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SISTEMAS ESTRUTURAIS I Mario Guidoux Gonzaga Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor Introdução Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Construir um diagrama de esforços cortantes e momento fletor em viga biapoiada. Relacionar diagramas de esforços cortantes e momento fletor. Realizar os traçados dos diagramas de esforços cortantes e momento fletor em pórtico biapoiado. Introdução O esforço cortante e o momento fletor são dois tipos de esforços que atuam sobre as estruturas. O primeiro é relativo a cargas de cisalhamento, que têm tendência ao corte da estrutura. Já o segundo é resultado da flexão da estrutura. Os diagramas de esforço cortante e momento fletor são importantes para você identificar os pontos mais solicitados das estruturas. Neste capítulo, você vai conhecer e aprender a calcular esses diagramas. Diagrama de esforços cortantes e momento fletor em viga biapoiada O cisalhamento é uma ação de corte ou fatiamento que pode fazer com que uma viga seja quebrada (GARRISON, 2018). A fl exão, por outro lado, ocorre quando uma viga recebe uma carga; a fl exão é diretamente proporcional à carga aplicada no elemento estrutural. Tanto o cisalhamento quanto a fl exão podem romper a estrutura se os seus valores excederem o suportado pelo elemento estrutural. Para conhecer o limite de carga e evitar que as estruturas colapsem, foi criado um sistema de quantificação do cisalhamento e da flexão. No caso do cisalhamento, as quantificações são conhecidas como esforço cortante; no caso da flexão, como momento fletor (GARRISON, 2018). Esforço cortante Como você já sabe, o esforço cortante é aquele que tende a causar o cisalha- mento de uma peça. O valor numérico do esforço cortante em um ponto de uma viga é igual ao somatório de todas as forças que atuam para cima ou para baixo e que estão à esquerda do ponto estudado. Como padrão, consideram- -se positivas as forças de baixo para cima e negativas aquelas de cima para baixo. Observe, na Figura 1, os valores do esforço cortante atuando em uma viga biapoiada. Figura 1. Diagrama de esforço cortante. Fonte: Garrison (2018, p. 143). Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor2 Momento fletor O momento fl etor é a magnitude do efeito de fl exão em qualquer ponto de uma viga. O valor do momento fl etor é encontrado pela multiplicação do valor das forças pela distância perpendicular. Para encontrar o momento fl etor em qualquer ponto de uma viga, somam-se todos os momentos fl etores à esquerda do ponto analisado (GARRISON, 2018). Na Figura 2, você pode ver os mo- mentos fl etores na mesma viga da Figura 1. Observe como o momento fl etor é encontrado pela soma das cargas multiplicadas pela distância — 4 metros se você olhar para o apoio A e 2 metros se olhar para o apoio G. Figura 2. Diagrama de momento fletor. Fonte: Garrison (2018, p. 143). Agora que você já sabe calcular e traçar os diagramas de esforço cortante e momento fletor para cargas concentradas, você vai ver como fazer isso no caso de cargas distribuídas, que adicionam um pouco mais de complexidade à tarefa. 3Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor Cargas distribuídas são aquelas que distribuem a força por determinada distância. Normalmente, elas são utilizadas para calcular esforços constantes que ocorrem em toda uma viga, como uma laje ou uma parede. O esforço cortante de uma carga distribuída em uma viga biapoiada segue as mesmas regras da carga pontual. Ou seja, você precisa traçar um gráfico em que são somadas todas as forças atuando à esquerda do ponto observado. Os momentos fletores também são calculados pela soma das forças multi- plicadas pelas distâncias até o ponto analisado. A diferença é que é necessário calcular a força resultante da carga distribuída para cada um dos pontos ana- lisados. Essa força será utilizada para calcular os momentos fletores. Existem três tipos básicos de cargas quanto à sua natureza: pontuais ou concentradas; uniformemente distribuídas (CUDs); e uniformemente variáveis (CUVs). Observe, na Figura 3, como são representadas as aplicações de cada tipo. Figura 3. Tipos de carga. Fonte: Adaptada de Garrison (2018). Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor4 As cargas resultantes das cargas distribuídas (CUDs e CUVs) são iguais à área do retângulo ou triângulo gerado por elas e atuam no centroide das figuras — centro do retângulo e ⅓ da maior carga no triângulo, representado em vermelho na Figura 3. Observe, na Figura 4, um diagrama de esforço cortante e momento fletor em uma viga com 6 metros de comprimento. Sobre toda a extensão da viga, atua uma carga distribuída de 4 kN/m. Repare que foi realizada uma análise de metro em metro, suficiente para entender o funcionamento estrutural desse elemento. Figura 4. Diagramas de esforço cortante e momento fletor. Fonte: Garrison (2018, p. 147). 5Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor Veja, no Quadro 1, a sequência de cálculos necessários para traçar o dia- grama de momento fletor da viga da Figura 4. Para cada ponto da viga, é preciso calcular a resultante da força distribuída e o seu ponto de atuação — sempre no centro da carga para CUD. Momento fletor em A = + (12 kN × 0 m) = 0 kN.m Momento fletor em B = + (12 kN × 1 m) – (4 kN/m × 1 m × 0,5 m) = 12 – 2 = 10 kN.m Momento fletor em C = + (12 kN × 2 m) – (4 kN/m × 2 m × 1 m) = 24 – 8 = 16 kN.m Momento fletor em D = + (12 kN × 3 m) – (4 kN/m × 3 m × 1,5 m) = 36 – 18 = 18 kN.m Momento fletor em E = + (12 kN × 4 m) – (4 kN/m × 4 m × 2 m) = 48 – 32 = 16 kN.m Momento fletor em F = + (12 kN × 5 m) – (4 kN/m × 5 m × 2,5 m) = 60 – 50 = 10 kN.m Momento fletor em G = + (12 kN × 6 m) – (4 kN/m × 6 m × 3 m) = 72 – 72 = 0 kN.m Quadro 1. Cálculos para traçar o diagrama de momento fletor da viga da Figura 4 Relação entre diagramas de esforços cortantes e momento fletor Como você viu, diferentes tipos de carga geram diferentes gráfi cos de es- forço cortante e de momento fl etor. Nos dois exemplos anteriores — Figuras 1, 2 e 4 —, você pôde observar como uma carga concentrada gerou um diagrama de cortante com um corte vertical abrupto e um momento fl etor com linhas diagonais, enquanto a carga distribuída gerou um diagrama de cortante com linhas diagonais e um diagrama de momento fl etor com uma linha curva parabólica. O formato desses gráficos não é exclusivo aos exemplos apresentados anteriormente. O formato dos gráficos de cortante e momento fletor segue algumas regras. Como os exemplos são repetitivos, Garrison (2018) exemplifica três tipos recorrentes de gráficos: 1. viga com uma carga pontual centralizada; 2. viga com uma carga pontual não centralizada; 3. viga sustentando uma carga uniformemente distribuída ao longo de toda a sua extensão. Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor6 A seguir, você vai ver um exemplo de cada tipo de carregamento com os cálculos necessários para os gráficos. Viga com uma carga pontual centralizada Esse é o tipo mais simples de carregamento. Na Figura 5, você pode ver um exemplo em que um elemento biapoiado possui um carregamento concentrado exatamente no seu centro. Por estar no centro, a carga é distribuída igualmente pe- los dois apoios e gera diagramas de esforço cortante e momento fl etor simétricos. Figura 5. Viga com carga pontual centralizada. Fonte: Garrison (2018, p. 150). O diagrama de esforço cortante é muito simples, iniciando com metade do carregamento (P/2) positivo sobre o apoio A, o que se mantém em linha reta até o centro da viga, onde está o carregamento (P) que leva o cortante até 7Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor o ponto P/2 negativo. A partir desse ponto, o diagrama vai em linha reta até o apoio B, onde a reação leva o cortante novamente ao zero. Já o momento fletor tem seu ponto máximo no mesmo ponto onde atua a carga. Assim, o carregamento no apoio A (P/2) é multiplicado pela distânciaentre o ponto A (L/2), resultando em PL/4 (GARRISON, 2018). Viga com uma carga pontual não centralizada O diagrama que você pode ver na Figura 6 é muito parecido com o da Figura 5. A única diferença é a posição da carga, que agora é assimétrica. A distribuição da carga nos apoios também não é simétrica; ela depende da posição do carregamento. Assim, quanto mais próximo do apoio estiver o carregamento, maior a reação. A reação pode ser calculada pelo somatório dos momentos em um dos apoios. Figura 6. Viga com carga pontual não centralizada. Fonte: Garrison (2018, p. 151). Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor8 O diagrama de esforço cortante se inicia sobre o apoio A, com a reação nele. A partir desse ponto, o cortante vai em linha reta até o ponto onde atua a carga. Nele, ocorre o corte característico das cargas pontuais com a direção com o mesmo módulo da carga. A partir daí, o diagrama segue em linha reta até o segundo apoio, onde a reação leva o cortante novamente até o zero. O diagrama de momento fletor também é bem parecido com o apre- sentado na Figura 5, com o momento máximo sobre o ponto onde atua o carregamento. Novamente, como condição das vigas isométricas, o momento é igual a zero junto aos apoios; portanto, forma-se um triângulo assimétrico no diagrama. Viga sustentando uma carga uniformemente distribuída ao longo de toda a sua extensão A carga distribuída adiciona uma complexidade maior aos diagramas, mas os princípios do desenho são os mesmos dos dois casos anteriores, como você pode ver na Figura 7. Para o cálculo das reações nos apoios, considere a força resultante da carga distribuída. Você sempre deve calcular a área da carga e aplicar o valor ao centroide da fi gura. No caso da carga uniformemente distribuída, faça a área do retângulo e aplique-a sobre o centro da viga. O diagrama de cortante inicia, como sempre, pelo ponto mais à esquerda da viga, onde a reação é igual à metade da carga. A partir desse ponto, o esforço cortante vai avançando em diagonal na razão da carga distribuída até o apoio B, onde a reação do apoio leva o cortante novamente ao zero. A carga distribuída é expressa em kN/m. Logo, se existe uma carga distribuída de 1 kN/m, o diagrama de cortante avança 1 kN por metro, do ponto A até o ponto B. 9Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor Figura 7. Viga sustentando carga uniformemente distribuída. Fonte: Garrison (2018, p. 152). O momento fletor é um pouco mais complexo, diferente dos exemplos anteriores. No caso das cargas distribuídas, o momento fletor se desenvolve em uma parábola, com o ponto de maior módulo no centroide da carga. Considere novamente o Quadro 1, que ilustra o cálculo da viga da Figura 4, você pode ver o cálculo que gera essa parábola. Traçados dos diagramas de esforços cortantes e momento fletor em pórtico biapoiado Os diagramas de esforço cortante e momento fl etor de pórticos biapoiados seguem a mesma lógica dos diagramas que representam vigas biapoiadas. Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor10 Afi nal, estruturalmente, os pórticos podem ser entendidos como agrupamentos de vigas. A grande diferença entre as vigas e os pórticos é que precisam ser consideradas as cargas transmitidas de um elemento do pórtico para o outro, por se tratar de um conjunto estrutural solidário. No pórtico representado na Figura 8, existem três elementos: dois verticais e um horizontal. No elemento vertical delimitado pelos pontos 1 e 2, existe uma carga concentrada de 12 tf aplicada a 2 metros do apoio simples. Já na barra entre os pontos 2 e 3, atua uma carga distribuída de 5 tf/m. O apoio 1 é de primeira ordem, restringindo apenas o movimento na vertical, enquanto o apoio 2 é de segunda ordem, restringindo o movimento tanto na vertical quanto na horizontal. Figura 8. Pórtico biapoiado. Fonte: Adaptada de Cascão (2009). Uma maneira simples de você compreender as forças atuando em um pórtico é por meio da decomposição do sistema estrutural (pórtico) nos seus componentes mais simples (vigas), como você pode observar na Figura 9. Nela, estão representadas as cargas atuando nos elementos e as cargas e momentos transmitidos de um elemento a outro. 11Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor Figura 9. Decomposição do pórtico em elemen- tos mais simples. Fonte: Adaptada de Cascão (2009). Dentro de cada um dos elementos, valem as mesmas regras que você já aprendeu para as vigas. Os esforços cortantes sempre são iguais a zero nas extremidades dos elementos. Isso ocorre devido à soma das cargas e às rea- ções, que, para manter a estrutura parada, devem ser iguais a zero. Devido à natureza dos apoios, alguns dos elementos transmitem momento para os outros; a transmissão de momento é representada por uma seta em três quartos de círculo, como você pode ver na Figura 9. Veja, na Figura 10, como são familiares os diagramas de esforço cortante desse pórtico. Analisando o elemento delimitado pelos pontos 1 e 2, você pode ver que existe apenas uma carga concentrada atuando a 2 metros do apoio 1. Portanto, o cortante inicia em zero junto ao apoio 1, passa para 12 tf no ponto onde está aplicada a carga e vai em linha reta até o ponto 2. Nele, a reação transmitida desde o apoio 4 exerce uma força contrária à carga concentrada de mesmo módulo e sentido oposto, levando o cortante de volta ao zero. Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor12 Figura 10. Diagrama de esforços cortantes de pórtico biapoiado. Fonte: Adaptada de Cascão (2009). Na seção 2 e 3, a carga distribuída atua como nas vigas, ou seja, na diagonal de um apoio para outro. As reações junto aos pontos 2 e 3 são assimétricas devido à transmissão das duas cargas que atuam nos elementos verticais. Logo, o diagrama de esforço cortante também fica assimétrico. Sobre a barra, entre os pontos 3 e 4, atuam apenas a carga transmitida desde a barra delimitada pelos pontos 1 e 2 — observe como o módulo (12 tf) é o mesmo — e a reação no apoio 4, que impede o movimento horizontal. Observe a Figura 11. Assim como no diagrama de esforço cortante, o momento fletor segue a mesma lógica das vigas isostáticas. Há linhas retas na diagonal para as cargas pontuais e parábolas para as distribuídas. Para a barra entre os pontos 1 e 2, atua apenas a carga pontual de 12 tf. Como ela está a 3 metros do ponto 2, que restringe o seu movimento, a multiplicação é igual a 36 tf/m junto ao apoio. 13Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor Figura 11. Diagrama de momentos de pórtico biapoiado. Fonte: Adaptada de Cascão (2009). A barra entre os pontos 2 e 3 exige, assim como no esforço cortante, a consideração de todas as cargas atuando no pórtico. Por isso, embora seja uma carga uniformemente distribuída, o diagrama de momentos se mantém assimétrico, saindo dos 36 tf/m transmitidos da barra entre os pontos 1 e 2 e indo até os 60 tf/m resultantes da restrição de movimento do apoio 4. Assim como nas vigas, o ponto onde o momento é máximo coincide com o ponto onde o cortante cruza o eixo zero. Para calcular essa distância, basta fazer uma operação de semelhança de triângulos. No caso do exemplo apresentado, existe uma viga de 6 metros. Se você observar a Figura 10, vai ver que o cortante é de 11 tf e 19 tf junto aos apoios. Portanto, fazendo a semelhança de triângulos, chega-se a uma distância de 2,2 metros do ponto 2. O método mais simples para calcular esse ponto é: (L/∑F) × F2, ou seja, o comprimento da barra dividido pela soma dos esforços cortantes nos dois extremos da viga vezes o esforço cortante em um dos apoios da viga. Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor14 A barra entre os pontos 3 e 4, como você já sabe, absorve todas as cargas horizontais que atuam no pórtico, devido ao apoio de segunda ordem que não permite o movimento horizontal. Logo, sobre ela atuam todos os momentos presentes no pórtico, que se iniciam em 60 tf/m e vão até 0 tf/mno apoio 4. CASCÃO, M. Estruturas isostáticas. Rio de Janeiro: Oficina de Textos, 2009. GARRISON, P. Fundamentos de estruturas. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2018. 15Diagramas de esforços cortantes e de momento fletor
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