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Geografia econômica

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Geografia econômica
Aula 01_A importância da Economia na Geografia
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Temática: A importância da Economia na Geografia
Essa aula procura fazer um panorama das preocupações e debates teóricos da Geografia Econômica, com o objetivo de focar nossos estudos na disciplina nesse semestre.
A relação entre Economia e Geografia é antiga. Há muito tempo o homem procura, nas questões de ordem econômica, algumas explicações para o entendimento do espaço terrestre. De outro lado, procuram-se explicações para o desenvolvimento econômico de certos lugares atrelando a uma questão espacial. Bons exemplos são as tradicionais discussões do uso da terra em relação a culturas que se adaptam a certos ambientes terrestres e climas.
Apesar de essa discussão ser antiga1, a Geografia desprezou por muito tempo as discussões da produção do espaço sob um paradigma econômico. A Geografia Tradicional, que você viu na disciplina “Formação da Ciência Geográfica”, dividia a Geografia em duas partes: os estudos da Geografia Geral e os estudos da Geografia Regional.
No primeiro, cabiam pesquisas de Economia como suporte à caracterização mundial. Assim, buscava-se mapear os lugares que possuíam certa atividade econômica predominante. No segundo caso, da Geografia Regional, a intenção era levantar todas as informações, dados e características de certo lugar, a fim de esgotar as possibilidades de entendimento daquela região. A Economia também entrava como um dos fatores para a análise daquela região.
Hoje, a Geografia Econômica alcançou um grande desenvolvimento teórico e metodológico, o que justifica ser um dos temas mais discutidos e pesquisados da Geografia.
Neste início de novo século, marcado pela globalização, avanço e poderio do capitalismo e adoção de um regime neoliberal pela maior parte dos países, a Geografia Econômica vem ganhando cada vez mais espaço no meio acadêmico e, principalmente, na mídia. Blocos Econômicos, Desenvolvimento Econômico, Desigualdade sócio-espacial, Aumento do PIB, Multinacionais e Transnacionais, Crise econômica -  essas “palavras” estão na mídia diariamente, utilizadas inclusive de forma errônea e mistificada. Você entende exatamente o que elas significam? O que será que nós, enquanto Geógrafos e professores de Geografia, temos com isso? Esse é um dos objetivos de nossa disciplina e convidamos você a percorrer esse caminho junto.
Essa disciplina visa mostrar a você que tudo isso tem muito a ver conosco, com a sociedade em geral e muito mais com a formação de uma sociedade com valores mais humanitários que você irá ajudar a formar na Educação Básica deste país.
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1 Há registros de estudos dos povos Maias, Incas e Astecas sobre o porquê de certas regiões conseguirem gerar uma quantidade grande de alimentos e outras não.
Aula 02_A Geografia Econômica e a História do Pensamento Geográfico
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Temática: A Geografia Econômica e a História do Pensamento Geográfico
Nesta aula vamos apresentar a Geografia Econômica como campo de pesquisa dentro da Geografia e destacar os tipos de pesquisa e seus objetivos segundo as linhas de pensamento predominantes na Geografia.
Consideraremos como nosso universo de análise, em nossa pesquisa, as três correntes do pensamento geográfico que mais contribuíram para o avanço do debate teórico-metodológico da Geografia: o positivismo, o historicismo e a dialética.
No âmbito da primeira escola, marcada, como você deve se lembrar, pelo destaque dos fenômenos físicos sobre os humanos, muitos trabalhos beiravam ao determinismo. As pesquisas tinham o objetivo de discutir a adaptação do homem em um determinado ambiente, sem uma intenção clara com a questão do Econômico. Muitas vezes, a questão econômica era apenas citada para compor a caracterização do local.
Já no historicismo a perspectiva da pesquisa se altera bastante. Nesta, o homem é visto como um ser ativo que influencia a natureza ao mesmo tempo em que sofre influência da mesma.  Segundo Nunes (2005, p. 85) “nos trabalhos desenvolvidos dentro dessa perspectiva, as atividades econômicas como agricultura, comércio e circulação são vistas como fatores de desenvolvimento humano”.
Particularmente, a partir dos estudos de Geografia Regional sob influência de Vidal de La Blache é que a Geografia inicia uma aproximação maior com o fator econômico. A economia como faz parte da realidade de determinada região, passa a ser analisada em conjunto com a produção do espaço regionalizada.
Apesar dessa inserção, a Economia não ganhava nenhum tipo de destaque no estudo regional. Era vista apenas como mais um elemento, mais um fator da produção do espaço e sem ligação com os demais.
A estrutura das monografias regionais francesas é bastante significativa para mostrar como isso ocorreu: havia a descrição geográfica (do quadro natural), e em seguida a caracterização da população e dos aspectos econômicos (NUNES, 2005, p. 85).
Na terceira linha de pensamento geográfico destacamos o materialismo histórico e dialético. Neste, o econômico passa a ser o centro da reflexão. Isso porque para os materialistas a infraestrutura é um importante paradigma no entendimento das relações sociais e nas relações da sociedade com o espaço.
Se a infraestrutura ganha essa conotação de paradigma, ou seja, passa a ser um objeto de análise em especial, capaz de nos revelar como as sociedades se relacionam e como, a partir dessa relação, o espaço é (re)produzido; o econômico passa a ser analisado na busca das explicações das condições técnicas, tecnológicas, operacionais, de distribuição e consumo dessa infraestrutura.
“Desta forma, o econômico deveria ser pensado como um elemento essencial do discurso, constituindo-se num componente interpretativo que permeava toda a análise geográfica” (NUNES, 2005, p. 85).
Assim, podemos concluir, por enquanto, que, apenas com o amadurecimento do materialismo histórico-dialético, a Geografia Econômica passou a ter um desenvolvimento que justificasse a posição de destaque que tem hoje dentro da Geografia.
Vimos, nesta aula, como a Economia apareceu no discurso e nas pesquisas da Geografia em três escolas do pensamento geográfico: o positivismo, o historicismo e o materialismo histórico-dialético. Concluímos que apenas na última corrente do pensamento geográfico é que a Geografia Econômica começa a se desenvolver como campo de estudos na ciência geográfica.
Retome o seu material da disciplina de Formação da Ciência Geográfica. Revise seus conhecimentos sobre as correntes do pensamento geográfico, pois são a base do entendimento da Geografia enquanto Ciência. Amplie seus conhecimentos, pesquise artigos que tratem desse tema. Uma boa dica é o site da Associação dos Geógrafos Brasileiros, que possui vários artigos de discussão teórico-metodológicas da Geografia.
Aula 03_A trajetória da Geografia Econômica no Brasil
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Temática: A trajetória da Geografia Econômica no Brasil
 
Dando continuidade a nossa primeira unidade da disciplina, faremos uma breve discussão sobre a trajetória da Geografia Econômica nas pesquisas brasileiras. Destacamos alguns geógrafos de renome para conhecermos um pouco mais os principais autores da Geografia no Brasil que lidam com a relação de nossa ciência com a Economia.
A Geografia Brasileira passou por um período de grande renovação no final da década de 1970, particularmente após a publicação no Brasil de textos de autores críticos como Yves de Lacoste (A Geografia serve, antes de mais nada, para fazer a guerra), em 1977, e Milton Santos (Por uma Geografia Nova), em 1978.
Essa renovação da Geografia trouxe de volta a discussão (que estava esvaziada até então) dos caminhos que a Geografia deveria percorrer enquanto ciência comprometida com a sociedade.
Mais que isso, esse movimento de renovação, deixando a Geografia Tradicional para trás, retomou o próprio debate do objeto, o método e o significado da Geografia. Moraes (1995) indica que, a partir desse movimento, a Geografia brasileira se dividiu em duas vertentes de análise do espaço: a Geografia Pragmática e a Geografia Crítica.
A Geografia Pragmática afiliou-sejá num primeiro momento ao Planejamento do Estado. Muito claramente seu objetivo era servir das pesquisas da Geografia ao interesse do Estado em termos de modelos de planejamento e organização do espaço. Muitos autores desta linha de pensamento falam de uma Geografia Aplicada.
Com o avanço epistemológico desta linha de pensamento outros valores passaram a ser incorporados. Um dos mais fortes foi a questão da quantificação da Geografia. Os pesquisadores buscavam dados estatísticos para a comprovação de uma determinada teoria e, a partir dos dados, elaboravam modelos para a explicação da realidade. Por este fato, diante da produção de modelos explicativos da realidade, essa corrente também é conhecida na Geografia como neopositivismo. 
Na perspectiva do entendimento do espaço pela vertente pragmática, a Geografia Econômica ganha um enorme prestígio nas pesquisas feitas nas Universidades. Porém, a Geografia Econômica que era feita neste momento baseava-se no levantamento de dados estatísticos de uma determinada atividade, como por exemplo, a produção de um gênero alimentício, a comercialização e produção de certo produto industrializado com o objetivo de servir como dado de parâmetro, como instrumento do planejamento estatal.
Outra situação em que a Geografia Econômica aparecia nesta perspectiva era a discussão sobre o nível de desenvolvimento econômico de certos países e o atraso de outros. A partir deste fato que é real, na perspectiva da Geografia Pragmática, procura-se formular modelos que expliquem e demonstrem o avanço de determinadas nações. Aquelas que não conseguiram atingir esse mesmo avanço são tidas como não capazes de cumprir as etapas do modelo formulado anteriormente1. 
De outro lado, a Geografia Crítica “de uma postura crítica radical, frente à Geografia existente (seja a Tradicional ou a Pragmática), a qual será levada ao nível de ruptura com o pensamento anterior” (MORAES, 1995, p. 112). 
A origem da Geografia Crítica no Brasil ocorre a partir da influência de alguns autores da Geografia francesa, particularmente da Geografia Regional da França, que buscavam uma ciência atrelada à História e à Economia. Por aí já dá para perceber a grande proximidade desta linha do pensamento com a Geografia Econômica.
Não só a Geografia francesa serviu de inspiração para o movimento da Geografia Crítica. Desde logo, estes autores, como Milton Santos, Ruy Moreira, Antonio Carlos Robert Moraes, dentre outros, se aproximaram das ideias do materialismo histórico-dialético de Karl Marx. Foi a partir do avanço, na Geografia, nas discussões da obra desse autor é que a Geografia Crítica e, por que não dizer, a própria Geografia enquanto ciência cresceu em termos de discussão teórica em torno do seu objeto e método de pesquisa.
A Geografia Econômica no Brasil passa, a partir desse momento, a ganhar um grande impulso devido ao arcabouço teórico advindo das ideias marxistas. Assim, proliferaram pesquisas sobre o valor da terra nas áreas rurais e urbanas; modernização da agricultura; desenvolvimento e subdesenvolvimento econômico dos países; desigualdade sócio-econômica, dentre outros temas que discutiremos nesta perspectiva de análise nesta disciplina.
Mais recentemente, na primeira década do século XXI, os estudos de Geografia Econômica ganharam novo impulso e desenvolvimento com autores como David Harvey e Neil Smith que procuram analisar, sob o ponto de vista geográfico, a origem e os ciclos das crises econômicas mundiais associadas aos limites claros que o sistema capitalista passou a evidenciar no início do século XXI. 
 
Aqui buscamos levantar alguns pontos importantes da trajetória da Geografia Econômica no Brasil, a partir do movimento de renovação da Geografia na década de 1970.
 
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1 Um bom exemplo deste tipo de situação é o livro de CHORLEY, R.; HAGGETT, P. Modelos sócio-econômicos em Geografia.
Aula 04_O espaço geográfico e a sua economia
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Temática: O Espaço Geográfico e sua Economia
 
Nesta aula discutiremos o objeto de estudo da Geografia, o espaço geográfico. Nesta discussão é nossa intenção destacar o fato econômico como um importante fator na (re)produção do espaço. Esse é um aspecto fundamental que precisa ficar claro. A Geografia Econômica não tem por objetivo analisar a economia mundial, mas sim compreender qual a relação entre a dinâmica econômica mundial, nacional, regional e até mesmo local e a transformação do espaço.
A Geografia enquanto ciência social possui um objeto, o que significa que ela possui um elemento a ser analisado que une a maior parte dos trabalhos realizados nesta ciência: o espaço.
No entanto, não adianta apenas pontuar o seu objeto de pesquisa. É necessário que esse objeto seja alvo de debate teórico com a finalidade de definir o mais claramente possível o seu conceito e a sua atuação enquanto objeto de pesquisa. Neste ponto, podemos afirmar que não há um consenso entre os pesquisadores; cada linha de pensamento, com as suas variáveis, conceituam o espaço de uma determinada forma, tornando-o um conceito polissêmico1.
Não é objetivo dessa disciplina elaborar uma longa discussão sobre os vários sentidos atribuídos ao mesmo conceito; nem mesmo, como fizemos nas duas últimas aulas, pontuar, nas linhas de pensamento mais utilizadas pela Geografia, a sua respectiva conceituação.
O nosso objetivo aqui, portanto, é mostrarmos como a questão econômica está sempre presente no espaço geográfico, e o quanto ela é um dos elementos fundamentais da produção deste espaço.
Não podemos deixar de lembrar, como destacamos nas três aulas anteriores, que a Geografia Econômica “sustenta primeiramente por apresentar uma característica básica: a precedência do fato/evento econômico na determinação dos processos e relações que produzem as diferentes formas espaciais” (NUNES, 2005, p. 84).
As formas espaciais que a autora cita podem ser compreendidas como o espaço, ou seja, como “um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento” (SANTOS, 1994, p. 26).
Esse conceito de Milton Santos sintetiza, a nosso ver, as principais características desse espaço, pois primeiro pontua a relação entre objetos geográficos, que são aqueles produzidos pela sociedade e que se materializam na paisagem (meios de transporte, meios de comunicação, construções com diferentes finalidades, a publicidade). Podemos defini-lo como as formas da paisagem; os objetos naturais, aqueles que são produzidos pela ação da natureza na sua relação com a sociedade, como parques, áreas verdes, praças; e os objetos sociais, estes últimos produzidos a partir das relações entre a própria sociedade.
Permeando isso tudo, Milton Santos ainda destaca que está a vida que anima e dá movimento a todos estes objetos fixos e fluidos. Não só dá movimento, como também a sociedade que vive nesse espaço é que vai, ao longo do tempo histórico, produzir um novo espaço.
Outra noção presente no conceito de Milton Santos é a de tempo histórico. O espaço é temporal, ou seja, ao longo do tempo o espaço vai sendo transformado, permeado pela técnica, pela tecnologia e pela informação. A velocidade das transformações hoje num mundo dito global imprime ao espaço essa mesma velocidade. Ele precisa ser e é constantemente modificado em suas formas com o objetivo de atender as necessidades da sociedade que vive ali.
Um bom exemplo do que dissemos acima são as lembranças de lugares que não existem mais em uma cidade. Quem nunca retornou após anos em um lugar que viveu no passado e mal conseguiu reconhecê-lo, tamanhas eram as mudanças desse lugar? Para aqueles que vivem em uma grande cidade, isso faz parte do dia a dia. Nas cidades médias ou pequenas, a velocidade das transformações é menor, mas não deixa de existir.
E o que faz esse espaço se transformar tão rapidamente a ponto, muitas vezes, de não nos reconhecermos como integrantes dele? Com efeito, poderíamos responder as relações econômicas nasmais variadas escalas de análise.
Vejamos isso com exemplos. Em uma cidade como São Paulo, em que as transformações são rápidas e podemos vê-las na alteração quase diária da paisagem, o que promove essas transformações? Observe as imagens abaixo:
 
Fotos 01 e 02 – Avenida Paulista em dois momentos distintos
Fonte: http://www.prodam.sp.gov.br/dph/spimagem/paulist.htm  e http://wikitravel.org/pt/S%C3%A3o_Paulo, acesso em 01 out. 2007.
                   
Pelas imagens, podemos notar a grande diferença entre a paisagem na mesma avenida de São Paulo em um intervalo de menos de 100 anos. Caberia aqui uma discussão, e isso é muito interessante de fazer com alunos do Ensino Fundamental e Médio, sobre as principais mudanças que as fotos nos revelam. Mas não é aqui nosso objetivo.
 
O que marca essas mudanças? Reflita um pouco, o que provocou tamanha mudança na paisagem de uma avenida em São Paulo? Certamente a sua resposta fará referência a alguma relação econômica.
São Paulo se transformou nestes 100 anos de uma cidade dos ‘barões do café’ (registradas na primeira foto através dos casarões na avenida) em uma metrópole mundial, que está em processo de transformação em uma megalópole, conectada através de fluxos materiais e imateriais com os principais centros financeiros e econômicos do globo.
Deu para entender a importância e o peso do, parafraseando Nunes na citação feita antes, “fato econômico na determinação dos processos e relações que produzem as diferentes formas espaciais”? 
Ao longo dessa disciplina, vamos no remeter a este raciocínio desenvolvido aqui várias vezes. Vale a pena dar uma revisada e procurar aprofundar um pouco os seus conhecimentos a respeito do conceito de espaço.
Discutimos a importância para a Geografia do conceito de espaço. Mostramos como o fato econômico está presente na estruturação do espaço como nas transformações que nele ocorrem durante o tempo histórico.
 Acesse o texto “Globalização e Geografia em Milton Santos”, disponível online em nossa página e aprofunde seus conhecimentos acerca desse importante geógrafo brasileiro e sua obra na Geografia. Acompanhe com bastante atenção o item “Globalização Econômica” do texto.
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1 Utiliza-se a expressão polissêmica em oposição à monossêmico. O primeiro trata-se de algo com vários sentidos diferentes e o segundo a algo que possui apenas um sentido
Aula 05_Desenvolvimento Econômico do Mundo
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Temática: Desenvolvimento Econômico do Mundo
Iniciando a segunda unidade de nossa disciplina, vamos discutir sobre as disparidades do desenvolvimento mundial e levantar hipóteses sobre o motivo dessa realidade hoje no mundo.
Em janeiro de 2014, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, publicou a seguinte notícia:
 
“Cerca de 40% da riqueza do mundo estão concentrados nas mãos de uma fatia de apenas 1% da população mundial mais rica, enquanto a metade mais pobre da população mundial só é dona de 1% de toda essa riqueza1”.
 
Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013, as diferenças de desenvolvimento, ainda que menores do que no início dos anos 1990, são significativas, como podemos observar na tabela abaixo:
 
 
Tabela 01 – O IDH e seus componentes por região e agrupamentos por IDH – 2012
Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013, PNUD, disponível em: http://www.pnud.org.br/Noticia.aspx?id=3799. Acesso em 20/02/2014.
 
Os dados da tabela acima revelam a grande diferença em termos de qualidade de vida da população mundial. Os países de desenvolvimento humano muito elevado apresentaram um IDH de mais de 0,9, enquanto os países de desenvolvimento humano baixo apresentaram menos de 0,5.
 
Além da assimetria nos dados de IDH, também é possível notar que todos os demais dados da tabela – expectativa de vida, anos de escolaridade e rendimento nacional bruto – reforçam ainda mais as desigualdades mundiais.
Ainda que os dados acima sejam discrepantes, não podemos deixar de registrar nessa aula que a diminuição da pobreza, nos últimos anos, tem diminuído, ainda que gradualmente, as desigualdades mundiais.
 
Isso é notório, por exemplo, no caso da diminuição da fome e pobreza. Segundo o mesmo relatório, a meta para a erradicação da população com renda diária inferior a 1,25 dólares americanos foi conquistada em 2012, três anos antes da data indicada como limite para a melhoria dessa situação.
 
Claro que não podemos deixar de analisar de forma crítica os dados revelados pela publicação do PNUD. Há problemas evidentes de levantamento estatístico dessas informações, sobretudo em relação a fidedignidade das fontes de pesquisa em países pobres, como por exemplo em muitos países africanos e asiáticos.
 
De qualquer forma, a disparidade do mundo ainda é atual. O jargão “poucos com muito e muitos com pouco” utilizado pela mídia continua sendo real hoje no século XXI.
 
Vamos utilizar esses dados que demonstram essa realidade para que possamos refletir: como chegamos a essa situação? Devemos entender que essa situação limítrofe em relação ao desenvolvimento foi desencadeada em algum momento da história, mas como isso começou e tomou esse caminho?
 
Longe de querermos definir um ponto de partida desse processo, estamos procurando discutir quais foram os mecanismos pelos quais a desigualdade sócio-econômica cresceu. E dizemos que cresceu, porque não podemos negar que ela sempre existiu na história da humanidade.
 
Como exemplo, podemos ver o caso das Cidades Medievais que eram muradas na Europa Ocidental. O lado da cidade que ficava dentro do muro e o mais valorizado eram lugar de residência da população com melhores condições de vida, comerciantes, duques, parentes e amigos do rei. Era onde ficavam também os dois símbolos de poder do período: o palácio do rei e a Igreja. Na área externa ao muro, as áreas rurais do reino, eram compostas por agricultores, muitos de subsistência que não tinham condições econômicas de manter uma residência na área urbana.
 
Porém, a diferença social entre o agricultor e o comerciante não era tão grande como hoje na sociedade capitalista. Os fatores que levaram a isso e, que nos perguntamos acima, será o nosso objeto de análise nesta unidade.
 
Consideramos como uma gênese do mundo desigual os séculos XVI e XVII no período das “Grandes Navegações”. Desigualdade esta que só aumentou com a eclosão das Revoluções Industriais nos séculos XVIII e XIX, e com a adoção de medidas imperialistas pelas grandes potências no cenário da Guerra Fria, em meados do século XX.
 
Em meio a esta multiplicidade de fatores externos, combinados com vários outros que iremos destacar e discutir ao longo dessa disciplina, os próprios países subdesenvolvidos também possuem características internas que propiciam o aprofundamento ainda maior das desigualdades.
 
Vimos hoje que a desigualdade socioespacial, para fazer referência a uma expressão muito utilizada na Geografia, é uma dimensão que persiste no sistema capitalista desde sua origem e extensão na Europa até o atual período de globalização.
_____
1 Disponível em: http://www.pnud.org.br/Noticia.aspx?id=3799. Acesso em 20/02/2014.
Aula 06_Desenvolvimento e Colonização
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Temática: Desenvolvimento e colonização
 
Nesta aula, buscaremos no período colonial da história mundial uma das possibilidades de explicação da gênese da desigualdade socioespacial do mundo hoje.
Os séculos XV a XVII, período este da História mundial conhecido como Era das Navegações ou Era das Conquistas, marcaram e muito os destinos dos lugares (mais tarde países) envolvidos neste processo. Isso porque o sistema capitalista de produção da Europa expandiu-se juntamente com os interesses territoriais de países como Portugal, Espanha, França e Inglaterra, principalmente.
Wallerstein (1985, p.15) destaca que “a gênese desse tipo de sistema histórico situa-se na Europa do final do século XV. Esse sistema expandiu-se no espaço até abarcar o globo no final do século XIX, e que ainda hoje recobre o mundo todo”.
O sistema a que Wallerstein (1985) se refere é o sistema colonial que, através da relação conceituadacomo Pacto Colonial, estabeleceu-se uma dominação dos países europeus sobre os conquistados, o território americano.
O Pacto Colonial, você deve se lembrar das suas aulas de História no Ensino Médio, foi caracterizado pela relação entre metrópoles (países europeus) e as colônias (os territórios americanos). Nessa relação, os interesses das metrópoles eram transferidos para as colônias através da posse sob o território e a exploração dos recursos naturais abundantes na América. Em contrapartida, era oferecida à colônia a possibilidade de fazer parte de forma periférica do sistema-mundo regido pelo capitalismo comercial do período.
O resultado dessa pseudo-relação1 foi a “transferência de parte do lucro total (ou excedente) de uma zona para outra” (WALLERSTEIN, 1985, p.27), acarretando a total dependência econômica das colônias em relação às metrópoles.
Essa transferência da riqueza, materializada em mercadorias como minérios, terras, propriedades, pessoas (o caso dos escravos negros) e recursos naturais possibilitou aos países europeus a reprodução e ampliação desse sistema por muito tempo. Inclusive assegurando a esses países o poder econômico do mundo.
Isso nos leva a refletir sobre o papel do sistema capitalista na configuração do sistema-mundo desse período e de hoje. Você percebeu que o Pacto Colonial para os países europeus foi a forma e a condição de mantê-los como líderes da economia mundial?
Já pensou que se não fosse a exploração e acúmulo de riqueza que essa exploração possibilitou aos países europeus nesse período hoje, talvez, eles não estivessem na condição que estão?
Isso nos sugere que há uma relação entre o dominante e o dominado de duplo sentido, ou seja, as metrópoles exploravam as colônias, retirando delas boa parte da riqueza. E essa riqueza é o que mantinha esses países (dominantes) com condições de investir cada vez mais na exploração e conquista desses territórios. Percebeu como há uma relação intrínseca entre eles?
Isto significa então que o modelo expandido na Era das Navegações nos séculos XV a XVII, mais tarde reforçado no século XIX com a partilha da África pelos países europeus, endossa cada vez mais a dependência econômica e a desigualdade social.
Agora discutiremos a Divisão Internacional do Trabalho, em um primeiro momento do ponto de vista teórico e depois aplicado ao contexto colonial.
Quando então falamos de uma relação desigual entre países, estamos falando na verdade de uma Divisão Internacional do Trabalho (DIT). Assim, devemos entender por DIT a relação desigual e combinada de comércio e produção internacional entre diferentes lugares. Essa relação começou a ser estabelecida exatamente a partir do século XVI pelas economias europeias que, na busca de lucros, impunham relações de trabalho e produção para o atendimento do mercado europeu.
O esquema abaixo mostra sucintamente como eram essas relações desiguais entre metrópoles e colônias, pontuando o que era materialmente comercializado entre esses dois polos econômicos.
 
Figura 1 – Divisão Internacional do Trabalho no período colonial
Org. Tunes (2006)
 
A expressão “comercializado” não é, na verdade, a melhor forma de definição dessas relações, pois a riqueza das colônias, seja em bens materiais ou imateriais (cultura da população que nessas colônias viviam), foram expropriadas desses lugares sem que fosse proposta alguma troca igualitária ou uma verdadeira comercialização.
Vimos a relação que há entre Desenvolvimento e Colonização. Discutimos também quanto o atual mundo desigual tem muito a ver com o sistema capitalista imposto ao Novo Mundo nos séculos XV a XVII e reproduzido até hoje.
 
____
1 Dizemos pseudo-relação, pois não foi uma relação entre duas partes de fato. Apenas as metrópoles detinham a possibilidade de ação sob as colônias, não restando outra alternativa às colônias senão se sujeitar a essa ação dominadora.
Aula 07_A Divisão Internacional do Trabalho no período Colonial
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Temática: A Divisão Internacional do Trabalho no período Colonial
Trabalhamos na última aula com a relação entre desenvolvimento e colonização. Agora discutiremos a Divisão Internacional do Trabalho, em um primeiro momento do ponto de vista teórico e depois aplicado ao contexto colonial.
Vimos, na aula passada, como se dava a relação entre as metrópoles e as colônias no século XVI, no contexto do Pacto Colonial. Trabalhamos com o conceito de que o sistema capitalista possui uma lógica desigual e combinada, pois gera a dependência mútua entre os países, mas não de forma igualitária e, sim, desigual.
Quando então falamos de uma relação desigual entre países, estamos falando na verdade de uma Divisão Internacional do Trabalho (DIT). Assim, devemos entender por DIT a relação desigual e combinada de comércio e produção internacional entre diferentes lugares. Essa relação começou a ser estabelecida exatamente a partir do século XVI pelas economias europeias que, na busca de lucros, impunham relações de trabalho e produção para o atendimento do mercado europeu.
O esquema abaixo mostra sucintamente como eram essas relações desiguais entre metrópoles e colônias, pontuando o que era materialmente comercializado entre esses dois polos econômicos.
 
 
A expressão “comercializado” não é, na verdade, a melhor forma de definição dessas relações, pois a riqueza das colônias, seja em bens materiais ou imateriais (cultura da população que nessas colônias viviam), foram expropriadas desses lugares sem que fosse proposta alguma troca igualitária ou uma verdadeira comercialização.
 
Aula 08_A Revolução Industrial e a transformação do espaço
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Temática: A Revolução Industrial e a transformação do espaço
 
Na aula de hoje, vamos discutir quanto a Primeira Revolução Industrial alterou o espaço geográfico e redefiniu as relações econômicas entre os países mundiais.
Muito mais do que as transformações na forma de produzir bens, a Revolução Industrial alterou o modo de vida das pessoas de todo o mundo.
Na Primeira Revolução Industrial, por volta de 1780 na Inglaterra, inicia-se outra forma de produção e de trabalho: a da grande indústria ou da indústria moderna, com forte emprego de máquinas que executavam tarefas com muita precisão e possibilitavam a produção de mercadorias em larga escala, padronizadas e com intensa divisão de trabalho.  
A princípio, precisamos destacar as mudanças na forma de produção com as máquinas desenvolvidas e aperfeiçoadas no período pelos ingleses: a máquina de tear mecânico, a máquina hidráulica e a máquina a vapor. Esta última é muito importante, pois possibilitou o advento dos meios de transporte de maior velocidade, como as ferrovias, por exemplo.
A velocidade e a organização do trabalho em um espaço específico – a fábrica – acarretaram uma grande transformação no espaço geográfico. Antes da Primeira Revolução Industrial (séc.XVIII) a Inglaterra era um país rural. As atividades econômicas – artesanato e manufatura – não exigiam a concentração de um grande número de pessoas em um único espaço.
Já a indústria, com as suas grandes máquinas, exigia o deslocamento de pessoas – para o trabalho e para o consumo desses produtos – para a fábrica, dando origem às cidades inglesas que rapidamente se transformaram em grandes cidades com vários problemas de infraestrutura interna.
Dizemos isso, pois, como o deslocamento da população rural para as cidades, sobretudo de enormes contingentes de trabalhadores, esses não tiveram outra condição de moradia senão as submoradias, como barracos e cortiços, que se espalhavam pela periferia de grandes cidades, como Londres e Paris, por exemplo.
 
Para ter uma ideia das condições dessas moradias nas áreas periféricas, leia o trecho abaixo:
 
Se você quer saber como o povo se aloja vá, por exemplo, à rua Fumiers, que é quase exclusivamente ocupada por esta classe; entre, abaixando a cabeça, em uma dessas cloacas abertas à rua e situadas em um nível abaixo dela. É preciso ter descido em uma dessas vias onde o ar é úmido e frio como um porão, é preciso ter sentido seu pé escorregar no chãoimundo e ter tido medo de cair no lodo, para se ter uma ideia do sentimento de pena que se experimenta ao entrar na casa desses miseráveis operários.
(RAGON, 1986, p.37)
 
Além das transformações de escala local, como das cidades europeias, muitas foram as transformações também de ordem econômica na relação entre os países. Isso porque com o aperfeiçoamento do modo de produção, imprimindo maior velocidade, a própria reprodução do capital também aumentou.
 
O que antes demorava uma semana para ser fabricado, como é o caso dos sapatos, para se transformar em uma mercadoria detentora de valor de troca, hoje é fabricado em grande escala em apenas um dia ou menos. Ou seja, o que queremos dizer é que, com a velocidade da produção, o alcance em termos econômicos dessa produção passou a ser muito maior, inclusive com a exportação desses produtos para vários lugares do mundo, aumentando a reprodução do capital.
 
Para dirigir o funcionamento das máquinas, ela reúne operários em grande quantidade (...) que se tornam engrenagens entre as engrenagens (...) e, como mola dessa formidável atividade, como uma causa e como um fim, por detrás do desdobramento do trabalho humano e das forças mecânicas, move-se o capital, levado por sua própria lei, a do lucro, e que o impele a produzir sem cessar, para aumentar sem cessar (MANTOUX, 1957, p.2).
 
Assim, o sistema capitalista, mais uma vez, intensificou a sua força, tornando, com efeito, o “produto” que a Inglaterra mais exportou neste período. Notadamente, o capitalismo não chegou da mesma forma em todos os lugares, mesmo porque as inovações tecnológicas não foram exportadas tão facilmente, o que tornou ainda mais desigual o espaço geográfico mundial.
Aula 09_ A 2ªRevolução Industrial e a nova Divisão Internacional do Trabalho
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Temática: A Segunda Revolução Industrial e a nova Divisão Internacional do Trabalho
 
 
Esta aula tem como objetivo discutir as principais mudanças econômicas ocorridas com a Segunda Revolução Industrial e a mudança na Divisão Internacional do Trabalho do período colonial.
A Segunda Revolução Industrial, ocorrida em meados do século XIX, não teve o mesmo caráter concentrador que a Primeira Revolução. Isso porque, desta vez, um maior conjunto de países participaram das principais inovações técnicas e tecnológicas. Podemos citar como exemplos países como França, Inglaterra, Japão, EUA e Alemanha.
Este caráter menos concentrador dessa Revolução se deu pelo fato desses países terem acompanhado as inovações desenvolvidas pela Inglaterra na Revolução anterior e, por isso, terem condições de buscar o aperfeiçoamento das máquinas e da forma de produção.
Podemos dizer que a Segunda Revolução inovou em dois sentidos: o primeiro refere-se ao próprio aperfeiçoamento das máquinas e o segundo a uma nova forma de produção, forma esta mais rentável do ponto de vista do capital.
Em relação à primeira inovação, ocorreu, principalmente, no campo da fonte de energia, pois passaram a ser utilizadas as energias à combustão e elétrica. Neste momento, expande pelo globo a corrida pela fonte de energia do petróleo, que será tema de nossa aula ainda nesta disciplina.
A segunda inovação, da forma de produção, refere-se ao aprimoramento das técnicas de produção, com o objetivo de tornar a produção mais rápida e, portanto, mais lucrativa. Foi o engenheiro Frederick Taylor que criou essa nova forma de produção com o estudo do tempo gasto pelo trabalhador para executar as tarefas. Taylor considerou em sua pesquisa que se o trabalhador pudesse executar uma só tarefa, isso aconteceria em uma velocidade maior, aumentando assim a eficácia do trabalho e economizando tempo. Essa forma de produção ficou conhecida como taylorismo.
Henry Ford, da indústria automobilística da Ford, aplicou essa forma de produção em sua indústria, criando as linhas de montagens, que eram grandes esteiras rolantes por onde a mercadoria percorria a fábrica nas diferentes etapas de produção. Essa aplicação das teorias do Taylor foi denominada de fordismo.
De qualquer forma, a expansão da atividade industrial e do capitalismo gerou uma nova forma de relação entre os países, ou seja, alterou a Divisão Internacional do Trabalho.
Isso aconteceu não só por conta da Segunda Revolução Industrial ter apresentado um número maior de países líderes, mas também por conta de alguns países, como o Brasil, Argentina, México, dentre outros, terem iniciado nesse contexto seu processo de industrialização. Processo este denominado de ‘tardio’ ou ‘retardatário’, pelo atraso que aconteceu em relação aos demais países.
Observe no esquema abaixo como ficaram as relações entre os países após as duas Revoluções Industriais.
 
Figura 1 – Divisão Internacional do Trabalho no final do século XIX
Compare esse esquema com o que apresentamos na aula 06 que mostrou a DIT colonial. Note que há diferenças entre o papel dos países, porém uma situação se mantém: a desigualdade e a dependência dos países pobres em relação aos ricos.
Aula 10_O final da 2ª Guerra Mundial e as mudanças no quadro político-econômico mundial
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Temática: O final da Segunda Guerra Mundial e as mudanças no quadro político-econômico mundial
 
Nesta aula iremos abordar as transformações em termos econômicos ocorridas após a Segunda Guerra Mundial, no período da Guerra Fria.
Com o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) os países desenvolvidos passaram por um período de 30 anos de pleno crescimento econômico. Destaque para este período da atuação dos EUA que, para fazer frente aos interesses socialistas da outra superpotência, a URSS, estimularam com empréstimos e acordos internacionais vários países, sobretudo os subdesenvolvidos, a adotarem o modelo capitalista.
Dentre os motivos do pleno crescimento econômico dos países desenvolvidos, foram os acordos realizados entre estes países, com destaque para aqueles de 1944 da reunião em Bretton Woods, onde participaram 44 países. Nesta reunião, foi adotado oficialmente o dólar americano como moeda internacional e criados o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento).
O FMI deveria zelar pela estabilidade financeira do mundo e conceder empréstimos para ajudar países em crise econômica. O BIRD, hoje mais conhecido como Banco Mundial, atuaria mais na concessão de capital para o investimento em obras de infraestrutura, como hidrelétricas, portos, ferrovias e rodovias, sobretudo a países atingidos por guerras.
Apesar de todos os esforços dos EUA, Japão e países da Europa Ocidental de proliferarem o capitalismo pelo mundo, o bloco socialista neste período aumentava cada vez mais, chegando muito próximo dos países mais desenvolvidos, com a divisão do território alemão em Alemanha Ocidental, capitalista, e Alemanha Oriental, socialista.
Isso levou os países capitalistas desenvolvidos, denominados no período como países do Primeiro Mundo, a adotarem medidas mais ‘diretas de atração’ aos países subdesenvolvidos, estes últimos conhecidos também como países do Terceiro Mundo, com o objetivo de afastá-los do modelo socialista do Segundo Mundo.
Dentre essas medidas podemos citar a atuação de empresas multinacionais e o investimento em grupo de países do sudeste asiático, conhecidos mais tarde como Tigres Asiáticos. Trabalharemos melhor essas ideias nas próximas aulas.
 
Vimos como o período do final da Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria foi de grande crescimento econômico dos países desenvolvidos. E de transformação política e econômica da organização mundial.
Aula 11_Capitalismo X Socialismo
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Temática: Capitalismo X Socialismo
 
Nesta aula iremos trabalhar no sentido da compreensão das diferenças entre os dois modelos de desenvolvimento econômico e social existentes no século XX.
O período que se inicia no final da Segunda Guerra Mundial (1945) e se estende até o final da década de 1980 foi marcado pela bipolaridade do mundo em torno de duas potências mundiais: os EUA e a URSS.
Mais do que simplesmente a oposição direta entre esses dois países, o períododa Guerra Fria, marcou a divisão do mundo entre capitalistas e socialistas. Cada qual com um modelo de desenvolvimento diferente e com a intenção de expansão desse modelo para outros países.
Não podemos deixar de lembrar que esse período ficou conhecido como Guerra Fria, pois, apesar da oposição declarada entre esses países, não houve uma guerra de fato entre eles, e sim uma guerra ideológica e de ameaças. Um dos vetores de maior pressão neste período, e o que para muitos autores justificou o distanciamento de armas nesta guerra, foi o poder bélico desses países, ambos detentores de armas nucleares de grande poder de destruição.
O capitalismo, como nós já vimos, surgiu na Europa e expandiu-se pelo mundo no período das Grandes Navegações. Carvalho (1997, p.20) define-o como “sistema de produção, distribuição e consumo de mercadorias que associa o capital e o trabalho assalariado e tem o objetivo de gerar lucro para o capitalista através da satisfação de alguma necessidade humana”.
Paul Singer (1987, p.11) também define o sistema capitalista:
 É a corrida generalizada atrás do dinheiro, a competição cega das empresas no mercado, a invenção de novos produtos é a caça, pelos consumidores, do que `vai ser moda`; é a incessante mudança de processos e o sucateamento precoce de homens e máquinas. É o trabalho alienado de muitos, subordinado às ordens do capital agindo às cegas e que, ao agir assim, ora cria progresso, ora crise, ambos inadvertidamente.
Pelas duas definições acima apresentadas, é possível notar que o capitalismo está associado diretamente ao consumo maciço da sociedade, consumo este, como ressalta Singer, de mercadorias de moda, ou seja, necessidades que na verdade não existem, mas são (re)criadas pela mídia e pela propaganda.
Um ponto importante do capitalismo citado por Singer é a alienação do trabalhador. Isso significa que o trabalhador faz um serviço que nem ele mesmo sabe a serventia. O trabalhador passa o dia todo apertando um parafuso e não sabe, afinal, o que ele mesmo está produzindo.
Outras características que singularizam o capitalismo são: a propriedade privada dos meios de produção e adoção da Lei da Oferta e da Procura nas relações comerciais. Isso significa que a sociedade capitalista é dividida entre aqueles que vendem a sua força de trabalho, os trabalhadores, e aqueles proprietários dos meios de produção, os capitalistas. Os preços das mercadorias são definidos por um complexo processo que envolve o valor gasto em sua produção e a quantidade de produtos disponíveis no mercado e a sua procura. Essa dinâmica se mostra cada vez mais complexa no mundo globalizado dos nossos dias.
Em oposição a essas ideias encontram-se as ideias socialistas. Na verdade desde a Antiguidade existem pessoas preocupadas com a vida em sociedade e que pensam em modificar a organização social e assim melhorar as condições de vida da população no geral.
Na Idade Moderna, o inglês Thomas More escreveu um livro chamado ‘Utopia’, onde mostrou como imaginava a sociedade de uma forma mais igualitária, sem tanta diferença entre as pessoas, descrevendo uma cidade ideal onde não havia propriedade privada nem dinheiro, com absoluta comunidade de bens.
Mais tarde, com as revoluções industriais e o aumento da desigualdade, um grupo de pensadores surgiu para questionar o modelo desigual da sociedade, dentre eles, destacam-se Karl Marx e Friedrich Engels. Eles ficaram conhecidos como socialistas, pois defendiam em seus escritos a socialização de quase tudo o que existe nas sociedades, propondo acabar com a propriedade privada dos meios de produção e das terras e a distribuição igualitária dos mesmos.
Essas ideias espalharam-se pelo mundo e serviram de referencial teórico para a Revolução Russa de 1917 que implantou o socialismo na Rússia, depois denominada de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), englobando também uma parte da Europa Oriental e Central.
Alguns pesquisadores, como, por exemplo, Vesentini (1992), afirmam que as ideias socialistas foram utilizadas apenas em parte pelo Estado soviético, pois não foi instalado na URSS um governo democrático de fato. Esses pesquisadores dizem que na URSS o socialismo foi um “socialismo real”, “ditadura do Estado”, “socialismo tipo soviético”, dentre outras denominações.
 
De qualquer forma, o socialismo implantado na URSS e depois em vários outros países europeus, como Iugoslávia, Albânia, Bulgária, Alemanha Oriental, Polônia, Romênia, Tchecoslováquia, países asiáticos, como Vietnã, Coreia do Norte, China, Laos, Camboja, e na América, em Cuba, permanecendo até hoje, tinha algumas características, destacadas a seguir, que diferiam muito dos capitalistas:
 
         Inexistência da propriedade privada dos meios de produção: tudo o que pode levar à produção de algo, seja material, como é o caso das indústrias, ou imaterial, como educação, saúde, pertencem ao Estado. As pessoas possuem somente os bens de uso pessoal, como roupas, utensílios domésticos etc. No caso da propriedade da terra, nas áreas rurais, elas não foram totalmente estatizadas. Em Cuba, essa estatização chegou a 40% e na Polônia a 80%. Foram preservados os pequenos proprietários de terra que praticavam agricultura de gêneros alimentícios para a subsistência;
         Direção centralizada da Economia: Os diversos setores da economia são planejados pelo Estado. É ele que tem o poder de investimento em determinado setor a partir do estudo da demanda de especialistas e técnicos.
         Existência de uma única classe social: dos trabalhadores.
         Estrutura política centralizada em um único partido político: o Partido Comunista.
 
 Na aula de hoje vimos as principais diferenças entre o socialismo e o capitalismo, sobretudo a questão da decisão dos rumos da economia.
 Essa discussão sobre as diferenças entre o socialismo e o capitalismo é feita em várias ciências, como a Sociologia, a História e em Ciências Aplicadas, como a Economia. Pesquise artigos que tratam desse mesmo assunto em uma perspectiva diferente da nossa. Um bom site de pesquisa acadêmica é o www.scielo.br ou o http://scholar.google.com.br/.
Aula 12_A atuação das empresas multinacionais e a expansão do capitalismo
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Temática: A atuação das empresas multinacionais e a expansão do capitalismo
 
Uma das estratégias adotadas pelos países capitalistas para a expansão do sistema foi a criação das empresas multinacionais. Esse é o tema de nossa aula de hoje.
No contexto da bipolaridade da Guerra Fria, os dois polos procuraram, cada vez mais, atrair países para a sua esfera de influência. A estratégia soviética foi de estimular um movimento da classe operária à adoção do socialismo, a partir da divulgação das ideias socialistas. Em parte, foi isso o que ocorreu em Cuba para a adoção do socialismo.
Um exemplo é a imagem abaixo que trata da propaganda da qualidade da educação pública na antiga URSS.
Figura 1 – Propaganda soviética da educação na URSS
Fonte: http://ephemerajpp.com/2010/12/04/propaganda-dos-paises-socialistas-%E2%80%93-urss/
 
Em contrapartida, os capitalistas viram no aumento do mercado produtor e consumidor de industrializados, uma possibilidade de ampliação de seu modelo de desenvolvimento. Assim, a partir da transferência de indústrias obsoletas, a maior parte delas de bens de consumo não duráveis e duráveis de baixo valor agregado (alimentício, roupas, bebidas, brinquedos, artefatos de plástico e borracha, dentre outros), os EUA viram uma forma de submeter a economia desses países aos seus interesses, ao mesmo tempo em que, os trazia para sua esfera de influência. 
Isso ocorreu porque encontrou condições mais favoráveis de produção nestes locais, como mão de obra barata, concessão dos governos em relação a impostos, fornecimento de matérias-primas e fontes de energia baratas. E apoiou governos autoritários que possibilitaram a reprodução dos interesses das camadas mais abastadas economicamente e de interesses estrangeiros.
Essa série de vantagens para a empresa capitalista, associada à ideia de expansão dopróprio sistema, levou os EUA e o Japão a investir em alguns países do sudeste asiático, conhecidos mais tarde como Tigres Asiáticos (Coréia do Sul, Hong-Kong, Taiwan e Cingapura).
 
Também levou ao investimento em alguns países subdesenvolvidos, alavancando a economia, ao mesmo tempo em que implantou a lógica do sistema capitalista nestes locais. Entre esses países está o Brasil, o México, a África do Sul e a Argentina.
O que estamos querendo dizer, portanto, é que as empresas multinacionais e a sua expansão pelo globo foram estratégias dos países capitalistas desenvolvidos para atrair outros países ao sistema e assim conseguir frear a ampliação das ideias socialistas entre esses países.
Hoje não podemos ligar diretamente as empresas multinacionais a essa mesma lógica. Mesmo porque atualmente as ideias socialistas não são mais empecilho ao pleno desenvolvimento do capitalismo. Veremos na próxima aula o papel das multinacionais no mundo de hoje.
Aula 13_As empresas multinacionais
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Temática: As empresas multinacionais
As empresas multinacionais tem importância vital para o crescimento econômico do sistema capitalista.
As multinacionais hoje, num mundo globalizado, são alguns dos principais agentes da organização do espaço geográfico. Isso porque as empresas estão presentes nos mais variados locais, desde o nosso dia a dia, com os produtos que consumimos, até nos meios de comunicação, como outdoors, rádio, TV e internet.
E isso acontece hoje nos mais variados locais do mundo, desde grandes metrópoles internacionais, como Nova York e São Paulo, até pequenas cidades e nas áreas rurais. Em um mundo marcado pela velocidade cada vez maior das comunicações e dos transportes, não há hoje um local que possa se dizer fora dessa “aldeia global”, como denominou Milton Santos.
Nós conseguimos perceber essa interligação em vários momentos cotidianos, nas músicas que trazem cada vez mais palavras estrangeiras, no modo de vestir dos jovens, nas marcas de produtos que consumimos, nas palavras de língua inglesa que incorporamos na nossa linguagem.
E por que e como isso acontece? Acontece porque em um mundo globalizado não existem mais fronteiras, e, por isso, produtos, comportamentos e valores de outros locais do mundo, sobretudo aqueles impostos pelos países ricos, são incorporados com facilidade pela sociedade.
Dessa forma, as empresas multinacionais, ou também chamadas de transnacionais[1], é que ditam o que e como vai ser consumido, e por isso, são hoje detentoras de um poder maior do que muitos Estados nacionais. Observe as tabelas a seguir.
 
Leia primeiro as informações que as duas tabelas estão mostrando. Depois as compare.
Tabela 1 - Ranking das maiores empresas do mundo por faturamento em 2012
	Posição
	Empresa
	País natal
	Valor de mercado (US$)
	1
	Apple Inc.
	Estados Unidos
	558,900,000
	2
	Exxonmobil
	Estados Unidos
	417,166,000
	3
	Petrochina
	China
	354,965,000
	4
	ICBC
	China
	279,687,000
	5
	Krazy Kremland
	Estados Unidos
	256,325,000
	6
	Petrobrás
	Brasil
	249,384,000
	7
	China Construction Bank
	China
	248,239,000
	8
	Royal Dutch Shell
	Reino Unido
	244,865,000
	9
	Chevron
	Estados Unidos
	242,708,000
	10
	Microsoft
	Estados Unidos
	238,011,000
 
Fonte: Financial Times Global, 2012.
Tabela 2 – Produto Interno Bruto (PIB) de países selecionados - 2012
	País
	PIB (em milhões de dólares)
	Argentina
	474.812
	Bolívia
	26.749
	Brasil
	2.673.580
	Chile
	268.278
	Paraguai
	26.089
	Uruguai
	40.265
Fonte: Fundo Monetário Internacional (FMI), 2012.
Percebeu o enorme poder que essas empresas têm? As tabelas nos mostram que o faturamento anual de uma grande empresa transnacional é maior do que o PIB de muitos países sul-americanos, por exemplo. Por isso podemos dizer que essas empresas, muitas vezes, controlam a produção do espaço geográfico muito mais do que os Estados. Mesmo porque não podemos deixar de citar que muitos desses Estados são subordinados aos interesses dessas corporações através de acordos internacionais assinados entre os países sedes dessas empresas e os países que as recebem em seu território.
Ainda assim, a maior parte dos geógrafos que tratam na análise da Geografia Econômica considera que o papel das empresas multinacionais é muito importante no mundo, como pudemos notar através dos dados das tabelas 01 e 02, mas que não podemos considerar que o Estado hoje deixou de assumir um papel de liderança nas economias nacionais.
Isso significa dizer, em outras palavras, que apesar da influência cultural, econômica e social das empresas na sociedade e a transformação do território, há uma dimensão institucional e jurídica que compete ao Estado que não pode ser deixada de lado na análise da Geografia Econômica.
Mas, afinal, o que define uma empresa transnacional? Essas empresas são grandes corporações que transcendem os limites de seus países de origem. O geógrafo Wagner Costa Ribeiro mostra em seu livro[2] um exemplo que é bem didático para a compreensão do conceito de transnacional.
Para esse exemplo, ele tomou o caso de uma indústria automobilística. A produção de um automóvel dessa empresa se dá em várias etapas e essas etapas ocorrem em locais diferentes do globo. No exemplo do autor, o carro começa a ser fabricado no México, com a sustentação de portas, depois no Brasil onde são colocados os freios traseiros, na França a embreagem, na Espanha os mostradores, no Reino Unido as engrenagens de direção, na Itália as cabeças do cilindro do motor, na Alemanha o embuchamento de válvulas, em Taiwan a parte elétrica e, finalmente, no Japão os eixos.
Veja abaixo uma imagem que ilustra essa situação.
 
Figura 1 – Produção transnacional de um automóvel
Vimos hoje as principais características de uma empresa multinacional e seu poder de atuação como um agente da produção do espaço geográfico.
_____________
[1] Alguns autores diferenciam as multinacionais das transnacionais, sendo esta última caracterizada pela inexistência de um país sede. Vamos considerá-las como sinônimos.
[2] Ribeiro, Wagner. Relações Internacionais: cenários para o século XXI. São Paulo: Scipione, 2004.
Aula 14_A moderna Divisão Internacional do Trabalho
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Temática: A moderna Divisão Internacional do Trabalho e o Território
 
A atuação das empresas transnacionais no mundo atual redefiniu as relações econômicas entre os países do globo, produzindo um território descontínuo dessas grandes corporações mundiais.
Nas aulas passadas, trabalhamos com o poder que as empresas transnacionais têm no mundo atual, sendo maior, muitas vezes, do que o poder do próprio Estado sob o seu território.
Na verdade, nós podemos dizer que há um conflito em relação ao território, ou, em outras palavras, uma produção de um território novo, singular, pelas empresas transnacionais.
Na geografia, quando nos referimos ao território, temos que ter claro que ele é um importante conceito e não apenas uma noção do tamanho territorial de um país. Souza (2003, p.81) chama a atenção a esse fato quando diz que:
 
[...] a palavra território normalmente evoca o ´território nacional´ e faz pensar em Estado – gestor por excelência do território nacional –, em grandes espaços, em sentimentos patrióticos (ou mesmo chauvinistas), em governo, em dominação, em ´defesa do território pátrio’, em guerras [...]
 
Porém, território não é apenas isso. Território é algo em construção (e também em reconstrução e destruição). Podemos falar no território de uma grande empresa transnacional, ou no território de uma torcida de futebol dentro de um estádio em dia de clássico.
As duas situações envolvem uma questão de escala muito diferente: o primeiro trata-se do mundo, enquanto o segundo de um estádio de futebol dentro de uma grande cidade. O que elas têm em comum? O que é semelhante nos dois casos?
Vejamos o caso da torcida de futebol1. Em dia de clássico de futebol com duas torcidas rivais e tradicionais a cidade muda a sua configuração urbana. O trânsito é desviado para facilitar a chegada ao estádio, as linhas de ônibus são alteradas para facilitar o fluxo,há um aumento do policiamento nas regiões próximas, nos metrôs, nos terminais de embarque e desembarque dos trens. Por todo esse caminho, percebe-se na paisagem o acontecimento do jogo: faixas, bandeiras, camisetas, gritos de guerra.
Nas ruas próximas ao estádio, a situação ainda é mais transformada, ruas fechadas para o trânsito de veículos, policiais a cavalaria, grande concentração de pessoas andando pelas ruas, sentimentos de alegria, entusiasmo, confiança, nervosismo, apreensão em relação ao resultado do jogo.
Dentro do estádio há uma folia total em ambas as torcidas. Essas torcidas rivais localizam-se em pontos opostos do estádio, ocupam lados diferentes que são delimitados com cercas e ainda inspecionados pela polícia e por cães da polícia.
Em cada lado do estádio, há regras e condutas próprias de cada torcida. Alguns pontos são reservados para torcidas organizadas, geralmente mais violentas; outros são ocupados por pessoas comuns, famílias, pais com os filhos, pessoas idosas, adolescentes.
Você já imaginou se um torcedor desavisado entrasse pelo portão errado e desse de cara com a torcida rival? O que aconteceria? Com certeza, ele não seria muito bem recebido, pois, na visão dos torcedores, ele invadiu o território da torcida rival.
Entendeu a conotação dada ao território? Podemos dizer, utilizando o exemplo acima, que cada lado do estádio pertence, naquele momento do jogo, a uma torcida. É aquela torcida que possui o poder sobre aquele espaço demarcado no estádio. E esse poder reflete-se na paisagem com as bandeiras, as faixas, as pessoas.
Quando o jogo terminar, independente do resultado, ambas as torcidas irão embora, desconstruindo o território delas até o próximo jogo, quando tudo começa novamente.
Assim, a ideia do território é algo construído com uma intenção, submetida a um poder, que pode ser de uma torcida de futebol, como nesse exemplo simples, ou a uma grande empresa transnacional. Qual será o território de uma grande empresa?
Seus territórios serão os espaços que essa empresa domina ou influencia no globo, podendo ser um território descontínuo, com vários pontos demarcados e separados no mundo.
 
 
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1 Esse exemplo foi extraído de Magnani, J.; Torres, L. (org.) Na metrópole: textos de antropologia urbana. São Paulo: EDUSP/Fapesp, 2000.
Aula 15_O petróleo e a produção da riqueza concentrada
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Temática: O petróleo e a produção da riqueza concentrada
 
Desde a Segunda Revolução Industrial, no século XIX, o petróleo representa uma das fontes de energia mais utilizadas, apesar de seu alto preço e os problemas ambientais associados a ele. Ele também representa uma boa parte da riqueza mundial acumulada nos países produtores.
O petróleo, desde meados do século XIX, é o recurso energético mais utilizado no mundo. Desde o aperfeiçoamento das máquinas, na Segunda Revolução Industrial, ele é utilizado como fonte de energia na usina termelétrica, combustível para a maior parte dos meios de transporte e matéria-prima, importante para inúmeros tipos de indústrias químicas.
Dada a importância vital para o crescimento econômico dos países, é o petróleo uma matéria-prima muito valorizada e alvo de disputas internacionais para o seu controle e exportação.
Observe no gráfico 1 o quanto o petróleo é essencial para o desenvolvimento dos países do mundo em 2009.
Fonte: http://netef.blogspot.com.br/2013/06/numeros-sobre-matriz-energetica.html. Acesso em 02.04.2014.
 
A análise dos dados nos permite afirmar que mais da metade da energia consumida no mundo deriva dos combustíveis fósseis, pois não podemos esquecer que o gás natural, assim como o petróleo, é um combustível fóssil.
 
Em relação à sua formação, o petróleo é um hidrocarboneto (hidrogênio e carbono) resultante da transformação de matéria orgânica vegetal ou animal. Aparece no subsolo, em terrenos sedimentares de origem marinha ou lacustre, especialmente os formados na era Cenozoica, surgindo normalmente associado ao gás natural.
É um recurso não renovável, ou seja, em recurso natural que o homem não é capaz de produzir e que a natureza produz em uma escala de tempo muito inferior à velocidade de consumo de nossa sociedade. Isto significa dizer que, se o ritmo de consumo continuar tão acelerado, o petróleo em pouco tempo se extinguirá.
Podemos notar pelos gráficos abaixo que a oferta de petróleo e gás natural vem diminuindo desde 1960. E notamos também que o carvão apresenta um crescimento maior no período apesar de também ser, no caso do carvão mineral, um recurso esgotável.
 
Gráfico 2 – Oferta Mundial de Energia
Fonte: Vestibular Unicamp, 2002.
 
Em relação à sua exploração, o petróleo não é encontrado em todos os lugares do mundo, sendo este fato uma justificativa, muitas vezes, para o conflito entre alguns países.
É sabido que no Oriente Médio1 encontramos a maior quantidade de reservas petrolíferas no mundo, cerca de 60% do total existente no globo. Não podemos deixar de relacionar esse fato aos constantes conflitos internacionais na região, como a Guerra do Golfo no início da década de 1990 e a recente ocupação dos EUA sob o território iraquiano.
O mapa a seguir representa a distribuição do petróleo pelos continentes no mundo. Podemos notar a grande concentração no Oriente Médio que conta com 63,3% das reservas mundiais de petróleo em 2004.
 
Mapa 1 – Maiores reservas mundiais de petróleo
Fonte: http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/5/88reservas_petroleo.jpg. Acesso em 02.04.2014
 
Outras regiões mundiais também se destacam na produção do petróleo, é o caso da Rússia, Casaquistão, Ucrânia, Usbequistão, Turcomenistão, EUA, México e Venezuela. No Brasil, encontra-se na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, a maior bacia petrolífera em atividade do país. Na bacia de Santos, no litoral paulista, a Petrobrás deve iniciar a partir de 2014 a exploração do petróleo na região conhecida como pré-sal.
Quando relacionamos os países que mais consomem com os países que mais produzem o petróleo, notamos o quanto os países mais industrializados, desenvolvidos ou subdesenvolvidos, são muitas vezes dependentes da importação desse produto.
Observe os dados da tabela abaixo:
 
Quadro 1 – Países com as maiores reservas, produção e consumo de petróleo (2006)
	Reservas
	Produção
	Consumo
	1. Venezuela
	1. Arábia Saudita
	1. EUA
	2. Arábia Saudita
	2. Rússia
	2. China
	3. Canadá
	3. EUA
	3. Japão
	4. Irã
	4. Irã
	4. Rússia
	5. Iraque
	5. China
	5. Alemanha
	6. Kuwait
	6. México
	6. Índia
	7. Emir. Árabes Unidos
	7. Canadá
	7. Canadá
	8. Rússia
	8. Emir. Árabes Unidos
	8. Brasil
	9. Líbia
	9. Venezuela
	9. Coreia do Sul
	10. Nigéria
	10. Noruega
	10. Arábia Saudita
	14. Brasil
	13. Brasil
	 
Fonte: Departamento de Estatística dos EUA, 2006.
Disponível http://crescimentoeconomicofeualg.blogs.sapo.pt/2010/01/. Acesso em 03.04.2014.
 
Notamos no quadro a presença de muitos países do Oriente Médio, mas também a presença de outros países, como Venezuela e Rússia, que são muito importantes para a compreensão da geopolítica do petróleo.
Outra situação que a tabela nos mostra quando comparamos os países que possuem as maiores reservas com os países de maior produção, sendo notado que alguns países, como Iraque e Kuwait, com maior quantidade de reservas de petróleo, ainda não exploram totalmente as suas reservas. Enquanto outros países, como o EUA, Rússia e Arábia Saudita produzem muito petróleo, pois exploram grande parte de suas reservas.
Outro dado interessante da tabela é que os países que mais consomem o petróleo não são os mesmos que o possuem em grande quantidade, nem mesmo aqueles que o possuem enquanto reserva. O que significa dizer que esses países, como o EUA, o Japão, a China, a Alemanha, a Coreia do Sul são altamente dependentes da importação desse produto para o crescimento de sua economia.
 
O mapa abaixo representa os maiores importadores do petróleo mundial. Veja o destaque do EUA e do Japão nas primeiras posições. Seguidos de perto por China, Índia, França, Alemanha e Coreia do Sul.
 
Mapa 2 – Importadoresde petróleo - 2006
Fonte: http://c1.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/obf04399c/5664826_PeEV9.jpeg. Acesso em 04.04.2014
 
O caso dos EUA é particularmente interessante, pois, apesar do país contar com grande quantidade de reservas e ser o país que mais produz, isso não dá conta do seu consumo interno, sendo obrigado a importar essa matéria-prima de outros países.
No geral, esses dados nos revelam que a matriz energética do petróleo necessita ser revista pela maior parte dos países do mundo, pois, ainda hoje, é grande a dependência desse recurso, apesar de já sabermos há tempos que a sua duração é muito pequena se for mantido o mesmo nível de consumo atual.
O petróleo é fundamental para o crescimento econômico dos países mais ricos do mundo, apesar de ser um recurso esgotável.
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1 Destaque para países como Arábia Saudita, Iraque, Kuwait, Irã e Emirados dos Árabes Unidos.
 
Aula 16_A crise do petróleo e o controle internacional do seu preço
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Temática: A crise do petróleo e o controle internacional do seu preço
 
Dando continuidade à aula passada, agora vamos compreender as crises do petróleo ocorridas no século XX, responsáveis pelo aumento do preço do barril e pela disputa internacional do controle das áreas produtoras de petróleo.
Na aula passada, vimos o quanto o petróleo representa hoje um recurso de alto valor para a economia dos países, particularmente os desenvolvidos e os subdesenvolvidos industrializados, como é o caso do Brasil.
Essa dependência origina-se nas primeiras décadas do século XX, quando o produto era encontrado em abundância em vários países e, por isso, era comercializado a um baixo preço. Devido a esses fatores, boa parte dos países industrializados cresceu economicamente baseando-se nesta fonte de energia.
A partir da década de 1970, uma série de fatores conjugados alterou o preço do produto, fazendo-o subir de forma muito elevada no comércio mundial.
Um desses fatores é a descoberta através de pesquisas que o petróleo é um recurso não renovável. Isso fez o seu preço subir, já que passou a ser um produto não disponível para todos os países. Esse fato é muito marcante na história da economia mundial, pois, até então, nunca uma matéria-prima, comercializada muitas vezes por países subdesenvolvidos, teve um valor mais alto do que um produto industrializado.
Para se ter uma ideia do quanto foi esse aumento, em 1973 o preço do barril era de 5 dólares, no ano seguinte 11 dólares, em 1980 passou a 33 dólares. Após esse ano, houve uma sucessiva queda, chegando em 1990 a 11 dólares novamente. Em 2004 o preço era de 32 dólares e em 2007, segundo dados disponíveis na Bolsa de Mercadorias e Futuros1, o preço do barril do petróleo é de aproximadamente 60 dólares.
 
Você deve estar se perguntando: por que varia tanto? Quem controla ou domina essa variação do preço?
 
A variação do preço se dá pela conjuntura internacional do momento. Fatores como conflitos internacionais em áreas de reservas de petróleo, como no caso do Oriente Médio, diminuição da produção anual dessa matéria-prima e até mesmo a divulgação de pesquisas que apontam, cada vez mais cedo, a extinção dessa fonte são motivos para o aumento do barril.
A questão do controle do preço está hoje na mão dos países pertencentes a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que é formada por Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Líbia, Argélia, Venezuela, Equador, Nigéria e Gabão.
Essa associação foi criada em 1960 com o objetivo de unir os principais exportadores de petróleo e evitar assim a concorrência entre eles. A união desses países com o mesmo interesse forma o que denominamos em economia de cartel2.
O cartel da OPEP consegue até hoje, apesar de não contar com todos os países exportadores de petróleo do mundo, equilibrar o preço do produto segundo os seus interesses. Assim, quando há uma queda maior do preço do barril no comércio mundial, esses países diminuem a produção para valorizar o produto, voltando assim a crescer o seu valor internacionalmente.
No início de 2007, o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou a estatização da exploração do petróleo no seu país que era controlado por grandes empresas transnacionais, muitas das quais de origem norte-americana. Esse fato e a instabilidade gerada no mercado mundial pela importância das exportações da Venezuela fizeram o preço do petróleo subir novamente, atingindo os quase 60 dólares por barril.
Em 2008 o vertiginoso aumento do preço, atingindo no mesmo ano o valor de 140 dólares o barril, levou a muitos economistas e a mídia em geral a denominar esse período como o terceiro choque do petróleo.
O terceiro choque do petróleo, diferentemente dos anteriores, se relaciona a um conjunto de fatores que estão relacionados a contextos geopolíticos, como a greve da indústria petrolífera na Venezuela em 2002 e 2003, a guerra do Iraque e conflitos na Nigéria. Porém, o diferencial dessa crise é que além dessas questões o terceiro choque foi relacionado a uma questão econômica conjuntural.
O crescimento econômico dos países, conhecidos como emergentes, pressionou de forma decisiva a demanda do petróleo e a produção não foi capaz de suprir, em curto espaço de tempo, esse crescimento. Principalmente nos casos da China e Índia, dois países com os maiores crescimentos econômicos ao longo da primeira década do século XXI, houve grande aumento da necessidade do petróleo como combustível básico para as indústrias desses países.
 A questão do controle sobre o preço do petróleo é instável e, por conta disso, a economia mundial está comprometida de manter a dependência em relação a essa matriz energética.
Pesquise em jornais ou revistas impressas ou online notícias que relacionam o atual contexto internacional com o preço do petróleo no comércio internacional. Boa Pesquisa!
 
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1 Dados disponíveis em http://br.advfn.com/. Acessado em 10/02/07.
2 Cartel é o monopólio da produção e/ou comercialização de um produto no mercado internacional.
 
Aula 17_A Desigual distribuição da riqueza do Petróleo
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Temática: A Desigual distribuição da riqueza do Petróleo
 
Nas aulas anteriores, vimos o quanto o petróleo representa uma riqueza para os países que o possuem. Vimos também o poder que o petróleo representa num mundo que depende dele como matriz energética. A consequência disso para os países detentores dessa riqueza deveria ser o desenvolvimento econômico e social do seu país, com destaque para a qualidade de vida da sua população. No entanto, não é bem isso o que acontece. Nossa aula de hoje abordará o porquê a riqueza produzida pelo petróleo não atinge as populações locais.
O petróleo é hoje uma das maiores riquezas mundiais. Poucos países possuem reservas dessa importante matéria-prima. Portanto, os que detêm esse poder, são os países mais ricos e desenvolvidos do mundo. Parece ser um raciocínio lógico, porém o sistema capitalista não possui uma lógica tão linear assim, e, portanto, essa não é a realidade atual dos países exportadores de petróleo.
A maior parte dos países exportadores de petróleo e a totalidade dos países pertencentes à OPEP são subdesenvolvidos. Milton Santos (1979, p.30) define um país subdesenvolvido como “uma formação socioeconômica dependente, um espaço onde o impacto das forças externas é preponderante em todos os processos. Por esse motivo, sua organização do espaço é dependente”.
A organização do espaço dependente e as forças externas, diz Milton Santos, significam que o Estado está submetido ao serviço do grande capital, este vindo de fora, geralmente de uma grande corporação transnacional.
Nas palavras do autor:
 
[...] no Terceiro Mundo, o Estado prepara as condições para que as maiores empresas, sobretudo as estrangeiras, possam apropriar-se da mais-valia local, que elas mandam para fora ou utilizam para incrementar seus ativos e aumentar, assim, suas possibilidades de ampliar a própria mais-valia (Santos, 1979, p.31).
 
É exatamente isso o que acontece com os países pobres, subdesenvolvidos e que possuemrecursos petrolíferos. Sem condições próprias de investir na exploração do recurso, seja com empresas públicas ou particulares locais, eles se associam ao grande capital estrangeiro para bancar os investimentos na exploração, refino e distribuição do petróleo.
Em contrapartida, recebem uma pequena parte da riqueza produzida pelo petróleo que ainda se concentra nas mãos da elite local, composta muitas vezes por boa parte de imigrantes que se deslocaram para o local com a intenção de se apropriar daquela riqueza.
Para a população local não sobra praticamente nada. Na verdade, ainda sobram prejuízos, pois esses acordos internacionais geram, muitas vezes, uma enorme dívida para o país pagar ‘o grande investimento’ feito na produção do petróleo em território alheio.
Alguns dados são interessantes e nos mostram essa realidade conflituosa. Por exemplo, o caso da Arábia Saudita, no Oriente Médio, o país com o maior potencial petrolífero do mundo, tanto em relação a reservas como em produção, possui um PIB (Produto Interno Bruto) per capita de 25.136 dólares no ano de 2012, segundo dados disponibilizados pelo IBGE. É o 19º maior PIB do mundo de uma relação de mais de 170 países segundo o ranking do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Para termos uma ideia do quanto isso significa, o PIB per capita da Arábia Saudita é maior do que de muitos países da Europa Central e Oriental, como Portugal, Estônia, Polônia, Eslováquia, Croácia e até da Rússia. Maior do que o PIB per capita dos países de maior crescimento econômico na primeira década do século XXI, como a China e Índia1. É também maior do que muitos países industrializados, como o Brasil, México, África do Sul e Argentina.
Porém, em relação ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), índice esse criado pela ONU para medir a qualidade de vida da população, a Arábia Saudita despenca para 57º posição no ranking de 2012, atrás de vários países acima listados.
O IDH é um dado numérico que varia de 0 a 1, em que quanto mais próximo do número inteiro maior é a qualidade de vida da população. Para compor esse número, são levadas em consideração as variáveis de PIB per capita, taxa de alfabetização e expectativa de vida da população.
O mesmo ocorre com os Emirados Árabes Unidos. Em relação ao PIB per capita a posição do país é a 32º da mesma relação comentada acima, com 41.692 dólares per capita, enquanto em relação ao IDH, o país assume a 41º posição, com um IDH de 0,818, segundo dados do IBGE para o ano de 2012.  
Será então que todos os países produtores e exportadores de petróleo possuem uma economia avançada convivendo com baixa qualidade de vida?
Para apontar caminhos dessa questão, vamos analisar um caso bem diferente dos dois anteriores. Vimos na aula passada que a Noruega foi a 10ªmaior produtora e 3º maior exportadora de petróleo em 2006. Porém, diferente do que ocorre com a Arábia Saudita e os Emirados dos Árabes Unidos, a riqueza gerada pelo país reflete diretamente na qualidade de vida da população.
Com um PIB per capita em 2012 de mais de 100 mil dólares, o que significou o 22º lugar no ranking do PIB mundial segundo o FMI, em termos de qualidade de vida a Noruega aparece com a 1ª posição mundial em IDH com um valor de 0,955.
Isso significa dizer que não são todos os casos dos países produtores e exportadores de petróleo com qualidade de vida baixa. A diferença entre esses países pode ser explicada pela atuação do Estado no estabelecimento de prioridades para investimento e nas próprias empresas petrolíferas em atuação no país.
Enquanto no caso dos países árabes há a atuação de diversos grupos estrangeiros na produção de petróleo, na Noruega a maior parte das empresas, sobretudo as de grande porte, são originárias do próprio país.
 Vimos o quão desigual é a distribuição da riqueza produzida pelo petróleo, sobretudo muito pouco dessa riqueza fica no país que o produz.
  
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1 Nesses dois casos precisamos ter em mente que o PIB per capita está diretamente relacionado com o número de habitantes do país. Índia e China,  como sabemos, possuem a maior população nacional do mundo e representam juntas mais do que 30% da população mundial em 2010.
Aula 18_Os fixos e os fluxos na economia mundial
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Temática: Os fixos e os fluxos na economia mundial
 
Na aula de hoje, trabalharemos com dois conceitos da Geografia, os fixos e os fluxos, com o objetivo de refletir sua relação com os pontos do território que servem à circulação das mercadorias: os portos e os aeroportos.
A economia mundial hoje se dá a partir de relações que não envolvem necessariamente a presença física de pessoas ou de mercadorias. Com a velocidade dos meios de transportes e comunicações, as relações comerciais entre os países se dão cada vez mais virtualmente ou, o que denominamos hoje, através do ciberespaço.
Ciberespaço é o conceito utilizado para representar as informações, conteúdos, relações de qualquer natureza que ocorrem por meios de comunicação ágeis, como a Internet.ou telefones móveis.
As relações econômicas, objeto de nossa discussão aqui, estão permeadas por este tipo de relação. As mercadorias vão e vem sem que as pessoas que a estão comercializando se encontrem. As maiores transações comerciais, aquelas que ocorrem dentro das Bolsas de Valores, são feitas sem algo concreto a ser comercializado, são papéis virtuais, as ações, que não existem no campo material. Isso é um dado do atual estágio da globalização.
Mas, se isso acontece, como podemos analisar as relações econômicas hoje? A partir de que dados ou referenciais podemos nos basear para essa análise se tudo ocorre no campo da virtualidade?
E nós, como geógrafos, se muitas relações ocorrem no meio virtual, se não existem concretamente, como há produção do espaço? O espaço deixará de existir? Falaremos agora da produção apenas de um ciberespaço?
Milton Santos trabalha com dois conceitos na produção do espaço que nos oferecem uma referência em relação a isso: os fluxos e os fixos. “O espaço é, também e sempre, formado de fixos e de fluxos. Nós temos coisas fixas, fluxos que se originam dessas coisas fixas, fluxos que chegam a essas coisas fixas. Tudo isso, junto, é o espaço” (Santos, 1994, p.77).
O que Milton Santos já dizia na década de 1990 é que os fluxos são uma característica do mundo, ainda mais com a intensificação da mundialização. Porém, esses fluxos estão ligados necessariamente aos fixos, pois a informação tem de ser gerada em algum lugar, isso envolve pessoas, máquinas,  um ponto do espaço geográfico.
 
Para entendermos melhor, podemos ver o exemplo do nosso curso virtual de graduação. A informação, a troca de experiências, os fóruns, os chats, isso tudo são fluxos que vão e vêm em um ambiente virtual, a Internet. Mas, os fluxos não significam nada sem os fixos, as pessoas, alunos e professores, os locais que elas acessam as aulas, a biblioteca, ponto de referência de qualquer estudante universitário.
Assim, por mais virtual que sejam as relações, por mais que o ciberespaço cresça e atinja cada vez mais lugares e pessoas, eles vão estar relacionados, necessariamente, com os fixos que estão gerando essas relações, apesar de estarem em pontos geográficos diferentes. 
Voltando a nossa análise da economia, se pensarmos dessa forma, as mercadorias que podem ser imateriais ou não, que navegam em um ciberespaço ou não, sempre vão possuir fixos que gerarão um espaço geográfico.
Essa ideia de fixos e fluxos sugere que as relações econômicas se dão em redes. Essas redes são as ligações, os meios de comunicação e transporte de mercadorias que unem vários pontos do território, os ‘nós’. 
Assim, em uma comercialização de ações de uma dada empresa, um exemplo das relações virtuais do ciberespaço, não há um encontro de pessoas, nem a materialidade da mercadoria em um primeiro momento. Mas, não podemos deixar de considerar que há uma inter-relação entre dois pontos do território, que chamaremos a partir de agora de nó. 
Esses ‘nós’, distantes fisicamente entre si, ao estabelecerem relações, criam as redes de ligação dos nós.

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