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Geografia econômica Aula 01_A importância da Economia na Geografia × Temática: A importância da Economia na Geografia Essa aula procura fazer um panorama das preocupações e debates teóricos da Geografia Econômica, com o objetivo de focar nossos estudos na disciplina nesse semestre. A relação entre Economia e Geografia é antiga. Há muito tempo o homem procura, nas questões de ordem econômica, algumas explicações para o entendimento do espaço terrestre. De outro lado, procuram-se explicações para o desenvolvimento econômico de certos lugares atrelando a uma questão espacial. Bons exemplos são as tradicionais discussões do uso da terra em relação a culturas que se adaptam a certos ambientes terrestres e climas. Apesar de essa discussão ser antiga1, a Geografia desprezou por muito tempo as discussões da produção do espaço sob um paradigma econômico. A Geografia Tradicional, que você viu na disciplina “Formação da Ciência Geográfica”, dividia a Geografia em duas partes: os estudos da Geografia Geral e os estudos da Geografia Regional. No primeiro, cabiam pesquisas de Economia como suporte à caracterização mundial. Assim, buscava-se mapear os lugares que possuíam certa atividade econômica predominante. No segundo caso, da Geografia Regional, a intenção era levantar todas as informações, dados e características de certo lugar, a fim de esgotar as possibilidades de entendimento daquela região. A Economia também entrava como um dos fatores para a análise daquela região. Hoje, a Geografia Econômica alcançou um grande desenvolvimento teórico e metodológico, o que justifica ser um dos temas mais discutidos e pesquisados da Geografia. Neste início de novo século, marcado pela globalização, avanço e poderio do capitalismo e adoção de um regime neoliberal pela maior parte dos países, a Geografia Econômica vem ganhando cada vez mais espaço no meio acadêmico e, principalmente, na mídia. Blocos Econômicos, Desenvolvimento Econômico, Desigualdade sócio-espacial, Aumento do PIB, Multinacionais e Transnacionais, Crise econômica - essas “palavras” estão na mídia diariamente, utilizadas inclusive de forma errônea e mistificada. Você entende exatamente o que elas significam? O que será que nós, enquanto Geógrafos e professores de Geografia, temos com isso? Esse é um dos objetivos de nossa disciplina e convidamos você a percorrer esse caminho junto. Essa disciplina visa mostrar a você que tudo isso tem muito a ver conosco, com a sociedade em geral e muito mais com a formação de uma sociedade com valores mais humanitários que você irá ajudar a formar na Educação Básica deste país. ____ 1 Há registros de estudos dos povos Maias, Incas e Astecas sobre o porquê de certas regiões conseguirem gerar uma quantidade grande de alimentos e outras não. Aula 02_A Geografia Econômica e a História do Pensamento Geográfico × Temática: A Geografia Econômica e a História do Pensamento Geográfico Nesta aula vamos apresentar a Geografia Econômica como campo de pesquisa dentro da Geografia e destacar os tipos de pesquisa e seus objetivos segundo as linhas de pensamento predominantes na Geografia. Consideraremos como nosso universo de análise, em nossa pesquisa, as três correntes do pensamento geográfico que mais contribuíram para o avanço do debate teórico-metodológico da Geografia: o positivismo, o historicismo e a dialética. No âmbito da primeira escola, marcada, como você deve se lembrar, pelo destaque dos fenômenos físicos sobre os humanos, muitos trabalhos beiravam ao determinismo. As pesquisas tinham o objetivo de discutir a adaptação do homem em um determinado ambiente, sem uma intenção clara com a questão do Econômico. Muitas vezes, a questão econômica era apenas citada para compor a caracterização do local. Já no historicismo a perspectiva da pesquisa se altera bastante. Nesta, o homem é visto como um ser ativo que influencia a natureza ao mesmo tempo em que sofre influência da mesma. Segundo Nunes (2005, p. 85) “nos trabalhos desenvolvidos dentro dessa perspectiva, as atividades econômicas como agricultura, comércio e circulação são vistas como fatores de desenvolvimento humano”. Particularmente, a partir dos estudos de Geografia Regional sob influência de Vidal de La Blache é que a Geografia inicia uma aproximação maior com o fator econômico. A economia como faz parte da realidade de determinada região, passa a ser analisada em conjunto com a produção do espaço regionalizada. Apesar dessa inserção, a Economia não ganhava nenhum tipo de destaque no estudo regional. Era vista apenas como mais um elemento, mais um fator da produção do espaço e sem ligação com os demais. A estrutura das monografias regionais francesas é bastante significativa para mostrar como isso ocorreu: havia a descrição geográfica (do quadro natural), e em seguida a caracterização da população e dos aspectos econômicos (NUNES, 2005, p. 85). Na terceira linha de pensamento geográfico destacamos o materialismo histórico e dialético. Neste, o econômico passa a ser o centro da reflexão. Isso porque para os materialistas a infraestrutura é um importante paradigma no entendimento das relações sociais e nas relações da sociedade com o espaço. Se a infraestrutura ganha essa conotação de paradigma, ou seja, passa a ser um objeto de análise em especial, capaz de nos revelar como as sociedades se relacionam e como, a partir dessa relação, o espaço é (re)produzido; o econômico passa a ser analisado na busca das explicações das condições técnicas, tecnológicas, operacionais, de distribuição e consumo dessa infraestrutura. “Desta forma, o econômico deveria ser pensado como um elemento essencial do discurso, constituindo-se num componente interpretativo que permeava toda a análise geográfica” (NUNES, 2005, p. 85). Assim, podemos concluir, por enquanto, que, apenas com o amadurecimento do materialismo histórico-dialético, a Geografia Econômica passou a ter um desenvolvimento que justificasse a posição de destaque que tem hoje dentro da Geografia. Vimos, nesta aula, como a Economia apareceu no discurso e nas pesquisas da Geografia em três escolas do pensamento geográfico: o positivismo, o historicismo e o materialismo histórico-dialético. Concluímos que apenas na última corrente do pensamento geográfico é que a Geografia Econômica começa a se desenvolver como campo de estudos na ciência geográfica. Retome o seu material da disciplina de Formação da Ciência Geográfica. Revise seus conhecimentos sobre as correntes do pensamento geográfico, pois são a base do entendimento da Geografia enquanto Ciência. Amplie seus conhecimentos, pesquise artigos que tratem desse tema. Uma boa dica é o site da Associação dos Geógrafos Brasileiros, que possui vários artigos de discussão teórico-metodológicas da Geografia. Aula 03_A trajetória da Geografia Econômica no Brasil × Temática: A trajetória da Geografia Econômica no Brasil Dando continuidade a nossa primeira unidade da disciplina, faremos uma breve discussão sobre a trajetória da Geografia Econômica nas pesquisas brasileiras. Destacamos alguns geógrafos de renome para conhecermos um pouco mais os principais autores da Geografia no Brasil que lidam com a relação de nossa ciência com a Economia. A Geografia Brasileira passou por um período de grande renovação no final da década de 1970, particularmente após a publicação no Brasil de textos de autores críticos como Yves de Lacoste (A Geografia serve, antes de mais nada, para fazer a guerra), em 1977, e Milton Santos (Por uma Geografia Nova), em 1978. Essa renovação da Geografia trouxe de volta a discussão (que estava esvaziada até então) dos caminhos que a Geografia deveria percorrer enquanto ciência comprometida com a sociedade. Mais que isso, esse movimento de renovação, deixando a Geografia Tradicional para trás, retomou o próprio debate do objeto, o método e o significado da Geografia. Moraes (1995) indica que, a partir desse movimento, a Geografia brasileira se dividiu em duas vertentes de análise do espaço: a Geografia Pragmática e a Geografia Crítica. A Geografia Pragmática afiliou-sejá num primeiro momento ao Planejamento do Estado. Muito claramente seu objetivo era servir das pesquisas da Geografia ao interesse do Estado em termos de modelos de planejamento e organização do espaço. Muitos autores desta linha de pensamento falam de uma Geografia Aplicada. Com o avanço epistemológico desta linha de pensamento outros valores passaram a ser incorporados. Um dos mais fortes foi a questão da quantificação da Geografia. Os pesquisadores buscavam dados estatísticos para a comprovação de uma determinada teoria e, a partir dos dados, elaboravam modelos para a explicação da realidade. Por este fato, diante da produção de modelos explicativos da realidade, essa corrente também é conhecida na Geografia como neopositivismo. Na perspectiva do entendimento do espaço pela vertente pragmática, a Geografia Econômica ganha um enorme prestígio nas pesquisas feitas nas Universidades. Porém, a Geografia Econômica que era feita neste momento baseava-se no levantamento de dados estatísticos de uma determinada atividade, como por exemplo, a produção de um gênero alimentício, a comercialização e produção de certo produto industrializado com o objetivo de servir como dado de parâmetro, como instrumento do planejamento estatal. Outra situação em que a Geografia Econômica aparecia nesta perspectiva era a discussão sobre o nível de desenvolvimento econômico de certos países e o atraso de outros. A partir deste fato que é real, na perspectiva da Geografia Pragmática, procura-se formular modelos que expliquem e demonstrem o avanço de determinadas nações. Aquelas que não conseguiram atingir esse mesmo avanço são tidas como não capazes de cumprir as etapas do modelo formulado anteriormente1. De outro lado, a Geografia Crítica “de uma postura crítica radical, frente à Geografia existente (seja a Tradicional ou a Pragmática), a qual será levada ao nível de ruptura com o pensamento anterior” (MORAES, 1995, p. 112). A origem da Geografia Crítica no Brasil ocorre a partir da influência de alguns autores da Geografia francesa, particularmente da Geografia Regional da França, que buscavam uma ciência atrelada à História e à Economia. Por aí já dá para perceber a grande proximidade desta linha do pensamento com a Geografia Econômica. Não só a Geografia francesa serviu de inspiração para o movimento da Geografia Crítica. Desde logo, estes autores, como Milton Santos, Ruy Moreira, Antonio Carlos Robert Moraes, dentre outros, se aproximaram das ideias do materialismo histórico-dialético de Karl Marx. Foi a partir do avanço, na Geografia, nas discussões da obra desse autor é que a Geografia Crítica e, por que não dizer, a própria Geografia enquanto ciência cresceu em termos de discussão teórica em torno do seu objeto e método de pesquisa. A Geografia Econômica no Brasil passa, a partir desse momento, a ganhar um grande impulso devido ao arcabouço teórico advindo das ideias marxistas. Assim, proliferaram pesquisas sobre o valor da terra nas áreas rurais e urbanas; modernização da agricultura; desenvolvimento e subdesenvolvimento econômico dos países; desigualdade sócio-econômica, dentre outros temas que discutiremos nesta perspectiva de análise nesta disciplina. Mais recentemente, na primeira década do século XXI, os estudos de Geografia Econômica ganharam novo impulso e desenvolvimento com autores como David Harvey e Neil Smith que procuram analisar, sob o ponto de vista geográfico, a origem e os ciclos das crises econômicas mundiais associadas aos limites claros que o sistema capitalista passou a evidenciar no início do século XXI. Aqui buscamos levantar alguns pontos importantes da trajetória da Geografia Econômica no Brasil, a partir do movimento de renovação da Geografia na década de 1970. ____ 1 Um bom exemplo deste tipo de situação é o livro de CHORLEY, R.; HAGGETT, P. Modelos sócio-econômicos em Geografia. Aula 04_O espaço geográfico e a sua economia × Temática: O Espaço Geográfico e sua Economia Nesta aula discutiremos o objeto de estudo da Geografia, o espaço geográfico. Nesta discussão é nossa intenção destacar o fato econômico como um importante fator na (re)produção do espaço. Esse é um aspecto fundamental que precisa ficar claro. A Geografia Econômica não tem por objetivo analisar a economia mundial, mas sim compreender qual a relação entre a dinâmica econômica mundial, nacional, regional e até mesmo local e a transformação do espaço. A Geografia enquanto ciência social possui um objeto, o que significa que ela possui um elemento a ser analisado que une a maior parte dos trabalhos realizados nesta ciência: o espaço. No entanto, não adianta apenas pontuar o seu objeto de pesquisa. É necessário que esse objeto seja alvo de debate teórico com a finalidade de definir o mais claramente possível o seu conceito e a sua atuação enquanto objeto de pesquisa. Neste ponto, podemos afirmar que não há um consenso entre os pesquisadores; cada linha de pensamento, com as suas variáveis, conceituam o espaço de uma determinada forma, tornando-o um conceito polissêmico1. Não é objetivo dessa disciplina elaborar uma longa discussão sobre os vários sentidos atribuídos ao mesmo conceito; nem mesmo, como fizemos nas duas últimas aulas, pontuar, nas linhas de pensamento mais utilizadas pela Geografia, a sua respectiva conceituação. O nosso objetivo aqui, portanto, é mostrarmos como a questão econômica está sempre presente no espaço geográfico, e o quanto ela é um dos elementos fundamentais da produção deste espaço. Não podemos deixar de lembrar, como destacamos nas três aulas anteriores, que a Geografia Econômica “sustenta primeiramente por apresentar uma característica básica: a precedência do fato/evento econômico na determinação dos processos e relações que produzem as diferentes formas espaciais” (NUNES, 2005, p. 84). As formas espaciais que a autora cita podem ser compreendidas como o espaço, ou seja, como “um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento” (SANTOS, 1994, p. 26). Esse conceito de Milton Santos sintetiza, a nosso ver, as principais características desse espaço, pois primeiro pontua a relação entre objetos geográficos, que são aqueles produzidos pela sociedade e que se materializam na paisagem (meios de transporte, meios de comunicação, construções com diferentes finalidades, a publicidade). Podemos defini-lo como as formas da paisagem; os objetos naturais, aqueles que são produzidos pela ação da natureza na sua relação com a sociedade, como parques, áreas verdes, praças; e os objetos sociais, estes últimos produzidos a partir das relações entre a própria sociedade. Permeando isso tudo, Milton Santos ainda destaca que está a vida que anima e dá movimento a todos estes objetos fixos e fluidos. Não só dá movimento, como também a sociedade que vive nesse espaço é que vai, ao longo do tempo histórico, produzir um novo espaço. Outra noção presente no conceito de Milton Santos é a de tempo histórico. O espaço é temporal, ou seja, ao longo do tempo o espaço vai sendo transformado, permeado pela técnica, pela tecnologia e pela informação. A velocidade das transformações hoje num mundo dito global imprime ao espaço essa mesma velocidade. Ele precisa ser e é constantemente modificado em suas formas com o objetivo de atender as necessidades da sociedade que vive ali. Um bom exemplo do que dissemos acima são as lembranças de lugares que não existem mais em uma cidade. Quem nunca retornou após anos em um lugar que viveu no passado e mal conseguiu reconhecê-lo, tamanhas eram as mudanças desse lugar? Para aqueles que vivem em uma grande cidade, isso faz parte do dia a dia. Nas cidades médias ou pequenas, a velocidade das transformações é menor, mas não deixa de existir. E o que faz esse espaço se transformar tão rapidamente a ponto, muitas vezes, de não nos reconhecermos como integrantes dele? Com efeito, poderíamos responder as relações econômicas nasmais variadas escalas de análise. Vejamos isso com exemplos. Em uma cidade como São Paulo, em que as transformações são rápidas e podemos vê-las na alteração quase diária da paisagem, o que promove essas transformações? Observe as imagens abaixo: Fotos 01 e 02 – Avenida Paulista em dois momentos distintos Fonte: http://www.prodam.sp.gov.br/dph/spimagem/paulist.htm e http://wikitravel.org/pt/S%C3%A3o_Paulo, acesso em 01 out. 2007. Pelas imagens, podemos notar a grande diferença entre a paisagem na mesma avenida de São Paulo em um intervalo de menos de 100 anos. Caberia aqui uma discussão, e isso é muito interessante de fazer com alunos do Ensino Fundamental e Médio, sobre as principais mudanças que as fotos nos revelam. Mas não é aqui nosso objetivo. O que marca essas mudanças? Reflita um pouco, o que provocou tamanha mudança na paisagem de uma avenida em São Paulo? Certamente a sua resposta fará referência a alguma relação econômica. São Paulo se transformou nestes 100 anos de uma cidade dos ‘barões do café’ (registradas na primeira foto através dos casarões na avenida) em uma metrópole mundial, que está em processo de transformação em uma megalópole, conectada através de fluxos materiais e imateriais com os principais centros financeiros e econômicos do globo. Deu para entender a importância e o peso do, parafraseando Nunes na citação feita antes, “fato econômico na determinação dos processos e relações que produzem as diferentes formas espaciais”? Ao longo dessa disciplina, vamos no remeter a este raciocínio desenvolvido aqui várias vezes. Vale a pena dar uma revisada e procurar aprofundar um pouco os seus conhecimentos a respeito do conceito de espaço. Discutimos a importância para a Geografia do conceito de espaço. Mostramos como o fato econômico está presente na estruturação do espaço como nas transformações que nele ocorrem durante o tempo histórico. Acesse o texto “Globalização e Geografia em Milton Santos”, disponível online em nossa página e aprofunde seus conhecimentos acerca desse importante geógrafo brasileiro e sua obra na Geografia. Acompanhe com bastante atenção o item “Globalização Econômica” do texto. _____ 1 Utiliza-se a expressão polissêmica em oposição à monossêmico. O primeiro trata-se de algo com vários sentidos diferentes e o segundo a algo que possui apenas um sentido Aula 05_Desenvolvimento Econômico do Mundo × Temática: Desenvolvimento Econômico do Mundo Iniciando a segunda unidade de nossa disciplina, vamos discutir sobre as disparidades do desenvolvimento mundial e levantar hipóteses sobre o motivo dessa realidade hoje no mundo. Em janeiro de 2014, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, publicou a seguinte notícia: “Cerca de 40% da riqueza do mundo estão concentrados nas mãos de uma fatia de apenas 1% da população mundial mais rica, enquanto a metade mais pobre da população mundial só é dona de 1% de toda essa riqueza1”. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013, as diferenças de desenvolvimento, ainda que menores do que no início dos anos 1990, são significativas, como podemos observar na tabela abaixo: Tabela 01 – O IDH e seus componentes por região e agrupamentos por IDH – 2012 Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013, PNUD, disponível em: http://www.pnud.org.br/Noticia.aspx?id=3799. Acesso em 20/02/2014. Os dados da tabela acima revelam a grande diferença em termos de qualidade de vida da população mundial. Os países de desenvolvimento humano muito elevado apresentaram um IDH de mais de 0,9, enquanto os países de desenvolvimento humano baixo apresentaram menos de 0,5. Além da assimetria nos dados de IDH, também é possível notar que todos os demais dados da tabela – expectativa de vida, anos de escolaridade e rendimento nacional bruto – reforçam ainda mais as desigualdades mundiais. Ainda que os dados acima sejam discrepantes, não podemos deixar de registrar nessa aula que a diminuição da pobreza, nos últimos anos, tem diminuído, ainda que gradualmente, as desigualdades mundiais. Isso é notório, por exemplo, no caso da diminuição da fome e pobreza. Segundo o mesmo relatório, a meta para a erradicação da população com renda diária inferior a 1,25 dólares americanos foi conquistada em 2012, três anos antes da data indicada como limite para a melhoria dessa situação. Claro que não podemos deixar de analisar de forma crítica os dados revelados pela publicação do PNUD. Há problemas evidentes de levantamento estatístico dessas informações, sobretudo em relação a fidedignidade das fontes de pesquisa em países pobres, como por exemplo em muitos países africanos e asiáticos. De qualquer forma, a disparidade do mundo ainda é atual. O jargão “poucos com muito e muitos com pouco” utilizado pela mídia continua sendo real hoje no século XXI. Vamos utilizar esses dados que demonstram essa realidade para que possamos refletir: como chegamos a essa situação? Devemos entender que essa situação limítrofe em relação ao desenvolvimento foi desencadeada em algum momento da história, mas como isso começou e tomou esse caminho? Longe de querermos definir um ponto de partida desse processo, estamos procurando discutir quais foram os mecanismos pelos quais a desigualdade sócio-econômica cresceu. E dizemos que cresceu, porque não podemos negar que ela sempre existiu na história da humanidade. Como exemplo, podemos ver o caso das Cidades Medievais que eram muradas na Europa Ocidental. O lado da cidade que ficava dentro do muro e o mais valorizado eram lugar de residência da população com melhores condições de vida, comerciantes, duques, parentes e amigos do rei. Era onde ficavam também os dois símbolos de poder do período: o palácio do rei e a Igreja. Na área externa ao muro, as áreas rurais do reino, eram compostas por agricultores, muitos de subsistência que não tinham condições econômicas de manter uma residência na área urbana. Porém, a diferença social entre o agricultor e o comerciante não era tão grande como hoje na sociedade capitalista. Os fatores que levaram a isso e, que nos perguntamos acima, será o nosso objeto de análise nesta unidade. Consideramos como uma gênese do mundo desigual os séculos XVI e XVII no período das “Grandes Navegações”. Desigualdade esta que só aumentou com a eclosão das Revoluções Industriais nos séculos XVIII e XIX, e com a adoção de medidas imperialistas pelas grandes potências no cenário da Guerra Fria, em meados do século XX. Em meio a esta multiplicidade de fatores externos, combinados com vários outros que iremos destacar e discutir ao longo dessa disciplina, os próprios países subdesenvolvidos também possuem características internas que propiciam o aprofundamento ainda maior das desigualdades. Vimos hoje que a desigualdade socioespacial, para fazer referência a uma expressão muito utilizada na Geografia, é uma dimensão que persiste no sistema capitalista desde sua origem e extensão na Europa até o atual período de globalização. _____ 1 Disponível em: http://www.pnud.org.br/Noticia.aspx?id=3799. Acesso em 20/02/2014. Aula 06_Desenvolvimento e Colonização × Temática: Desenvolvimento e colonização Nesta aula, buscaremos no período colonial da história mundial uma das possibilidades de explicação da gênese da desigualdade socioespacial do mundo hoje. Os séculos XV a XVII, período este da História mundial conhecido como Era das Navegações ou Era das Conquistas, marcaram e muito os destinos dos lugares (mais tarde países) envolvidos neste processo. Isso porque o sistema capitalista de produção da Europa expandiu-se juntamente com os interesses territoriais de países como Portugal, Espanha, França e Inglaterra, principalmente. Wallerstein (1985, p.15) destaca que “a gênese desse tipo de sistema histórico situa-se na Europa do final do século XV. Esse sistema expandiu-se no espaço até abarcar o globo no final do século XIX, e que ainda hoje recobre o mundo todo”. O sistema a que Wallerstein (1985) se refere é o sistema colonial que, através da relação conceituadacomo Pacto Colonial, estabeleceu-se uma dominação dos países europeus sobre os conquistados, o território americano. O Pacto Colonial, você deve se lembrar das suas aulas de História no Ensino Médio, foi caracterizado pela relação entre metrópoles (países europeus) e as colônias (os territórios americanos). Nessa relação, os interesses das metrópoles eram transferidos para as colônias através da posse sob o território e a exploração dos recursos naturais abundantes na América. Em contrapartida, era oferecida à colônia a possibilidade de fazer parte de forma periférica do sistema-mundo regido pelo capitalismo comercial do período. O resultado dessa pseudo-relação1 foi a “transferência de parte do lucro total (ou excedente) de uma zona para outra” (WALLERSTEIN, 1985, p.27), acarretando a total dependência econômica das colônias em relação às metrópoles. Essa transferência da riqueza, materializada em mercadorias como minérios, terras, propriedades, pessoas (o caso dos escravos negros) e recursos naturais possibilitou aos países europeus a reprodução e ampliação desse sistema por muito tempo. Inclusive assegurando a esses países o poder econômico do mundo. Isso nos leva a refletir sobre o papel do sistema capitalista na configuração do sistema-mundo desse período e de hoje. Você percebeu que o Pacto Colonial para os países europeus foi a forma e a condição de mantê-los como líderes da economia mundial? Já pensou que se não fosse a exploração e acúmulo de riqueza que essa exploração possibilitou aos países europeus nesse período hoje, talvez, eles não estivessem na condição que estão? Isso nos sugere que há uma relação entre o dominante e o dominado de duplo sentido, ou seja, as metrópoles exploravam as colônias, retirando delas boa parte da riqueza. E essa riqueza é o que mantinha esses países (dominantes) com condições de investir cada vez mais na exploração e conquista desses territórios. Percebeu como há uma relação intrínseca entre eles? Isto significa então que o modelo expandido na Era das Navegações nos séculos XV a XVII, mais tarde reforçado no século XIX com a partilha da África pelos países europeus, endossa cada vez mais a dependência econômica e a desigualdade social. Agora discutiremos a Divisão Internacional do Trabalho, em um primeiro momento do ponto de vista teórico e depois aplicado ao contexto colonial. Quando então falamos de uma relação desigual entre países, estamos falando na verdade de uma Divisão Internacional do Trabalho (DIT). Assim, devemos entender por DIT a relação desigual e combinada de comércio e produção internacional entre diferentes lugares. Essa relação começou a ser estabelecida exatamente a partir do século XVI pelas economias europeias que, na busca de lucros, impunham relações de trabalho e produção para o atendimento do mercado europeu. O esquema abaixo mostra sucintamente como eram essas relações desiguais entre metrópoles e colônias, pontuando o que era materialmente comercializado entre esses dois polos econômicos. Figura 1 – Divisão Internacional do Trabalho no período colonial Org. Tunes (2006) A expressão “comercializado” não é, na verdade, a melhor forma de definição dessas relações, pois a riqueza das colônias, seja em bens materiais ou imateriais (cultura da população que nessas colônias viviam), foram expropriadas desses lugares sem que fosse proposta alguma troca igualitária ou uma verdadeira comercialização. Vimos a relação que há entre Desenvolvimento e Colonização. Discutimos também quanto o atual mundo desigual tem muito a ver com o sistema capitalista imposto ao Novo Mundo nos séculos XV a XVII e reproduzido até hoje. ____ 1 Dizemos pseudo-relação, pois não foi uma relação entre duas partes de fato. Apenas as metrópoles detinham a possibilidade de ação sob as colônias, não restando outra alternativa às colônias senão se sujeitar a essa ação dominadora. Aula 07_A Divisão Internacional do Trabalho no período Colonial × Temática: A Divisão Internacional do Trabalho no período Colonial Trabalhamos na última aula com a relação entre desenvolvimento e colonização. Agora discutiremos a Divisão Internacional do Trabalho, em um primeiro momento do ponto de vista teórico e depois aplicado ao contexto colonial. Vimos, na aula passada, como se dava a relação entre as metrópoles e as colônias no século XVI, no contexto do Pacto Colonial. Trabalhamos com o conceito de que o sistema capitalista possui uma lógica desigual e combinada, pois gera a dependência mútua entre os países, mas não de forma igualitária e, sim, desigual. Quando então falamos de uma relação desigual entre países, estamos falando na verdade de uma Divisão Internacional do Trabalho (DIT). Assim, devemos entender por DIT a relação desigual e combinada de comércio e produção internacional entre diferentes lugares. Essa relação começou a ser estabelecida exatamente a partir do século XVI pelas economias europeias que, na busca de lucros, impunham relações de trabalho e produção para o atendimento do mercado europeu. O esquema abaixo mostra sucintamente como eram essas relações desiguais entre metrópoles e colônias, pontuando o que era materialmente comercializado entre esses dois polos econômicos. A expressão “comercializado” não é, na verdade, a melhor forma de definição dessas relações, pois a riqueza das colônias, seja em bens materiais ou imateriais (cultura da população que nessas colônias viviam), foram expropriadas desses lugares sem que fosse proposta alguma troca igualitária ou uma verdadeira comercialização. Aula 08_A Revolução Industrial e a transformação do espaço × Temática: A Revolução Industrial e a transformação do espaço Na aula de hoje, vamos discutir quanto a Primeira Revolução Industrial alterou o espaço geográfico e redefiniu as relações econômicas entre os países mundiais. Muito mais do que as transformações na forma de produzir bens, a Revolução Industrial alterou o modo de vida das pessoas de todo o mundo. Na Primeira Revolução Industrial, por volta de 1780 na Inglaterra, inicia-se outra forma de produção e de trabalho: a da grande indústria ou da indústria moderna, com forte emprego de máquinas que executavam tarefas com muita precisão e possibilitavam a produção de mercadorias em larga escala, padronizadas e com intensa divisão de trabalho. A princípio, precisamos destacar as mudanças na forma de produção com as máquinas desenvolvidas e aperfeiçoadas no período pelos ingleses: a máquina de tear mecânico, a máquina hidráulica e a máquina a vapor. Esta última é muito importante, pois possibilitou o advento dos meios de transporte de maior velocidade, como as ferrovias, por exemplo. A velocidade e a organização do trabalho em um espaço específico – a fábrica – acarretaram uma grande transformação no espaço geográfico. Antes da Primeira Revolução Industrial (séc.XVIII) a Inglaterra era um país rural. As atividades econômicas – artesanato e manufatura – não exigiam a concentração de um grande número de pessoas em um único espaço. Já a indústria, com as suas grandes máquinas, exigia o deslocamento de pessoas – para o trabalho e para o consumo desses produtos – para a fábrica, dando origem às cidades inglesas que rapidamente se transformaram em grandes cidades com vários problemas de infraestrutura interna. Dizemos isso, pois, como o deslocamento da população rural para as cidades, sobretudo de enormes contingentes de trabalhadores, esses não tiveram outra condição de moradia senão as submoradias, como barracos e cortiços, que se espalhavam pela periferia de grandes cidades, como Londres e Paris, por exemplo. Para ter uma ideia das condições dessas moradias nas áreas periféricas, leia o trecho abaixo: Se você quer saber como o povo se aloja vá, por exemplo, à rua Fumiers, que é quase exclusivamente ocupada por esta classe; entre, abaixando a cabeça, em uma dessas cloacas abertas à rua e situadas em um nível abaixo dela. É preciso ter descido em uma dessas vias onde o ar é úmido e frio como um porão, é preciso ter sentido seu pé escorregar no chãoimundo e ter tido medo de cair no lodo, para se ter uma ideia do sentimento de pena que se experimenta ao entrar na casa desses miseráveis operários. (RAGON, 1986, p.37) Além das transformações de escala local, como das cidades europeias, muitas foram as transformações também de ordem econômica na relação entre os países. Isso porque com o aperfeiçoamento do modo de produção, imprimindo maior velocidade, a própria reprodução do capital também aumentou. O que antes demorava uma semana para ser fabricado, como é o caso dos sapatos, para se transformar em uma mercadoria detentora de valor de troca, hoje é fabricado em grande escala em apenas um dia ou menos. Ou seja, o que queremos dizer é que, com a velocidade da produção, o alcance em termos econômicos dessa produção passou a ser muito maior, inclusive com a exportação desses produtos para vários lugares do mundo, aumentando a reprodução do capital. Para dirigir o funcionamento das máquinas, ela reúne operários em grande quantidade (...) que se tornam engrenagens entre as engrenagens (...) e, como mola dessa formidável atividade, como uma causa e como um fim, por detrás do desdobramento do trabalho humano e das forças mecânicas, move-se o capital, levado por sua própria lei, a do lucro, e que o impele a produzir sem cessar, para aumentar sem cessar (MANTOUX, 1957, p.2). Assim, o sistema capitalista, mais uma vez, intensificou a sua força, tornando, com efeito, o “produto” que a Inglaterra mais exportou neste período. Notadamente, o capitalismo não chegou da mesma forma em todos os lugares, mesmo porque as inovações tecnológicas não foram exportadas tão facilmente, o que tornou ainda mais desigual o espaço geográfico mundial. Aula 09_ A 2ªRevolução Industrial e a nova Divisão Internacional do Trabalho × Temática: A Segunda Revolução Industrial e a nova Divisão Internacional do Trabalho Esta aula tem como objetivo discutir as principais mudanças econômicas ocorridas com a Segunda Revolução Industrial e a mudança na Divisão Internacional do Trabalho do período colonial. A Segunda Revolução Industrial, ocorrida em meados do século XIX, não teve o mesmo caráter concentrador que a Primeira Revolução. Isso porque, desta vez, um maior conjunto de países participaram das principais inovações técnicas e tecnológicas. Podemos citar como exemplos países como França, Inglaterra, Japão, EUA e Alemanha. Este caráter menos concentrador dessa Revolução se deu pelo fato desses países terem acompanhado as inovações desenvolvidas pela Inglaterra na Revolução anterior e, por isso, terem condições de buscar o aperfeiçoamento das máquinas e da forma de produção. Podemos dizer que a Segunda Revolução inovou em dois sentidos: o primeiro refere-se ao próprio aperfeiçoamento das máquinas e o segundo a uma nova forma de produção, forma esta mais rentável do ponto de vista do capital. Em relação à primeira inovação, ocorreu, principalmente, no campo da fonte de energia, pois passaram a ser utilizadas as energias à combustão e elétrica. Neste momento, expande pelo globo a corrida pela fonte de energia do petróleo, que será tema de nossa aula ainda nesta disciplina. A segunda inovação, da forma de produção, refere-se ao aprimoramento das técnicas de produção, com o objetivo de tornar a produção mais rápida e, portanto, mais lucrativa. Foi o engenheiro Frederick Taylor que criou essa nova forma de produção com o estudo do tempo gasto pelo trabalhador para executar as tarefas. Taylor considerou em sua pesquisa que se o trabalhador pudesse executar uma só tarefa, isso aconteceria em uma velocidade maior, aumentando assim a eficácia do trabalho e economizando tempo. Essa forma de produção ficou conhecida como taylorismo. Henry Ford, da indústria automobilística da Ford, aplicou essa forma de produção em sua indústria, criando as linhas de montagens, que eram grandes esteiras rolantes por onde a mercadoria percorria a fábrica nas diferentes etapas de produção. Essa aplicação das teorias do Taylor foi denominada de fordismo. De qualquer forma, a expansão da atividade industrial e do capitalismo gerou uma nova forma de relação entre os países, ou seja, alterou a Divisão Internacional do Trabalho. Isso aconteceu não só por conta da Segunda Revolução Industrial ter apresentado um número maior de países líderes, mas também por conta de alguns países, como o Brasil, Argentina, México, dentre outros, terem iniciado nesse contexto seu processo de industrialização. Processo este denominado de ‘tardio’ ou ‘retardatário’, pelo atraso que aconteceu em relação aos demais países. Observe no esquema abaixo como ficaram as relações entre os países após as duas Revoluções Industriais. Figura 1 – Divisão Internacional do Trabalho no final do século XIX Compare esse esquema com o que apresentamos na aula 06 que mostrou a DIT colonial. Note que há diferenças entre o papel dos países, porém uma situação se mantém: a desigualdade e a dependência dos países pobres em relação aos ricos. Aula 10_O final da 2ª Guerra Mundial e as mudanças no quadro político-econômico mundial × Temática: O final da Segunda Guerra Mundial e as mudanças no quadro político-econômico mundial Nesta aula iremos abordar as transformações em termos econômicos ocorridas após a Segunda Guerra Mundial, no período da Guerra Fria. Com o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) os países desenvolvidos passaram por um período de 30 anos de pleno crescimento econômico. Destaque para este período da atuação dos EUA que, para fazer frente aos interesses socialistas da outra superpotência, a URSS, estimularam com empréstimos e acordos internacionais vários países, sobretudo os subdesenvolvidos, a adotarem o modelo capitalista. Dentre os motivos do pleno crescimento econômico dos países desenvolvidos, foram os acordos realizados entre estes países, com destaque para aqueles de 1944 da reunião em Bretton Woods, onde participaram 44 países. Nesta reunião, foi adotado oficialmente o dólar americano como moeda internacional e criados o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento). O FMI deveria zelar pela estabilidade financeira do mundo e conceder empréstimos para ajudar países em crise econômica. O BIRD, hoje mais conhecido como Banco Mundial, atuaria mais na concessão de capital para o investimento em obras de infraestrutura, como hidrelétricas, portos, ferrovias e rodovias, sobretudo a países atingidos por guerras. Apesar de todos os esforços dos EUA, Japão e países da Europa Ocidental de proliferarem o capitalismo pelo mundo, o bloco socialista neste período aumentava cada vez mais, chegando muito próximo dos países mais desenvolvidos, com a divisão do território alemão em Alemanha Ocidental, capitalista, e Alemanha Oriental, socialista. Isso levou os países capitalistas desenvolvidos, denominados no período como países do Primeiro Mundo, a adotarem medidas mais ‘diretas de atração’ aos países subdesenvolvidos, estes últimos conhecidos também como países do Terceiro Mundo, com o objetivo de afastá-los do modelo socialista do Segundo Mundo. Dentre essas medidas podemos citar a atuação de empresas multinacionais e o investimento em grupo de países do sudeste asiático, conhecidos mais tarde como Tigres Asiáticos. Trabalharemos melhor essas ideias nas próximas aulas. Vimos como o período do final da Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria foi de grande crescimento econômico dos países desenvolvidos. E de transformação política e econômica da organização mundial. Aula 11_Capitalismo X Socialismo × Temática: Capitalismo X Socialismo Nesta aula iremos trabalhar no sentido da compreensão das diferenças entre os dois modelos de desenvolvimento econômico e social existentes no século XX. O período que se inicia no final da Segunda Guerra Mundial (1945) e se estende até o final da década de 1980 foi marcado pela bipolaridade do mundo em torno de duas potências mundiais: os EUA e a URSS. Mais do que simplesmente a oposição direta entre esses dois países, o períododa Guerra Fria, marcou a divisão do mundo entre capitalistas e socialistas. Cada qual com um modelo de desenvolvimento diferente e com a intenção de expansão desse modelo para outros países. Não podemos deixar de lembrar que esse período ficou conhecido como Guerra Fria, pois, apesar da oposição declarada entre esses países, não houve uma guerra de fato entre eles, e sim uma guerra ideológica e de ameaças. Um dos vetores de maior pressão neste período, e o que para muitos autores justificou o distanciamento de armas nesta guerra, foi o poder bélico desses países, ambos detentores de armas nucleares de grande poder de destruição. O capitalismo, como nós já vimos, surgiu na Europa e expandiu-se pelo mundo no período das Grandes Navegações. Carvalho (1997, p.20) define-o como “sistema de produção, distribuição e consumo de mercadorias que associa o capital e o trabalho assalariado e tem o objetivo de gerar lucro para o capitalista através da satisfação de alguma necessidade humana”. Paul Singer (1987, p.11) também define o sistema capitalista: É a corrida generalizada atrás do dinheiro, a competição cega das empresas no mercado, a invenção de novos produtos é a caça, pelos consumidores, do que `vai ser moda`; é a incessante mudança de processos e o sucateamento precoce de homens e máquinas. É o trabalho alienado de muitos, subordinado às ordens do capital agindo às cegas e que, ao agir assim, ora cria progresso, ora crise, ambos inadvertidamente. Pelas duas definições acima apresentadas, é possível notar que o capitalismo está associado diretamente ao consumo maciço da sociedade, consumo este, como ressalta Singer, de mercadorias de moda, ou seja, necessidades que na verdade não existem, mas são (re)criadas pela mídia e pela propaganda. Um ponto importante do capitalismo citado por Singer é a alienação do trabalhador. Isso significa que o trabalhador faz um serviço que nem ele mesmo sabe a serventia. O trabalhador passa o dia todo apertando um parafuso e não sabe, afinal, o que ele mesmo está produzindo. Outras características que singularizam o capitalismo são: a propriedade privada dos meios de produção e adoção da Lei da Oferta e da Procura nas relações comerciais. Isso significa que a sociedade capitalista é dividida entre aqueles que vendem a sua força de trabalho, os trabalhadores, e aqueles proprietários dos meios de produção, os capitalistas. Os preços das mercadorias são definidos por um complexo processo que envolve o valor gasto em sua produção e a quantidade de produtos disponíveis no mercado e a sua procura. Essa dinâmica se mostra cada vez mais complexa no mundo globalizado dos nossos dias. Em oposição a essas ideias encontram-se as ideias socialistas. Na verdade desde a Antiguidade existem pessoas preocupadas com a vida em sociedade e que pensam em modificar a organização social e assim melhorar as condições de vida da população no geral. Na Idade Moderna, o inglês Thomas More escreveu um livro chamado ‘Utopia’, onde mostrou como imaginava a sociedade de uma forma mais igualitária, sem tanta diferença entre as pessoas, descrevendo uma cidade ideal onde não havia propriedade privada nem dinheiro, com absoluta comunidade de bens. Mais tarde, com as revoluções industriais e o aumento da desigualdade, um grupo de pensadores surgiu para questionar o modelo desigual da sociedade, dentre eles, destacam-se Karl Marx e Friedrich Engels. Eles ficaram conhecidos como socialistas, pois defendiam em seus escritos a socialização de quase tudo o que existe nas sociedades, propondo acabar com a propriedade privada dos meios de produção e das terras e a distribuição igualitária dos mesmos. Essas ideias espalharam-se pelo mundo e serviram de referencial teórico para a Revolução Russa de 1917 que implantou o socialismo na Rússia, depois denominada de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), englobando também uma parte da Europa Oriental e Central. Alguns pesquisadores, como, por exemplo, Vesentini (1992), afirmam que as ideias socialistas foram utilizadas apenas em parte pelo Estado soviético, pois não foi instalado na URSS um governo democrático de fato. Esses pesquisadores dizem que na URSS o socialismo foi um “socialismo real”, “ditadura do Estado”, “socialismo tipo soviético”, dentre outras denominações. De qualquer forma, o socialismo implantado na URSS e depois em vários outros países europeus, como Iugoslávia, Albânia, Bulgária, Alemanha Oriental, Polônia, Romênia, Tchecoslováquia, países asiáticos, como Vietnã, Coreia do Norte, China, Laos, Camboja, e na América, em Cuba, permanecendo até hoje, tinha algumas características, destacadas a seguir, que diferiam muito dos capitalistas: Inexistência da propriedade privada dos meios de produção: tudo o que pode levar à produção de algo, seja material, como é o caso das indústrias, ou imaterial, como educação, saúde, pertencem ao Estado. As pessoas possuem somente os bens de uso pessoal, como roupas, utensílios domésticos etc. No caso da propriedade da terra, nas áreas rurais, elas não foram totalmente estatizadas. Em Cuba, essa estatização chegou a 40% e na Polônia a 80%. Foram preservados os pequenos proprietários de terra que praticavam agricultura de gêneros alimentícios para a subsistência; Direção centralizada da Economia: Os diversos setores da economia são planejados pelo Estado. É ele que tem o poder de investimento em determinado setor a partir do estudo da demanda de especialistas e técnicos. Existência de uma única classe social: dos trabalhadores. Estrutura política centralizada em um único partido político: o Partido Comunista. Na aula de hoje vimos as principais diferenças entre o socialismo e o capitalismo, sobretudo a questão da decisão dos rumos da economia. Essa discussão sobre as diferenças entre o socialismo e o capitalismo é feita em várias ciências, como a Sociologia, a História e em Ciências Aplicadas, como a Economia. Pesquise artigos que tratam desse mesmo assunto em uma perspectiva diferente da nossa. Um bom site de pesquisa acadêmica é o www.scielo.br ou o http://scholar.google.com.br/. Aula 12_A atuação das empresas multinacionais e a expansão do capitalismo × Temática: A atuação das empresas multinacionais e a expansão do capitalismo Uma das estratégias adotadas pelos países capitalistas para a expansão do sistema foi a criação das empresas multinacionais. Esse é o tema de nossa aula de hoje. No contexto da bipolaridade da Guerra Fria, os dois polos procuraram, cada vez mais, atrair países para a sua esfera de influência. A estratégia soviética foi de estimular um movimento da classe operária à adoção do socialismo, a partir da divulgação das ideias socialistas. Em parte, foi isso o que ocorreu em Cuba para a adoção do socialismo. Um exemplo é a imagem abaixo que trata da propaganda da qualidade da educação pública na antiga URSS. Figura 1 – Propaganda soviética da educação na URSS Fonte: http://ephemerajpp.com/2010/12/04/propaganda-dos-paises-socialistas-%E2%80%93-urss/ Em contrapartida, os capitalistas viram no aumento do mercado produtor e consumidor de industrializados, uma possibilidade de ampliação de seu modelo de desenvolvimento. Assim, a partir da transferência de indústrias obsoletas, a maior parte delas de bens de consumo não duráveis e duráveis de baixo valor agregado (alimentício, roupas, bebidas, brinquedos, artefatos de plástico e borracha, dentre outros), os EUA viram uma forma de submeter a economia desses países aos seus interesses, ao mesmo tempo em que, os trazia para sua esfera de influência. Isso ocorreu porque encontrou condições mais favoráveis de produção nestes locais, como mão de obra barata, concessão dos governos em relação a impostos, fornecimento de matérias-primas e fontes de energia baratas. E apoiou governos autoritários que possibilitaram a reprodução dos interesses das camadas mais abastadas economicamente e de interesses estrangeiros. Essa série de vantagens para a empresa capitalista, associada à ideia de expansão dopróprio sistema, levou os EUA e o Japão a investir em alguns países do sudeste asiático, conhecidos mais tarde como Tigres Asiáticos (Coréia do Sul, Hong-Kong, Taiwan e Cingapura). Também levou ao investimento em alguns países subdesenvolvidos, alavancando a economia, ao mesmo tempo em que implantou a lógica do sistema capitalista nestes locais. Entre esses países está o Brasil, o México, a África do Sul e a Argentina. O que estamos querendo dizer, portanto, é que as empresas multinacionais e a sua expansão pelo globo foram estratégias dos países capitalistas desenvolvidos para atrair outros países ao sistema e assim conseguir frear a ampliação das ideias socialistas entre esses países. Hoje não podemos ligar diretamente as empresas multinacionais a essa mesma lógica. Mesmo porque atualmente as ideias socialistas não são mais empecilho ao pleno desenvolvimento do capitalismo. Veremos na próxima aula o papel das multinacionais no mundo de hoje. Aula 13_As empresas multinacionais × Temática: As empresas multinacionais As empresas multinacionais tem importância vital para o crescimento econômico do sistema capitalista. As multinacionais hoje, num mundo globalizado, são alguns dos principais agentes da organização do espaço geográfico. Isso porque as empresas estão presentes nos mais variados locais, desde o nosso dia a dia, com os produtos que consumimos, até nos meios de comunicação, como outdoors, rádio, TV e internet. E isso acontece hoje nos mais variados locais do mundo, desde grandes metrópoles internacionais, como Nova York e São Paulo, até pequenas cidades e nas áreas rurais. Em um mundo marcado pela velocidade cada vez maior das comunicações e dos transportes, não há hoje um local que possa se dizer fora dessa “aldeia global”, como denominou Milton Santos. Nós conseguimos perceber essa interligação em vários momentos cotidianos, nas músicas que trazem cada vez mais palavras estrangeiras, no modo de vestir dos jovens, nas marcas de produtos que consumimos, nas palavras de língua inglesa que incorporamos na nossa linguagem. E por que e como isso acontece? Acontece porque em um mundo globalizado não existem mais fronteiras, e, por isso, produtos, comportamentos e valores de outros locais do mundo, sobretudo aqueles impostos pelos países ricos, são incorporados com facilidade pela sociedade. Dessa forma, as empresas multinacionais, ou também chamadas de transnacionais[1], é que ditam o que e como vai ser consumido, e por isso, são hoje detentoras de um poder maior do que muitos Estados nacionais. Observe as tabelas a seguir. Leia primeiro as informações que as duas tabelas estão mostrando. Depois as compare. Tabela 1 - Ranking das maiores empresas do mundo por faturamento em 2012 Posição Empresa País natal Valor de mercado (US$) 1 Apple Inc. Estados Unidos 558,900,000 2 Exxonmobil Estados Unidos 417,166,000 3 Petrochina China 354,965,000 4 ICBC China 279,687,000 5 Krazy Kremland Estados Unidos 256,325,000 6 Petrobrás Brasil 249,384,000 7 China Construction Bank China 248,239,000 8 Royal Dutch Shell Reino Unido 244,865,000 9 Chevron Estados Unidos 242,708,000 10 Microsoft Estados Unidos 238,011,000 Fonte: Financial Times Global, 2012. Tabela 2 – Produto Interno Bruto (PIB) de países selecionados - 2012 País PIB (em milhões de dólares) Argentina 474.812 Bolívia 26.749 Brasil 2.673.580 Chile 268.278 Paraguai 26.089 Uruguai 40.265 Fonte: Fundo Monetário Internacional (FMI), 2012. Percebeu o enorme poder que essas empresas têm? As tabelas nos mostram que o faturamento anual de uma grande empresa transnacional é maior do que o PIB de muitos países sul-americanos, por exemplo. Por isso podemos dizer que essas empresas, muitas vezes, controlam a produção do espaço geográfico muito mais do que os Estados. Mesmo porque não podemos deixar de citar que muitos desses Estados são subordinados aos interesses dessas corporações através de acordos internacionais assinados entre os países sedes dessas empresas e os países que as recebem em seu território. Ainda assim, a maior parte dos geógrafos que tratam na análise da Geografia Econômica considera que o papel das empresas multinacionais é muito importante no mundo, como pudemos notar através dos dados das tabelas 01 e 02, mas que não podemos considerar que o Estado hoje deixou de assumir um papel de liderança nas economias nacionais. Isso significa dizer, em outras palavras, que apesar da influência cultural, econômica e social das empresas na sociedade e a transformação do território, há uma dimensão institucional e jurídica que compete ao Estado que não pode ser deixada de lado na análise da Geografia Econômica. Mas, afinal, o que define uma empresa transnacional? Essas empresas são grandes corporações que transcendem os limites de seus países de origem. O geógrafo Wagner Costa Ribeiro mostra em seu livro[2] um exemplo que é bem didático para a compreensão do conceito de transnacional. Para esse exemplo, ele tomou o caso de uma indústria automobilística. A produção de um automóvel dessa empresa se dá em várias etapas e essas etapas ocorrem em locais diferentes do globo. No exemplo do autor, o carro começa a ser fabricado no México, com a sustentação de portas, depois no Brasil onde são colocados os freios traseiros, na França a embreagem, na Espanha os mostradores, no Reino Unido as engrenagens de direção, na Itália as cabeças do cilindro do motor, na Alemanha o embuchamento de válvulas, em Taiwan a parte elétrica e, finalmente, no Japão os eixos. Veja abaixo uma imagem que ilustra essa situação. Figura 1 – Produção transnacional de um automóvel Vimos hoje as principais características de uma empresa multinacional e seu poder de atuação como um agente da produção do espaço geográfico. _____________ [1] Alguns autores diferenciam as multinacionais das transnacionais, sendo esta última caracterizada pela inexistência de um país sede. Vamos considerá-las como sinônimos. [2] Ribeiro, Wagner. Relações Internacionais: cenários para o século XXI. São Paulo: Scipione, 2004. Aula 14_A moderna Divisão Internacional do Trabalho × Temática: A moderna Divisão Internacional do Trabalho e o Território A atuação das empresas transnacionais no mundo atual redefiniu as relações econômicas entre os países do globo, produzindo um território descontínuo dessas grandes corporações mundiais. Nas aulas passadas, trabalhamos com o poder que as empresas transnacionais têm no mundo atual, sendo maior, muitas vezes, do que o poder do próprio Estado sob o seu território. Na verdade, nós podemos dizer que há um conflito em relação ao território, ou, em outras palavras, uma produção de um território novo, singular, pelas empresas transnacionais. Na geografia, quando nos referimos ao território, temos que ter claro que ele é um importante conceito e não apenas uma noção do tamanho territorial de um país. Souza (2003, p.81) chama a atenção a esse fato quando diz que: [...] a palavra território normalmente evoca o ´território nacional´ e faz pensar em Estado – gestor por excelência do território nacional –, em grandes espaços, em sentimentos patrióticos (ou mesmo chauvinistas), em governo, em dominação, em ´defesa do território pátrio’, em guerras [...] Porém, território não é apenas isso. Território é algo em construção (e também em reconstrução e destruição). Podemos falar no território de uma grande empresa transnacional, ou no território de uma torcida de futebol dentro de um estádio em dia de clássico. As duas situações envolvem uma questão de escala muito diferente: o primeiro trata-se do mundo, enquanto o segundo de um estádio de futebol dentro de uma grande cidade. O que elas têm em comum? O que é semelhante nos dois casos? Vejamos o caso da torcida de futebol1. Em dia de clássico de futebol com duas torcidas rivais e tradicionais a cidade muda a sua configuração urbana. O trânsito é desviado para facilitar a chegada ao estádio, as linhas de ônibus são alteradas para facilitar o fluxo,há um aumento do policiamento nas regiões próximas, nos metrôs, nos terminais de embarque e desembarque dos trens. Por todo esse caminho, percebe-se na paisagem o acontecimento do jogo: faixas, bandeiras, camisetas, gritos de guerra. Nas ruas próximas ao estádio, a situação ainda é mais transformada, ruas fechadas para o trânsito de veículos, policiais a cavalaria, grande concentração de pessoas andando pelas ruas, sentimentos de alegria, entusiasmo, confiança, nervosismo, apreensão em relação ao resultado do jogo. Dentro do estádio há uma folia total em ambas as torcidas. Essas torcidas rivais localizam-se em pontos opostos do estádio, ocupam lados diferentes que são delimitados com cercas e ainda inspecionados pela polícia e por cães da polícia. Em cada lado do estádio, há regras e condutas próprias de cada torcida. Alguns pontos são reservados para torcidas organizadas, geralmente mais violentas; outros são ocupados por pessoas comuns, famílias, pais com os filhos, pessoas idosas, adolescentes. Você já imaginou se um torcedor desavisado entrasse pelo portão errado e desse de cara com a torcida rival? O que aconteceria? Com certeza, ele não seria muito bem recebido, pois, na visão dos torcedores, ele invadiu o território da torcida rival. Entendeu a conotação dada ao território? Podemos dizer, utilizando o exemplo acima, que cada lado do estádio pertence, naquele momento do jogo, a uma torcida. É aquela torcida que possui o poder sobre aquele espaço demarcado no estádio. E esse poder reflete-se na paisagem com as bandeiras, as faixas, as pessoas. Quando o jogo terminar, independente do resultado, ambas as torcidas irão embora, desconstruindo o território delas até o próximo jogo, quando tudo começa novamente. Assim, a ideia do território é algo construído com uma intenção, submetida a um poder, que pode ser de uma torcida de futebol, como nesse exemplo simples, ou a uma grande empresa transnacional. Qual será o território de uma grande empresa? Seus territórios serão os espaços que essa empresa domina ou influencia no globo, podendo ser um território descontínuo, com vários pontos demarcados e separados no mundo. _____ 1 Esse exemplo foi extraído de Magnani, J.; Torres, L. (org.) Na metrópole: textos de antropologia urbana. São Paulo: EDUSP/Fapesp, 2000. Aula 15_O petróleo e a produção da riqueza concentrada × Temática: O petróleo e a produção da riqueza concentrada Desde a Segunda Revolução Industrial, no século XIX, o petróleo representa uma das fontes de energia mais utilizadas, apesar de seu alto preço e os problemas ambientais associados a ele. Ele também representa uma boa parte da riqueza mundial acumulada nos países produtores. O petróleo, desde meados do século XIX, é o recurso energético mais utilizado no mundo. Desde o aperfeiçoamento das máquinas, na Segunda Revolução Industrial, ele é utilizado como fonte de energia na usina termelétrica, combustível para a maior parte dos meios de transporte e matéria-prima, importante para inúmeros tipos de indústrias químicas. Dada a importância vital para o crescimento econômico dos países, é o petróleo uma matéria-prima muito valorizada e alvo de disputas internacionais para o seu controle e exportação. Observe no gráfico 1 o quanto o petróleo é essencial para o desenvolvimento dos países do mundo em 2009. Fonte: http://netef.blogspot.com.br/2013/06/numeros-sobre-matriz-energetica.html. Acesso em 02.04.2014. A análise dos dados nos permite afirmar que mais da metade da energia consumida no mundo deriva dos combustíveis fósseis, pois não podemos esquecer que o gás natural, assim como o petróleo, é um combustível fóssil. Em relação à sua formação, o petróleo é um hidrocarboneto (hidrogênio e carbono) resultante da transformação de matéria orgânica vegetal ou animal. Aparece no subsolo, em terrenos sedimentares de origem marinha ou lacustre, especialmente os formados na era Cenozoica, surgindo normalmente associado ao gás natural. É um recurso não renovável, ou seja, em recurso natural que o homem não é capaz de produzir e que a natureza produz em uma escala de tempo muito inferior à velocidade de consumo de nossa sociedade. Isto significa dizer que, se o ritmo de consumo continuar tão acelerado, o petróleo em pouco tempo se extinguirá. Podemos notar pelos gráficos abaixo que a oferta de petróleo e gás natural vem diminuindo desde 1960. E notamos também que o carvão apresenta um crescimento maior no período apesar de também ser, no caso do carvão mineral, um recurso esgotável. Gráfico 2 – Oferta Mundial de Energia Fonte: Vestibular Unicamp, 2002. Em relação à sua exploração, o petróleo não é encontrado em todos os lugares do mundo, sendo este fato uma justificativa, muitas vezes, para o conflito entre alguns países. É sabido que no Oriente Médio1 encontramos a maior quantidade de reservas petrolíferas no mundo, cerca de 60% do total existente no globo. Não podemos deixar de relacionar esse fato aos constantes conflitos internacionais na região, como a Guerra do Golfo no início da década de 1990 e a recente ocupação dos EUA sob o território iraquiano. O mapa a seguir representa a distribuição do petróleo pelos continentes no mundo. Podemos notar a grande concentração no Oriente Médio que conta com 63,3% das reservas mundiais de petróleo em 2004. Mapa 1 – Maiores reservas mundiais de petróleo Fonte: http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/5/88reservas_petroleo.jpg. Acesso em 02.04.2014 Outras regiões mundiais também se destacam na produção do petróleo, é o caso da Rússia, Casaquistão, Ucrânia, Usbequistão, Turcomenistão, EUA, México e Venezuela. No Brasil, encontra-se na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, a maior bacia petrolífera em atividade do país. Na bacia de Santos, no litoral paulista, a Petrobrás deve iniciar a partir de 2014 a exploração do petróleo na região conhecida como pré-sal. Quando relacionamos os países que mais consomem com os países que mais produzem o petróleo, notamos o quanto os países mais industrializados, desenvolvidos ou subdesenvolvidos, são muitas vezes dependentes da importação desse produto. Observe os dados da tabela abaixo: Quadro 1 – Países com as maiores reservas, produção e consumo de petróleo (2006) Reservas Produção Consumo 1. Venezuela 1. Arábia Saudita 1. EUA 2. Arábia Saudita 2. Rússia 2. China 3. Canadá 3. EUA 3. Japão 4. Irã 4. Irã 4. Rússia 5. Iraque 5. China 5. Alemanha 6. Kuwait 6. México 6. Índia 7. Emir. Árabes Unidos 7. Canadá 7. Canadá 8. Rússia 8. Emir. Árabes Unidos 8. Brasil 9. Líbia 9. Venezuela 9. Coreia do Sul 10. Nigéria 10. Noruega 10. Arábia Saudita 14. Brasil 13. Brasil Fonte: Departamento de Estatística dos EUA, 2006. Disponível http://crescimentoeconomicofeualg.blogs.sapo.pt/2010/01/. Acesso em 03.04.2014. Notamos no quadro a presença de muitos países do Oriente Médio, mas também a presença de outros países, como Venezuela e Rússia, que são muito importantes para a compreensão da geopolítica do petróleo. Outra situação que a tabela nos mostra quando comparamos os países que possuem as maiores reservas com os países de maior produção, sendo notado que alguns países, como Iraque e Kuwait, com maior quantidade de reservas de petróleo, ainda não exploram totalmente as suas reservas. Enquanto outros países, como o EUA, Rússia e Arábia Saudita produzem muito petróleo, pois exploram grande parte de suas reservas. Outro dado interessante da tabela é que os países que mais consomem o petróleo não são os mesmos que o possuem em grande quantidade, nem mesmo aqueles que o possuem enquanto reserva. O que significa dizer que esses países, como o EUA, o Japão, a China, a Alemanha, a Coreia do Sul são altamente dependentes da importação desse produto para o crescimento de sua economia. O mapa abaixo representa os maiores importadores do petróleo mundial. Veja o destaque do EUA e do Japão nas primeiras posições. Seguidos de perto por China, Índia, França, Alemanha e Coreia do Sul. Mapa 2 – Importadoresde petróleo - 2006 Fonte: http://c1.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/obf04399c/5664826_PeEV9.jpeg. Acesso em 04.04.2014 O caso dos EUA é particularmente interessante, pois, apesar do país contar com grande quantidade de reservas e ser o país que mais produz, isso não dá conta do seu consumo interno, sendo obrigado a importar essa matéria-prima de outros países. No geral, esses dados nos revelam que a matriz energética do petróleo necessita ser revista pela maior parte dos países do mundo, pois, ainda hoje, é grande a dependência desse recurso, apesar de já sabermos há tempos que a sua duração é muito pequena se for mantido o mesmo nível de consumo atual. O petróleo é fundamental para o crescimento econômico dos países mais ricos do mundo, apesar de ser um recurso esgotável. ____ 1 Destaque para países como Arábia Saudita, Iraque, Kuwait, Irã e Emirados dos Árabes Unidos. Aula 16_A crise do petróleo e o controle internacional do seu preço × Temática: A crise do petróleo e o controle internacional do seu preço Dando continuidade à aula passada, agora vamos compreender as crises do petróleo ocorridas no século XX, responsáveis pelo aumento do preço do barril e pela disputa internacional do controle das áreas produtoras de petróleo. Na aula passada, vimos o quanto o petróleo representa hoje um recurso de alto valor para a economia dos países, particularmente os desenvolvidos e os subdesenvolvidos industrializados, como é o caso do Brasil. Essa dependência origina-se nas primeiras décadas do século XX, quando o produto era encontrado em abundância em vários países e, por isso, era comercializado a um baixo preço. Devido a esses fatores, boa parte dos países industrializados cresceu economicamente baseando-se nesta fonte de energia. A partir da década de 1970, uma série de fatores conjugados alterou o preço do produto, fazendo-o subir de forma muito elevada no comércio mundial. Um desses fatores é a descoberta através de pesquisas que o petróleo é um recurso não renovável. Isso fez o seu preço subir, já que passou a ser um produto não disponível para todos os países. Esse fato é muito marcante na história da economia mundial, pois, até então, nunca uma matéria-prima, comercializada muitas vezes por países subdesenvolvidos, teve um valor mais alto do que um produto industrializado. Para se ter uma ideia do quanto foi esse aumento, em 1973 o preço do barril era de 5 dólares, no ano seguinte 11 dólares, em 1980 passou a 33 dólares. Após esse ano, houve uma sucessiva queda, chegando em 1990 a 11 dólares novamente. Em 2004 o preço era de 32 dólares e em 2007, segundo dados disponíveis na Bolsa de Mercadorias e Futuros1, o preço do barril do petróleo é de aproximadamente 60 dólares. Você deve estar se perguntando: por que varia tanto? Quem controla ou domina essa variação do preço? A variação do preço se dá pela conjuntura internacional do momento. Fatores como conflitos internacionais em áreas de reservas de petróleo, como no caso do Oriente Médio, diminuição da produção anual dessa matéria-prima e até mesmo a divulgação de pesquisas que apontam, cada vez mais cedo, a extinção dessa fonte são motivos para o aumento do barril. A questão do controle do preço está hoje na mão dos países pertencentes a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que é formada por Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Líbia, Argélia, Venezuela, Equador, Nigéria e Gabão. Essa associação foi criada em 1960 com o objetivo de unir os principais exportadores de petróleo e evitar assim a concorrência entre eles. A união desses países com o mesmo interesse forma o que denominamos em economia de cartel2. O cartel da OPEP consegue até hoje, apesar de não contar com todos os países exportadores de petróleo do mundo, equilibrar o preço do produto segundo os seus interesses. Assim, quando há uma queda maior do preço do barril no comércio mundial, esses países diminuem a produção para valorizar o produto, voltando assim a crescer o seu valor internacionalmente. No início de 2007, o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou a estatização da exploração do petróleo no seu país que era controlado por grandes empresas transnacionais, muitas das quais de origem norte-americana. Esse fato e a instabilidade gerada no mercado mundial pela importância das exportações da Venezuela fizeram o preço do petróleo subir novamente, atingindo os quase 60 dólares por barril. Em 2008 o vertiginoso aumento do preço, atingindo no mesmo ano o valor de 140 dólares o barril, levou a muitos economistas e a mídia em geral a denominar esse período como o terceiro choque do petróleo. O terceiro choque do petróleo, diferentemente dos anteriores, se relaciona a um conjunto de fatores que estão relacionados a contextos geopolíticos, como a greve da indústria petrolífera na Venezuela em 2002 e 2003, a guerra do Iraque e conflitos na Nigéria. Porém, o diferencial dessa crise é que além dessas questões o terceiro choque foi relacionado a uma questão econômica conjuntural. O crescimento econômico dos países, conhecidos como emergentes, pressionou de forma decisiva a demanda do petróleo e a produção não foi capaz de suprir, em curto espaço de tempo, esse crescimento. Principalmente nos casos da China e Índia, dois países com os maiores crescimentos econômicos ao longo da primeira década do século XXI, houve grande aumento da necessidade do petróleo como combustível básico para as indústrias desses países. A questão do controle sobre o preço do petróleo é instável e, por conta disso, a economia mundial está comprometida de manter a dependência em relação a essa matriz energética. Pesquise em jornais ou revistas impressas ou online notícias que relacionam o atual contexto internacional com o preço do petróleo no comércio internacional. Boa Pesquisa! ____ 1 Dados disponíveis em http://br.advfn.com/. Acessado em 10/02/07. 2 Cartel é o monopólio da produção e/ou comercialização de um produto no mercado internacional. Aula 17_A Desigual distribuição da riqueza do Petróleo × Temática: A Desigual distribuição da riqueza do Petróleo Nas aulas anteriores, vimos o quanto o petróleo representa uma riqueza para os países que o possuem. Vimos também o poder que o petróleo representa num mundo que depende dele como matriz energética. A consequência disso para os países detentores dessa riqueza deveria ser o desenvolvimento econômico e social do seu país, com destaque para a qualidade de vida da sua população. No entanto, não é bem isso o que acontece. Nossa aula de hoje abordará o porquê a riqueza produzida pelo petróleo não atinge as populações locais. O petróleo é hoje uma das maiores riquezas mundiais. Poucos países possuem reservas dessa importante matéria-prima. Portanto, os que detêm esse poder, são os países mais ricos e desenvolvidos do mundo. Parece ser um raciocínio lógico, porém o sistema capitalista não possui uma lógica tão linear assim, e, portanto, essa não é a realidade atual dos países exportadores de petróleo. A maior parte dos países exportadores de petróleo e a totalidade dos países pertencentes à OPEP são subdesenvolvidos. Milton Santos (1979, p.30) define um país subdesenvolvido como “uma formação socioeconômica dependente, um espaço onde o impacto das forças externas é preponderante em todos os processos. Por esse motivo, sua organização do espaço é dependente”. A organização do espaço dependente e as forças externas, diz Milton Santos, significam que o Estado está submetido ao serviço do grande capital, este vindo de fora, geralmente de uma grande corporação transnacional. Nas palavras do autor: [...] no Terceiro Mundo, o Estado prepara as condições para que as maiores empresas, sobretudo as estrangeiras, possam apropriar-se da mais-valia local, que elas mandam para fora ou utilizam para incrementar seus ativos e aumentar, assim, suas possibilidades de ampliar a própria mais-valia (Santos, 1979, p.31). É exatamente isso o que acontece com os países pobres, subdesenvolvidos e que possuemrecursos petrolíferos. Sem condições próprias de investir na exploração do recurso, seja com empresas públicas ou particulares locais, eles se associam ao grande capital estrangeiro para bancar os investimentos na exploração, refino e distribuição do petróleo. Em contrapartida, recebem uma pequena parte da riqueza produzida pelo petróleo que ainda se concentra nas mãos da elite local, composta muitas vezes por boa parte de imigrantes que se deslocaram para o local com a intenção de se apropriar daquela riqueza. Para a população local não sobra praticamente nada. Na verdade, ainda sobram prejuízos, pois esses acordos internacionais geram, muitas vezes, uma enorme dívida para o país pagar ‘o grande investimento’ feito na produção do petróleo em território alheio. Alguns dados são interessantes e nos mostram essa realidade conflituosa. Por exemplo, o caso da Arábia Saudita, no Oriente Médio, o país com o maior potencial petrolífero do mundo, tanto em relação a reservas como em produção, possui um PIB (Produto Interno Bruto) per capita de 25.136 dólares no ano de 2012, segundo dados disponibilizados pelo IBGE. É o 19º maior PIB do mundo de uma relação de mais de 170 países segundo o ranking do Fundo Monetário Internacional (FMI). Para termos uma ideia do quanto isso significa, o PIB per capita da Arábia Saudita é maior do que de muitos países da Europa Central e Oriental, como Portugal, Estônia, Polônia, Eslováquia, Croácia e até da Rússia. Maior do que o PIB per capita dos países de maior crescimento econômico na primeira década do século XXI, como a China e Índia1. É também maior do que muitos países industrializados, como o Brasil, México, África do Sul e Argentina. Porém, em relação ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), índice esse criado pela ONU para medir a qualidade de vida da população, a Arábia Saudita despenca para 57º posição no ranking de 2012, atrás de vários países acima listados. O IDH é um dado numérico que varia de 0 a 1, em que quanto mais próximo do número inteiro maior é a qualidade de vida da população. Para compor esse número, são levadas em consideração as variáveis de PIB per capita, taxa de alfabetização e expectativa de vida da população. O mesmo ocorre com os Emirados Árabes Unidos. Em relação ao PIB per capita a posição do país é a 32º da mesma relação comentada acima, com 41.692 dólares per capita, enquanto em relação ao IDH, o país assume a 41º posição, com um IDH de 0,818, segundo dados do IBGE para o ano de 2012. Será então que todos os países produtores e exportadores de petróleo possuem uma economia avançada convivendo com baixa qualidade de vida? Para apontar caminhos dessa questão, vamos analisar um caso bem diferente dos dois anteriores. Vimos na aula passada que a Noruega foi a 10ªmaior produtora e 3º maior exportadora de petróleo em 2006. Porém, diferente do que ocorre com a Arábia Saudita e os Emirados dos Árabes Unidos, a riqueza gerada pelo país reflete diretamente na qualidade de vida da população. Com um PIB per capita em 2012 de mais de 100 mil dólares, o que significou o 22º lugar no ranking do PIB mundial segundo o FMI, em termos de qualidade de vida a Noruega aparece com a 1ª posição mundial em IDH com um valor de 0,955. Isso significa dizer que não são todos os casos dos países produtores e exportadores de petróleo com qualidade de vida baixa. A diferença entre esses países pode ser explicada pela atuação do Estado no estabelecimento de prioridades para investimento e nas próprias empresas petrolíferas em atuação no país. Enquanto no caso dos países árabes há a atuação de diversos grupos estrangeiros na produção de petróleo, na Noruega a maior parte das empresas, sobretudo as de grande porte, são originárias do próprio país. Vimos o quão desigual é a distribuição da riqueza produzida pelo petróleo, sobretudo muito pouco dessa riqueza fica no país que o produz. ____ 1 Nesses dois casos precisamos ter em mente que o PIB per capita está diretamente relacionado com o número de habitantes do país. Índia e China, como sabemos, possuem a maior população nacional do mundo e representam juntas mais do que 30% da população mundial em 2010. Aula 18_Os fixos e os fluxos na economia mundial × Temática: Os fixos e os fluxos na economia mundial Na aula de hoje, trabalharemos com dois conceitos da Geografia, os fixos e os fluxos, com o objetivo de refletir sua relação com os pontos do território que servem à circulação das mercadorias: os portos e os aeroportos. A economia mundial hoje se dá a partir de relações que não envolvem necessariamente a presença física de pessoas ou de mercadorias. Com a velocidade dos meios de transportes e comunicações, as relações comerciais entre os países se dão cada vez mais virtualmente ou, o que denominamos hoje, através do ciberespaço. Ciberespaço é o conceito utilizado para representar as informações, conteúdos, relações de qualquer natureza que ocorrem por meios de comunicação ágeis, como a Internet.ou telefones móveis. As relações econômicas, objeto de nossa discussão aqui, estão permeadas por este tipo de relação. As mercadorias vão e vem sem que as pessoas que a estão comercializando se encontrem. As maiores transações comerciais, aquelas que ocorrem dentro das Bolsas de Valores, são feitas sem algo concreto a ser comercializado, são papéis virtuais, as ações, que não existem no campo material. Isso é um dado do atual estágio da globalização. Mas, se isso acontece, como podemos analisar as relações econômicas hoje? A partir de que dados ou referenciais podemos nos basear para essa análise se tudo ocorre no campo da virtualidade? E nós, como geógrafos, se muitas relações ocorrem no meio virtual, se não existem concretamente, como há produção do espaço? O espaço deixará de existir? Falaremos agora da produção apenas de um ciberespaço? Milton Santos trabalha com dois conceitos na produção do espaço que nos oferecem uma referência em relação a isso: os fluxos e os fixos. “O espaço é, também e sempre, formado de fixos e de fluxos. Nós temos coisas fixas, fluxos que se originam dessas coisas fixas, fluxos que chegam a essas coisas fixas. Tudo isso, junto, é o espaço” (Santos, 1994, p.77). O que Milton Santos já dizia na década de 1990 é que os fluxos são uma característica do mundo, ainda mais com a intensificação da mundialização. Porém, esses fluxos estão ligados necessariamente aos fixos, pois a informação tem de ser gerada em algum lugar, isso envolve pessoas, máquinas, um ponto do espaço geográfico. Para entendermos melhor, podemos ver o exemplo do nosso curso virtual de graduação. A informação, a troca de experiências, os fóruns, os chats, isso tudo são fluxos que vão e vêm em um ambiente virtual, a Internet. Mas, os fluxos não significam nada sem os fixos, as pessoas, alunos e professores, os locais que elas acessam as aulas, a biblioteca, ponto de referência de qualquer estudante universitário. Assim, por mais virtual que sejam as relações, por mais que o ciberespaço cresça e atinja cada vez mais lugares e pessoas, eles vão estar relacionados, necessariamente, com os fixos que estão gerando essas relações, apesar de estarem em pontos geográficos diferentes. Voltando a nossa análise da economia, se pensarmos dessa forma, as mercadorias que podem ser imateriais ou não, que navegam em um ciberespaço ou não, sempre vão possuir fixos que gerarão um espaço geográfico. Essa ideia de fixos e fluxos sugere que as relações econômicas se dão em redes. Essas redes são as ligações, os meios de comunicação e transporte de mercadorias que unem vários pontos do território, os ‘nós’. Assim, em uma comercialização de ações de uma dada empresa, um exemplo das relações virtuais do ciberespaço, não há um encontro de pessoas, nem a materialidade da mercadoria em um primeiro momento. Mas, não podemos deixar de considerar que há uma inter-relação entre dois pontos do território, que chamaremos a partir de agora de nó. Esses ‘nós’, distantes fisicamente entre si, ao estabelecerem relações, criam as redes de ligação dos nós.E ainda, as ações das empresas, que sem dúvida são imateriais, são materializadas no espaço através da própria empresa que existe em dado ponto e na circulação de pessoas e mercadorias que essa empresa gera ao estabelecer uma comercialização internacional. Isto significa dizer que ao analisarmos as relações econômicas virtuais sob a ótica das redes que ligam diferentes nós do espaço, através dos fluxos de informações, mercadorias, capitais ou pessoas, nós estamos conseguindo analisar um espaço produzido pelas relações virtuais, pois essas relações estão, necessariamente, associadas aos fixos estabelecidos no espaço. E em uma economia mundial, o que podemos considerar como os fixos do território que marcam a existência dos fluxos e das redes? Os pontos de circulação de transportes: os aeroportos e os portos que recebem as mercadorias. Assim, apesar da discussão em torno da não espacialidade das relações globais, do fato da globalização ser uma negação do espaço enquanto categoria de análise, notamos que as relações comerciais mundiais produzem um espaço, pois estão necessariamente associadas a um ponto do território, os aeroportos e portos, para o escoamento, seja do produto final, no caso de mercadorias, seja do conhecimento produzido a partir de relações pessoais. Os portos e aeroportos assumiram um papel importante na economia mundial, pois são os nós das relações que se dão em rede entre os diversos locais do mundo. Pesquise artigos que tratem dos conceitos trabalhados nessa aula (fixos, fluxos, rede e nós). Esses conceitos são muito importantes para a compreensão do espaço. Uma boa dica é você pesquisar essas palavras-chave por autores, duas boas referências são o Milton Santos e o Roberto Lobato Corrêa. Aula 19_O Desenvolvimento e o Subdesenvolvimento no século XXI × Temática: O Desenvolvimento e o Subdesenvolvimento no século XXI Durante quase todas as aulas dessa unidade, fizemos referência à existência de países mais ricos e países mais pobres, denominados, também, de países desenvolvidos e subdesenvolvidos ou países do norte e países do sul. Agora vamos nos aprofundar sobre o real significado destes termos. Os termos países desenvolvidos e países subdesenvolvidos são utilizados hoje pelo senso-comum para designar a diferença econômica e social entre os países mundiais.Vimos, no início dessa unidade, que a gênese dessa diferenciação entre os países está na expansão do sistema capitalista nos séculos XV e XVI. Mas, hoje, século XXI, apenas essa explicação não basta. Mesmo porque nós poderíamos ser advertidos pelo fato de um país ter sido também colônia no contexto do Pacto Colonial e ser hoje um dos países mais desenvolvido do mundo, os EUA. Apesar de ser bem discutível a conformação dos EUA como uma colônia, não podemos negar o fato deste país ter conseguido, em três séculos, tornar-se uma das maiores potências mundiais. Deixando o caso dos EUA de lado, nosso objetivo é discutir o que significa dizer que um país é desenvolvido e outro é subdesenvolvido, quais as origens do termo e a ideologia que está por detrás dessa denominação? Os termos desenvolvido e subdesenvolvido passaram a ser utilizados após a 2ª Guerra Mundial, quando vários países africanos e asiáticos estavam adquirindo a independência. O termo subdesenvolvido referia-se a condição econômico-social comprometida que esses países tinham, com elevada taxa de mortalidade infantil e analfabetismo, PIB baixo, expectativa de vida muito pequena, dentre outros fatores. Neste período, qualquer país que não apresentasse uma economia em crescimento e um quadro razoável de indicadores sociais, era considerado subdesenvolvido. Assim, agruparam-se em uma mesma denominação realidades muito distintas entre si. Para contornar esse problema, criou-se a denominação ‘países em vias de desenvolvimento’. Assim, eram três as categorias utilizadas para a regionalização dos países: desenvolvidos, subdesenvolvidos e em desenvolvimento. O problema que envolve essa denominação é a ideologia que está por detrás do discurso do desenvolvimento. Subdesenvolvimento significa uma situação que antecede ao desenvolvimento, sugere, portanto, que o subdesenvolvimento é uma etapa necessária para atingir o desenvolvimento1. O mesmo ocorre com o termo ‘em desenvolvimento’. Perpassa uma ideia de que o país está crescendo economicamente e irá atingir, em algum tempo, o pleno desenvolvimento. Na verdade, se admitirmos que o sistema capitalista é desigual e combinado (lembra que trabalhamos essa ideia no início da unidade?), nunca os países atingirão o mesmo nível socioeconômico, pois nesta lógica capitalista há a necessidade de existir a exploração econômica. Criou-se então, no final da década de 1990, os termos países do Norte e países do Sul para designar, respectivamente, os países ricos e pobres. A utilização dos termos Norte e Sul não faz referência necessariamente à ideia de localização do país nos hemisférios da Terra, mesmo porque temos, por exemplo, o caso da Austrália, país localizado no hemisfério sul, mas pertencente, nessa classificação, ao Norte. Assim, apesar desses termos não terem a mesma conotação ideológica dos anteriores, também encobre a real situação oposta desses países: a riqueza e a pobreza. Se esses termos não são os ideais para designar a situação socioeconômica dos países, não podemos negar também que exista uma grande diferença dessa situação entre os países mundiais. Independente do termo que utilizamos para nomear os países, as desigualdades são evidentes e a situação interna dos países é muito distinta. No quadro abaixo, estão descritas, em linhas gerais, quais são, geralmente, as principais características dos países pobres. De antemão declaramos que não consideramos que haja uma homogeneidade entre os países pobres, pelo contrário, admitimos que a heterogeneidade seja uma característica marcante da atual realidade econômica e social desses países, tanto que nossa próxima aula abordará exatamente este tema. A contribuição, então, que esse quadro pode dar é ser um ponto de partida para a discussão da situação particular de cada país pobre no globo. Quadro 1 – As características do subdesenvolvimento Econômicas Sociais Socioeconômicas Políticas - Baixos rendimentos e fracas produções agrícolas; - Atraso industrial, indústria limitada a poucos setores; - Hipertrofia do setor terciário; - Mercados internos muito restritos; - Dependência tecnológica, financeira e comercial. - Forte crescimento demográfico; - Subalimentação ou mal nutrição; - Serviço de saúde e educação deficientes; - Elevada mortalidade infantil; - Trabalho infantil; - Habitações precárias; - Posição inferior da mulher; - Fortes desigualdades sociais. - Pobreza individual: baixo PIB por habitante; - Desemprego e subemprego. - Regimes autoritários, valores democráticos e liberdades individuais não totalmente respeitados; - Conflitos e tensões freqüentes; - Corrupção das elites. Procuramos mostrar como a utilização de certos termos para designar a situação socioeconômica dos países está carregada de ideologia e de uma situação ‘falsa’ dentro do sistema capitalista. Também procuramos trabalhar com uma caracterização geral da situação dos países pobres. Pesquise na Internet representações das duas regionalizações trabalhadas por nós nessa aula: desenvolvidos x subdesenvolvidos e norte x sul. Observe as diferenças entre as duas classificações. ____ 1 Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa subdesenvolvimento é “desenvolvimento abaixo do normal” e “situação de um país ou de uma região cuja estrutura social, política e econômica reflete uma utilização deficiente dos fatores de produção”. Aula 20_A heterogeneidade do mundo subdesenvolvido × Temática: A heterogeneidade do mundo subdesenvolvido A heterogeneidade do mundo pobre é uma denominação no qual se agrupam vários países com a situação interna e externa diferente e que precisam ser pensados de forma singular. A aula anterior terminou com um quadro das principais característicasdos países pobres. Longe de querer taxá-las como existentes em todos os países hoje considerados pobres, queremos discuti-las em relação à heterogeneidade encontrada dentro desse grupo de países. Antes de qualquer coisa, cumpre destacar que qualquer classificação ou regionalização que se faça de países ou de regiões mundiais toma como critério um fator ou um reduzido número de fatores. Isso implica dizer que uma série de outros fatores é desprezada para a regionalização, apesar de não ser descartada como não pertencente àquela realidade. Dizemos isso pois, quando regionalizamos o mundo em duas regiões distintas, países pobres e países ricos, estamos tomando a questão econômica como um dos critérios fundamentais. Claro que, neste caso, a questão econômica se liga necessariamente a uma condição social, pois se há uma economia que não cresce, não há também condições de investimento em melhorias sociais. Assim, dentro dos países pobres podemos diferenciar dois tipos de países: aqueles que conseguiram se industrializar, mesmo que de forma incipiente, como Brasil, Índia, Argentina, México, África do Sul e os Tigres Asiáticos; e aqueles que não conseguiram ainda iniciar um processo industrial, como é o caso da maior parte dos países africanos. Apesar da industrialização desse primeiro grupo de países, eles não conseguiram resolver outros problemas internos, como a má distribuição de renda, a melhoria dos índices de analfabetismo e expectativa de vida. Isto significa que, apesar de suas economias terem apresentado um expressivo crescimento, como é o caso do Brasil, esse crescimento não atingiu boa parte da população, e sim, ficou concentrado nas mãos da elite local. Poucos países pobres conseguiram melhorar os índices sociais e oferecer melhor condição de vida a sua população. Esse é o caso dos Tigres Asiáticos, como a Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong. Estes países investiram muito na melhoria das condições de educação, formando uma mão de obra qualificada a serviço das empresas multinacionais. Outro dado que não podemos esquecer é que esses países cresceram economicamente nos moldes e sob tutela japonesa a qual possui na questão da educação e da disciplina ao trabalho uma de suas principais características. Tabela 1 – Indicadores de desenvolvimento humano em países pobres selecionados (2003) Notamos pelos dados que o valor do IDH difere bastante entre os países pobres, indo de mais de 0,9 no caso de Hong Kong, Cingapura e Coreia do Sul até pouco mais de 0,6 na Índia e na África do Sul. Os demais dados também nos oferecem uma ideia dessa heterogeneidade dos países pobres. Observe que a expectativa de vida de Hong Kong é quase o dobro da expectativa da África do Sul. A Índia também difere bastante em relação à taxa de alfabetização dos adultos do que os outros países. Apesar de que esse caso deve ser tomado com ressalvas devido à grande população indiana de mais de 1 bilhão de habitantes, segundo dados de 2000. Na coluna de distribuição da renda notamos também grandes diferenças entre esse grupo de países, como por exemplo, a riqueza acumulada pelos 10% mais ricos da população. No Brasil, os 10% mais ricos detém mais de 45% da renda nacional, número este que cai para 22,5% na Coreia do Sul. Em relação ao índice de desigualdade, o Brasil também figura como o país com o pior percentual, sendo a Índia e a Coreia do Sul com os percentuais mais baixos de desigualdade. Os países pobres são diferentes entre si, tanto em relação às causas da pobreza quanto em relação à situação socioeconômica atual. Aula 21_A China e o crescimento da maior economia do mundo × Temática: A China e o crescimento da maior economia do mundo A China desponta hoje em quase todos os noticiários econômicos como a grande promessa de potência econômica para o século XXI. A China é hoje uma das grandes promessas para a economia do século XXI. Tanto que vários países, inclusive o Brasil, têm procurado se aproximar de empresários e políticos chineses com o objetivo de aumentar as exportações para esse país. Em 2004, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva foi à China acompanhado de uma série de empresários interessados em investir no território chinês e aumentar a participação do país na pauta de importações e exportações. Todo esse interesse em estabelecer acordos e parcerias comerciais se justifica pelo fato da economia chinesa apresentar um forte crescimento econômico desde a década de 1970, chegando ao ano 2000 a apresentar o índice de 9% de crescimento ao ano. Neste período, iniciou-se a abertura econômica da antiga China socialista às empresas multinacionais. Esta abertura acontece, por enquanto, apenas no plano econômico, pois no político a China continua a ser comandada por apenas um partido, o Partido Comunista. Porém, precisamos destacar que as características da atuação do próprio partido não se assemelham muito aos ideais socialistas do ex-ditador Mao Tse Tung que governou o país por anos e instaurou a economia planificada e a ligação com o governo da ex-URSS. Após a abertura, a China tem recebido grandes investimentos estrangeiros voltados, sobretudo, à instalação industrial de bens de consumo e da indústria de base. O interesse pela produção industrial no território chinês ocorre por conta dos incentivos fiscais oferecidos pelo governo, a baixa remuneração da mão de obra, a disciplina que essa mão de obra apresenta e o imenso mercado consumidor em potencial da China; já que, segundo dados de 2000, a população chinesa somava mais de 1 bilhão e 200 milhões de habitantes, a maior população mundial. Porém, como acontece nos países pobres, esse crescimento vertiginoso não foi acompanhado de uma melhoria nas condições de vida da população chinesa. E outro dado importante, as áreas chinesas que estão acompanhando o crescimento econômico e recebendo esses investimentos estrangeiros não compõem nem 20% do total do território chinês. Assim, no caso chinês, além da concentração da riqueza na camada social de elite, formada por estrangeiros e “expatriados” (aqueles que fugiram da China comunista e foram investir nos países próximos à China e, com a abertura, estão retornando para investir no seu país), também temos a concentração espacial da China moderna. Essa concentração se dá na faixa litorânea no sudeste do território chinês, o que não representa nem ¼ do tamanho da China. O restante da China, na verdade a sua maior parte, continua sendo um país rural, que vive da agricultura implantada ainda nos moldes socialistas. Em relação à população, segundo dados de 2000, apenas 36% da população vivem nas cidades, exatamente nestas áreas litorâneas, que eles denominam como Zonas de Proteção às Exportações (ZPEs). O retorno do território de Hong Kong à China, na década de 1990, também representou um forte impulso ao crescimento econômico. Hong Kong já era um Tigre Asiático, com uma política econômica das mais liberais do mundo, o que atraia grandes investimentos estrangeiros. Sob o poder da China, Hong Kong agora é o maior porto chinês e representa uma parte considerável da sua economia. A China é considerada uma promessa para a economia do século XXI. Apesar de todo esse crescimento que realmente vem apresentando, uma característica é comum aos países pobres: o aumento das desigualdades sociais Aula 22_A globalização da Economia × Temática: A Globalização da Economia Estamos iniciando uma nova unidade que tem por objetivo trabalhar com a globalização da economia e a regionalização do mundo em blocos econômicos mundiais. Para iniciar essa discussão, trabalharemos com a concepção de globalização. Nosso objetivo será compreender as transformações espaciais associadas à globalização que tem a questão econômica como seu cerne. O tema da globalização econômica do mundo atual é debate de várias ciências diferentes. Cada pesquisador, com base no seu objeto e método de trabalho próprio, irá analisar esse mesmo foco com um olhar diferente. Nós, geógrafos e estudantes de geografia, faremos uma análise da globalizaçãono que ela possui de relação com a produção do espaço. Assim, sem perder o nosso foco central, veremos agora quais transformações espaciais estão associadas à intensificação das trocas comerciais, financeiras, pessoais e informacionais do mundo atual. O conceito de globalização é algo que está permanentemente em discussão. Alguns autores preferem falar de mundialização, justificando que este termo refere-se às relações sociais, culturais, políticas e não apenas econômicas como a globalização. Realmente, popularizou-se denominar a globalização de econômica, dando um destaque maior dessa esfera em relação às demais. A globalização, bem verdade, aproximou e intensificou o ritmo da produção econômica entre os países, mas também, nós entendemos que, até como consequência, trouxe junto aos aspectos econômicos as demais esferas da vida. Independente dos termos utilizados que nesta disciplina serão considerados sinônimos, a questão é que a globalização: tem um aspecto material: por exemplo, os fluxos (movimentos) do comércio, dos capitais e das pessoas que circulam entre os Estados nacionais. Eles são facilitados por tipos diferentes de infraestrutura: física (transportes, sistema bancário), normativa (as normas ou regras do comércio internacional) e simbólica (o inglês como língua global). O mundo ficou mais interligado. Como consequência disso tudo, fatos que ocorrem no outro extremo do globo podem ter sérios impactos na nossa sociedade, enquanto acontecimentos locais podem gerar repercussões mundiais. (Held & McGrew, 2001, p. 20) Para que esses fatos, acontecimentos e movimentos citados acima tivessem a condição que tem hoje de navegar de forma virtual pelo mundo em segundos e de forma presencial em poucas horas, houve uma revolução em termos de meios de transporte e comunicação. Foram os avanços nestas duas áreas que possibilitaram o encurtamento das distâncias que o mundo globalizado nos oferece hoje. E esses avanços foram conquistados no final do século XX na Terceira Revolução Industrial, também denominada Revolução Técnico-Científica ou Revolução Informacional. O próprio nome, revolução técnico-científica e revolução informacional, nos dão pistas do que vem a ser esse importante momento histórico. Trata-se da substituição das antigas indústrias automobilística e petroquímica como centros da economia do mundo para as indústrias de informática, robótica, biotecnologia, telecomunicações, microeletrônica, dentre outras. Claro que a Revolução não se limita apenas à substituição de ramos industriais, e sim a todas as mudanças em curso no mundo que estão associadas diretamente ao desenvolvimento de produtos de alta tecnologia, como os avanços já citados na velocidade dos meios de transportes e meios de comunicação. Se pararmos para refletirmos um pouco sobre as nossas vidas hoje, nas nossas tarefas cotidianas, podemos perceber rapidamente o impacto que essa Revolução teve e ainda terá, pois ela ainda não finalizou, nas nossas vidas. Um exemplo bem fácil de entender isso é o nosso curso a distância. Se não fossem os avanços na área de microeletrônica, produzindo computadores cada vez mais avançados e menores, e na informática, com a produção de softwares interativos e ambientes de aprendizagem virtual, como este que utilizamos, não teríamos hoje condições de manter um curso de graduação a distância. A globalização, que pode também ser encarada como mais uma fase do capitalismo, sendo este um capitalismo informacional, também colabora hoje para o aumento das disparidades sociais e regionais. As disparidades sociais nós já conhecemos, pois trabalhamos com esta ideia na unidade anterior. Só não podemos esquecer que hoje, mesmo dentro dos países mais ricos, nem toda a sociedade tem acesso a essas modernas tecnologias, a ponto de ser criada, na mídia e nas discussões teóricas, uma nova exclusão, a digital. Mas, é nas desigualdades regionais que a globalização mais acentuou a problemática social. Todos esses avanços da era digital, dos meios de comunicações e transportes modernos e ágeis não foram feitos para todos os lugares do mundo. Na verdade, a globalização, que Milton Santos (1978) denomina de “globalização perversa”, privilegiou, uma vez mais, os países ricos e alguns países pobres que conseguiram, de forma periférica, acompanhar algumas transformações, como o Brasil. Segundo Santos (1994, p.17) a mundialização que se vê é perversa. Concentração e centralização da economia e do poder político, cultura de massa, cientificização da burocracia, centralização agravada das decisões e da informação, tudo isso forma a base de um acirramento das desigualdades entre países e entre classes sociais, assim como da opressão e desintegração do indivíduo. Nessa aula trabalhamos com a ideia do que vem a ser a globalização e quais são seus principais impactos no mundo de hoje. Vimos também como a globalização aumenta as disparidades regionais e sociais. Aula 23_Mundialização e Metropolização × Temática: Mundialização e Metropolização Um fenômeno mais recente do processo de globalização, que possui uma repercussão direta para o espaço, é a metropolização dos espaços urbanos. Segundo Lacourt (1999, p.64) o processo de metropolização diz respeito “ao conjunto de processos que privilegiam as grandes dimensões urbanas marcadas pelas transformações do sistema produtivo apreendido a nível internacional e mundial”. Georges Benko, um geógrafo francês, também trabalha com a problemática da globalização econômica e seus efeitos sobre a metropolização. É considerado hoje um dos maiores geógrafos do mundo, pela sua extensa produção bibliográfica. Para o autor, a metropolização pode ser definida como a proliferação das áreas metropolitanas no mundo, inclusive em países pobres, guardando uma estreita semelhança entre a maior parte dessas áreas metropolizadas. Isso significa, em outras palavras, a proliferação em escala cada vez mais ampliada e intensa da formação de metrópoles. Metrópole em si não é novidade e nem característica somente do atual momento histórico, desde fins da década de 1970 as metrópoles já eram uma realidade nos países mais ricos e desde a década de 1980 podemos identifica-las no Brasil. O que diferencia a metropolização atual da pretérita é a forma urbana dessa metrópole e o papel de comando, cada vez mais centralizado, que essa metrópole exerce. Segundo Lencioni (2008, p.9) A metrópole contemporânea, devido ao seu espraiamento territorial e a conturbação de cidades apresenta uma densidade populacional menor que a metrópole coesa do passado. Seus limites territoriais são difusos, dado o grande grau de dispersão, por exemplo, da população, das atividades de consumo, da área construída e das atividades produtivas. A imagem de satélite a seguir nos dá uma ideia mais concreta do espraiamento territorial (avanço do espaço construído pelo espaço natural) e da dispersão. Observe a extensão da área ocupada pela metrópole e os espaços vazios que se formam entre eles. Imagem de satélite da metropolização paulista Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-116226/20-imagens-de-satelites-de-cidades-registradas-pela-nasa. Acesso em 26.04.2014. Na imagem acima podemos notar no litoral (a leste da imagem) a Região Metropolitana da Baixada Santista e no centro-oeste da imagem a área adensada da Região Metropolitana de São Paulo. Ainda assim, como Lencioni (2008, p.10) mesmo completa, não significa que a metrópole tenha diminuído a sua importância ou fragmentado o seu poder de concentração. Ao contrário disso, a metrópole (...) possui um alto coeficiente de concentração, a exemplo da concentração de trabalho qualificado, de serviços produtivos, ou seja, daqueles serviços voltados ao atendimento às empresas, notadamente de empresas com fortes vínculos com o mercado mundial, de fluxos virtuais, de população, de renda e de edifícios verticalizados. Em outras palavras, a metropolização do espaço associada à nova forma urbana das metrópoles centralizou ainda mais o capital, o poder e a tecnologia na metrópole,reafirmando o seu importante papel no atual mundo globalizado. Benko (2002) procura analisar a estreita ligação entre a mundialização da economia com a padronização imposta de costumes, culturas e consumo com a crescente expansão vertical das áreas urbanas no mundo. O autor diz que com o processo de mundialização da economia, até mesmo as áreas urbanas metropolizadas estão passando a assemelhar-se entre si, padronizando, neste sentido, a produção do espaço urbano. Lencioni (2008) sintetiza no quadro abaixo as principais características da atual metropolização e a diferencia da anterior, típica da formação de metrópole coesa e sem fragmentação. Fonte: LENCIONI, 2008, p.16 Para saber mais acesse na sala os textos que foram utilizados para a redação dessa aula. São os artigos de Sandra Lencioni e George Benko, dois importantes geógrafos que tratam da relação entre metropolização e globalização. Boa Leitura! Aula 24_Globalização X Fragmentação × Temática: Globalização X Fragmentação Na aula passada, terminamos discutindo a questão das desigualdades regionais que são (re)produzidas pela globalização. Avançando um pouco mais nesta linha, trabalharemos uma questão que é antagônica em sua gênese, mas que, no atual período, serve a reprodução do sistema capitalista: a fragmentação e a globalização. Nos discursos mais favoráveis e positivos em relação ao processo de globalização, sempre há a questão das facilidades de comunicação e transporte, a questão das distâncias hoje serem relativas por conta do aperfeiçoamento técnico dos meios de circulação, enfim, uma série de vantagens que a globalização nos oferece hoje. Uma das questões mais declaradas da globalização é a possibilidade da circulação fácil e rápida de mercadorias, capitais, pessoas e informações, o que se convencionou denominar de fluxos da globalização. Mas, será que realmente isso existe? Ou, de uma forma mais clara, esses fluxos globais estão disponíveis em qualquer lugar e a qualquer pessoa? Nós sabemos que não. E sabemos bem disso, pois moramos em um país pobre que não possui para a sua população portas abertas em outros países. Quem já fez uma viagem internacional, sobretudo para a Europa Ocidental ou EUA, sabe que, muitas vezes, brasileiros ou quaisquer outros latinos-americanos não são tão bem-vindos Assim como acontece com a população, também acontece com as mercadorias. Em um mundo dito global, as mercadorias deveriam ter acesso fácil a qualquer outro mercado nacional. Mas, sabemos bem que essas práticas acontecem apenas para as mercadorias dos países ricos. Muitos desses países ricos, como os EUA, ainda adotam regras de protecionismo de mercado interno, elevam as taxas para entrada de produtos estrangeiros em seus países para proteger os seus próprios produtos. Se pensarmos bem, isso é um antagonismo ao processo de globalização. E em relação aos meios de informação. Você já percebeu o quanto de informação não é repassado ou transmitido por interesses de países ricos ou grandes empresas? Nós só ficamos sabendo daquilo que as grandes agências de informações nos deixam ter acesso, e com certeza, isso representa muito pouco em relação à cobertura feita por essas agências. Mas, se é assim, e o ideal de livre circulação entre os países? Na verdade, isso não existe, ou melhor, até existe, mas é para poucos. Por isso o processo de globalização de forma muito contraditória estimula a fragmentação do mundo atual. Essa fragmentação se refere à regionalização do mundo em blocos econômicos. É dentro dos blocos que nós encontramos, de verdade, alguma integração econômica e social. Esse é o tema das próximas aulas. O processo de globalização não garante aos países o acesso aos fluxos globais, privilegiando as trocas entre os países ricos. Vamos ver nas próximas aulas que a fragmentação do mundo em blocos econômicos, apesar de contraditória ao ideal de globalização, é o que permite hoje uma integração econômica e social. Aula 25_Os blocos econômicos mundiais × Vamos discutir um pouco o que são blocos econômicos e quais os tipos de integração que existem entre eles. Os processos de globalização e fragmentação, apesar de contraditórios em tese, deram origem a regionalizações mundiais baseadas nos interesses comerciais e econômicos entre os países. A essa regionalização nomeamos de blocos econômicos mundiais. Os blocos econômicos possuem graus de integração diferente entre os seus países membros. Essa integração vai ao encontro dos próprios objetivos estabelecidos pelos países que compõem o bloco quando de sua formação. Podemos dividir esse grau de integração econômica entre os blocos em quatro tipos: · Zona de Livre Comércio: Esse é o primeiro grau de integração econômica, onde apenas as mercadorias podem circular livremente entre os países membros. Isso significa dizer que entre os países que pertencem a esse bloco não há tarifas alfandegárias. Esse é o caso da maior parte dos blocos econômicos existentes hoje no mundo, como o NAFTA, SADC, ASEAN e as futuras integrações da APEC e ALCA. · União Aduaneira: Na União Aduaneira, além da livre circulação de mercadorias, há também a criação de uma única taxa de impostos para produtos importados de países de fora dos membros do bloco. O único caso é o MERCOSUL. No MERCOSUL, por exemplo, um produto importado da Europa que vá entrar no mercado de dois países diferentes (Argentina e Brasil) pagam a mesma taxa de impostos nos dois países. · Mercado Comum: Além das suas integrações anteriores, no Mercado Comum há também a livre circulação de capitais, pessoas e serviços, a padronização de impostos e leis e a criação de órgãos supranacionais para a administração do bloco. Não há no mundo hoje um bloco que seja um mercado comum. A União Europeia já foi um mercado comum, mas evoluiu para o último grau de integração. · União Econômica e Monetária: Além de todos os tipos de integração apresentados anteriormente, neste caso, há também a padronização da política macroeconômica, com o estabelecimento de taxas de câmbio, juros, nível de endividamento público, entre outras medidas, que são comuns a todos os países. Também neste tipo de bloco há a adoção da moeda única e a criação de um Banco Central. Só a União Europeia chegou até hoje a este nível de integração dos países membros do bloco. O quadro a seguir apresenta de forma resumida as principais características dos diferentes tipos de blocos econômicos: Fonte: CARVALHO, M. A.; SILVA, C. R. L. Economia internacional. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 227. Nas próximas aulas, vamos trabalhar separadamente com cada bloco econômico. Veremos na análise detalhada dos blocos que alguns tipos de liberdades que deveriam existir dentro deles, não são realmente garantidas a todos os países que pertencem àquele bloco econômico. Pesquise mapas dos principais blocos econômicos e guarde-os para você já ir compreendendo a relação entre os países que os compõem. Boa Pesquisa! Aula 26_ A União Europeia × Temática: A União Europeia Vamos iniciar as nossas discussões sobre os blocos econômicos, com a análise do bloco que constitui a maior integração, a União Europeia; e procurar entender como a União Europeia se formou e conseguiu atingir o atual estágio de União Monetária. Para iniciar nossas discussões sobre a União Europeia acesse o site oficial do bloco http://europa.eu/index_pt.htm (acesso em 04 out. 2007). Há uma versão em português (de Portugal) para você navegar no site. Vá até o link “A UE num ápice” e depois no item “História”. Nesse link há toda a história da fundação e expansão do bloco econômico europeu, inclusive com vídeos de fatos históricos, como o dia da assinatura, em 1952, do primeiro acordo econômico entre os países europeus. Nesse mesmo site, outro link http://europa.eu/abc/history/animated_map/index_pt.htm (acesso em 04 out. 2007) apresenta uma animação em flash bem interessante que mostra, ano a ano, a expansão da União Europeia e a candidatura dos países a ingressar no bloco. Observe na animação como a partir da década de 1990 aumentam muitoos países ingressantes no bloco. Por que será que isso acontece? No mapa a seguir temos a representação dos 27 países-membros da UE em 2007 e os 3 países candidatos: Iugoslávia, Croácia e Turquia. Observe com atenção o mapa. Compare esse mapa com os que você observou na animação no Portal da União Europeia. Veja o que percebe em relação aos primeiros países-membros e os atuais? União Europeia em 2007 Fonte: http://europa.eu/abc/maps/index_pt.htm Acessado em 04 out. 2007. Encontramo-nos nas discussões virtuais para trocarmos a nossas conclusões em relação a essas questões propostas. Aula 27_Os desafios da União Europeia no início do século XXI × Temática: Os desafios atuais da União Europeia Vamos discutir os principais desafios que a União Europeia enfrentou com a integração de 27 países na primeira década do século XXI, muitos deles díspares em relação ao desenvolvimento econômico e social. A União Europeia, o maior e mais importante bloco econômico do mundo, em 2007 era formado por 27 países e 3 países candidatos. Você, na aula passada, acompanhou a animação do Portal da UE e listou os países que a integram. Dentre esses países, em tese, deveria haver a livre circulação de pessoas, capitais, informação e mercadorias, além da adoção da moeda única e do estabelecimento de regras comerciais únicas. Também estava em discussão neste mesmo período uma única constituição para a União Europeia. Por que dizemos que essa integração é em tese? Porque isso é o que dizem os documentos e, mais ou menos, o que acontecia até a entrada em 1995 de países com o nível econômico e social muito diferente daqueles que iniciou o processo de integração. Nosso objetivo hoje é discutir, num primeiro momento, alguns dados que nos mostram essa discrepância entre os países e, logo após, discutirmos as medidas que estão sendo tomadas neste sentido na UE. Acesse no nosso ambiente de aprendizagem o arquivo da seguinte publicação: “Factos e Números Essenciais sobre a União Europeia”. Lembre-se que a publicação é em língua portuguesa de Portugal, por isso alguns termos não são exatamente iguais, mas é possível entendermos. Essa publicação é a divulgação oficial dos dados físicos, populacionais, sociais, econômicos, políticos e culturais dos países que compõem a UE. Observe que na publicação, são 25 os países integrantes, pois data de 2005. Depois de dar uma olhada em todo o material apresentado, vá ao item Qualidade de vida na p.18. Observe o gráfico de PIB por habitante em ‘PPC’ para o ano de 2003. Veja que ‘PPC’ significa “padrão de poder de compra”, uma moeda artificial criada para fins estatísticos, que tem como objetivo homogeneizar a equiparação de todas as moedas existentes ainda na Europa. Escreva o que você conseguiu perceber através da comparação dos dados. Observe agora o mapa da p.22. Este mapa está representando a relação entre a renda em ‘PPC’ de regiões delimitadas dentro dos países-membros e a média de renda da UE. Assim, veja que muitos lugares apresentam a metade da renda média dos países-membros, como por exemplo, boa parte dos países do leste europeu. Enquanto isso há também áreas onde a renda é maior do que a média do bloco, como por exemplo, regiões ao norte da Itália, Áustria, sul da Alemanha e algumas partes da França. Observe também aos dados sociais de despesas com educação, qualificação da mão de obra, acesso a computadores, dentre outros dados apresentados pela publicação. O que você consegue perceber? Você deve ter percebido através da análise desses dados que o nível social dos países-membros da UE é muito diferente. Vá agora até o item “Comércio e Economia” na p.46. Observe também com atenção os dados mostrados sobre PIB e participação no comércio internacional. Anote as suas principais conclusões. Por último, para encerrar essa análise, localize na p.68 o gráfico de problemas levantados pelos cidadãos dos países-membros. Veja que o maior problema citado pelos cidadãos entrevistados, quase metade deles, é o desemprego. Qual será a relação entre todos esses dados? A que conclusões podemos chegar sobre a comparação desses dados e a análise da situação atual da UE? De qualquer forma, o quadro que se apresenta em relação aos países-membros é extremamente instável, o que forçou, em certa medida, a restrição de certas liberdades conquistadas com as assinaturas dos tratados. Voltando ao questionamento feito por nós no início dessa aula (por que dissemos que essa integração é em tese?), acreditamos que a análise dos dados nos mostrou o motivo da integração em tese. Se é verdade, vamos ver o que ainda não está totalmente integrado. O Reino Unido e a Irlanda, por exemplo, em 2005, mantinham suas fronteiras sob controle, não permitindo a livre circulação de moedas. O Reino Unido, a Dinamarca e a Suécia optaram por não adotar ainda o ‘Euro’ como única moeda em seus países. É importante considerar que, mesmo dentro do continente europeu, no maior e mais importante bloco econômico do mundo, nós encontramos disparidades de desenvolvimento econômico e social. Aula 28_NAFTA × Temática: O Nafta e o projeto da ALCA Analisaremos nessa aula os dados econômicos e sociais do bloco econômico do Nafta, formado pelo EUA, México e Canadá e apresentaremos algumas diretrizes do projeto de criação do bloco da ALCA que fracassou nas Américas na primeira década do século XXI. O NAFTA (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio) é um bloco formado pelo EUA, Canadá e México que possui apenas o primeiro grau de integração econômica: a livre circulação de mercadorias. Este bloco, firmado em um acordo trilateral de 1992 para vigorar a partir de 1994, possui, segundo o site oficial do bloco1, dentre seus principais objetivos: Eliminar as barreiras alfandegárias e facilitar o movimento de produtos e serviços entre os territórios dos países participantes; Promover condições para uma competição justa dentro da área de livre comércio; Aumentar substancialmente oportunidades de investimento dos países participantes; Oferecer proteção efetiva e adequada e garantir os direitos de propriedade intelectual no território de cada um dos participantes; Criar procedimentos efetivos para a aplicação deste tratado, para sua administração conjunta e para a resolução de disputas; Estabelecer uma estrutura para futura cooperação trilateral, regional e multilateral para expandir e realçar os benefícios deste acordo. Os objetivos, conforme podemos perceber, são bem gerais e restringem a liberdade às mercadorias. O último objetivo, de expandir a cooperação, poderia até sugerir um aumento das liberdades entre os países, porém, a análise da realidade e das relações entre esses países, sobretudo entre México e EUA, não nos deixam crer que isso possa ocorrer. Afirmamos isso, pois há um conflito entre o governo mexicano e o norte-americano em relação ao fluxo ilegal de pessoas do México para os EUA. Essa população, ilegal, com baixa renda familiar (quando a tem) e sem condições de se manter no território americano, tem aumentado os desníveis sociais dos EUA e impulsionado o nível do desemprego no território americano. Por conta disso, em 2005, o presidente norte-americano anunciou a intenção de construir um muro delimitando a fronteira entre os dois países. Internacionalmente, essa proposta não foi bem recebida, chegando ao ponto de alguns pensadores mais críticos da Europa comparar esse muro ao ‘Muro de Berlim’. O muro, apresentado na fotografia a seguir, faz parte da política anti-imigratória do EUA que busca coibir o acesso ao país de imigrantes ilegais. A área do muro é vigiada por sistema de segurança, possui uma iluminação diferenciada para registrar a passagem de pessoas e vigilância eletrônica. Muro entre EUA e México Fonte: http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=594&evento=6. Acesso em 07.06.14 Outra situação conflituosa entre esses países é a questão dos subsídios agrícolas dados aos agricultores do EUA. Esses subsídios, que são linhasde crédito especiais, concessões de impostos, investimentos em infraestrutura, têm quebrado a maior parte dos fazendeiros no México. Isso acontece, pois com os subsídios, os gêneros alimentícios de origem norte-americana chegam mais baratos ao mercado mexicano, diminuindo a venda e muitas vezes, levando à falência o produtor rural mexicano. Em relação ao papel do Canadá e suas relações com os parceiros do bloco, poucas pesquisas apontam alguma tendência desse país. Sabe-se hoje que o Canadá estabelece relações comerciais em maior quantidade com os parceiros do que com países de fora do bloco, e que, com uma porcentagem muito inferior ao EUA, há um aumento do desemprego no país. O projeto de criação da ALCA seguia um modelo muito semelhante a da Nafta com a intenção apenas de possibilitar livre circulação de mercadorias. Vamos discutir um pouco as implicações de sua criação na economia de alguns países, particularmente na economia brasileira. A Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA, foi um acordo de livre comércio idealizado pelo EUA que, no seu projeto, visava integrar todos os países da América, com exceção de Cuba. O objetivo deste bloco, delineado em 1994 na Cúpula das Américas, era ser uma zona de livre comércio, abolindo totalmente as tarifas alfandegárias entre os países. No total, seriam 34 países com PIB estimado acima de 13 trilhões de dólares. Leia o texto disponibilizado na página da disciplina (“O canto da sereia: América Latina perante a ALCA” de Sonia de Camargo) para conhecer um pouco mais sobre o projeto ALCA e as relações e repercussões na economia dos países pobres, particularmente do Brasil. A autora, neste texto, faz uma breve introdução da relação entre a globalização e o processo de fragmentação do mundo, tema este já abordado por nós em aulas anteriores, dizendo que os atuais regionalismos (formação dos blocos econômicos) constituem a forma de uma rápida (re)produção do capital industrial e financeiro, favorecendo sempre a manutenção da riqueza concentrada na mão dos países mais ricos. Em relação à abordagem da ALCA, a autora faz uma relação entre os interesses e impasses norte-americanos da integração do continente como um todo com o NAFTA, bloco este formado pelo EUA, Canadá e México. A autora ressalta algumas questões levantadas no período de formação do NAFTA pelos próprios políticos de ambos os lados (democratas e republicanos) em relação a alguns problemas que poderiam ser gerados com a assinatura do acordo. Um deles, também alvo de crítica para a ALCA, pelos próprios políticos do EUA, é a questão da força do trabalho e do nível do emprego. Com a integração, seja ela do NAFTA como o projeto da ALCA, há uma tendência lógica de utilização de uma mão de obra mais barata por parte das grandes empresas industriais nos países mais pobres do continente, o que refletirá de forma negativa no nível de emprego dos EUA. Outra questão apontada pela autora nos projetos da ALCA e do atual NAFTA é a questão da dificuldade de manter as indústrias nacionais por parte dos países mais pobres do continente, dada a concorrência com os produtos norte-americanos. Essa, sem dúvida alguma, é a principal questão a ser debatida pelos países mais pobres do sistema e, por outro lado, como afirma a autora, é o principal interesse do governo e das empresas norte-americanas na aprovação e efetivação do projeto da ALCA. O projeto do ALCA foi rejeitado pela maior parte dos países latino-americanos no início do século XXI, momento este que muitos países da América Latina passaram por profundas mudanças políticas com a chegada de partidos de esquerda aos governos nacionais. Trabalhamos hoje com a análise do bloco norte-americano do NAFTA e com a apresentação do que foi o projeto da ALCA, indicando alguns problemas que emperram a sua maior integração. ____ 1 Para maiores informações: www.nafta-sec-alena.org/. Acesso em 04 out. 07. Aula 29_O MERCOSUL × Temática: O MERCOSUL O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), do qual o Brasil faz parte, é um bloco econômico que integra hoje cinco países-membros e outros cinco, em 2007, associados ao bloco. Na América do Sul, desde 1992, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai formam um bloco econômico, denominado de Mercado Comum do Sul. Apesar do nome, até 1995 esse bloco restringia-se a liberdade do fluxo de mercadorias, portanto uma zona de livre comércio. A partir de 1995, foi assinado um novo acordo entre os quatro países de adoção de uma única taxa de importação, que varia de 0 a 20% dependendo do produto. Em 2006, a Venezuela, que já era um país associado, entrou como membro para o Mercosul, perfazendo agora um total de cinco países, representados no mapa abaixo. Mapa 1 – Países membros do Mercosul Fonte: MERCOSUR. Disponível em: <https://bit.ly/1QNjenQ>. * A República Bolivariana da Venezuela encontra-se suspendida em todos os direitos e obrigações inerentes a sua condição de Estado Parte do Mercosul, em conformidade com o disposto no segundo parágrafo no artigo 5o do Protocolo de Ushuaia. ** O Estado Plurinacional da Bolívia encontra-se em processo de adesão ao bloco. O MERCOSUL ainda não conseguiu atingir o seu objetivo pleno, transformar-se em um bloco econômico do tipo mercado comum, permanecendo até hoje como uma União Aduaneira. Isso aconteceu devido a alguns problemas enfrentados pelo bloco no início do século XXI, com a crise na economia argentina em 2002 e a recusa da ajuda do governo norte-americano em relação a este país. Muitos pesquisadores e analistas internacionais dizem que a recusa ocorreu por conta de uma intenção do governo norte-americano de enfraquecimento do MERCOSUL, já que há uma intenção desse governo de implementar a Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA, que será nosso objeto de estudo na próxima aula. Outras dificuldades também ocorrem neste bloco, como a frágil estabilidade econômica dos países, a pouca participação desses países no mercado internacional, o montante da dívida externa que esses países somam e a dependência de suas economias ao capital externo. Em relação ao Brasil, podemos dizer que este alcança um papel de destaque na área econômica entre os países do bloco. Em relação ao PIB total do bloco, segundo dados do Banco Mundial para o ano de 2004, mais de 80% dele referem-se à economia brasileira. Sobre a participação do bloco no comércio internacional, mais de ¾ são de mercadorias brasileiras. Em contrapartida, na área social o Brasil não possui bons índices em comparação aos demais países do bloco. Em relação ao IDH, o Brasil (0,792) possui um valor inferior a média do bloco que é 0,809, o que significa que o Uruguai (0,851) e a Argentina (0,863) possuem um IDH superior ao nosso e o Paraguai (0,757) e Venezuela (0,784) assemelham-se muito ao nosso índice. Acesse o site oficial do Mercosul (http://www.mercosur.int/msweb/) e pesquise mais informações sobre o papel do Brasil no bloco. Vamos trocar essas informações! Aula 30_A ALCA × Temática: A ALCA Vamos analisar o projeto de criação da ALCA e as implicações de sua criação na economia de alguns países, particularmente na economia brasileira. A Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA, é um acordo de livre comércio idealizado pelo EUA que, no seu projeto, vai integrar todos os países da América, com exceção de Cuba. O objetivo deste bloco, delineado em 1994 na Cúpula das Américas, é ser uma zona de livre comércio, abolindo totalmente as tarifas alfandegárias entre os países. No total, seriam 34 países com PIB estimado acima de 13 trilhões de dólares. Leia o texto disponibilizado na página da disciplina (“O canto da sereia: América Latina perante a ALCA” de Sonia de Camargo) para conhecer um pouco mais sobre o projeto ALCA e as relações e repercussões na economia dos países pobres, particularmente do Brasil. A autora, neste texto, faz uma breve introdução a relação entre a globalização e o processo de fragmentação do mundo, tema este já abordado por nós em aulas anteriores, dizendo que os atuais regionalismos (formação dos blocos econômicos) constituema forma de uma rápida (re)produção do capital industrial e financeiro, favorecendo sempre a manutenção da riqueza concentrada na mão dos países mais ricos. Em relação à abordagem da ALCA, a autora faz uma relação entre os interesses e impasses norte-americanos da integração do continente como um todo com o NAFTA, bloco este formado pelo EUA, Canadá e México. A autora ressalta algumas questões levantadas no período de formação do NAFTA pelos próprios políticos de ambos os lados (democratas e republicanos) em relação a alguns problemas que poderiam ser gerados com a assinatura do acordo. Um deles, também alvo de crítica para a ALCA, pelos próprios políticos do EUA, é a questão da força do trabalho e do nível do emprego. Com a integração, seja ela do NAFTA como o projeto da ALCA, há uma tendência lógica de utilização de uma mão de obra mais barata por parte das grandes empresas industriais nos países mais pobres do continente, o que refletirá de forma negativa no nível de emprego dos EUA. Outra questão apontada pela autora nos projetos da ALCA e do atual NAFTA é a questão da dificuldade de manter as indústrias nacionais por parte dos países mais pobres do continente, dada a concorrência com os produtos norte-americanos. Essa, sem dúvida alguma, é a principal questão a ser debatida pelos países mais pobres do sistema e, por outro lado, como afirma a autora, é o principal interesse do governo e das empresas norte-americanas na aprovação e efetivação do projeto da ALCA. Faça as suas anotações do que você considerou mais importante para a nossa discussão no fórum. Não esqueça também de anotar as suas dúvidas para conversarmos sobre elas. Bom Trabalho! Aula 31_A África e a formação de blocos econômicos × Temática: A África e a formação de blocos econômicos A África, o continente que concentra a maior parte da pobreza mundial, também tem acenado para a possibilidade da formação de blocos econômicos. Apesar de sua pouca expressão, vamos discutir sobre a viabilidade desses blocos e a melhoria das condições socioeconômicas que isso possa significar. A África, o continente mais pobre do mundo e com países nas piores condições econômicas, possui três acordos de cooperação: a Comunidade Econômica e Monetária da África Central, e Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Mapa 1 – Países pertencentes ao SADC (2007) Fonte: http://www.sadc.int/. Acessado em 04 out. 2007. Dentre os três blocos, apenas o último possui algum desenvolvimento, muito por conta da presença da África do Sul no bloco econômico. Dentre os objetivos do SADC estão à intensificação das trocas comerciais de produtos industrializados, matérias-primas, gêneros agrícolas e minerais e a ajuda mútua para engendrar o desenvolvimento dos países. Na tabela abaixo, estão listados os países que fazem parte desse bloco econômico e alguns dados relevantes para a análise. Tabela 1 – SADC: População, PNB e renda per capita Fonte: http://www.sadc.int/. Acessado em 04 out. 2007. A análise dos dados nos permite identificar a força da África do Sul no bloco, o país mais industrializado e de melhores condições de vida do continente. Em relação ao PNB, esse país responde por mais de 90% do PNB do bloco. Outro dado que chama muito a atenção em relação a esses países é a baixa renda per capita, como por exemplo, o caso da República Democrática do Congo, com 100 dólares per capita e Malavi com 160 dólares per capita. Com a condição econômica e social que os países africanos hoje possuem fica muito difícil apostar em um crescimento desse bloco econômico, o que justifica o fato de não compará-los aos outros blocos. Aula 32_A Ásia e a integração econômica × Temática: A Ásia e a integração econômica Para finalizar esta unidade e a disciplina vamos abordar a integração dos blocos econômicos na Ásia. A Ásia, continente de maior extensão do mundo, em que se localizam grandes potências mundiais: como Japão, China, Rússia e os Tigres Asiáticos não seguiu a mesma tendência dos demais continentes em relação à formação de blocos econômicos. Alguns pesquisadores, como Sene (2003), atribuem isso à rivalidade histórica dos países líderes do continente, como o Japão e a China, que tiveram um conflito no século XIX ligado ao domínio de território asiático. Assim, apesar de líderes mundiais, eles não lideram nenhum bloco econômico. O único bloco econômico atual do continente é a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), do qual China e Japão não fazem parte. A ASEAN foi criada em 1967 com a cooperação de cinco países – Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia – que se expandiu em 1992 para mais cinco países – Miamar, Laos, Vietnã, Camboja e Brunei, conforme representa o mapa abaixo: Mapa 1 – ASEAN: localização no mundo dos países-membros Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ASEAN . Acessado em 04 out. 2007. Mapa 2 – Países-membros da ASEAN (2007) Fonte: http://www.aseansec.org/69.htm. Acessado em 04 out. 2007. Esse bloco, definido por enquanto como uma zona de livre comércio, pretende até 2020 se transformar em um mercado comum, com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico e diminuir as disparidades socioeconômicas dos países-membros. Não podemos esquecer que, dentre os países pertencentes a esse bloco, encontramos alguns Tigres Asiáticos que, conforme vimos na Unidade II, são países com grande quantidade de capital estrangeiro investido e uma participação efetiva no mercado internacional. Existe também na Ásia um projeto de outro bloco econômico, a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) que contava em 2007 com 21 países-membros, dentre países asiáticos e americanos da bacia do Pacífico. Esse bloco tem a intenção, segundo o site oficial do bloco, de até 2010 integrar os países ricos em relação à livre circulação de mercadorias e pessoas e até 2020 a entrada dos países pobres. A disparidade também é uma característica deste bloco, aliás a maior disparidade em relação a qualquer outro bloco, pois reúne as potências mundiais do globo, como EUA, Japão, China e Rússia, ao mesmo tempo em que conta com países como Papua-Nova Guiné e Vietnã. Se realmente a APEC começar a vigorar como bloco econômico, formará a maior economia mundial com mais de 20 bilhões de dólares de PNB, uma renda per capita alta e detentora da mais moderna tecnologia industrial e informacional. Ásia é um continente que ainda não possui um projeto definido de integração econômico mundial. Acesse os sites oficiais dos dois blocos econômicos e pesquise mais informações relevantes sobre os projetos, intenções e resoluções dos dois blocos. Asean – www.aseansec.org/ Apec – www.apec.org/