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Resumo “Cronobiologia e Psicopatologia” - A questão da biorritmicidade da atividade emocional e dos mecanismos de somatização da angústia Existe uma estrutura circadiana das emoções, caracterizada por um conjunto de subsistemas atuantes no complexo emocional (que são o sistema da ativação central, o sistema visceral e o sistema comportamental da emoção), que têm um período de tempo de ocorrência dos picos igual a 4 h. Concluiu-se que motivadas por circunstâncias psicológicas particulares, algumas manifestações dos estados emocionais variam no decurso do período que compreende um dia e uma noite (nictêmero), indicando a existência de momentos horários de menor resistência. Assim, o quão uma pessoa está susceptível à eventos como stress extereoceptivo, agressão dolorosa ou trauma afetivo, relaciona-se à cronobiologia das oscilações circadianas da reatividade emocional. Considerando que a intensificação da angústia segue as variações diárias do regime tímico, foram estabelecidas correlações entre essas variações e algumas doenças psicossomáticas. No caso da úlcera gástrica, p. ex., verificou-se que ela não está integrada apenas ao ritmo diário das refeições, mas também às oscilações da reatividade emocional primária, havendo uma predominância para o aparecimento dessa doença no período da noite, coincidindo com o momento de hiperatividade central e aumento da reatividade emocional primária. A hipertensão arterial faz parte das oscilações tímicas relacionadas à agressividade latente, sintoma característico do hipertenso. Bloqueios nos vasos sanguíneos da circulação coronária resultam de um conjunto de fatores bioquímicos neurovegetativos e psicoafetivos, cujas variações são mais marcantes em um determinado momento do dia. Em relação às crises dispnéicas do sono dos asmáticos, elas se comportam como ritmos biológicos que transcorrem ao longo do dia, havendo uma relação temporal direta entre as crises dispneicas noturnas da asma e a concentração mínima de córticoesteróides no organismo. Esses quadros psicofisiológicos são muito complexos, pois demandam a existência de metabolismos intermediários de divergências ou de concordâncias de fases entre os ritmos observados e também denotam a existência de variações individuais no curso temporal das funções biológicas. Mas, foi proposta uma hipótese de investigação, que diz sobre a existência de um mecanismo de amplificação da intensidade dessas interações psicofisiológicas (em certos períodos do dia), em relação aos ritmos e ciclos biológicos e os ritmos e ciclos de integração neuropsíquica. Esta hipótese é sustentada por dados da Psicologia indicativos que os ritmos biológicos intervêm no grau de atividade e na eficiência pragmática. P. ex.: quando uma pessoa passa por uma mudança brusca de fuso-horário, ela tem que passar por uma ressincronização fisiológica e uma readaptação psicológica; mas outra pessoa, numa situação de isolamento, com ela acontece a manutenção de ritmos de atividade endógenos que persistem na ausência de sincronização, mas que não têm uma periodicidade de 24 horas. Em termos de alterações cronobiológicas, a depressão é a psicopatologia que vem sendo mais estudada. Isso se deve em parte, à sintomatologia clínica da doença, caracterizada por manifestações que convergem para uma perturbação fundamental da ritmicidade da atividade psíquica, tais como: despertar precoce, variações diurnas do humor, periodicidade da doença, dentre outras. Foi a primeira doença a ser relacionada com a desregulação dos relógios biológicos, na patologia afetiva, por meio de hipótese apoiada no fato de muitos pacientes excretarem na urina substâncias como 17-hidroxi-esteróides. Em 1968, Halberg associou os aspectos clínicos aos cronobiológicos, baseando-se na periodicidade dos estados depressivos, para propor um dos primeiros modelos cronobiológicos da depressão, fundamentado no batimento entre dois ritmos dessincronizados. Estudando-se a atividade córtico-supra-renal foi verificado que a excreção urinária de 17-ceto-esteróides tem um pico cerca de 12 horas nas pessoas normais, enquanto que nos pacientes depressivos esse pico se encontra no fim da fase diurna do período nictemeral. De acordo com trabalhos mais recentes, constatou-se que há uma instabilidade do ritmo de excreção urinária desses esteroides nos depressivos com picos de secreção antes do sono, configurando assim um traço cronobiológico da depressão. Os ritmos biológicos na depressão (p. ex.: o da temperatura corporal) estão na sua maior parte alterados, principalm. na amplitude de flutuação, que se encontra reduzida e numa fase na qual a posição horária está na maioria das vezes avançada em relação aos indivíduos sadios. Nos últimos anos têm sido comum, como técnica de tratamento da depressão, a utilização da luz, devido a algumas razões: existência em alguns roedores de período crítico foto-sensível entre o meio e o fim da noite, então com a aplicação de luz neste período, o animal percebe um estímulo cronobiológico e sincroniza-se com o ambiente, saindo do estado de hibernação; a função cronobiológica da luz: segue as vias retino- hipotalâmicas para atingir o nódulo supraquiasmático, e ao final ocorre a conversão de serotonina em melatonina, evidenciando-se assim a ligação entre a luz e os relógios centrais; e o ritmo e metabolismo da melatonina, que opera em um ritmo circadiano, com sua secreção sendo inibida pela luz, e nos depressivos ela é mais produzida durante a noite, com uma grande diminuição de secreção. No plano cronobiológico, a análise experimental das variações temporais do comportamento demonstra que a inibição horária dos sincronizadores confirma a periodicidade circadiana das funções psicofisiológicas e psicopatológicas envolvidas. Referência bibliográfica TEIXEIRA, João Marques. Cronobiologia e Psicopatologia(II) Chronobiology and Psychopathology. A questão da biorritmicidade da actividade emocional e dos mecanismos de somatização da angústia, Universidade do Porto, Porto, v. XII, n. 4, Julho/Agosto 2010.
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