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O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 2 UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI MARCO TÚLIO BOSCHI O DESIGN THINKING COMO ABORDAGEM PARA GERAR INOVAÇÃO UMA REFLEXÃO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO MESTRADO EM DESIGN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 3 São Paulo, agosto/2012 UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI MARCO TÚLIO BOSCHI O DESIGN THINKING COMO ABORDAGEM PARA GERAR INOVAÇÃO UMA REFLEXÃO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Design. Orientadora: Profa. Dra. Gisela Belluzzo de Campos O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 4 São Paulo, agosto/2012 UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI MARCO TÚLIO BOSCHI O DESIGN THINKING COMO ABORDAGEM PARA GERAR INOVAÇÃO. UMA REFLEXÃO. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Design pela seguinte Banca Examinadora. Profa. Dra. Gisela Belluzzo de Campos Orientadora e presidente da banca Universidade Anhembi Morumbi Profa. Dra. Lia Krucken Pereira, PhD Examinador externo Universidade do Estado de Minas Gerais Profa. Dra. Luiza Angélica Paraguai Donati Examinador interno Universidade Anhembi Morumbi Prof. Dr. Jofre Silva, PhD Coordenador do Mestrado Universidade Anhembi Morumbi O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 5 São Paulo, agosto/2012 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da Universidade, do autor e do orientador. MARCO TÚLIO BOSCHI Graduado em Design pela Fundação Mineira de Arte Aleijadinho – FUMA. Professor efetivo da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG / Escola de Design e pesquisador do Núcleo de Inovação – NIT/UEMG. Em pesquisa concentra-se em Inovação e Design. Atua também como Diretor de Design da Oggi Design. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 6 para Norah, Gabriel e Clara Companheiros de viagem e sonhos O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 7 Agradecimentos Aos que contribuíram para este trabalho: Profa. Dra. Gisela Belluzo de Campos pelas orientações, apoio e incentivo, Profa. Dra. Lia Krucken Pereira, PhD e Profa. Dra. Luiza Angélica Paraguai Donati pelas avaliações atentas e precisas; ao coordenador Prof. Dr. Jofre Silva, PhD e aos docentes do mestrado da Universidade Anhembi Morumbi: Dra. Agda Regina de Carvalho, Dra. Anna Mae Tavares Bastos Barbosa, Dra. Cristiane Ferreira Mesquita, Dra. Márcia Merlo, Dr. Marcus Vinícius Fainer Bastos, Dra. Rachel Zuanon, Dra. Rosane Preciosa e também a Antônia Costa sempre prestativa e atenciosa; aos colegas do mestrado e agora amigos Anna Vörös, Lara Vaz, Magda Martins, Mayra Martyres, Sidney Rufca, Teresa Cristina Rebello e Veniza Nascimento; a Universidade do Estado de Minas Gerais em nome do Reitor Prof. Dr. Dijon De Moraes, PhD, a todos os colegas docentes da Escola de Design e ao Núcleo de Inovação Tecnológica onde esta pesquisa teve origem e terá desdobramentos; a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais por ter viabilizado por meio de uma bolsa de estudo a realização deste mestrado; a Elídia Novaes parceira na revisão do trabalho; e um agradecimento especial para a minha família e meus amigos pelo estímulo e por acreditarem sempre. Obrigado a todos. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 8 O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 9 Resumo Esta pesquisa tem o propósito de investigar o Design Thinking como abordagem para gerar inovação. Na contemporaneidade, para atender as demandas de uma sociedade em constante transformação, é necessário que os designers se mantenham atualizados e preparados profissionalmente, tanto no âmbito acadêmico como empresarial. Neste contexto dois tópicos se destacam e chamam atenção por exercer influência na atividade de design: a Inovação e o Design Thinking. Para discutir como estes dois aspectos podem ser incorporados à prática do design, foram adotados nesta pesquisa os seguintes procedimentos metodológicos: a revisão da literatura existente em bibliografia da área de design e da área empresarial e a consulta a especialistas através de entrevistas. O foco se concentrou em pesquisar os conceitos de inovação na visão empresarial e do Design Thinking procurando estabelecer as correlações entre os temas. Concluiu-se que o Design Thinking é uma abordagem diferenciada para gerar inovação e apresenta potencial para ser utilizada pelos designers tanto na academia como ferramenta de trabalho profissional. Palavras-chave: Design Thinking. Inovação e Design. Métodos de design. Processos de design. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 10 Abstract Aiming to meet the demands of a constantly changing society it is necessary for designers to remain professionally up-to-date and prepared, both in the academic and business spheres. In this context two topics are noteworthy and draw attention for influencing the design activity: Innovation and Design Thinking. Based on these considerations, this research aims to investigate Design Thinking as an approach to generate innovation. With that in mind, the methodological procedures applied were bibliographical research for literature review and consultation of experts through interviews. The focus was posed on the concepts of innovation according to both corporate and Design Thinking visions, aiming to establish correlations between the matters. The conclusion was that Design Thinking is a unique approach to generate innovation and bears a positive potential to be used by designers, both in academia and as a tool for professional work. Keywords: Design Thinking. Innovation and Design. Design methods. Design processes. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 11 O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 12 Sumário Lista de figuras ........................................................................................14 Lista de tabelas ........................................................................................16 Introdução ..............................................................................................18 1 Inovação e o meio empresarial .............................................................25 1.1 Definições, conceitos básicos e classificação ......................................25 1.2 As motivações que levam as empresas a inovar ................................29 1.3 As transformações nas organizações humanas e as inovações – um breve resgate do contexto histórico .........................................................31 1.4 O momento atual e as novas perspectivas para a inovação .................34 2 Design Thinking como abordagem .........................................................44 2.1 As transformações daatividade de design e o contexto atual ..............45 2.2 Os princípios do Design Thinking para gerar inovação.........................50 2.3 O Design Thinking e a resolução de problemas ..................................63 2.4 Uma referência ao pensamento divergente e convergente ...................67 3 O Design Thinking e os processos .........................................................74 3.1 Uma referência aos processos e métodos .........................................74 3.2 Métodos Caixa Transparente e Caixa Preta ........................................76 3.3 O modelo Diamante Duplo ..............................................................83 Considerações finais .................................................................................93 Referências Bibliográficas ..........................................................................96 O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 13 O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 14 Lista de figuras Figura 1 - Percepção de aumento na comparação jan./ago. 2006 e jan./ago. 2007. Adaptado de fonte: CARVALHO et al., 2011, p. 21 ....................... 30 Figura 2 – Fontes de ideias de inovação - Adaptado de: TRIAS DE BES; KOTLER, 2011, p. 16; IBM, 2006, p. 22. .............................................. 35 Figura 3 - Capitalizar na complexidade. Adaptado de “Capitalizando na Complexidade” (IBM, 2010, p. 9). ...................................................... 37 Figura 4 - Relação entre o desempenho de novos produtos e a interfuncionalidade. Fonte: adaptado de TRIAS DE BES; KOTLER, 2011, p. 305 ................................................................................................ 55 Figura 5 - Brainstorming. Fonte: (Dream:in ESPM / SP e UEMG / MG) .... 56 Figura 6 – Encenação - simulação improvisada de uma situação. Fonte: (VIANA, 2012, p. 133). ..................................................................... 57 Figura 7 - O ciclo da experimentação. Fonte: (VIANA, 2012, p. 124) ...... 58 Figura 8 - Protótipo do conceito de usabilidade de um dispositivo cirúrgico. Fonte: (BROWN, 2008 p. 86). ............................................................ 59 Figura 9 - Equilíbrio entre Confiabilidade e Validez. Fonte: adaptado de MARTIN, p.52 .................................................................................. 60 Figura 10 - Espaço problema e espaço solução em Design Thinking. Fonte: (LINDBERG et al. apud PLATTNER, 2011, p. 5) Tradução nossa. ............. 66 Figura 11 - Pensamento Divergente e Convergente Fonte: BROWN, 2010, p. 63 .............................................................................................. 67 Figura 12 - Composição da Inteligência, segundo Guildford. Fonte: adaptado de CARVALHO, 1988, p.26 ................................................... 68 Figura 13 - Modelo RCD e Modelo CPS. Fonte: adaptado de Carvalho, 1988, p. 47. ............................................................................................. 71 Figura 14 - O modelo CPS. Fonte: adaptado de WWW.creativeeducationfoundation.org/our-process/what-is-cps ............. 72 Figura 15 - Sequência do processo de design de Caixa Transparente, segundo Christopher Jones. Fonte: Morales, 1989, p. 33. Tradução nossa. 77 Figura 16 - Modelo do processo de design, segundo Asimov. Fonte: MORALES, 1989, p.34. (Tradução nossa). ............................................ 78 Figura 17 - Modelo do processo de design segundo Archer. Adaptado de fonte: BOMFIM, 1984, p. 18. ............................................................. 79 Figura 18 - Método de Guguelot. Adaptado de fonte: Bürdek, 2010, p. 255 ..................................................................................................... 80 Figura 19 - O modelo núcleo-base de Stuart Pugh - um processo iterativo com informações fluindo em todas as direções. Adaptado de fonte: DESIGN COUNCIL, 2007, p. 7. (Tradução nossa). ............................................. 81 O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 15 Figura 20 - Modelo de Cross, Nigel. Adaptado de fonte: DESIGN COUNCIL, 2007, p. 8). (Tradução nossa). ........................................................... 82 Figura 21 – Diamante Duplo (tradução nossa). Fonte: Adaptado de http://www.designcouncil.org.uk/designprocess Acesso em 03/06/2012. 84 Figura 22 - O processo de design na Frog (tradução nossa). Adaptado de fonte: http://www.frogdesign.com/services/process.html Acesso em 03/06/2012 ..................................................................................... 85 Figura 23 - O processo na IDEO. Adaptado de fonte: Design Thinking - Harvard Business Review - June 2008 – pp.88/89................................. 86 Figura 24 - O processo da Live|Work Brasil. Adaptado de fonte http://www.liveworkstudio.com.br/o-que-fazemos/. Acesso em 03/06/2012. ..................................................................................................... 87 Figura 25 - http://www.designconnection.com.br/pt/sobre-nos/no-que- acreditamos/index.html - Design Connection. Acesso em 10/06/2012. ... 88 Figura 26 – Esquema representativo das etapas do Processo de Design Thinking – MJV. Adaptado de fonte: VIANA et al., 2012, p.18. Design Thinking: Inovação em negócios ........................................................ 89 Figura 27 - O processo da Hasso Plattner D.School: compreender, observar, definir, idealizar, prototipar, testar (tradução nossa). Adaptado de fonte: www.http://www.hpi.uni- potsdam.de/d_school/designthinking/components.html. Acesso em 03/06/2012. .................................................................................... 90 O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 16 Lista de tabelas Tabela 1 - Principais etapas das organizações humanas - Fonte: CHIAVENATO, 1996, p. 36 ................................................................. 33 Tabela 2 Perspectiva Sistêmica do Projeto e o Papel do Designer. Fonte: KRUCKEN, 2009, p. 45 ...................................................................... 48 Tabela 3 - Diferenças entre as abordagens do design e do marketing. Fonte: VIANA, 2012, p. 15 ................................................................ 52 Tabela 4 - Guilford e Bono - Pensamento convergente / vertical e pensamento divergente / lateral. Fonte: adaptado de CARVALHO, 1988 e PAROLIN, 2003. ............................................................................... 69 Tabela 5 Fases nos processos de design. Fonte: Elaborado pelo autor. ... 91 O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 17 O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 18 Introdução Uma questão inquietante no universo do design, tanto no âmbito acadêmico como empresarial, é como o designer se mantém atualizado e preparado profissionalmente para acompanhar e atuar em uma sociedade em transformação. No momento atual, dois tópicos se destacam e chamam atenção por exercer, sob alguma perspectiva, influência na atividade do design: inovação e Design Thinking1. As pesquisas, para este projeto de mestrado, sobre estes tópicos tiveram início em 2009, no Núcleo de Inovação Tecnológica da Universidade do Estado de Minas Gerais – NIT UEMG, a partir de debates sobre a necessidade de ampliar e fortalecer a presença do tema inovação nos processos de formação do designer. A inovação é considerada fator estratégico e de competitividade. No Relatório de Competitividade Global 2011-2012, elaborado pelo Fórum Mundial de Economia2, foiconsiderada um dos doze pilares de competitividade3 entre as nações, junto com fatores como saúde, educação primária e superior, infraestrutura etc. Para as empresas, há uma estreita ligação entre a inovação e a competitividade – quanto mais inovadora, mais competitiva e melhor será sua posição no mercado (REIS e CAVALCANTE, 2011, p.11). 1 Neste texto, o termo Design Thinking diz respeito à tradução “o jeito de pensar do design”. É uma referência ao modo como os designers pensam e abordam os problemas. (PINHEIRO; ALT, 2011, p. 5) 2 http://www.weforum.org/. Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum) é uma organização internacional independente sem fins lucrativos, com o compromisso de melhorar a situação mundial. 3 O termo “competitividade” é definido pelo Fórum Econômico Mundial como o conjunto de instituições, políticas e fatores que determinam o nível de produtividade de um país. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 19 Segundo Kelley (2001, p.17), “[...] a maior tendência [...] que observamos é o reconhecimento cada vez maior da inovação como ponto central das estratégias e iniciativas corporativas”. A atividade do designer apresenta uma relação intrínseca com os processos de inovação. Bonsiepe (1999) aponta a relação entre ambos através do ato de projetar. Segundo ele, “as expressões inovação e projetação”4 de alguma forma se superpõem, pois “o design sem um componente inovador é evidentemente uma contradição” (ibid, p.22). Para o autor, a atividade de design “está orientada para o futuro” e “faz referência à inovação”; “o ato projetual traz ao mundo algo novo” (ibid, p.21). Na visão de Owen (2005), foi buscando novos caminhos para a inovação que se criou o que hoje é conhecido como Design Thinking: uma abordagem focada no ser humano, que vê na multidisciplinaridade, na colaboração e na tangibilização5 de pensamentos e processos, caminhos que levam a soluções inovadoras para negócios. Mas é importante ressaltar que esta abordagem não se limita à área empresarial. O Design Thinking é considerado uma nova forma de pensar e abordar problemas, “um modelo mental” centrado no usuário e que, portanto, pode ser aplicado em diversas situações (PINHEIRO e ALT, 2011, p. 5). A expressão “Design Thinking” foi utilizada inicialmente na academia por Buchanan (1992), no ensaio “Wicked Problems in Design Thinking”6. Neste ensaio, o autor amplia o conceito sobre a atividade do designer, cunhando o termo Design Thinking para refletir as transformações do design e suscitar uma mudança de parâmetro – o design deixa de ser uma disciplina e passa a ter potencial de abordagem (PINHEIRO e ALT, 2011). 4 Projetação, neste caso o autor se refere ao ato de projetar, desenvolver um projeto, nas áreas de Design Industrial e Gráfico – tradução nossa. 5 Neologismo. Conversão de algo intangível em tangível, palpável, real. 6 Ensaio elaborado a partir de paper apresentado em outubro de 1990 na l´Université de Technologie de Compiégne, França no “Colloque Recherches sur le Design: Incitations, Implications, Interactions”. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 20 O próprio termo e os conceitos da abordagem do Design Thinking vêm sendo absorvidos e utilizados tanto pelo meio acadêmico como empresarial. Dentre alguns exemplos podemos citar: o curso de Design de Serviços, voltado para estudar a aplicação do Design Thinking na construção de estratégias de serviços na Köln International School of Design – KISD7, os cursos voltados à cultura da inovação utilizando a abordagem do Design Thinking oferecidos tanto na Califórnia, na D.School8 - Universidade de Stanford, quanto na Alemanha, na School of Design Thinking - HPI – Hasso Plattner Institut (PINHEIRO e ALT, 2011; BROWN, 2010). No Brasil o destaque é para o curso de extensão Inovação & Design Thinking na Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM em São Paulo. O Institute of Design, em conjunto com a Stuart School of Business, ambos do Illinois Institute of Technology9, oferece um programa de dupla graduação (MDEs/MBA) que combina a formação em design com a formação em negócios. O Institut National Supérieur Européen de l’Administration des Affaires – INSEAD10 mantém uma parceria com a Art Center of Design de Pasadena, Califórnia, com o objetivo de desenvolver programas de ensino que permitam uma troca de experiências entre alunos de design e alunos do seu MBA. No Canadá, a Rotman School of Management aliou-se ao Ontario College of Art & Design para lançar uma série de cursos conjuntos (SKAGGS et al., 2009). No âmbito da macroeconomia, merece destaque a escolha do tema “A Criatividade Imperativa” para o Encontro Anual do Fórum Econômico Mundial realizado em Davos, na Suíça, em 200611. Os organizadores 7 Disponível em http://kisd.de/en/. Acesso em 15/01/2011. 8 A D.School da Stanford University foi idealizada por David Kelley, um dos líderes e fundador da IDEO, e financiada pelo empresário Hasso Plattner, CEO da empresa SAP, ligada ao segmento de administração de negócios. http://www.hpi.uni-potsdam.de/personen/stifter.html 9 Disponível em http://www.id.iit.edu/prospective-students/programs-and-applications/master-design- mba/. Acesso em 15/01/2011. 10 Disponível em http://www.insead.edu/home/(http://knowledge.insead.edu/INSEADKnowledgePicturingtheArtofBusines s.pdf). Acesso em 15/01/2011. 11 World Economic Forum – Annual report 2005/2006, Genève, Switzerland. Disponível em: https://members.weforum.org/pdf/AnnualReport/2006/annual_report.pdf, acesso em 17/02/2012. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 21 justificaram essa escolha como a necessidade de encontrar, através de soluções inovadoras e criativas, novas respostas, novos modelos para a resolução dos problemas mundiais. Durante o evento, houve destaque para a abordagem do design, O Design Thinking foi protagonista [...]. Foram mais de 22 sessões nas quais líderes mundiais discutiram temas como Criatividade, Inovação e Estratégias de Design. Dentre as conclusões relevantes, o Design foi aceito como um novo modelo de pensamento mais adequado para lidar com a complexidade do mundo atual no âmbito dos negócios e também nas áreas como saúde, educação e habitação [...] (PINHEIRO e ALT, 2011, p. 50). Desta breve contextualização, emergem fatos relevantes que afetam a formação e a atuação dos designers no momento atual e futuro. A análise mais elaborada da origem e dos desdobramentos destes fatos nos leva a refletir sobre três pontos: a relação do design com os temas Inovação e Design Thinking; o interesse por parte da academia, com destaque para as escolas de negócios, em agregar o design na formação de seus alunos; e a perspectiva de utilização da abordagem do Design Thinking como mais uma ferramenta na preparação e atualização profissional dos designers. Justificativa, método, objetivos e estrutura do trabalho A principal justificativa deste trabalho é contribuir para a geração de material de referência acerca da relação entre a Inovação e o Design Thinking, contando que, por consequência, possa gerar reflexões, tanto para os designers quanto para o meio empresarial e, principalmente, entre as duas áreas. Percebe-se que tais reflexões são estratégicas, havendo uma preocupação constante neste trabalho em abordar e relatar as questões de forma a aproximar as duas áreas, no intuito de facilitar reflexões futuras. Para definição dos procedimentos metodológicos aplicados nesta pesquisa, duas opções foram feitas quanto ao objetivo e à finalidade: com relação ao objetivo – pela pesquisa exploratória, buscandoampliar e aprofundar os O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 22 conhecimentos sobre o tema proposto; e com relação à finalidade – pela pesquisa aplicada, com o objetivo de gerar conhecimento para uma situação prática. Quanto aos procedimentos teóricos, a opção foi pela pesquisa bibliográfica, com análise da literatura, artigos e material disponível na internet, a fim de investigar os temas inovação e design thinking e traçar correlações. Quanto aos procedimentos práticos ou de campo, os dados foram coletados a partir de entrevistas com profissionais com experiência comprovada nos temas Design Thinking e Inovação (GIL, 2002). O objetivo geral do estudo consiste em investigar o Design Thinking como abordagem para gerar inovação e, para tanto, foram definidos os objetivos específicos: a) Caracterizar a Inovação – descrever e classificar os conceitos e identificar as motivações que levam as organizações e empresas a inovar; b) Caracterizar o Design Thinking – identificar as origens, as relações com os métodos e processos de Design e descrever as etapas que estruturam esta abordagem; c) Identificar as ferramentas, métodos e técnicas utilizadas pelo Design Thinking que visam potencializar sua utilização na geração da inovação; d) Apresentar uma breve reflexão sobre a possibilidade de utilização do Design Thinking pelos designers na academia e no mercado; e) Contribuir para melhorar o nível de reflexão crítica sobre a formação dos designers. Para abordar o tema proposto, esta dissertação foi dividida em três partes: contextualização, fundamentação teórica e reflexão. A contextualização vem no bojo da introdução, da justificativa, do procedimento metodológico aplicado e dos objetivos pretendidos. O primeiro, o segundo e o terceiro capítulos apresentam a fundamentação teórica, elaborada para servir como arcabouço da dissertação. Ela aborda autores e conceitos que contribuem para a construção do argumento da pesquisa. A reflexão é construída no desenvolvimento dos capítulos e termina com as considerações finais. O primeiro capítulo refere-se ao tema Inovação e apresenta as definições, os conceitos básicos, a classificação, as principais motivações que levam as O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 23 organizações a inovar e em que contexto isso acontece. Esse capítulo foi estruturado com a preocupação de focar o tema Inovação sob a ótica do meio empresarial. No contexto da argumentação desta pesquisa, ele tem o objetivo de evidenciar pontos de referência nos processos de Inovação que, de alguma forma, estabeleçam relações com os processos de Design Thinking. O segundo capítulo faz referência ao Design Thinking, completando a fundamentação teórica. Observa o design no contexto atual e apresenta: a origem do termo, os princípios desta abordagem, uma referência ao processo criativo e ao processo de design. No contexto da dissertação, visa aprofundar e detalhar os conceitos relativos ao tema, com o intuito de embasar a reflexão que será apresentada no último capítulo. O terceiro capítulo finaliza a argumentação sobre a abordagem do Design Thinking para gerar inovação, conforme a proposta deste trabalho apresentando sinteticamente as abordagens metodológicas do design na condução do desenvolvimento do projeto. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 24 O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 25 1 Inovação e o meio empresarial O objetivo deste capítulo é fundamentar, conceituar, classificar e resumir o estado atual do conhecimento sobre a inovação no âmbito do presente trabalho. Vale ressaltar que este levantamento não se propõe a esgotar o conhecimento dos temas, e sim, estabelecer uma base conceitual que permita refletir acerca de Inovação e Design Thinking. O capítulo apresenta definições e conceitos básicos sobre o tema Inovação sob a ótica do meio empresarial, sendo que os textos selecionados provêm da área de administração e negócios. O critério para escolha das fontes levou em consideração trabalhos que estabelecessem relações entre os processos de Inovação e de Design Thinking. Com o intuito de completar o entendimento sobre o tema, também foram abordados: a forma de classificação da inovação, as razões que levam as empresas a inovar, uma breve referência histórica e as novas perspectivas. O propósito é melhorar a compreensão sobre as condições necessárias para implementar inovações. 1.1 Definições, conceitos básicos e classificação Inovação é o ato de inovar12. Significa tornar novo, renovar, introduzir novidade, fazer algo que não foi feito antes. As inovações são consideradas estratégicas para o crescimento econômico, enquanto a capacidade de inovar é entendida como um importante fator de competitividade para as empresas (HAYES et al. apud BARBIERI, 2003, p.21; The Global Competitiveness Report 2011-201213; SIMANTOB e LIPPI , 2003). 12 Segundo definição inscrita no Dicionário Houaiss, disponível em: http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=inovar&stype=k. Acesso em 20/06/2012. 13 O Global Competitiveness Report 2011–2012 é publicado pelo Fórum Econômico Mundial no enquadramento do Centre for Global Competitiveness and Performance O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 26 No mundo empresarial contemporâneo, a inovação é um processo que se alicerça na capacidade de gerar ideias e de implementá-las, obtendo resultados favoráveis em transações comerciais relacionadas ao produto ou serviço (ADAIR, 2010; BARBIERI, 2003; SIMANTOB e LIPPI, 2003). O Manual de Oslo14, elaborado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OCDE define: Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas (MANUAL DE OSLO, 1997, p. 55). Invenção não é o mesmo que inovação, apesar da proximidade entre os dois significados. A invenção é o processo pelo qual uma nova ideia é descoberta; está ligado à concepção de ideias. A inovação, que pode vir de uma invenção ou não, está relacionada à criação de valor; é um processo que diz respeito ao desempenho. Este processo se completa quando gera valor percebido pelas pessoas na melhoria da condição humana. A inovação parte da identificação de um problema, gera ideias/soluções, e as implementa de forma a equilibrar os interesses das pessoas e dos negócios (ADAIR, 2010; BARBIERI, 2003; KOULOPOULOS, 2011; PINHEIRO e ALT, 2011). A inovação acontece em inúmeras situações – nos meios de transporte, em produtos de uso doméstico, no atendimento ao cliente, em publicações, em softwares etc. e pode ser classificada conforme o tipo, intensidade e abrangência. Em relação ao tipo, é frequente a ocorrência de inovação, seja em produtos e serviços, em processos, em modelos de negócio e em gestão. A inovação em produtos e serviços é caracterizada pelo desenvolvimento e comercialização de um produto ou serviço novo ou 14 A primeira edição do Manual de Oslo – Proposta de Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação Tecnológica – foi editada em 1990 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A publicação tem o objetivo de orientar e padronizar conceitos, metodologias e construir estatísticas e indicadores de P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) de países industrializados. O Design Thinkingcomo abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 27 melhorado, buscando atender as necessidades dos clientes. Por exemplo, na comparação entre telefonia celular e telefonia fixa, ou entre as vendas pela internet e em lojas físicas (MATOS et al., 2008; SIMANTOB e LIPPI, 2003). A inovação em processos acontece quando se desenvolvem ou aprimoram, de maneira consistente, os processos relativos à fabricação, à distribuição de produtos e aos relacionamentos para a prestação de serviços. A logística inversa é um exemplo, sendo um processo de aproveitamento de resíduos de produtos usados, devolvidos pelo cliente para fabricação de um produto novo. A inovação em modelos de negócio15 está ligada ao desenvolvimento de novos negócios que apresentem algum tipo de vantagem competitiva. É a implementação de novos métodos de marketing e comercialização a partir de mudanças significativas nos produtos ou serviços (MATOS et al., 2008; SIMANTOB e LIPPI , 2003). A inovação em gestão ou organizacional está relacionada ao desenvolvimento de novos métodos e procedimentos de trabalho e de administração (MATOS et al., 2008; SIMANTOB e LIPPI, 2003). Um exemplo a chamada produção ou manufatura enxuta16 (Lean Manufacturing) da Toyota automóveis. Segundo Matos et al. (2008) a classificação quanto à intensidade da inovação pode ser dividida em dois tipos: a incremental e a radical ou revolucionária. A inovação incremental se refere ao aperfeiçoamento de produtos (bens ou serviços) ou processos já existentes, enquanto a 15 [...] define-se um modelo de negócio como a representação dos processos de uma empresa: de como oferece valor aos seus clientes, obtém seu lucro e se mantém de forma sustentável ao longo de um período de tempo [...] (OROFINO, 2011, p. 20). 16 [...] Lean Manufacturing, ou Manufatura Enxuta está baseado no Sistema Toyota de Produção e surgiu no Japão, na fábrica de automóveis Toyota, logo após a Segunda Guerra Mundial. Nesta época, a indústria japonesa tinha uma produtividade muito baixa e uma enorme falta de recursos, o que naturalmente a impedia de adotar o modelo da produção em massa. A criação do sistema se deve a três pessoas: O fundador da Toyota e mestre de invenções, Toyoda Sakichi, seu filho Toyota Kiichiro e o principal executivo o engenheiro Taiichi Ohno. A base do Lean está na eliminação de desperdícios sob o ponto de vista do cliente final. Assim, dentro de um processo produtivo, é necessário definir o que é valor, isto é, o que o cliente está disposto a pagar no produto final. A análise visa descobrir os processos que realmente agregam valor para o produto final [...]. Fonte: http://portal.pr.sebrae.com.br/blogs/posts/gestaoproducao?c=307. Acesso em 17/06/2012. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 28 inovação radical ou revolucionária diz respeito às novas ideias que resultam em produtos ou processos desconhecidos no mercado. A inovação revolucionária também acontece: [...] quando os novos produtos têm um impacto tão grande sobre o sistema produtivo que podem tornar obsoletas as bases tecnológicas existentes, criar novos mercados e até alterar o comportamento da sociedade. Pode-se citar como exemplos da inovação tecnológica a televisão e a telefonia celular, os computadores pessoais e a internet [...]. (MATOS et al., 2008, p.15). A classificação relativa à abrangência configura três formas: “a inovação para a empresa”, a “inovação para o mercado” e a “inovação para o mundo”. A primeira acontece quando é implementada no âmbito da empresa; na segunda, a empresa é a pioneira ao introduzir aquela inovação no seu mercado; e a terceira acontece quando a inovação é implementada pela primeira vez nos mercados nacionais e internacionais (MATOS et al., 2008, p. 15). O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 29 1.2 As motivações que levam as empresas a inovar A inovação é considerada um fator estratégico e de competitividade pelo Fórum Econômico Mundial17. Para as organizações, as razões para inovar estão atreladas ao crescimento e à sobrevivência no mercado em que atuam. Tais razões podem ser tecnológicas – desenvolvendo novos produtos ou serviços, melhorando o desempenho de processos ou produtos, ou promovendo adaptações a novas tecnologias. Também podem ser econômicas – divididas em inovação de produtos e de processos. Nos produtos, a origem pode ser, por exemplo: abertura de novos mercados, eliminação de produtos obsoletos e ampliação da linha de produtos. Na inovação em processos, a origem pode estar na melhoria das condições de trabalho e flexibilização da fabricação, na redução dos custos e da poluição ambiental (SIMANTOB e LIPPI, 2003). Além das razões apresentadas acima, Carvalho et al. (2011, p.19) destacam o “aumento da competência para inovar” como um fator de melhoria de desempenho e competitividade. Um exemplo brasileiro de fator de motivação para inovar é apresentado na Figura 1. Elaborado pelo Sebrae/SP, o gráfico faz parte do Observatório das Micro e Pequenas Empresas - MPEs, de junho de 200818 – um estudo que tinha como objetivo avaliar a competitividade, a gestão empresarial e o grau de inovação das micro e pequenas empresas paulistas. A partir de uma base de dados de 400 respondentes de empresas consideradas muito inovadoras, inovadoras e não inovadoras, o gráfico mostra, na linha horizontal, fatores como: volume de produção, faturamento total da empresa, produtividade por empregado e número total de empregados19; e, na linha vertical, o porcentual de empresas. O gráfico 17 Relatório de Competitividade Global 2011-2012 18 NT00038AB2.pdf, disponível em http://www.biblioteca.sebrae.com.br/. Acesso em 20/06/2012. 19 “Empresa não inovadora” é aquela que não introduziu nenhum novo produto ou serviço, nenhum processo ou método e não conquistou nenhum novo mercado nos últimos 12 meses. “Empresa inovadora” é aquela que introduziu algum novo produto ou serviço, algum novo processo ou método ou conquistou algum novo mercado nos últimos 12 meses. “Empresa muito inovadora” é aquela que “sempre” inova (que atribuiu a si mesma nota cinco em uma escala de 1 a 5, em termos de frequência com que adota inovações, aperfeiçoamentos ou melhorias). Fonte: Observatório das MPEs do Sebrae-SP. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 30 evidencia o contraste no aumento do volume de produção, do faturamento e da produtividade (CARVALHO et al., 2011, p. 21). Figura 1 - Percepção de aumento na comparação jan./ago. 2006 e jan./ago. 2007. Adaptado de fonte: CARVALHO et al., 2011, p. 21 A inovação se caracteriza pela mudança, pela necessidade de se adaptar a uma nova realidade. Segundo Schumpeter20 (1961), a inovação se concretiza a partir de uma mudança em algum tipo de valor, seja simbólico, matérico, tecnológico etc. que fundamentam um sistema. Para este autor, as inovações estimulam a renovação das tecnologias e processos em favor de outros mais adaptados ao novo contexto da sociedade e do mercado (PINHEIRO e ALT, 2011; BARBIERI, 2003). Segundo Chiavenato (1996), a mudança faz parte do universo e não é uma preocupação nova para a sociedade. Como exemplo o autor cita Heráclito21 20 Joseph Schumpeter, um dos mais importantes economistas da primeira metade do século XX. Destacou- se por seus estudos da inovação e a dinâmica econômica. 21 Heráclito foi um importante filósofo pré-socrático, que escreveu com extrema complexidade a respeito da ciência, da teologia e das relações humanas. Disponível em http://pensador.uol.com.br/autor/heraclito/. Acesso em 15/06/2012. 62% 49% 46% 22%52% 46% 39% 24%27% 23% 20% 12% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Volume de produção Faturamento total da empresa Produtividade por empregado Número total de empregados % d e em pr es as Empresas muito inovadoras Empresas inovadoras Empresas não inovadoras O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 31 que, cinco séculos antes de Cristo, já afirmava “nada é permanente, salvo a mudança”. Com o objetivo de destacar a importância da inovação como meio de adaptação às mudanças no contexto da sociedade, o próximo item apresenta um breve resgate das transformações ao longo de quatro grandes etapas, desde a era da agricultura até os dias de hoje, com base na categorização proposta pelo autor. 1.3 As transformações nas organizações humanas e as inovações – um breve resgate do contexto histórico Segundo Chiavenato (1996), as organizações humanas passaram por quatro etapas de mudanças e transformações ao longo dos tempos: a Etapa da Agricultura, a Etapa do Artesanato, a Etapa da Industrialização e a Etapa da Informação – todas bem distintas, demonstrando a capacidade de adaptação da sociedade às novas realidades, na medida em que usa as inovações como ferramentas de sobrevivência caracterizando um processo de transformação. A etapa da agricultura foi a mais longa desde o início da história da humanidade até a Revolução Industrial, caracterizada pela “improvisação, a ausência de métodos, o desperdício e o despreparo humano (ibid, p. 31)”. Porém, no final desse período, já se percebiam iniciativas de adaptação às mudanças através das inovações. Cardoso (2008) cita a confecção de moldes para cerâmica e para fundição de metais, além do processo de impressão com tipos móveis, que permitiu a alteração na forma de registrar informações. Estas inovações, típicas dos processos de produção em série, já caracterizavam certo planejamento e o uso de métodos e processos. A etapa do artesanato é reflexo das transformações ocorridas após a Revolução Industrial. Nesse momento da história, já era visível o início das novas formas de trabalho resultantes da transformação das oficinas artesanais em pequenas fábricas; era chegada a preocupação com a divisão do trabalho. O surgimento dessas pequenas fábricas estimulou a emigração O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 32 do ambiente rural, provocando o fenômeno da urbanização e o aparecimento das cidades. Essas transformações sociais são fruto de fenômenos decorrentes das inovações no processo de industrialização, tais como: a máquina de fiar, o tear hidráulico, o tear mecânico, as primeiras estradas de ferro, os primeiros navios a vapor, o telégrafo e o telefone. Para Chiavenato (1996), a etapa da industrialização acontece a partir da segunda fase da Revolução Industrial, por volta de 1860, quando o capital passou a ser a principal fonte de riqueza. Foi quando surgiram novas formas de organização capitalista – as sociedades baseadas no lucro auferido, nas quais o capitalismo financeiro tomava o lugar do capitalismo industrial. As transformações foram radicais e representaram mudanças de comportamento na sociedade. Cardoso (2008) destaca o surgimento das classes médias na Europa e Estados Unidos, fato que incitou a ânsia de se diferenciar na sociedade. A individualidade de cada grupo social era expressa através do consumo, do que vestir, do que ler e de como decorar, por exemplo. As inovações ligadas ao desenvolvimento das máquinas automatizadas e o alto grau de especialização no trabalho são destaques nesse momento. A eletricidade e os derivados do petróleo tomam o lugar do vapor como fonte de energia. Exemplificam esse período de inovações o avião na área dos transportes, e o rádio e a televisão na área das comunicações. A partir da década de 1950, o desenvolvimento tecnológico propiciaria a produção em escala, levando as empresas a expandir seus mercados regionais para nacionais e internacionais. [...] o ambiente tornou-se mutável e, em alguns casos, instável, devido às intensas mudanças sociais, culturais, econômicas e tecnológicas. [...] Uma nova realidade – a globalização da economia [...] O mundo ficou menor e mais intensamente ligado através das modernas tecnologias de comunicação (CHIAVENATO, 1996, p. 34). O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 33 Já nos anos 1990, novas mudanças ocorreriam; o alto grau de desenvolvimento industrial e tecnológico e a globalização davam início a uma etapa de transição – a era da informação. Uma síntese da visão de Chiavenato (1996) sobre o percurso e as principais etapas das organizações humanas, é apresentada na Tabela 1: Era Agricultura Artesanato Industrialização Informação Fonte de Riqueza Terra Trabalho Capital Conhecimento Tipo de Organização Feudal Propriedade Burocracia Redes humanas virtuais Princípios Conceituais 1. Improvisação 1. Divisão do trabalho 1. Divisão da administração 1. Cadeia horizontal 2. Ausência de método 2. Especialização 2. Separação gerência / propriedade 2. Processos integrativos 3. Desperdício 3. Método de trabalho 3. Separação pensar / fazer 3. Equipes virtuais focadas para tarefas 4. Despreparo 4. Pagamento por tarefas 4. Unidade de comando 4. Comunicação lateral 5. Confinamento 5. Hierarquia 5. Trabalho como diálogo 6. Comunicação vertical / formal 6. Complexidade e mudança 7. Rotina e estabilidade Tabela 1 - Principais etapas das organizações humanas - Fonte: CHIAVENATO, 1996, p. 36 A etapa da informação, já no fim do século XX, é caracterizada por um novo tipo de riqueza, o Conhecimento (CHIAVENATO, 1996; PINK, 2005). O expressivo desenvolvimento da eletrônica, da miniaturização e da digitalização leva ao surgimento da internet, fato que mudaria a forma como lidamos com a informação. Com isso, a informação passa a ser um elemento estratégico para as organizações, e a velocidade com que circula é mais um fator de estímulo à competição global. Este fenômeno provoca mudanças e leva as organizações e empresas a uma busca por inovações O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 34 que viabilizem novas formas de vantagem competitiva (CHIAVENATO, 1996).Um exemplo do impacto das mudanças provocado pela forma como lidamos com a informação pode ser visto na indústria fonográfica, mídia impressa e indústria editorial, a [...] informação era industrialmente impressa em objetos físicos: livros, discos e similares. Agora perdeu a materialidade. A informação virou elétron, e pode ser transmitida, duplicada, copiada, compartilhada, misturada, alterada de maneira imediata e ilimitada [...]. (PINHEIRO e ALT, 2011, p. 1). Esta tendência à imaterialidade física da informação leva naturalmente as empresas ligadas a estes segmentos a uma busca por alternativas que as mantenham competitivas e até a sobreviverem. 1.4 O momento atual e as novas perspectivas para a inovação O desenvolvimento da tecnologia ajudou a mudar o padrão de vida das pessoas propiciando uma tendência a um modo de vida baseado no consumo de bens materiais. Em contrapartida, hoje vivemos os reflexos em um meio ambiente deteriorado, com recursos naturais em extinção e um ideal de modo de vida insustentável para o planeta. (PINHEIRO e ALT, 2011; BROWN, 2010). Em grande parte, o desenvolvimento tecnológico é impulsionado pela inovação tecnológica. Até a década de 1990, o significado de inovação no meio empresarial estava ligado a buscar novas soluções tecnológicas. Por tradição, os envolvidos com os processos de inovação nas empresas estavamvinculados aos departamentos de P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) e eram, em sua grande maioria, engenheiros (VIANA et al., 2012; TRÍAS DE BES e KOTLER, 2011). Contudo, este quadro vem se modificando, como afirma o estudo “Expanding the Innovation Horizon” da O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 35 IBM (2006) 22. Na Figura 2, observa-se que não existe mais o predomínio do P&D como fonte de ideias para inovação (TRÍAS DE BES e KOTLER, 2011). Figura 2 – Fontes de ideias de inovação - Adaptado de: TRIAS DE BES; KOTLER, 2011, p. 16; IBM, 2006, p. 22. Segundo Viana et al. (2012), a partir da década de 1990, a gradativa implementação do gerenciamento baseado nos conceitos de Qualidade Total23 apresenta uma perspectiva diferente sobre a inovação. Além de buscar outras soluções tecnológicas, era preciso também explorar outros mercados, encontrar outras maneiras de fazer contato com os clientes e satisfazer suas necessidades. Esta visão incipiente da inovação também foi afetada pelo cenário globalizado das economias que começava a se materializar. A competitividade entre as empresas passa a uma escala mundial e a procura por caminhos para se diferenciar e crescer e/ou se manter no mercado torna-se inevitável. 22 Expanding the Innovation Horizon (Expandindo o horizonte da inovação – tradução nossa), realizado pela IBM em 2006, é um estudo baseado em 765 entrevistas com presidentes de empresas e líderes empresariais. (TRÍAS DE BES; KOTLER, 2011). 23 Total Quality Management – uma filosofia de gestão criada por Deming (1986) que visa ao aprimoramento contínuo da qualidade de produtos e processos (VIANA et al., 2012). O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 36 A complexidade24 é outro fator que pode influenciar os processos de inovação, além dos desafios relacionados à competitividade. Como lidar com a complexidade no ambiente de integração global é tema do relatório “Capitalizando na Complexidade”. Este documento da IBM (2010) destaca quatro comprovações, no âmbito deste relatório, de que o mundo está mais incerto e complexo, operando de forma diferente em um nível sem precedentes de interconexão e interdependência: [...] A previsão é de que a complexidade atual apenas aumente e mais da metade dos CEOs tem dúvidas de sua capacidade de administrá-la [...]; Criatividade é a qualidade de liderança mais importante, de acordo com os CEOs; As organizações mais bem- sucedidas criam produtos e serviços junto com os clientes, integrando estes últimos aos processos principais; Os líderes de mais alto desempenho gerenciam a complexidade em nome de suas organizações, clientes e parceiros [...] (IBM, 2010, p.8). Para lidar com esse contexto, o documento apresenta a maneira como os CEOs25 devem agir para capitalizar e ser bem sucedidos no século XXI: incorporar liderança criativa, formar destreza operacional e reinventar o relacionamento com os clientes, conforme demonstra a Figura 3. (IBM, 2010). 24 O contexto do termo complexidade é relativo ao ambiente global com que as empresas têm que conviver. São as “mudanças climáticas”, as “questões geopolíticas em torno do abastecimento de energia e água”, a “vulnerabilidade da cadeia de suprimentos, medicamentos e até mesmo talentos” (IBM, 2010, p. 3). 25 CEO – Chief Executive Officer, Diretor executivo (Tradução nossa). O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 37 Figura 3 - Capitalizar na complexidade. Adaptado de “Capitalizando na Complexidade” (IBM, 2010, p. 9). A digitalização, a onipresença da conectividade e a globalização alteram a forma como as empresas se relacionam com os clientes e também sua própria estrutura de funcionamento. Entender e se adaptar a este novo contexto é essencial para que as organizações continuem vivas e garantam seu crescimento. Segundo os autores, é preciso compreender e atender as expectativas de cada consumidor individualmente, proporcionando experiências diferenciadas. A estratégia é migrar o valor de produtos e serviços para soluções e experiências, e focar a atenção em um consumidor de cada vez (PRAHALAD e KRISHNAN, 2008). A ideia de concentrar no consumidor o foco da criação de valor, entendendo as suas necessidades, também é compartilhada por outros autores: ”[...] O cerne da inovação está no consumidor – é preciso atender as suas necessidades para efetivamente criar valor” (SIMANTOB e LIPPI, 2003, p. 13) e “[...] Inovação significa a criação de novos valores e novas satisfações para o cliente” (BARBIERI apud DRUCKER, 1989, p. 254). Mattos e Guimarães (2005) também concordam com esta proposição. Contudo, refletem que as pessoas têm dificuldade em se expressar quanto às situações ainda não vivenciadas e que, para identificar seus anseios e necessidades, é preciso buscar o que está latente. Por exemplo: “[...] ao O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 38 projetar um novo assento para transporte de crianças em carros, as necessidades são relacionadas a transporte seguro das crianças em lugar de detalhes de arranjo de fixação do assento.” (MATTOS e GUIMARÃES, 2005, p. 31). Esta dificuldade aponta para outro fato: a necessidade de novas abordagens do mercado. As pesquisas de mercado tradicionais funcionam quando se trata de tecnologias e mercados conhecidos e explorados – diferente do que refere esta situação. Além deste fato, os autores observam que outra forma eficiente de reconhecer os requisitos do cliente consiste em identificar os “usuários pioneiros” (Ibidem), aqueles que modificam os produtos adquiridos em função de suas necessidades. Os autores também destacam: Em um ambiente industrial de marketing, visitas aos clientes e fornecedores, programas de intercâmbio e inclusão de representantes dos clientes em equipes de desenvolvimento são modos úteis de assegurar que a vontade seja efetivamente respeitada (Ibidem). Um exemplo de entendimento da necessidade do consumidor é dado pela empresa TutorVista26, especializada em educação no ensino médio. A questão é: como viabilizar o reforço escolar personalizado e especializado fora da escola, minimizando os custos relativos ao deslocamento do professor ou do aluno? A solução apresentada pela empresa propõe tutores independentes treinados por ela, oferecidos on-line 24 horas por dia e sete dias por semana, num programa de ensino personalizado como auxílio para as tarefas de casa, por exemplo. “Os tutores cocriam um plano de aprendizado com cada aluno, por cuja execução ambos cocriam valor, sob a forma de mais aprendizado e de melhores avaliações”. (PRAHALAD e KRISHNAN, 2008, p. 11). 26 Disponível em http://www.tutorvista.com/. Acesso em 06/06/2012. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 39 Outro exemplo citado pelos autores: a Goodyear27 está no negócio de pneus para caminhões e a mudança está no modelo de negócios. No lugar de competir em busca de oferecer o menor preço e maior durabilidade dos pneus que comercializa, a empresa cobra de seus clientes frotistas a quilometragem de uso. É uma mudança no modelo de negócio a fim de se adaptar à necessidade específica do cliente frotista: O preço se baseará no tipo de uso, sendo influenciado por fatores gerais, como modalidade da carga (por exemplo, carga pesada), rotas típicas (por exemplo, transporte urbano ou de longa distância) e características individuais das frotas, como treinamento dos motoristas e, portanto, qualidade de operação dos veículos, cuidado com a pressão dos pneus e qualidade da manutenção,como rodízio dos pneus (Ibidem, p. 13). Koulopoulos (2011) tem uma visão similar: as empresas e organizações estão se transformando ao longo dos anos; antes, sua estrutura se baseava na propriedade e em produtos. A propriedade se caracterizava por apenas um dono ou um número reduzido de proprietários. O produto apresentava poucas variações e não tinha preocupação com a adequação ao consumidor. O momento atual introduz a tendência das empresas estruturadas com base na estratégia e nos serviços; o mercado exige variedade de opções e produtos personalizados e a propriedade é caracterizada pelos vários donos que formam a cadeia produtiva. Caracterizam esse período alguns exemplos de inovação em modelos de negócios que agregaram valor e mudaram comportamentos das pessoas, em relação ao produto ou serviço, na sociedade contemporânea. O iTunes28, da empresa Apple, é um aplicativo para computador que “[...] modificou a própria natureza da relação entre a música e as pessoas”. O eBay29 é um site global de compras que “[...] mudou a experiência de compra de seus 27 Disponível em http://www.goodyear.com/. Acesso em 06/06/2012. 28 iTunes é um aplicativo da Apple para Mac e PC que permite organização do conteúdo de música e vídeo digital no computador pessoal. 29 eBay é um site que permite transações comerciais internacionais on-line. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 40 usuários e o modo como a própria comunidade influencia tal experiência”. E o Google30, um website de busca que alterou “[...] o modo como os anunciantes encontram novos clientes, e pagam por isso” (KOULOPOULOS, 2011, p. 10-11). Contudo, a inovação somente será eficaz como fator estratégico se ocorrer a experiência positiva pelo usuário final, seja acerca do produto ou do serviço. Inovar criando valor percebido está ligado à capacidade de proporcionar vivências significativas ao consumidor. “O valor e, por associação, a inovação residem inteiramente na experiência do cliente” (Ibidem). Para abordar o assunto, o autor cita trecho de uma entrevista de Darrel Rhea31: Por meio de seus processos de inovação, as empresas precisam oferecer aos clientes mais do que benefícios apenas funcionais e econômicos. As pessoas [...] como seres humanos, querem produtos que realmente amem; produtos que reflitam quem elas são como indivíduos, e que as levem a dizer: [...] quem o projetou realmente sabe quem eu sou; esse produto é feito por uma empresa que sabe quem eu quero ser (Ibidem). A partir do contexto apresentado, alguns desafios fazem parte de uma nova perspectiva para gerar inovação, como: enfrentar a competitividade e a complexidade do ambiente de negócios com perspectivas globais; lidar com equipes multidisciplinares na busca por novas ideias; criar valor percebido para o consumidor final através de experiências positivas transmitidas em produtos ou serviços; inserir o consumidor final nos processos de tomada de decisão sobre as estratégias de lançamento dos produtos e serviços. Esta nova perspectiva também é moldada por uma atividade econômica mundial que foi deslocando-se gradativamente do foco na produção 30 Google é um site de busca de informações através do acesso a páginas da internet. 31 Um dos autores do livro “Making meaning: how successful businesses deliver meaningful customer experiences” [Produzindo significado: como as empresas bem-sucedidas proporcionam experiências significativas para o consumidor], de Steve Diller, Nathan Shedroff & Darrel Rhea, Upper Saddle River, Nova Jersey: New Riders Press, 1995. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 41 industrial para a era do conhecimento. Cada dia mais, o lançamento de novos produtos incorpora os serviços, as interações e colaborações e não se limita somente ao produto físico. Para tanto, novas abordagens ou métodos estão sendo propostas para gerar inovação, sendo uma delas o Design Thinking. Segundo Viana et al., (2012) o Design Thinking é: [...] Uma abordagem focada no ser humano, que vê na multidisciplinaridade, colaboração e tangibilização de pensamentos e processos, caminhos que levam a soluções inovadoras para negócios [...] (VIANA et al., 2012, p. 12). Para Fraser, diretora de Iniciativas de Negócio em Design no Desautels Centre for Integrative Thinking da Rotman School, qualquer organização cujo objetivo é criar valor econômico e humano, seja agência de governo federal ou uma bem estabelecida empresa comercial, pode aproveitar o poder do Design Thinking para impulsionar inovações (FRASER, 2006). Segundo Saloner32, reitor da Graduate School of Business da Universidade de Stanford: [...] A inovação é essencial porque a mudança é inevitável. O avanço da tecnologia e a globalização são apenas duas das muitas forças que moldam o cenário dinâmico da empresa moderna [...]. A criação de uma cultura de inovação começa a partir do momento em que você descobre o que seu empreendimento significa e passa a prestar muita atenção nos seus clientes. Aqui na Stanford Graduate School of Business, nós acreditamos que a inovação pode ser ensinada, e fazemos isso por meio do 'design thinking'[...] (SALONER apud SIGOLLO, 2011). 32 Garth Saloner, reitor da Graduate School of Business (GSB) da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos na entrevista “Inovação requer agilidade na implementação de ideias”, concedida a Rafael Sigollo, do Jornal Valor Econômico, em 05 de setembro de 2011. Disponível em: http://www.valor.com.br/carreiras/997718/inovacao-requer-agilidade-na-implementacao-de-ideias. Acesso em 10/10/2011. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 42 Neste capítulo, foi apresentado o contexto e as demandas atuais da inovação a partir da visão empresarial. O objetivo desta contextualização é servir de fundamentação teórica para que sejam desenvolvidos nos próximos capítulos os conceitos relativos à utilização do Design Thinking para gerar inovação. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 43 O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 44 2 Design Thinking como abordagem Este capítulo apresenta argumentos que evidenciam o potencial de utilização da abordagem do Design Thinking para gerar inovação. São argumentos que constituem a base para a reflexão aqui proposta. Para tanto, serão caracterizados as ferramentas, os métodos e as técnicas que diferenciam o Design Thinking de outras abordagens. O capítulo foi estruturado em cinco partes: a primeira traz as origens do termo, a segunda faz uma breve descrição das transformações que vêm ocorrendo na atividade de design e o reflexo no contexto atual, a terceira resgata os princípios da abordagem do Design Thinking, a quarta e a quinta partes tratam da forma como o Design Thinker busca resolver problemas que abordam o processo de raciocínio e os pensamentos divergente e convergente. O Design Thinking tem se popularizado como uma abordagem diferenciada para auxiliar as pessoas, as empresas e as instituições a serem inovadoras em diversos segmentos de negócio. O termo pode ser traduzido como “pensar como um designer pensa”, não configurando uma abordagem exclusiva para solução de problemas de design. É mais bem retratado como “[...] um conjunto de princípios que podem ser aplicados por diversas pessoas a uma ampla variedade de problemas” (BROWN, 2010, p. 6). A utilização da expressão Design Thinking para determinar processos de geração de inovação vem sendo amplamente divulgadae utilizada como estratégia mercadológica pela empresa IDEO (BROWN, 2010; MARTIN, 2010; PINHEIRO e ALT, 2011). A origem do termo dentro da IDEO foi descrita por Brown (2010) em uma conversa com David Kelley, fundador da empresa: [...] Kelley observa que sempre incluía a palavra “thinking” para explicar o que os designers faziam, quando alguém lhe perguntava sobre design. Daí surgiu o termo “design thinking”. Agora eu o uso O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 45 como uma forma de descrever um conjunto de princípios que podem ser aplicados por diversas pessoas a uma ampla variedade de problemas (BROWN, 2010, p.6). No meio acadêmico um dos precursores na utilização do termo Design Thinking é Richard Buchanan, professor da Universidade de Carnegie Mellon33. Para Buchanan (1992) o termo é aplicado para descrever a transformação da atividade de design. Para o autor, essa atividade consiste numa disciplina que agrega outras disciplinas, que busca conectar e integrar conhecimentos entre as artes e as ciências, aplicando-os a problemas atuais. Segundo Kimbell (2009), Buchanan está mudando o foco da teoria do design, tirando-a da sua relação com o contexto industrial e colocando-a na direção do Design Thinking. Este foco mais generalizado procura mudar o conceito da atividade de design de um modelo cognitivo individual para uma abordagem de elaboração e resolução de problemas. O sentido migra do ‘fazer design’ para o ‘pensar design’. Na visão de Pinheiro e Alt (2011) em seu ensaio, Buchanan amplia o conceito sobre a atividade do designer e passa a utilizar o termo Design Thinking. O termo reflete as transformações do design e suscita uma mudança de parâmetro; o design deixa de ser uma disciplina e passa a ter um potencial de abordagem, considerando abordagem no sentido de “[...] um novo jeito de pensar e abordar os problemas. Um modelo mental [...]” (PINHEIRO e ALT, 2011, p. 5). 2.1 As transformações da atividade de design e o contexto atual O sociólogo Bauman (2001) traz sua visão sobre as transformações sociais vivenciadas pela sociedade contemporânea e a consequente necessidade de 33 http://www.cmu.edu/index.shtml O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 46 adaptação aos novos tempos. Esta transformação é definida como um contraponto entre a solidez da modernidade pesada, que está chegando ao fim, e a liquefação da modernidade leve, que estamos vivenciando. Para Bauman, o período da modernidade pesada era caracterizado pela lentidão e resistência às mudanças, no qual o que importava era a grandeza física das organizações. A riqueza e o poder eram determinados pelo tamanho e qualidade de um meio físico. A relação com o tempo é outro fator importante observado pelo autor nesse período. A conquista e manutenção da solidez do capitalismo pesado demandava um tempo controlado, rígido e homogêneo (BAUMAN, 2001). Para De Moraes, designer e pesquisador, o tempo da modernidade pesada vai do período moderno anterior à globalização até a década de 1990. Segundo o autor, esse período foi caracterizado como um cenário estático e previsível, que apresentava “[...] mensagens de fácil entendimento e decodificações previsíveis que vinham facilmente interpretadas e traduzidas por designers e produtores [...]” (DE MORAES, 2010, p.3). Em contraponto à “modernidade pesada” caracterizada pela solidez do hardware, segundo Bauman (2011), a “modernidade leve” é caracterizada pela fluidez, pela liquefação, pela flexibilidade, pela fácil adaptação às novas estruturas. Esta etapa vivenciada pela sociedade contemporânea é definida como a era do software, um período onde o tempo é instantâneo, onde “instantaneidade” significa realização imediata, “no ato” (BAUMAN, 2001, p.137). Esta condição de lidar com a relação tempo-espaço apresenta um impacto na forma de viver da sociedade contemporânea e caracteriza uma era descrita por De Moraes (2010) como uma realidade de cenário complexo - fluido e dinâmico. Contrário ao cenário previsível e estático citado anteriormente pelo autor, este novo quadro sofre os efeitos da globalização, da produção industrial de bens de consumo e das comunicações. Um dos principais efeitos é o aumento da competição entre as organizações e O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 47 empresas que, para se manterem competitivas, adotam como estratégia a busca constante pela inovação e a diferenciação pelo design. Em função desse cenário, há uma nova exigência na forma de atuação dos designers e desenvolvedores de produtos. Além da preocupação com as questões intrínsecas ao projeto, surge a necessidade de conhecer em profundidade as estratégias de inovação. Somado a este fato, De Moraes (2010) observa que há também uma nova percepção do consumidor acerca das relações de consumo. Valores relacionados à emoção, à afetividade, às necessidades psicológicas, antes considerados secundários, passam a ser prioritários, influenciando crescentemente a forma de atuar dos designers. Ao analisar a definição de design proposta pelo ICSID34 – International Council Societies of Industrial Design, observa-se a abrangência das atividades do designer: [...] o design é uma atividade criativa cujo objetivo é estabelecer as qualidades multifacetadas de objetos, processos, serviços e seus sistemas em ciclos de vida completos. Portanto, design é o fator central da humanização inovadora de tecnologias e o fator crucial do intercâmbio cultural e econômico [...] (MOZOTA, 2011, p.16). Ao associar esta abrangência percebe-se que as características dos projetos de design estão mudando e se expandindo. Inicialmente voltadas ao produto físico, hoje são tratadas como um sistema envolvendo produtos, serviços e informações. Essas novas características estão direcionando o trabalho do designer para um perfil mais voltado à prestação de serviço, “implicando modelos colaborativos, contínuos e abertos, que incluam o usuário” (KRUCKEN, 2009, p. 45). Este novo contexto é mais evidente quando observado sob 34 ICSID – Sociedade sem fins lucrativos que protege e promove os interesses da profissão de design internacionalmente. Disponível em http://www.icsid.org. Acesso em 10/09/2011. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 48 uma perspectiva sistêmica do projeto, conforme proposto por Krucken na Tabela 2: Característica do contexto Complexidade e incerteza Característica do projeto Dinâmico, aberto a novos eventos Foco Sistemas de produtos e serviços Valores Diversidade, flexibilidade, sustentabilidade, conectividade, interatividade Autoria do projeto Distribuída ou coletiva Papel do usuário Ator que co-produz valor e faz parte da inovação Papel do designer Facilitar e apoiar a colaboração e o desenvolvimento de inovações coletivas e sistêmicas Competências necessárias Interlocução, capacidade de análise simbólica, capacidade de desenvolver relações transversais na sociedade, habilidade de escuta e de ação em diferentes contextos, capacidade de integração de conhecimentos de diversas áreas. Tabela 2 Perspectiva Sistêmica do Projeto e o Papel do Designer. Fonte: KRUCKEN, 2009, p. 45 A expansão dos limites da atividade de projeto também pode ser observada em áreas como as engenharias, a economia, o marketing e a medicina, dentre outras. Está ligada ao contexto atual e é ressaltada pela necessidade de solução de problemas novos e complexos. Por exemplo, “a variedade de serviços que foram desenvolvidos a partir da evolução da tecnologia da informação (comunicação em rede esem fios, fotografia digital, telefonia móvel) [...]” (ibidem). Outro fator que deve ser tomado em consideração com relação à expansão dos limites dos projetos de design é a mudança no perfil do consumidor. De O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 49 perfil de consumo passivo35 desde a era da industrialização a um perfil ativo36 nos dias de hoje. A massificação da produção a partir da Revolução Industrial moldou uma sociedade de consumidores. O aumento do acesso ao consumo, em razão dos preços mais baixos, levou a uma melhora na qualidade e no padrão de vida das pessoas. Por outro lado, a padronização também levou a uma relação de consumo de produtos e serviços bastante passiva (BROWN, 2010). Apesar de ainda hoje termos dificuldade em gerar experiências de consumo com a participação direta do usuário final, devido à abundante oferta de produtos existentes, este cenário está mudando. Um exemplo é a transformação da forma como lidamos com a música: inicialmente, só era possível ouvir se fosse tocada pessoalmente por alguém; em um segundo momento, podia ser transmitida através de dispositivos de reprodução. Hoje, a experiência vai além – podemos também produzir nossa própria música37 (BROWN, 2010). Em síntese, o contexto atual desenha um cenário cada vez mais complexo devido à rapidez dos avanços tecnológicos que se apresentam de maneira exponencial. Em razão disso, as mudanças na sociedade contemporânea são mais e mais difíceis de acompanhar. Este contexto de incertezas e relações múltiplas exige profissionais mais flexíveis, com habilidades para trabalhar em equipes multidisciplinares, com grande capacidade de diálogo e abertos a desenvolver novos caminhos, novas abordagens para solução de problemas mais complexos e difíceis. 35 Passivo no sentido de não ser exigente ao consumir, consequência de não ter ou ter poucas opções de escolha de produtos ou serviços, fruto de uma imposição do mercado produtor. 36 Ativo no sentido de exigir do mercado produtor opções de escolha de produtos e/ou serviços. 37 “[...] Brown descreve o exemplo citado por Lawrence Lessig, professor de direito e fundador do Stanford Center for Internet and Society [...] Antes da invenção do rádio e do fonógrafo, os compositores vendiam suas composições às editoras, as quais, por sua vez, as vendiam na forma de partituras a clientes que as executavam – em casa, em reuniões familiares [...] Com o surgimento das novas tecnologias de transmissão, paramos de tocar música em casa à noite e começamos a ouvir música: primeiro em nossos rádios e fonógrafos e, mais tarde, em estéreos, microsystems e walkmans. Com o surgimento da internet, contudo, muito mais pessoas voltaram a produzir música, em vez de meramente consumí-la. Agora , dispomos de ferramentas de software que nos permitem baixar música da Web, criar mixes, amostras e mash-ups e redistribuir os resultados [...] (BROWN, 2010, p. 108)”. O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 50 2.2 Os princípios do Design Thinking para gerar inovação As pesquisas realizadas pelo HPI-Stanford Design Thinking Research Program38 (2011), sobre o sucesso da utilização do Design Thinking para gerar inovação apontam para quatro regras básicas no processo: a primeira está relacionada ao ser humano e determina que toda a atividade de design, em última análise, é de natureza social, sendo imperativo buscar a solução dos problemas a partir de uma visão centrada no ser humano e nas suas necessidades. A segunda regra é a da ambiguidade: os Design Thinkers devem preservar a ambiguidade. A inovação exige experimentação nos limites de nosso conhecimento e liberdade de ver as coisas de forma diferente. A terceira é a regra do Re-design – todo design é um Re-design. As necessidades humanas que procuramos satisfazer mudam constantemente em função das circunstâncias sociais e tecnológicas; entender como estas necessidades foram satisfeitas no passado nos ajuda a lidar melhor com as perspectivas de solução no futuro. A última é a regra de tangibilidade: tornar as ideias tangíveis sempre facilita a comunicação. Os protótipos conceituais que são uma atividade central do Design Thinking têm esta função e devem ser vistos como um meio de comunicação, uma forma de comunicar as ideias (PLATTNER, 2011, p. xiv). Os princípios utilizados pelo Design Thinking, sempre a partir do foco no ser humano, são: a “empatia”, a “colaboração” e a “experimentação”. A forma colaborativa de trabalho significa: opção pelo pensamento em equipe, valorização do trabalho interdisciplinar, heterogêneo e valorização da diversidade na busca por soluções dos problemas. A empatia é a capacidade do ser humano de se colocar no lugar do outro para compreender melhor o seu comportamento e sentimento; isto é, ver sob o ponto de vista de outra pessoa. A experimentação, parte importante do processo, está ligada à 38 O HPI – Stanford Design Thinking Research Program foi iniciado em 2008 e é financiado pela Hasso Plattner Foundation. Este programa faz pesquisas científicas relativas à abordagem educacional aplicada nas escolas Stanford University na Califórnia e na D-School of Hasso-Plattner-Institute em Potsdam na Alemanha. É um programa de pesquisa científica desenvolvido por equipes multidisciplinares que investigam o fenômeno da inovação em todas suas dimensões holísticas em particular o método de Design Thinking. É um programa que tem o interesse em saber como e porque o método de Design Thinking funciona para gerar inovação pesquisando as bases científicas (PLATTNER, 2011, p. xvi). O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 51 ideia de verificação e correção de rumo. Quanto mais cedo se experimenta, mais cedo os erros são corrigidos; é um contínuo aprimoramento (PINHEIRO e ALT, 2011, p. 6). Um dos principais aspectos que diferenciam o Design Thinking de outras abordagens para gerar inovação é a capacidade de descobrir o que as pessoas desejam e satisfazer estas necessidades, ou seja, achar soluções para os problemas colocando as pessoas em primeiro lugar. A primeira tarefa a se realizar para atingir este objetivo é compreender e identificar as necessidades destas pessoas e uma das formas utilizadas para isso são as ferramentas de pesquisa, também utilizadas por outras áreas, além do design. O Marketing é uma dessas áreas e para tanto lança mão da pesquisa de mercado, sendo que uma das ferramentas mais conhecidas é o Focus Group39. Apesar de os métodos de pesquisa utilizados pelas duas áreas serem parecidos existem diferenças nas abordagens e nos princípios. Podemos ver alguns deles na Tabela 3: 39 Os Focus group são reuniões com grupos de clientes conduzidas em espaços estéreis, muitas vezes incluindo espelhos falsos e pessoas ávidas por respostas por trás dos espelhos. Acontecem geralmente às vésperas de um novo lançamento ou grande mudança e possuem objetivo mais voltado para a avaliação, uma espécie de teste, para entender o impacto e chances de sucesso que um produto, embalagem ou até mesmo novo serviço terá junto ao consumidor final (PINHEIRO; ALT, 2011, p. 65). O Design Thinking como abordagem para gerar inovação - Marco Túlio Boschi SP / 2012 52 Tabela 3 - Diferenças entre as abordagens do design e do marketing. Fonte: VIANA, 2012, p. 15 A essência das diferenças está na forma de abordar as pessoas. Segundo Pinheiro e Alt (2011), por natureza, as pessoas são incapazes de verbalizar precisamente tudo o que pensam, é necessário um processo de imersão em suas vidas para uma compreensão efetiva das necessidades. Para os autores “[...] a maneira
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