléni da razão já apontada de ser o trabalho agrícola aquele em que a geração de mais-valia aparece materialmente tangível e pres- cinde do processo de circulação, tinham os fisiocratas vários outros argumentos para explicar sua concepção. Primeiro: na agricultura, a renda fundiária patenteia-se um ter· ceíro elemento, uma forma de mais-valia que não se acha ou que se desvanece na indústria. Era a mais-valia acima da mais-valia (lucro), portanto, a forma mais palpável e contundente da mais-valia, a mais. valia elevada à segunda potência. "A agricultura", diz o economista silvestre Karl Arnd, Die na- turgemasse Volkswirtschaft etc., Ham1u, 1845, pp. 461-462, "cria, com a renda fundiária, um valor que não aparece na indús- tria e no comércio; um valor que sobra depois de reenibolsà- dos todo salário gasto e toda renda do capital aplicado". Segundo: omitindo-se o comércio exterior, o que os fisiocratas, com razão, faziam e tinham de fazer para levar avante a análise abstra- ta da sociedade burguesa, é claro que a massa dos trabalhadores ocup;;:. dos na manufatura etc., totalmente líbetãclos da agricultura - os "braços livres" como os chama Steuart - é determinada pela massa de produtos agrícolas que o trabalhador do campo pode produzir aci" ma do pr6prío consumo. "É óbvio que tem de ser medido apenas pelas forças produtivas dos agricultores, o número rdativo de pessoas que se pode man- ter sem executar trabalho agrícola" (R, Jones, On the Dist. o! Wealth, Londres, 1831, pp. 159-160). 2) O trabalho agrícola, por ser assim a base natural (ver. sobre o :assunto caderno anterior)w do trabalho excedente em seu próprio .domínio e ainda da existência autônoma de todos os 012ttos ramos de trabalho, e por isso também da mais-valia neles criada, tinha eviden- temente de ser considerado o gerador da mai'>-valía, desde que se con- ·cebia como .substância do valor do trabalho determinado, conc:teto e .não o trabalho abstrato e sua medida, o tempo de trabalho. Terceiro: toda mais-valia. relativa ou absoluta, baseia-.se em dada produtividade do trabalho. Se a produtividade do trabalho atingisse apenas o nível onde o tempo de ttabalho de um homem só desse para ele sobreviver, para produzir e reproduzir os pr6p.rios meios de subsistência,· não haveria trabalho excedente nem valor excedente*, não. ocorreria diferença alguma entte o valor da força de trabalho e o valor criado por essa força. Por isso, a possibilidade do trabalho- -excedente e do valor excedente decotte de dada produtividade do trabalho, de produtividade que permita à força de trabalho repro.. <iuzir mais que o próprio valor, produzir além das necessidades dita· das por seu processo vital. E essa produtividade, esse nível de pro- dutividade donde se parte como condição prévia, tem de existir, antes de tudo, no trabalho' agrícola, conforme vimos no item segundo, e assim aparece como dom, como força produtiva da natureza. Na agri- cultura conta-se em geral, de saída, com a cooperação ampla e global .das forças naturais, com o aumento da força· de trabalho humana pelo emprego e exploração das forças naturais, de atuação automltica. Essa ampla utilização _das forças naturais só apare<.."e na manufatura -com o desenvolvimento da indústria em grande escala. Determinado estáclio de desenvolvimento da agricultu.ra, no próprio país ou em países estrangeitos, constitui a base do desenvolvimento do capital. Nesse ponto e até aí, a mais-valia absoluta coincide com a relativa. (Buchanan, grande adversário dos fisiocratas, sustenta essa argumen- tação contra o próprio A. Smith, procurando demonstrar que o de- senvolvimento agrk-ola precedeu a emergência da moderna indústria urbana.) Quarto: a fisiocrada, cuja contribuição importante e especifica ·é a de ter . derivado o valor e a mais-valia não da circulação e sim da produção, começa necessariamente, ao contrário do sistema monetá- rio e do mercantilista, com o ramo de produção que se pode (.'Onsi- derar isolado e independente da circulação, da troca, e pressupõe não o interclrnbio entre o homem e o homem, mas apenas entre o homem e a natureza. l!O Marx refere-se às pp. 105 e 106 do caderno III do manuscrito de 1861-1863, onde 1nencio.na os fisiocratas a propósito do trabalho excedente e do valor excedente. ,. Ver nota 7, p. 22. 24 2 . CONTRADIÇÕES DO SJS'I'EMA FISJ-OC1tÁTICO: A MÁSCARA FEUDAL E A ESstNClA BURGUESA; J)UPLICIDADE NA JNTERPRETAÇÂ-0 DA MAlS·VALIA Emergem daí as contradições do sistema fisiocrátko. É de foto o primeiro sistema que analisa a produção capitalista. e apresenta colllú leis naturais e eternas da produção as condições. nas quais se prcxluz o capital e nas quais o capital produz. Mas tem antes a aparência de uma reprodução burguesa do sistema feudal, do domínio da propriedade fundiária; e as esferas industriais onde o capital .tem o primeiro desem'olvimento autônomo apresentam-se como· ramos "improdutivos" do trabalho, ·meros satélites da agricultura. Para o desenvolvimento do capital, a primeira condição é que o trabalho- se dissocie da propriedade fundiária e que a terra - a condição ori- ginal do trabalho - se contraponha ao trabalhador livre de maneira autônoma, como poder independente, poder que está nas mãos de uma classe particular. Por isso, na visão fisiocrática, o proprietário da terra é o verdadeiro capitalista, isto é, o que se apropria do tra- balho excedente. O feudalismo é reproduzido e elucidado segundo n imagem da produção burguesa, e a agricultura, como o ramo de pto· dução onde se apresenta de maneira exclusiva a produção capitalista, ou seja, a produção de mais-valia. Aburguesa-se assim o feudaUsma e ao me<imo tempo dá-se aparência feudal à sociedade burguesa. Essa aparência iludia os adeptos aristocráticos do Dr. Quesooyr como o velho Mirabeau, obstinadamente patriarcal. Nos representantes posteriores do sistema fisiocrático, em Turgot sobretudo, esse véu se desfaz por completo e o sistema configura a nova sociedade capitalista que irrompe nos quadros da sociedade feudaL O sistema corresponde portanto à sociedade burguesa da época, libertando-se do regime feu- dal. Por isso, originou-se na França, país onde predomina a agricul- tura, e não na Inglaterra, país onde prepondera a indústria, o co- mércio e a atividade marítima. Na Inglaterra, a atenção se dirige na- turalmente para a circulação: o produto s6 adquire valor, só se torna· mercadoria, quando configura trabalho social geral, quando se ex- pressa em dinheiro. Por isso, contanto que não se trate da forma do, valor, mas da magnitude e do acréscimo do valor, o que importa af é o lucro de expropriação, isto é, o lucro relativo descrito por Steuart. Mas, se o objetivo é demonstrar a geração da mais-valia na própria esfera de produção, é mister primeiro voltar ao ramo de trabalho onde ela se apresenta independente da circulação, à agricultura portanto, Daí ter ocorrido essa iniciativa num país onde predomina a agric_ul- 25 tura. Idéias semelhantes às dos fisiocratas, em estado ·fragmentário, encontram-se em antigos escritores que os antecederam, parte deles na pr6pria França, como Boisguillebert. S6 com os fisiocratas tor- nam-se um sistema que marca uma época. O trabalhador agrícola, dependente do mínimo do salário, o es- tritamente necessário, reproduz mais que esse estritamente necessá- rio, e esse excedente é a renda fundiária, a mais-valia de que se apro- priam os donos da condição fundamental do trabalho, a natureza. Assim, não se diz: o trabalhador trabalha por tempo maior que o necessário para reprod112ir sua força de trabalho; o valor que gera é portanto raaior que o valor da força de trabalho; ou o trabalho que dá em troca é maiot que a quantidade de trabalho que recebe na for- ma de salátío. O que se diz é: a soma dos valores de uso que con- some durante a produção é menor que a soma dos valores de uso que gert11, e assim sobra um excedente de valores de uso. Se trabalhasse apenas o tempo necessário para reprodu:i:ir a própria força de trabalho, nada sobraria. Mas os fisiocratas atêm-se apenas à ídéia de que a produtividade da tetta permite ao trabalhador, na jornada que se supõe dada, produzir mais do que precisa consumir para continuar a viver. Esse valor excedente aparece portanto como dom da natureza; graças à cooperação desta, determinada quantidade de matéria orgânica -- sementes, JUlimais - capacita o trabalho a converter maior quantida. de de matéria ínorgânica em orgânica. Ademais supõe-se natural que o proprietário da terra se contra· ponha ao trabalhador como capitalista. Paga a força de trabálho, mer- cadoria que o trabalhador lhe oferece, e, em troca, além de receber um equivalente, apropria-se do acréscimo de valor· gerado por essa força. Nessa troca pressupõe-se a condição material do trabalho es- tranha à própria força de trabalho. Embora se considere o senhor de terras feudal como o protagonista, faz ele o papel de capitalista, de mero possuidor de mercadorias, que acresce o valor das mercadorias que troca por trabalho, recebe de volta, além do equivalente, um ex- cedente sohre esse equivalente, pois paga a força de trabalho apenas como mercadoria. Na qualidade de possuidor de mercadorias con- trapõe-se ao trabalhador livre. Noutras palavras, esse proprietário de terras é na essência capitalista. Ainda a esse respeito acerta o sistema fisiocrático, pois liberar-se o trabalhador da terra e da propriedade fundiária é condição fundamental da produção capitalista e da. J?roduçifo do capital. Daí as co11ttadíções do sistema: embora fosse o primeiro a e:it- plica,r a mais-valia pelo ato de apropriar-se do trabalho alheio e ex- plicar esse ato 11a base da troca de mercadorias, não vê no valor em geral forma de trabalho social, e no valor excedente*, trabalho exce· dente; ao invés disso, considera o valor mero valor de uso, mera substância material, e a mais-valia, simples dom d11 natureza, que dá aq trabalho quwtidade maíor em troca de dada quantidade de ma- téria orgânica. De um lado, a renda fundiária - isto é, a forma eco· nômica real da propríedade da terra - despojada do invólucro feu- dal, é reduzida apenas a mais-valia, o excedente do salário. Do outro, numa recidiva feudal, a maís-valia é derivada da natureza e não da sociedade; da relação com a terra e não das relações socíais. O pró- prio valor se reduz a mero valor de uso, a matéria, portanto. Demais, nessa matéria só interessa a quantidade, o excesso dos valores de uso produzidos sobre os consumidos, ou seja, a simples relação quantita- tiva entre valores de uso, o mero valor de troca recíproco, que em última análise se reduz a tempo de trabalho. Tudo isso são contradições da produção capitalista que luta por emergir da sociedade feudal e apenas lhe confere um sentido burguês, sem ter encontrado ainda sua forma peculiar; algo como a filosofia que primeiro désabrocha na forma religíosa da consciência e assim destrói a religião como tal, enquanto seu conteúdo afirmativo se move confinado nessa esfera religiosa idealizada, decomposta em conceitos e idéias. Daí ser uma das conseqüências do pensamento fisíocrático trans- mutar-se seu próprio panegírico ostensivo da propriedade fundiáría na negação econômica dela e na afirmação da produção capitalista. Uma de suas teses é a de que todos os impostos incidam sobre a renda fundiária, isto é, que a propriedade da terra seja parcialmente con- fiscada, o que a legislação da Revolução Francesa procurou levar a cabo e constitui conseqüência de desdobramentos da moderna eco· nomía ricardiana. 11 Por ser a renda fundiária o único valor excedente - todos os impostos acàbam incidindo sobre ela, e assim toda tributa- ção de outras formas de renda apenas sobrecarrega a propriedade fun- diária por processo indireto, economicamente prejudicial, portanto, freando a produção - isenta-se dos tributos e por isso de toda inter- venção esta.tal a própria indústria, que desse modo fica livre de toda interferência governamental. Supõe-se que isso corresponde ao proveito da propriedade fundiária, a seu interesse e não ao da indústria. De par * Ver nota 7, na p. 22. 11 Refere-se Marx aí ao grupo dos economistas ricardianos como James Mil!, John Stuart Mill e Hilditch, que tomam posição contrária à proprie- dade privada da terra, propondo se transfira, parcial ou totalmente, para o estado burguês, a propriedade dela. &ses economistas constituem o grupo radical rlcanllimo. 27 com isso o lema; laissez faire, laissez aller;1'2 a concorrência livre, sem freios, eliminação de toda intervenção estatal, de monop6lio etc. nas atividades da indústria. Uma vez que a indústria nada gera, ape· nas põe noutra forma os valores que a agricultura lhe dá, sem lhes adicionar valor novo, mas só restitui noutra forma o equivalente dos valores que lhe foram fornecidos, é naturalmente desejável que ess~ processo de transformação se efetue sem perturbações e da maneira roais barata, o que só se consegue por meío da livre concorrência, deixando-se a produção capitalista entregue a si mesma. Da monar- quia absoluta erigida sobre as ruínas da sociedade feudal emancipa·se portanto a. sociedade burguesa no interesse exclusivo do senhor feudal, transformado em capitalista preocupado apenas em enriquecer-se. Os capitalistas só são capitalistas no interesse dos donos das terras, do mesmo modo que a economia política, no desenvolvimento posterior. só lhes permite serem capitalistas no interesse da classe traba1hadora. Vê-se portanto como os economistas modernos - e entre eles figuta Eugene Daire, editor dos fisíoc:ratas e autor de obra premiada sobre eles - pouco entenderam a fisiocracia, ao acharem que as teses específicas dessa escola sobre a produtividade exclusiva do tra·· balho agrícola, sobre a renda fundiária como a única mais-vali.a e sobre a posição proeminente do proprietário da terra no modo de produção não têm conexão, a não ser fortuita, coro a proclamação da livre concorrência, com o princípio da indústria em -grande escala, da produção capitalista. Compreende-se ao mesmo tempo, como a envoltura feudal desse sistema, do mesmo modo que o tom aristocrá- tico da explicação iluminista, tinha de tornar uma porção de senhores feudais, entusíastas e propagadores de Ulr! sistema que na essência proclamava o sistema de produção burguês sobre as,ruínas do feudalis- mo. 3. As 'l'RÊS CLASSES SOCIAIS DE QUESNJ..Y. TURGOT DESENVOLVE A TEORIA FISIOCRÁTICA: ELEMENTOS DE ANÁLISE MAIS PROFUNDA DAS REI.AÇÕES CAPl1'AUSTAS Examinaremos agora várias passagens para elucidar ou para_ de. monstrar as teses antes enunciadas. 12 '"J,aisser. faire, laisser. aller", ou melllor, ~lai.tser. falre, laisie.t: pa;sser" constitui o refrão, o sTogan dos fisiocratas na lutá por uma política econô- mica totalmente liberal, de acordo ._com os ínteres.qes daquela fase ascendente do capitalismo. 28 Segundo o pr6p.rio Quesnay, na Andyse du Tableau Economique. a nação consiste em três classes de cidadãos: "a classe produtiva" (trabalhadores agrícolas), "a classe do$ proprietários de terra" e "a classe estéril" {"todos os cidadãos ocupados em serviços ou trabalhos que não os da agricultura"). (Physiocrates etc., ed. Eugene Daire, Paris, V' parte, p. 58.) Como classe produtiva, classe que gera a mais-valia, aparecem os trabalhadores agrícolas apenas e não os proprietários da terra. A importância desta classe de proprietários, que não é "estéril" por re- presentar o valor excedente*, não provém de produzir ela a mais-valia mas exclusivamente da circunstância de apropriar-se desse excedente. Com Turgot, o sistema atinge o desenvolvimento máximo. Em certas passagem de seus trabalhos, a mera dádiva da natureza se lhe afigura trab~lho excedente, e além disso explica a necessidade do trabalhador de ceder o que ultrapassa o salário necessário, com o fato de estar ele dissociado das condições de trabalho e de se lhe contra- porem tais condições, como propriedade de uma classe que comercia com elas. O trabalho agrícola é o único produtivo - e esta é a primeira razão apresent~da - porque é a base natural e a precondição do desempenho autônomo de todas as outras espécies de trabalho. "o trabalho» (do agricultor r "'conservai na ordem dos trabalhos repartidos entre os diferentes membros da sociedade, a mesma primazia , .. , que o trabalho destinado à própria alimentação ocupava entre os diversos trabalhos que o agricultor no estado solítário tinha· de consagrar às necessidades de tçida espécie. Não se trata aqui de uma pti.m.azia de hon:ra ou de dignidade, mas de necessidade física. . . O que o trabalho do agrkultor con· segue obter da terra, acima das necessidades pessoais, constitui o úníco fundo dos salários que todos os demais membros da sociedade recebem em troca de trabalho. Estes, ao utilizarem o preço recebido nessa troca pata comprar, por sua vez, os pro- dutos do agricultor, restítuem-lhe" (em matéria) "exatamente o que receberam. Temos aí uma diferença essencial entre esses dois gêneros de trabalho" (Réflexions su1· la Formation et la Distribution des Richesses, 1766~ Turgot, Oeuvtes, ed. Daire, t. I, Paris, 1844, pp. 9-10). * Ver nota 7, p. 22. 29 Corno se oragma então a mais-valia? Não é oriunda da circula- ção, mas nela se realiza. O produto é vendido pelo valor e não acima do valor. O preço não excede o valor. Mas, por ser o produto ven- dido pelo valor, o vendedor r~liza mais-valia. Isto só é possível por· que ele mesmo não pagou o valor todo que vende ou porque o pro .. duto contém urna porção de valor não paga pelo vendedor, não substituída por equivalente. É o que sucede com o trabalho ag.dcola. O proprietário da terra vende o que não comprou. Turgot, de início, considera esse elemento. não comprado puro dom da natureza. Vere- mos, entretanto, qi.1e esse puro dom da natureza (essa roera dádiva da natureza)., em seus estudos, se transforma furtivamente no tra- balho excedente dos trabalhadores, o qual o proprietário da terra não compra, mas vende nos produtos agrícolas. "Uma vez que seu trabalho produz além das suas necessidades, pode o agricultor, com esse excedente que a natureza lhe con· cede como simples dádiva afora o sttliírio de seu labor, comprar o trabalho dos outros membros da socíedade. Estes só ganham a subsistência vendendo-lhe o trabalho; ele, ao contrário, obtém, junto com a subsistência., uma riqueza independente e disponível, que não comprou, mas vende. É portanto a única fonte das ri- quezas que, circulando, animam todos os trabalhos da socie-' dade, pois ele é a única pessoa cujo trabalho produz mais que o salário do trabalho" ( 1. e., p. 11 ) • Nessa concepção inicial cabe ve1·, primefro, a essênd~ da mais· valia, o valor que se realiza na venda sem o vendedor ter' dado equi- valente em troca ou tê-lo comprado. Valo1·-não pago. Segundo, consi- dei:a-se isso, porém, mera dádiva àa natureza, C."Ccesso sobre o salário do trabalho; dom da natureza, afinal, neste sentido: o trabalhador de- l>ei:i4e dJi produtividade da nature7,a para poder produzir na Jornada -~is que o necessári<;J para reproduzir a força de trabalho, mais qui: O inqntante do salário. Nessa concepção .inicial, o trabalhador ainda s~ !l-pt0prja do produto global. E esse produto global se divide em gp~s · partes. A primeira constitui o salário; ele aparece perante si .:mi!:smo çom<;J assalariado que paga a si mesmo a parte do produto ~é~s4tja ~ reprodução d~ própria força de trabalho, à própria· subsis- (~da, A segunda parte, que ultrapassa a primeira, é dádiva da natu- t'iza 'ê eons.titui a mais-valia. A natureza dessa mais-valia, essa dádiva :P9t~ d~ ''':natureza,, c:onfiguta-se de maueírtt mais precisa logo que se réd~a a ,}µpó~ese do agricultor proprietário da terra, e as duas parte~ 4ç pro~i.:11:0, o $:Ját'io e a mais-valia, passam a caber a classes diferen- te.s; uma, a,o assalarkido, e a outra, ao proprietário. ,A .fim de _se fotma.r uma classe de assalariados. na manufatum ou na própria agr:i:;ultura - todos os manufatores, de in!'.do, apare- JO cem apenas como estipendiados, assalariados pelo agticultor proprfo. táxio -, as condições de trabalho têm de se separar da força de trabalho, e o fundamento dessa dissociação é patentear-se a terra propríedade privada de uma parte da sociedade, de modo que a outra parte se excluí dessa condição material necessária à apropriação do produto do próprio trabalho excedente. "Nos primeiros tl':mpos não era mister distinguir o proprietário fundiário do agricultor. . . Naqueles tempos todo homem tra· balhador encontraY!I. tanta terra quanto dela precisasse, e não podia ser índuzído a trabalhar para outrem. . . Mas, por fim, toda terra encontrou dono; e aqueles que não podiam obter terra própria tiveram de início apenas a saída de trocar o tra- balho de seµs braçc-s - nos empregos da classe assalariada" (isto é, a classe dos artesãos, todos os trabalhadores não-agrí- colas, em suma) - "pelo excedente dos produtos do agricultor proprietário da terra" ( 1. c., p. 12). O agricultor proprietário, com o excedente considerável que a tetrs dava a seu trabalho, podia "pagar pessoas para lavraJ:em sua fazenda; pois, para os que viviam de salário, não importava a atividade com que o obti- nham. Por isso, a propriedade do solo tinh,1 de separar-se do trabdho da lavoura, o que logo se deu. • . Os proprietários CO· meçam. . . a transferir o trabalho agrícola para os trabalhadores assalariados" (p. 1)}. Assim, a rela.ção entre capital e trabalho assalariado se introduz na própria agricultura. Nela se patenteia logo que certo número de pessoas se acham dissocia.das das condições de trabalho - da terra sobretudo - e nada têm pata vender além do próprio trabalho. Então, para o assalariado, que não pode mais produzir merca- doria, mas tem de vender o próprio trabalho, tem o mínimo de salã- rio, o equivalente dos meios de subsistência necessários, de se tornar a lei da troca que ele faz com o proprietário das condições de tra- balho. "O simples trabalhador, que possui apenas os braços e sua in- dústria, só obtém alguma coisa quando consegue vender seu trabalho. . . Com toda espécie de trabalho deve ocorrer e de fato ocorre que o salário do trabalhador se limita ao que é ne- cessário para lhe prover a subsistência.,, (1. e., p. 10). ;ll Quando se estabelece O- trabalho assahi_riado, "o produto do solo se divide em duas partes_; uma abrange a· subsistência e os ganhos do lavrador, que recompensam o tra· balho e constituem a condição para que . ele se encarregue de cultivar a terra do proprietário; o resto é a parte independente e disponível, mero presente que a terra dá a quem a cultiva e que ultrapassa os adiantamentos e o salário do próprio esforço; essa dádiva constitui a participação do proprietário ou a renda com que este pode viver sem trabalho e que emprega como quer" (p. 14} . .Agora, esse puro dom da terra já aparece definido como presente que ela dá "a quem a cultiva", como presente, portanto, dado ao trabalho; como força produtiva do trabalho aplicado à terra, força que ele possui por utilizar a força produtiva da nature-..i;a, força que ele assim extrai da terra, mas só a extrai na qualidade de trabalho. Por isso, o excedente aparece nas mãos do proprietário não mais como "presente da natureza", mas como ato de aproptiar-se, sem dar equí- valente, do trabalho alheio, que por meio d.a produtividade da natu- :i:eza capacita-se a produzir me~os de subsistência acima das próprias necessidades, mas que, par ser assalariado, limita-se a apropriar-se apenas do "que é necessário para prover a própria subsistência", ti- rado do produto do trabalho. "O lavrador produz o próprio salário e ainda a renda que serve para remunerar a classe inteira dos artesãos e d,e outto's assalaria· dos. . . o proprietbrio da terra nada .-tem sem o trahalbo do la- vrador" (o que tem não decorre portanto de mera dádiva da natureza); "recebe dele os meios de .subsistência e .os meios para pagar os trabalhos dos outros assalariados. • . o lavrador só precisa do proprietário em virtude çW; convenções e leís" (1. e., p. 15). Eis aí a mais-valia configurada diretamente na parte do ttabalho d.o lavrador, da qual o proprietário se apodera sem dar equivalente; por .isso, vende o correspondente produto sem o ~er comprado. Só que Turgot não tem em vista o valor de troca como tal, o próprio tempo de trabalho, mas o excedente dos produtos fornecido pelo tra- balho do lavrador ao proprietário, acima do próprio salário; esse ex- cedente, contudo, somente materializa a quantidade de tempo que o lavrador trabalha grátis para o proprietário, excluindo-se o tempo em que reproduz o salário. Vemos, asim> como os fisiocratas, rio atnbito do trabalho agrí- cola, apreendem com acerto a mais-valia, considerando-a produto do J2 trabalho do assalariado, embora concebam esse mesmo trabalho na forma concreta que assume nos valores de uso. A exploração capitalista da agricu1tura - "arrendamento ou alu- guel da tetta" ~é qualifica.da por Turgot, diga-se de passagem1 como "o método mais vantajoso de todos, mas pressupõe um país que já é ricq" (1. e., p. 21). (No estudo da mais-valia ir da esfera da circulação para a da produção; isto é, inferi-la não só da troca da mercadoria por merca- doria mas também da troca, no interior da produção, entre os donos das condições de trabalho e os próprios trabalhadores. Eles se con- trapõem como possuidores de mercadorias, e por isso de maneira ne- nhuma se supõe produção independente de troca.) (No sistema fisiocriítico, os proprietários assalariam; os traba- lhadores e manufatores em todos os ramos industriais são os assala.- l'iados ou estipendiários. Daí haver também governantes e governa- dos.) Turgot analisa BS condições de trabalho: "Em todo ramo de trabalho, o trabalhador tem de dispor pre~ viamente de ferramentas e de quantid~e bastante dos materiais objeto de seu t:tabalho; é mister que subsista, enquanto espera a venda de seus produtos" (1. e., p. 34). Todos esses adiantamentos, essas condições sem as quais o tra- balho não se pode re;alizar e as quais são os pressupostos do processo de trabalho, foram n,a origem fornecidos grátis pela terra: "Forn~-eu ela o primeiro fundo de adiantamentos anteriores a toda cultura", composto de frutos, peixes. animais etc., e de instrumento~ com.çi ramol!l de árvores, pedras, animais domés- ticos que se multiplicam por procriação. e além disso dão, todo ano, produtos como ~leite, lã, peles e outras matérias que, junto com a madeira extraída dªs florestas, constituíram o pri· : meiro fundo para os tr~balhos da indústria" ( 1. e., p. .34). Ora, essas condições de trabalho, esses adiantamentos ao tra· balho, se tornam <.'11pital desde que necessariamente sejam recursos antecipados ao trabalhador por uma terceira pessoa, e este é o caso a partir do moi:nento ·em que o trabalhador s6 possui a própria força de trabalho. "Ur:pa vez que grande parte da sociedade só dispunha dos ·pr6prios braços para subsistir, era. mister que aqueles que assim viviám de salário começassem por ter algo adiantado, fosse para ~ (BSFEAê) ~o..~ se proverem das matérias-primas com que trabalhav1lm, fosse para se manterem enquanto esperavam o pagai;nento do salário" (1. e., pp . .37~.38). Tw:got qualifica os "capitais" de "valores mobiliários acumula· dos" (l. e., p . .38). N1 origem, o proprietário ou agricultor paga o salário diretamente por dia e fornece a matéria à fiandeira de linho, por exemplo. Ao desenvolver-se a indústria, necessários se tornam adiantamentos maiores e permanência desse processo de produção. É o que empreendem os possuidores de capitais. Têm de refluir para eles, no preço dos produt0$, todos os adiantame11tos feitos, além dos salários, e lucro igual a "o que o dinheiro teria dado ao investidor, se ele o tivesse em: pregado na compra de terra, pois o investidor teria sem dúvida preferido, para igual lucro, viver - sem afadigar-se - da ren- da de uma terra que teria podido adquirir com o mesmo ca- pital" ( l. c., p. .39). A "classe laboriosa estípendíária" se subdivide "em empresários capitalistas e simples trabalhaqores" etc. (p. 39). O que se passa com esses empresários é o mesmo que se dá com qs empresários arrendatários. Estes têm de recuperar também todos QS adiantamen· tos e mais o lucro, como acima. J4 "Tudo isto tem de ser previamente deduzido do preçp dos pto- dutos da terra; o que sobra serve ao agricultor para pagar ao proprietário, por este lhe permitir a ·utilizaçã~ da terra em que estabelece sua empresa. É o juro do arrendáinento, a renda do proprietário, o produto líquido; pois tudo o que a terra produ7. até o montante que recupera os adiantamentos de toda espécie e o lucro de quem 0$ fez não pode ser considerado renda, mas apenas recuperação dos custos agrícolas; e o agricultor, se não os recuperasse, evitaria empregar seus recursos e seu labor no cultivo de terra de outrem•• (1. e._, p. 40). Por fim: "Os capitais se formam, em parte, dos lucros economizados pelas classes laboriosas; todavia, uma vez que esses lucros provêm da terra- - pois são todos pagos ou da renda ou dos custos q\le servem para produzir a renda - é claro que os capita.is vêm da terra do mesmo modo que a renda, ou antes que não são mais do que acumulação daquela. parte dos valores produzidos pelo solo, a qual o proprietário da renda ou aqueles que dela participam podem poupar todo ano, sem utilizá-la para suas necessidades" ( 1. e., p. 66). Se a renda fundiária constitui a única mais-valia, justifica-se derivar apenas dela a acumulação. O que os capitalistas acumulam além disso é o que extraem, pela avareza, de seu salário (da renda destinada ao próprio consumo, pois assún se concebe o lucro). Ao incluir-se o lucro, como os salários, nos custos da agricultura e ao considerar~se que só o que sobra constitui a renda fundiária, exclui-se de fato o proprietário da terra dos cllstos agi:fcolas, e assim tira-se dele a qualidade de agente da produção, em perfeita concor- dância com os ricardianos, apesar da .honorífica posição que lhe foi conferida. Favoreceu a propagação da fisiocrncia tanto a oposição ao col- bertismo, 13 quanto sobretudo a catástrofe do sistema de Law ,14 4. PAOLETrx Im: .• 'l'TIFICA VALOR COM MATÉRIA Ferdinando Paoletti confunde valor com a substância material, ou melhor, com ela. o identifica, e vincula esse prisma a toda a. con- cepção dos fisiocratas, conforme ressaltam os trechos a seguir de sua obra, I veri ma.ti di render -felici le societá (em parte dirigido contra Verti que, em Meditazioni sulla economia politica, 1771, ata- 1.a Colberti.tmo designa a política. econômica de Colberl na França, no tem- po de Lufs XIV. Controlador geral das finanças, adotou medidas econômi· cas e financeiras, no interesse do Estado absolutista, como a reorganização do sistema fiscal, incentivo ao comércio exterior com a organização de cQDlpanhias com privilégios nas áreas ultl'amarinas, estímulo ao comércio interior pela redução das barreiras intentas, criação das manufaturas reais, construção de estradas e porl0$. Essas medidas impulsionaram a acumulação de capital na França. O:im a força crescente do modo capitalista de pro- dução, essas medidas coercitivas e reguladoras, da parte do &tado, passaram a enlravar cada vez mais o desenvolvimento econômico. Dai a reivindicação de eliminar a intervenção do Estado e de total liberdade econômica. u A idéia fundamental de Law, banqueiro esco~. era aumentar a ri- queza do país, por meio da emissão de papel-moeda. Funda um banco par- tieular em Paris, em 1-716, transformado cm banco real cm 1718, com a transferência das ações para o :Estado, que .reembolsa os acionistas. Sua car. reira ê meteórica: com o apoio do ban.c:o real, acaba controlando o co- mércio exterior e, em 1720, ano da bancarrota de seu sistema. chega a Con- trolador Geral das Fmanças. Os milagrea que obteve mediante a emissão dasenfreada de papel-moeda redundaram numa especulação fantástica, se- guida de um colapso financeiro geral. JJ cara os fisiocratas). (Paoletti de Toscana, op cít., t. XX, Custodi, Parte Moderna.) "Tal multiplicação da matéria.", como se dá com os produtos da terra, "jamais ocorreu na indústria, nem isto é possível. A indústria dá à matéria apenas a forma, só a modifica; em con- seqüência, a indústria nada cria. Contudo, objetam-me: a indús· tria dá forma à matéria, logo é produtiva, e se não há ai pro- dução de matéria, existe a de forma. Bem, não contesto. Mas não se cria rjqueza; ao contrário, apenas se faz uma despesa ... A economia política pressupõe e tem por objeto de pesquisa a produção material e real, que s6 se encontra na agricultura, po.is só esta multíplica as matérias e os produtos que formam a riqueza. . . A indústria compra as matérias-primas da agrí- cultura, para transfonná-las; esse traballio, conformé já disse- mos, apenas dá forma a essas matérias-primas, mas nada lhes acrescenta nem as multiplica" (pp. 196, 197). "Dê ao cozi- nheiro certa quantidade de enilhas, a fim de prepará-las para o almoço; ele as porá na mesa bem cozidas e bem preparadas, mas na mesma quantidade que recebeu; em contrapartida, dê igual quantidade ao jardineiro, para plantá-Ias. Chegado o tem- po, restituír-lhe-á ele pelo menos o quádruplo da quantidade recebida. Eis aí a verdadeira e única produção" (p,'197). "São as necessidades humanas que dão o vfilor das coisas. Assim, o valor ou o acréscimo do valor das mercadorias não resulta do trabalho industrial, mas dos dispêndios dos que tia~lham" ( p. 198). "Qualquer manufatura nova, mal surge, logo se propaga dentro e fora do país, e eis que bem cedo ,a concorrência de outros industriais e comerciantes rebaixam o preço ao nível certo, que. . . é determinado pelo valor das matétias-primas e pelos custos de manutenção dos trabalhadores" (pp. 204-205)_. 5. Er.EMEm·os FtsIOCRÁTrcos DA TEORIA DE SMITH De todos. os ramos industriais, a agricultura é o primeiro a empregar as forças naturais na produção em grande escala. Esse em- prego na indústria manufatureira só se patenteía quando ela. atinge estádio superior de desenvolvimento. Pode-se ver da· citação abaixo, éomo A. Smith se atém ao estádio anterior .à indústr.ia em gra~de. escala, sustentando portanto a concepção fisiocrárica, e como Ricardo lhe retruca do ãngulo da indóstria moderna. J.6 No 'livro II, cap. 5 de sua obra An In:quiry into the natme and causes of the wealth of nalions, diz A. Smith no tocante -à renda fundiária: "É obra da n~tureza o que _r~ta--ap6s deduzir-se ou compensar- se tudo o que se pode considerar obra humana. Ratamente é menos de um quarto e com freqüência maís de um terço do produto total. Nenhuma quantidade igual de trabalho produ- tivo, empregado na -manufatura, pode jamais efetuar tão grande reprodução. Na manufatura~ a natureza nada faz, o homem faz tl!do; e a reprodução tem sempre de ser proporcional à força dos agentes que J1 , re;i.lizam ". Ao que observa Riçardo, On the .prit?ciples of political eionomy; and taxation, 2.ª ed., 1819, nota às pp. 61-62; "Nada f~· a natureza para o homem na manufatura? Nada são a força do vento e a da água que impulsionam nossas máqujnas e servem à navegação? A pressão atmosférica e a força expan- siva do vapor ·que nos possibilitam movimentar máquinas es- tupendas não são dádivas da natureza? E não é preç:bo falar nl)s e.feitos do calor que maleabiliza e funde os .metais, na ação do ar no processo de tingir ~ fermentar. Não se pode -mencio- nar uma manufatura onde a natureza não dê ajuda ao_ ser hu· -mano, e uma ·aju~a generosa e _gratuita." Os fisíocrat~s consideram o lucro mera dedução da renda fun- diária*:· "Os fisiocratas dizem, por exemplo, que uma parte do preço df; uma peça de renda. substitui o que o trabalhador consumiu, e à dutra simplesmente se transfere de um bolso": (o do pro· priet..írio da terra) ·"para o outro" (:An Inquiry into thosc Prin- 'ciples, respectitfg thc -Nature of Demand and the Necessity ôf Consumption, lately advocated by Mr.- M.altbus, etc., Londres, ·1821, p, 96"). A concepção fisioctática vê no lucro (juro inclusive) mera renda a. ser. consumida pelo: capitalista, e dessa concepção deriva esta tese de A. Smith e seus discípulos: a acumulação do capital se deve à poupança, às privações pessoais, à abstinência do capitalista. Podetn • Ve.r nota 8, na p. 22 J7 falar assim, porque para eles só a renda fundiária é a .fonte econômica genuína, legítima, pol' assim dizér, da acumulação. O lanador, diz Turgot "é a única pessoa cujo tubalho produz mais que o salário" (Turgot, 1. e., p. 11). O lucro aí porta11to está por íntelro embutido no salário. "O agricultor produz, além dessa retribuição" (o próprio sa· lário), "a renda do proprietário da terra; o artesão não produz renda alguma, nem pura si nem para outrem" (1. e., p. 16). "Tudo o que a terra produz até o montante dos adiantamentos que refluem e do lucro de quem os fez não pode ser consi- derado renda, mas simplesmente restituição dos custos agríco- las" (1. e., p. 40). A. Blanqui, em sua Histoire Je l'éc. pol., Bruxelas, 18.39, diz na p. 139: Segundo os fisiocratas, "o trabalho aplicado no cultivo da terra produaia não só o que o' trabalhador precisava para o pró,prio sustento enquanto durasse o trabalho, mas ainda um excedente de valorª (mais-valis.), "que se podia adicion~r ~ massa das riquezas já existentes. Chamavam esse excedente de produto lí- quido" (ooncebem portanto a mais-valia na forma dps valores de uso em que aparece). "O produto líquidq. cabfa necessaria- mente ao dono da terra e para ele constituía r~nda de que podia dispor à vontade. Qual era então o produto "liquido d.os outros ramos de atividade? Manufatores, comerciantes, trabs.lhado- res, todos eram empregados, assalariados da agricultura, sobe- blllâ- criadorà e distribui.dora de todos os bens. Os produtos do trabalho deles representavam apenas, no sistema dos eoonomis- tas,111 o equivalente ao próprio consutT.\o durante o trabalho, de modo que, depois de- concluído, a soma total das riquezas era a mesma anterior, a menos que os trabalhadores ou os pa- trões tivessem posto em reserva, isto é, poupado o que tinham o direito de consumli·. O trabalho aplicado ao solo era assim o único produtor de riqueza, e o dos outros ramos se conside- l"t<!Va estédl, pois dele não res_t,ltava acréscimo Jo capital geral.» i1.1 Os fisiocratas, na França, eram chamados de economistas até meados do século XIX. 38 ((Os fisiocratas portanto viam na produção da mais-valia a essên- cia da produção capitalista. Cabia-lhes explicar esse fenômeno. E este era o problema depois de terem rejeitado o lucro de expropriação do sistema mercantil. "Para se ter dinheiro", diz Mercier de la Riviere, "é mister comprá-lo, e após a compra não se fica mais rico do que antes; conseguiu-se em dinheiro apenas o mesmo valor cedido em mer- cadorias" (Mercíer de la Riviere, Ordre naturel et essentie! des sociétés politiques, t. II, p . .338). Isso se aplica à compra e à venda, à. metamorfose inteira da mercadoria, ou seja, ao que delas resulta:. a troca de mercadorias di- versas pelo valor, a troca portanto de equivalentes. Donde provém então a mais-valia? Quer dizer, donde provém o capital? Este era o problema dos fisíocratas. Seu erro consistia em confundir com o acréscimo do valor de troca, o acréscítno de matéria oriundo dos pro. cessas naturais de vegetação e geração, e que distingue a agricultura e pecuária da manufatura. Sua teoria tinha por fundamento o valor de uso. E o valor de uso de todas as mercadorias, reduzido a um universal, como dizem os escolásticos, era a matéria natural em si, que s6 na agricultura se multiplica em dada forma.) ) G. Garnier, tradutor de A. Smith e fisiocrata, faz uma exposição correta da teoria da poupança dos fisiocratas etc. Primeiro, diz apenas que a manufatura, corno os mercantilistas afirmavam para a produção toda, só pode criar mais-valia mediante lucro de expropriação, ao vender as mercadorias acima do valor, e assim ocorre unicamente nova distribuição dos valores produzidos, e nada se lhes adidona. "O trabalho dos artesãos e manufatores não constitui nova fonte de riqueza e só pode tornar-se lucrativo por meio de trocas vantajosas; possui mero valor relativo, valor que não se repetirá se não houver oportunidade de ganho por meio de trocas" ( tra- dução de G. Garnier: Recherches sur la nature et !es causes de la richesse des nations, t. V, Paris, 1802, p. 26616). Ou as economias que fazem, os valores que se asseguram ao lado dos que eles despendem, têm de ser p<iupados à custa do próprio consumo. lG Essas observações e l:lS que seguem são de G. Garníer, o tradulor da obra de Smílh, na versão francesa. 39 ".O uabalho dos artesãos e manufatores, embora s6 possa :ictes· centar .à massa geral de riqueza da sociedade as economias feitas pelos assalariados .e capitalistas, podem oonttibuir por esse meio para enriquecer a sociedade" (1. c., p. 266). · Em pormenores: "Os trabalhadores agrícolas enriquecem o Estado com o pró- prio produto do trabalho; os trabalhadores das manufaturas e do eotnérclo, ao contrário, só poderiam enriquecê-lo por meio de poupanças às custas do próprio consumo. Essa assertiva dos economistas é conseqüência da distinção que estabeleceram,