Buscar

RAÇA, CIÊNCIA E NAÇÃO: PERSPECTIVAS E SINGULARIDADES À LUZ DE NINA RODRIGUES, EUCLIDES DA CUNHA E EDGAR ROQUETTE-PINTO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA 
NITERÓI - RJ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª AVALIAÇÃO: T.A. DO 
PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO 
RAÇA, CIÊNCIA E NAÇÃO: PERSPECTIVAS E 
SINGULARIDADES À LUZ DE NINA RODRIGUES, EUCLIDES DA 
CUNHA E EDGAR ROQUETTE-PINTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HUGO VIRGILIO DE OLIVEIRA 
PROFª.: SIMONE P. VASSALLO 
 
 
 
RAÇA, CIÊNCIA E NAÇÃO: PERSPECTIVAS E SINGULARIDADES 
 
INTRODUÇÃO: 
Segundo Lilia Schwarcz, no Dossiê Pensamento Social Brasileiro de 
2011, com o estudo do pensamento social brasileiro hoje “procuramos 
estimular a reflexão sobre, de um lado, as conquistas cognitivas do 
pensamento social como área de pesquisa e sua consolidação; e, de 
outro, sobre a abertura de novas frentes de investigação e o 
enfrentamento consistente de desafios mais recentes, 
teórico-metodológicos, que se colocam à área e às ciências sociais de 
uma maneira geral.” 
No entanto, foi no final do século XIX que surgiram as primeiras teorias à 
respeito da evolução humana e desenvolvimento social no Brasil. Fugindo do 
humanismo rousseauriano em voga, autores como o naturalista Buffon e o jurista 
Cornelius de Pauw foram importantes difusores de estudos à respeito das 
diferenças sociais. Darwinismo, evolucionismo e positivismo foram as principais 
correntes que chegaram ao Brasil e impulsionaram os estudos à respeito do 
pensamento social brasileiro. 
Aqui trataremos especificamente das teorias antropológicas que contribuíram 
para a construção do pensamento social nacional de três cientistas sociais que se 
destacaram no início dos estudos sobre raça e nação e a constituição do Brasil 
enquanto estado nacional. São eles: Nina Rodrigues; Euclides da Cunha e Edgar 
Roquette-Pinto. 
Por fim, novamente é notável a junção das diferentes concepções que 
contribuíram para o início dos estudos sobre as diferenças que compunham as 
nações de modo geral. Desde aspectos de uma humanidade única advinda da 
Revolução Francesa e da aspiração à igualdade até as primeiras referências e 
pesquisas sobre as diferenças que começavam a surgir com os avanços dos 
desbravamentos e contatos com outros povos. 
 
 
 
RAÇA, CIÊNCIA E NAÇÃO: PERSPECTIVAS E SINGULARIDADES 
NINA RODRIGUES: 
Raimundo Nina Rodrigues foi um médico brasileiro do século XVIII que 
dedicou parte da sua vida ao desenvolvimento de estudos relacionados ao estudo 
das diferentes raças que compunham a nação brasileira. Conservador e inserido no 
contexto da abolição da escravatura, o médico tinha concepções que hoje são 
completamente ultrapassadas e consideradas racistas. Ficou conhecido pelo 
pessimismo e radicalismo com relação ao futuro de uma nação mestiça e de outras 
raças consideradas por ele como inferiores, degeneradas e enfraquecedoras. 
Uma das principais questões que rondavam o final do século XVIII era do que 
seria da população negra agora que estavam livres e como se daria o processo de 
igualdade no que diz respeito à cidadania. Para Nina, o conceito de igualdade e livre 
arbítrio eram ultrapassados, se opôs as ideias espiritualistas, que propunham uma 
mesma natureza para todos os povos, estas por sua vez, compreendidas como 
impossíveis de serem comprovadas cientificamente. Também foi adversário do 
direito e da legislação penal da época; segundo o autor, os juristas não tinham 
conhecimento científico e biológico para lidar com a população “diferente” que 
estava sendo agregada a sociedade. 
Segundo ele, a justiça só funcionaria como estava sendo exposta no caso de 
uma sociedade homogênea, o que não era o caso. Nina Rodrigues defendia 
diferentes imputabilidades entre as raças e o conceito mais moderno de “crime 
relativo”, em que o julgamento muda dependendo do indivíduo. Ele dividia a 
população brasileira em quatro tipos: brancos, negros, vermelhos e mestiços; esses 
últimos eram considerados um problema de segurança nacional e da degeneração e 
extinção de uma linhagem pura brasileira. Para ele o Brasil estava fadado ao 
fracasso graças aos mestiços, no entanto, considerando a iminência do problema, 
os dividia.em superiores, que poderiam ser aproveitados; evidentemente 
degenerados, que não tinham responsabilidade nenhuma; e os comuns, que 
poderiam ter suas responsabilidades suavizadas. 
Nesse período em que a medicina era considerada uma missão nacional, 
com o surgimento de epidemias de cólera e varíola; e com a chegada de doentes 
advindos da Guerra do Paraguai, a medicina nordestina aproveitou o momento para 
 
 
RAÇA, CIÊNCIA E NAÇÃO: PERSPECTIVAS E SINGULARIDADES 
comprovar seus estudos sobre a degenerescência dos mestiços e raças inferiores 
como caso científico. O médico se muniu de teorias conceituadas como o 
Darwinismo e teorias da antropologia criminal de Lombroso que serviram de 
embasamento para seus estudos e difundir a legitimidade da abolição da escravidão 
que ele mesmo não considerava ser o problema. Mais uma vez o autor reafirmava o 
papel decisivo dos médicos como os únicos com propriedade científica e biológica 
para lidar com outros tipos de raças. 
Nos últimos anos de sua vida, Nina Rodrigues publicou um último livro 
intitulado “Os Africanos no Brasil” que veio como uma exaltação nacional e com um 
papel decisivo nas pesquisas realizadas pelo autor. Nesse livro, ele é claro no seu 
objetivo: dimensionar o tamanho do problema “negro” buscando ratificar seus 
estudos como ciência determinante na construção da nacionalidade brasileira. 
Segundo ele, como não podíamos estancar o problema, deveríamos tentar 
constatar a gravidade dele para então diagnosticar a frouxidão da população. 
Por fim, apesar do radicalismo, não podemos ignorar as contribuições de 
Nina Rodrigues para a antropologia brasileira. A partir dos seus estudos nota-se 
uma enorme contribuição para o conceito de identidade que desde então se 
mostrava flexível, sujeito aos meios sociais e biológicos. Percebeu-se também que o 
problema das teorias de Nina Rodrigues não eram a diferença em si, mas a 
hierarquização e a desigualdade que ele propunha a partir delas. Além disso, Nina 
também nos alertou indiretamente para questionar o modo como são usadas e 
interpretadas mesmo as teorias mais modernas. 
 
EUCLIDES DA CUNHA: 
Euclides da Cunha foi um engenheiro militar, jornalista e cientista social do 
final do século XVIII. Diferente de Nina Rodrigues que foi um cientista de gabinete, 
Euclides teceu suas principais contribuições para os estudos sobre o Brasil a partir 
de trabalhos realizados em campo num dos principais conflitos na história do País: a 
Guerra de Canudos. Sua principal obra literária foi “Os Sertões” que serve até hoje 
como referência em diversas áreas do conhecimento e servindo como objeto de 
estudo a literatura, ciências sociais e geografia. 
 
 
RAÇA, CIÊNCIA E NAÇÃO: PERSPECTIVAS E SINGULARIDADES 
Depois de decepções com a carreira militar, Euclides viu sua realidade mudar 
quando foi enviado como jornalista do “Estado de São Paulo” para cobrir a Guerra 
de Canudos. Teve como influências literárias o romantismo e o naturalismo, 
buscando a construçãode um ideal de nação e o positivismo como auge das 
pesquisas científicas da época. Durante o tempo que ficou na região de Canudos e 
nos seus escritos, o autor focou seus estudos a partir do determinismo na sua 
conceitualização de raça e destacando os obstáculos na formação da nação, nas 
modificações geográfico-naturais do espaço e sociais da população brasileira. 
Apesar do peso de concepções científicas conservadoras, nota-se nos 
estudos de Euclides o surgimento de paradoxos, antagonismos e dicotomias que 
dificultavam uma conclusão única. Em “Os Sertões”, o autor divide o livro em três 
partes: a terra, o homem e a luta, seguindo o positivismo de Hyppolite Taine, mas 
ao contrário do que se espera dessa corrente teórica, Euclides se mostra mais 
instável nas conclusões: ao mesmo tempo que apresenta questões de inferioridade 
racial, ele também mostra certa dificuldade em concretizar sua argumentação 
devido a constante mudanças com relação a população local. De modo geral, 
apresenta como principais teses do livro o isolamento do sertanejo como principal 
fator para a diferença e dualidade entre o sertão e o litoral, uma marca muito forte 
na narrativa e no contexto da época; e também a apresentação da população 
interiorana como retrógrados, e não degenerados, devido ao não contato com a 
população litorânea. 
Posteriormente ao massacre de Canudos, Euclides direcionou seus estudos 
a região amazônica. Diferentemente do primeiro campo, o novo foco das pesquisas 
euclidianas é marcado por mais inconstância, os nativos da região eram mais 
nômades e eram muitos diversos em questões sociais e culturais entre si, e por 
questões mais cotidianas como o funcionamento de barracões, das crises 
financeiras de quem se mudava para a região e por denúncias das condições 
deprimentes do trabalho dos seringueiros. Sua segunda grande pesquisa se 
mostrou mais monótona. 
Por fim, nota-se que Euclides da Cunha apresenta uma enorme crítica e 
alerta para a “civilização” do litoral à respeito do problema da segregação espacial 
presente no país e da desconsideração dos obstáculos presentes nas sociedades 
 
 
RAÇA, CIÊNCIA E NAÇÃO: PERSPECTIVAS E SINGULARIDADES 
interioranas e suas respectivas realidades enquanto brasileiros. Para esse autor, o 
sertanejo é a verdadeira essência e herói nacional. Além disso, ele também deixou 
grandes contribuições para as ciências sociais ao trazer os primeiros dados à 
respeito da pluralidade entre as populações; para a geografia, ao desbravar o 
interior do país e constatar a viabilidade de uma expansão territorial; e para a 
literatura, com sua escrita romântica e suas contribuições para o português 
brasileiro. 
 
EDGAR ROQUETTE-PINTO: 
Médico e antropólogo, Edgar Roquette-Pinto foi um dos pioneiros a quebrar 
as correntes do positivismo e determinismo que impediam o início evolução e 
problematização das teorias preconceituosas e hierárquicas que constituíam o 
pensamento social. Indo na contramão dos cientistas sociais da época e da própria 
instituição que liderava, o Museu Nacional. Esse pesquisador afirmava que não 
havia qualquer sinal de degeneração presente nas diferentes raças que compunham 
a população nacional, mas de sua cultura inferior e que isso poderia ser resolvido 
com educação e devidas condições sociais. 
Como embasamento científico para sua teoria, Edgar se muniu dos 
esquemas mendelianos mais aprofundados na França e na América Latina; este 
que defendiam melhorias no desenvolvimento das raças menos cultas a partir de 
mais foco na saúde e no ensino. Ele foi um dos principais ativistas numa militância 
nacional com objetivo de desmistificar os ideais de constituição da população 
brasileira como frágil, impostos pelos estudos raciais europeus, e colocando em 
destaque os problemas de saneamento e na educação. 
No entanto, apesar do início de um movimento que evitava teorias racistas, 
ainda foi um começo; as questões que surgiam agora era sobre a inferioridade 
intelectual, a falta de cultura e civilidade. Roquette-Pinto partia de um princípio de 
higienização que via as outras raças como inferiores, não biologicamente, mas 
socialmente, e que precisavam aprender e assim se potencializar na construção e 
contribuição para a constituição da identidade de nação enquanto brasileiro. É mais 
notável quando observamos seus estudos à respeito dos concursos de “misses” e a 
 
 
RAÇA, CIÊNCIA E NAÇÃO: PERSPECTIVAS E SINGULARIDADES 
importância que ele dá a esses eventos como uma tentativa de chegar a uma 
espécie de par perfeito, o ápice da eugenia. 
Por fim, podemos notar o início da mudança do pensamento social brasileiro 
que começa a mudar seu foco das questões biológicas, para as sociais. Apesar de 
ainda haver indícios discriminatórios e segregacionais no pensamento de Edgar 
Roquette-Pinto, não podemos desconsiderar a importância e ousadia dos seus 
estudos e pesquisas na desconstrução da ideia de degeneração e racismo em voga. 
Enquanto a maioria dos cientistas sociais pensavam de uma maneira mais 
depreciativa, Roquette-Pinto apresenta certa expectativa mais positiva à respeito do 
futuro da nação, dentro de condições dignas para todos.

Continue navegando