Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
www.youtube.com/pordentrodasacristia CURSO DE EXTENSÃO EM LITURGIA Prof. Diác. Cleverson Martins Teixeira Tempo Pascal: Preparação quaresmal. História, teologia, estrutura celebrativa. Antes de ingressarmos no tema proposto para esta aula, faz-se necessário um breve resgate para melhor compreendermos o ritmo e as vicissitudes do tempo litúrgico. O anúncio das solenidades móveis diz que o centro de todo o ano litúrgico é o Tríduo Pascal, mais precisamente a celebração da Solene Páscoa do Senhor, onde comemoramos sua Ressurreição. Em cada Domingo, a santa Igreja torna presente este grande acontecimento celebrando a Páscoa semanal. Por isso reforço que o Domingo (Dies Domini) marca o tempo litúrgico que vivemos, devido sua importância na expressão de fé cristã. Tendo feito este resgate e esclarecendo este fundamento nuclear, entramos na temática sugerida. Para qualquer festa importante, costumamos nos preparar, por exemplo: festa de 15 anos, casamento, formatura, ordenação, entre outras. E quanto mais importante a festa, maior seu período de preparação. Temos festas que levam mais de ano para ser preparada e este processo preparatório nos faz vivenciar a festa. O Tempo Pascal tem, como já dito anteriormente, grande importância para os cristãos, pois nossa fé está embasada na Ressurreição de Jesus Cristo. Por este motivo temos um tempo que antecede para bem nos prepararmos para esta grande e importante festa, que nominamos de Quaresma. História “A Igreja se une todos os anos, durante os quarenta dias de Quaresma, ao mistério de Jesus no deserto” (CEC 540). Encontramos as primeiras referências a um período pré-pascal, no Oriente, no princípio do século IV e, no Ocidente, no final do século IV. Mas em meados do século II, aproximadamente, já se vinha afirmando uma preparação para a Páscoa por meio da prática penitencial do jejum. A estrutura da Quaresma é a de um período de quarenta dias considerados à luz do simbolismo bíblico, que dá a esse tempo um valor salvífico-redentor. Contribuíram para o desenvolvimento da Quaresma a disciplina penitencial para a reconciliação dos pecadores, que ocorria na manhã da quinta-feira santa, e a instituição do catecumenato com a preparação imediata dos “iluminados” para o batismo, celebrado na vigília pascal. O Concílio Vaticano II nos diz que “o tempo quaresmal prepara os fiéis, dedicados mais intensamente a ouvir a Palavra de Deus e à oração, para a celebração do mistério pascal, www.youtube.com/pordentrodasacristia sobretudo mediante a recordação ou a preparação do batismo, assim como mediante a penitência” (SC 109). No mesmo número da Sacrossanctum Concilium, sugere-se dar uma “uma ênfase particular, na liturgia e na catequese litúrgica, ao duplo caráter desse tempo”. Vemos assim que a Quaresma tem, em primeiro lugar, uma orientação pascal-batismal. O Tempo da Quaresma é composto, como já citado anteriormente, por 40 (quarenta) dias e 6 (seis) domingos. Antigamente, este tempo forte da Igreja era celebrado da Quarta Feira de Cinzas até o Sábado Santo (Vigília Pascal) sendo desta forma composto por 46 (quarenta e seis) dias corridos, porém se excluía os domingos do período (e da contagem), pois neles não deveriam acontecer jejuns e penitências. Na soma chegamos a 40 dias exatos, porém em 1969 o Papa Paulo VI aprovou um decreto sobre a nova ordem do ano litúrgico, onde se estabelecia que a Quaresma deveria seguir até a Quinta-Feira Santa, antes da celebração da Ceia do Senhor. Portanto, hoje este período soma 44 (quarenta e quatro) dias corridos e o número 40 (quarenta) ganha um valor mais simbólico. A atual Quaresma começa na quarta-feira de Cinzas e encerra-se na missa da ceia do Senhor da quinta-feira santa, exclusive. A celebração litúrgica desse tempo acentua principalmente o domingo. Nos cinco domingos que precedem o domingo de ramos, o lecionário dominical oferece a possibilidade de três itinerários diversos e, ao mesmo tempo, complementares: um itinerário batismal (ciclo A); um itinerário cristocêntrico-pascal (ciclo B); um itinerário penitencial (ciclo C). O ciclo A, de caráter batismal, pode ser seguido a cada ano segundo as exigências pastorais de cada comunidade. Nesses domingos do ciclo A, somos chamados a descobrir e a reviver nosso batismo e nossa condição de batizados. Com o ciclo B somos levados a concentrar-nos na Páscoa de Cristo; no ciclo C constitui-se uma profunda catequese sobre a reconciliação, com o vértice na celebração da Páscoa, supremo sinal de nossa reconciliação com o Pai. Batismo e penitência aparecem assim como as duas constantes sobre as quais se percorre o caminho quaresmal com vistas à plena reconciliação do ser humano com Deus. O significado e o conteúdo da Quaresma acham-se expostos de forma sintética e esclarecem no primeiro prefácio de Quaresma do missal romano: “Concedes a teus filhos ansiar, ano após ano, com o prazer de ter-nos purificado, pela solenidade da Páscoa, a fim de que, dedicados com maior entrega ao louvor divino e ao amor fraterno, pela celebração dos mistérios que nos deram a vida, cheguemos a ser em plenitude filhos teus”. A oração da coleta do primeiro domingo da Quaresma fala da celebração quaresmal como um “sacramento”, ou seja, de um “sinal sagrado”, o que significa que tudo o que faz parte da instituição quaresmal – gestos e palavras – é uma realidade unitária e significativa. A www.youtube.com/pordentrodasacristia Quaresma, no conjunto de palavras que anunciam os acontecimentos da salvação, orações, ritos e práticas ascéticas, é um grande sinal sacramental, por meio do qual a Igreja participa do mistério de Cristo, que realiza por nós a experiência do deserto, jejua, vence a tentação e opta pelo caminho do messianismo do servo humilde e sofredor até a cruz. Teologia No que diz respeito à teologia e à espiritualidade da Quaresma, temos de dizer que esse tempo litúrgico nos permite ter uma experiência mais vivida da participação no mistério pascal de Cristo: “participamos de seus sofrimentos para participar também de sua glória” (Rm 8,17). Ao mesmo tempo, não podemos esquecer o caráter eclesial da Quaresma, na medida em que é o tempo da grande convocação de todo o povo de Deus para que se deixe purificar e santificar por seu Salvador e Senhor. Nasce dessa riqueza teológica uma típica espiritualidade pascal e batismal, penitencial e eclesial. Este é um período que propicia aos cristãos reflexão, conversão e oração. Pois, por meio deste tempo, motivados pela Palavra, nos unimos aos sentimentos de Jesus Cristo e, assim, buscamos praticar o jejum, a penitência e a caridade. É, portanto, um tempo favorável para a redescoberta e o aprofundamento do autêntico discípulo de Jesus Cristo. Os quarenta dias vividos no tempo quaresmal nos recorda o tempo que o Povo de Deus levou para ingressar na Terra Prometida, tempo vivido no deserto. Também nos faz recordar os 40 dias de Jesus no deserto, antes de iniciar sua vida pública. Os dois momentos (dos hebreus e de Jesus) são marcados por provações e tentações. Em ambos Deus se mostrou fiel e permaneceu ao lado deles, fortalecendo-os em suas necessidades. Leva-nos a refletir, portanto, que em nossa travessia neste mundo somos afligidos por diversas provações e tentações, mas que devemos manter nossos olhos fixos em Deus, que nos fortalece e caminha conosco. Segundo o Papa Leão Magno (400-461) ao vivenciar o tempo quaresmal nos aproximamos do mistério da Paixão, Morte e Ressureição com pureza de alma e corpo, pois as penitências realizadas, as obras de caridade praticadas atraem sobre o fiel a misericórdia divina avivando a confiança em Deus e renovando o homem interior. Estrutura celebrativa Dentro do tempo quaresmal encontramos celebração importantes que se faz necessário destacar: Quarta-Feira de Cinzas, através da qual abrimosesse tempo de preparação pascal: “Convertei-vos, e crede no Evangelho! ” (É a expressão que deve nos acompanhar ao longo deste período); www.youtube.com/pordentrodasacristia Cinco domingos, nos quais as comunidades se reúnem para celebrar a presença viva do Senhor que nos mostra o caminho para a vitória definitiva da Páscoa; Domingo de Ramos, no qual lembramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, onde ele sofrerá a paixão e mergulhará na morte, para depois ressuscitar vitorioso; Celebração do Crisma (missa dos Santos Óleos), celebra-se na quinta-feira santa pela manhã. Em algumas localidades, por motivo de força maior, pode ser celebrada em outro dia dentro da Semana Santa. Nas comunidades, durante a Quaresma, se fazem também celebrações penitenciais, como sinais da nossa busca de conversão e da misericórdia de Deus que nos acolhe em seu perdão. Também celebram a via sacra como meio de intensificar a oração. A CNBB promove neste período a Campanha da Fraternidade, que tem o objetivo de refletir um tema social à luz da Palavra de Deus. O espaço litúrgico seja despojado e sóbrio. Os vazios e as ausências ajudam a esvaziar o coração para preenche-lo com a Palavra, que é luz para nossos passos e que nos converte. Intensificar os momentos de silêncio, principalmente entre as leituras e após a homilia. Assim conseguimos saborear a Palavra de Deus e degustando-a acolhemos em nosso coração. A cor litúrgica da Quaresma é a roxa, que expressa a dimensão maior de penitência e disposição à conversão. O 4º domingo da Quaresma é conhecido na tradição da Igreja latina, como domingo da alegria ou laeare (em latim, “alegrar-se”). Neste dia, pode-se usar a cor rósea.1 Os cantos e as melodias expressam o sentido próprio do mistério celebrado; por isso, cuide-se para que não apenas deixem de ser cantados o Glória e o Aleluia, mas que, tanto no conteúdo quanto no ritmo e no uso dos instrumentos, eles sejam uma verdadeira expressão da Quaresma. No processo catecumenal, são realizados no 1º Domingo os ritos de eleição e inscrição do nome. O 3º, 4º e o 5º Domingo são destinados aos escrutínios: oração sobre os eleitos, preces e exorcismos, e também à entrega do Símbolo (o credo), do Evangelho e da Oração do Senhor (Pai-nosso). Como dito anteriormente os evangelhos dominicais nos auxiliam no itinerário quaresmal. Para cada ano encontramos um percurso a ser seguido. No ano A, somos 1 O 4º domingo tem este nome por causa dos muitos filhos que lhe nascerão no sábado santo pelo sacramento do batismo. www.youtube.com/pordentrodasacristia convidados a refletir sobre nosso batismo e encontramos Jesus como o modelo vivente no caminho pascal. 1º domingo refletimos as tentações de Jesus no deserto; 2º domingo a reflexão é sobre a transfiguração do Senhor; Os três domingos seguintes se caracterizam por temas batismais: 3º domingo encontramos Jesus conversando com a Samaritana no poço de Jacó (água); 4º domingo fala da cura do cego (luz); 5º domingo encontramos a ressurreição de Lázaro (vida); No ano B somos levados a concentrar-nos na Páscoa de Cristo aprofundando nossa fé e nosso compromisso no seguimento de Jesus a serviço do seu Reino. 1º domingo refletimos sobre Jesus no deserto; 2º domingo ouvimos o relato da Transfiguração; A partir do terceiro domingo começamos a refletir sobre o processo pascal de Jesus: 3º domingo temos a expulsão dos vendilhões do templo (construção do novo templo); 4º domingo Jesus conversa com Nicodemos (dar a vida); 5º domingo lembramos que o caminho do discipulado passa pela cruz. No ano C temos uma profunda catequese sobre a reconciliação. Como nos demais ciclos o 1º domingo reflete sobre a tentação passada por Jesus no deserto e no 2º domingo temos a transfiguração do Senhor. Mas a partir do 3º domingo encontramos o itinerário da Quaresma. 3º domingo a reflexão é sobre a parábola da figueira; 4º domingo temos a bela reflexão da parábola do filho pródigo; 5º domingo Jesus ajuda a mulher surpreendida em adultério; No 6º domingo temos a proclamação do evangelho da Paixão do Senhor. 1) O que significa para você a Quaresma? 2) O que você costuma fazer no Tempo da Quaresma? 3) O que lembra para você o Tempo da Quaresma? 4) Como viver hoje o Tempo da Quaresma, na família, na comunidade, individualmente?
Compartilhar