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Caderno de Direito Penal - Parte 2

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Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 1 
 
 
DIREITO PENAL 
PARTE ESPECIAL 
 
 
Sumário 
 
1 CRIMES CONTRA A PESSOA .......................................................................................................... 4 
1.1 HOMICÍDIO (CP, art. 121) ...................................................................................................... 4 
1.1.1 HOMICÍDIO SIMPLES ...................................................................................................... 4 
1.1.2 HOMICÍDIO PRIVILEGIADO ............................................................................................. 5 
1.1.3 HOMICÍDIO QUALIFICADO ............................................................................................. 6 
1.1.4 HOMICÍDIO CULPOSO .................................................................................................. 10 
1.2 INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO (CP, art. 122) ............................... 12 
1.3 INFANTICÍDIO (CP, art. 123) ................................................................................................ 14 
1.4 ABORTO (CP, art. 124 a 128) ............................................................................................... 15 
1.4.1 AUTOABORTO E CONSENTIMENTO PARA O ABORTO ................................................. 17 
1.4.2 ABORTO NÃO CONSENTIDO ......................................................................................... 17 
1.4.3 ABORTO CONSENTIDO ................................................................................................. 17 
1.4.4 ABORTO LEGAL OU PERMITIDO ................................................................................... 18 
1.5 LESÕES CORPORAIS (CP, art. 129) ....................................................................................... 19 
1.5.1 LESÃO CORPORAL LEVE ................................................................................................ 21 
1.5.2 LESÃO CORPORAL GRAVE ............................................................................................ 21 
1.5.3 LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA ................................................................................... 22 
1.5.4 LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE....................................................................... 24 
1.5.5 LESÃO CORPORAL CULPOSA ........................................................................................ 24 
1.5.6 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ............................................................................................... 25 
1.6 RIXA (CP, art. 137) ............................................................................................................... 26 
1.7 CALÚNIA (CP, art. 138) ........................................................................................................ 28 
1.8 DIFAMAÇÃO (CP, art. 139) .................................................................................................. 29 
1.9 INJÚRIA (CP, art. 140) .......................................................................................................... 30 
1.10 SEQUESTRO OU CÁRCERE PRIVADO (CP, art. 148) .......................................................... 34 
2 CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO .............................................................................................. 35 
2.1 FURTO (CP, art. 155) ............................................................................................................ 36 
2.1.1 FURTO QUALIFICADO ................................................................................................... 39 
2.2 ROUBO (art. 157) ................................................................................................................. 41 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 2 
2.2.1 ROUBO IMPRÓPRIO ou POR APROXIMAÇÃO .............................................................. 43 
2.2.2 ROUBO CIRCUNSTANCIADO ......................................................................................... 43 
2.2.3 ROUBO QUALIFICADO PELA LESÃO GRAVE OU MORTE .............................................. 45 
2.3 EXTORSÃO (CP, art. 159) ..................................................................................................... 46 
2.3.1 EXTORSÃO QUALIFICADA PELA RESTRIÇÃO DE LIBERDADE DA VÍTIMA ...................... 48 
2.4 EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (CP, art. 159) .............................................................. 49 
2.5 ESTELIONATO (CP, art. 171) ................................................................................................ 50 
ESTELIONATO PRIVILE ................................................................................................................ 52 
2.5.1 FIGURAS EQUIPARADAS ............................................................................................... 52 
2.6 RECEPTAÇÃO (CP, art. 180) ................................................................................................. 55 
2.6.1 RECEPTAÇÃO CULPOSA ................................................................................................ 57 
2.6.2 RECEPTAÇÃO QUALIFICADA ......................................................................................... 57 
2.7 IMUNIDADES NOS CRIMES PATRIMONIAIS (CP, arts. 181 a 183) ....................................... 59 
3 CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL .................................................................................... 59 
3.1 ESTUPRO (CP, art. 213) ........................................................................................................ 59 
3.2 VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE (CP, art. 215) ........................................................ 61 
3.3 ASSÉDIO SEXUAL (CP, art. 216-A) ........................................................................................ 62 
3.4 ESTUPRO DE VULNERÁVEL (CP, art. 217-A) ........................................................................ 63 
3.5 FAVORECIMENTO A PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL (art. 
228) 64 
3.6 RUFIANISMO (art. 230) ........................................................................................................ 64 
4 CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA ............................................................................................... 66 
4.1 ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (CP, art. 288) .............................................................................. 66 
5 CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA .................................................................................................. 67 
5.1 FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO (CP, art. 297) .................................................... 67 
5.2 FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR (CP, art. 298) .............................................. 68 
5.3 FALSIFICAÇÃO IDEOLÓGICA (CP, art. 299)........................................................................... 69 
5.4 FRAUDE EM CERTAME DE INTERESSE PÚBLICO (CP, art. 311-A) ........................................ 70 
6 CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ......................................................................... 71 
6.1 PECULATO (CP, arts. 312 e 313) .......................................................................................... 72 
6.2 CONCUSSÃO ........................................................................................................................ 74 
6.3 CORRUÇÃO .......................................................................................................................... 75 
6.4 PREVARICAÇÃO ................................................................................................................... 75 
6.5 CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA ........................................................................................ 75 
6.6 ADVOCACIA ADMINISTRATIVA ............................................................................................76 
6.7 FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA ............................................................................ 76 
6.8 DESOBEDIÊNCIA .................................................................................................................. 76 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 3 
6.9 RESISTÊNCIA ........................................................................................................................ 77 
6.10 DESACATO ........................................................................................................................ 77 
6.11 EXCESSO DE EXAÇÃO ....................................................................................................... 77 
 
 
 
 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 4 
1 CRIMES CONTRA A PESSOA 
 
CAPÍTULO I 
DOS CRIMES CONTRA A VIDA 
 
1.1 HOMICÍDIO (CP, art. 121) 
 
- topografia do homicídio: 
+ caput = simples 
+ § 1º = privilegiado. 
+ § 2º = qualificado. 
+ § 3º = culposo. 
+ § 4º e § 6º = majorado. 
+ § 5º = perdão judicial. 
* homicídio preterdoloso  lesão corporal seguida de morte (CP, art. 129, § 3º). 
 
1.1.1 HOMICÍDIO SIMPLES 
 
- matar alguém (reclusão de 6 a 20 anos - CP, art. 121, caput) = eliminação injusta da vida de uma 
pessoa por outra  é o tipo central dos crimes contra a vida e o ponto culminante na orografia 
(montanha) dos delitos; é o crime por excelência (Nelson Hungria). 
 
- objeto jurídico: vida humana extrauterina. 
- início da vida extrauterina: 
+ complete e total desprendimento do feto das entranhas maternas. 
+ com o início das dores típicas do parto. 
+ dilatação do colo do útero (prevalece). 
 
- iniciado o trabalho de parto, não há falar mais em aborto, mas em homicídio ou infanticídio, 
conforme o caso, não se mostrando necessário que o nascituro tenha respirado (STJ, HC 228.998-
MG). 
 
VIDA INTRAUTERINA VIDA EXTRAUTERINA 
+ aborto (CP, art. 124 a 126) + homicídio (CP, art. 121) 
+ infanticídio (CP, art. 123) 
* vida humana inviável? → ADPF 54 (anencéfalos). 
 
- matar gêmeos xifópagos (siameses) → dois homicídios em concurso formal impróprio = 
desígnios autônomos (dolo de primeiro e segundo grau, devendo-se somar as penas). 
- um dos irmãos siameses mata sem que o outro saiba do intento criminoso → punir um 
ensejaria punir o outro sem justificativa; deixar de punir seria uma carta branca à criminalidade = 
(1) deve haver absolvição, prevalecendo a liberdade (Manzini); (2) deve haver condenação, mas 
não cumprimento de pena, em vista do princípio da intransmissibilidade da pena, sendo que, 
acaso o outro irmão venha a a ser condenado por delito antes de se operar a prescrição, os dois 
poderão cumprir a pena (Flávio Monteiro de Barros). 
 
* sujeito passivo índio não integrado = causa de aumento de pena de 1/3 (art. 59 da Lei nº 
6.001/73). 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 5 
 
- execução livre: 
+ ação ou omissão (sujeito tem o dever legal de agir = posição de garante - CP, art. 13, § 2º). 
+ meio direito ou indireto. 
+ meios físicos, morais ou psíquicos. 
 
RACHA EMBRIAGUEZ AO VOLANTE 
+ dolo eventual (STF, HC, art. 101.698/RJ) + culpa consciente (STF, HC 107.801/SP) 
 
- consumação: com a morte encefálica (art. 3º da Lei nº 9.434/97) = lesão total e irreversível do 
sistema nervoso central, ainda que as funções cardíacas e respiratória continuem funcionando. 
* não se consuma com a morte presumida. 
- prova da morte = corpo de delito direto (laudo cadavérico - CPP, art. 158) ou indireto 
(testemunhas - CPP, art. 167), em caso de desaparecimento do cadáver. 
 
- a materialidade do crime de homicídio pode ser demonstrada por meio de outras provas, além 
do exame de corpo de delito, como a confissão do acusado e o depoimento de testemunhas  
nos termos do art. 167 do CPP, a prova testemunhal pode suprir a falta do exame de corpo de 
delito, caso desaparecidos os vestígios (STJ, HC 170.507/SP). 
 
- tentativa: início da execução = ato inequívoco (manifesto) e idôneo (apto a gerar o resultado) à 
consumação  (a) arma de fogo: apertar o gatilho (apontar arma = ato meramente preparatório); 
(b) arma branca: movimento corpóreo para atingir a vítima. 
* tiros em pessoa que fica anos em “vida vegetativa” = tentativa  redução da tentativa no 
patamar mínimo. 
* tentativa + consumação contra a mesma vítima: possível, desde que as ações ocorram em 
contextos diversos (ex: tenta matar a facadas; no hospital, finaliza desligando os aparelhos). 
 
- condenado por homicídio, mata a vítima quando, anos depois da condenação, ela aparece 
“vivinha da silva” = deve responder pelo “novo” homicídio, tendo direito a indenização pelo erro 
judiciário (art. 5º, LXXV CF)  não há crédito de pena. 
- envio de carta bomba para pessoa que morre antes de a carta chegar = tentativa, pois o tempo 
de crime se afere na ação (teoria da atividade - CP, art. 4º). 
 
1.1.2 HOMICÍDIO PRIVILEGIADO 
 
- crime doloso com causa especial de diminuição pena (minorante) de 1/6 a 1/3 (CP, art. 121, § 
1º). 
* direito subjetivo do réu = se os jurados reconhecem o privilégio, o juiz é obrigado a reduzir a 
pena, estando a discricionariedade no quantum redutor. 
 
RELEVANTE VALOR SOCIAL RELEVANTE VALOR MORAL VIOLENTA EMOÇÃO 
+ interesse coletivo de toda 
a sociedade (ex: matar 
terrorista, estuprador que 
age na cidade). 
+ valor individual = compaixão, 
misericórdia, piedade (ex: pai 
que mata estuprador da filha e 
eutanásia). 
+ sob domínio de violenta 
emoção, logo após injusta 
provocação da vítima (ex: 
esposo que pega a mulher com 
outro). 
 
- requisitos do homicídio emocional: 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 6 
+ domínio = efeito intenso, absorvente  havendo mera influência haverá atenuante genérica 
(CP, art. 65, III, "c"). 
+ logo após = imediata ao conhecimento da provocação  enquanto perdurar o domínio da 
violenta emoção. 
+ injusta provocação = contra ao gente ou contra terceiros, bastando que o agente se sinta 
provocado, ainda que a vítima não tivesse a intenção de provocar. 
 
EUTANÁSIA ORTOTANÁSIA DISTANÁSIA 
+ conduta comissiva. 
+ antecipação da morte 
natural. 
+ homicídio privilegiado 
+ conduta omissiva. 
+ não prolongamento artificial 
do processo de morte. 
+ fato atípico ou crime?! 
+ conduta comissiva. 
+ prolongamento artificial do 
processo de morte, evitando a 
morte de enfermo incurável. 
 
- as hipóteses do homicídio privilegiado são circunstância pessoal (subjetiva = motivos), NÃO se 
comunicando ao coautor ou partícipe (CP, art. 30). 
 
1.1.3 HOMICÍDIO QUALIFICADO 
 
- reclusão de 12 a 30 anos (CP, art. 121, § 2º). 
 
MEDIANTE PAGA OU PROMESSA DE RECOMPENSA OU OUTRO MOTIVO TORPE 
 
PAGA OU PROMESSA 
- homicídio mercenário ou mandato remunerado (prevalece que a recompensa deve ter caráter 
patrimonial). 
* plurissubjetivo = crime de concurso necessário (mandante e executor - sicário), prevalecendo o 
entendimento de que a qualificadora se aplica tanto ao executor quanto ao mandante (elementar 
subjetiva - STF/STJ). 
 
MOTIVO TORPE 
- motivo repugnante, abjeto, imoral, que causa indignação geral (contraste violento com o senso 
comum ético), quase sempre exprimindo ganância, cobiça, egoísmo (ex: irmão que mata o outro 
para ficar com a herança, rituais macabros, vampirismo, canibalismo, para relação sexual). 
* homicídio por puro sadismo ou prazer, sem motivo = torpe. 
- o ciúme como motivação, por si só, não configura a qualificadora. 
 
* vingança = pode ou não configurar a qualificadora da torpeza ou mesmo privilégio a depender 
do motivo que ensejou a vingança  “a vingança, por si só, não consubstancia o motivo torpe; a 
sua afirmativa, contudo, não basta para elidir a imputação de torpeza do motivo do crime, que há 
de ser aferida à luz do contexto do fato” (STJ, REsp 785.122/SP). 
 
MOTIVO FÚTIL 
- insignificante, banal, ínfimo, desproporcional em relação ao crime que dele resulta (ex: mulher 
que faz almoçosimples para as visitas, filho que chora demais, em razão de multa de trânsito, em 
virtude da incompetência do empregado, por provocação futebolística...). 
* NÃO se confunde com injusto → se fosse justo NÃO seria homicídio. 
* a ausência de motivo NÃO se equipara ao motivo fútil (teoria majoritária), mas pode ensejar 
torpeza. 
- o motivo fútil é ESPECIAL em relação ao motivo torpe, prevalecendo sempre que houver 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 7 
desproporção ou pequeneza do motivo → NÃO se pode cumular fútil + torpe. 
 
- uma vez reconhecido que a vítima não foi alvo de surpresa, havendo provocado o agressor, 
descabe a qualificadora do motivo fútil: disputa pela ocupação de uma mesa de sinuca (STF, HC 
107. 199/SP). 
 
EMPREGO DE VENENO, FOGO, EXPLOSIVO, ASFIXIA, TORTURA OU OUTRO MEIO INSIDIOSO OU 
CRUEL OU QUE POSSA GERAR PERIGO COMUM 
 
VENENO 
- substância mineral, vegetal ou animal (química ou biológica) capaz de lesar as funções vitais do 
corpo humano. 
* caso a substância seja tão somente lesiva no caso concreto (ex: açúcar a diabético) poderá se 
configurar "outro meio insidioso" (jurisprudência majoritária). 
- só é venefício se a vítima não sabe que está ingerindo o veneno (meio insidioso) → se a 
substância for aplicada de forma violenta configura meio cruel. 
 
FOGO 
- emprego de fogo, ainda que a morte se dê por outra causa (ex: queimar a casa com a vítima 
dentro, matando-a asfixiada; assá-la ao forno ou cozinhá-la em caldeirão; queimar a casa, que 
desaba matando a vítima. 
* a qualificadora absorve o dano qualificado (CP, art. 163, II) ainda que o bem queimado seja de 
terceiro. 
 
EXPLOSIVO 
- provocando a morte da vítima, mesmo que indiretamente (ex: bomba em avião, que explode e 
joga a vítima para fora, matando essa em virtude da queda). 
 
ASFIXIA 
- impedir função respiratória. 
MECÂNICA TÓXICA 
+ esganadura = próprias mãos 
+ estrangulamento = força externa 
+ enforcamento = peso do próprio corpo 
+ soterramento = substituição do ar por sólido 
+ sufocação indireta (ex: peso sobre tórax) 
+ confinamento 
+ gás asfixiante (se matar por outro motivo – 
ex: parada cardíaca = veneno). 
* líquido = afogamento. 
 
TORTURA 
- provocando intenso sofrimento físico ou mental. 
 
MEIO CRUEL 
- provoca sofrimento desnecessário na vítima, de maneira intencional (ex: excesso de facadas, 
chutes após a vítima já estar agonizando, ácido...)  a reiteração de golpes, por si só, não 
caracteriza a qualificadora, devendo-se analisar se houve intenso sofrimento. 
* é necessário que o agente queira causar sofrimento ou escolha do meio que causará sofrimento 
basta? 
 
TORTURA MEIO CRUEL 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 8 
+ forma lenta. 
* fome, insolação, crucificação, 
empalhamento. 
+ forma breve. 
* ex: choque, cortar pulsos, apedrejamento, 
precipitação, derrubar da moto. 
 
MEIO INSIDIOSO 
- disfarçado, simulado (ex: retirar os freios do automóvel, colocar caco de vidro na comida diária) 
* excepcionalmente pode-se cumular meio insidioso + cruel → ambas genéricas, sem relação de 
especialidade entre uma e outra (ex: sabotar paraquedas da vítima [insídia], que se estatela no 
chão [crueldade]). 
 
PERIGO COMUM 
- meio de execução = oferece perigo potencial à vida de outras pessoas que não as vítimas visadas, 
ainda que efetivamente não cause perigo a mais ninguém (ex: mata a vítima, pois na hora, por 
sorte, ninguém passava pela rua regra geral movimentada). 
* NÃO se pode tratar de fogo ou explosivo → qualificadoras específicas. 
* qualificadora + crime de perigo (art. 250 e seguintes do CP) = concurso formal? (divergência 
doutrinária). 
 
MEDIANTE TRAIÇÃO, EMBOSCADA, DISSIMULAÇÃO OU OUTRO RECURSO QUE DIFICULTE OU 
TORNE IMPOSSÍVEL A DEFESA DA VÍTIMA 
 
 * se a vítima sabe que será atacada, não há a qualificadora. 
- o dolo eventual é incompatível com o art. 121, § 2º, inciso IV, do CP (STF, HC 95.136/PR e HC 
111.442/RS). 
 
TRAIÇÃO 
- ataque desleal, repentino e inesperado  quebra da confiança oriunda de relação prévia. 
 
EMBOSCADA 
- ocultamento do agente para tomar a vítima de surpresa (ex: tocaia). 
 
DISSIMULAÇÃO 
- artifício para se aproximar da vítima, ludibriando-a (farsa, encenação, disfarce). 
 
MORAL MATERIAL 
+ conversa mole. 
* ex: convidar para mergulho e partir com o 
barco, deixando o mergulhador pra trás. 
+ expediente fraudulento. 
* ex: utilizar de uniforme de policial para 
adentrar à casa da vítima. 
 
RECURSO QUE IMPOSSIBILITE A DEFESA DA VÍTIMA 
- fórmula genérica e análoga à surpresa (ex: superioridade numérica, mas não a de armas; uso de 
medicamento ou bebida alcoólica para adormecer a vítima; colher pessoa presa, em cela ou 
algemada; aproveitar-se de doença temporária que acomete a vítima). 
 
- a idade da vítima, sua compleição física ou doença permanente é condição natural de pessoa, e 
não recurso criado pelo agente, NÃO incidindo a qualificadora. 
 
TIRO NAS COSTAS TIRO PELAS COSTAS 
+ NÃO configura. + configura a qualificadora. 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 9 
 
* meio cruel + recurso que dificultou ou impossibilitou defesa da vítima = possível (ex: vítima 
algemada é espancada até a morte). 
 
PARA ASSEGURAR A EXECUÇÃO, A OCULTAÇÃO, A IMPUNIDADE OU VANTAGEM DE OUTRO 
CRIME 
 
CONEXÃO TELEOLÓGICA CONEXÃO CONSEQUENCIAL 
+ visa garantir a execução de crime futuro (ex: 
mata-se o vigia do posto para incendiar o 
local). 
+ visa garantir o crime passado (ex: assassino 
que mata testemunha do crime). 
 
- a conexão consequencial e teleológica configuram a qualificadora ainda que o agente não 
consiga ou desista de executar o crime futuro ou obter a ocultação, impunidade ou vantagem do 
crime passado, bastando a finalidade. 
- o crime passado ou futuro sequer precisa ser cometido pelo homicida (ex: garantir ou ocultar 
crime praticado pelo irmão). 
* a qualificadora incide mesmo que o crime conexo esteja prescrito, seja impossível (art. 17 CP) ou 
putativo, pois o que importa é a intenção do agente. 
- a conexão meramente eventual, sem a finalidade de execução, ocultação, impunidade ou 
vantagem de crime, 
 
- só se aplica em razão de crime, NÃO de contravenção, podendo se configurar, nesse caso, 
motivo torpe ou fútil. 
 
- motivo torpe + conexão (concurso) = bis in idem. 
 
* a coação no curso do processo não é conexa com o crime eventualmente cometido (que deu azo 
à ação), mas configura tipo autônomo (CP, art. 344), aplicável sem prejuízo das penas cominadas à 
violência (ex: CP, art. 129). 
* a destruição e ocultação do cadáver NÃO configura conexão consequencial, mas tipo autônomo 
(CP, art. 211). 
 
- em alguns casos o cometimento de um crime consequencial ou teleológico enseja tipo penal com 
dupla objetividade jurídica (tipo penal autônomo). Ex: latrocínio → CP, art. 157, § 3º, segunda 
parte = patrimônio + vida. 
 
- homicídio premeditado = não enseja qualificadora, mas pode ser utilizada na primeira fase da 
dosimetria. 
* nada obstante, a premeditação pode representar até mesmo maior hesitação no cometimento 
do crime. 
- parricídio e matricídio = matar pai ou mãe enseja unicamente agravante genérica do art. 61, II 
“e” do CP. 
 
- o homicídio qualificado é crime hediondo em todas as suas hipóteses. 
 
- segundo o STF (HC 111.442/RS), é possível haver homicídio qualificado praticado com dolo 
eventual nas qualificadoras do motivo torpe e fútil, mas NÃO nas qualificadoras de meio. 
 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 10 
FEMINICÍDIO 
- incluído pela Lei nº 13.104/2015 
- contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: 
+ violência doméstica e familiar 
+ menosprezo ou discriminação à condição de mulher 
 
COMUNICABILIDADE DAS QUALIFICADORAS 
 
SUBJETIVAS OBJETIVAS 
- revelam os motivos do crime e 
condições pessoais do agente. 
+ (I) homicídio mercenário e 
motivo torpe; (II) motivo fútil; (V) 
conexão teleológica e 
consequencial. 
- NÃO se comunicam.- revelam os meios empregados, modos de execução 
+ (III) venefício, fogo, explosivo, asfixia, tortura, outro 
meio insidioso ou cruel e perigo comum (meio 
empregado); (IV) à traição, emboscada, dissimulação ou 
outro meio que torne impossível a defesa da vítima (modo 
de execução). 
- COMUNICAM-SE, desde que ingressem no dolo (ciência) 
do coautor. 
 
* mediante paga ou promessa = subjetiva ou objetiva? elementar da qualificadora ou 
circunstância do homicídio? → divergência doutrinária, prevalecendo ser elementar subjetiva que 
se comunica (CP, art. 30). 
 
* comunicação ao partícipe: induziu, instigou ou auxiliou no cometimento do crime sem ter 
cometido o núcleo do tipo penal (teoria objetiva formal) → as qualificadoras objetivas 
COMUNICAM se o agente, em sua participação tem ciência ou de alguma forma contribui para os 
meios empregados ou modos de execução, NÃO se comunicando (excepcionalmente) quando o 
agente não tem ciência, nem influi no meio empregado ou modo de execução (ex: agente instiga 
amigo a matar seu inimigo, mas jamais imagina que esse utilizará de tortura para tanto). 
 
HOMICÍDIO PRIVILEGIADO-QUALIFICADO 
- o privilégio relevante valor moral ou social e a violenta emoção (subjetivas), podem ser 
cumuladas com as qualificadoras objetivas (meios de execução do crime) → pena de 12 a 30 anos 
diminuída de 1/6 a 1/3 e NÃO é crime hediondo → art. 67 do CP = preponderância dos motivos do 
crime (jurisprudência majoritária). 
 
PLURALIDADE DE QUALIFICADORAS 
- havendo a incidência de mais de uma qualificadora a primeira serve para tornar o crime 
qualificado (pena de 12 a 30 anos) e as excedentes funcionam como agravantes (CP, arts. 61 e 62) 
ou circunstâncias judiciais desfavoráveis (CP, art. 59). 
- é tecnicamente incorreto falar-se em homicídio duplamente ou triplamente qualificado. 
 
HOMICÍDIO DOLOSO POLÍTICO 
- homicídio doloso contra o Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos 
Deputados ou do STF, com motivação política (art. 29 da Lei nº 7.710/1983 - Lei de Segurança 
Nacional). 
* NÃO se aplica ao vice-presidente ou a congressista, Ministro que não o Presidente. 
- NÃO é de competência do Tribunal do Júri. 
 
1.1.4 HOMICÍDIO CULPOSO 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 11 
- agente mata a vítima por quebra do dever objetivo de cuidado (imprudência, negligência ou 
imperícia)  NÃO quer matar, NEM assume tal risco (detenção de 1 a 3 anos - CP, art. 121, § 3º)). 
* crime de médio potencial ofensivo = admite suspensão condicional do processo. 
 
IMPRUDÊNCIA NEGLIGÊNCIA IMPERÍCIA 
+ agir descuidado (ação). + omissão no momento em 
que se deveria agir. 
+ falta de aptidão técnica 
exigível. 
 
HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR 
- cometido na direção de veículo automotor = detenção de 2 a 4 anos (art. 302 do CTB - Lei nº 
9.503/1997)  dispositivo especial em relação ao CP. 
* abrange todo veículo de propulsão a motor, incluindo veículos elétricos que não circulem sobe 
trilhos e excluindo veículos aquáticos e aéreos, veículos de propulsão animal ou humano, os que 
circulem sobre trilhos e ciclomotores (veículo até 50 e velocidade máxima de fábrica de até 
50km/h). 
 
PERDÃO JUDICIAL 
- no homicídio CULPOSO, o juiz pode deixar de aplicar a pena se as consequências da infração 
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a imposição de pena se torne desnecessária 
(CP, art. 121, § 5º). 
 
- perdão judicial = instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de fato típico e ilícito por 
sujeito comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar a pena consoante autorização legal, 
considerando as condições que concorrem para o evento (o Estado perde o interesse de punir). 
* juiz deixa de aplicar a pena ao infrator, embora o fato seja típico, ilícito e culpável = medida de 
política criminal → natureza jurídica de causa extintiva de punibilidade (CP, art. 107, IX) 
 
- natureza jurídica da sentença: 
DECLARATÓRIA CONDENATÓRIA 
+ STJ, Súmula 18 
+ nem condenatória, nem absolutória = não 
gera reincidência, não torna certa a obrigação 
de indenizar  NÃO gera quaisquer efeitos 
condenatórios. 
+ STF 
+ afasta-se unicamente os efeitos primários da 
condenação, remanescendo os secundários 
(obrigação de reparar o dano...), exceto a 
reincidência (CP, art. 120). 
 
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA 
 
- art. 121, §§ 4º e 6º do CP. 
 
HOMICÍDIO CULPOSO 
- aumento de pena de 1/3: 
a) inobservância (intencional) de regra técnica de arte, ofício ou profissão = na negligência 
profissional o agente conhece a regra, mas não a observa, por isso se diferencial da imperícia, 
em que o agente desconhece regra técnica que deveria conhecer. 
* negligência + negligência profissional = bis in idem? (1) SIM (STF, HC 86.969/RS); (2) NÃO (STF, 
HC 96.078 e STJ, REsp 606.170). 
b) o agente omite socorro à vítima = possibilidade de prestar o socorro sem risco pessoal. 
* se houver socorro imediato por outras pessoas ou morte instantânea, não se configura a 
majorante. 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 12 
* a morte instantânea da vítima não afasta a causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 
4º, do CP, a não ser que o óbito seja evidente, isto é, perceptível por qualquer pessoa (STJ, HC 
269.038/RS), do contrário não cabe ao agente verificar a inutilidade da ajuda, sendo sua 
obrigação fazê-lo. 
c) o agente não procura diminuir as consequências de seu ato (ex: o agente pode pagar por 
cirurgia da vítima, mas não o faz). 
d) o agente foge para evitar a prisão em flagrante 
* a teoria majoritária aceita a majorante pela ausência de escrúpulos demonstrada pelo agente, 
que também prejudica a investigação. Todavia, há quem questione a constitucionalidade da 
disposição. 
* se a fuga se der em virtude de possibilidade de linchamento, a causa resta afastada. 
 
HOMICÍDIO DOLOSO: 
- aumento de pena de 1/3 - aumento de pena de 1/3 até 1/2: 
+ a vítima tem menos de 14 anos ou mais de 
60 → no momento da ação e tendo o agente 
ciência dessa circunstância. 
+ crime praticado por milícia privada, sob o 
pretexto de prestação de serviço de 
segurança. 
+ crime praticado por grupo de extermínio. 
 
-- 
 
1.2 INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO (CP, art. 122) 
 
- induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça  (1) reclusão de 2 
a 6 anos (se suicídio se consuma); ou (2) reclusão de 1 a 3 anos (e da tentativa resulta lesão 
corporal grave). 
- o suicídio ou a tentativa de suicídio são fatos atípicos = princípio da alteridade. 
 
INDUZIR INSTIGAR AUXÍLIO 
+ criar ideia, outrora 
inexistente. 
+ reforçar a ideia já 
existente. 
+ prestar ajuda material (ex: 
emprestar a arma, veneno, corda...). 
* praticada mais de uma conduta no mesmo contexto fático (instigar e prestar auxílio) → crime 
único = tipo misto alternativo, conduta múltipla ou variada. 
 
* crime também conhecido como participação em suicídio  por isso a expressão “participação 
em participação em suicídio” (ex: induzir João a instigar Pedro a se suicidar). 
 
- o tipo somente é aplicável nos casos em que o agente tenta tirar a própria vida voluntária e 
conscientemente  fraude, pessoa incapaz de compreender = homicídio. 
+ oferecer a escolha entre tomar veneno ou ser torturado até a morte = ausência de 
voluntariedade. 
+ entregar arma para uma pessoa e dizer para atirar na própria cabeça, pois é de brinquedo = 
ausência de consciência. 
* fraude no pacto de morte = dois amigos combinam de se matar, mas um deles engana o outro, 
pois não pretende tirar a própria vida  participação em suicídio, uma vez que a conduta daquele 
que se matou, embora em parte enganado, é voluntária e consciente. 
 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 13 
- em regra o auxílio é a prestação de algum ato material, mas pode se dar também verbalmente 
(ex: o agente está convencido de que quer se matar, e pede informações para o amigo quanto ao 
veneno mais indolor, sendo auxiliado).- praticar ato de execução (ex: içar na corda) = homicídio  o auxílio material é sempre ato 
secundário e não a causa da morte (ainda que consentida). 
* mulher que combina com marido em estado terminal para contratar seguro e forjar homicídio = 
concurso de crimes  participação em suicídio (CP, art. 122) + fraude para recebimento de seguro 
(CP, 171, § 2º, V). 
 
- líderes espirituais (malucos de plantão – ex: Jim Jones)  induzimento a suicídio. 
* convence HOMEM-BOMBA a atuar = concurso de crimes  participação em suicídio + homicídio 
em relação às mortes causadas pelo homicida. 
 
- duelo americano (roleta russa) em que cada um seguro a arma contra a própria cabeça = o 
sobrevivente responde pelo art. 122 do CP. 
* pacto de morte (ambicídio) → duas ou mais pessoas combinam de se suicidar simultaneamente: 
sobrevivendo alguém, responde por homicídio se executou algum ato de morte, do contrário 
instigação suicídio. 
 
- a conduta deve ser dolosa e direcionada a pessoa ou grupo determinado. 
 * dolo eventual?  divergência doutrinária (ex: roleta russa). 
* NÃO se aceita a conduta culposa (ex: animus jocandi). 
- negar-se a reatar o namoro ainda que sob promessa de suicídio = fato atípico em virtude de não 
se encaixar nas condutas induzir, instigar, auxiliar. 
 
- NÃO cabe forma omissiva → pessoa que pode e não impede o suicídio responde por omissão de 
socorro qualificada (CP, art. 135, parágrafo único) ou por homicídio se tinha o dever legal de evitar 
o resultado (CP, art. 13, § 2º). 
* parcela da doutrina aduz ser possível no caso dos garantes (CP, art. 13, § 2º) (ex: diretor de 
presídio que deixa que preso morra em greve de fome ou bombeiro que nada faz para impedir 
que tresloucado salte do prédio). 
- NÃO configura constrangimento ilegal a coação para evitar o suicídio (CP, art. 146, § 3º CP). 
 
- momento da ação = antes da ação suicida  se for durante ou depois haverá omissão de 
socorro ou homicídio (ex: homicida esfaqueia-se e se arrepende, pedindo socorro ao vizinho, que 
se omite ou que impede que o ferido consiga socorro). 
 
- o crime só é punível se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal grave ou morte = crime 
material. 
- Nelson Hungria entende ser crime formal, sendo que a morte ou lesão é mera condição objetiva 
de punibilidade (não prevalece). 
* NÃO há tentativa! 
 
AUMENTO DE PENA 
- pena em dobro (CP, art. 122, parágrafo único): 
a) crime cometido por motivo egoístico = visa a obter alguma vantagem (ex: irmão que induz o 
outro a se suicidar para ficar com a cunhada ou companheiro de trabalho que auxilia o outro a 
se suicidar para ficar com o cargo). 
b) vítima for menor de 18 anos = divergência doutrinária: (1) deve ser maior de 14 (majoritária), 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 14 
uma vez que em caso de menor de 14 ocorre homicídio (interpretação sistêmica – art. 217-A 
CP); (2) menor 18, desde que com algum discernimento (minoritária) 
c) vítima tiver, por qualquer causa, diminuída a capacidade de resistência (ex: depressão) = se a 
vítima for totalmente incapaz de compreender que está tirando a própria vida configurar-se-á o 
homicídio. 
 
-- 
 
1.3 INFANTICÍDIO (CP, art. 123) 
 
- matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após  
detenção de 2 a 6 anos. 
* destruição da vida humana extrauterina, durante o parto ou logo após. 
 
- crime bipróprio = crime próprio quanto ao sujeitos ativo e passivo → mãe em estado puerperal 
(ativo); filho nascente ou recém-nascido (neonato - passivo). 
 
- estado puerperal = perturbações físicas e/ou psíquicas que atingem determinadas mulheres, 
diminuindo a capacidade de autodeterminação e resistência, produzindo sentimentos de ódio, 
repulsa, angústia em relação ao próprio filho (critério fisiopsicológico) → se o estado puerperal for 
tão forte a ponto de se transformar em doença mental haverá semi ou inimputabilidade (CP, art. 
26). 
* é causa temporária (breve, transitória) de afastamento da capacidade de discernimento, 
diferenciando-se da semi-imputabilidade, que é causa em regra permanente ou ao menos aferível 
em prazo mais dilatado. 
* não se confunde com o puerpério = período que se estende do início do parto até a volta da 
mulher às condições pré-gravidez. 
 
- elemento cronológico do delito: 
+ durante parto = após o início e até o final. 
- início: dilatação do colo do útero 
- final: expulsão do feto. 
+ logo após o parto = não há prazo certo, devendo-se reconhecer a incidência enquanto 
perdurar o estado puerperal no caso concreto (depende de perícia). 
* antes do parto = aborto; tempos depois = homicídio. 
 
- ação ou omissão (ex: mãe que deixa de alimentar o neonato ou de efetuar a ligadura do cordão 
umbilical). 
 
- só admite modalidade dolosa. 
- mãe que mata o filho culposamente em estado puerperal: 
+ homicídio culposo (majoritária). 
+ fato atípico, pois não se pode exigir dever objetivo de cuidado da mãe. 
* NÃO há previsão de perdão judicial para o infanticídio. 
 
- mãe, querendo matar o próprio filho, mata outro neonato = infanticídio  erro sobre a pessoa 
(CP, art. 20, § 3º) 
* mãe que mata o filho para ocultar desonra própria ou porque o filho é indesejado = homicídio. 
 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 15 
- terceiro que colabora com o crime de infanticídio (ex: enfermeiro que auxilia mãe no crime) → o 
estado puerperal é condição pessoal elementar do tipo penal, comunicando-se (CP, art. 30). 
+ mãe e terceiro executam a morte da vítima = coautores de infanticídio. 
+ mãe executa a morte, auxiliada pelo terceiro = mãe é autora e terceiro é partícipe de 
infanticídio. 
+ terceiro executa a morte da vítima, auxiliado, induzido ou instigado pela mãe: 
- terceiro responde por homicídio e mãe por infanticídio (Bento de Faria e Frederico Marques). 
- mãe e terceiro respondem por infanticídio (Delmanto, Noronha e Fragoso - majoritária). 
* tecnicamente, quando a mãe apenas estimula alguém a matar o neonato, essa conduta não 
tipificaria o crime de infanticídio, porque a mãe não realizou a conduta típica matar e o terceiro 
NÃO está sob influência do estado puerperal: a mãe seria partícipe do homicídio  apesar de essa 
conclusão ser teoricamente a mais correta, representa punir mais gravemente a mãe pela 
realização de conduta menos grave (instigar em vez de ela mesma matar) = por questões de 
política criminal, corrigindo a distorção legal, prevalece que a mãe haverá de ser punida por 
infanticídio. 
 
- votação dos quesitos = reconhecimento pelos jurados da autoria, mas não do estado puerperal = 
(1) condenação homicídio; (2) absolvição pelo crime imputado; (3) dissolução do Conselho de 
Sentença para adequação da pronúncia e posterior novo julgamento. 
 
- NÃO há incidência das qualificadoras pelos meios empregados, diferentemente do que ocorre no 
homicídio  aplicação das agravantes genéricas do art. 61, II, d, do CP, exceto a asfixia, que ali 
não se encontra prevista. 
 
INFANTICÍDIO ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO 
+ crime contra a vida (CP, art. 123) 
+ dolo de dano 
+ morte dolosa 
+ Tribunal do Júri 
+ crime de perigo (CP, art. 134, § 2º) 
+ dolo de perigo 
+ morte culposa (crime preterdoloso) 
+ juiz singular 
 
-- 
 
CAPÍTULO II 
DAS LESÕES CORPORAIS 
 
1.4 ABORTO (CP, art. 124 a 128) 
 
- interrupção da gravidez com a destruição do resultado da concepção → eliminação da vida 
humana intrauterina. 
 
- CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA: 
a) natural = espontâneo  indiferente penal 
b) accidental = acidentes em geral  atípico 
c) criminoso = crime (CP, arts. 124 a 127) 
d) legal (permitido) = art. 128 do CP 
e) miserável (econômico) = por razões de miséria, incapacidade financeira de sustentar a vida 
futura  crime. 
f) honoris causa = para ocultar gravidez adulterina  crime. 
g) eugênico ou eugenésico = praticado em face dos comprovados riscos de que o feto nasce com 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 16 
graves anomaliasfísicas ou psíquicas  como regra é crime. 
* o aborto do feto anencefálico é uma espécie de aborto eugênico. 
 
- melhor seria falar-se abortamento. 
ABORTO ABORTAMENTO 
+ resultado + conduta criminosa 
 
+ início gestação: (1) fecundação = encontra do zigoto com o óvulo; (2) nidação = óvulo 
fecundado prendendo-se às paredes do útero (prevalente). 
+ fim da gestação  início do parto = dilatação do colo do útero. 
* contraceptivo de emergência = age exatamente entre a fecundação e nidação  (1) exercício 
regular de um direito (CP, art. 23, III); (2) fato atípico. 
 
* anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto = multa (LCP, art. 20 - 
Decreto nº 3.688/41)  não há destinatário certo. 
 
CP, art. 124 CP, art. 125 CP, art. 126 
+ autoaborto 
+ consentimento para aborto 
+ aborto sem o 
consentimento da gestante 
+ aborto com o 
consentimento válido da 
gestante. 
 
- sujeito passivo = nos casos sem consentimento a própria gestante e também o produto da 
concepção. 
* para parcela da doutrina o sujeito passivo é o Estado, pois o nascituro não seria pessoa. 
* aborto (consciente) de gêmeos = concurso formal impróprio. 
 
- a consumação se dá com a destruição do produto da concepção = morte do nascituro (crime 
material), seja em virtude dos meios aplicados no aborto, seja em razão de ter nascido 
prematuramente. 
* tentativa = o produto da concepção fica vivo no útero materno ou ocorre mera antecipação de 
parto (feto é expelido e sobrevive). 
- emprego de meio que gera a expulsão do feto, que sobrevive de imediato, seguida de agressão 
que leva o recém-nascido à morte = homicídio ou infanticídio (a tentativa de aborto fica absorvida 
- majoratária). 
 
- crime impossível: (1) total impropriedade objeto = feto já morto ou gravidez inexistente (delito 
putativo por erro de tipo); (2) absoluta ineficácia do meio (ex: chá de canela que só dá dor de 
barriga). 
 
- somente se pune a forma dolosa do crime (dolo direto ou eventual – ex: andar de montanha 
russa), não havendo que se falar em forma culposa (acidental) ou, obviamente, em virtude de 
causas naturais. 
- terceiro que causa aborto culposamente responde por lesões corporais (CP, art. 129, § 6º). 
* tentativa de suicídio com morte do feto  dolo eventual? (Nelson Hungria). 
 
- conduta por ação ou omissão (ex: gestante que não toma medicamento necessário a evitar o 
aborto ou médico que não os receita intencionalmente). 
 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 17 
- substituição por PRD (CP, art. 44, I): violência contra pessoa (= produto da concepção?)  se não 
houver violência contra a gestante, seria cabível a substituição. 
 
1.4.1 AUTOABORTO E CONSENTIMENTO PARA O ABORTO 
 
- provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque  detenção de 1 a 3 anos 
(CP, art. 124). 
* crime de mão própria (somente a gestante pode praticar)  admite somente a participação 
(induzimento, instigação e auxílio material), NÃO a coatuoria. 
 
- exceção à teoria monista → a gestante que consente pratica a figura do art. 124 CP, ao passo 
que o terceiro que realiza o aborto pratica a conduta do art. 126 CP. 
* ex: mulher que consente no aborto (CP, art. 124), induzida pelo marido (art. 124 c/c 29 do CP), 
praticado pelo médico (CP, art. 126). 
+ ex: namorado dá carona para a namorada até a clínica = partícipe art. 124 do CP 
+ ex: namorado paga a clínica = partícipe art. 126 do CP 
 
1.4.2 ABORTO NÃO CONSENTIDO 
 
- provocar aborto, sem o consentimento da gestante  reclusão de 3 a 10 anos (CP, art. 125) 
* ausência de consentimento = oposição expressa, tácita ou presumida da gestante (ex: gestante 
dopada = oposição presumida). 
 
- desferir violento pontapé em mulher sabidamente grávida, provocando a interrupção da 
gestação (dolo eventual) = aborto. 
- matar mulher grávida (conscientemente)  intenção (dolo genérico) ou dolo eventual = 
concurso formal impróprio entre aborto (art. 125 CP) e homicídio (art. 121 CP) + agravante art. 61, 
II, h? (bis in idem). 
 
1.4.3 ABORTO CONSENTIDO 
 
- provocar aborto com o consentimento da gestante  reclusão de 1 a 4 anos (CP, art. 126). 
* consentimento inválido → adquirido mediante fraude, ameaça ou violência, bem como o 
concedido por menor de 14 anos ou pessoa mentalmente sem condições de discernimento (CP, 
art. 126, § único) = responde pelo art. 125 do CP. 
 
LCP, art. 20 CP, art. 126 
+ anunciar meio abortivo + fornecer meio abortivo (participação) 
 
- clínicas de aborto, com médicos, enfermeiras, secretárias, todos com ciência das atividades = 
associação criminosa (CP, art. 288). 
 
FORMA QUALIFICADA 
 
- causas de aumento de pena (CP, art. 127). 
+ aumento de pena de 1/3 caso a gestante sofra lesões corporais graves (CP, art. 129, §§ 1º e 2º) 
+ pena duplicada em caso de morte da gestante 
* ambas as figuras são preterdolosas (dolo no aborto e culpa no resultado agravador), se houver 
dolo também na lesão ou morte há concurso de crimes. 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 18 
- a lesão ou morte pode decorrer tanto do aborto em si como dos meios empregados para realizá-
lo. 
 
- e se ocorrer a morte da gestante, MAS NÃO o aborto? → (1) aborto majorado consumado, ainda 
que o feto sobreviva; (2) tentativa de aborto simples + homicídio culposo; (3) aborto majorado 
tentado, em exceção à impossibilidade de tentativa em crime preterdoloso quando a parte 
frustrada for a dolosa (reduz-se a pena de 1/3 a 2/3 pela tentativa e depois se a dobra em virtude 
da causa de aumento) (prevalece). 
 
- as majorantes incidem unicamente sobre os abortos praticados por terceiro (arts. 125 e 126 CP), 
NEM MESMO ao partícipe do crime do art. 124 (ex: namorado incita ao aborto que tem como 
resultado a morte da namorada  não se poderá aplicar o aumento do pena¹). 
¹ nesse caso, poderá responder por aborto + homicídio? = somente se houver culpa direta no 
resultado (ex: namorado aconselhou ao uso de medicamento que, pela dose ou natureza, 
provocou a morte). 
 
1.4.4 ABORTO LEGAL OU PERMITIDO 
 
- causas excludentes de ilicitude da parte especial (embora o CP fale em "não se pune", tal qual 
fossem excludentes de punibilidade) (CP, art. 128) 
 
ABORTO NECESSÁRIO (TERAPÊUTICO) 
- praticado pelo médico nos casos em que a gravidez ofereça grave risco à vida da gestante (ex: 
gravidez tubária - ocorre fora do útero, nas trompas). 
 
- requisitos: 
+ praticado por medico¹ 
+ para salvar a vida da gestante 
+ impossibilidade de outro meio para salvá-la (inevitabilidade) 
¹ parteira ou enfermeira que faz aborto, na falta de médico, como único meio de salvar a vida da 
gestante → estado de necessidade (CP, art. 24). 
 
- dispensa consentimento da gestante ou autorização judicial. 
 
ABORTO SENTIMENTAL, HUMANITÁRIO ou ÉTICO 
- praticado por médico com autorização da gestante ou seus representantes legais nos casos de 
gravidez resultante de estupro. 
 
- requisitos: 
+ praticado por médico¹ 
+ gravidez resultante de estupro (abrange o estupro de vulnerável - CP, art. 217-A) 
+ consentimento da gestante ou, se incapaz, seu representante legal 
¹ se o aborto for realizado por pessoa NÃO médica (pela própria gestante, por enfermeira ou por 
terceiro não habilitado), ainda que a gravidez seja derivada de estupro, haverá CRIME! 
 
- para se precaver de qualquer responsabilidade, os médicos (no mínimo 2) devem realizar um 
procedimento de justificação e autorização = (1) ouvir detalhadamente a gestante acerca da 
ocorrência do fato (estupro); (2) colher assinatura (da gestante ou de seus representantes legais 
se essa for menor ou incapaz) em termo de responsabilidade. 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 19 
* NÃO é necessário Boletim de Ocorrência, malgrado haja decisões isoladas do STF exigindo a sua 
lavratura. 
* NÃO é necessária ordem judicial (carece de interesse de agir). 
 
* se a gestante mente que foi estuprada para abortar = responde em concurso material pelo 
aborto consentido (CP,art. 124) + comunicação falsa de crime (CP, art. 340). 
 
* mulher como agente ativo do estupro (possível na nova forma do art. 213 do CP)  NÃO pode 
abortar nos termos do art. 128, II CP. 
 
- diagnóstico de ANENCEFALIA (malformação total ou parcial do cérebro ou da calota craniana = 
natimorto aguardado) → antecipação terapêutica do parto (ADPF 54) = PERMITIDA. 
* defende-se a vida intrauterina com possibilidade de vida extrauterina. 
 
(FGV - 2008 - TJ-PA – Juiz) A organização não-governamental holandesa "Women on the waves", 
dirigida pelo médico holandês Marco Van Basten, possui um barco de bandeira holandesa que 
navega ao redor do mundo recebendo gestantes que desejam realizar aborto. Quando passou 
pelo Brasil, o navio holandês recebeu a bordo mulheres que praticaram a interrupção de sua 
gestação, dentre elas Maria da Silva, jovem de 25 anos. Na ocasião em que foi interrompida a 
gravidez, o barco estava em alto-mar, além do limite territorial brasileiro ou de qualquer outro 
país. Sabendo que a lei brasileira pune o aborto (salvo em casos específicos, não aplicáveis à 
situação de Maria) ao passo que a Holanda não pune o aborto, assinale quais foram os crimes 
praticados por Marco e Maria, respectivamente = nenhum dos dois praticou crime  
extraterritorialidade (CP, art. 7º, II, b, e § 2º, b). 
 
-- 
 
1.5 LESÕES CORPORAIS (CP, art. 129) 
 
- topografia das lesões coprorais: 
+ caput = leve 
+ § 1º = grave 
+ § 2º = gravíssima 
+ § 3º = seguida de morte (homicídio preterdoloso) 
+ §§ 4º e 5º = minorantes 
+ § 6º = culposa 
+ § 7º = majorantes 
+ § 8º = perdão judicial 
+ §§ 9º, 10 e 11 = violência doméstica e familiar 
 
- objeto jurídico: incolumidade pessoal → saúde corporal, fisiológica e mental. 
INTEGRIDADE FÍSICA INTEGRIDADE FISIOLÓGICA PERTURBAÇÃO MENTAL 
+ dano anatômico (ex: 
equimose, fratura, 
sangramento). 
+ ex: substância que provoca 
dispneia (dificuldade de 
respiração), diarreia, vômito... 
+ ex: convulsão, desarranjo 
cerebral... 
* o crime se configura tanto por causar a enfermidade quanto por agravar enfermidade já 
existente. 
 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 20 
- para as leões corporais dolosas deve haver animus vulnerandi ou animus laedendi, sob pena de 
se configurar vias de fato ou lesão corporal culposa. 
 
- pluralidade de lesões em um mesmo contexto fático = crime único com consideração quanto à 
quantidade de lesões na dosimetria da pena. 
 
- se o autor do crime for autoridade pública poderá responder por lesão corporal + abuso de 
autoridade em concurso material, não havendo absorção do abuso pelas lesões (STF/STJ). 
 
- o crime pode ser cometido por ação ou omissão, no caso dos garantes do art. 13, II, do CP. 
 
 
DISTINÇÃO DE INFRAÇÕES: 
 
+ a autolesão não é crime, podendo ser meio para o estelionato no caso de a intenção ser fraudar 
seguro (CP, art. 171, § 2º, V). 
* autolesão para fugir do serviço militar obrigatório = “criar ou simular incapacidade física, que 
inabilite o convocado para o serviço militar  detenção de 6 meses a 2 anos CPM, art. 184). 
 
+ se a violência é praticada sem intenção de lesionar e sem causar lesão (ex: empurrões, tapas 
com mera eritema, puxão de cabelo...) configurar-se-á, em tese, vias de fato (LCP, art. 21). 
 
+ se a violência é praticada com a intenção de humilhar o agente responderá ainda por injúria real 
(CP, art. 140, § 2º CP) em concurso material. 
 
+ lesão corporal seguida de morte x homicídio = animus necandi? 
 
+ se a lesão culposa for cometida na direção de veículo automotor, estará configurado crime mais 
grave, descrito no art. 303 do CTB (Lei n. 9.503/97). 
 
+ o Estatuto do Torcedor pune com reclusão, de 1 a 2 anos, quem pratica violência durante evento 
esportivo ou nas proximidades do estádio em dia de jogo (raio de 5 km), ou em seu trajeto (art. 
41-B, da Lei n. 12.299/2010)  lesões corporais absorvem? = a tendência é que SIM! 
 
 
- consentimento do ofendido? 
- a integridade física trata-se de bem RELATIVAMENTE DISPONÍVEL: desde que: 
+ as lesões sejam leves. 
+ não haja ferimento à moral e aos bons consumes. 
* tatuagens, brincos e piercings (lesão leve), com consentimento do ofendido ou representante 
legal = fato atípico (de toda forma, o crime é de APPC - art. 88 da Lei nº 9.099/1995). 
 
- intervenção cirúrgica em casos de emergência (risco de morte), ainda que sem consentimento 
do paciente ou familiares = estado de necessidade de terceiro (ex: amputação de perna com 
gangrena, a despeito dos protestos da família). 
* em caso de cirurgia corretiva ou terapêutica (em que não há situação de risco de morte), o 
médico só pode atuar com a concordância do paciente. 
 
- corte de cabelo desautorizado  intenção: 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 21 
+ vender (peruca, aplique) = lesão corporal (CP, art. 129 CP) ou mesmo roubo, se houver violência 
(própria ou imprópria) ou grave ameaça (CP, art. 157). 
+ humilhar = concurso material entre as lesões e injúria qualificada ou real (CP, art. 140, § 2º). 
+ causar vexame a jovem ou adolescente sob sua guarda ou vigilância (ECA, art. 232). 
 
1.5.1 LESÃO CORPORAL LEVE 
 
- ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem (CP, art. 129, caput)  detenção de 3 
meses a 1 ano 
* IMPO e APPC (art. 88 da Lei nº 9.099/1995) 
- lesão, mesmo leve, contra mulher no âmbito doméstico ou familiar (art. 41 da lei 11.343 e ADIn 
4424) → APPI. 
 
- lesão leve = não há ocorrência de resultado mais grave (configura-se por exclusão). 
* eritema (vermelhidão) e dor NÃO são consideradas lesões. 
 
- princípio insignificância  muitas controvérsias (ex: alfinetada com perda de gota de sangue) = 
por vezes admitido na jurisprudência. 
 
1.5.2 LESÃO CORPORAL GRAVE 
 
- reclusão de 1 a 5 anos (art. 129, § 1º CP) → ocorre resultado mais grave (qualificadora), sendo: 
* médio potencial ofensivo = admite suspensão condicional do processo. 
 
INCAPACIDADE PARA AS OCUPAÇÕES HABITUAIS 
- não inclui apenas o trabalho, mas qualquer atividade corporal rotineira lícita da vítima (ex: 
aposentado que fica impossibilitado de caminhar todas as manhãs; criança que fica impedida de ir 
aos treinos de judô) por mais de 30 dias (prazo penal = computa-se o dia de início). 
* ocupações lícitas, mesmo que imorais (ex: prostituição). 
- a relutância, vergonha para as ocupações habituais NÃO qualifica o crime (ex: garoto com 
equimose no olho se recusa a ir 40 dias para a escola, até que suma totalmente a marca). 
 
- comprovação deve se dar via exame de corpo de delito complementar (CPP, art. 168, § 3º), 
podendo sua ausência ser suprida pela prova testemunhal (art. 158 c/c art. 167 do CPP). 
 
RESULTAR PERIGO DE VIDA (morte) 
- preterdolosa = se havia intenção de matar (aferível pelo delegado, MP, juiz e jurados) há crime 
de tentativa de homicídio. 
- perigo de vida = probabilidade série, concreta e imediata de êxito legal, devidamente 
comprovado por perícia. 
* o perigo deve ser real, não podendo ser meramente presumido  o local da lesão, por si só, 
NÃO caracteriza o perigo. 
* o perito deve descrever exatamente a causa (ex: choque hipovolêmico em virtude da grande 
perda de sangue; necessidade de cirurgia de emergência; atingimento a órgão vital que foi 
seriamente lesado...), sob pena de desclassificação para lesão leve. 
- o perigo deve decorrer da lesão, não do fato (ex: vítima é socada na boca (leve corte), dá um 
passo pra trás e quase é atropelada por um caminhão). 
 
DEBILIDADE PERMANENTE DE MEMBRO SENTIDO OU FUNÇÃO 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 22 
* permanente = duradoura, não precisando ser definitiva e irreversível. 
 
MEMBRO SENTIDO FUNÇÃO 
+ superiores e inferiores: 
mãos, braços, antebraços, 
ombros, quadril, coxas, pernas 
e pés. 
+ mecanismos sensoriais pelos 
quais percebemos o mundo 
exterior = visão, olfato, tato, 
paladar, audição. 
+ funcionamento de um 
sistema ou aparelho do corpo 
humano = ex: respiratória, 
reprodutora,excretora, 
circulatória. 
 
DEBILIDADE 
- diminuição, redução ou enfraquecimento da capacidade funcional de membro sentido ou 
função, mesmo que se possa atenuar com aparelhos de prótese. 
* debilidade = recuperação incerta e por tempo indeterminado  não significa permanente. 
 
+ a perda de perda dentes, desde que haja comprometimento da função mastigatória, e a perda 
de testículo, com prejuízo (diminuição) da capacidade reprodutora, configuram lesão grave. 
+ perda de dedo = debilidade  lesão grave, exceto polegar = gravíssima (impede o movimento 
de pinça). 
+ perda de mão = inutilização de membro  lesão gravíssima. 
 
ACELERAÇÃO DO PARTO 
- nascimento prematuro = em razão das lesões, o feto é expulso com vida, antes do tempo 
normal, e sobrevive. 
* só pode ter como vítima a gestante = crime próprio quanto ao sujeito passivo. 
- o agente deve saber ou ter condições de saber da gravidez, sob pena de a responsabilidade 
objetiva. 
* preterdoloso = se o queria matar o nascituro ou aceita o resultado responde por tentativa de 
aborto e lesão corporal em concurso material. 
 
1.5.3 LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA 
- reclusão de 2 a 8 anos (CP, art. 129, § 2º) → ocorre resultado ainda mais grave, sendo: 
* infração penal de grande potencial ofensivo. 
* termo inicialmente doutrinário, depois adotado pela lei de tortura (art. 1º, § 3º, da Lei nº 
9.455/1997). 
 
INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O TRABALHO 
- a incapacidade deve ser geral, isto é, para qualquer trabalho, não para aquele que o agente 
labutava (jurisprudência majoritária)  teoria do Joseph Climber. 
 
ENFERMIDADE INCURÁVEL 
- aquela para a qual a ciência atual não possui cura (ex: transmissão intencional de chagas; deixar 
a vítima manca). 
- a vítima não está obrigada a se submeter a intervenção cirúrgica ou a tratamento arriscado 
para tentar a cura, mantendo-se a qualificadora. 
 
- transmissão de AIDS = (a) tentativa de homicídio, desde que haja animus necandi, pois o meio é 
idôneo (STJ, HC 9.378); (b) lesão corporal gravíssima, se não houver intenção de matar, mas 
apenas de transmitir a doença (STF, HC 98.712/RJ e STJ, HC 160.982/DF); (c) perigo de contágio de 
moléstia grave (CP, art. 131), caso não haja a intenção de transmitir a doença (STF, HC 98.712/SP). 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 23 
 
PERDA OU INUTILIZAÇÃO DE MEMBRO SENTIDO OU FUNÇÃO 
- órgãos duplos = lesão total de um deles configura debilidade (lesão grave), a dos dois representa 
perda ou inutilização (lesão gravíssima). 
 
PERDA 
MUTILAÇÃO AMPUTAÇÃO 
+ perda direta pela ação do agente com objeto 
capaz de desprender o membro do corpo. 
+ intervenção cirúrgica (desde que haja nexo 
causal entre a ação do agente e a necessidade 
da medida cirúrgica). 
 
INUTILIZAÇÃO 
- torna o membro, sentido ou função inoperante. 
* impotência = (a) generandi = de gerar a vida (ex: laqueadura ou vasectomia forçada); (b) coeundi 
= instrumental  lesão gravíssima. 
 
DEBILIDADE PERDA ou INUTILIZAÇÃO 
+ comprometimento da funcionabilidade 
normal. 
+ lesão grave. 
+ perda total da capacidade funcional (ex: 
paralisia em braço). 
+ lesão gravíssima. 
 
DEFORMIDADE PERMANENTE 
- dano estético permanente (irreparável pela própria força da natureza), de (1) elevada monta, (2) 
visível (não incide quando a cicatriz for na sola do pé ou couro cabeludo) e (3) vexatório (causa 
desconforto para quem olha e humilhação para a vítima). 
* não se limita o local da lesão a regiões expostas, sendo suficiente que seja aparente, mesmo em 
momentos íntimos. 
- não se pode exigir que a vítima procure cirurgia para encobrir os ferimentos, mas realizada e 
ocorrendo a correção total, afasta-se a qualificadora (majoritária). 
 
ABORTO 
- expulsão do feto, gerando sua morte. 
* o agente deve saber ou ter condições de saber da gravidez, sob pena de a responsabilidade 
objetiva. 
 
ANTECIPAÇÃO DO PARTO ABORTO 
+ o feto nasce prematuramente, mas 
sobrevive. 
+ lesão grave. 
+ há destruição do produto da concepção. 
+ lesão gravíssima. 
 
- dolo na agressão + culpa no aborto = lesão corporal gravíssima (art. 129, § 2º CP). 
- dolo no agressão + dolo no aborto = concurso de crimes (art. 129, caput + art. 125, do CP). 
- dolo no aborto + culpa nas lesão ou na morte gestante = aborto qualificado (art. 125 ou 126 
c/c art. 127 CP). 
 
* substancia para provocar lesão corporal em feto  aberração da legislação = fato atípico, a 
menos que haja intenção de matar o produto da concepção (tentativa de aborto). 
 
COEXISTÊNCIA DE QUALIFICADORAS 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 24 
- havendo pluralidade de qualificadoras aplicáveis (ex: lesão corporal com incapacidade para as 
ocupações habituais por mais de 30 dias e deformidade permanente), as qualificadoras do § 2º 
prevalecem sobre as do § 1º, podendo as sobressalentes serem utilizadas na primeira fase da 
dosimetria da pena (consequências do crime - CP, art. 59). 
 
- a ausência do laudo pericial não impede que a materialidade do delito de lesão corporal de 
natureza grave seja reconhecida por outros meios, como testemunhas e relatórios de 
atendimento hospitalar (STF, HC 114.567/ES). 
 
 
 
1.5.4 LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE 
 
- reclusão de 4 a 12 anos (CP, art. 129, § 3º) → homicídio preterdoloso (culpa própria). 
 
- conduta dolosa, buscando ofender a incolumidade pessoal da vítima + resultado culposo mais 
grave (morte) + nexo entre a conduta e o resultado. 
* o caso fortuito ou a imprevisibilidade do resultado elimina a configuração do crime preterdoloso, 
respondendo o agente por lesões corporais (ex: o agente desfere um soco na vítima, a qual cai 
sobre a areia da praia, batendo a cabeça em uma pedra oculta; ocorre fratura de crâneo e óbito). 
- se o antecedente doloso consiste em vias de fato, o evento morte caracteriza HOMICÍDIO 
CULPOSO, ficando a contravenção absorvida (ex: empurrão com queda, traumatismo craneano e 
morte). 
 
FIGURAS PRETERDOLOSAS DOLO OU CULPA 
+ perigo de vida 
+ aceleração do parto 
+ provocação de aborto 
+ lesão corporal seguida de morte 
+ incapacidade ocupações habituais + 30 dias 
+ debilidade de membro sentido ou função 
+ incapacidade permanente para o trabalho 
+ enfermidade incurável 
+ perda ou inutilização membro sentido ou função 
+ deformidade permanente 
 
DIMINUIÇÃO DE PENA 
- redução de pena 1/6 a 1/3 (CP, art. 129, § 4º)  (1) relevante valor moral; (2) relevante valor 
social; (3) violenta emoção = igual ao homicídio. 
* figura privilegiada = só é aplicável à modalidade DOLOSA, sendo direito subjetivo do réu 
(preenchidos os requisitos). 
- o privilégio é aplicado à lesão simples, grave e gravíssima (caput, §§ 1º e 2º). 
 
 
SUBSTITUIÇÃO DA PENA DE DETENÇÃO POR MULTA 
- em caso de (1) relevante valor social ou moral ou ainda (2) estando o agente sob o domínio de 
violenta emoção, bem como quando as (3) lesões forem recíprocas, o juiz pode substituir a PPL 
(dentenção) por multa (CP, art. 129, § 5º). 
- a substituição é aplicável unicamente à lesão LEVE (caput) 
 
1.5.5 LESÃO CORPORAL CULPOSA 
 
- detenção de 2 meses a 1 ano (CP, art. 129, § 6º). 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 25 
* IMPO e APPC = art. 88 da lei 9.099/95. 
 
- pena em abstrato idêntica para às lesões leve, grave e gravíssima = as consequências do crime 
devem ser considerados na dosimetria penal (CP, art. 59). 
 
- cometida na direção de veículo automotor = detenção de 6 meses a 2 anos (art. 303 do CTB - Lei 
nº 9.503/1997)  dispositivo especial em relação ao CP. 
- possui pena maior do que a lesão leve dolosa do CP! 
* abrange todo veículo de propulsão a motor, incluindo veículos elétricos que não circulem sobe 
trilhos e excluindo veículos aquáticos e aéreos, veículos de propulsão animal ou humano, os que 
circulem sobre trilhos e ciclomotores (veículo até 50 e velocidade máxima de fábrica de até 
50km/h). 
 
PERDÃO JUDICIAL 
- aplicação do § 5º do art. 121 do CP (CP, art. 129, § 8º) = juiz poderá deixar de aplicara pena se as 
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se 
torne desnecessária (tal qual no crime de homicídio). 
 
AUMENTO DE PENA 
- aplicação dos §§ 4º e 6º do art. 121 CP (CP, art. 129, § 7º) - aumento de pena de 1/3: 
+ descumprimento de regra técnica 
+ agente não procura diminuir consequências do crime 
+ agente foge para evitar flagrante 
- vítima é maior de 60 ou menor de 14 anos → lesão DOLOSA. 
+ crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou 
por grupo de extermínio (CP, art. 129, § 8º). 
 
1.5.6 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
 
- lesão contra o CADI, com quem o agente conviva ou tenha convivido, ou prevalecendo-se das 
relações domésticas, de coabitação ou hospitalidade (CP, art. 129, § 9º) = a vítima NÃO precisa ser 
mulher (STJ, RHC 27.622/RJ). 
- só é aplicável às lesões dolosas. 
- qualificadora = detenção de 3 meses a 3 anos → em caso de lesão leve (CP, art. 129, caput). 
* não é IMPO  não tramita pelo JECrim. 
 
- causa de aumento de pena (CP, art. 129, § 10º) = pena da lesão grave, gravíssima ou seguida de 
morte + 1/3 (art. 129, §§ 1º, 2º e 3º CP). 
* ex: amigo recebe o outro em sua casa e, numa discussão, após uns copos de vinho, acaba 
surrando-o e provocando lesões graves (art. 129, § 1º c/c art. 129, § 10) = reclusão de 2 a 8 anos + 
1/3 pela relação de hospitalidade. 
* a lesão grave (§ 1º) deixa de ser infração de médio potencial ofensivo, pois não mais admite 
suspensão condicional do processo. 
* não mais podem incidir sobre o crime de lesão corporal as agravantes genéricas do art. 61, II, “e” 
e “f”, que possuem redação idêntica às hipóteses agora elencadas no § 9º. 
 
- causa de aumento de pena = se a vítima, nas circunstâncias do § 9º, for deficiente (CP, art. 129, § 
11), a pena aumenta-se de 1/3. 
- o § 11 aplica-se somente à lesão corporal leve nas condições do art. 9º, não podendo ser 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 26 
aplicado sobre o § 10º (CP, art. 68, parágrafo único). 
* aplicação art. 129, § 7º (art. 121, § 4º) + art. 129, § 10º (ex: lesão corporal grave provocada em 
filho menor de 14 anos) = o juiz só deve aplicar somente uma das causas de aumento de pena da 
parte especial. 
 
§ 9º § 10 § 11 
+ qualificadora 
+ violência doméstica 
+ causa de aumento dos §§ 1º, 2º e 3º 
+ violência doméstica majorada 
+ causa de aumento do § 9º 
+ deficiente 
 
-- 
 
CAPÍTULO IV 
DA RIXA 
 
1.6 RIXA (CP, art. 137) 
 
- participar de rixa, salvo para separar os contendores  detenção de 15 dias a 2 meses ou multa. 
* briga generalizada (vias de fato ou violências recíprocas) entre mais de duas pessoas, agindo 
cada uma por sua conta e risco. 
 
- é possível a rixa a distância (ex: tiros, arremesso de objetos), não dependendo de embate corpo 
a corpo. 
* agressões verbais NÃO configuram o delito, sendo imprescindível vias de fato ou lesões 
corporais recíprocas. 
 
- crime de concurso necessário: 3 ou mais pessoas (computados os inimputáveis e briguentos não 
identificados) = grupos indefinidos (grupos divisíveis – ex: torcidas de futebol - respondem por 
lesões corporais) em que os contendores, em luta desordenada, visam os outros indistintamente. 
* a jurisprudência vem reconhecendo o crime de rixa quando a contenda se inicia por meio de 
troca de agressões entre dois grupos distintos, mas, em razão do grande número de envolvidos, 
surge tamanha confusão que, durante seu desenrolar, torna-se bastante difícil identificar todos os 
componentes de cada grupo. 
 
* sujeito ativo e passivo simultaneamente ou lesões recíprocas? (divergência jurisprudencial e 
doutrinária)  crime plurissubjetivo de condutas contrapostas. 
 
- participação no crime de rixa: (1) moral =induzimento ou instigação; (2) material = auxílio (ex: 
emprestar pedaço de pau). 
 
PARTÍCIPE DA RIXA PARTÍCIPE DO CRIME DE RIXA 
+ contendor, briguento. + auxílio material ou moral. 
 
- só admite dolo (de participar da rixa = perigo  ordem e paz pública), não havendo modalidade 
culposa. 
 
* consuma-se com a troca de agressões  crime de crime de perigo abstrato ou concreto? = a 
doutrina moderna tende a defender trata-se de crime de perigo concreto; ainda assim, ocasional 
lesão leve é mero exaurimento do crime. 
* delito unissubsistete = em regra não admite tentativa (atos preparatórios). 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 27 
* parte da doutrina defender que se a rixa for marcada, rixa ex proposito (ex: briga generalizada 
combinada pela internet) e a autoridade evita a ocorrência do evento, há tentativa (Nelson 
Hungria). 
 
FORMA QUALIFICADA 
- se ocorre morte ou lesão corporal grave, pela participação na rixa → reclusão de 6 meses a 2 
anos (única hipótese do CP em que se equipara a pena para a lesão corporal grave ou morte). 
 
- todos os participantes respondem por rixa qualificada? caso remanescente de responsabilidade 
objetiva)  (1) a jurisprudência entende que sim; (2) doutrina entende que quem saiu antes da 
morte ou lesão contribuiu para o resultado, logo responde; já quem entrou depois da morte ou 
lesão deveria responder apenas por rixa simples. 
* a lesão ou morte pode ser em/de contendor ou pessoa não envolvida. 
 
-- 
 
CAPÍTULO V 
DOS CRIMES CONTRA A HONRA 
 
 
 - honra = conjunto de atributos morais relativos a uma pessoa, seja com relação a ela mesma ou 
no trato com terceiros. 
SUBJETIVA OBJETIVA 
+ sentimento pessoal de íntimo; apreço por si mesmo no 
que se refere aos atributos físicos, morais ou intelectuais 
(autoestima, amor próprio). 
+ bom nome, reputação social 
(perante terceiros). 
 
- os crimes contra a honra são a calúnia, a difamação e a injúria. 
* tais condutas também encontram-se previstas em leis especiais: Código Eleitoral, Código Militar 
e Lei de Segurança Nacional  CP só é aplicável se não ocorrer quaisquer das hipóteses previstas 
nas leis especiais. 
* atualmente, a ofensa perpetrada por meio de imprensa configura crime comum, na medida em 
que o STF, ao julgar a ADPF nº 130, entendeu que a Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67) não foi 
recepcionada pela CF/88. 
 
* os crimes contra a honra admitem unicamente a forma dolosa (direito ou, em regra, eventual) = 
NÃO há crime contra a honra culposo. 
- ausência de intenção específica de ofender (animus diffamandi)  em regra NÃO há crime: 
+ animus jocandi = intenção de brincar 
+ animus defendendi = intenção de se defender 
+ animus consulendi = intenção de informar 
+ animus narrandi = intenção de contar 
+ animus corrigendi = intenção de disciplinar (especialmente na injúria) 
 
- crimes de forma livre  podem ser cometidos por quaisquer meios: forma verbal, por escrito, 
por gestos ou qualquer outro modo simbólico, mesmo de maneira subentendida (ex: bilhete com 
os dizeres "filho da p.!"). 
* a ofensa pode ser: (a) explícita ou inequívoca; (b) implícita ou equívoca; (c) reflexa (atinge 
terceiro reflexamente - ex: diz que mulher foi até uma clínica cometer aborto = calúnia em face da 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 28 
mulher e reflexamente do médico; chamar um homem de corno = injúria contra ele e difamação 
reflexa contra sua esposa). 
 
CURIOSIDADE! - homem ensina papagaio a proferir impropérios = dono do bichano comete o 
crime de maneira indireta. 
 
- é possível que se impute, de forma concomitante, a prática dos crimes de calúnia, de difamação 
e de injúria ao agente que divulga, em uma única carta, dizeres aptos a configurar os referidos 
delitos, sobretudo no caso em que os trechos utilizados para caracterizar o crime de calúnia forem 
diversos dos empregados para demonstrar a prática do crime de difamação (ex: João, síndico do 
prédio, brigou com Pedro em virtude de desavenças quanto à prestação de contas  Pedro 
escreveu, então, uma carta, distribuída a todos os demais condôminos, na qual dizia que João, no 
mês de 09/2014, desviou R$ 10 mil da conta do condomínio em proveito próprio= calúnia; que, 
no dia da assembleia ocorrida em 22/10/2014, estava tão bêbado que não conseguia parar em pé 
= difamação; e que ele era um gordo, feioso e burro = injúria) (STJ,. RHC 41.527/RJ). 
 
1.7 CALÚNIA (CP, art. 138) 
 
- caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime  detenção de 6 meses a 
2 anos e multa. 
* a imputação deve ser falsa = se o agente acha que é verdadeira, haverá erro de tipo, não 
respondendo pelo crime por não haver modalidade culposa. 
* fato deve ser certo e determinado (ex: você roubou o tazo do meu irmão!) 
 
SUBTIPO 
- incorre na mesma pena quem, sabendo falsa a imputação, a propala (relata verbalmente) ou 
divulga (§ 1º) → somente aceita dolo direto, nesse caso não admitindo o dolo eventual. 
 
- é punida a calúnia contra os mortos (§ 2º)  as vítimas são os familiares. 
 
- consuma-se quando a ofensa chega ao conhecimento de terceiro, ainda que não macule a honra 
do sujeito (crime formal). 
 
- a calúnia diferencia-se da denunciação caluniosa (CP, art. 339), pois nessa o agente quer 
prejudicar a vítima perante as autoridades, narrando a elas que tal pessoa teria cometido um 
crime ou contravenção, quando, em verdade, sabe que esta é inocente. Com isso, o agente dá 
causa ao início de uma investigação policial, administrativa ou até mesmo a uma ação penal. 
Trata-se de crime mais grave porque expõe a risco a liberdade de pessoa inocente e porque faz 
com que as autoridades percam seu tempo investigando um inocente (crime contra a 
administração da justiça). 
* se, numa só ação, o agente cometa denunciação caluniosa e calúnia, os tribunais firmaram 
entendimento de que a calúnia fica absorvida pelo crime mais grave (denunciação caluniosa). 
 
CURIOSIDADE! - abolitio criminis da conduta imputada ao difamado = desclassificação para crime 
de difamação (ex: acusar de adultério). 
 
- crianças e adolescente ou deficientes mentais como sujeito passivo = possível, pois podem 
cometer ato infracional (ECA, art. 103) e crime, sofrendo medida protetiva ou socioeducativa ou 
medida de segurança, respectivamente. 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 29 
* pessoa jurídica como sujeito passivo  possível, uma vez que a PJ pode cometer crime 
ambiental (art. 225, § 3º, da CF e Lei nº 9.605/98). 
 
EXCEÇÃO DA VERDADE 
- prova de que a acusação é verdade (buscar desconstituir a presunção relativa de que a 
imputação é falsa), tornando o fato atípico (§ 3º) = a falsidade é elementar do tipo. 
 
- NÃO se admite a exceção da verdade: 
a) crime de APPriv e o caluniado não foi condenado por sentença transitado em julgado = só 
cabe exceção da verdade após a condenação definitiva do caluniado. 
b) contra o Presidente da República ou chefe de Estado ou governo estrangeiro. 
c) o caluniado foi inocentado em sentença penal transitada em julgado. 
* hipótese deveras injusta, pois a “vítima” pode ter sido absolvido por falta de provas e o autor 
possuir elementos cabais para demonstrar o cometimento do crime de APPI ou APPC. 
* parte da doutrina considera inconstitucionais as vedações à exceção da verdade, pois permitem 
que alguém que faz uma imputação verdadeira seja condenado por calúnia, em ferimento ao 
princípio da ampla defesa. 
 
- querelante com FPF = exceção da verdade apresentada e instruída em 1º grau, mas julgada pelo 
Tribunal competente (CPP, art. 85). 
 
EXCEÇÃO DE NOTORIEDADE 
- cabível nos crimes de calúnia e difamação, visando-se demonstrar que o querelado apenas falou 
coisas que já eram de domínio público, de modo que sua fala não atingiu a honra objetiva da 
vítima, pois o assunto já era previamente de conhecimento geral (CPP, art. 523) = crime 
impossível. 
 
EXCEÇÃO DA VERDADE EXCEÇÃO DA NOTORIEDADE 
+ busca provar a veracidade do fato. 
+ torna o fato atípico. 
+ buscar demonstrar a notoriedade do fato. 
+ gera reconhecimento de crime impossível. 
 
-- 
 
1.8 DIFAMAÇÃO (CP, art. 139) 
 
- difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação  detenção de 3 meses a 1 ano e 
multa. 
* fato ofensivo à honra objetiva, determinado e específico = pode ser fato imoral ou ilegal, desde 
que não criminoso, podendo ser contravenção penal (ex: dizer que uma mulher casada tem 
relações extraconjugais com o vizinho; acusar o juiz não ler os processos que julga...). 
 
CALÚNIA DIFAMAÇÃO INJÚRIA 
+ fato criminoso determinado 
(ex: foi você quem furtou o 
carro do Luiz). 
+ fatos não criminosos (ex: a 
casa em que você mora é 
antro do jogo do bicho!). 
+ xingamento (ex: você é um 
bandido, ladrão, assassino, 
estelionatário!). 
 
- a acusação pode ser falsa ou verdadeira = não se deve imiscuir-se na vida alheia! 
 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 30 
- consuma-se quando a ofensa chega ao conhecimento de terceiro, ainda que não macule a honra 
do sujeito (crime formal). 
 
- inexiste subtipo na difamação  diferentemente do que ocorre na calúnia, quem propala ou 
divulga o fato ofensivo não criminoso responde por nova difamação (CP, art. 139, caput). 
 
- a difamação contra os mortos não é punida, apenas a calúnia. 
 
- o “desonrado” pode ser vítima?  pessoas que já não gozam de bom nome também podem ser 
difamadas (ou caluniadas), porque uma nova ofensa pode piorar ainda mais a sua reputação. 
 
EXCEÇÃO DA VERDADE 
- em regra vedada, só sendo admitida se o difamado for servidor público e a ofensa é em razão da 
função (parágrafo único) = exercício regular de um direito. 
- tal qual na calúnia, não se admite a exceção da verdade em face de Presidente da República 
(Exposição de Motivos do CP). 
 
- admite exceção da notoriedade (CPP, 523). 
 
-- 
 
1.9 INJÚRIA (CP, art. 140) 
 
- injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro  detenção de 1 a 6 meses ou multa. 
* xingamentos ou imputações genéricas que ferem a honra subjetiva = não há imputação de fato 
determinado, mas de qualidade negativa, conceito depreciativo. 
 
ABSOLUTA RELATIVA 
+ a expressão tem, por si mesma e para 
qualquer um, significado ofensivo 
unívoco. 
+ a expressão assume caráter ofensivo se proferida 
ou determinadas condições ou circunstâncias (ex: 
forma, tempo, lugar, tom de voz, etc.). 
 
- autoinjúria = como regra impunível, mas poderá ser típica se atingir terceiro (ex: sou filho de 
meretriz  injúria reflexa à mãe). 
 
- ofensa: 
DIGNIDADE DECORO 
+ refere-se aos atributos morais da vítima. 
* ex: dizer que alguém é safado, ladrão, 
velhaco, vagabundo, golpista, corrupto, 
estelionatário, pedófilo, que uma mulher é 
piranha, vagabunda, prostituta, etc. 
+ diz respeito aos atributos físicos ou 
intelectuais. 
* ex: taxar alguém de burro, idiota, baleia, 
porco, fraco de aparência, etc. 
 
- o sujeito passivo pode ser qualquer pessoa que compreenda a ofensa sofrida  não podem ser 
os doentes mentais ou infantes sem capacidade de discernimento, pessoa jurídica, pessoas em 
coma... 
* NÃO se pune a injúria contra os mortos 
 
 
Jean Thiago Vilbert Pereira 
Direito Penal - Parte Especial 31 
- possibilidade de forma omissiva? teoricamente viável (ex: alguém se recusa a cumprimentar 
quem veio lhe apertar a mão, com a intenção de humilhar). 
direcionada alguém, ao menos a um grupo determinado. 
 
 
- consuma-se quando a imputação chega ao conhecimento do ofendido. 
* tentativa? (1) parte da doutrina entende ser incabível; (2) quem admite exemplifica que se a 
vítima não fica sabendo da injúria, vindo a falecer, o CADI poderá promover queixa-crime por 
injúria tentada. 
 
* é totalmente descabido se falar em exceção de verdade ou de notoriedade (ex: provar que o 
cidadão é burro?!). 
 
- PERDÃO JUDICIAL (§ 1º): 
+ quando o injuriado reprovavelmente provocou, dando causa direta à ofensa = só quem revida 
fica perdoado. 
+ revide imediato que configure outra injúria = ambos ficam perdoados (compensação). 
* não é cabível na injúria real. 
 
INJÚRIA REAL 
- se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, 
se considerem

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