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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL PEDRO LEITE MACHADO AS POSSIBILIDADES DE INTERVENCÃO DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM A FOBIA SOCIAL ARARAQUARA – SP 2014 PEDRO LEITE MACHADO AS POSSIBILIDADES DE INTERVENCÃO DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM A FOBIA SOCIAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a finalização do Curso de Especialização em Terapia Cognitivo-comportamental, pelo Centro Universitário de Araraquara – Uniara. Orientadora: Giseli Renata G. Lamoréa ARARAQUARA – SP 2014 DECLARAÇÃO Eu, Pedro Leite Machado, declaro ser o autor do texto apresentado Trabalho de Conclusão de Curso, no programa de pós-graduação lato sensu em Terapia Cognitivo-comportamental com o título “As possibilidades de intervenção cognitivo-comportamental com a fobia social”. Afirmo, também, ter seguido as normas do ABNT referentes às citações textuais que utilizei e das quais eu não sou o autor, dessa forma, creditando a autoria a seus verdadeiros autores. Através dessa declaração dou ciência de minha responsabilidade sobre o texto apresentado e assumo qualquer responsabilidade por eventuais problemas legais, no tocante aos direitos autorais e originalidade do texto. Araraquara, 09 de junho de 2014. _____________________________________ Assinatura do autor PEDRO LEITE MACHADO AS POSSIBILIDADES DE INTERVENCÃO DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM A FOBIA SOCIAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a finalização do Curso de Especialização em Terapia Cognitivo-comportamental, pelo Centro Universitário de Araraquara – Uniara. Orientadora: Giseli Renata G. Lamoréa Data da defesa/entrega: ___/___/____ MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: Presidente e Orientador: Nome e título Membro Titular: Nome e título Membro Titular: Nome e título Universidade. Média______ Data: ___/___/____ Centro Universitário de Araraquara Araraquara- SP Dedicatória Dedico a realização deste trabalho à minha esposa Edmara, que me apoiou e me fortaleceu nesta caminhada, e aos meus clientes que me proporcionaram novas perspectivas e me instigaram na busca de novas possibilidades na prática psicológica. Agradecimentos Agradeço a Deus, razão da minha existência, que a todo instante ilumina os meus passos. À Iris Teresa Lafuente Ávila, professora do curso de pós- graduação em Psicologia, pelo carinho e companheirismo durante todo este percurso. À professora Giseli Renata Gouvea Lamoréa, minha orientadora, pela paciência e colaboração para meus conhecimentos. Aos meus colegas de curso pelas contribuições que muito auxiliaram no processo de aprendizagem. RESUMO Este trabalho de revisão bibliográfica tem por objetivo constatar a eficácia da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), através da investigação das práticas e resultados obtidos pela aplicação das suas técnicas e estratégias terapêuticas mais utilizadas no enfrentamento da fobia social. Nesta amostra foram selecionados 21 estudos produzidos entre os anos 2004 e 2013, que avaliaram a práticas da TCC nas modalidades terapêuticas individuais e em grupo, bem como os estudos específicos sobre as técnicas e/ou os efeitos da TCC na fobia social. Os estudos verificados demonstraram que as técnicas e estratégias utilizadas pela TCC se constituem em importantes instrumentos, sendo na maioria das vezes utilizadas em conjunto, possibilitando uma adequação em cada caso e a progressão no processo psicoterapêutico. Nesse sentido, observamos que as técnicas mais utilizadas em conjunto foram a reestruturação cognitiva e o treino de exposição. Observou-se também que a maioria dos trabalhos desta revisão enfatiza a utilização da Terapia Cognitiva Comportamental na modalidade individual (TCCI), sendo que, apenas 4 dos 21 estudos abordaram detalhadamente a modalidade de grupo (TCCG), evidenciando assim uma carência de produções acadêmicas e práticas clínicas na modalidade grupal. De um modo geral, a maioria dos trabalhos apresentam seus resultados indicando significativas melhoras no curso do processo psicoterapêutico, apontado para a eficácia da Terapia Cognitiva Comportamental no enfrentamento da fobia social. Palavras-chave: Terapia Cognitiva Comportamental; Ansiedade Social; Fobia Social. ABSTRACT This bibliographic review aims to verify the effectiveness of Cognitive Behavioral Therapy (CBT), through research practices and results obtained by the application of its techniques and therapeutic strategies most used in confronting social phobia. In this sample 21 studies produced between 2004 and 2013, which reviewed the CBT practices in individual and group treatment modalities were selected, as well as specific studies on technical and/or the effects of CBT in social phobia. Verified studies have shown that the techniques and strategies used by CBT constitute important instruments, being most often used together, allowing an adjustment in each case and the progression in the psychotherapeutic process. In this sense, we note that the techniques used together were cognitive restructuring and workout of exposure. It was also noted that most studies of this review emphasizes the use of Cognitive Behavioral Therapy in individual mode (CBTI), while only 4 of the 21 studies addressed in detail the batch mode (CBTG), thus showing a lack of academic productions and clinical practice in group mode. In general, most studies present results indicating significant improvements in the course of the psychotherapeutic process, pointed to the effectiveness of Cognitive Behavioral Therapy in confronting social phobia. Keywords: Cognitive Behavioral Therapy; Social Anxiety; Social Phobia. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 1 - Lista de estudos sobre intervenções da TCC na Fobia Social. 35 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Técnicas e estratégias da TCC abordadas nos estudos. 41 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APA – Associação Americana de Psiquiatria; DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 4ª edição; EX - Exposição; EV - Exposição em vídeo; FB - Feedback; FS – Fobia Social; HS - Habilidades Sociais; RC - Reestruturação cognitiva; RL - Relaxamento; RV - Realidade Virtual; PS - Psicoeducação; TA - Treino de Atenção; TC - Tarefas para casa; TAS - Transtorno de Ansiedade Social; TCC - Terapia Cognitiva Comportamental; TCCG - Terapia Cognitiva Comportamental de Grupo; TCCI - Terapia Cognitiva Comportamental Individual; THS – Treino em Habilidades Sociais. 11 Sumário INTRODUÇÃO..................................................................................................12 1. OBJETIVO.................................................................................................... 14 1.1. Geral...................................................................................................... 14 1.2. Específicos............................................................................................. 14 2. METODOLOGIA........................................................................................... 14 3. RESULTADOS ............................................................................................ 15 3.1. Fundamentos da Terapia Cognitiva Comportamental........................... 15 3.2. Transtorno de ansiedade social ou fobia social.................................... 22 3.3. Técnicas utilizadas pela TCC na fobia social....................................... 27 3.4. Revisão da Literatura............................................................................ 34 4. DISCUSSÃO................................................................................................ 40 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 45 REFERÊNCIAS............................................................................................... 46 12 INTRODUÇÃO O interesse pelo tema da fobia social surgiu no período de realização da pós-graduação em Terapia Cognitivo-comportamental (TCC), onde foram estudadas diversas práticas de atendimento nesta abordagem psicológica. A partir deste percurso foi possibilitado um novo olhar, através do contato com indivíduos que apresentavam queixas deste transtorno mental, conhecido também como transtorno de ansiedade social (TAS). Dessa forma, esta experiência instigou a necessidade de novas descobertas a partir da busca de mais informações sobre o tema. Nesta perspectiva, este trabalho é resultado de uma breve revisão bibliográfica das principais práticas psicoterapêuticas utilizadas no tratamento desse transtorno mental. O termo fobia social ou transtorno de ansiedade social é usado para designar um tipo de ansiedade intensa que ocorre em situações sociais e de desempenho, que acaba produzindo sofrimento e perdas de oportunidades (D’EL REY, 2001). As situações sociais são evitadas ou suportadas com grande ansiedade e sofrimento por esses pacientes, embora exista o desejo de realizar o contato social temido. O comportamento fóbico-evitativo determina grave prejuízo no funcionamento do indivíduo, seja no trabalho, na escola ou nas relações sociais habituais. (MULULO, 2009, p.1) A fobia social apresenta significativa interferência nas rotinas de trabalho, acadêmicas e sociais da pessoa. Essas situações tendem a prejudicar a qualidade de vida dos indivíduos, provocando quase sempre a interrupção prematura da vida acadêmica, ausência de lazer, falta de relacionamento com amigos, desemprego constante e, em casos extremos, a isolação social (PICON, 2004). Devido os variados graus de comprometimento observados clinicamente, a fobia social pode ser interpretada com um tipo de timidez excessiva, observação esta, que não deve ser desprezada. Quando diagnosticada precocemente há um leque de estratégias terapêuticas que podem ser utilizadas para prevenir as consequências, principalmente nas 13 crianças e adolescentes. Dessa forma, o diagnóstico dos sintomas, principalmente no âmbito escolar e orientação familiar, deve ser inserido na abordagem clínica. Neste contexto, a principal estratégia terapêutica consiste no tratamento psicológico adequado, associado ou não a medicamentos (DEL REY & ABDALLAH, 2006). Na busca de dar ao portador de fobia social uma melhor qualidade de vida, para que se minimizem os efeitos incapacitantes desse transtorno mental, faz-se necessária uma prática terapêutica que o auxilie em sua autoavaliação, para que este tenha possibilidade de rever seus medos irracionais e passe a adotar comportamentos de enfrentamento que o leve a um novo patamar de qualidade de vida. Nesse sentido, as pesquisas tem comprovado que terapia cognitivo-comportamental vem apresentando melhores resultados, se comparados a outros modelos de psicoterapia. Assim, a TCC tem se mostrado mais eficaz e com efeitos terapêuticos duradouros, o que tem despertado a atenção dos pesquisadores e clínicos no tratamento da fobia social, em relação aos demais tratamentos psicológicos (LINCON et al., 2003; OTTO, 1999; DYCK, 1996; BUTLER et al., 1984 apud DEL REY & PACINI, 2005, p.232). Considerando que a fobia social tem representado um grande problema de saúde mental, por suas características incapacitantes e por suas diferentes formas de manifestação na vida das pessoas, esta pesquisa busca demonstrar como a TCC vem construindo suas práticas terapêuticas de forma a adaptar-se às exigências no campo da saúde mental na atualidade. Nesse sentido, este estudo busca constatar como as intervenções da TCC têm promovido a diminuição da ansiedade social a partir da mudança no padrão de comportamentos das pessoas portadoras desse transtorno mental. Assim, esse trabalho apresentará uma visão resumida dos fundamentos teóricos da TCC; abordará o transtorno de ansiedade social (TAS) e na sequência serão descritas as técnicas da TCC, reconhecidamente eficazes para o tratamento da fobia social. 14 1. OBJETIVOS 1.1. Objetivo Geral Diante do interesse pela temática da fobia social, este trabalho tem por objetivo principal verificar, por meio de revisão bibliográfica, a eficácia da terapia cognitivo-comportamental em indivíduos com fobia social. 1.2. Objetivos Específicos Os objetivos específicos desta pesquisa são: a) buscar as práticas reconhecidamente eficazes e mais utilizadas pela TCC no enfrentamento da fobia social; b) verificar os resultados descritos nas produções acadêmicas a partir da utilização dos instrumentos terapêuticos da TCC na fobia social. 2. METODOLOGIA A realização deste trabalho se deu a partir de buscas realizadas na internet da referida literatura nas bases de dados das bibliotecas eletrônicas: SCIELO, MEDLINE, GOOGLE ACADÊMICO, BIREME e LILACS. Nas buscas digitais serão utilizadas as seguintes palavras-chave: Fobia Social, Ansiedade Social, Transtorno de Ansiedade Social (TAS) e Terapia Cognitivo- comportamental (TCC). Serão incluídos nos levantamentos os artigos que avaliaram conjuntamente as modalidades terapêuticas individuais e em grupo, em indivíduos com fobia social. Após o levantamento das obras existentes nessas bases, serão consideradas publicações no idioma em português, no período de publicação entre 2000 e 2013, com estudos específicos sobre as técnicas e/ou os efeitos da TCC na fobia social. Serão descartados estudos abrangendo comorbidades com outros transtornos. 15 3. RESULTADOS 3.1. Fundamentos da Terapia Cognitiva Comportamental A Terapia Cognitiva surgiu na década de 1950, a partir de uma pesquisa realizada pelo psiquiatra e psicanalista Aaron Beck, que realizou um estudo onde buscava explicar os processos psicológicos na depressão, em uma tentativa de provar a teoria freudiana de depressão como hostilidade retrofletida reprimida. Após análises em pacientes deprimidos, Beck propôs em seus estudos que os sintomas observados poderiam ser explicados em termos cognitivos, considerando que as interpretações das situações vivenciadas poderiam ser tendenciosas, devido estarem sendo atribuídas à ativação de representações negativas que possuíam de si mesmo, do seu mundo e da suaimagem do futuro (KNAPP & BECK, 2008). A Teoria Cognitiva tem como principal objeto de estudo a natureza e a função dos aspectos cognitivos, ou seja, como se realiza o processamento de informações e a atribuição de significado às coisas ou eventos. Assim, busca caracterizar a natureza de processos contidos em determinada psicopatologia, de maneira que, se ativados dentro de contextos específicos, caracterizam-se como disfuncionais ou mal adaptados. Outro objetivo implica em fornecer estratégias capazes de retificar estes conceitos particulares construídos pelo indivíduo (BECK & ALFORD, 2000). A Terapia Cognitiva baseia-se na comprovação de inúmeras pesquisas, e já teve sua eficácia comprovada em indivíduos de ambos os sexos, de diferentes faixas etárias e de diversos níveis socioeconômicos. Por essa razão, tem sido a mais indicada para os tratamentos mentais como: Transtornos de Ansiedade Generalizada, Transtorno do Pânico, Transtorno Depressivo, Fobia Social, dentre outros. Em sua prática clínica, constitui-se de uma terapia breve, que se utiliza de técnicas comportamentais, como: exposição, prevenção da resposta, modelagem, role-playing e relaxamento. É estruturada e orientada para o presente, para a solução de problemas e modificação de comportamentos e pensamentos disfuncionais. Por mesclar os processos cognitivos aos comportamentais, em sua teoria e prática, a Terapia Cognitiva é 16 denominada mais precisamente de Terapia Cognitiva Comportamental (BECK, 1997). Aaron Beck, o fundador da terapia cognitiva, formulou uma base teórica coerente antes do desenvolvimento de estratégias terapêuticas. As diretrizes para desenvolver e avaliar o novo sistema de psicopatologia e psicoterapia foram: 1) construir uma teoria abrangente de psicopatologia que dialogasse bem com a abordagem psicoterápica; 2) pesquisar as bases empíricas para a teoria; e 3) conduzir estudos empíricos para testar a eficácia da terapia. (KNAPP & BECK, 2008, p.55). A premissa básica Terapia Cognitiva Comportamental diz que o modo dos indivíduos se sentirem e se comportarem serão determinados pela da maneira como eles interpretam suas experiências. Assim, é pela maneira como os indivíduos interpretam os fatos que se produzem os problemas emocionais e não o fato em si mesmo (RANGÉ, 1995). As crenças que temos sobre nós mesmos, sobre o mundo e sobre o futuro, determinam o modo como nos sentimos: o que e como as pessoas pensam afeta profundamente o seu bem-estar emocional (BECK et al., 1979). Os cognitivistas defendem a ideia de que o homem primeiro pensa e depois se comporta, valorizando a função mental. Assim, a importância e relevância da função cognitiva e percepção das coisas e do mundo que irá influenciar a nossa emoção e comportamento (RANGÉ, 1998). A Terapia cognitiva Comportamental está fundamentada nos princípios filosóficos do racionalismo de Karl Popper e no construtivismo. Estas teorias defendem a ideia que o sujeito tem uma participação ativa no processo de interação e conhecimento do mundo, e a partir daí constrói hipóteses e teorias do mundo, das situações e das coisas. Com isso, a proposta positivista do construtivismo indica que a realidade que o homem tem do mundo provém dos erros, das hipóteses. Assim, as representações formuladas pelo homem não seriam determinadas pelo objetivo, mas seriam construídas por ele mesmo a partir das hipóteses (BAHLS, 2003). 17 Outra premissa apresentada pela proposta cognitivista é como a relevância das crenças e do pensamento podem determinar a emoção e bem estar. Nessa perspectiva, os pensamentos têm a capacidade de influenciar as emoções e, de modo contínuo, as emoções influenciam os pensamentos. Baseados nessa tese retifica-se que as emoções e comportamentos são influenciados pela forma de processamento. A partir do processamento, o significado que se atribui à situação ou objeto seria fruto da percepção particular, individual da pessoa. Assim, a intervenção do cognitivismo seria para trabalhar com as emoções e comportamentos (HAWTON et al., 1997). O objetivo da Terapia Cognitiva Comportamental é promover avaliações realistas e adaptativas dos fatos da vida em lugar de distorções cognitivas. Para tal, é utilizada uma abordagem colaborativa psicoeducacional de tratamento, na qual experiências de aprendizagens específicas buscam ensinar os indivíduos a monitorar seus pensamentos automáticos; reconhecer as relações entre cognição, afeto e comportamento; testar a validade dos pensamentos automáticos, substituir os pensamentos distorcidos por cognições mais realistas; identificar e alterar as crenças, pressupostos ou esquemas subjacentes aos padrões errôneos de pensamentos (KNAPP & COLS, 2004). A Terapia Cognitiva apresenta seus principais conceitos, propostos por Beck, como: esquema, crença central, crença intermediária, pensamento automático e distorções cognitivas (BECK et al. 1979). Os esquemas são estruturas cognitivas que formam significado, a partir da experiência que nos ajudam a interpretar o mundo. A partir dos esquemas nossas experiências são filtradas, avaliadas, codificadas, categorizadas e interpretadas. Eles se formam a partir das primeiras relações do indivíduo com o meio, com isto, valoriza-se a fase da infância, pois o mundo externo é apresentado logo após o nascimento (BECK & ALFORD, 2000). O conceito de “Crença Central”, também conhecido como crença nuclear, defende que este tipo crença constitui o nível mais profundo da estrutura cognitiva e são compostas por ideias rígidas, absolutistas e globais que o indivíduo tem sobre si mesmo. Estas crenças são formadas por ideias e 18 conceitos a respeito de nós mesmos, das pessoas e do mundo. Elas são aceitas sem grandes questionamentos, são mantidas passivamente e reforçadas sistematicamente (RANGÉ, 2001). As crenças centrais são ideias e conceitos mais enraizados e cristalizados acerca de nós mesmos, dos outros e do mundo. São constituídas desde as nossas primeiras experiências na infância e se solidificam ao longo da vida, moldando assim nosso jeito de ser e agir no mundo. Tratando-se de crenças disfuncionais, aquilo que não é modificado ou corrigido em fase desadaptativa, pode chegar à fase adulta como verdades absolutas (KNAPP, 2004). As Crenças intermediárias correspondem ao segundo nível de pensamento e não são diretamente relacionadas às situações, ocorrendo sob a forma de suposições ou regras. São construções cognitivas disfuncionais, expressas em forma de regras, normas, premissas e atitudes que adotamos e que guiam a nossa conduta. Estas crenças encontram-se presentes em inúmeras situações existenciais. Elas derivam e reforçam as crenças centrais, pois pressupõem que, desde que determinadas regras, normas e atitudes sejam cumpridas, não haverá problema, e o indivíduo se mantém relativamente estável e produtivo. Embora os indivíduos construam e mantenham as crenças intermediárias como tentativa de lidar com suas crenças e esquemas desadaptativos, eles acabam confirmando e reforçando (KNAPP, 2004). O conceito de “Pensamento Automático" parte da compreensão de que existem pensamentos que ocorrem espontânea e rapidamente nas fronteiras da consciência, sendo interpretações imediatas das mais variadas situações. Tais pensamentos são chamados de “automáticos”, pois são diferentes do fluxo normal de pensamentos observado no raciocínio reflexivo ou na livre associação. Geralmente estes pensamentos são avaliados como razoáveis e são aceitos como verdadeiros (KNAPP & BECK, 2008). Conforme Beck (1997), mesmo que alguns pensamentos automáticos sejam verdadeiros,a maioria deles é falsa ou trazem em seu conteúdo apenas 19 verdades parciais. Assim, a autora descreve, na lista a seguir, os erros típicos destes pensamentos disfuncionais: 1. Pensamento do tipo tudo-ou-nada (também chamado de pensamento preto-e-branco, polarizado ou dicotômico): Você vê uma situação em apenas duas categorias em vez de em um contínuo. Exemplo: “Se eu não for um sucesso total, eu sou um fracasso”. 2. Catastrofizando (também denominado adivinhação): Você prevê o futuro negativamente sem considerar outros resultados mais prováveis. Exemplo: “Eu ficarei tão aborrecida que não serei capaz de agir direito”. 3. Desqualificando ou desconsiderando o positivo: Você irrazoavelmente diz para si mesmo que experiências, atos ou qualidades positivos não contam. Exemplo: “Eu fiz bem aquele projeto, mas isso não significa que eu seja competente; eu apenas tive sorte”. 4. Argumentação emocional: Você pensa que algo deve ser verdade porque você “sente” (em realidade, acredita) isso de maneira tão convincente que acaba por ignorar ou desconsiderar evidências contrárias. Exemplo: “Eu sei que eu faço muitas coisas certas no trabalho, mas eu ainda me sinto como se eu fosse um fracasso”. 5. Rotulando: Você coloca um rótulo global e fixo sobre si mesmo ou sobre os outros sem considerar que as evidências poderiam ser mais razoavelmente conduzidas a uma conclusão menos desastrosa. Exemplo: “Eu sou um perdedor. Ele não presta”. 6. Magnificação/minimização: Quando você avalia a si mesmo, outra pessoa ou uma situação, você magnifica irracionalmente o negativo e/ou minimiza o positivo. Exemplo: “Receber uma nota medíocre prova quão inadequada eu sou. Obter notas altas não significa que eu sou inteligente”. 7. Filtro mental (também denominado abstração seletiva): Você presta atenção indevida a um detalhe negativo em vez de considerar o quadro geral. Exemplo: “Porque eu tirei uma nota baixa na minha avaliação [que também continha várias notas altas] isso significa que eu estou fazendo um trabalho deplorável”. 8. Leitura mental: Você acha que sabe o que os outros estão pensando, falhando assim ao considerar outras possibilidades mais prováveis. Exemplo: “Ele está pensando que eu não sei nada sobre esse projeto”. 9. Supergeneralização: Você tira uma conclusão negativa radical que vai muito além da situação atual. Exemplo: “[Porque eu me senti desconfortável no encontro] eu não tenho o que é necessário para fazer amigos”. 10. Personalização: Você acredita que os outros estão se comportando negativamente devido a você, sem considerar 20 explicações mais plausíveis para o seu comportamento. Exemplo: “O encanador foi rude comigo porque eu fiz algo errado”. 11. Declarações do tipo “eu deveria” e “eu devo” (também chamadas imperativas): Você tem uma ideia exata estabelecida de como você ou os outros deveriam comportar- se e você superestima quão ruim é que essas expectativas não sejam preenchidas. Exemplo: “É terrível que eu tenha cometido um erro. Eu deveria sempre dar o melhor de mim”. 12. Visão em túnel: Você vê apenas os aspectos negativos de uma situação. Exemplo: “O professor do meu filho não sabe fazer nada direito. Ele é crítico, insensível e ensina mal”. (BECK, 1997, p. 129-130) As Distorções cognitivas podem ser compreendidas como erros sistemáticos na percepção e no processamento de informações de um indivíduo. Pessoas com depressão tendem a estruturar suas experiências de forma absolutista e inflexível, resultando assim em erros de interpretação quanto ao desempenho pessoal e ao julgamento das situações externas (BECK, 1995; SCHER et al., 2005 apud POWELL, 2008). As Distorções cognitivas sistemáticas ocorrem à medida que esquemas disfuncionais são ativados. Como estratégias de enfrentamento, na tentativa de evitar o contato com suas crenças centrais e intermediárias, o indivíduo pode utilizar estratégias compensatórias. Apesar dessas manobras cognitivas e comportamentais aliviarem momentaneamente o sofrimento emocional produzido, em longo prazo estas estratégias compensatórias tendem reforçar e piorar essas crenças disfuncionais (KNAPP & BECK, 2008). A “tríade cognitiva” é outro conceito utilizado pela Terapia cognitiva, que indica a percepção que o indivíduo tem de si mesmo, do outro e do mundo, ou a perspectiva de futuro. Nessa perspectiva entendemos que a ideia que temos de nós mesmos, do outro e do mundo se constituem em estruturas que nos dão a compreensão de realidade. Dessa maneira, a partir destes três componentes (ele, o outro e o mundo, ou que o rodeia, o que está na frente), o indivíduo passa a reconhece-se em sua singularidade (RANGÉ, 1998). Na Terapia Cognitiva Comportamental, é fundamental que a o processo de psicoterapia tenha como objetivo trabalhar junto com o paciente as mais 21 diversas estratégias para a resolução de problemas, e formas de pensar mais próximos à realidade, sem distorções e percepções distorcidas que causam e despertam angustia, e sim, buscar facilitadores das mais diversas formas de pensar para ampliar a percepção de si mesmo, do outro e do mundo, bem como das expectativas e perspectivas do futuro (LETTNER, 1998). Normalmente, a TCC é praticada no formato individual (TCCI). Entretanto, Beck, Rush, Shaw e Emery (1979), relatam a utilização na modalidade em grupo no tratamento da depressão. Inicialmente esta adaptação foi motivada buscando atender mais pacientes no mesmo intervalo de tempo e reduzir o investimento recursos financeiros do sistema de saúde. Entretanto, esta modalidade da terapia cognitivo-comportamental em grupo (TCCG) mostrou-se ir muito além da relação custo-benefício desejada. Em especial, no tratamento dos Transtornos de Ansiedade, existem vários estudos que comprovam sua eficácia e efetividade. Embora a abordagem em grupo esteja cada vez mais difundida, existe uma carência na produção de literatura referente às suas especificidades e às possibilidades que este modelo proporciona (BECK et al., 1979 apud BIELING et al., 2008). 22 3.2. Transtorno de ansiedade social ou fobia social A fobia social, também conhecida como transtorno de ansiedade social (TAS) é classificada no DSM-IV-TR em duas categorias: o generalizado e o circunscrito. A forma generalizada é a mais irracional, pois os indivíduos sofrem de ansiedade grave e de maior comprometimento, relacionado a uma série de situações, como por exemplo: o desempenho em público, interações sociais em participar de festas, pequenos grupos, iniciarem conversas, etc. Já a forma circunscrita restringe-se a uma ou duas situações de desempenho tais como: falar em público, escrever ou comer na presença de outras pessoas. De uma maneira geral, a fobia social é caracterizada por um medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho. A pessoa passa a ter medo que suas ações denunciem os sintomas de ansiedade que lhe sejam humilhantes e embaraçosos, levando isso a produzir uma resposta de ansiedade intensa pela exposição à situação social temida. Geralmente a pessoa passa a evitar tais situações ou as suporta com intenso sofrimento (APA, 2002). Segundo Picon (2003), até a década de 80, os casos de ansiedade ou fobia social eram descritos na literatura da área de Psicologia como timidez patológica, ansiedade de encontro ou mesmo insegurança. O transtorno de ansiedade social (TAS) recebeu pouca atenção dos pesquisadores durante muito tempo, somente em meados da década de 80 deixou de ser negligenciado, passando a ser mais bem estudado. Com a publicação do DSM- III, a fobia social passou a ser reconhecidaoficialmente como um transtorno psiquiátrico, ganhando a partir daí, o interesse significativo por sua terapêutica, o que é observado pelo crescente número de publicações sobre o tema a partir de então. Mesmo assim, a fobia social continua sendo um transtorno mental que necessita de mais estudos e aprofundamentos que deem conta de preencher dúvidas existentes e solucionar possíveis distorções produzidas sobre esse tema (LIEBOWITZ et al., 1985). Como a fobia social se manifesta entre a infância e a adolescência, é bem provável que o adiamento ou a procura tardia para tratamento seja devido o desconhecimento ou uma identificação equivocada da fobia social, que 23 muitas vezes é interpretada como uma timidez ou parte da personalidade do indivíduo. Na medida em que as situações sociais ficam mais complexas estes sintomas tendem a se agravarem, trazendo prejuízos em várias áreas na vida do portador de fobia social. Muitas vezes tais sintomas acabam evoluindo para comorbidades como: depressão, pânico, adicção e outros transtornos de ansiedade. Assim, o portador de fobia social acaba desenvolvendo um medo central de ser avaliado negativamente pelas pessoas, transformando todo contato social num motivo de intensa ansiedade. Por possuir uma autoimagem negativa, este indivíduo acaba mantendo e intensificando esse medo, devido foco excessivo em si mesmo e a autocrítica e a autocobrança a respeito do próprio desempenho nas situações sociais (LEAHY, 2011). A ansiedade social é descrita também como uma sensação desagradável que ocorre quando o indivíduo está em companhia de outras pessoas, sendo que, este desconforto aumenta na proporção em que aumentam as formalidades ou em situações em que o mesmo se sinta exposto à avaliação dos outros. Esta reação também é acompanhada por um desejo de fugir da situação social. Dessa forma, o indivíduo com fobia social acaba desenvolvendo comportamentos de evitação e de fuga, incorporando-os de forma sistemática à sua rotina de vida, fazendo destes comportamentos um padrão sintomático e crônico do transtorno (CABALLO, 2000 apud D'EL REY & PACINI, 2006). O indivíduo com fobia social, ao entrar em contato com situações temidas, ativa crenças centrais de autoimagem em que ele é inadequado em termos sociais. Esse procedimento cognitivo dá margem para que ele tenha alterações cognitivas típicas da fobia social: autoafirmações depreciativas, avaliação negativa do seu desempenho social, juntamente com um padrão de exigência excessiva em relação a este desempenho. Somado a isso, estão a atenção e memória, voltadas para situações de desempenho negativas no passado e no presente e a presença constante da autoconsciência da sua exposição pública (CLARK & WELLS, 1995 apud D'EL REY & PACINI, 2006). Além da ansiedade resultante da percepção distorcida da realidade, são comuns nos portadores de fobia social as manifestações fisiológicas como: 24 rubor, sudorese, palpitação, tremor nas mãos e urgência em evacuar. Vale ressaltar que alguns indivíduos com esse transtorno, descrevem apenas uma autoconsciência constante e medo (RANGÉ, 2001). Buscando contornar essa situação incômoda, os portadores de fobia social passam a executar comportamentos com o propósito de reduzir a ansiedade e os sintomas fisiológicos associados. Os comportamentos decorrentes desta situação incluem: comportamentos de segurança, inibição das habilidades sociais, evitações e fuga das situações temidas (KNAPP, 2004). Conforme Clark & Wells (1995), o comportamento de segurança, citado anteriormente, são evitações sutis que passam despercebidos, a maior parte do tempo. Nesta mesma perspectiva, Knapp (2004) relata que os indivíduos com fobia social utilizam este recurso ao se depararem com as situações interpretadas como perigosas e eliciadoras de ansiedade. Na busca de disfarçar seu sofrimento e reduzir essa ansiedade, o indivíduo enfrenta a situação fazendo uso desses comportamentos para minimizar sua ansiedade. Todavia, a utilização dessas estratégias acaba impedindo que essa experiência corrija os pensamentos disfuncionais, por não confirmarem as crenças disfuncionais sobre os comportamentos temidos (KNAPP, 2004). Os primeiros modelos explicativos da fobia social se orientavam pela hipótese na qual o portador destes sintomas inadequados possuiria um repertório de comportamentos resultante da falta de aprendizado, o que repercutia na inadequação deste indivíduo às demandas do ambiente (CURRAN, 1977; SEGRIN & FLORA, 2000 apud LEVITAN et al., 2008). Atualmente os modelos explicativos da fobia social são mais complexos, enfatizando especialmente os aspectos cognitivos envolvidos no transtorno. A partir dessa perspectiva, há uma compreensão de que os indivíduos com ansiedade social antecipam negativamente a experiência de interação social, bem como os resultados relacionados a essa situação. Isso é mantido devido à visão negativa de si mesmo aliado às crenças de serem rejeitados pelos outros, devido o seu desempenho ou passar por constrangimentos. Assim, acabam hipervigilantes a sinais que indiquem uma ansiedade visível aos outros. Esse comportamento acaba contribuindo na formação e manutenção do 25 ciclo da fobia social (BECK et al., 1985; LUCOCK & SALKOVSKIS, 1988 apud LEVITAN et al., 2008). Segundo Knapp (2004), é através dos mecanismos de ordem cognitiva, afetiva e comportamental que o indivíduo com fobia social mantém em funcionamento esse ciclo vicioso. Os pensamentos distorcidos geram sintomas de ansiedade, estes sintomas acabam reforçando ainda mais os pensamentos automáticos, juntamente com o processamento autofocado, aliado aos comportamentos de segurança esse ciclo se consolida. Assim, o indivíduo fica impossibilitado de realizar uma avaliação adequada e realista do ambiente que o leve a corrigir esse padrão disfuncional de pensamentos. Existe também um modelo cognitivo-comportamental proposto por Heimberg, Juster, Hope e Mattia (1995), que presume a existência de predisposição para o desenvolvimento da fobia social na infância ou na adolescência, a partir de fatores herdados que acabam sensibilizando indivíduo nos aspectos produzidos nas situações sociais, aprendidos como sendo ameaçadores. Tais fatores podem incluir pais com ansiedade social, padrões exagerados de perfeição no funcionamento, superproteção e/ou isolamento dos contatos sociais. Estes mesmos autores, indicam que estes fatores vividos na infância ou adolescência aumentam a probabilidade de a pessoa entrar em situações sociais de forma apreensiva, desta maneira sentindo muita ansiedade ou tentando evitá-las. Estas pessoas formam cognições de que as situações sociais são perigosas e que a única maneira de prevenir resultados negativos é evitá-las. Consequentemente tendem a antecipar uma possível humilhação e embaraço, e devido a isto evitam as situações sociais ou de desempenho; e quando não conseguem evitá-las sofrem em demasia antes e durante a situação (HEIMBERG et al., 1995 apud D'EL REY & PACINI, 2006). Na busca de outros fatores relacionados à fobia social, Stein (1998) pesquisou possíveis fatores que podem estar relacionados às causas desse transtorno mental. Assim, ficou demonstrado em estudos familiares, que na fobia social ocorre um padrão de agregação familiar, principalmente do subtipo generalizada. Observou-se também uma maior ocorrência de fobia social em 26 parentes de primeiro grau, sugerindo que esse transtorno possa ser herdado geneticamente (STEIN, 1998 apud ITO, 2008). Segundo Bernik (2004), a fobia social é extremamente complexa na sua origem e não apenas a umaherança genética, mas também à forte influência do meio familiar e contexto social. Para a criança, a família se constitui no primeiro modelo conhecido, e neste ambiente ela observa como seus integrantes lidam com adversidades, como interpretam o ambiente social, se são tímidos ou têm muitos amigos. Os filhos de indivíduos com fobia social constituem o grupo de maior risco para desenvolver esse transtorno, pois compartilham tanto o ambiente quanto a carga genética dos pais. Outra questão abordada por Bernik (2004), diz espeito às crianças que sofrem maus tratos e agressões no ambiente escolar. Tais crianças, que desde cedo vivenciam experiências de rejeição e sofrimento produzidas pelo relacionamento interpessoal, acabam mais propensas ao surgimento da fobia social. Nesta perspectiva, Knapp (2004) comenta que o indivíduo com fobia social, apesar de manter sua estrutura de crenças, pressupostos e regras, nele está intrínseco uma vontade intensa de ser aceito pelas pessoas e de ter um desempenho aprovado socialmente, mesmo com toda insegurança referente à capacidade à realização dessa vontade. Clark & Wells (1995), afirmam além dessa estrutura cognitiva que orienta o portador de fobia social, existem três fatores inerentes a este indivíduo que estruturam a dinâmica desse transtorno, que são: a) Critérios próprios e exagerados de desempenho social (Ex.: “preciso agradar a todos sempre”); b) Crenças condicionadas sobre a avaliação social (Ex.: “se eu errar, eles irão me criticar”); c) Crenças não condicionadas sobre si mesmo (Ex.: “sou incapaz, sou inaceitável, sou anormal ou inferior”) (CLARK & WELLS, 1995 apud KNAPP, 2004). 27 3.3. Técnicas utilizadas pela TCC na fobia social Segundo Heimberg (2002), a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) é uma abordagem que possui um perfil educativo, de natureza focal. Em seu contexto clínico, o terapeuta assume uma postura colaborativa e ativa junto ao cliente, priorizando suas ações a partir das discussões e levantamentos realizados durante as sessões e nas tarefas destinadas para casa. Dessa maneira, a partir da identificação do tipo de fobia social e sua intensidade, realiza-se um percurso terapêutico com a utilização de técnicas e verificação dos resultados em cada etapa. Estudos indicam que, para a FS circunscrita, 12 a 16 sessões semanais em grupo ou individuais são suficientes para a redução significativa da sintomatologia. Já para a FS generalizada, a resposta ao tratamento depende do número de comorbidades e da gravidade dos sintomas, sendo o tratamento, em geral, mais prolongado e os resultados mais limitados (HEIMBERG, 2002 apud ITO, 2008, p.97). Sobre as modalidades de terapia cognitiva comportamental individual (TCCI) e em grupo (TCCG), Bieling et al. (2008) chamam a atenção para a particularidade do processo grupal, que possui técnicas específicas para esse formato, nas diferentes abordagens terapêuticas. No caso da Terapia Cognitiva Comportamental, seja ela no modelo individual ou grupal, é imprescindível a aplicação das técnicas referentes à estrutura da sessão, o foco na tarefa e as estratégias cognitivas e comportamentais. Em especial na TCCG, soma-se a estas estratégias o efeito promovido pelo processo grupal, que são os fatores resultantes das interações interpessoais ocorridas entre os participantes do grupo. De acordo com o modelo cognitivo proposto por Clark & Wells (1995), os objetivos da TCC na fobia social englobam os diferentes aspectos envolvidos no surgimento e na sua manutenção. Nesta perspectiva, as metas da TCC para a fobia social buscam reduzir a ansiedade antecipatória e suas reações fisiológicas decorrentes, corrigir e reestruturar as cognições de autoavaliação negativa, reduzir a frequência dos comportamentos de evitação e dos comportamentos de segurança (CLARK & WELLS, 1995 apud KNAPP, 2004). 28 O planejamento do processo terapêutico da fobia social deve ser precedido por uma entrevista, para que se elabore um panorama da vida do indivíduo com base nas seguintes informações: a) O resgate histórico da doença, pontuando seu início e tempo de duração; b) A história familiar e predisposição biológica; c) As experiências no contexto familiar e escolar; d) Os relacionamentos sociais, afetivos e sexuais; d) Os sintomas fisiológicos, cognitivos e comportamentais; e) A identificação das comorbidades; f) Se há necessidade de avaliação psiquiátrica; g) Que situações eliciam sintomas e qual o grau de interferência e prejuízo para o indivíduo; h) Como os fatores ambientais e influência familiar contribuem; i) A ocorrência de habilidades sociais pré-existentes. De posse dessas informações e a partir da identificação da intensidade do transtorno fóbico, do grau de esquiva e da disponibilidade, o indivíduo poderá ser encaminhado para atendimento na modalidade individual ou em grupo. Assim, o processo terapêutico priorizará inicialmente o enfrentamento dos sintomas mais intensos, que produzem maior prejuízo e sofrimento para o indivíduo (ITO et al., 2008). As principais técnicas que vem sendo utilizadas pela Terapia Cognitiva Comportamental na fobia social são: reestruturação cognitiva, treinamento de habilidades sociais, exposição imaginária e ao vivo e técnicas de relaxamento (HEIMBERG, 2001; LINCOLN et al., 2003 apud D'EL REY & PACINI, 2006). a) Reestruturação Cognitiva A reestruturação cognitiva é uma técnica que tem por objetivo o enfrentamento das crenças disfuncionais, substituindo-as por outras mais adaptativas. Esta técnica é aplicada aos pensamentos disfuncionais ocorridos antes, durante e depois da situação social eliciadora de ocorrências fóbicas. Este processo de redefinição e retificação das cognições distorcidas possibilita a este indivíduo rever o seu comportamento, onde, na maioria das vezes, hipervalorizava negativamente uma situação, menosprezando sua capacidade de enfrentamento. Dessa forma, a reestruturação cognitiva busca primeiramente a identificação de pensamentos distorcidos, as crenças condicionais e a crença central do indivíduo, para que, a partir daí o terapeuta 29 tenha uma compreensão maior sobre o funcionamento cognitivo do seu cliente. Vários estudos mostram que a reestruturação cognitiva é um método eficiente no tratamento da fobia social principalmente se utilizada conjuntamente com técnicas de exposição (LINCOLN et al., 2003; CLARK & WELLS, 1995 apud ITO et al., 2008). Conforme Ito, Roso, Tiwari, Kendall e Asbahr (2008), na prática clinica, a técnica de reestruturação cognitiva é realizada pelo cliente sob orientação do terapeuta, conforme instruções descritas a seguir: Um diário deve ser utilizado para auxiliar o paciente a registrar seus pensamentos automáticos distorcidos e a respectiva ansiedade em uma situação social. A seguir, o paciente é orientado a observar estes pensamentos com distância e questioná-los, de modo a perceber suas distorções e corrigi-los de maneira a baixar a ansiedade gerada por eles. O desafio dos pensamentos automáticos distorcidos é feito através da técnica de questionamento socrático, com a revisão de evidências que confirmem ou não as hipóteses negativas do paciente (ITO et al., 2008, p. 98). O questionamento socrático é um método utilizado para guiar o indivíduo em uma revisão consciente dos seus pensamentos, possibilitando que este faça descobertas sobre o seu padrão disfuncional de pensar (KNAPP & BECK, 2008). Com o aprendizado do questionamento dos pensamentos disfuncionais é possível identificar os erros lógicos ocorridos na fobia social. Segundo Falcone (2001), os erros mais observados são: a) leituramental (“ele me acha incompetente”); b) adivinhação e catastrofização (“se eu tiver que assinar o meu nome, não vou conseguir escrever”); c) personalização (“eles não estão me dando atenção. Devo ter falado besteira”) (FALCONE, 2001 apud ITO et al., 2008). Na reestruturação cognitiva, os pacientes com fobia social são ensinados a identificar as cognições disfuncionais, fazer o teste da realidade e corrigir os conteúdos distorcidos. Basicamente, as estratégias de reestruturação cognitiva objetivam ensinar ao paciente as seguintes modificações: observação e controle dos pensamentos irracionais e negativos, exame das evidências favoráveis e contrárias aos pensamentos distorcidos e correção das interpretações tendenciosas por interpretações calcadas 30 na realidade (BECK, 1997; TAYLOR et al., 1997 apud D'EL REY & PACINI, 2005). Conforme Ito, Roso, Tiwari, Kendall e Asbahr (2008), a partir do aprendizado de identificação dos pensamentos disfuncionais, o indivíduo com fobia social pode reduzir a ação negativa destes pensamentos sobre as emoções, resultando assim um maior controle e autoconfiança diante de situações sociais temidas. Uma vez identificados os pensamentos distorcidos, é possível encontrar a crença central subjacente que gerou e mantém tais pensamentos, bem como as crenças condicionais e estratégias compensatórias que o paciente utiliza para lidar com sua crença. Para isso, questiona-se o paciente a respeito do significado dos pensamentos que ele identificou: “O que significa esse pensamento para você, o que quer dizer a seu respeito?” (ITO et al., 2008, p. 98). b) Treinamento de Habilidades Sociais (THS) O objetivo do Treinamento de Habilidades sociais (THS) é disponibilizar ao portador de fobia social um repertório de comportamentos que sejam mais adaptados socialmente. A utilização do THS tem sido indicada para indivíduos que tenham apresentado ou não dificuldade nas habilidades sociais, pois este recurso tem se mostrado eficaz na redução dos níveis de ansiedade ocorridos no contato interpessoal (LINCOLN et al., 2003). O THS é indicado a indivíduos com fobia social devido à tendência dos mesmos de apresentarem comportamentos indesejados que, por sua vez, aumentariam as possibilidades de avaliações negativas por outras pessoas, levando os mesmos ao fortalecimento da autoimagem negativa. Dessa maneira, a baixa habilidade social observada nestes indivíduos pode ser decorrente da falta de conhecimento, falta de habilidade, inibição comportamental e ou evitação, resultantes do próprio quadro de ansiedade (HEIMBERG, 2002). As principais dificuldades comumente descritas pelos pacientes com FS a serem abordadas incluem: iniciar, estabelecer, manter e finalizar uma conversa; manter o foco e o interesse no assunto; tolerar silêncios; eleger temas e saber discorrer sobre 31 o mesmo; mudar o assunto se necessário, estabelecer e manter amizades (CABALLO et al, 1997 apud ITO et al., 2008, p. 98). O THS mostra ao indivíduo um amplo e variado repertório de comportamentos adaptados socialmente, planejados para cada situação específica no contexto social no qual ele está inserido (PICON, 2004). Nessa perspectiva, um dos propósitos do THS é auxiliar o indivíduo na identificação das deficiências em suas habilidades sociais e reconhecer quais tipos de comportamentos não estão adaptados socialmente. O THS abrange variadas ações, tais como: exposição gradual e sistemática às situações sociais temidas, modelação e dramatização (CAMINHA et al., 2003). Conforme Bieling, Mccabe e Antony (2008), o THS beneficia de forma direta os indivíduos com fobia social, pois a partir deste treinamento é possível lidar de forma adequada com seus conflitos, desenvolver a assertividade, avaliar a qualidade de sua comunicação não verbal, melhorar sua apresentação e sua capacidade de consolidar relacionamentos íntimos. c) Treino de exposição imaginária e ao vivo As estratégias da TCC mais indicadas para fobia social são a exposição ao vivo combinada com a reestruturação cognitiva (RANGÉ, 2001). A técnica de exposição ao vivo é realizada através do confronto direto e gradativo aos objetos ou situações temidas, sem utilização de técnica de relaxamento na maioria das vezes. A aplicação desta técnica está baseada na premissa que considera a ansiedade como uma resposta condicionada, que tende a diminuir através da habituação que ocorre a partir do processo de exposição sistemática aos estímulos temidos (BUTLER et al.,1984 apud D'EL REY & PACINI, 2005). A exposição nos quadros de Fobia Social tem por objetivo levar o paciente ao enfrentamento das situações sociais temidas, mantendo-o psicologicamente engajado, de forma que o processo natural de condicionamento, envolvido no medo da situação social, apresente redução da ansiedade desperta por meio da habituação e da extinção. Elas devem ocorrer de forma gradual, das situações menos ansiogênicas para as mais 32 ansiogênicas, obtendo-se, assim, um grau de maestria crescente no paciente, em relação às suas capacidades de lidar com as situações alvo, aumentado sua autoeficácia, sua segurança em lidar com as situações sociais e aumentando sua autoestima (VIANA, 2008, p. 88). O treino de exposição deve ser precedido pela elaboração de uma lista em conjunto com o cliente, onde deverão ser informadas as situações temidas, classificando as mesmas hierarquicamente, desde aquela que causa menor até aquela que causa maior nível de ansiedade. A partir daí inicia-se a técnica, pela exposição à situação menos temida, até alcançar aquelas que produzem maior desconforto. Na técnica de exposição, seja ele ao vivo ou por imaginação, é necessário que o indivíduo confronte diretamente ou exercite sua imaginação no enfrentamento das situações temidas (WOLPE, 1973 apud D'EL REY & PACINI, 2006). Nos estágios iniciais do tratamento com exposição, as situações são enfrentadas na companhia do terapeuta, até que possa ocorrer a habituação da ansiedade no item da hierarquia que está sendo confrontado. Após a exposição repetida e prolongada e quando a situação não eliciar mais altos níveis de ansiedade e desconforto, passa-se ao próximo item da lista de situações problemáticas. O processo continua até o paciente poder enfrentar todos os itens da hierarquia com significativa redução da ansiedade e do desconforto (D'EL REY & PACINI, 2006, p. 272). O treino de exposição pode ser ao vivo, onde o indivíduo é instruído a confrontar deliberadamente as situações reais temidas ou por imaginação, conhecido também como dessensibilização sistemática. A exposição imaginária também pode ser utilizada para treinar o indivíduo antes que esse enfrente uma situação real. É muito importante que o terapeuta tenha uma atenção especial na consolidação da lista de hierarquia das situações temidas, pois isso pode gerar dificuldades durante o treino de exposição, devido determinadas situações possuírem a capacidade de eliciar níveis imprevisíveis de ansiedade, mas de curta duração, interferindo assim no processo de habituação (ITO et al., 2008). 33 d) Técnicas de relaxamento Segundo Rangé (2001), o relaxamento é um processo psicofisiológico que envolve respostas de ordem somática e autônoma, num estado de aquiescência motora, produzido por estímulos verbais de tranquilidade. Neste processo de aprendizagem corporal o indivíduo é instruído a reconhecer as respostas biológicas resultantes do relaxamento a partir da identificação das partes tensionadas ou relaxadas em seu corpo. As técnicas de manejo de estresse e relaxamento são utilizadas no tratamento da FS com o objetivo de fazercom que o paciente aprenda a ter maior controle das respostas fisiológicas próprias da ansiedade. Dessa forma, tais técnicas são bastante utilizadas no tratamento de todos os quadros ansiosos. No manejo do estresse, o paciente é orientado a identificar os sinais que indicam um aumento de sua ansiedade e a utilizar a distração e/ou um exercício respiratório de maneira a não permitir que a ansiedade aumente (ITO et al., 2008, p 98). As técnicas de relaxamento na fobia social são utilizadas no controle dos sintomas fisiológicos que ocorrem antes ou durante as situações temidas. Basicamente, essa técnica é composta por exercícios de respiração e treino de relaxamento. No exercício de respiração o indivíduo é orientado a respirar de forma ritmada, realizando inspirações e expirações profundas e diafragmáticas. Já no treino de relaxamento, o indivíduo aprende a tencionar e relaxar diferentes grupos musculares na busca de conforto e bem estar. Estas técnicas tem o objetivo de treinar o portador de fobia social para executá-la no enfrentamento de situações de crise (CAMINHA et al., 2003). 34 3.4. Revisão da Literatura Esta revisão bibliográfica selecionou 21 estudos, realizados entre os anos 2004 e 2013, sobre a utilização da TCC como instrumento terapêutico no enfrentamento da fobia social. Nesta revisão estão incluídos artigos e monografias que avaliaram a práticas da TCC nas modalidades terapêuticas individuais e em grupo, bem como os estudos específicos sobre as técnicas e/ou os efeitos da TCC na fobia social. Vale ressaltar que não foram incluídos nesta revisão os estudos que abordaram comorbidades da fobia social com outros transtornos mentais. Nos 21 estudos, descritos no quadro 1, foi adotado o critério de ordenação cronológica para facilitar a visualização das produções em cada ano, destacando-se a síntese dos seus resultados para possibilitar uma rápida análise destes trabalhos selecionados nesta amostra. O conteúdo dos 21 estudos dessa revisão bibliográfica abordam as seguintes temáticas: 4 são revisões bibliográficas sobre as técnicas utilizadas pela TCC na fobia social; 4 abordaram as técnicas e procedimentos utilizados na terapia cognitiva comportamental de grupo (TCCG); 3 avaliaram a eficácia da TCC no tratamento da fobia social generalizada; 2 avaliaram a ocorrência da fobia social no âmbito acadêmico; 2 são estudos de caso de processo terapêutico; 1 avaliou a eficácia da TCC no tratamento da fobia social circunscrita; 1 avaliou os prejuízos funcionais causados pela fobia social, 1 realizou uma pesquisa sobre as produções acadêmicas (Teses e Dissertações) da CAPES; 35 1 avaliou a importância da reestruturação cognitiva como componente terapêutico essencial da TCC; 1 pesquisou a utilização do treino de habilidades sociais (THS) como componente terapêutico da TCC na fobia social; 1 pesquisou os modelos e técnicas mais utilizados pela TCC na fobia social. Quadro 1. Estudos sobre intervenções da TCC na Fobia Social, ordenados cronologicamente com a síntese dos seus resultados. (Continua) Tema Autor Resultados Estratégias de reestruturação cognitiva no tratamento da fobia social PRIULI, R. M. A. (2004) Os resultados alcançados reafirmam que a técnica de reestruturação cognitiva para o tratamento da fobia social é efetiva, utilizando- se também de estratégias combinadas de exposição. Tratamento da fobia social circunscrita por exposição ao vivo e reestruturação cognitiva – Relato de Caso D'EL REY, G. J. F.; Pancini, C. A. (2005) Um rápido progresso foi conseguido neste caso. A paciente seguiu todas as instruções terapêuticas e manteve um registro completo de seu progresso. Na terceira semana de tratamento, ela era capaz de realizar a tarefa mais difícil na hierarquia previamente construída, quando acompanhada pelo terapeuta. Ao final da oitava semana, alcançou o objetivo elaborado no início da terapia. Apenas níveis suaves de ansiedade eram experienciados ao final do tratamento. Um estudo de caso de Fobia Social à luz da Terapia Cognitivo Comportamental MONTAÑO, P. C. (2005) Após 6 meses de tratamento, a paciente apresentou redução significativa no seu nível de ansiedade e depressão, assim como desenvolveu um melhor manejo de habilidades sociais e assertividade. Também foi observada uma diminuição da sua própria exigência ao perfeccionismo, a qual possivelmente tenha sido a desencadeadora de sua ansiedade social nas situações de avaliação. Ao finalizar o tratamento, a paciente não apresentava os critérios para o diagnóstico de Fobia Social. 36 Quadro 1. Estudos sobre intervenções da TCC na Fobia Social, ordenados cronologicamente com a síntese dos seus resultados. (Continuação) Tema Autor Resultados Instrumentos de avaliação do transtorno de ansiedade social OSÓRIO, F.L.; Crippa, J.A.S.; Loureiro, S.R. (2005) A análise das qualidades psicométricas de15 instrumentos mostrou que os mesmos têm assegurado boas qualidades psicométricas. Contudo, faz-se necessário aprimorar o estudo de tais qualidades psicométricas por meio de estudos empíricos que tenham por delineamento o rastreamento em populações clínicas e não-clínicas de indivíduos com TAS, e em pessoas mais jovens, com rigoroso controle quanto as comorbidades. Fobia social e habilidades sociais: uma revisão da literatura ANGÉLICO, A. P.; Crippa, J. A. S. & Loureiro, S. R. (2006) Verificou-se que os estudos sobre a eficácia do treino de habilidades sociais (THS) não mantiveram uma homogeneidade de procedimentos adotados quanto ao número de sessões e técnicas empregadas nas intervenções, não oferecendo, portanto, um modelo de delineamento típico que possa ser prescrito para o tratamento de fobia social. Tratamento da fobia social generalizada: comparação entre técnicas D'EL REY, G. J. F.; Beidel, D. C.; Pancini, C. A. (2006) Neste estudo, a terapia de grupo com treinamento de habilidades sociais (THS) e reestruturação cognitiva (RC) mostrou-se como um tratamento superior ao treinamento de habilidades sociais usados isoladamente no tratamento da fobia social generalizada. A combinação de técnicas (THS-RC) provou ser significativamente mais efetiva nos vários instrumentos de avaliação ao final do tratamento de 8 semanas e no follow-up de três meses. Terapia Cognitivo Comportamental da Fobia Social: Modelos e Técnicas D'EL REY, G. J. F.; Pancini, C. A. (2006) Concluiu-se que o correto diagnóstico e encaminhamento para o tratamento adequado fobia social minimizam, se não todos, pelo menos os principais efeitos negativos que esta grave condição de saúde mental impõe a seus portadores. A TCC e a farmacologia, segundo a literatura científica, constituem-se hoje como as principais intervenções terapêuticas para os quadros de fobia social. 37 Quadro 1. Estudos sobre intervenções da TCC na Fobia Social, ordenados cronologicamente com a síntese dos seus resultados. (Continuação) Tema Autor Resultados Fobia social em estudantes universitários FIGUEREDO , L. Z. P.; Barbosa, R. V. (2006) Os participantes da pesquisa relataram que, durante os seminários acadêmicos, sentiram o rosto ruborizado, tremedeiras, palpitações, desejo de fuga e insegurança quanto à avaliação dos outros. Esses dados são compatíveis com os descritos pela literatura que menciona sintomas similares aos encontrados como critério diagnóstico da Fobia Social. Protocolo de Terapia Cognitivo Comportamentalde grupo para fobia social circunscrita D’EL REY, G. J. F.; Greenberg, P. N.; Lacava; J. P. L. (2007b) Neste trabalho estão descritos os protocolos da TCC para o atendimento de portadores de fobia social, delineando o passo-a-passo prático desenvolvido em 12 seções, para a modalidade individual e em grupo. Terapia Cognitivo Comportamental de Grupo no Tratamento da Fobia Social Generalizada D’EL REY, G. J. F; Greenberg, P. N.; Abdallah, M. H.; Cejkinski, A. (2007a) As evidências encontradas neste estudo sugerem que a TCCG que deve ser empregado na assistência a pacientes com fobia social, para que os efeitos negativos sejam minimizados. A TCCG mostrou-se como um tratamento superior ao realizado com um grupo controle placebo de credibilidade (CPC) na fobia social generalizada. Os prejuízos funcionais de pessoas com transtorno de ansiedade social: uma revisão MORAIS, L. V.; Crippa, J. A. S.; Loureiro, S. R. (2007) Os trabalhos relativos ao impacto na qualidade de vida e nas atividades cotidianas constataram a presença de insatisfação com a vida e com a saúde em pacientes com transtorno de ansiedade social. A análise da literatura apontou para a importância da avaliação dos prejuízos funcionais do transtorno de ansiedade social no funcionamento cotidiano, por meio de medidas objetivas. A Terapia Cognitivo Comportamental e seus efeitos no tratamento dos transtornos da Fobia Social Generalizada ANTUNES, J. A. A.; Silva, R. S. (2008) Ficou evidente que as técnicas têm seu potencial, contudo, no que se refere a determinados tipos de transtornos como a fobia social generalizada e transtornos de Eixo II, esse potencial fica reduzido e depende de intervenções auxiliares, como o uso dos medicamentos. 38 Quadro 1. Estudos sobre intervenções da TCC na Fobia Social, ordenados cronologicamente com a síntese dos seus resultados. (Continuação) Tema Autor Resultados Terapia Cognitivo Comportamental de grupo na fobia social: resultados de 12 semanas D’EL REY, G. J. F.; Lacava, J. P. L.; Cejkinski, A.; Mello, S. L. (2008) Neste ensaio clínico randomizado, simples- cego, a terapia cognitivo-comportamental de grupo (TCCG) foi superior à Lista de Espera (LE) no tratamento da fobia social generalizada. Em todas as medidas de avaliações, ao final de 12 semanas, os pacientes que receberam TCCG apresentaram melhoras superiores aos da LE. Fobia social – estudo da prevalência em duas escolas em Porto Alegre FERNANDES, G. C.; Terra, M. B. (2008) Este estudo concluiu que sintomas compatíveis com o diagnóstico de fobia social são prevalentes em adolescentes, com tendência de maior frequência em meninas. Embora correlação entre fobia social e repetência escolar não tenha sido encontrada no estudo, é provável que os adolescentes fóbicos-sociais, sem tratamento adequado, não conseguirão atingir o nível esperado de desempenho, com maior índice de sofrimento e perdas de oportunidades. Terapia Cognitivo Comportamental da fobia social ITO, L. M; Roso, M. C.; Tiwari, S.; Kendall, P. C.; Asbahr, F. R. (2008) Revisão da literatura sugere que a fobia social é uma condição prevalente e crônica, caracterizada por inibição social e timidez excessiva. Tanto o diagnóstico como o tratamento desse transtorno são comumente determinados pelo nível de incômodo e pelo prejuízo funcional. Há consenso geral na literatura de que a TCC é eficaz tanto para o tratamento de jovens como de adultos com fobia social. Eficácia do tratamento cognitivo e/ou comportamental para o transtorno de ansiedade social. MULULO, S. C. C.; Menezes; G. B.; Fontenelle; L.; Versiani, M. (2009a) Quando comparada ao grupo controle, a TCC é eficaz na redução dos sintomas de ansiedade social, tanto no seu formato padrão quanto nas novas formas de intervenção. A exceção foi o treino em habilidades sociais, que, isoladamente, não se mostrou eficaz. A TCC também demonstrou ser superior aos outros tipos de psicoterapias. 39 Quadro 1. Estudos sobre intervenções da TCC na Fobia Social, ordenados cronologicamente com a síntese dos seus resultados. (Conclusão) Tema Autor Resultados TCC, terapias cognitivas e técnicas comportamentais para o transtorno de ansiedade social MULULO, S. C. C.; Menezes; G. B.; Fontenelle; L.; Versiani, M. (2009b) Não se encontrou consenso sobre a eficácia da associação da terapia cognitiva com técnicas comportamentais. Novas técnicas (tratamento por realidade virtual, tarefa de casa via computador e autoterapia com assistência terapêutica) demonstraram serem tão eficazes quanto aquelas utilizadas na TCC convencional. A TCC e o treino de Habilidades Sociais no tratamento da Fobia Social LEAL, B. B. K.; Quadros, S. A.; Reis, M. E. A. (2011) A realização dos protocolos de intervenção estruturada em THS é indicada para indivíduos com fobia social, buscando a sua adaptação no grupo social pela mudança das crenças, eliminação dos comportamentos de evitação, auxiliando no manejo das reações de ansiedade. Periódicos da CAPES: Perspectiva das Dissertações e Teses sobre Transtorno de Ansiedade Social / Fobia Social MARTINEZ, A. S. et al. (2012) Percebeu-se um aumento do interesse na temática e de pesquisas que buscam encontrar fatores causadores de fobia social. Houve também o desenvolvimento de trabalhos referente às comorbidades que são tão comuns no transtorno e que usualmente são graves e causam severos prejuízos aos sujeitos. Além dessas duas dimensões de estudo, encontramos ainda trabalhos que buscam desenvolver instrumentos de rastreio que possuam propriedades psicométricas confiáveis para que possam ser utilizados na população, melhorando a identificação precoce da Fobia Social. A Terapia Cognitivo Comportamental em Grupo no Tratamento da Ansiedade Social em Adultos ALMEIDA, Cinthia (2013) As pesquisas averiguadas demonstraram variação quanto ao formato e composição da TCCG para a fobia social e confirmaram, em sua maior parte, a eficácia do tratamento. No entanto, poucos estudos abordaram fatores terapêuticos grupais. De forma geral a TCC em grupo é um tratamento eficaz. No entanto, quando comparada à TCC individual ou a tratamentos com ênfase na dinâmica grupal, a TCCG tem sua eficácia diminuída. A Eficácia da Terapia Cognitivo Comportamental no Transtorno de Fobia Social NASCIMENTO, C. M. V. (2013) A revisão demonstrou que as técnicas principais do tratamento com TCC para a fobia social foram: a reestruturação cognitiva e a terapia de exposição. Todos os estudos analisados evidenciaram que o tratamento da fobia social por meio da TCC produziu efeitos terapêuticos superiores aos esperados. 40 4. DISCUSSÃO Este trabalho de revisão bibliográfica teve como objetivos buscar as práticas reconhecidamente eficazes utilizadas pela Terapia Cognitivo Comportamental no enfrentamento da fobia social e verificar os resultados descritos nas produções acadêmicas a partir da utilização destes instrumentos terapêuticos. De modo geral, esta revisão busca constatar a eficácia da TCC em indivíduos com sintomas de fobia social. Esta amostra de estudos utilizados nesta revisão bibliográfica indica que as técnicas utilizadas pela TCC se constituem em importantes estratégias e instrumentos, sendo na maioria das vezes utilizadas em conjunto, possibilitando uma adequação em cada caso e a progressão no processo psicoterapêutico. Nesse sentido, podemos observar na tabela 1 que as técnicas maisutilizadas em conjunto foram a reestruturação cognitiva e o treino de exposição. Conforme descrito na tabela 1, os estudos são muito similares, no que se refere à aplicação das técnicas terapêuticas da TCC, sendo que as mais comentadas foram: a) Reestruturação cognitiva, abordada em 16 estudos; b) Treino de Exposição, abordado em 14 estudos; c) Treino de Habilidades Sociais, abordado em 13 estudos; d) Relaxamento, abordado em 9 estudos; e) Psicoeducação, abordada em 9 estudos; f) Tarefas de casa, abordadas em 9 estudos. Observou-se também que a maioria dos trabalhos selecionados nesta amostra enfatiza a utilização da Terapia Cognitivo Comportamental na modalidade individual (TCCI) para o tratamento da fobia social. Referente à modalidade de grupo (TCCG), constatou-se que apenas 4 dos 21 estudos da amostra abordaram detalhadamente esta prática. Isso evidencia que há uma carência de produções acadêmicas e práticas clínicas na modalidade em grupo (TCCG). 41 Tabela 1. Técnicas e estratégias da TCC abordadas nos estudos pesquisados. ESTUDO RC EX HS RL PS TC TA FB RV EV PRIULI, R. M. A. (2004) x x D'EL REY & PANCINI (2005) x x x MONTAÑO, P. C. (2005) x x x x ANGÉLICO, A. P. et al. (2006) x x x x x x x D’EL REY, G. J. F. et al. (2006) x x x D'EL REY & PANCINI (2006) x x x x D’EL REY, G. J. F. et al. (2007a) x x x x x D’EL REY, G. J. F. et al. (2007b) x x x x D’EL REY, G. J. F. et al. (2008) x x x x x x ANTUNES & SILVA (2008) x x x x x ITO, L. M. et al. (2008) x x x x x x MULULO, S. C. C. et al. (2009a) x x x x x x MULULO, S. C. C. et al. (2009b) x x x x x x x LEAL, B. B. K. et al (2011) x x x x x x MARTINEZ, A. S. et al. (2012) x x ALMEIDA, Cinthia de (2013) x x x x x x x NASCIMENTO, C. M. V. (2013) x x x x RC: Reestruturação cognitiva; EX: Exposição; HS: Habilidades Sociais; RL: Relaxamento; PS: Psicoeducação; TC: Tarefas para casa; TA: Treino de Atenção; FB: Feedback; RV: Realidade Virtual (via internet); EV: Exposição em vídeo. O estudo sobre TCCG, elaborado por Almeida (2013), relata que as pesquisas demonstraram variação quanto ao formato e composição da TCCG para a fobia social e confirmaram, em sua maior parte, a eficácia do tratamento. No entanto, poucos estudos abordaram fatores terapêuticos 42 grupais. Quando comparada à TCCI ou a tratamentos com ênfase na dinâmica grupal, a TCCG tem sua eficácia diminuída. Nesta perspectiva, constatamos que a TCCG ainda necessita desenvolver-se como abordagem terapêutica, buscando ampliar suas práticas para atender as necessidades terapêuticas grupais e colaborar na construção de protocolos, técnicas e estratégias específicas para essa modalidade de atendimento. O estudo realizado por Fernandes & Terra (2008), buscou constatar a prevalência da fobia social em escolas de ensino fundamental e concluiu que sintomas compatíveis são prevalentes em adolescentes, indicando uma tendência de maior frequência em meninas. Nesta mesma linha de pesquisa, Figueiredo & Barbosa (2006), pontuaram relatos de sintomas de fobia social em estudantes do ensino superior. Concluindo assim, que os dados obtidos a partir dos instrumentos de avaliação, são compatíveis com os descritos pela literatura que menciona sintomas similares aos encontrados como critério diagnóstico da Fobia Social. O estudo de Osório e colaboradores (2005), sobre a utilização de Instrumentos de avaliação do transtorno de ansiedade social, concluiu que as qualidades psicométricas dos instrumentos avaliados asseguram boas qualidades psicométricas. Ressalvando a necessidade de se aprimorar o estudo de tais qualidades psicométricas por meio de estudos empíricos. Nesta mesma perspectiva, Morais e colaboradores (2007) abordaram os prejuízos funcionais em indivíduos com ansiedade social a partir da utilização de instrumentos de referência para avaliar o impacto desse transtorno nas ocupações diárias de populações clínicas em comparação a populações não- clínicas, com as mesmas características sociodemográficas. A análise da literatura apontou para a importância da avaliação dos prejuízos funcionais do transtorno de ansiedade social no funcionamento cotidiano, por meio de medidas objetivas. Sobre a utilização de técnicas da TCC, o estudo de Priuli (2004) comenta o tratamento do transtorno da fobia social a partir da reestruturação cognitiva, possibilita ao indivíduo a criação de pensamentos alternativos, mais 43 realistas e menos catastróficos, resultando no rebaixamento do nível de ansiedade e menor frequência de comportamentos de segurança. Ao realizar os procedimentos que caracterizam o modelo cognitivo aliado à técnica de exposição para o manejo da ansiedade, foram alcançadas mudanças cognitivas, seguidas de rebaixamento na intensidade do humor ansioso, resultando em maior adaptação da paciente às situações de sua vida. Estas mudanças indicam que os resultados alcançados nesse relato de caso reafirmam que a terapia de reestruturação cognitiva para o tratamento da fobia social é efetiva, utilizando-se também de estratégias combinadas de exposição. Ainda demonstrando a utilização das técnicas de reestruturação cognitiva e exposição, D'el Rey & Pacini (2005) relatam um caso incapacitante de fobia social circunscrita (medo de escrever em público) de três anos de duração com rápido progresso, em um curto período de oito semanas de tratamento. A paciente ao final da oitava semana alcançou o objetivo elaborado no início da terapia, sendo observados apenas níveis suaves de ansiedade. O estudo de Leal e colaboradores (2011) apresenta uma proposta de intervenção baseada na utilização de treino de habilidades Sociais (THS), seguindo protocolos de intervenção estruturada para indivíduos com fobia social, buscando assim a sua adaptação no grupo social pela mudança das crenças, eliminação dos comportamentos de evitação e auxiliando no manejo das reações de ansiedade. Já o estudo de Angélico e colaboradores (2006), ao examinar 16 estudos sobre a utilização da THS na fobia social, constatou a inexistência de um instrumento ou medida padrão para avaliação de habilidades sociais que confira uma maior validade e confiabilidade aos dados coletados, levando em conta a diversidade de instrumentos utilizados com este objetivo. No conjunto de artigos analisados, observou-se também a necessidade de reconhecimento de um instrumento sistematicamente estudado como “padrão-ouro” para a avaliação de habilidades sociais e/ou competência social dos indivíduos. Ainda sobre a utilização do THS no tratamento da fobia social generalizada, D’el Rey e colaboradores (2006) elaboraram um estudo 44 abordando a terapia de grupo com treinamento de habilidades sociais (THS) e reestruturação cognitiva (RC). A combinação de técnicas (THS-RC) provou ser significativamente mais efetiva nos vários instrumentos de avaliação ao final do tratamento de 8 semanas e no follow-up de três meses. Comparando-se os dois tratamentos, o grupo que recebeu a combinação de treinamento de habilidades sociais e reestruturação cognitiva (THS-RC) apresentou, em todas as medidas de avaliação, uma superioridade na melhora da fobia social em relação ao grupo que recebeu apenas o treinamento de habilidades sociais (THS), sugerindo que a combinação destas duas técnicas é um tratamento efetivo para esta grave condição de ansiedade. Por fim, os estudos apresentados por Mululo e colaboradores (2009) apresentam novas estratégias TCC, onde é comparada a eficácia da