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INTRODUÇÃO O funcionamento da sociedade humana depende de organizações, sejam elas empresas privadas, públicas, de economia mista, autarquias ou órgãos da administração pública direta nas diferentes esferas do poder público. As atividades de quaisquer organizações podem ser tipificadas em dois grandes grupos: as atividades de operações de rotina e as atividades relacionadas com projetos. De modo geral, as atividades de rotina referem-se à entrega de produtos e serviços relacionados com a missão da empresa e com o seu presente. Um hospital, por exemplo, faz tratamentos buscando a cura das pessoas e uma fábrica produz peças e equipamentos. Esses são exemplos de operações de rotina. Já os projetos têm uma característica diferente. Projetos são esforços temporários para criar produtos, serviços ou resultados únicos (Project Management Institute, 2017, p. 720). O foco de atenção dos projetos fica no futuro, uma vez que um projeto gera uma nova realidade, ora mudando a configuração presente de recursos da organização, ora criando novos produtos, serviços ou resultados para os seus clientes ou outras partes Nesse contexto, é necessário entender que os projetos são esforços, e esses esforços necessitam de recursos humanos, financeiros e materiais para que sejam capazes de materializar o objetivo para o qual o projeto foi criado. Recursos são finitos, de forma que qualquer gerente de projeto deve saber fazer um gerenciamento efetivo dos recursos designados ao projeto. Evidentemente, a problemática de gerenciamento de recursos envolve duas principais vertentes distintas. Uma dessas vertentes diz respeito aos recursos materiais e financeiros que serão empregados no projeto. A gestão de recursos desse tipo segue uma lógica bem definida de uso, sempre regida pela preocupação em utilizar de forma correta a quantidade certa de recursos, ou seja, nem usar a mais do que o estritamente necessário, nem usar a menos sob pena de inviabilizar o projeto. A conclusão é óbvia: os custos devem ser mantidos em níveis que propiciem um equilíbrio econômico financeiro do projeto. Já com relação aos recursos humanos, a lógica não é tão simples. São válidas as mesmas preocupações de ter um nível adequado de recursos para as necessidades do projeto sem que haja desperdício. No entanto, em qualquer projeto, o elemento humano envolve muito mais do que um simples problema de dimensionamento de quantidades. É necessário identificar as competências necessárias para o trabalho requerido do projeto, selecionar as pessoas certas, mantê- las motivadas durante todo o ciclo de vida do projeto e definir o destino das pessoas envolvidas no projeto quando ele termina. Desse modo, o presente material objetiva trazer esclarecimentos sobre toda a lógica que envolve o gerenciamento de recursos em projetos, sejam esses recursos humanos ou materiais. Além disso, este material também tem os seguintes objetivos: � o conhecimento e o entendimento do contexto do gerenciamento de recursos em projetos, incluindo a definição de conceitos básicos e da linguagem necessárias para entender a prática de gerenciar recursos em projetos; � o conhecimento e o entendimento dos processos de gerenciamento de recursos propostos pelo Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017); � uma visão geral sobre a problemática relacionada com o gerenciamento de recursos humanos; � o conhecimento dos componentes de um plano de gerenciamento de recursos em projetos, conforme preconiza as recomendações do Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017), e � o conhecimento do conjunto de documentos necessários para elaborar o plano de gerenciamento de recursos e gerenciamento do projeto. SUMÁRIO MÓDULO I – CONTEXTO DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS EM PROJETOS................................. 9 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 9 RECURSOS NO CONTEXTO DE UM PROJETO ................................................................................ 10 Taxonomia de recursos........................................................................................................... 10 O QUE É GERENCIAMENTO E O QUE É GERENCIAMENTO DE RECURSOS EM PROJETOS? .... 12 CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES PARA O GERENCIAMENTO DE RECURSOS EM PROJETOS . 12 Tailoring (ou adaptação dos recursos às necessidades do projeto) ................................. 12 Diversidade ............................................................................................................................... 13 Localização física ...................................................................................................................... 13 Recursos específicos................................................................................................................ 13 Contratação de membros da equipe .................................................................................... 13 Gerenciamento da equipe ...................................................................................................... 14 Abordagens do ciclo de vida do projeto ............................................................................... 14 RESUMO DOS CONCEITOS ESSENCIAIS PARA GERENCIAMENTO DOS RECURSOS DO PROJETO ............................................................................................................................................ 14 CONSIDERAÇÕES PARA AMBIENTES ÁGEIS E ADAPTATIVOS ..................................................... 15 TENDÊNCIAS PRÁTICAS EMERGENTES EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS ........................... 15 Gerenciamento enxuto (Lean Management) ......................................................................... 16 Fabricação Just-in-Time ............................................................................................................ 17 Kaizen ........................................................................................................................................ 17 Manutenção produtiva total ................................................................................................... 18 Teoria das restrições ............................................................................................................... 19 Inteligência emocional ............................................................................................................ 22 Equipes auto-organizáveis ou equipes autogeridas ........................................................... 22 Equipes virtuais ou equipes distribuídas .............................................................................. 23 RESUMO ............................................................................................................................................ 23 MÓDULO II – PROCESSOS DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS CONFORME O GUIA PMBOK (2017) .................................................................................................................................................... 25 PLANEJAR O GERENCIAMENTO DOS RECURSOS ......................................................................... 25 ESTIMAR OS RECURSOS DAS ATIVIDADES .................................................................................... 27 ADQUIRIR RECURSOS ...................................................................................................................... 29 DESENVOLVER A EQUIPE................................................................................................................. 30 GERENCIAR A EQUIPE ...................................................................................................................... 32 CONTROLAR OS RECURSOS ............................................................................................................34 RESUMO ............................................................................................................................................ 36 MÓDULO III – GERENCIAMENTO DE RECURSOS HUMANOS ........................................................... 37 O QUE É O PLANEJAMENTO DE RECURSOS HUMANOS .............................................................. 37 QUESTÃO DAS COMPETÊNCIAS ..................................................................................................... 38 OUTROS FATORES IMPORTANTES A CONSIDERAR NO PLANEJAMENTO ................................. 38 INFORMAÇÕES BÁSICAS PARA PLANEJAR A DEMANDA DE RECURSOS HUMANOS ................ 39 EQUIPES DE PROJETO ...................................................................................................................... 40 Equipes de projeto de alto desempenho ............................................................................. 41 Formação de equipes de alto desempenho ........................................................................ 43 DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS ................................................................................................. 45 Instrumentos e ferramentas para desenvolvimento de pessoas ..................................... 46 MOTIVAÇÃO DE PESSOAS ............................................................................................................... 47 Pirâmide de Maslow ................................................................................................................ 49 Teoria das necessidades de Alderfer .................................................................................... 50 Teoria higiênica motivacional de Herzberg .......................................................................... 51 Teoria das necessidades de conquistas pessoais de McClelland ..................................... 52 Teorias X e Y de McGregor ...................................................................................................... 53 Teoria cognitiva da expectativa de Vroom ........................................................................... 54 Teoria cognitiva do reforço de Skinner ................................................................................. 55 GERENCIAMENTO DE CONFLITOS ................................................................................................. 56 Tipos de conflitos ..................................................................................................................... 57 Causas e evolução de conflitos .............................................................................................. 57 Técnicas de solução de conflitos ........................................................................................... 59 RESUMO ............................................................................................................................................ 61 MÓDULO IV – PLANO DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS ............................................................ 63 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 63 OBJETIVO DO PLANO ....................................................................................................................... 64 PLANO DE GERENCIAMENTO DA EQUIPE ..................................................................................... 64 Identificação dos recursos humanos necessários ao projeto ........................................... 64 Definição de papéis, autoridade, responsabilidades, competências ............................... 64 Organograma do projeto ........................................................................................................ 65 Orientações sobre a aquisições de recursos humanos do projeto .................................. 65 Gerenciamento dos recursos da equipe do projeto ........................................................... 65 Treinamentos e desenvolvimento da equipe ...................................................................... 66 Plano de reconhecimento ....................................................................................................... 66 PLANO DE GERENCIAMENTO DOS RECURSOS FÍSICOS DO PROJETO ...................................... 66 Requisitos de recursos materiais .......................................................................................... 66 Estimativa dos recursos materiais ......................................................................................... 67 Alocações de recursos ............................................................................................................. 67 Controle de recursos ............................................................................................................... 67 PRINCIPAIS DOCUMENTOS E INSTRUMENTOS RELACIONADOS COM OS PROCESSOS DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS ................................................................................................... 67 Acordos ..................................................................................................................................... 68 Avaliações do desempenho da equipe ................................................................................. 68 Bases das estimativas ............................................................................................................. 68 Calendário dos recursos ......................................................................................................... 68 Cronograma do projeto .......................................................................................................... 69 Designações da equipe de projeto ........................................................................................ 69 Designações de recursos físicos ............................................................................................ 70 Documentação dos requisitos ............................................................................................... 70 Estrutura analítica do projeto (EAP) ...................................................................................... 70 Estrutura analítica dos recursos ............................................................................................ 71 Matriz de responsabilidades .................................................................................................. 71 Plano de gerenciamento da qualidade ................................................................................. 72 Plano de gerenciamento do projeto ..................................................................................... 72 Registro das lições aprendidas .............................................................................................. 73 Registro de premissas ............................................................................................................. 73 Registro de riscos ..................................................................................................................... 74 Registro de questões do projeto ........................................................................................... 75 Registro das partes interessadas ........................................................................................... 75 Relatório de desempenho do trabalho ................................................................................. 76 Solicitação de mudanças ........................................................................................................ 76 Termo de abertura do projeto ............................................................................................... 76 Termo de nomeação de equipe .............................................................................................77 RESUMO ............................................................................................................................................ 77 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 78 PROFESSOR-AUTOR ............................................................................................................................. 83 Neste módulo, vamos definir o contexto do gerenciamento de recursos em projetos e entender os conceitos básicos envolvidos com o gerenciamento de recursos em projetos. Para isso, veremos o conceito de recursos no contexto de um projeto, uma taxonomia de recursos, a definição de gerenciamento e gerenciamento de recursos em projetos. Além disso, teceremos considerações importantes para o gerenciamento de recursos em projetos: tailoring (adaptação dos recursos às necessidades do projeto), diversidade de pessoas na equipe de projeto, localização física, recursos específicos, contratação de membros da equipe, gerenciamento da equipe e a importância das abordagens do ciclo de vida do projeto. Por fim, veremos um resumo dos conceitos essenciais para gerenciamento dos recursos do projeto e considerações para ambientes de projeto ágeis e adaptativos, bem como a definição de algumas tendências práticas emergentes em gerenciamento de projetos. Introdução O gerenciamento dos recursos necessários para planejar e executar as entregas de um projeto é o objeto do presente texto. Um projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado único (Project Management Institute, 2017, p. 4). Essa definição implica, entre outras coisas, a existência de restrições, em especial restrições de prazo e de custo para a execução de um projeto. Ao contrário de uma operação de rotina que se repete ao longo do tempo, um projeto é sempre único e diferente de outros projetos, ainda que alguns projetos possam apresentar similaridades. No contexto de gerenciamento de projetos, um recurso é um meio para se obter algo, podendo constituir-se em membros da equipe que desenvolve o projeto ou qualquer item físico MÓDULO I – CONTEXTO DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS EM PROJETOS 10 necessário para concluir o projeto (Project Management Institute, 2017, p. 721). Pelo fato de cada projeto ser único, o sucesso da realização do projeto depende de um planejamento cuidadoso. Isso inclui, naturalmente, o correto planejamento e gerenciamento dos recursos empregados no projeto. Segundo o Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017, p. 676), o gerenciamento de recursos físicos concentra-se em alocar e usar recursos necessários para conclusão bem-sucedida do projeto de forma eficiente e eficaz. O mesmo guia alerta para o fato de que deixar de gerenciar e controlar os recursos com eficiência pode reduzir a possibilidade da conclusão bem-sucedida do projeto (Project Management Institute, 2017, p. 676). Para o correto entendimento do que é gerenciar recursos, existe a necessidade de domínio de alguns conceitos essenciais. O presente tópico trata de fornecer uma definição formal para cada um desses conceitos. Recursos no contexto de um projeto Um recurso é um meio para se obter algo, podendo constituir-se em membros da equipe que desenvolve o projeto ou qualquer item físico necessário para concluí-lo (Project Management Institute, 2017, p. 721). Taxonomia de recursos Vejamos as categorias principais de recursos usados em projetos. O Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017), por exemplo, define a seguinte taxonomia de recursos em projetos: � recursos humanos; � recursos materiais, como materiais e insumos; � equipamentos, como equipamentos e ferramentas, incluindo também ferramentas intangíveis – por exemplo, softwares – e � recursos financeiros, ou seja, capital para custear o projeto em todas as suas fases. Webster JR. (2002, p. 50-51) propõe uma taxonomia mais ampla de recursos usados em projetos, conforme o quadro a seguir. A classificação desse autor se diferencia pelo fato de considerar que existem recursos gerenciais e recursos intangíveis. 11 Quadro 1 – Taxonomia de recursos em projetos todos os recursos recursos gerenciais equipe de projeto patrocinador do projeto executivos da organização executora do projeto quadro de pessoal (staff) da organização executora do projeto recursos humanos recursos similares recursos únicos recursos financeiros custos dos projetos recursos físicos partes do produto do projeto equipamentos materiais serviços informações recursos intangíveis condições ambientes espaço tempo informação Fonte: adaptado de Webster Jr. (2002, p. 51) 12 Podemos perguntar: por que é importante conhecer a taxonomia de recursos? A explicação é simples. Uma taxonomia (ou classificação) permite que se tenha melhor entendimento do que algo é composto. No caso em pauta, alguém pode considerar que recursos são apenas pessoas, materiais e máquinas. No entanto, em determinadas situações, ter a informação certa ou um bom gerente pode fazer toda a diferença na tarefa de desenvolvimento de um projeto. O que é gerenciamento e o que é gerenciamento de recursos em projetos? Gerenciar é um verbo transitivo direto que significa exercer as funções de um gerente, que é aquele que gere ou administra negócios, bens e serviços. (Holanda Ferreira, 1996, p. 684 e 685). O termo gerenciamento é um sinônimo da palavra gestão, que é o ato de gerir, gerenciar ou administrar (Holanda Ferreira, 1996, p. 685). Já a definição formal do que é gerenciamento de recursos do projeto, conforme o Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017, p. 712), é: “O gerenciamento dos recursos do projeto inclui os processos para identificar, adquirir e gerenciar os recursos necessários para a conclusão bem-sucedida do projeto”. O Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017, p. 309) afirma que o gerenciamento de recursos é influenciado por diversos fatores, por exemplo: a) localização geográfica dos membros da equipe; b) comunicações entre partes interessadas; c) gerenciamento de mudanças organizacionais; d) política interna e externa e e) questões culturais e fatores de exclusividade da organização. Dependendo do tipo, da complexidade e do porte do projeto, poderá ser necessário ter um gerente de recursos para auxiliar no planejamento, monitoramento e controle do projeto. No entanto, de um modo geral, qualquer profissional que tenha a missão de gerenciar recursos em um projeto pode ser denominado de gerente (ou gestor) de recursos. Considerações importantes para o gerenciamento de recursos em projetos Tailoring (ou adaptação dos recursos às necessidades do projeto) Ao pensar no gerenciamento de um projeto e dos recursos necessários para a sua execução, é necessário entender que cada projeto possui o seu próprio contexto e a consequente necessidade de adaptação para o contexto vigente em cada projeto. O Guia PMBOK (Project Management 13 Institute, 2017, p. 311) aponta para a importância da adaptação (ou tailoring em Inglês). Conforme esse guia, para adaptação, devem ser considerados os itens a seguir, ainda que não se deva limitar a eles. Diversidade Atualmente, existe uma grande demanda da sociedade por aquilo que se denomina como o politicamente correto. Sob essa visão, as ações das organizações devem alinha os seus interesses com os do bem-estar da população e da sociedade em geral. E isso envolve a inclusão de minorias. Além disso, com a rápida evolução tecnológica e a necessidade cada vez mais premente de atender clientes de diferentes extratos da sociedade, torna-se necessário a integração nas equipes de projeto de pessoas com diferentes origens, credose raça. Só é possível atender bem aos diferentes segmentos da sociedade se a organização tiver em seu quadro de pessoal e nos seus projetos uma diversidade de pessoas que representam a sociedade no qual ela está inserida. Em ambos os contextos acima colocados, ou seja, do contexto do politicamente correto e da necessidade de atender diferentes segmentos de mercado, a diversidade dos integrantes da organização e das equipes de projeto é um elemento chave. Localização física A localização física dos membros das equipes do projeto assim como os recursos físicos, por exemplo, equipamentos e matéria prima são elementos fundamentais do planejamento e do gerenciamento de recursos do projeto. Recursos específicos Projetos de medicamentos, por exemplo, envolvem a necessidade de especialistas em processos de aprovação junto às autoridades. Já os projetos de construção civil exigem a disponibilidade de engenheiros com registro em Conselhos Regionais. Contratação de membros da equipe A forma de contratação de membros da equipe pode variar. No Brasil, por exemplo, os recursos humanos do projeto podem ser contratados: � por meio de contratos de trabalho regulamentados pela consolidação das leis trabalhistas; � como pessoas jurídicas; � por meio de cooperativas de trabalho; � por meio de empresas que terceirizam de mão-de-obra. 14 Além da definição de como os recursos humanos serão contratados, existem questões especificas que devem ser endereçadas, por exemplo, período de trabalho integral ou parcial e atendimento à requisitos previstos em acordos sindicais. Gerenciamento da equipe Evidentemente que não basta contratar uma equipe para desenvolvimento do projeto. Uma vez contratada a equipe é necessário saber como treinar a equipe de forma a desenvolver as competências necessárias ao projeto. Igualmente importante é estabelecer mecanismos de gerenciamento e ferramentas que auxiliem os processos de gerenciamento. Isso inclui políticas e regras de avaliação, sistemas de informação para apropriação de horas e pagamento de salários e incentivos. Em alguns projetos é possível admitir pessoas com deficiências físicas, que necessitam de instalações apropriadas. Abordagens do ciclo de vida do projeto Todo projeto tem um ciclo de vida. Alguns projetos usam um ciclo de vida tradicional, no qual tudo é especificado e planejado antes do início das atividades. Em outros casos existem projetos onde não é possível obter todas as informações necessárias para a sua execução. Nesse caso os projetos podem ser planejados e executados em ondas sucessivas. Atualmente fala-se em desenvolvimento ágil de projetos, nos quais o planejamento e execução são feitos sem que haja a especificação completa do escopo do projeto. Entender qual a abordagem de ciclo de vida será usada no projeto é essencial. Resumo dos conceitos essenciais para gerenciamento dos recursos do projeto Segundo o Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017, p. 676), os conceitos essenciais para gerenciamento dos recursos do projeto incluem: � Recursos em projetos são os recursos físicos (equipamentos, materiais, instalações e infraestrutura) e os recursos de equipe (pessoas com funções e responsabilidades de projeto atribuídas). � Existe a necessidade de diferentes habilidades e competências para gerenciar recursos de equipe e recursos físicos. � O gerente do projeto tem duplo papel: é líder e gestor ao mesmo tempo. Por isso, ele deve investir esforço adequado para adquirir, gerenciar, motivar e dar autonomia aos membros da equipe. 15 � O gerente de projeto deve estar ciente dos fatores que influenciam o desempenho da equipe, por exemplo, o ambiente, a localização geográfica dos seus membros, a comunicação entre as partes interessadas, o gerenciamento de mudanças organizacionais, as questões políticas internas e externas, as questões culturais e as características únicas da organização. � O gerente do projeto é responsável por desenvolver de forma proativa as habilidades e as competências da equipe e por manter e melhorar a sua satisfação e motivação. � O gerenciamento de recursos físicos deve concentrar em alocar e usar recursos necessários para conclusão bem-sucedida do projeto de forma eficiente e eficaz. Considerações para ambientes ágeis e adaptativos Com a evolução das tecnologias produtivas, o ciclo de vida de produtos ofertados ao mercado é cada vez mais dinâmico. Atualmente, o que importa não é o tamanho da empresa, mas a sua agilidade em atender ao mercado. Esse aumento de velocidade do mercado cria uma situação problemática para o planejamento e a execução de projetos. Nem sempre é possível definir com precisão o escopo e as especificações completas do projeto antes de iniciá-lo. Essa situação é muito comum, por exemplo, nos projetos de desenvolvimento de software. Os projetos nos quais não há como definir o escopo a priori e no qual existe alta possibilidade de variabilidade são beneficiados por estruturas de equipe que maximizam o foco e a colaboração – como as equipes auto- organizáveis (Project Management Institute, 2017, p. 311-312) – e por métodos ágeis de planejamento e execução – por exemplo, SCRUM, Feature Driven Development (FDD), eXtreme Programming (XP), Microsoft Solutions Framework (MSF) e Dynamic System Development Model (DSDM). Nesse cenário, o planejamento de recursos físicos e humanos é muito menos previsível, e acordos para suprimento rápido de recursos humanos e materiais, bem como o uso de métodos enxutos (lean) são críticos para controlar os custos e cumprir o cronograma. Tendências práticas emergentes em gerenciamento de projetos O Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017, p. 310) chama a atenção para o fato de que a maneira de gerenciar projetos está mudando de uma estrutura de comando e controle para a adoção de uma abordagem mais colaborativa e apoiadora que dá mais autonomia para as equipes de projeto. Nesse contexto, o guia discute diferentes métodos para gerenciar recursos, as quais são brevemente descritos a seguir. 16 Gerenciamento enxuto (Lean Management) O chamado método de gerenciamento enxuto – ou Lean Management, como é mais conhecido – ganhou notoriedade a partir de projetos de pesquisa em práticas gerenciados do MIT (Massachusetts Institute of Technology), segundo Womack, Jones e Roos (2001). Trata-se de uma filosofia de gerenciamento baseado no sistema Toyota de Produção. A ideia fundamental do Lean é reduzir ou eliminar todo e qualquer tipo de desperdício. A seguir, o quadro informa os sete desperdícios que o Lean combate nas organizações, seja nas fábricas ou nos escritórios. Quadro 2 – Sete desperdícios na manufatura e no escritório item manufatura escritório processamento sem valor utilização errada de ferramentas, procedimentos ou sistemas uso incorreto de procedimentos ou sistemas inadequados, em vez de abordagens simples e eficazes superprodução produzir excessivamente ou cedo demais, resultando em excesso de estoques gerar mais informação, em meio eletrônico ou papéis, além do que se faz necessário ou antes do correto momento inventário (estoque) excesso de matéria-prima, de peças em processamento e estoque alto volume de informação armazenado (buffer sobrecarregado) defeito problema de qualidade do produto ou serviço erros frequentes de documentação, problemas na qualidade dos serviços ou baixa performance de entrega transporte movimento excessivo de pessoas ou peças, resultando em dispêndio desnecessário de capital, tempo e energia utilização excessiva de sistemas computacionais nas comunicações movimentação desorganização do ambiente de trabalho, resultando em baixa performance dos aspectos ergonômicos e perda frequente de itens movimentação excessiva de pessoas e informações17 item manufatura escritório espera longos períodos de ociosidade de pessoas e peças, decorrentes, por exemplo, de máquina em manutenção ou em preparação (setup), resultando em lead time longo períodos de inatividade das pessoas e informações (aprovação de assinatura, aguardar fotocópias, esperar no telefone) Fonte: LAREAU (2002), citado por SERAPHIM, SILVA & AGOSTINHO (2010, p. 391) Fabricação Just-in-Time Just-in-Time é uma filosofia japonesa de manufatura que envolve ter os itens certos, com a qualidade certa, na quantidade certa, no local certo no momento certo, com o objetivo de aumentar a qualidade, produtividade, eficiências, melhorar a comunicação e diminuir custos e desperdícios (Cheng e Podolsky, 1996, p. 2). Trata-se de uma filosofia que, atualmente, é bastante utilizada em diversos tipos de industrias, sendo que a mais notória delas é a automobilística. O uso de fabricação Just-in-Time exige a adoção de paradigmas diferentes do tradicional e que afetam de maneira profunda o gerenciamento de recursos. Com o Just-in-Time, os estoques são reduzidos ao máximo, e logística de previsão de recursos materiais e do seu respectivo transporte até o local da fabricação se tornam o ponto nevrálgico da gestão dos processos produtivos. Kaizen Kaizen significa a melhoria contínua de um fluxo ele valor ou de um processo individual, com o objetivo de se agregar mais valor ao produto com menos desperdício (Perin, 2005, p. 30). Esse conceito foi originalmente criado no Japão na década de 1950. A seguir, o quadro mostra os princípios sob os quais o Kaizen funciona, quais os conceitos de gerenciamento de melhoria que ele utiliza e quais os resultados práticos que são obtidos. 18 Quadro 3 – Princípios do Kaizen, conceitos de gerenciamentos e aspectos práticos princípios conceito de gerenciamento de melhoria resultados práticos orientação por processo controle de processo por meio do suporte ao processo de avaliação Treinamento dos funcionários em métodos simples e uso de experiência e habilidade. Esforços são encorajados e resultados são reconhecidos. melhoria em passos menores extensivo uso de padrões base para melhoria, separando atividades de melhoria e de padrões de manutenção Necessário ter disciplina para manter o padrão. Foco sobre melhoria do próprio padrão de trabalho usando formas de solução comum (ciclo PDCA). orientação por pessoas Envolvimento e suporte ativo da gerência. Voluntarismo é mandatório. Política de gerenciamento voltado para o voluntarismo. Participação de convidados usando grupos temporários ou permanentes para solução de problemas com estruturas paralelas e times. Fonte: Berger (1997) citado por Perin (2005, p. 34). Manutenção produtiva total Wireman (1998) estabelece que Manutenção Produtiva Total (TPM) é um programa operacional onde são desenvolvidas atividades de melhoria contínua nos equipamentos e nos processos, com resultados monitorados por meio da utilização de indicadores de desempenho. Trata-se de um programa que auxilia as empresas na redução de ocorrência de falhas em instalações, máquinas e equipamentos (Tondato, 2004). A seguir, estão alguns dos grupos de indicadores propostos por Wireman (1998, p. 212-213) apenas para que o leitor possa ter uma ideia do tipo de indicadores propostos por esse autor: � indicadores financeiros de desempenho da manutenção; � indicadores de desempenho de eficácia; � indicadores de manutenção preventiva; � indicadores de ordens de serviço; � indicadores de treinamento de pessoal de manutenção; � indicadores de envolvimento operacional; � indicadores de confiabilidade; � indicadores de inspeções; 19 � indicadores de efetividade geral de equipamentos; � indicadores de estoque e de compras; � indicadores do sistema de gerenciamento de ativos e � indicadores de planejamento e programação de manutenção. Teoria das restrições A teoria das restrições data do final da década de 1970, quando Eliyahu Goldratt desenvolveu um método de programação para aumentar a produção em uma granja que foi denominado de OPT – Optimized Production Technology (Naor, Bernardes e Coman, 2013, p. 543). Esse método deu origem a uma teoria cientifica de fato e que, hoje, é conhecida, genericamente, pela sigla TOC (Theory of constraints ou Teoria das Restrições), conforme atestam Naor, Bernardes & Coman (2013). A teoria estabelece que todo sistema tem ao menos uma restrição que determina a sua capacidade (throughput), ou seja, a quantidade de material ou itens que passam por um sistema ou processo. A teoria das restrições postula que deve haver um processo de melhoria continua com o objetivo de aumentar a capacidade de um sistema. Goldratt (1990) e Goldratt & Cox (1992) definiram um método de cinco etapas para resolver os problemas em sistemas com base em uma filosofia de melhoria contínua: 1. identificar a restrição que está limitando a produtividade do sistema; 2. explorar a restrição de maneira a obter a melhor produtividade possível na parte do processo que está sujeita à restrição encontrada, buscando remover as limitações que restrinjam o fluxo e reduzam o tempo não produtivo; 3. subordinar todas as demais atividades do sistema à restrição para que se obtenha um fluxo de trabalho sincronizado e que evite o acúmulo de estoque entre as diferentes fases de um processo; 4. diminuir a restrição, aumentando a taxa de produtividade, investindo, se for o caso, em novos equipamentos ou aumentando o número de funcionários, e 5. se houver alguma mudança no sistema, verificar se alguma nova restrição foi introduzida no sistema. Antes de executar esses cinco passos, Goldratt & Cox (1986) e Goldratt (1990) prescrevem que devem existir duas etapas anteriores auxiliares, mas necessárias para que os passos anteriores sejam possíveis de serem executados: 1. defina a meta do sistema e 2. determine indicadores de mensuração de desempenho que sejam adequadas e simples de usar. 20 A teoria das restrições pode ser explicada de uma maneira bastante simples, por meio do exemplo de uma linha de produção, conforme mostrado na figura a seguir. Figura 1 – Exemplo da restrição de um sistema em linha de produção industrial Conforme se pode observar na figura, o processo de produção apresenta um equipamento que define a sua capacidade total, ou seja, a máquina 3. Essa máquina é a que tem o menor índice de produtividade. Por consequência, essa máquina constitui o gargalo do processo de produção. Em outras palavras, o que a teoria das restrições advoga é que o equipamento que tem a menor capacidade de produção (e que, justamente por isso, dita a capacidade global do sistema) deve estar sempre em condições de operação plena, devidamente alimentada para que não fique parado por conta de flutuações no suprimento de matéria prima a ser processada. O gargalo, no jargão técnico da teoria das restrições, é chamado de tambor devido ao fato de que é ele que determina a cadência da produção. Dessa maneira, o equipamento que fornece a matéria-prima para o gargalo funcionar deve sempre ter uma capacidade um pouco superior à do equipamento gargalo. Se todos os equipamentos da linha de produção mostrada na figura trabalharem com eficiência máxima, o sistema não apresentará o melhor desempenho possível. 21 Além do aspecto de produção, discutido anteriormente, a teoria das restrições também é usada no desenvolvimento de cronogramas por meio do conceito de corrente crítica, que advoga que o cronograma do projeto deve ser feito levando em consideração os recursos críticos. Leach (2014, p. 169-170) sugere a seguinte sistemática para elaboração de cronogramas com uso do método da corrente crítica, que é inteiramente baseado na teoria das restrições: a) Identifiquea restrição: � crie a rede de precedência de atividades; � faça o nivelamento de recursos e � identifique a corrente crítica. b) Explore as oportunidades para encurtar o caminho crítico: � busque oportunidades para mudar ou adicione recursos para remover atividades da corrente crítica; � reduza a estimativa de duração das atividades e � adicione um pulmão de prazo no final de corrente crítica. c) Subordine as atividades das correntes não críticas existentes na rede de atividades do projeto à corrente crítica: 1. adicione pulmões secundários (feeding buffers) nos pontos de junção dos caminhos da rede de atividades com o caminho da corrente crítica; 2. programe o início das atividades para as datas mais tarde e 3. remova a sobrecarga de recursos resultante da adição de pulmões secundários (feeding buffers). d) Eleve a restrição: � adicione ou altere recursos em locais estratégicos da rede de atividades para diminuir o comprimento da corrente crítica e � revise os processos nas atividades da corrente crítica para reduzir a sua duração. e) Evite a inércia: � salve a linha vase do cronograma e � volte ao passo um para explorar mais oportunidades de otimizar o fluxo de trabalho. 22 Inteligência emocional Queroz & Neri (2005) afirmam que o conceito de inteligência emocional adquiriu popularidade com a publicação do livro de Daniel Goleman (1995). Goleman (1995) enfatizou, na inteligência emocional, as relações e as experiências cotidianas, bem como a influência delas sobre o sucesso na solução dos problemas da vida diária. Hedlund & Sternberg (2002) afirmam existir dois possíveis posicionamentos opostos que definem o que é inteligência emocional. O primeiro posicionamento define que inteligência emocional é a capacidade de perceber e entender as informações emocionais. Segundo essa visão, a inteligência emocional é uma capacidade cognitiva ou aptidão que é distinta das variáveis de personalidade. O segundo posicionamento assume que a inteligência emocional inclui quase tudo que está associado com o êxito, em especial, habilidades não cognitivas, tais como a assertividade e o controle de impulsos, que são, em parte, sobrepostas a traços de personalidade (Queroz e Neri, 2005, p. 294). Ainda segundo Queroz & Neri (2005, p. 294), Goleman (1999) definiu a inteligência emocional como a capacidade de reconhecer os próprios sentimentos e os dos outros, de se automotivar e de administrar as emoções nos âmbitos individual e interpessoal. Equipes auto-organizáveis ou equipes autogeridas Cameron & Green (2009) afirma que uma equipe pode ser descrita como um conjunto de dois ou mais indivíduos que interagem de maneira interdependente e de forma adaptativa para alcançar objetivos compartilhados e específicos. Equipes auto-organizáveis, autogeridas ou autogerenciadas são aquelas que recebem a autoridade para controlar o seu próprio ambiente de trabalho e as funções do time, e para os quais é dada uma imensa flexibilidade sobre os seus processos de tomada de decisão (Mestrovic, 2017, p. 3). Lussier & Achua (2016) definem que esse tipo de equipe é relativamente autônomo, e os seus membros compartilham a responsabilidade da liderança de forma rotativa e são mutuamente responsáveis por alcançar as metas de desempenho designadas pela alta gerência da organização. Ainda segundo Lussier & Achua (2016), o uso desse tipo de equipe configura uma arma para melhoria de competitividade para diversas organizações. O gerenciamento de um projeto demanda uma estrutura organizacional temporária para que o projeto seja realizado com sucesso. Nesse contexto, o uso de equipes autogerenciáveis faz sentido. No contexto organizacional, um projeto não faz uso, necessariamente, das rotinas padronizadas da operação da organização. Desse modo, a existência de uma equipe que seja capaz de gerenciar de forma autônoma as suas atividades e responsabilidades é algo não apenas adequado como altamente recomendável. 23 Equipes virtuais ou equipes distribuídas Kateznbach & Smith (2001) definem que uma equipe é um grupo de pessoas com aptidões complementares, comprometidas com um objetivo comum, que realizam trabalhos interdependentes e que são coletivamente responsáveis pelos resultados. Em uma equipe virtual, os membros estão separados fisicamente pelo espaço ou pelo tempo (ou ambos), e a sua interação ocorre por meios eletrônicos, por meio de redes de computadores (Polzer, 2004). Segundo Harvey & Drolet (2004), as equipes virtuais se estruturam da mesma forma que todas as equipes não virtuais e passam pelo mesmo processo de formação, que inicialmente é caótico até a sua plenitude, onde alcançam plena colaboração e trabalho interdependente entre os seus membros, trabalhando com uma visão comum do que deve ser feito e com processos comunicacionais fluídos, constantes e com conflitos administrados de maneira direta e aberta. Atualmente, existem diversas áreas de aplicação que fazem uso de equipes virtuais para desenvolvimento de projetos. Um dos exemplos típicos de uso de equipes virtuais são projetos de desenvolvimento de software. Não é incomum que empresas multinacionais celebrem contratos com fornecedores internacionais para desenvolvimento e customização de softwares. Kobitzsch, Rombach & Feldman (2001), informam que, a partir do início dos anos 1990 e motivados, inicialmente, pelo desejo de cortar custos com pessoal, muitas empresas exploraram abordagens de desenvolvimento de software em múltiplos locais e em múltiplos países, sendo que a Índia e a Europa Oriental se destacam nesse cenário. Segundo esses autores, a maioria das empresas distribui o seu desenvolvimento em diferentes países para ter acesso à recursos humanos e competências não disponíveis internamente. Resumo Neste módulo, foram vistas as informações-chave para o entendimento do contexto do gerenciamento de recursos em projetos, incluindo um exemplo de taxonomia de recursos em projetos, os conceitos de gerenciamento e o que é gerenciamento de recursos em projetos. Este módulo também trouxe um conjunto de considerações importantes para o gerenciamento de recursos em projeto: tailoring (ou adaptação dos recursos às necessidades do projeto), a questão da diversidade em equipes de projeto, a influência da localização física, a definição de recursos específicos, os processos de contratação e o de gerenciamento da equipe e a influência das abordagens do ciclo de vida do projeto no gerenciamento de recursos em projetos. Também foi apresentado um conjunto de conceitos essenciais para gerenciamento dos recursos em projetos e as considerações relacionadas com ambientes ágeis e adaptativos. Por fim, o módulo descreveu algumas das tendências práticas emergentes em gerenciamento de projetos envolvendo o conceito de gerenciamento enxuto (Lean Management), fabricação Just-in-Time, Kaizen, manutenção produtiva total, teoria das restrições, inteligência emocional, equipes auto-organizáveis e equipes virtuais ou distribuídas. Neste módulo, forneceremos uma visão dos processos definidos na área de conhecimento de gerenciamento de recursos conforme o padrão de gerenciamento de projetos mais bem aceito pela comunidade, internacional e nacional, de profissionais e pesquisadores da área de projetos: o Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017). Este guia, já na sua sexta edição, é uma coletânea de recomendações sobre como gerenciar projetos, constituindo o mais importante padrão na área de gerenciamento de projetos, e sendo adotado por inúmeras empresas e órgãos públicos em todo mundo, inclusive no Brasil. Para o Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017) existem seis processos de gerenciamento de recursos do projeto. A seguir, veremos esses processos com a numeração com a qual são identificados no Guia PMBOK (Project ManagementInstitute, 2017, p. 307). Planejar o gerenciamento dos recursos É o processo que define como estimar, adquirir, gerenciar e utilizar recursos físicos e de equipe. Esse processo tem como entradas os seguintes documentos e informações: � termo de abertura do projeto; � plano de gerenciamento da qualidade do projeto, em especial, a definição de requisitos a serem atendidos pelo produto, serviço ou resultado que o projeto vai entregar, que estão inclusos no plano de gerenciamento da qualidade; � documentos do projeto, por exemplo, a linha base do escopo do projeto, o cronograma do projeto, o registro de riscos, o registro de partes interessadas; � fatores ambientais da organização e � ativos de processos organizacionais. MÓDULO II – PROCESSOS DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS CONFORME O GUIA PMBOK (2017) 26 Nesse ponto, cabe esclarecer os dois últimos itens acima, que são de fundamental importância: fatores ambientais e ativos de processos organizacionais. Essas duas entradas são essenciais para o processo de planejamento dos recursos de um projeto. Fatores ambientais são as condições que não estão sob o controle imediato da equipe e que influenciam, restringem ou direcionam o projeto, programa ou portfólio. Isso inclui, mas não se limita a: � cultura organizacional e estrutura; � distribuição geográfica de instalações e recursos; � competências e disponibilidades de recursos existentes e � condições de mercado. Ativos de processos organizacionais incluem, mas não se limitam a, planos, processos, políticas, procedimentos e bases de conhecimento específicas usadas pela organização executora. A seguir, estão colocados alguns exemplos de ativos de processos organizacionais usados para fins de planejamento e gerenciamento de recursos em projetos: � políticas e procedimentos de recursos humanos; � políticas e procedimentos para gerenciamento de recursos físicos; � políticas de segurança; � políticas de proteção; � modelos para o plano de gerenciamento dos recursos; � informações históricas sobre projetos similares e � lições aprendidas em projetos anteriores. Finalmente, o processo Planejar o gerenciamento de recursos possui as seguintes saídas: � plano de gerenciamento de recursos do projeto; � termo de nomeação da equipe e � atualizações em documentos do projeto, por exemplo, o registro de premissas do projeto e o registro de riscos. A seguir, a figura mostra o fluxo de informações do processo de planejar o gerenciamento de recursos do projeto. 27 Figura 2 – Planejamento do gerenciamento dos recursos: diagrama de fluxo de dados Fonte: Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017, p. 313). Estimar os recursos das atividades É o processo de estimar os recursos da equipe, o tipo e as quantidades de materiais, equipamentos e suprimentos necessários para realizar o trabalho do projeto. Esse processo tem como principais entradas os seguintes documentos e informações: � plano de gerenciamento do projeto, incluindo, especialmente, o plano de gerenciamento de recursos do projeto e a linha base do escopo; � documentos do projeto (por exemplo, a lista de atividades com os seus atributos, como a descrição da atividade, a sua duração planejada, quais atividades são predecessoras e sucessoras na rede de precedência de atividades, as restrições de datas de início ou 28 término da atividade, o registro de premissas do projeto, a estimativa de custo do projeto, o calendário de disponibilidade dos recursos e o registro de riscos); � fatores ambientais organizacionais e � ativos de processos organizacionais. O processo Estimar os recursos das atividades possui as seguintes saídas: � requisitos dos recursos; � bases de estimativas; � estrutura analítica de recursos; � atualização dos atributos das atividades do projeto; � atualização do registro de premissas e � atualização do registro de lições aprendidas. A seguir, a figura mostra o fluxo de informações do processo de estimar os recursos do projeto. Figura 3 – Diagrama do fluxo de dados do processo de estimativa dos recursos das atividades Fonte: Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017, p. 321). 29 Adquirir recursos É o processo de obter membros da equipe, instalações, equipamentos, materiais, suprimentos e outros recursos necessários para concluir o trabalho do projeto. Esse processo tem como entradas os seguintes documentos e informações: � plano de gerenciamento do projeto, incluindo, especialmente, o plano de gerenciamento dos recursos; � plano de gerenciamento das aquisições e a linha de base dos custos; � documentos do projeto (por exemplo, o cronograma do projeto, o calendário dos recursos, as informações de requisitos de recursos, o registro das partes interessadas); � fatores ambientais da empresa e � ativos de processos organizacionais. O processo Adquirir recursos possui as seguintes saídas: � designações de recursos físicos; � designações da equipe do projeto; � calendários dos recursos; � solicitações de mudança; � atualizações do plano de gerenciamento do projeto, incluindo, quando for o caso, o plano de gerenciamento dos recursos, a linha de base dos custos; � atualizações de documentos do projeto, incluindo, quando for o caso, o registro das lições aprendidas, o cronograma do projeto, a estrutura analítica dos recursos, o registro de requisitos de recursos, o registro dos riscos, o registro das partes interessadas; � atualizações nos fatores ambientais da empresa e � atualizações de ativos de processos organizacionais. 30 A seguir, a figura mostra o fluxo de informações da aquisição de recursos do projeto. Figura 4 – Aquisição de recursos: diagrama de fluxo de dados Fonte: Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017, p. 329). Desenvolver a equipe É o processo de melhoria de competências, da interação da equipe e do ambiente geral da equipe para aprimorar o desempenho do projeto. Esse processo tem como entradas os seguintes documentos e informações: � plano de gerenciamento do projeto, incluindo, especialmente, as informações do plano de gerenciamento dos recursos; � documentos do projeto (por exemplo, o registro das lições aprendidas, o cronograma do projeto, as designações da equipe do projeto, os calendários dos recursos, o termo de nomeação da equipe); � fatores ambientais da empresa e � ativos de processos organizacionais. 31 O processo Desenvolver a equipe possui as seguintes saídas: � avaliações do desempenho da equipe; � solicitações de mudança (quando for o caso); � atualizações do plano de gerenciamento do projeto (quando for o caso), incluindo por exemplo, o plano de gerenciamento dos recursos; � atualizações de documentos do projeto (por exemplo, o registro das lições aprendidas, o cronograma do projeto, as designações da equipe do projeto, o calendário dos recursos, o termo de nomeação da equipe); � atualizações nos fatores ambientais da empresa e � atualizações de ativos de processos organizacionais. A seguir, a figura mostra o fluxo de informações do processo Desenvolver a equipe. Figura 5 – Desenvolvimento da equipe: diagrama de fluxo de dados Fonte: Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017, p. 337). 32 Gerenciar a equipe É o processo de acompanhar o desempenho dos membros da equipe, fornecer feedback, resolver problemas e gerenciar mudanças para otimizar o desempenho do projeto. Esse processo tem como entradas os seguintes documentos e informações: a) plano de gerenciamento do projeto, em especial, o plano de gerenciamento dos recursos; b) documentos do projeto (por exemplo, registro das questões, registro das lições aprendidas, designações da equipe do projeto, termo de nomeação da equipe); c) relatórios de desempenho do trabalho; d) avaliaçõesdo desempenho da equipe; e) fatores ambientais da empresa e f) ativos de processos organizacionais. O processo Gerenciar a equipe possui as seguintes saídas: a) solicitações de mudança; b) atualizações do plano de gerenciamento do projeto (por exemplo, atualização do plano de gerenciamento dos recursos, da linha de base do cronograma e da linha de base dos custos) e c) atualizações de documentos do projeto (por exemplo, registro das questões, registro das lições aprendidas, designações da equipe do projeto e atualizações nos fatores ambientais da empresa). A seguir, a figura mostra o fluxo de informações do processo Gerenciar a equipe do projeto. 33 Figura 6 – Gerenciar a equipe: diagrama de fluxo de dados Fonte: Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017, p. 346). 34 Controlar os recursos É o processo de garantir que os recursos físicos atribuídos e alocados ao projeto estejam disponíveis conforme planejado, bem como monitorar o uso planejado versus o uso real de recursos, e executar ações corretivas, conforme necessário. Esse processo tem como entradas os seguintes documentos e informações: a) plano de gerenciamento do projeto, em especial, o plano de gerenciamento dos recursos; b) documentos do projeto (por exemplo, registro das questões, registro das lições aprendidas, designações de recursos físicos, cronograma do projeto, estrutura analítica dos recursos, requisitos de recursos e registro dos riscos); c) dados de desempenho do trabalho; d) acordos e e) ativos de processos organizacionais. O processo Controlar os recursos possui as seguintes saídas: a) informações sobre o desempenho do trabalho; b) solicitações de mudança; c) atualizações do plano de gerenciamento do projeto (por exemplo, o plano de gerenciamento dos recursos, a linha de base do cronograma e a linha de base dos custos) e d) atualizações de documentos do projeto (por exemplo, registro de premissas, registro das questões, registro das lições aprendidas, designações de recursos físicos, estrutura analítica dos recursos e registro dos riscos). 35 A seguir, a figura mostra o fluxo de informações do processo de controlar os recursos do projeto. Figura 7 – Controlar os recursos: diagrama de fluxo de dados Fonte: Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017, p. 353). 36 Resumo Este módulo tratou dos processos de gerenciamento de recursos conforme recomendação do Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017). Conforme visto, são seis os processos de gerenciamento de recursos em projetos conforme a recomendação desse guia: � Gerenciar os recursos; � Estimar os recursos das atividades; � Adquirir os recursos; � Desenvolver a equipe; � Gerenciar a equipe e � Controlar os recursos. Observe que o Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017) é revisado, normalmente, a cada quatro anos. Os processos descritos neste módulo são válidos para a edição. O leitor deve sempre ficar atento para a versão atual deste guia de forma a trabalhar com o padrão mais atual possível recomendado por profissionais praticantes e pesquisadores de gerenciamento de projetos. Neste módulo, será apresentada uma visão geral sobre a problemática específica do gerenciamento de recursos humanos. Os recursos humanos, ao contrário de equipamentos, materiais e insumos, constituem o mais precioso recurso contribuinte para o sucesso do planejamento, execução e entrega de um projeto. A razão de apartar o gerenciamento de recursos humanos em um módulo específico se deve ao fato de que seres humanos possuem inteligência, sentimentos, valores e crenças. Como o leitor poderá perceber, o gerenciamento de recursos humanos não envolve apenas aspectos quantitativos de demandas de pessoas e suas competências. O conhecimento do gerenciamento de recursos humanos envolve considerações sociais, aspectos psicológicos e regulatórios. Nesse sentido, veremos a definição de planejamento de recursos humanos, trataremos da questão das competências e de outros fatores importantes a considerar no planejamento. Também serão apresentadas as informações básicas para planejar a demanda de recursos humanos e a tratativa sobre o conceito de equipes de projeto, equipes de projeto de alto desempenho, a formação de equipes de alto desempenho, o desenvolvimento de pessoas, os instrumentos e ferramentas para desenvolvimento de pessoas. O módulo também traz uma visão geral das principais teorias organizacionais envolvidas na questão de motivação das pessoas e a definição de conflito e sobre como lidar com os conflitos. O que é o planejamento de recursos humanos O aspecto mais básico do planejamento de recursos humanos consiste em dimensionar quantas pessoas serão necessárias à empresa, ou a uma parte dela, para que possa desenvolver as suas atividades e alcançar os seus objetivos (Zaccarelli e Teixeira, 2008). De fato, um dos pilares MÓDULO III – GERENCIAMENTO DE RECURSOS HUMANOS 38 do planejamento da necessidade de recursos humanos é, exatamente, o dimensionamento de quantos profissionais serão necessários em cada período do projeto. No entanto, é evidente que outros fatores devem ser levados em consideração para fins de planejamento dos recursos do projeto, em especial, as competências necessárias para execução das atividades do projeto. Questão das competências Ainda segundo Zacarelli & Teixeira (2008, p. 120), o importante ao planejar a demanda de recursos humanos é levar em consideração que as organizações, atualmente, preocupam-se com as competências organizacionais necessárias para o desempenho das funções de quaisquer operações ou projetos a serem realizados. Rabechini Júnior (Rabechini, 2003) estabelece que competência está relacionado com ação responsável e desenvolvida com base em três eixos: características pessoais, formação educacional e experiência profissional. Um indivíduo competente é aquele que sabe mobilizar os recursos em momento oportuno na forma de conhecimentos e capacidades diversas (por exemplo, capacidade de relacionamento, capacidade cognitiva, etc.). Para Zarifian (2008), a competência é o “tomar iniciativa” e o “assumir responsabilidades” do indivíduo diante de situações profissionais. A competência de uma organização, seja ela temporária ou não, segundo esse autor, resulta dos seguintes fatores: assunção, iniciativa, responsabilidade, situação, entendimento prático, conhecimentos adquiridos, transformação, mobilização de redes de atores, compartilhamento de implicações da situação e assunção de corresponsabilidades. Outros fatores importantes a considerar no planejamento Além da demanda de competências e da quantidade de trabalho a ser executado, existem outros fatores importantes que devem ser levados em consideração. Zacarelli & Teixeira (2008, p. 116-119), por exemplo, citam os seguintes fatores a serem levados em consideração no planejamento de recursos humanos: � cultura organizacional; � relações de poder e a sua influência na escolha das pessoas; � influência de outros processos de gestão de pessoas na captação e seleção de pessoas; � influência do mercado de trabalho no processo de captação e seleção de pessoas; � experiência das pessoas a serem contratadas e � tecnologia. 39 Já o Guia PMBOK (2017, p. 309) aponta também para os seguintes fatores que devem ser levados em consideração no momento do planejamento dos recursos humanos: � localização geográfica dos membros da equipe; � comunicações entre partes interessadas; � gerenciamento de mudanças organizacionais; � política interna e externa, e � questões culturais e fatores de exclusividade da organização. Observe que os fatores mencionados não são extensivos. Podem existir outros fatores relacionados aos recursos humanos que podem alterar o desempenhodo projeto e que, por isso, devem ser considerados no planejamento do projeto. Informações básicas para planejar a demanda de recursos humanos A alocação de recursos humanos demanda por um projeto depende, naturalmente, da quantidade de trabalho a ser executada. A quantidade de trabalho envolve a quantidade e os tipos de atividades a serem realizadas pelos profissionais alocados ao projeto. O Guia PMBOK recomenda que a demanda de recursos humanos seja feita com base na definição dos pacotes de trabalho a serem realizados e sua decomposição em atividades. Isso significa que antes de iniciar o planejamento de recursos humanos é necessário desenvolver a estrutura analítica do projeto e posteriormente definir a lista de atividades com os seus devidos quantitativos de trabalho. As atividades, conforme definido na área de conhecimento de gerenciamento de tempo, devem ser sequenciadas para que se obtenha o cronograma do projeto. Isso posto, é possível definir um conjunto de informações necessários para planejar os recursos humanos: � termo de abertura do projeto; � plano de gerenciamento da qualidade com a identificação dos requisitos de qualidade que o projeto deve incorporar; � linha base do escopo; � cronograma desejado do projeto; � registros de riscos; � registro de partes interessadas; � entendimento da cultura organizacional da organização; � competências e disponibilidades de recursos existentes; � condições de mercado de trabalho; � políticas e procedimentos para gerenciamento de recursos físicos; � políticas de segurança do trabalho da organização; 40 � organograma do projeto; � lista de atividades com a definição das suas especificidades; � descrição das competências dos profissionais envolvidos; � dados históricos de produtividade dos recursos humanos envolvidos nas atividades ou critérios de dimensionamento de recursos humanos, quando não for possível determinar a sua produtividade (exemplo: um projeto de construção civil necessita de um engenheiro responsável, independentemente do seu tamanho ou complexidade); � informações sobre os processos produtivos a serem usados no projeto; � filosofias de gestão a serem adotadas no projeto, por exemplo, gerenciamento enxuto (Lean Management), Just-in-Time, Kaizen, manutenção produtiva total e teoria das restrições; � legislação trabalhista dos países em que o projeto será executado e as políticas de proteção da organização para com os trabalhadores e os acordos celebrados em com sindicatos, e � entendimento dos fatores ambientais organizacionais que cercam e influenciam o projeto e o uso de recursos humanos. Observe que a lista de informações definida não é exaustiva e pode haver outras informações adicionais conforme a especificidade de cada projeto. Equipes de projeto Embora seja possível conceber um projeto na qual uma única pessoa trabalhe, essa não é a realidade normal em projetos nas organizações. O normal é que os projetos demandem uma equipe de trabalho responsável por planejar e executar o projeto. Como a maioria dos projetos demanda equipes, uma das tarefas cruciais de qualquer gerente de projeto é a de formação de uma boa equipe. No entanto, qual seria a definição de equipe? E qual seria a definição de uma boa equipe? KATZENBACH e SMITH (1993, p. 45) oferecem a seguinte definição: “Uma equipe é um pequeno número de pessoas com habilidades complementares que estão comprometidas com um propósito comum, metas de desempenho e abordagem para a qual se consideram mutualmente responsáveis”. Aqui, cabe chamar a atenção para alguns pontos-chave da definição acima: a) Habilidades (ou competências complementares), ou seja, equipes nas quais os atributos pessoais de cada componente da equipe sejam sinérgicos. Katzenbach e Smith (1993, p. 45) afirmam que as habilidades de uma equipe se enquadram em três categorias: conhecimento técnico ou funcional daquilo que deve ser feito, habilidades para resolver problemas e de tomada de decisão e, por fim, habilidades interpessoais. 41 b) Comprometimento com um propósito comum, ou seja, com um objetivo do qual todos os integrantes compartilham não apenas o entendimento do que deve ser feito, mas que também têm o compromisso de alcançá-lo. c) Existência de uma abordagem para fazer o que está definido como propósito da equipe. d) Responsabilidade mútuas, ou seja, todos os integrantes da equipe são solidários em se responsabilizar pelo alcance do propósito. A definição de Raj, Baumotte, Fonseca & Monteiro Silva (2010, p. 71) complementa o conceito de Katzenbach e Smith (1993, p. 45) ao afirmar que “a formação de uma equipe de projeto não se dá somente pela união de pessoas visando à realização de uma dada tarefa. A formação de uma equipe envolve o entendimento de valores, missão, expectativas e normas segundo as quais a equipe de projeto vai operar”. Esse conjunto de informações que envolve a definição de valores, missão, expectativa e normas é denominado no Guia PMBOK (Project Management Institute, 2017, p. 526) de regras básicas e constitui um dos elementos chave para o sucesso da formação de equipes de projeto de alto desempenho. As regras básicas definem o comportamento esperado para os membros da equipe do projeto e também outras partes interessadas, com relação ao engajamento das mesmas (Project Management Institute, 2017, p. 526). Equipes de projeto de alto desempenho Uma vez entendido o conceito de equipe e como ela se forma, é necessário entender o conceito do que é uma boa equipe. A caracterização de uma equipe de projeto está relacionada com o seu desempenho. Se o desempenho da equipe ao planejar e executar o projeto faz com que o propósito definido seja alcançado dentro dos requisitos estabelecidos, é possível afirmar que se trata de uma boa equipe. No entanto, quando se compara o desempenho de equipes em uma organização é possível perceber que normalmente existe uma diferença no desempenho relativo das equipes comparadas. Algumas equipes podem apresentar um alto desempenho, muito acima da média normal. E é evidente que é altamente desejável ter uma equipe de alto desempenho quando se trabalha com projetos. Um projeto é um esforço único que tem prazo e outras restrições que precisam ser vencidas para que se alcance o objetivo daquilo que foi planejado. E o que, exatamente, seria uma equipe de alto desempenho? Boyett & Boyett (1999) trataram da questão de equipes de alto desempenho em oposição às equipes tradicionais. O quadro a seguir, citado por RAJ, Baumotte, Fonseca et al. (2010, p. 73-74), mostra as diferenças entre esses dois tipos de equipes: 42 Quadro 4 – Equipes de projetos tradicionais versus equipes de projeto de alto desempenho aspectos equipes de projeto tradicionais equipes de alto desempenho ênfase no aprendizado O aprendizado é pouco recompensado. O aprendizado é altamente valorizado. concepção do trabalho As pessoas têm dificuldade para ver como contribuem para o produto ou serviço final resolução de problemas e nunca se envolvem na resolução de problemas. As pessoas veem uma conexão direta entre o que fazem e o produto ou serviço final. A resolução de problemas é parte do trabalho de todos. A resolução de problemas é parte do trabalho de todos. papel da gerência Os gerentes atribuem tarefas, analisam o desempenho e decidem quais serão os procedimentos de trabalho sem a contribuição dos funcionários. Os próprios funcionários distribuem as tarefas, analisam o desempenho e decidem quais serão os procedimentos de trabalho adotados. estrutura organizacional Existem muitos níveis de gerenciamento e fronteiras nítidas entre gerência e subordinados. Existem apenas alguns níveis de gerenciamento entre a gerência e os subordinados. A organização é muito horizontalizada.relacionamento com o cliente As pessoas que trabalham uma das etapas de uma operação não encaram como os seus clientes as que trabalham na etapa seguinte. Todos têm um cliente interno ou externo e buscam, constantemente, entender e suprir as necessidades do cliente. flexibilidade A equipe demora a adotar novas tecnologias ou a converter tecnologias existentes para novos propósitos. A equipe explora os progressos tecnológicos e busca encontrar formas inovadoras de utiliza a tecnologia existente. trabalho em equipe As pessoas olham apenas para si mesmas. Os valores, quando existem, dizem respeito apenas aos lucros. Valorizam-se o trabalho em equipe, a participação, a inovação, a qualidade, tanto quanto os lucros. dedicação Só algumas pessoas se responsáveis pelo desempenho da equipe. Todos se sentem pessoalmente responsáveis pelo desempenho geral da equipe. 43 aspectos equipes de projeto tradicionais equipes de alto desempenho remuneração Todos recebem as mesmas remunerações independentemente do seu desempenho. As pessoas são recompensadas de acordo com seu desempenho ou da equipe. acesso à informação Gerentes e especialistas técnicos retém a informação. O acesso aos sistemas de informação e aos dados é rigidamente controlado. Gerentes e especialistas técnicos compartilham, livremente, as informações. Os sistemas de informação permitem que as pessoas compartilhem, prontamente, as informações. equilíbrio sociotécnico A tecnologia é considerada mais importante do que as pessoas. A tecnologia e as pessoas são tratadas como tendo importância igual na equipe. Fonte: Raj, Baumotte, Fonseca et al. (2010, p. 73-74) e adaptado de Boyett & Boyett (1999). Formação de equipes de alto desempenho Katzenbach e Smith desenvolveram um gráfico que permite identificar os diferentes tipos de equipes quanto ao seu desempenho. A seguir, a figura mostra esses diferentes tipos de equipes: Figura 8 – Curva de desempenho de equipes Fonte: adaptado de Katzenbach & Smith (1993, p. 84) 44 Grupo de trabalho é um conjunto de pessoas para o qual não há necessidade de melhoria de desempenho ou oportunidade que exija a criação de uma equipe. Os membros interagem, primariamente, para compartilhar informações, melhores práticas ou perspectivas e tomar decisões para ajudar cada indivíduo a executar algo dentro da sua área de responsabilidade. Pseudoequipe é um grupo para o qual pode haver uma necessidade ou uma oportunidade de incremento de desempenho significativo. No entanto, a equipe ainda não se concentrou no desempenho coletivo, nem está tentando alcançá-lo. Não existe interesse em moldar um objetivo comum ou um conjunto de metas de desempenho, mesmo que esse grupo seja chamado de equipe. Equipe potencial é um grupo no qual existe uma necessidade significativa de incremento de desempenho e, ao mesmo tempo, existe uma ação de melhoria de desempenho. No entanto, essa equipe ainda requer mais clareza sobre propósitos, objetivos ou produtos de trabalho. Falta também mais disciplina na elaboração de uma abordagem comum de trabalho. Nesse tipo de equipe, ainda não foi estabelecida uma responsabilidade coletiva. Equipe real é um pequeno grupo de pessoas com habilidades complementares que se comprometem com um propósito comum, com objetivos, com uma abordagem definida de trabalho e que se consideram mutuamente responsáveis. As equipes reais constituem as unidades básicas de desempenho. Equipe de alta performance é um grupo de pessoas que atende a todas as condições de equipes reais e possui membros que também estão profundamente comprometidos com o crescimento e sucesso pessoal uns dos outros. Esse compromisso, geralmente, transcende a equipe. A equipe de alto desempenho supera, significativamente, todas as outras como equipes e supera todas as expectativas razoáveis. Kantzenbach & Smith (1993, p. 119-127) sugerem uma abordagem com os seguintes passos para a criação de equipes de alto desempenho: a) estabelecer urgência e direção; b) selecionar membros com base nas suas habilidades e habilidades em potencial, e nunca com base em personalidade; c) dar muita atenção às primeiras reuniões e ações; d) definir regras claras de conduta e comportamento; e) definir e executar, logo no início, algumas tarefas que permitam a obtenção imediata de resultados em direção aos objetivos e metas definidos; f) fazer com que os membros da equipe fiquem juntos por um bom tempo, especialmente no início e g) explorar o poder do feedback positivo, reconhecimento e recompensa. Tuckman & Jensen (2010) propuseram um modelo de cinco fases relacionadas com a formação e dissolução de grupos de trabalho: formação (forming), conflito (storming), acordo (norming), desempenho (performing) e dispersão (adjourning). A descrição sintética de cada uma 45 dessas fases está colocada a seguir. Observe que os nomes em Inglês, colocados entre parênteses, são as denominações definidas por Tuckman & Jensen (2010). Nem todos os termos colocados em Português constituem uma tradução literal. Os nomes em português de cada uma dessas fases é o termo mais conhecido no Brasil. A seguir, estão as fases pelas quais as equipes passam conforme Tuckman & Jensen (2010): Formação – é a fase de identificação das metas, de formação da equipe e da criação das condições necessárias para que os indivíduos se integrem ao grupo, o que inclui, entre outras coisas o compartilhamento de metas, tarefas e a abordagem a ser usada para desenvolvimento dos trabalhos. Esse é um momento no qual o papel do líder é crucial, uma vez que o grupo necessita de orientação. Confrontação – é nessa fase que se definem as responsabilidades de cada membro e na qual o trabalho começa a sua realização. Nesse momento, o grupo ainda apresenta um nível e competência inadequado, e é comum o surgimento de conflitos. Tais conflitos são resolvidos na medida em que as definições de papéis e responsabilidades vão ficando mais claras. Normatização – nessa fase, ocorre a definição dos processos de trabalho. A consequência é o aumento de produtividade devido ao ganho de competências dos integrantes da equipe e do trabalho coordenado e sincronizado pelos processos. É exatamente nessa fase que a equipe adquire sua identidade. Como as coisas começam se encaixar, os conflitos tendem a diminuir, pois as pessoas já se conhecem, sabem dos seus papéis, responsabilidades e conhecem e respeitam as competências dos seus integrantes. Desempenho – nessa etapa, a equipe apresenta alta produtividade devido à melhor interna dos seus processos e do aumento do nível de competência dos seus integrantes. Aqui, existe acordo sobre as metas, processos, papéis, responsabilidades e outras variáveis que influenciam o trabalho da equipe. Justamente pelo fato de a competência do grupo estar em bom nível, é comum que a supervisão seja pequena. Os acordos vão surgindo por conta da existência de confiança, cooperação e identidade do grupo. É um comum que os integrantes tenham orgulho de pertencer à equipe. Dissolução – esse é o momento em que o grupo se desfaz, finalizando o projeto e os seus processos. Em uma situação ideal, esse é um momento adequado para reconhecimento do trabalho realizado pelo grupo. Desenvolvimento de pessoas Independentemente do nível de maturidade das pessoas que integram uma equipe de projeto, é comum a necessidade de desenvolver as pessoas com o objetivo de melhorar suas competências e obter um correto alinhamento das ações dos seus integrantes. O fato de um profissional ter trabalhado em um projeto similar é sempre algo positivo. No entanto, isso não 46 quer dizer que esse profissional não precise obter uma melhor compreensão das peculiaridades e dos fatores ambientais do novo projeto, da sua equipe
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