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Aula 2 - Educação na Idade Média

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Educação na Idade Média
Educação na Europa Ocidental no período da Idade Média (entre os séculos V e XV). Legados medievais na forma de pensar a Educação: Artes Liberais, “monopólio” do campo educacional pelo clero, influência árabe para a cultura europeia, método de ensino da Escolástica e aparecimento das universidades. Demonstrar que a base da Educação ocidental é fortemente influenciada pelas tradições educacionais desenvolvidas na Idade Média, em especial o papel da Igreja e a formação moral do sujeito, marca recorrente ainda na maneira como a Educação é vista e empreendida no Brasil e no mundo.
Como você imagina a Idade Média?
Castelos e princesas, lembrando as histórias infantis? Lutas de espadas e as ações da Igreja, como nos filmes e séries? Professores que explicam que a Idade Média era a Idade das Trevas?
Essas visões construídas fazem parte do nosso cotidiano e têm relação com os iluministas, que queriam se afirmar contra o pensamento da Igreja. Além disso, há o Romantismo, que idealizou as figuras do cavaleiro e da donzela e, por fim, o cinema e a literatura contemporânea que veem com certo fascínio a Idade Média. A tarefa de resumir a Idade Média a esses conceitos é difícil, pois um milênio não é representado por uma coisa só. De fato, esse olhar europeu só tem sentido se pensamos nos legados medievais. As sociedades atuais são frutos de influências europeias e do seu auge, que gerou o colonialismo e o imperialismo. Esse período fez com que as instituições europeias e suas diversas formações dessem base às nossas estruturas sociais, políticas e, principalmente, educacionais. A Idade Média concentra os fundamentos da moral ocidental, marcados pela tradição judaico-cristã da Igreja. As referências da Antiguidade foram reconstruídas e marcam nossa forma de ver o mundo. Apesar de ter sido reconhecida de maneira pejorativa como apenas um período de transição, uma época de trevas, a Idade Média apresenta práticas que fazem parte de nosso cotidiano mesmo que nós não percebamos. 
Nosso objetivo, portanto, é demonstrar que as tais trevas tinham intelectuais importantes, debates vigorosos, além de disputas entre grupos sociais para organizar e manter a Educação.
· 1º MÓDULO - Identificar as principais características da transição da Educação entre a Antiguidade e a Idade Média
Contexto
A Idade Média é um período marcado pelo surgimento de um novo tipo de intelectual na Europa Ocidental: os padres cristãos. Esse grupo foi o principal responsável por manter uma Educação formal (escolas) na Europa entre os séculos V e XV. Os primeiros a inaugurarem esse novo pensamento são conhecidos como membros da Patrística. A Igreja Cristã foi a única instituição que atravessou todo o período de transição da Antiguidade para a Idade Média. Em meados do século III, o Império Romano apresentava graves sinais de crise econômica e política. Na busca de reformulações que permitissem sua permanência, foram procuradas novas formas de governo – chega-se a ter quatro imperadores de uma só vez. 
Outra tentativa foi a organização das mensagens e preceitos religiosos que dessem sentido à nova construção imperial. Quando o Imperador Constantino se converteu ao cristianismo, houve um movimento que pode ser interpretado como uma tentativa de coesão pela religião. 
Mesmo assim, após a fragmentação do Império Romano Ocidental, a Educação foi creditada à Igreja, já que valorizava os princípios educacionais herdados da Antiguidade para ocupação dos seus quadros e para sua pregação.
A Igreja, por meio de seus membros, transmitiu uma mistura das culturas antigas (greco-romana) cristianizadas. Sua pregação era levada às praças, para o cotidiano dos reis, para todos que ouviam a Igreja, fazendo com que a Educação fosse difundida por meios não formais. No entanto, sua estrutura de manutenção era formal, organizada em centros de formação desses clérigos.
Conceitos
Nessa época, a Igreja Católica foi muito importante para o desenvolvimento da ciência e para a preservação da cultura. Além disso, foi fundamental na manutenção da Educação. Os monges copistas foram responsáveis pela armazenagem do saber, pois copiavam e guardavam os registros escritos. Assim, toda a produção de conhecimento nas civilizações antigas – principalmente dos sábios gregos – foi preservada e retomada no período do Renascimento.
Mesmo com a expansão do cristianismo, ainda na Antiguidade, bem como nos séculos subsequentes, os jovens romanos e cristãos frequentavam as mesmas escolas, liam os mesmos textos, recebiam a mesma instrução. O ensino da cultura clássica era necessário, sobretudo para aqueles oriundos das classes médias e altas, que formariam os quadros das carreiras administrativas.
Por conta dessa característica, a cultura clássica influenciava os principais intelectuais da Igreja de forma intensa.
O modelo educacional da Igreja era uma cópia do modelo do Império Romano.
As obras clássicas foram adotadas, seus pensadores reconhecidos, sua forma de educar valorizada, mas os objetivos e formas universalistas foram abandonados e substituídos por elementos cristãos. Por outro lado, a cultura romana também foi muito influenciada pelo catolicismo. As pinturas, as esculturas e os livros eram marcados pela temática religiosa. Os vitrais das igrejas apresentavam cenas bíblicas, pois essa era uma forma didática de transmitir o evangelho a uma população quase toda formada por iletrados. Assim como os romanos faziam com seus monumentos e afrescos, a Igreja repaginou e permaneceu com sua utilização.
Correntes filosóficas medievais
Pode-se dividir, de forma generalista, a Idade Média, no que diz respeito à Educação, em duas linhas principais:
· Patrística - Pretende expor racionalmente a doutrina religiosa, com destaque para Agostinho de Hipona.
· Escolástica - Predominante nos espaços escolares durante o Renascimento Carolíngio e readaptada a partir do racionalismo cristão e de Tomás de Aquino.
O termo patrística foi criado para designar os primeiros intelectuais da Igreja Romana, como Justino, Tertuliano, Orígenes, Atenágoras, Clemente. No entanto, dedicaremos nosso olhar a um membro tardio, mas fundamental para a Educação na Idade Média: Agostinho de Hipona.
A Patrística se configurou como uma corrente de pensamento fundada pelos padres da Igreja Católica que procuravam estabelecer uma concepção racional dos fundamentos dos dogmas da fé cristã e uma resposta às suas perspectivas antagônicas, que eles denominavam de heresias.
Educação
A base do pensamento educacional na Idade Média é o neoplatonismo cristão. Essa corrente filosófica misturava traços da leitura de Platão e princípios diversos filosóficos do Mediterrâneo, como estoicismo, e os preceitos da religião cristã.
O nome mais importante para a Educação formulada para a Igreja e para além dela é o bispo africano Agostinho de Hipona (354-430). Ele estruturou seu pensamento como os demais membros da Patrística, isto é, combinando elementos da fé a princípios filosóficos de nomes importantes da cultura clássica, como Platão (428 a.C.-347 a.C.) e Plotino (204 d.C.-270 d.C.).
A influência de Agostinho de Hipona no campo educacional foi notória na Idade Média com suas obras:
· A doutrina cristã - A obra que mais influenciou a Educação medieval, servindo de guia para os estudos dos intelectuais cristãos, bem como de ideário e planejamento para as escolas desse período. Para Agostinho, o lugar de aprendizagem era a Bíblia. Além disso, para ele, Deus era o único mestre. Os professores, na realidade, nada ensinavam, apenas despertavam em seus alunos a busca pelo conhecimento. Agostinho idealizou a Educação como um processo por meio do qual o “homem exterior”, material, mutável e mortal cedia espaço para o “homem interior”, espiritual, imutável e imortal. Essa transformação se dava à medida que o homem se aproximava e se familiarizava com Cristo: a Verdade, a Palavra de Deus que se fez homem (MELO, 2002, p. 67). Assim, fica claro que o Bispo de Hipona acreditava que a aprendizagem se dava por intermédio de Deus, uma vezque Ele permitia que se captassem as coisas da verdade essencial.
· De Magistro - Em De Magistro, Agostinho dedica-se a explicar a postura do mestre (professor). A estrutura é de um diálogo filosófico entre Agostinho, no papel de mestre, sendo questionado por um discípulo chamado Adeodato. Um dos elementos centrais da obra é a forma como a Educação pode ser atingida e para que ela serve. A proposta é mostrar que o conhecimento pelo conhecimento, como muito era pensado e visto na tradição romana, não levaria a lugar algum. Assim, o único mestre possível era Jesus, e a Salvação era atingir o mundo real, abandonar a ilusão e as dificuldades desse mundo. O professor seria, portanto, um guia, alguém que deveria mostrar que as paixões e prazeres desse mundo são insignificantes diante do peso e da beleza da Salvação efetiva. Esse sentido pode parecer religioso, mas ainda é recorrente na maneira do senso comum interpretar a Educação em nossos dias. A percepção de que o conhecimento deve formar o sujeito para que ele se torne um ser melhor, aqui possui sentido religioso; mas podemos pensar no âmbito da moral. A Educação como o caminho de formação do ser humano, incutindo valores sociais necessários é, sem dúvida, parte do legado agostiniano.
Um dos legados é a ideia de que religião e Educação podem ser tratadas como elementos indissociáveis, isto é, a formação educacional e a formação religiosa podem e devem ser feitas com base nos mesmos instrumentos e para o mesmo fim. Veja que as escolas de matriz religiosa, por exemplo, continuam fortemente reconhecidas no nosso cotidiano. Além disso, os pastores, padres e afins assumem funções didáticas com seus fiéis nas pregações e nas homílias, demonstrando a proximidade, que bebe, sem dúvida, na tradição inaugurada por Agostinho.
Vimos que para Agostinho o conhecimento era advindo de Deus, mas para quem se destinava os ensinamentos?
Quem eram os alunos? Quem estudava, nesse momento, era a elite. Essa escola servia para formar novos quadros de clérigos, mas acabava também servindo à elite local.
· 2º MÓDULO - Descrever a importância das artes liberais para a formação dos sujeitos na Idade Média.
Introdução
Boa parte do conhecimento originário da Antiguidade foi preservado graças ao papel desempenhado pelos mosteiros e igrejas, que reproduziram manuscritos clássicos e elaboraram manuais e enciclopédias. Depois da Patrística, uma nova geração de bispos se notabilizou por escrever, defender e disseminar a Educação, como Marciano Capela, Cassiodoro, Boécio, Isidoro de Sevilha e Beda.
Devemos lembrar que o pensamento de Agostinho é referência na orientação dos estudos nessa fase, o que significa que continuamos com a figura dos mestres e dos discípulos, com a relação pessoal e com a Educação como um caminho para a Salvação. Por outro lado, os conhecimentos do mundo antigo permanecem vivos e presentes.
O modelo patrístico é um dos mais longos e presentes. Por isso, neste segundo módulo, estudaremos seu modelo “curricular”. As aspas não são à toa, pois seria anacronismo imaginar a existência de um currículo escolar nesse momento. Porém, há conteúdos que são centrais para a Educação ao longo de toda Idade Média e um legado que ainda nos influencia atualmente.
As Sete Artes Liberais
Quando falamos em Educação no período em questão, notamos a prevalência do modelo chamado de Sete Artes Liberais, que foi criado por Marciano Capela. Essa divisão é marcada por três artes da alma (Trivium), inspiradas por Deus, e quatro artes humanas (Quadrivium), como veremos a seguir.
Trivium - A capacidade de bem falar, bem escrever e bem argumentar é atribuída à Santíssima Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo.
· DIALÉTICA - Exercício filosófico do convencimento, o ponto preciso para se atingir a verdade. É uma das grandes bases de relação entre o exercício da cultura greco-romano e a religião.
· RETÓRICA - Exercício do bem falar, da praça pública, e lida com estilo, com o envolvimento.
· GRAMÁTICA - Exercício de escrever, dominar os aspectos do que já havia sido escrito, reproduzir e construir a escrita com perfeição. O latim era uma língua entendida como sagrada.
Quadrivium - As artes humanas tinham relação direta com a mão humana, trabalhos artesanais e com a interpretação do mundo.
· ARITMÉTICA - Representa a interpretação do mundo, a base matemática de explicação das coisas. Ela fez com que muitos clérigos virassem contadores, ou controladores dos reinos. Os números são seu principal objeto.
· GEOMETRIA - Era usada nos exercícios de medida, normalmente voltados à prática e à interpretação da prática, como construção de moinhos, rodas de transportes e construções como igrejas e muralhas. Envolve também a medida de distâncias, rios e trajetos diversos.
· MÚSICA - Muitos não sabem, mas existiam escalas e teoria musical na Idade Média. No entanto, é importante destacar que, para a Igreja, só era música aquilo que tinha as escalas corretas, tocadas nos ambientes corretos e com o objetivo de aproximar o homem de Deus. Músicas de festa e cantos de guerra eram duramente recriminados.
· ASTRONOMIA - A mais contestada das artes. Muitos defendiam que era perigosa por ser confundida com relações pagãs, pois era responsável pelas colheitas, marcação de datas e calendários e ainda efeitos
Todas as artes eram adaptações ordenadas de estudos que já existiam no mundo grego. De alguma forma, é como se tivessem criado um currículo.
O homem comum aprendia o quadrivium, mas o trivium era para aqueles que gostariam de assumir uma outra condição, de líderes, de próximos à Igreja.
Ao passo que as instituições escolares oficiais e a dos mestres particulares (literatores) iam sumindo, a Igreja passou a adotar medidas para garantir a formação dos pretendentes ao sacerdócio, com o objetivo de promover a instrução básica indispensável para o ofício do ministério sacerdotal. A fase inicial desse ensino era realizada nas escolas paroquiais, enquanto o nível superior nas episcopais/catedralícias.
Também devemos destacar as escolas monásticas. Estas se originaram a partir dos mosteiros, ainda sem a adesão dos estudos filosóficos. A regra agostiniana, por exemplo, recomenda muitas horas de estudo, enquanto a Regula Monachorum, de São Jerônimo, sugere instruir-se com os filósofos segundo a sua utilidade religiosa. Por fim, os mosteiros beneditinos, na prática, podem ser avaliados como “escola”, afinal, a própria Regra de São Bento indica duas noções pedagógicas em seu capítulo 30:
“Cada idade e cada inteligência deve ser tratada segundo medidas próprias e os que cometem faltas serão punidos com muitos jejuns ou refreados com ásperas varas, acris verberibus”.
É importante informar que a cultura intelectual estava monopolizada pela Igreja. Isso fazia da Educação um campo feito de sacerdotes para sacerdotes, com os conteúdos orientados às necessidades do culto. Desse modo, nas escolas paroquiais, episcopais e, especialmente, nas monásticas – diga-se de passagem, na realidade, as únicas existentes –, lecionava-se as denominadas Sete Artes Liberais.
Você sabe por que 7 é um número tão importante para o cristianismo? O numeral é a referência da perfeição, são as idades do mundo, é marca do escolhido.
Ainda não entendeu o conceito e o papel das artes liberais? Veja os exemplos a seguir:
· 1 - O bispo Isidoro de Sevilha, pensador visigodo da passagem do século VI para o VII, em sua obra Etimologias, definiu as artes liberais da seguinte forma: 
“As artes liberais consistem em sete disciplinas. A primeira é a gramática, isto é, a capacidade de falar. A segunda, a retórica, que, pela elegância e recursos da eloquência, é considerada extremamente essencial nos assuntos civis. Terceiro, a dialética, também chamada de lógica, que, com os argumentos mais sutis, separa o verdadeiro do falso. Quarta, aritmética, cujo conteúdo são os fundamentos e divisões dos números. A quinta é a música, que lida com esquemas e métricas. O sexto, a geometria, que inclui as medidas e dimensões terrestres. E a sétima, astronomia, que lida com as leisdas estrelas”.
Mas por que elas eram tão importantes para o bispo?
Ele era um conselheiro do rei, líder de uma das cidades mais importantes do reino. Assim, mostrar o quanto era educado para seus pares e para o povo indicava o quão diferente ele era. Na Alta Idade Média, a erudição e o domínio das Sete Artes Liberais eram considerados fatores de diferenciação e importância dentro e fora da Igreja.
· 2 Teodorico, o Grande - Rei dos Ostrogodos.
O reino ostrogodo tinha, ao longo do século VI, a referência do monarca Teodorico, seguidor de uma versão herética do cristianismo conhecida como arianismo. Depois de vencer os romanos, negociou com o bispo de Roma, Gregório Magno. Para que uma certa autonomia fosse dada à Igreja na cidade de Roma, ao mesmo tempo, a Igreja deveria legitimar e reconhecer o seu poder. Para facilitar esse trabalho, foi chamado Boécio, retórico importante, membro vinculado à Igreja, que deveria comandar a construção legislativa nas negociações com as lideranças locais e na articulação política de Teodorico. Teodorico adotou práticas dos antigos imperadores romanos e, como forma de garantir essa disseminação, permitiu a ampliação das escolas – escolas de bispos e monásticas que formavam novos clérigos e um corpo burocrático cristão para administrar querelas que remetessem à atuação econômica, como cobrança de impostos, e mediadores em questões políticas. Os “currículos” dessas escolas eram todos pautados nas Sete Artes Liberais.
Histórias arturianas
Durante a Alta Idade Média, os reinos viviam um quadro de constante disputas, quedas e substituição das estruturas políticas. Nesse momento, aparece uma das principais iconografias representativas da Idade Média: as histórias arturianas. Nos séculos anteriores, as ilhas britânicas eram o verdadeiro fim do mundo romano. As muralhas de Adriano representavam, de alguma forma, o fim da civilidade.
A ideia de fim do mundo acaba sendo um processo dúbio. Por um lado, o centro-sul da Ilha se afirmava com um bastião romano. O norte e a Irlanda, por sua vez, eram um espaço místico, bárbaro e iconográfico. Durante as “invasões saxônicas” à ilha, passaram a coexistir três tradições – as locais, tidas como místicas, as romanas e a dos novos grupos, entendidos como bárbaros.
Ainda que derrotados pelos saxões, a ideia de que um libertador reuniria as forças locais e expulsaria os inimigos passa a ser fortemente construída. A figura de Arthur só ganhou seus contornos mais típicos nos textos franceses do século XII, mas já revelava um certo espírito das ilhas britânicas em imaginar um salvador político.
Por que essa história é importante para a Educação?
A ideia de um unificador, um salvador que uniria aqueles povos, também seria utilizada pela religião, mas de forma diferente. Se um une pela espada, o outro une pela palavra, pela proposta de unir as pessoas sob uma mensagem de cunho religioso. A Educação teria a função de mostrar esse papel. Existem muitos “mitos” britânicos nesse sentido, mas o mais famoso é Beda, o Venerável, que, na Irlanda, fundou mosteiros, recuperou Patrício como herói que trouxe o cristianismo aos bárbaros e explicou como a Educação, pautada nas Sete Artes Liberais, era o caminho para a religião e, por consequência, para a Salvação.
Estudo da Teologia
Finalizadas as etapas do Trivium e do Quadrivium, passava-se para o último nível: o estudo da Teologia. Vale lembrar que a Teologia era considerada na Idade Média o saber capital, ao qual os eclesiásticos se voltariam por toda a vida. Em razão do ambiente cultural e do próprio objetivo que se conferia ao conhecimento, o pleno desenvolvimento das “ciências investigativas” ficava restrito. Prevalecia o princípio de que o fim último do homem era chegar ao Reino de Deus e que a Revelação se encontrava nas Sagradas Escrituras. Dessa maneira, não se procurava contemplar a natureza com o intuito de formular deduções explicativas ou mesmo elaborar hipóteses, mas unicamente para procurar os símbolos dos desígnios divinos.
· 3º MÓDULO - Comparar aspectos da Reforma Carolíngia e da Educação islâmica na Europa Ocidental
Introdução
Agora vamos falar da segunda grande reforma da Educação na Idade Média: a Escolástica. Muitos manuais de História da Educação citariam Tomás de Aquino e a recuperação de textos aristotélicos, um movimento chamado de racionalismo cristão. Mas falta uma peça desse quebra-cabeça, pois, é claro, que não foi uma mudança repentina a ideia de mudar o caminho filosófico que seguíamos e, com isso, a Educação.
A Escolástica é um movimento que vem de diversas influências. Optamos por duas delas:
· REFORMA CAROLÍNGIA - Termo histórico inventado para mostrar como importantes mudanças da Educação na corte de Carlos Magno foram iniciadas e abriram caminho para a Escolástica.
· INFLUÊNCIA DOS MUÇULMANOS - Maomé não trouxe só outra religião. A partir da sua fundação, um novo mundo, um novo sistema de governo e uma nova forma de ver a Educação foram criados. O tamanho e o poder dessa presença foram tão grandes que fizeram com que eles dominassem norte da África, sul da Europa e partes importantes da Ásia. Mas não era pela espada, era uma expansão que tinha muito comércio e cultura.
Contexto: Império carolíngio x Islamismo
Essas duas culturas desempenharam importante papel na História da Educação e a junção dessas influências possibilitam a compreensão do surgimento da Escolástica. A seguir, identificaremos o ponto de vista dessas culturas tão diferentes e muito importantes para o desenvolvimento da Educação. Veremos, a seguir, como cada cultura, cristã e islâmica, se desenvolveu, além de suas influências na Educação durante a passagem da Alta Idade Média para a Baixa Idade Média.
Cultura cristã x islâmica 
Será que é possível comparar as duas culturas? Sim, é. Vamos perceber as características de um modelo e de outro e, dessa forma, mostrar como a Escolástica bebe desta relação.
· Erudição:
· ISLAMISMO - Essa cultura teve dois tipos de escola: elementar e superior. Na escola elementar, o foco do ensino era o Alcorão, que possui um conteúdo interdisciplinar, pois aborda, além da questão religiosa, assuntos sobre direito, política, sociedade e noções básicas sobre ciências. Já no ensino superior, além da abordagem religiosa, havia várias áreas do saber, como a Química e a Erontologia, estudo do sexo, e a Medicina – inclusive com o desenvolvimento de cirurgias. A erudição se manifestava pela tradução de intelectuais de diversas religiões e partes do mundo para o árabe, permitindo que suas ideias circulassem.
· CRISTIANISMO - O que dá legitimidade a algum elemento, ou seja, o que deixa algo reconhecido de forma viva e valorizada? Mostrar que existem antecessores importantes e pares poderosos. Esse é um traço da cultura escolar construída. O tempo todo afirma-se por meio de herdeiros de santos, herdeiros de intelectuais, pares de reis, bispos, ou seja, criando uma rede, que é valorizada ao dizer que um estudou com o outro e isso foi tônica durante o Renascimento Carolíngio. A pregação é feita sempre usando as Sagradas Escrituras, mas nunca apenas elas. Primeiramente, o pregador mostra como é erudito e busca as palavras de um clérigo importante que tenha comentado sobre a mesma passagem.
· Escrita:
· ISLAMISMO- O sentimento de que o mundo falava árabe era comum aos cronistas que, ao andar pelo mundo, sempre encontravam alguém que conhecia o idioma. A expansão do islamismo teve diversos desafios, mas um dos maiores foi integrar povos tão diversos. Os muçulmanos não impunham a sua religião, no entanto, davam vantagens a quem se convertia. Mesmo para grupos tão diferentes, todos os que buscavam a conversão precisavam escrever e falar em árabe. O entendimento era de que o Alcorão não era uma revelação só pela mensagem, mas na forma. O árabe era a língua em que a mensagem se manifestou. Assim, durante a aquisição das primeiras letras, nas escolas fundamentais, a instrução aos jovens começava pelo mesmo caminho: ensino da língua e domínio da escrita árabe.
· CRISTIANISMO - Para mostrare difundir este olhar sobre a Educação, não basta uma revisão superficial do texto bíblico, que já tinha sido modificado no decorrer dos séculos. Era preciso ir além. Assim, duas inovações foram seguidas. A primeira foi a adoção de uma escrita de melhor qualidade. Dessa forma, os clérigos carolíngios generalizam o uso da minúscula carolíngia, espécie de letra menor e mais elegante, que foi utilizada nos séculos precedentes. Essa mudança tornou os livros mais manuseáveis e legíveis. A segunda mudança, também na época carolíngia, foi a adoção do hábito de separar as palavras e as frases umas das outras com um novo sistema de pontuação em oposição ao modo antigo de escrita que o ignorava completamente. Essas duas alterações, acrescidas de uma melhor organização dos scriptoria favoreceu a popularização da escrita.
· Língua:
· ISLAMISMO - O crescimento de seu domínio e o despertar do interesse de governos gerava uma ampla circulação de pessoas, que desejavam conhecer e dominar a língua e os ensinamentos. O reino do Gana, por exemplo, vai aos principais intelectuais pedir ajuda para se converter. Turcos e mongóis, que surgem como inimigos da religião e do domínio muçulmano, acabam sendo convertidos pelos seus líderes à nova religião. Professores e intelectuais eram contratados nas cidades maiores e circulavam pelo mundo muçulmano dedicados a ensinar a língua e outros fundamentos da cultura e da religião. Esse interesse se dava pelo que representava seus conhecimentos. Sua expansão fazia com que o mundo conhecesse seus domínios de medicina, leis, navegação etc. As trocas constantes e intensas geraram uma rica dinâmica comercial e cultural. Não é exagero dizer que, durante a Idade Média, o mundo muçulmano representava os mais importantes centros de cultura, pesquisa e comércio, atraindo vários povos.
· CRISTIANISMO - Outra forma de divulgação das obras antigas é a perpetuação de um conhecimento regular das regras do latim, que faz com que a gramática e a retórica sejam as principais disciplinas da erudição carolíngia. Vale lembrar que estamos em um período em que a língua latina evolui de maneira distinta em cada região. Nesse momento, os eclesiásticos carolíngios adotam uma decisão que conduziu o futuro linguístico da Europa. Eles admitiam que as línguas faladas pelas populações se distanciavam irrevogavelmente do latim clássico, a ponto de aconselharem que os sermões fossem traduzidos para as distintas línguas vulgares. De um lado, havia uma multiplicidade de línguas vernáculas faladas localmente pela população e, de outro, uma língua erudita, aquela do texto sagrado e da Igreja, incompreensível para os fiéis.
· Escolas:
· ISLAMISMO - A instrução básica ocorria em centros formados dentro das mesquitas. Deveria ser ensinado a todos uma formação básica no idioma e alguns rudimentos de filosofia/religião islâmica. Os estudos avançados eram realizados em centros maiores conhecidos como “Casas de Cultura” chamados por muitos de embriões das universidades medievais. Esses espaços reuniam escritos, sábios de regiões diversas e o ensino era marcado pelo ecletismo. Só poderiam participar muçulmanos ou povos dos livros – salvo quando cristãos e muçulmanos estavam em conflito.
· CRISTIANISMO - As escolas cristãs eram organizadas principalmente nos mosteiros. A partir dos oito anos, as crianças seguiam para esses locais e, ao completarem 18 anos, poderiam escolher se seguiriam a vida eclesiástica ou não. No período do governo Franco de Carlos Magno, surgem as primeiras escolas nas cidades, com profissionais que ofereciam seus serviços como professores particulares. Esses locais eram reconhecidos como escolas menores. Elas eram depreciadas pelas grandes escolas monacais e, por isso, tratadas com desdém, como escolinhas ou Escolástica. Em pouco tempo, esses professores e as escolas dos centros urbanos motivaram uma importante mudança no pensamento medieval.
Desenvolvimento da Educação na cultura islâmica
O povo árabe foi, de alguma forma, aquele que reinseriu a cultura clássica no Ocidente. Esse fato foi possível em virtude, do entendimento que tiveram da ciência grega, o que não se caracterizou como imitação. Dessa maneira, ao inserir seus elementos religiosos e científicos, acabaram difundindo elementos gregos que tinham sido remodelados. O ensino árabe também recebeu forte influência das escolas gregas e romanas.
Em parte, isso se deu pelo ensinamento de Maomé que mandou que seu povo fosse atrás do conhecimento não importando onde tivesse que chegar. Trilhando esse princípio, filósofos e sábios árabes edificaram uma grande civilização que incorporou a cultura e o conhecimento de outros povos. Foi dessa maneira que os árabes transmitiram grande conhecimento à Europa, como ocorreu, por exemplo, com a bússola, o astrolábio, o papel e a pólvora (PILETTI; PILETTI, 2012, p. 51-52).
A religião islâmica se expandiu para além das fronteiras do mundo árabe. Em 711, consolidava seu domínio na península Ibérica, dominando uma parte importante deste território, como mostra o mapa a seguir.
A expansão muçulmana cessa com a vitória de Carlos Martel em Poitiers. Ainda que os carolíngios sejam exaltados por essa vitória, não devemos imaginar anos de conflito na relação entre cristãos e muçulmanos. Depois da expansão no século VIII, os séculos seguintes foram marcados pela intensa troca comercial entre esses povos. Como sabemos, o comércio leva bem mais que seus produtos. Dessa forma, elementos da cultura árabe-islâmica se difundiram e influenciaram o pensamento cristão.
Durante o domínio muçulmano na península Ibérica, os cristãos que permaneceram em suas regiões aprenderam a falar e escrever em árabe e nas línguas locais. Essa troca permitiu que tradutores recuperassem textos da Grécia Clássica – Aristóteles, principalmente –, que só existiam, até então, em árabe para as línguas conhecidas, fundamentando o caminho para o racionalismo cristão no século XII.
Normalmente, imaginamos um mundo de conflito, em especial quando começam os movimentos das Cruzadas, em 1095, mas a relação de troca no mundo mediterrânico foi intensa. Em um primeiro momento, os textos gregos traduzidos para o árabe ajudam a consolidar os espaços culturais muçulmanos conhecidos como casas de cultura. Depois, esses mesmos materiais foram traduzidos do árabe para as línguas românticas (início das línguas modernas).
Desenvolvimento da Educação na cultura cristã
As reformas realizadas por Carlos Magno e seus conselheiros foram importantes. A principal delas foi a reforma da escrita. A nova escrita, minúscula carolíngia, é clara, normalizada, elegante, mais fácil de ler e escrever. Podemos dizer que foi a primeira escrita europeia. Numa intensa atividade de cópia de manuscritos nos scriptoria monásticos, reais e episcopais, Alcuíno introduziu uma nova preocupação com a clareza e a pontuação.
Carlos Magno também buscou corrigir o texto da Bíblia. Esse cuidado de correção, que animará a grande atividade de exegese bíblica no Ocidente Medieval, é uma preocupação importante que concilia o respeito pelo texto sagrado original e a legitimidade das emendas devidas ao progresso dos conhecimentos e da instrução.
A renascença carolíngia impõe-se ainda hoje, sobretudo pela riqueza de sua ilustração, as iluminuras.
Alguns evangeliários ou saltérios (salmos) são obras de arte carolíngia. O gosto pelo texto dos salmos, que atravessará a Idade Média, fez nascer na Europa um atrativo pela poesia bíblica que dura até hoje.
Rumo à Escolástica
A Educação urbana, considerada menor, que passou a se organizar e se difundir a partir da Reforma Carolíngia, é fortalecida com o crescimento das cidades. Assim, aumentaram as trocas comerciais e culturais com o mundo muçulmano. A soma destes dois fatores criou um terreno fértil para outra cultura educacional.
Por isso, o movimento intelectual conhecido como Escolástica, que marca a mudança do pensamento educacional medieval, só pode ser compreendido a partir do entendimento deste novo mundo.
· 4º MÓDULO - Determinar a importância daEscolástica para as escolas urbanas e universidades na Baixa Idade Média
Introdução
A Escolástica não é algo fácil de entender. Para facilitar a compreensão, veja algumas chaves de explicação:
· Ela é um movimento relacionado ao crescimento do comércio e dos centros urbanos na Europa e, consequentemente, marcado pela disputa de intelectuais.
· Ela muda o lugar de Deus. Sim! Se Deus era algo a ser alcançado, agora Ele está dentro de cada um de nós e alcançá-lo é uma operação racional.
· O papel da Educação nisso é preparar o sujeito para que ele possa ativar sua centelha divina, seu lugar de razão e mergulhar em si para poder alcançar a Deus e explicar o mundo.
Neoplatonismo x Neoaristotelismo
De um lado, temos uma tradição histórica, monástica, que bebe nos chamados pais da Igreja, com uma forma reconhecida e reafirmada: o modelo neoplatônico. Do outro lado, aparecem os movimentos urbanos e as novas tendências educacionais recebidas pelo mundo árabe. As cidades se tornam um local de debates públicos e valorização da razão. Lembrando que é uma razão cristianizada.
Filosoficamente, esses modelos têm questões fundamentais com a Educação:
· NEOPLATONISMO - Herdeiro da Patrística, partindo especialmente de Agostinho – Deus deve ser sentido, ele não precisa de uma explicação racional. Precisamos de mestres para conduzir os sujeitos pela prática, pela repetição de nomes da Igreja para alcançar Deus. Como Deus é tudo, inclusive todo o conhecimento, a busca por Ele é um exercício constante de alcançar a verdade em algum lugar.
· NEOARISTOTELISMO - Herdeiro da Escolástica, em especial de Tomás de Aquino – Deus deve ser explicado. Todo homem tem uma essência, um caminho racional que explica tudo. Essa essência, no caso dos homens, é divina. Logo, Deus não está em um lugar que deva ser alcançado, mas deve ser buscado dentro de cada um. Se minha capacidade de pensar e entender o mundo é centelha divina e a razão é divina, é divino fomentar o conhecimento e o racionalismo. Deus deve ser conhecido.
Mas por que isso acontece? Vamos ver o contexto.
século XIII europeu, caracterizado pelo crescimento urbano e comercial, foi também, no ambiente citadino, o século da Europa escolar e universitária. Assistiu-se, a partir do século XII, beneficiadas pelos burgueses, a multiplicação das escolas urbanas. Por extensão, criou-se uma fundação capital para o ensino na Europa, o nascimento mais extraordinário e que introduziu uma tradição ainda viva atualmente: a das “escolas superiores”, também chamadas de universidades.
Essas escolas superiores ganharam, ao término do século XII, a denominação de stadium generale (escola geral), que significava uma condição superior e uma instrução de traço enciclopédico. As universidades, localizadas em regiões de grande presença de organização de ofícios urbanos, aparelharam-se em corporação como os outros ofícios e adotaram a terminação “universidade”, que expressava corporação. Tal vocábulo foi usado pela primeira vez em Paris, no ano de 1221, para indicar o grupo de mestres e de estudantes parisienses (universitas magistrorum et scholarium).
MODELO BOLONHÊS - Apenas os alunos constituíam juridicamente a universitas.
MODELO PARISIENSE - Mestres e estudantes compunham uma única comunidade.
Somente o exemplar parisiense chegou aos dias atuais.
As universidades
A primeira universidade foi a de Bolonha, ainda que tenha sido regulamentada pelo papa apenas em 1252. Desde 1154, o Imperador Frederico Barba Ruiva conferira prerrogativas aos mestres e aos estudantes de Bolonha. Só para entendermos, há várias associações de mestres que transformavam as cidades em polos de atração de alunos. Esses alunos eram famosos pelas bebedeiras, festas e pelo conhecimento, mas estas escolas não eram reconhecidas como nada diferente do que um centro de cultura. A partir do final do século XII, principalmente ao longo do XIII, vemos a consolidação de uma instituição, com regras e cátedras (cadeiras) reconhecidas pelo papa. Seu modelo era semelhante ao de um mosteiro, mas, ao invés de um abade, havia um rector (reitor). Além disso, o reconhecimento do título passa a ter uma cerimônia em que o mestre, representando ser o portador do conhecimento, dá a outorga ao aluno, transformando-o em um novo portador do dom.
Para entender isso melhor, olhe para os cerimoniais de formatura que ainda existem hoje. Todos ainda se baseiam na tradição e sua reprodução. O magnífico reitor outorga o grau – não mais por Deus, mas pelo Estado e pela instituição – colocando o aluno na condição de membro da Universitas.
As novas universidades não nasceram do nada. São filhas das escolas que se formaram desde Carlos Magno, mas seu modo de pensar e operar, sua formalização, dependeu do novo momento político, vivido no século XIII. As universidades são campos abertos para novas ideias. Não à toa, são espaços vitais da Escolástica e do pensamento aristotélico.
Fundamento aristotélico da Escolástica
Dois grandes nomes se destacam na corrente Escolástica. São eles:
· ARISTÓTELES - De certo modo, foi o principal teórico das universidades do século XIII e, especialmente, da Universidade de Paris. Apesar de seus textos já terem sido traduzidos para o latim há muitos séculos, foi a partir do século XIII que se destacaram nessas traduções oriundas do árabe para línguas vernáculas a sua metafísica, sua ética e sua política. Assim, podemos afirmar que houve um aristotelismo medieval por volta de 1260-1270, pois suas ideias estavam presentes em quase todo o ensino universitário.
· TOMÁS DE AQUINO - Foi um dos grandes introdutores do pensamento aristotélico nas universidades. No entanto, aproximadamente em 1270, o aristotelismo recuou por causa da condenação de tradicionalistas, como Estêvão Tempier, e pelos ataques de mestres mais “modernos”, que opunham a ele ideias mais místicas e menos racionalistas, tais como os franciscanos João Duns Escoto (1266-1308) e Guilherme de Ockham (1285-1347), além do dominicano Meister Eckhart (1260-1328).
O legado da ação intelectual, especialmente a universitária, do século XIII, foi a série de métodos e de textos que foram categorizados como Escolástica, inicialmente no século XII, e, mais profundamente, nas universidades no século XIII.
A Escolástica deriva do desenvolvimento da Dialética, uma das artes que compõem o Trivium, “a arte de argumentar por perguntas e respostas numa situação de diálogo”. O fundador da Escolástica é Anselmo de Cantuária (1033-1109), para quem a Dialética é o procedimento principal da sustentação da reflexão ideológica. O objetivo da Dialética é a inteligência da fé, cuja fórmula ficou famosa desde o período medieval: fé em busca de entendimento (fides quaerens intellectum).
Esse método era baseado em três etapas:
1 - QUAESTIO: Elaboração de um problema, ou seja, na exposição de uma questão.
2 - A DISPUTATIO: Discussão do questionamento entre mestres e alunos.
3 - A DETERMINATIO - Resolução do problema por parte do mestre.
Vale lembrar que, no século XII, no programa das universidades, havia um exercício cujo fim era a demonstração do talento intelectual dos mestres. Nessas oportunidades, duas vezes ao ano, os discentes propunham ao mestre uma questão de qualquer temática. O renome e o status dos mestres, muitas vezes, se faziam em cima de sua competência de replicar a esses assuntos.
No século XIII, o filósofo que promoveu a transição real do platonismo para uma forma mais sofisticada de Filosofia foi Tomás de Aquino (1225-1274): o grande nome da Escolástica. Sua obra-prima, Summa Theologica (1485), é o maior exemplo desse método de aprendizagem.
A Escolástica ampliou-se quando Tomás de Aquino introduziu ao método elementos da Filosofia de Aristóteles. Historicamente, na Idade Média latina, a partir da segunda metade do século XIII e no século XIV, a Filosofia apresentava-se de duas formas distintas. Vejamos:
· FILOSOFIA ARTICULADA À TEOLOGIA - Sob a regência normativa da Teologia – ou, como diria Tomás de Aquino, subalternada a essa ciência –, tal Filosofia era oficialmente praticadanas Faculdades de Artes das universidades. Esse era o degrau necessário para atingir a Faculdade de Teologia.
· FILOSOFIA VOLTADA À TRADIÇÃO ANTIGA - Esta Filosofia retomava, pela mediação do ideal de vida filosófica – renascido em terras do Islã –, a tradição antiga do exercício de filosofar como fonte do mais alto prazer e da felicidade.
As universidades foram fundadas a partir das disciplinas disponíveis nas faculdades. Existiam quatro faculdades que faziam parte de todas as universidades:
DIREITO - Elaboração de um problema, ou seja, na exposição de uma questão.
TEOLOGIA - Estudo da exegese bíblica e da fundamentação filosófica de Deus.
MEDICINA - Dava à Medicina uma aparência mais livresca e teórica do que experimental e prática.
ARTES - Onde se lecionavam as Artes, principalmente as do Quadrivium.
Mas vale lembrar que, acima de todas elas, no que tange ao status e ao reconhecimento social, impunha-se a faculdade suprema: a de Teologia.
Com muita frequência, uma faculdade prevalecia por sua importância sobre as outras da universidade. Nesse sentido:
· Bolonha foi prioritariamente uma Faculdade de Direito;
· Paris foi uma Faculdade de Teologia.
· Montpellier foi uma Faculdade de Medicina.
Havia uma hierarquia pelo lugar no curriculum e pela reputação entre uma faculdade de base propedêutica. Na prática, a Faculdade de Artes foi frequentemente dominada pelas disciplinas que hoje chamaríamos de científicas. Do ponto de vista social, a faculdade foi povoada por estudantes mais jovens, mais turbulentos, menos ricos, e só uma minoria deles prosseguia seus estudos em uma faculdade superior (Direito, Teologia e Medicina).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizamos nossa jornada sobre a Educação na Idade Média estudando os elementos que a Igreja Católica resgatou da Antiguidade e as características das escolas romanas e do Trivium e Quadrivium e a readequação desses princípios da cultura clássica pela Patrística, com destaque para Agostinho de Hipona, o Renascimento Carolíngio e o contraponto da cultura do Islã e sua influência na Europa medieval até chegarmos nas universidades e o método da Escolástica com destaque para Tomás de Aquino.
Devemos pensar a Educação como um evento que pode assumir formas e maneiras diversas dependendo dos diferentes grupos humanos e suas correspondentes etapas de organização. Dessa forma, a Educação resulta em intencionalidade, bem como em imposição para alcançar seus propósitos, procurando que seus elementos cheguem a todas as partes que compõem a sociedade, como modo de se legitimar, buscando, assim, determinar uma série de valores e práticas particulares. No nosso caso, o período medieval.
Esse percurso não se finda aqui, pois a caminhada pela Educação é só o começo.

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