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APOSTILA TEÓRICA DE MICROBIOLOGIA VETERINÁRIA 2021 – 1º BIMESTRE Docente: Déborah de Oliveira Freitas Curso: Medicina Veterinária Ensino Remoto 2021/1 CAPÍTULO I – FAMÍIA ENTEROBACTERICIAE CAPÍTULO II – GÊNERO STAPHYLOCOCCUS CAPÍTULO III – GÊNERO STREPTOCOCCUS CAPÍTULO IV – ORDEM RICKETSIALES CAPÍTULO V – GÊNERO MYCOBACTERIUM CAPÍTULO VI – ESPIROQUETAS CAPÍTULO VII – GÊNERO CLOSTRIDIUM CAPÍTULO I – FAMÍIA ENTEROBACTERICIAE As bactérias pertencentes à família Enterobacteriaceae são bacilos Gram-negativos de até 3 μm de comprimento que fermentam a glicose e ampla variedade de outros açúcares. São oxidase-negativo, catalase-positivos, anaeróbios facultativos que não formam esporos e que crescem bem em ágar MacConkey porque não são inibidos pelos sais biliares do meio. Esses microrganismos entéricos reduzem nitrato a nitrito, e algumas espécies, notadamente a Escherichia coli, fermentam a lactose. As enterobactérias móveis possuem flagelos peritríquios. A família contém mais de 28 gêneros e de 80 espécies. Menos da metade dos gêneros tem importância veterinária. O termo “coliforme”, anteriormente só usado para descrever enterobactérias capazes de fermentar a lactose, é agora algumas vezes usado para descrever outros membros da família. As enterobactérias podem ser arbitrariamente agrupadas em três categorias: patógenos principais, patógenos oportunistas e não-patógenos. Aquelas sem significado patogênico para animais, tais como Hafnia e Erwinia, podem ser isoladas a partir das fezes ou do meio ambiente e são capazes de contaminar espécimes clínicos. Patógenos oportunistas ocasionalmente causam doença clínica em locais fora do trato alimentar. Os principais patógenos de animais — E. coli, espécies de Salmonella e espécies de Yersinia — podem causar doenças entéricas e sistêmicas. HÁBITAT USUAL As bactérias pertencentes à família Enterobacteriaceae têm distribuição mundial, habitam o trato intestinal de animais e de humanos e contaminam a vegetação, o solo e a água. DIFERENCIAÇÃO ENTRE ESPÉCIES DE ENTEROBACTÉRIAS Bacilos Gram-negativos oxidase-negativos e anaeróbios facultativos que crescem em ágar MacConkey são supostos membros da família Enterobacteriaceae. Os principais critérios para diferenciação de membros patogênicos estão apresentados na tabela abaixo. Poucas enterobactérias, exceto algumas linhagens de E. coli, produzem hemólise em ágar-sangue. • Fermentação da lactose em ágar MacConkey: — as colônias de fermentadores de lactose e o meio ao redor ficam rosa devido à produção de ácido a partir da lactose; — as colônias de não-fermentadores de lactose e o meio ao redor têm cor pálida e são alcalinos devido à utilização de peptonas do meio. • Reações em meios seletivos/indicadores: — vários meios, incluindo comumente ágar verde-brilhante (VB) e ágar-xilose-lisina- desoxicolato (XLD), são usados para diferenciar salmonelas de outros enteropatógenos; no ágar VB, colônias de salmonela e o meio ao redor mostram uma reação alcalina vermelha; no ágar XLD as colônias da maioria dos sorotipos de salmonela são vermelhas (reação alcalina), com centros pretos devido à produção de sulfito de hidrogênio (H2S); — ágar-eosina-azul de metileno (EMB [Eosin-methylene blue]) é usado para identificação de E. coli; as colônias de alguns isolados têm um brilho metálico, característica única da E. coli. • Morfologia das colônias: — colônias mucoides são típicas de espécies de Klebsiella e de Enterobacter, enquanto raros isolados de E. coli são mucoides; — espécies de Proteus têm crescimento invasivo característico em meios não-inibitórios, como ágar-sangue; — Serratia marcescens é o único entre os patógenos oportunistas com habilidade de produzir pigmento vermelho. • Reações no ágar TSI (triple sugar iron): Esse é um meio indicador não-inibitório usado primariamente para confirmar que colônias isoladas nos meios VB e XLD são de salmonela. Outros membros da família Enterobacteriaceae isolados em meios VB e XLD podem ser diferenciados por suas reações no ágar-TSI, o qual contém 0,1% de glicose, 1% de lactose, 1% de sacarose e indicadores químicos para produção de H2S. O vermelho de fenol é usado como um indicador para alterações de pH (vermelho em pH 8,2; amarelo em pH 6,4). Um precipitado escuro de sulfato ferroso é indicativo da produção de H2S. Um inóculo de uma única colônia isolada do microrganismo a ser testado é inoculado em profundidade com fio de platina na base do ágar TSI e, na saída, é inoculado na superfície do ápice. O tubo fechado é incubado por 18 horas a 37°C. As reações da maioria dos membros da família Enterobacteriaceae nesse meio estão apresentadas na tabela abaixo: • Testes bioquímicos adicionais: — o teste da produção de lisina descarboxilase é usado para distinguir espécies de Proteus de espécies de Salmonella, já que esses microrganismos têm reações semelhantes no ágar TSI; espécies de Proteus são negativas no teste, enquanto espécies de Salmonella invariavelmente produzem a enzima; a produção de lisina descarboxilase é indicada por uma cor púrpura do meio líquido; em um teste negativo, o meio tem cor amarela; — a produção de urease distingue espécies de Proteus de espécies de Salmonella; espécies de Proteus produzem urease, enquanto espécies de Salmonella não a produzem; — os testes IMViC (produção de indol, teste do vermelho de metila, teste de Voges-Proskauer, utilização do citrato) formam um grupo de reações bioquímicas usadas para diferenciar E. coli de outros fermentadores da lactose (Tab.18.1); — testes para motilidade permitem diferenciação de espécies de Klebsiella (imóveis) de espécies de Enterobacter (móveis); esses dois gêneros produzem colônias mucóides semelhantes, que são difíceis de distinguir. • Testes bioquímicos comerciais: Vários sistemas de testes bioquímicos comerciais estão disponíveis para diferenciação de enterobactérias. Alguns desses sistemas incorporam um amplo conjunto de testes bioquímicos, e os resultados podem ser comparados com perfis numéricos gerados em computadores para identificar isolados até o nível de espécies. • Sorotipagem de E. coli, espécies de Salmonella e de Yersinia: Testes de aglutinação em lâmina com antisoro são usados para detectar antígenos O (somáticos) e H (flagelares) em todos os três gêneros, sendo que algumas vezes a detecção de antígenos K (capsulares) é realizada. A sorotipagem permite identificar os microrganismos envolvidos em surtos da doença e tem implicação em investigações epidemiológicas. • Técnicas moleculares, geralmente baseadas em análise de ácido nucléico, são usadas em laboratórios de referência para diferenciação de enterobactérias. Escherichia coli Escherichia coli é geralmente móvel, com flagelos peritríquios e frequentemente fimbriada. Esses fermentadores de lactose produzem colônias de cor rosa em ágar MacConkey e têm reações bioquímicas características nos testes IMViC. Algumas linhagens produzem colônias com brilho metálico quando crescem em ágar-eosina-azul de metileno (EMB [eosin methylene blue]). Atividade hemolítica em ágar sangue é uma característica de certas linhagens de E. coli. Antígenos somático (O), flagelar (H) e, por vezes, capsular (K) são usados para sorotipagem de E. coli. Os antígenos somáticos são de natureza lipopolissacarídica localizando- se na superfície da parede celular. A especificidade desses antígenos é determinada pelas cadeias laterais de carboidratos. Os antígenos flagelares são de natureza proteica, e os antígenos capsulares são compostos de polissacarídeos. Antígenos proteináceos fimbriais (F) agem como adesinas, facilitando a aderência a superfícies mucosas. A colonização do trato intestinal de mamíferos por E. coli de fontesambientais ocorre logo após o nascimento. Esses microrganismos persistem como membros importantes da microbiota normal do intestino por toda a vida. Muitas linhagens de E. coli são de baixa virulência, mas podem causar infecções oportunísticas em localização extra-intestinal, como glândula mamária e trato urinário. Linhagens patogênicas de E. coli possuem fatores de virulência que permitem a colonização das superfícies mucosas e a subsequente produção de doença. Fatores predisponentes que permitem colonização e tornam os animais suscetíveis ao desenvolvimento de doença clínica incluem idade, estado imunológico, natureza da dieta e grande exposição a linhagens patogênicas. As principais categorias de linhagens patogênicas de E. coli e seus efeitos clínicos estão apresentados na figura abaixo. Nem todas as linhagens obedecem rigorosamente a essas categorias, e algumas podem exibir efeitos patogênicos típicos de mais de uma linhagem. Nos últimos anos, E. coli O157:H7 tem emergido como principal patógeno transmitido por alimentos, zoonótico em humanos, responsável pela síndrome da colite hemolítico-urêmica hemorrágica. PATOGÊNESE E PATOGENICIDADE Os fatores de virulência de linhagens patogênicas de E. coli incluem cápsula, endotoxina, estruturas responsáveis por colonização, enterotoxinas e outras substâncias secretadas. • Polissacarídeos capsulares, produzidos por algumas linhagens de E. coli, interferem na fagocitose desses microrganismos. O material capsular, fracamente antigênico, também interfere na efetividade antibacteriana do sistema complemento. • A endotoxina, componente lipopolissacarídeo (LPS) da parede celular de microrganismos Gram-negativos, é liberada quando as bactérias morrem. É composta de uma molécula de lipídeo A, núcleo polissacarídico e cadeias laterais específicas. O papel do LPS na produção da doença inclui atividade pirogênica, lesão endotelial, levando à coagulação intravascular disseminada, e choque endotóxico. Esses efeitos são de grande importância na doença septicêmica. • Adesinas fimbriais presentes em muitas linhagens de E. coli enterotoxigênicas permitem a ligação a superfícies mucosas do intestino delgado e do trato urinário inferior. A ligação sólida a mucosas facilita a colonização porque diminui os efeitos expulsivos do peristaltismo e do fluxo urinário. Muitas adesinas fimbriais têm sido identificadas. As adesinas de maior significado nas linhagens de E. coli que produzem doença em animais domésticos são a K88 (F4), a K99 (F5), a 987P (F6) e a F41. Em primeiro lugar, algumas das adesinas fimbriais foram equivocadamente consideradas como antígenos capsulares (K), e fímbrias foram anteriormente conhecidas como pili (987P). A adesina mais comum presente em linhagens de E. coli e que infecta suínos é a K88. A adesina K99 e a F41 ocorrem em bezerros, e a K99, em cordeiros. Vários receptores para adesina K88 em enterócitos de suínos estão determinados geneticamente e diminuem com a idade. Embora suínos recém nascidos sejam suscetíveis a linhagens de E. coli portadoras da adesina 987P, desenvolvem resistência à colonização na terceira semana de idade. As adesinas K88 e K99 são codificadas por plasmídeos. • A adesina denominada intimina parece ser necessária à ligação de E. coli enteropatogênica (EPEC) aos enterócitos. • Os efeitos patológicos da infecção por E. coli patogênicos, além daqueles atribuídos a endotoxinas, derivam principalmente da produção de enterotoxinas, verotoxinas ou fatores citotóxicos necrosantes. Diferentemente das enterotoxinas que afetam somente a atividade funcional dos enterócitos, as verotoxinas e o fator citotóxico necrosante podem produzir lesão celular demonstrável nos seus sítios de ação. — Dois tipos de enterotoxinas, termolábil (LT [heat labile]) e termestável (ST [heat-stable]) têm sido identificados. Cada tipo de enterotoxina tem dois subgrupos. Muitas linhagens de E. coli enterotoxigênicas (ETEC) de suínos produzem LT1, que induz hipersecreção de fluidos para o intestino por estímulo da atividade da adenilato ciclase. A maioria dos isolados ETEC que produz LT1 também possui adesinas K88. Uma segunda toxina termolábil, a LT2, tem sido demonstrada em algumas linhagens ETEC isoladas a partir de bovinos. Um dos subgrupos de enterotoxina termestável, STa, tem sido identificado em linhagens de ETEC isoladas de espécimes suínos, bovinos, ovinos e humanos. Essa toxina induz aumento da atividade da guanilato ciclase em enterócitos, e o aumento resultante na monofosfato guanosina intracelular estimula a secreção de fluidos e de eletrólitos para dentro do intestino delgado e inibe a absorção de fluidos no intestino. O efeito citotóxico preciso da outra enterotoxina termestável, STb, não é conhecido. — As verotoxinas (VT) são estrutural, funcional e antigenicamente semelhantes à toxina de Shiga da Shigella dysenteriae. Essas toxinas são termolábeis e letais para a cultura de células Vero. Escherichia coli verotoxigênica (VTEC) que coloniza os intestinos pode lesar enterócitos; quando a verotoxina é absorvida à corrente sanguínea, exerce um efeito deletério nas células endoteliais em localizações anatômicas relativamente definidas, como o SNC em suínos. As verotoxinas inibem a síntese proteica em células eucarióticas, mas o grau de lesão induzida, relativamente grande em certos tecidos, pode relacionar-se a diferenças nos receptores para tais toxinas. A lesão vascular pode levar a edema, hemorragias e trombose. A verotoxina VT2e está implicada na doença do edema dos suínos. — Dois tipos de fatores citotóxicos necrosantes, CNF1 e CNF2, tem sido demonstrados em extratos de linhagens de E. coli isoladas a partir de casos de diarreia, septicemia e infecções do trato urinário em animais e em humanos. Sabe-se que o CNF1 é codificado cromossomicamente, enquanto o CNF2 é codificado por um plasmídeo transmissível, conhecido como Vir. Embora essas toxinas induzam alterações patológicas em animais de laboratório e em cultura de tecidos, o papel de E.coli produtor de CNF em doenças de ocorrência natural ainda é incerto. • Alfa-hemolisina, embora frequentemente seja um marcador útil da virulência em certas linhagens de E. coli, parece não contribuir de forma direta para sua virulência, mas está estreitamente ligada à expressão de outros fatores de virulência. A produção de hemolisina é frequentemente uma característica de linhagens de E. coli isoladas a partir de suínos com doença do edema e diarreia. Tem sido sugerido que a ação da alfa-hemolisina possa aumentar a disponibilidade de ferro a microrganismos invasores. • Os sideróforos, moléculas de ligação com o ferro, como aerobactina e enterobactina, são sintetizados por certas linhagens patogênicas de E. coli. Quando a disponibilidade de ferro é baixa nos tecidos, essas moléculas de ligação com o ferro podem contribuir para a sobrevivência bacteriana. • Linhagens de E. coli patogênicas nas quais falta a definição dos fatores de virulência: — anteriormente, o termo E. coli enteropatogênica (EPEC) foi usado para designar todas as linhagens patogênicas; mais recentemente, tem sido usado como sinônimo para linhagens de E. coli enteroagregativas (AEEC); — embora as verotoxinas sejam produzidas por muitas linhagens de E. coli enteroagregativas (AEEC), essas toxinas aparentemente não estão diretamente envolvidas na patogênese das lesões entéricas (Hall et al., 1988); após ligação aos enterócitos, isolados AEEC produzem destruição das microvilosidades, esfoliação prematura dos enterócitos e deformidade das vilosidades; erosão epitelial pode resultar em disenteria (Wray et al., 1989). — o termo E. coli êntero-hemorrágica é aplicado para linhagens como O157:H7, que causam disenteria em humanos. INFECÇÕES CLÍNICAS Infecções clínicas em animais jovens podem estar limitadas aos intestinos (colibacilose entérica,diarréia neonatal), ou podem manifestar-se como septicemia (colissepticemia, colibacilose sistêmica) ou toxemia (toxemia colibacilar). Em suínos mais velhos, enterite pós-desmame e doença do edema são manifestações de toxemia. Em animais adultos, infecções não-entéricas localizadas, muitas ocasionadas por invasão oportunista, podem envolver o trato urinário, as glândulas mamárias e o útero. COLIBACILOSE ENTÉRICA A colibacilose entérica afeta primariamente bezerros, cordeiros e leitões recém- nascidos. Infecção oral por uma linhagem patogênica de E. coli, colonização do intestino e produção de toxinas são pré-requisitos para o desenvolvimento dessa doença. A incidência e a severidade desta aumentam em sistemas intensivos de criação. Isso pode refletir a grande exposição de animais jovens a linhagens patogênicas de E. coli como resultado do armazenamento da infecção no meio ambiente. Fatores que podem predispor à infecção por E. coli patogênica nos animais jovens das propriedades estão resumidos no quadro abaixo: Linhagens enterotoxigênicas de ETEC — que possuem adesinas fimbriais, tais como K88 e K99 — são de particular importância na diarreia neonatal. Essas linhagens colonizam a porção distal do intestino delgado por ligação a receptores presentes nos enterócitos de recém-nascidos. Elas produzem enterotoxinas (LT e STa) que estimulam diarreia hipersecretória e interferem na absorção de fluidos, sem maior lesão morfologicamente detectável nos enterócitos. Ao contrário, necrose de enterócitos com retardo no desenvolvimento e fusão de vilosidades são características da colibacilose entérica causada por linhagens de E. coli enteroagregativas (AEEC), com colonização do intestino delgado inferior e cólon. Essas linhagens induzem diarréia diretamente por má digestão e má absorção de nutrientes no intestino delgado em virtude de redução da capacidade absortiva da mucosa do cólon. Na colibacilose entérica dos bezerros, a diarreia desenvolve-se nos primeiros dias após o nascimento. A consistência das fezes é relativamente variável. Em alguns casos, as fezes são profusas e aquosas; em outros, pastosas, brancas ou amareladas e fétidas. Esse material fecal fétido pode acumular-se na cauda e nos membros posteriores. A depressão torna-se acentuada com o desenvolvimento da desidratação e a acidose. Animais moderadamente afetados podem recuperar-se de forma espontânea. Bezerros severamente afetados e não-tratados morrem dentro de poucos dias. Leitões podem morrer de colibacilose entérica em até 24 horas após o nascimento. Frequentemente, a leitegada inteira está afetada e, com o progresso da doença, leitões recusam-se a mamar. Uma diarreia aquosa profusa leva rapidamente à desidratação, à fraqueza e à morte. Embora a colibacilose entérica ocasionalmente afete cordeiros, a forma septicêmica da doença é mais comum. COLISSEPTICEMIA Infecções sistêmicas por E. coli são relativamente frequentes em bezerros, cordeiros e aves domésticas. Linhagens septicêmicas de E. coli têm características especiais para resistir aos mecanismos de defesa do hospedeiro. Elas invadem a corrente sanguínea após infecção nos intestinos, nos pulmões ou no tecido umbilical (doença do umbigo). Disseminação septicêmica por todo o organismo comumente ocorre em bezerros com baixos níveis de anticorpos derivados da mãe (imunidade passiva), e a severidade da doença corresponde ao grau de hipogamaglobulinemia (Penhale et al., 1970). A colissepticemia frequentemente apresenta-se como uma doença aguda fatal, com muitos dos sinais clínicos atribuídos à ação da endotoxina. Pirexia, depressão, fraqueza e taquicardia, com ou sem diarreia, são os primeiros sinais da doença. Hipotermia e prostração precedem a morte, que pode ocorrer dentro de 24 horas. Meningite e pneumonia são comumente encontradas em bezerros e cordeiros afetados. Localização pós-septicêmica nas articulações de bezerros e de cordeiros resulta em artrite com aumento de volume, dor, claudicação e dificuldade de locomoção. A “boca aguada” ocorre em cordeiros com mais de três dias de idade e tem sido associada à invasão sistêmica por E. coli (King e Hodgson, 1991; Sargison et al., 1997). É caracterizada por severa depressão, perda de apetite, salivação profusa e distensão abdominal. A doença é encontrada em cordeiros nascidos em áreas confinadas. As taxas de morbidade podem exceder 20%, e a mortalidade em cordeiros afetados é alta, muitos deles morrendo dentro de 24 horas após o início dos sinais clínicos. A morte é atribuída a choque endotóxico. DOENÇA DO EDEMA DE SUÍNOS A doença do edema é uma toxemia que geralmente ocorre entre uma e duas semanas após o desmame em suínos de crescimento rápido. A etiologia da doença é complexa, com alterações nutricionais e ambientais e com outros fatores estressantes contribuindo para seu desenvolvimento. Um número limitado de sorotipos de E. coli hemolítico tem sido isolado a partir do trato intestinal em casos da doença. Essas linhagens não-invasivas proliferam-se no trato intestinal e produzem uma verotoxina (VT2e) que é absorvida pela corrente sanguínea, lesando células endoteliais com consequente edema perivascular. O início da doença do edema é rápido; alguns animais são encontrados mortos e sem sinais clínicos. Sinais característicos incluem paresia posterior, tremores musculares e edema das pálpebras e da face. O grunhido do suíno pode ser rouco devido ao edema de laringe. As fezes geralmente apresentam-se firmes. Paralisia flácida normalmente precede a morte, que ocorre dentro de 36 horas após o início dos sinais clínicos. Os animais que se recuperam têm, com frequência, disfunção neurológica residual. As lesões post-mortem características são edema na grande curvatura do estômago e no mesentério do cólon. Edema perivascular no SNC, detectável no exame histológico, explica as disfunções neurológicas. Angiopatia cerebrospinal, na qual há marcada necrose fibrinoide na parede dos vasos sanguíneos, pode desenvolver-se em animais que sobrevivem à doença aguda. DIARRÉIA PÓS-DESMAME DOS LEITÕES Essa doença ocorre dentro de uma ou duas semanas após o desmame, frequentemente após alterações no regime alimentar ou no manejo e com possível envolvimento do rotavírus. A maioria dos surtos está associada a linhagens ETEC. Sinais clínicos variam de uma doença afebril com inapetência até diarreia aquosa em casos severos. Diarreia e manchas avermelhadas em áreas da pele são observadas com frequência. Alguns animais podem morrer subitamente (van Béer-Schreurs et al., 1992). Ocasionalmente, linhagens VTEC estão implicadas nessa doença. MASTITE POR COLIFORME Infecção da glândula mamária de vacas e de porcas por membros da família Enterobacteriaceae, incluindo E. coli, ocorre de forma oportunista. Em vacas leiteiras, a fonte da infecção é a contaminação fecal da pele da glândula mamária, sendo que o relaxamento do esfíncter do teto durante a lactação aumenta a vulnerabilidade à infecção. As vacas com baixas contagens de células somáticas são particularmente suscetíveis à infecção. Nenhum sorotipo específico de E. coli tem sido relacionado com essa forma de mastite. A forma aguda da doença é caracterizada por endotoxemia e pode levar à morte. A doença superaguda pode ser fatal entre 24 e 48 horas. Os animais afetados ficam gravemente deprimidos, com orelhas caídas e olhos fundos. A secreção mamária é aquosa e contém grânulos brancos. INFECÇÃO NO TRATO UROGENITAL Infecções oportunísticas ascendentes do trato urinário por certas linhagens de E. coli uropatogênicas resultam em cistite, principalmente em cadelas. Essas linhagens possuem fatores de virulência, como fímbrias, que facilitam a colonização de mucosas. A invasão do endométrio hiperplásico por linhagens oportunistas de E. coli é um fator crítico na patogênese da piometra canina. Prostatite emcães também está associada à invasão oportunista de linhagens de E. coli. PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS A idade e as espécies de animais afetados, os sinais clínicos e a duração da doença podem sugerir o tipo de infecção e a categoria da doença. O histórico, o progresso da doença e os sistemas ou órgãos afetados influenciam a seleção de espécimes, os procedimentos laboratoriais para diagnóstico e para tratamento apropriado e medidas de controle. • Espécimes adequados incluem amostras fecais de animais com doença entérica, espécimes teciduais de casos de septicemia, leite mastítico, amostras de fluxo urinário e suabes cervicais de casos suspeitos de piometra ou metrite. • Espécimes cultivados em ágar-sangue e ágar MacConkey são incubados aerobiamente por 24 a 48 horas a 37°C. • Critérios para identificação dos isolados: — as colônias em ágar-sangue são acinzentadas, redondas, brilhantes e com odor característico; as colônias podem ser hemolíticas ou não-hemolíticas; — as colônias em ágar MacConkey são de cor rosa forte; — testes IMViC podem ser usados para confirmação; — as colônias de algumas linhagens de E. coli têm brilho metálico em ágar EMB; — um perfil bioquímico completo pode ser necessário para identificar isolados a partir de mastite por coliforme ou de cistite; — alguns sorotipos são encontrados em associação com certas condições de doença; testes de aglutinação em lâmina para antígenos O e H são empregados para identificação sorológica. • Em casos suspeitos de colissepticemia, o isolamento do microrganismo em cultura pura de sangue ou de órgãos parenquimatosos é considerado confirmatório. • Quando linhagens de E. coli enterotoxigênicas são suspeitas, a presença de enterotoxinas ou de antígenos fimbriais pode ser confirmada por métodos imunológicos ou por técnicas moleculares como a reação em cadeia da polimerase. — Enterotoxinas no intestino delgado podem ser detectadas por métodos que empregam anticorpos monoclonais (Carroll et al., 1990). Alguns desses reagentes encontram-se comercialmente disponíveis. — Para expressão de antígenos fimbriais, os isolados devem ser subcultivados em meio de Minca. Antígenos fimbriais podem ser identificados usando-se ELISA ou aglutinação em látex (Thorns et al., 1989). — Sondas de DNA específicas para genes que codificam enterotoxinas termolábeis e termestáveis podem ser usadas para identificar linhagens de E. coli enterotoxigênicas. • As toxinas produzidas por linhagens verotoxigênicas e necrotoxigênicas podem ser detectadas por ensaio em célula Vero (Wray et al., 1993). • Métodos moleculares com base na detecção de genes que codificam toxinas também são usados. TRATAMENTO A natureza e a duração das medidas terapêuticas são determinadas pela severidade e pela duração da doença. • Em bezerros com diarreia neonatal, o leite deve ser retirado e substituído por fluidos contendo eletrólitos. A alimentação com leite pode ser gradualmente retomada quando a melhora clínica é evidente. Os bezerros gravemente desidratados requerem terapia parenteral para reposição de fluidos. • Pode ser administrada gamaglobulina bovina intravenosamente em bezerros com hipogamaglobulinemia. • Na maioria das espécies domésticas, a doença entérica pode ser tratada por administração oral de compostos antimicrobianos que são ativos no trato gastrintestinal. Infecções sistêmica e localizada requerem administração parenteral de agentes terapêuticos. O tratamento deve ser fundamentado nos testes de sensibilidade dos isolados. • Devido às extensas lesões teciduais locais, o tratamento intramamário de mastite por coliforme frequentemente é de utilidade limitada. A terapia visa ao impedimento do choque e à eliminação do material tóxico da glândula mamária por constante esgotamento dos quartos afetados. CONTROLE • Os animais recém-nascidos devem receber grande quantidade de colostro logo após o nascimento. Anticorpos do colostro podem prevenir a colonização dos intestinos por E. coli patogênicos. A absorção de gamaglobulina no intestino decresce progressivamente após o nascimento e é insignificante após 36 horas. • Deve ser providenciado um meio ambiente limpo e aquecido para animais recém-nascidos. • A dieta alimentar pode contribuir para o desenvolvimento da doença do edema e para outras condições pós-desmame. A nova alimentação deve ser introduzida gradualmente. • A vacinação é útil para um número limitado de doenças causadas por E. coli. Os métodos de vacinação usados para prevenção de doença entérica em leitões e bezerros incluem: — vacinas mortas, comercialmente disponíveis, contendo sorotipos prevalentes de E. coli patogênicos podem ser administradas a porcas prenhes. Como alternativa, podem ser usadas vacinas mortas autógenas preparadas a partir de linhagens de E. coli implicadas em surtos de doença na propriedade; — vacinação de vacas prenhes com preparações purificadas de antígenos fimbriais K99 E. coli ou com preparações celulares integrais, frequentemente combinadas com antígeno rotavírus, podem ser usadas para aumentar a proteção colostral (Snodgrass, 1986). SOROTIPOS DE SALMONELLA As salmonelas são geralmente móveis e não fermentam a lactose. Raramente linhagens fermentadoras da lactose são encontradas. O gênero Salmonella contém mais de 2.400 sorotipos. A sorotipagem é baseada no esquema de Kaufmann e White, no qual os antígenos somáticos (O) e flagelares (H) são identificados. Ocasionalmente, antígenos capsulares (Vi) podem ser detectados. Em uma modificação desse esquema, duas espécies são propostas: S. enterica e S. bongori. Salmonella enterica tem sido dividida em seis subspécies (Le Minor e Popoff, 1987; Reeves et al., 1989). A maioria das salmonelas de importância veterinária pertence à S. enterica subsp. enterica. As subespécies são adicionalmente qualificadas pelo sorotipo, tendo uma designação final — por exemplo, S. enterica subsp. enterica sorotipo Typhimurium. Essa nomenclatura está agora sendo usada pela maioria dos bacteriologistas e é seguida neste livro. Os sorotipos de Salmonella ocorrem em todo o mundo e infectam muitos mamíferos, aves e répteis; são principalmente excretados pelas fezes. A ingestão é a principal rota da infecção na salmonelose, embora também possa ocorrer por meio das mucosas do trato respiratório superior e da conjuntiva (Fox e Gallus, 1977). Os microrganismos podem estar presentes em: água, solo, alimentação dos animais, carne e vísceras cruas, e vegetais. A fonte de contaminação ao meio ambiente é invariavelmente as fezes. Em aves domésticas, alguns sorotipos, tais como Salmonella enteritidis, infectam os ovários, e microrganismos podem ser isolados a partir dos ovos. As salmonelas podem sobreviver por mais de nove meses em solos úmidos e protegidos da luz (Carter et al., 1979). PATOGÊNESE E PATOGENICIDADE Embora muitos aspectos da patogênese da salmonelose sejam ainda pouco entendidos, particularmente a relação entre as toxinas da salmonela e as lesões celulares, algumas dessas características gerais associadas à virulência são conhecidas. A virulência da salmonela relaciona-se a sua habilidade em invadir células do hospedeiro, replicar-se dentro dessas células e resistir à digestão por fagócitos e à destruição por componentes plasmáticos do complemento. Após aderência na superfície das células da mucosa intestinal, provavelmente por meio da fixação pelas fímbrias, as bactérias induzam formação de invaginações na membrana celular (Salyers e Whitt, 1994). As invaginações facilitam a entrada da bactéria através de vesículas ligadas a membrana, as quais muitas vezes coalescem. Os microrganismos replicam nessas vesículas e são eventualmente liberados dessas células, que suportam somente lesão transitória ou moderada. O processo complexo de invasão é mediado por produtos de vários genes cromossômicos, ao passoque o crescimento dentro das células do hospedeiro depende da presença de plasmídeos de virulência. A resistência à digestão por fagócitos e a ação letal de componentes do complemento facilitam a disseminação dos microrganismos dentro do hospedeiro. Os efeitos oxidativos tóxicos dos radicais livres produzidos pelos fagócitos são minimizados pela atividade das enzimas bacterianas catalase e superóxido dismutase. A resistência à destruição pelo complemento é parcialmente dependente do comprimento das cadeias do antígeno O do lipopolissacarídeo (LPS). Cadeias longas do LPS previnem que os componentes do complemento do complexo de ataque à membrana interajam com a membrana celular bacteriana, lesando- a (Salyers e Whitt, 1994). O LPS também é responsável pelos efeitos endotóxicos da infecção por salmonelas. Ele pode contribuir para a resposta inflamatória localizada que lesa células epiteliais do intestino e resulta em desenvolvimento de diarreia. O LPS da parede celular bacteriana também é mediador do choque endotóxico que pode acompanhar salmonelose septicêmica. INFECÇÕES CLÍNICAS A salmonelose é de ocorrência comum em animais domésticos, e as consequências da infecção variam do estado de portador subclínico à septicemia aguda fatal. Alguns sorotipos de Salmonella pullorum e Salmonella gallinarum em aves domésticas, Salmonella choleraesuis em suínos e Salmonella dublin em bovinos são relativamente hospedeiroespecíficos. Ao contrário, Salmonella thyphimurium tem um amplo espectro de hospedeiros. Sabe- se que carnívoros adultos saudáveis são naturalmente resistentes à salmonelose. A salmonelose frequentemente localiza-se nas mucosas do íleo, no ceco e no cólon, bem como nos linfonodos mesentéricos de animais infectados. Embora a maioria dos microrganismos seja eliminada dos tecidos pelos mecanismos de defesa do hospedeiro, pode persistir infecção subclínica, com eliminação de pequeno número de salmonelas pelas fezes. Também ocorre infecção latente, na qual as salmonelas estão presentes na vesícula biliar, mas não são excretadas. A doença clínica pode desenvolver-se a partir de infecções latentes e subclínicas se os animais afetados forem estressados. Os fatores estressantes que têm sido mais frequentemente associados ao desenvolvimento de Salmonelose clínica estão relacionados no quadro abaixo. Alguns desses fatores, como transporte e superlotação, têm demonstrado ser significativos nos surtos da doença em animais jovens e em ovinos e equinos adultos. A salmonelose em bovinos adultos é geralmente esporádica e também, com frequência, associada a estresse. Outros fatores que determinam as consequências clínicas da infecção incluem o número de salmonelas ingerido, a virulência do sorotipo ou a linhagem infectante, e a suscetibilidade do hospedeiro. A suscetibilidade do hospedeiro pode estar relacionada ao estado imunológico, à constituição genética e à idade. Animais jovens e debilitados ou velhos são particularmente suscetíveis e podem desenvolver a forma septicêmica da doença. Na maioria das espécies animais, são relatadas tanto a forma entérica como a septicêmica da salmonelose. Vários sorotipos têm sido associados a abortos em animais de criação, frequentemente sem outros sinais clínicos óbvios em fêmeas com cria. Os sorotipos de Salmonella importantes em animais domésticos e as consequências das infecções estão indicados na tabela abaixo. A Salmonella Dublin causa uma variedade de efeitos clínicos em bovinos. Gangrena seca terminal e lesões ósseas são manifestações comuns em infecções crônicas com Salmonella dublin em bezerros (Gitter et al., 1978). SALMONELOSE ENTÉRICA A enterocolite causada por salmonelas pode afetar a maioria das espécies de animais das propriedades, independentemente da idade. A doença aguda é caracterizada por febre, depressão, anorexia e diarreia profusa e fétida, muitas vezes contendo sangue, muco e células epiteliais descamadas. Seguem-se desidratação e perda de peso, sendo que animais prenhes podem abortar. Animais jovens severamente afetados tornam-se inativos, ficam deitados e podem morrer dentro de poucos dias após adquirirem a infecção. Em propriedades com Salmonelose endêmica, os sinais clínicos moderados frequentemente observados podem ser atribuídos à influência de imunidade adquirida. A enterocolite crônica pode seguir-se à salmonelose aguda em suínos, bovinos e equinos. Febre intermitente, fezes amolecidas e perda de peso gradual, levando ao emagrecimento, são características comuns nessa doença. SALMONELOSE SEPTICÊMICA A forma septicêmica pode ocorrer em todos os grupos de idades, mas é mais comum em bezerros, potros recém-nascidos e suínos com menos de quatro meses de idade. O início da doença clínica é repentino, com febre alta, depressão e prostração. Se o tratamento é protelado, muitos animais jovens morrem de salmonelose septicêmica dentro de 48 horas. Os sobreviventes podem desenvolver diarreia persistente, artrite, meningite ou pneumonia. Em suínos com infecção septicêmica por Salmonella choleraesuis, percebe-se coloração azulada característica das orelhas e do focinho. Infecção viral intercorrente frequentemente predispõe à forma clínica severa da doença. As estreitas relações clínicas e patológicas que têm sido reconhecidas em animais infectados por Salmonella choleraesuis (“bacilo da hog-cholera”) e o vírus da febre suína clássica, junto ou separadamente, exemplificam tanto a importância da infecção intercorrente como a dificuldade em distinguir de maneira clínica a doença causada por esses agentes. SALMONELOSE EM AVES DOMÉSTICAS Salmonella pullorum, Salmonella gallinarum e Salmonella enteritidis podem infectar os ovários das aves e ser transmitidas pelos ovos. A presença de Salmonella enteritidis em pratos com ovos pouco cozidos ou crus pode causar intoxicação alimentar em humanos (Cooper, 1994). Pulorose ou diarreia branca bacilar (Salmonella pullorum) infecta pintos e perus jovens de até duas ou três semanas de idade. A taxa de mortalidade é alta, e as aves afetadas amontoam-se em uma fonte de calor, ficam anoréticas e deprimidas e têm material fecal pastoso ao redor do ânus. Lesões características incluem nódulos esbranquiçados pelos pulmões e necrose focal do fígado e do baço. O tifo aviário (Salmonella gallinarum) pode produzir, em pintos e em perus jovens, lesões semelhantes às da pulorose. Todavia, em países onde o tifo aviário é endêmico, ocorre uma doença septicêmica de aves adultas, frequentemente resultando em morte súbita. Achados característicos incluem fígado aumentado de volume, friável e corado pela bile e baço aumentado de volume. Como Salmonella pullorum e Salmonella gallinarum possuem antígenos somáticos semelhantes, ambas têm sido erradicadas em muitos países mediante um teste sorológico e abate em programas de ação para controle da pulorose. Paratifo é nome dado a infecções de aves domésticas por salmonelas inadaptadas a hospedeiros, como Salmonella enteritidis e Salmonella typhimurium. Essas infecções são frequentemente subclínicas em aves de postura. PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS • Um histórico de surto prévio da doença na propriedade, a idade do grupo afetado e o quadro clínico podem sugerir salmonelose. • Ao exame post-mortem, enterocolite com conteúdo sanguinolento e linfonodos mesentéricos aumentados de volume são comumente observados. • A confirmação laboratorial é requerida. Espécimes enviados ao laboratório devem incluir fezes e sangue dos animais vivos. O conteúdo intestinal e amostras de lesões teciduais de animais mortos e o conteúdo do abomaso de fetos abortados devem ser submetidos a exame laboratorial. • O isolamento de salmonelas a partir do sangue ou dos órgãos parenquimatosos deve ser considerado para confirmação de Salmonelose septicêmica. • Um grande crescimento de salmonelas em placas inoculadasdiretamente com fezes, conteúdo intestinal ou conteúdo do abomaso fetal sugere fortemente o envolvimento etiológico do patógeno. A recuperação de pequeno número de salmonelas nas fezes é geralmente indicativa do estado de portador. • Espécimes devem ser cultivados diretamente em ágar XLD ou ágar VB e também adicionados a caldos de enriquecimento selenito F, Rappaport ou tetrationato para enriquecimento e subsequente subcultura. As placas e os caldos de enriquecimento são incubados aerobiamente a 37°C por até 48 horas. As subculturas são feitas a partir de caldo de enriquecimento em 24 e 48 horas. • Critérios para identificação dos isolados: — em ágar verde-brilhante, as colônias e os meios são vermelhos, indicando alcalinidade; em ágar XLD, as colônias são vermelhas (alcalinas) com centro preto, indicando produção de H2S; — colônias suspeitas, subcultivadas a partir do meio seletivo para ágar-TSI e caldo lisina descarboxilase, devem ser examinadas após 18 horas de incubação a 37°C para estabelecer sua identidade bioquímica como salmonela; — se as reações no ágar TSI e no caldo lisina descarboxilase forem inconclusivas, um perfil bioquímico, usando-se uma bateria de testes bioquímicos, pode permitir a identificação definitiva; — os isolados a partir do ápice no ágar-TSI são confirmados como salmonela usando-se anti-soros, comercialmente disponíveis, para antígenos O e H em testes de aglutinação em lâmina; sorotipos com antígenos O em comum são agrupados em um sorogrupo; — os sorotipos que têm antígenos flagelares (H) em duas fases — Fase 1 (específica) e Fase 2 (inespecífica) — são chamados difásicos; os antígenos em ambas as fases devem ser determinados; a maioria dos microrganismos nesses sorotipos possui geralmente antígenos H em uma única fase e é aglutinada pelo anti-soro apropriado; todavia, uma minoria das bactérias, invariavelmente presente na fase alternativa, pode ser selecionada por um procedimento referido como “fase de mudança”; quando a fase alternativa é isolada, a fórmula antigênica usada para sorotipagem pode ser completada; — a biotipagem é requerida para sorotipos antigenicamente indistinguíveis, como Salmonella pullorum e Salmonella gallinarum. • A fagotipagem é usada em estudos epidemiológicos para identificar isolados com características específicas, como resistência múltipla a antibióticos e virulência aumentada. Exemplos de fagotipos importantes são Salmonella typhimurium DT (tipo definitivo) 104, que exibe resistência múltipla a antibióticos, e Salmonella enteritidis PT (fagotipo) 4, encontrada em produtos de aves domésticas, sendo causa comum de intoxicação alimentar em humanos. • Testes sorológicos, como ELISA e técnicas de aglutinação, são de grande valor quando usados em rebanhos bovinos e ovinos. Um título de anticorpos em ascensão usando-se amostras de soro empapelhado é indicativo de infecção ativa. • Sondas DNA podem ser usadas para triagem de grande número de amostras fecais para salmonelas (Maddox e Fales, 1991). TRATAMENTO • A terapia antibiótica deve ser baseada em resultados de testes de suscetibilidade, porque plasmídeos R que codificam para resistência múltipla são comparativamente comuns em salmonelas. • A terapia antimicrobiana oral deve ser usada criteriosamente para tratamento de salmonelose entérica, pois pode causar distúrbios na microbiota intestinal normal, prolongar a duração da excreção de salmonelas e aumentar a probabilidade de desenvolvimento de resistência a drogas. Na forma septicêmica da doença, deve ser usada terapia antibiótica intravenosa. • A terapia de reposição de fluidos e de eletrólitos é requerida para evitar desidratação e choque. CONTROLE O controle está apoiado na redução do risco de exposição à infecção. Animais de criações intensivas para produção de alimentos estão mais propensos a adquirir a infecção e também são a principal fonte para infecções em humanos (Cooper, 1994). • Medidas para eliminação da infecção por salmonela em rebanhos bovinos e ovinos: — um programa de ação rebanho-fechado deve ser implantado quando possível; — animais devem ser adquiridos de fontes confiáveis e permanecer isolados até que sejam negativos para salmonela em três amostragens consecutivas; — medidas devem ser implantadas para prevenir a contaminação dos alimentos e da água; nesse contexto, é importante o controle de roedores; — roupas e calçados de proteção devem ser usados por pessoas que entram nas incubadoras e nas unidades de criação de suínos livres de doenças. • Medidas para redução de contaminação ambiental: — é essencial uma rotina efetiva de limpeza e desinfecção de construções e equipamentos; — aglomeração e superlotação devem ser evitadas; — os dejetos devem ser espalhados em terra arável quando possível; um intervalo de, no mínimo, dois meses deve decorrer antes de ser iniciado o pastoreio após a aplicação dos dejetos; — deve ser evitado o uso contínuo de estábulos para animais suscetíveis. • Estratégias para aumentar a resistência e reduzir a probabilidade de doença clínica: — procedimentos de vacinação são usados em bovinos, ovinos, aves domésticas e suínos; vacinas vivas modificadas que estimulam a imunidade humoral e a mediada por células são preferíveis às bacterinas; técnicas moleculares modernas são adequadas para levar ao desenvolvimento de vacinas mais efetivas (Cooper, 1994; Lax et al., 1995); — o impacto de fatores estressantes (Quadro 18.2) deve ser reduzido por decisões apropriadas relativas ao manejo de animais a intervenções cirúrgicas e terapêuticas; — alimentos contendo drogas antimicrobianas para profilaxia ou para promoção do crescimento devem ser evitados quando possível. • Medidas para controle de surtos de salmonelose: — são essenciais a detecção e a eliminação da fonte de infecção; — animais clinicamente afetados devem ser isolados; — a movimentação de veículos, animais e humanos deve ser reduzida; — pedilúvios contendo desinfetante adequado, como iodofor 3%, devem ser colocados em locais estratégicos para limitar a disseminação de salmonelas; — é obrigatório o descarte cuidadoso de carcaças e materiais de “cama” contaminados; — instalações e utensílios contaminados devem ser inteiramente limpos e desinfetados; a escolha do desinfetante é determinada pelo tamanho, pela limpeza das instalações e pela natureza dos utensílios; uma concentração a 3% de hipoclorito de sódio ou iodóforos é adequada para a limpeza de superfícies; desinfetantes fenólicos são adequados para instalações com matéria orgânica residual; fumigação com formaldeído é o método mais eficaz para a desinfecção de instalações de aves domésticas; — a vacinação de rebanhos pode ser útil para limitar a disseminação da infecção durante surtos da doença em bovinos (Wray, 1991); — os humanos que trabalham com animais clinicamente afetados devem estar cientes do risco de aquisição da infecção. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO: 1- Quais as principais características das bactérias pertencentes ao grupo das Enterobacteriaceae? 2- Quais são as duas formas de salmonelose? Qual a diferença entre elas? 3- Quais as formas de se chegar ao diagnóstico da salmonelose? 4- Sobre a E. coli, qual a forma de transmissão e fontes de contaminação? 5- Quais os fatores predisponentes para a infecção por linhagens patogênicas de E. coli (cite ao menos 4). 6- Quais as 3 principais formas de apresentação da infecção por E. coli? 7- Numa avaliação de alimentos/barra água, o que me sugere a presença significativa de bactérias pertencentes ao grupo Enterobacteriaceae? CAPÍTULO II – GÊNERO STAPHYLOCOCCUS Os estafilococos são cocos Gram-positivos, com aproximadamente 1 μm de diâmetro e que tendem a formar agrupamentos em arranjos semelhantes a cachos de uva. O nome deriva das palavras gregas staphyle e kokkos para designar cachosde uva e grão, respectivamente. No mínimo 30 espécies de Staphylococcus ocorrem como comensais da pele e membranas mucosas; algumas podem atuar como patógenos oportunistas, causando infecções piogênicas. A maioria dos estafilococos é anaeróbia facultativa e catalase-positiva. São imóveis, oxidase-negativa e não formam esporos. Duas espécies, S. aureus subsp. anaerobius e S. saccharolyticus, são anaeróbias e catalase-negativas. Os estafilococos coagulase-positivos S. aureus subsp. aureus (referido como S. aureus) e S. intermedius, e o coagulase-variável S. hyicus são importantes patógenos de animais domésticos (tabela abaixo). A produção de coagulase está correlacionada à patogenicidade. Embora os estafilococos coagulase-negativos sejam pouco virulentos, alguns ocasionalmente causam doença nos animais e no homem (tabela abaixo). HÁBITAT USUAL As espécies do gênero Staphylococcus estão amplamente distribuídas no mundo todo como comensais na pele de animais e na de humanos. Também são encontradas em membranas mucosas do trato respiratório superior e urogenital inferior e como transitórios no trato digestivo. São relativamente estáveis no meio ambiente. Linhagens de estafilococos exibem afinidade seletiva por espécies particulares de animais. A transferência de linhagens de S. aureus entre espécies animais e o homem é limitada. DIFERENCIAÇÃO ENTRE ESPÉCIES DE STAPHYLOCOCCUS Em espécimes clínicos, espécies do gênero Staphylococcus devem ser diferenciadas de espécies do gênero Micrococcus. Os estafilococos são geralmente catalase-positivos, enquanto os estreptococos são catalase-negativos. O gênero Staphylococcus é geralmente classificado por seu aspecto colonial, pelo tipo de hemólise, pelo perfil bioquímico e pelo padrão de genes de restrição do RNA ribossômico (Thomson-Carter et al., 1989). Algumas das principais reações dos estafilococos coagulase-positivos estão indicadas na tabela abaixo. Elas podem ser particularmente importantes para diferenciar S. aureus de S. intermedius em certas condições clínicas duvidosas, especialmente em cães e gatos. Em laboratórios de diagnóstico veterinário, a identificação específica de estafilococos coagulase-negativos está reservada àqueles microrganismos que são isolados em cultura quase pura ou que são recuperados de locais normalmente estéreis, como articulações ou fluido cérebro-espinal. • Características coloniais: Colônias de estafilococos são geralmente brancas, opacas e com mais de 4 mm de diâmetro. As colônias de linhagens de S. aureus de bovinos e humanos são amarelo-douradas. Colônias de alguns estafilococos coagulase-negativos também são pigmentadas. • Hemólise em ágar-sangue bovino ou ovino: Quatro hemolisinas estafilocócicas são conhecidas: alfa, beta, gama e delta. Cada hemolisina difere antigênica e bioquimicamente, bem como nos seus efeitos sobre as hemácias sanguíneas de diferentes animais. As linhagens variam na sua capacidade de produzir hemolisina; as linhagens de S. aureus e S. intermedius geralmente produzem hemolisinas alfa e beta. No ágar-sangue de ruminantes, a alfa-hemolisina causa uma zona estreita de hemólise imediatamente ao redor da colônia, e a beta-hemolisina produz uma zona larga de hemólise parcial ou incompleta. Isso é conhecido como dupla hemólise. Essas hemolisinas in vivo agem como toxinas. Os estafilococos coagulase-negativos exibem variações na sua capacidade de produzir hemolisina, as quais geralmente se desenvolvem de modo lento. Isolados de S. hyicus não são hemolíticos. • Teste da coagulase em lâmina e tubo: Nesses testes, a suspensão bacteriana é misturada com plasma de coelho em uma lâmina ou em um tubo pequeno. O fibrinogênio no plasma do coelho é convertido em fibrina pela coagulase: — O teste em lâmina detecta a presença de uma coagulase ligada ou um fator de aglutinação (fator clumping) na superfície bacteriana. Uma reação positiva é indicada pela aglutinação das bactérias no intervalo de 1 a 2 minutos. — O teste em tubo detecta a coagulase livre ou estafilocoagulase que é secretada pela bactéria para o plasma. Esse é um teste definitivo para a produção de coagulase, sendo que a reação positiva é indicada pela formação de coágulo no tubo após a incubação por 24 horas a 37°C. • Testes bioquímicos para diferenciação entre S. aureus e S. intermedius: — Um teste rápido para detecção de acetoína tem sido desenvolvido (Davis e Hoyling, 1973). — Ágar púrpura, contendo púrpura de bromocresol como indicador de pH e 1% de maltose, é usado para diferenciação entre S. aureus e S. intermedius (Quinn et al., 1994). Staphylococcus aureus utiliza maltose, acidificando o meio, e as colônias ficam com coloração amarela. Staphylococcus intermedius fermenta pouco a maltose, não alterando a cor do meio (púrpura). — Testes bioquímicos comercialmente disponíveis podem ser usados para confirmação de espécies de Staphylococcus. • Métodos moleculares, como a reação em cadeia da polimerase (PCR), são geralmente realizados em pesquisas ou em laboratórios de referência. PATOGÊNESE E PATOGENICIDADE Como os estafilococos são bactérias piogênicas, frequentemente causam lesões supurativas. Pequenos traumas ou imunossupressão podem predispor ao desenvolvimento de infecções. Os fatores de virulência do S. aureus e seus efeitos patogênicos estão indicados na tabela abaixo. O significado patogênico de alguns desses fatores não está bem-esclarecido. Embora alguns fatores de virulência sejam mediados por plasmídeos ou fagos, a maioria está codificada no genoma dos estafilococos. Características estruturais, incluindo cápsula polissacarídica, ácido teicoico e proteína A, interferem na opsonização e na subsequente fagocitose. Proteínas da parede celular estafilocócica, que se ligam à fibronectina e ao fibrinogênio, podem facilitar a ligação aos tecidos lesados pelos fatores tóxicos elaborados pelos microrganismos. A produção de coagulase pelos estafilococos é um importante indicador de patogenicidade. Marcadores adicionais para patogenicidade são a atividade DNase e a produção de proteína A. PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS • Epidermite exsudativa em leitões e piemia pelo carrapato em cordeiros são as únicas condições clínicas de animais domésticos especificamente atribuídas a estafilococos patogênicos. Em condições supurativas, a probabilidade de infecção estafilocócica deve ser considerada, e espécimes apropriados, tais como exsudatos e leite de mastite, devem ser coletados para procedimentos laboratoriais. • Esfregaços de pus ou outros espécimes apropriados corados pela técnica de Gram podem revelar o arranjo estafilocócico típico. • Espécimes são cultivados em ágar-sangue, ágar-sangue seletivo e ágar MacConkey e incubados aerobiamente a 37°C por 24 a 48 horas. Ágar-sangue seletivo contendo ácido nalidíxico e colistina é usado para inibir o gênero Proteus e outros contaminantes Gram negativos. • Critérios para identificação dos isolados: — características coloniais; — presença ou ausência de hemólise; — ausência de crescimento no ágar MacConkey; — produção de catalase; — produção de coagulase; — perfil bioquímico. • Fagotipagem é aplicável em investigações epidemiológicas, como aquelas relacionadas a surtos de intoxicações alimentares em humanos. INFECÇÕES CLÍNICAS Já que os estafilococos ocorrem tanto como comensais na pele e nas membranas mucosas como contaminantes ambientais, as infecções podem ter origem endógena ou exógena. Muitas infecções são oportunísticas e associadas a trauma, imunossupressão, infecções parasitárias ou fúngicas intercorrentes, condições alérgicas ou distúrbios endócrinos e metabólicos. Os estafilococos coagulase-positivos são responsáveis pela maioria das infecções. Algumas linhagens coagulase-negativas de baixa virulência também são capazes de causar doenças em animais.Vacinas atualmente disponíveis são ineficazes para prevenir as infecções estafilocócicas. O teste de sensibilidade a antimicrobianos deve preceder o tratamento. As doenças estafilocócicas de importância em animais domésticos incluem: mastites, piemia pelo carrapato, epidermite exsudativa, botriomicose e pioderma. MASTITE ESTAFILOCÓCICA BOVINA A mastite estafilocócica, em geral causada por S. aureus, é mundialmente a forma mais comum de mastite bovina. Pode ser subclínica, aguda ou crônica. A maioria das infecções é subclínica. As formas superaguda e gangrenosa estão associadas a reações sistêmicas graves e podem ser fatais. Nas mastites gangrenosas, o quarto afetado torna-se frio e cianótico, podendo eventualmente se desprender. A necrose tecidual é atribuída à alfa-toxina, que causa a contração e a necrose do músculo liso dos vasos sanguíneos, impedindo o fluxo do sangue no quarto afetado. Essa toxina também causa liberação de enzimas lisossomais pelos leucócitos. INFECÇÕES ESTAFILOCÓCICAS EM CÃES E GATOS Staphylococcus intermedius é comumente isolado de pioderma, de otite externa e de outras doenças supurativas, incluindo mastite, endometrite, cistite, osteomielite e infecções em feridas. Ocasionalmente, doenças supurativas semelhantes são causadas por S. aureus. CAPÍTULO III – GÊNERO STREPTOCOCCUS Os estreptococos formam um grupo de bactérias que podem infectar muitas espécies animais, causando infecções supurativas como mastite, metrite, poliartrite e meningite. Nesse grupo, estão incluídos os gêneros Streptococcus, Enterococcus e Peptostreptococcus. Muitas espécies patogênicas pertencem ao gênero Streptococcus. Esses microrganismos são cocos Gram-positivos, com aproximadamente 1,0 μm de diâmetro, que formam cadeias de diferentes comprimentos. As espécies do gênero Streptococcus são catalase-negativas, anaeróbias facultativas e imóveis. São bactérias fastidiosas e requerem adição de sangue ou soro no meio de cultura. Streptococcus pneumoniae (pneumococo) ocorre como diplococos levemente periformes. Linhagens patogênicas têm cápsula espessa e produzem colônias mucoides. Essas bactérias causam pneumonia em humanos, porcos-da-índia e ratos. As espécies do gênero Enterococcus são estreptococos entéricos encontrados no trato intestinal de animais e de humanos. São patógenos oportunistas e diferem das espécies de Streptococcus em dois aspectos importantes: — toleram sais biliares e crescem em ágar MacConkey como colônias minúsculas vermelhas; — alguns isolados são móveis. Peptostreptococcus indolicus é um estreptococo anaeróbio que está etiologicamente implicado na “mastite bovina de verão” em associação com Arcanobacterium pyogenes. HÁBITAT USUAL Os estreptococos têm distribuição mundial. Muitas espécies vivem como comensais na mucosa do trato respiratório superior e no trato urogenital inferior. Essas frágeis bactérias são sensíveis à dessecação e sobrevivem somente por curto período fora do hospedeiro. Os enterococos são patógenos oportunistas. DIFERENCIAÇÃO DE ESTREPTOCOCOS Três procedimentos laboratoriais são usados para diferenciar estreptococos: tipo de hemólise, agrupamento de Lancefield e testes bioquímicos. • Tipo de hemólise em ágar-sangue ovino ou bovino: — beta-hemólise é hemólise completa indicada por zona clara ao redor das colônias; — alfa-hemólise é hemólise parcial ou incompleta indicada por zona esverdeada ou pouco clara ao redor das colônias; — gama-hemólise não causa alterações observáveis ao redor das colônias no ágar- sangue. • Agrupamento de Lancefield é um método sorológico de classificação com base na substância C grupo-específica (polissacarídeo) da parede celular. Métodos-teste incluem: — teste da precipitação em anel; a substância C é extraída por aquecimento ou pelo uso de ácido de espécies de Streptococcus testados; esse antígeno extraído é aplicado em camadas sobre anti-soro de diferentes especificidades em tubos capilares colocados em plasticina sobre uma lâmina; uma reação positiva é indicada pela formação de anel branco de precipitação próximo à interface dos dois fluidos dentro de 30 minutos; — teste da aglutinação em látex; anti-soro substância C específica para grupos A a G (com exceção do grupo E) estão disponíveis comercialmente; uma suspensão de partículas de látex é coberta com cada um dos anticorpos específicos dos grupos; os grupos de antígenos são extraídos enzimaticamente dos estreptococos a serem testados; em uma placa, uma gota do antígeno é misturada com uma gota de cada suspensão látex-anticorpo e agitada delicadamente; uma reação positiva, que geralmente ocorre em um minuto, é indicada por aglutinação. • Testes bioquímicos: — vários sistemas comerciais de testes estão disponíveis para a rápida identificação bioquímica de estreptococos; — poucos testes bioquímicos são usados para diferenciação de estreptococos equinos do grupo C. PATOGÊNESE E PATOGENICIDADE Os estreptococos piogênicos estão associados à formação de abscessos, de outras condições supurativas e de septicemias. Os estreptococos beta-hemolíticos são geralmente mais patogênicos do que aqueles produtores de alfa-hemólise. Fatores de virulência incluem enzimas e exotoxinas, como estreptolisinas (hemolisinas), hialuronidase, DNase, NADase, estreptoquinase e proteases. A ação específica e o significado de alguns desses fatores são pouco entendidos. Cápsulas polissacarídicas, que são os maiores fatores de virulência de S. pyogenes, de S. pneumoniae e de algumas linhagens de S. equi, são antifagocitárias. A proteína M da parede celular de S. pyogenes, de S. equi e de S. porcinus também são antifagocitárias. Na ausência de fatores antifagocitários, essas bactérias são rapidamente destruídas pelos fagócitos. PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS História, sinais clínicos e patologia podem ser indicativos de certas infecções estreptocócicas, como o garrotilho. • Os estreptococos são altamente suscetíveis à dessecação, e espécimes devem ser cultivados de imediato. Pus ou exsudatos coletados em suabes devem ser colocados em meio de transporte se os espécimes não forem processados imediatamente. • Uma técnica sensível, usando a reação em cadeia da polimerase (PCR), tem sido desenvolvida para detectar S. equi viável e não viável em suabes nasais (Timoney e Artiushin, 1997). • Cadeias de cocos Gram-positivos podem ser demonstradas em esfregaços dos espécimes. • Os espécimes devem ser cultivados em ágar-sangue e ágar Mac-Conkey. As placas são incubadas aerobicamente a 37°C por 24 a 48 horas. • Critérios para identificação dos isolados: — colônias pequenas, translúcidas, algumas das quais podem ser mucoides; — tipo de hemólise em ágar-sangue; — cadeias de cocos Gram-positivos; — nenhum crescimento em ágar MacConkey, com exceção da E. faecalis; — teste da catalase negativo; — agrupamento de Lancefield; — perfil nos testes bioquímicos. INFECÇÃO CLÍNICA Os estreptococos são frequentemente comensais nas membranas mucosas e, por conseguinte, muitas infecções estreptocócicas são oportunistas. As infecções são primárias, como no garrotilho, ou secundárias, como na pneumonia estreptocócica após infecção viral. Os linfonodos, o trato genital ou as glândulas mamárias podem tornar-se infectados. As septicemias neonatais estão frequentemente relacionadas a infecções no trato genital materno. Streptococcus pyogenes, um patógeno humano, eventualmente causa mastite bovina, tonsilite em cães e linfangite em potros. Os estreptococos de origem animal têm significado limitado em saúde pública, com exceção da S. suis, que pode causar infecções graves em indivíduos que trabalham com suínos. Os estreptococos do grupo B, que causam doença em crianças, parecem ser diferentes das linhagens animais desse grupo. Streptococcus canis, um patógeno importante em cães,está associado à septicemia neonatal, muitas condições supurativas e, recentemente, à síndrome do choque tóxico (Miller et al., 1996). Garrotilho, meningite estreptocócica suína e mastite estreptocócica bovina são infecções específicas importantes. As vacinas para controle de infecções estreptocócicas são geralmente ineficazes. As consequências clínicas das infecções estreptocócicas estão relacionadas na Tabela abaixo. MASTITE ESTREPTOCÓCICA BOVINA Streptococcus agalactiae, S. dysgalactiae e S. uberis são os principais patógenos envolvidos na mastite estreptocócica. Enterococcus faecalis, S. pyogenes e S. zooepidemicus são menos frequentemente isolados a partir de casos de mastite. • Streptococcus agalactiae coloniza ductos galactóforos e produz infecção persistente com períodos de mastite aguda. • Streptococcus dysgalactiae, encontrado na cavidade oral, no trato genital e sobre a pele da glândula mamária, causa mastite aguda. • Streptococcus uberis, um habitante normal da pele, das tonsilas e da mucosa vaginal, é a principal causa de mastite aguda, geralmente sem sinais sistêmicos. Diagnóstico • Sinais clínicos incluem inflamação do tecido mamário e coágulos no leite. • Amostras de leite devem ser cuidadosamente coletadas para evitar contaminação. • Amostras devem ser cultivadas em ágar-sangue, em meio de Edwards e em ágar MacConkey e incubadas aerobiamente a 37°C por 24 a 48 horas. • A diferenciação de estreptococos produtores de mastite está resumida na Tabela abaixo. • Testes de fermentação de açúcares. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO: 1- Cite 4 características comuns aos Staphylococcus e Streptococcus. 2- Como podemos diferenciá-los? 3- Cite os fatores de virulência do gênero Staphylococcus. 4- Quais os meios de diagnóstico de infecções causadas por esse gênero? 5- Cite os fatores de virulência do gênero Streptococcus. 6- Qual a principal infecção de interesse veterinário causada por esse gênero? CAPÍTULO IV – ORDEM RICKETTSIALES Definição A ordem Rickettsiales compreende os microrganismos também conhecidos por riquétsias. Esses agentes são bactérias caracterizadas pela disseminação por vetores principalmente das classes Insecta e Arachnida, do filo Arthropoda, e pelo parasitismo intracelular obrigatório. Estruturalmente, formam cocobacilos (0,3 × 1,5 μm) Gram-negativos, apresentam parede celular composta de lipopolissacarídio e podem estar agrupadas em pares, agrupadas em cadeias ou isoladas. Essas bactérias não apresentam flagelos, com exceção da Rickettsia prowazekii, causadora do tifo. O seu invólucro típico consiste em três camadas: uma membrana citoplasmática mais interna, uma parede celular rígida e uma membrana externa com composição química típica e com aspecto trilaminar. Na parede celular, há invaginações intracitoplasmáticas contendo ribossomos. A multiplicação celular somente ocorre por divisão binária dentro da célula hospedeira. Apesar de terem metabolismo próprio para o seu desenvolvimento, esses microrganismos têm um sistema transportador de ATP que utiliza a energia do hospedeiro. Classificação Segundo Quinn (2011), a ordem Rickettsiales tem duas famílias: Anaplasmataceae e Rickettsiaceae. Na família Anaplasmataceae, estão albergados os gêneros: Aegyptianella, Anaplasma, Ehrlichia e Neorickettsia. Na família Rickettsiaceae, encontra-se o gênero Rickettsia. De acordo com Rar e Golovljova (2015), consideram-se pertencentes à família Anaplasmataceae os gêneros: Anaplasma, Ehrlichia, Neorickettsia, Wolbachia e o grupo denominado ‘‘Candidatus” Neoehrlichia spp. Segundo Rikihisa (2011), nessa família também foi incluído o novo grupo Candidatus “Xenohaliotis” spp., que acomete moluscos marinhos. Os principais vetores de Anaplasma spp., Ehrlichia spp. e Rickettsia spp. são os carrapatos ixodídeos. Já os ácaros argasídeos constituem o grupo de vetores de Aegyptianella spp. Neorickettsia spp. são veiculados por helmintos, e Wolbachia spp. por invertebrados endossimbiontes. FAMÍLIA ANAPLASMATACEAE Gênero Anaplasma (pronúncia: Anaplasma) O gênero Anaplasma reúne agentes causadores de importantes enfermidades em Medicina Veterinária e Saúde Pública. Entre essas doenças, destaca-se a anaplasmose bovina, causada por Anaplasma centrale (A. centrale) e Anaplasma marginale (A. marginale), transmitidos por carrapatos. Essa enfermidade acomete os rebanhos bovinos brasileiros, determinando grandes perdas econômicas. Na Saúde Pública, destaca-se a ocorrência da anaplasmose granulocítica, que é uma doença zoonótica emergente causada por Anaplasma phagocytophilum (A. phagocytophilum), sendo observada a infecção em humanos e animais. A. centrale e A. marginale são os principais agentes etiológicos da anaplasmose bovina. Essa enfermidade infecciosa e não contagiosa é caracterizada por anemia progressiva associada à presença de corpúsculos de inclusão intraeritrocitários. Geralmente, os animais adquirem a infecção quando jovens, apresentando parasitemia moderada, com decréscimo significativo do volume globular. Os animais que se recuperam permanecem portadores da infecção, apresentando baixa parasitemia. Além de morte, a doença pode provocar aborto, diminuição do desenvolvimento e decréscimo da produção de leite. No Brasil, a anaplasmose bovina tem sido considerada uma das doenças de maior importância na pecuária, constituindo um dos fatores limitantes à bovinocultura de corte e leite. Anaplasma platys determina um quadro de trombocitopenia cíclica em cães. Na ordem Rickettsiales, é a única espécie conhecida por infectar plaquetas. Rhipicephalus sanguineus é considerado o vetor primário de A. platys. A infecção foi registrada em vários países e os principais sinais clínicos incluem febre, depressão e anorexia. Essa infecção é geralmente leve ou assintomática, mas pode ser fatal. As principais espécies são (Tabela 18.1): Anaplasma centrale A. marginale A. bovis A. ovis A. phagocytophilum A. platys. Localização Esses microrganismos podem ser encontrados principalmente no interior dos eritrócitos; alguns infectam os leucócitos (sobretudo nos monócitos e neutrófilos), e outros as plaquetas: A. marginale, A. centrale e A. ovis são encontrados no interior dos eritrócitos. A. bovis e A. phagocytophilum infectam os leucócitos, sendo que A. bovis tem preferência por monócitos e A. phagocytophilum, por neutrófilos A. platys infecta as plaquetas. Características morfológicas Anaplasma spp. é uma bactéria Gram-negativa, pleomórfica ou com formato de coco, envolvida por duas membranas, com tamanho de 0,3 a 1,3 μm de diâmetro. Está localizada em vacúolos intracitoplasmáticos de células sanguíneas, sendo que A. marginale, A. centrale e A. ovis formam pequenos corpúsculos arredondados ou ovalados no interior dos eritrócitos. Alguns autores têm referido que A. marginale localiza-se próximo à periferia dos eritrócitos, enquanto A. centrale, próximo ao centro da célula. As espécies A. bovis e A. phagocytophilum são descritas no interior de leucócitos, formando estruturas similares às mórulas, sendo que A. bovis infecta os monócitos e A. phagocytophilum, os neutrófilos. A. platys forma inclusões intracitoplasmáticas com aspecto de mórulas no interior das plaquetas. Ciclo biológico A transmissão de Anaplasma spp. ocorre por meio de vetores artrópodes ou por iatrogenia. Os carrapatos são considerados os únicos vetores biológicos, nos quais a bactéria multiplica-se abundantemente nas células intestinais, formando colônias. O ciclo biológico de A. marginale está bem estabelecido, sendo o carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus o principal transmissor, seja por transmissão transestadial, seja por transmissão intraestadial (da larva para ninfa e da ninfa para adulto). Comoé um carrapato monoxeno, a transmissão transovariana (de ovos para a nova geração de carrapatos) foi, durante muito tempo, considerada o meio mais importante. Entretanto, trabalhos mais recentes têm demonstrado que essa transmissão não ocorre com alta frequência em condições naturais. Os carrapatos machos têm maior importância na epidemiologia por apresentarem vida mais longa e maior agilidade, sendo mais viáveis para a transmissão da doença. Os mosquitos (Culex spp. E Aedes spp.) e moscas hematófagas (tabanídeos e Stomoxys) são descritos como os vetores mecânicos. Todo material que tem contato com sangue de animais infectados pode constituir fonte de infecção. Nas infecções por A. marginale, A. centrale e A. ovis, o microrganismo presente na corrente sanguínea penetra no eritrócito, forma um vacúolo e multiplica-se por divisão binária, o que resulta em um corpúsculo de inclusão. Os organismos saem dos eritrócitos parasitados e infectam outros eritrócitos, promovendo intensa anemia. Os eritrócitos infectados são ingeridos pelo vetor (carrapato) e transmitidos para outros bovinos. A transmissão também pode ocorrer por meio da utilização de material contaminado, como seringas e/ou material cirúrgico. A infecção fetal pode acontecer por meio da passagem transplacentária. A. platys é transmitido pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus (R. sanguineus) e realiza o ciclo biológico intraplaquetário, determinando alterações que cursam com trombocitopenia cíclica no hospedeiro. Período de incubação Geralmente, o período de incubação de Anaplasma spp. dura em torno de 4 semanas. Importância em Medicina Veterinária e Saúde Pública A anaplasmose bovina é causada pelas espécies A. marginale e A. centrale. Essa enfermidade produz uma reação febril aguda, acompanhada por grave anemia hemolítica, que pode destruir até 70% dos eritrócitos sanguíneos em 1 semana após o período de incubação. A doença aparece clinicamente por volta de 40 dias pós-infecção. A anaplasmose bovina é uma enfermidade que assume importância nas criações pecuárias mundiais. A enfermidade em ruminantes caracteriza-se por febre (40 a 41°C), fraqueza, anemia grave, icterícia, palidez das mucosas, urina de cor acastanhada, aborto, hiperexcitabilidade, diminuição da produção de leite e perda de peso, podendo evoluir para morte. Não há hemoglobinúria, pois as hemácias são destruídas no baço e no fígado, e não na corrente sanguínea. A morte de animais com anaplasmose aguda geralmente está associada à gravidade da anemia, à redução de potássio plasmático e à acidose metabólica. O número de vetores no meio ambiente é um importante fator que afeta a epidemiologia da tristeza parasitária bovina. Em áreas endêmicas, onde a população de vetores é alta e presente durante todo o ano, a maioria dos animais jovens é infectada antes dos 9 meses de vida. Nessas áreas, não são esperados surtos da doença ou mortalidade de bovinos adultos, pois os animais estão na fase de portadores. Essa situação é denominada de estabilidade enzoótica. Em áreas onde há flutuações na população de vetores, por condições climáticas desfavoráveis, manejo inadequado ou falhas nas medidas de controle dos vetores, os animais jovens não se infectam e, quando adultos, ao entrarem em contato com os agentes, apresentam a doença clínica aguda, com altas taxas de mortalidade. Essa situação é denominada de instabilidade enzoótica. Os bezerros provenientes de mães imunizadas recebem proteção temporária por anticorpos maternos (colostro), o que previne a anaplasmose. Essa proteção pode decrescer a partir do 30° dia de vida; entretanto, dependendo da qualidade do colostro fornecido pela mãe e da quantidade absorvida pelo bezerro, essa imunidade pode durar até o 3º ou 4º mês de vida. A. ovis parasita principalmente pequenos ruminantes (ovinos e caprinos). A ocorrência desse agente foi relatada na maioria das regiões do mundo, tanto em explorações agrícolas quanto em ruminantes selvagens. Similarmente a A. marginale e A. centrale, essas bactérias infectam os eritrócitos, determinando a anemia dos animais acometidos. No caso de A. ovis, a maioria das inclusões bacterianas encontra-se na porção central ou marginal do eritrócito do hospedeiro. Os principais sinais clínicos incluem depressão, debilidade, redução na produção, perda de peso corporal, febre e anemia progressiva. A infecção também pode ser potencialmente letal. A gravidade da doença depende da idade, da raça e do estado nutricional e sanitário dos animais. Geralmente, os episódios de doença aguda são descritos associados aos fatores de estresse, coinfecção com outros patógenos, temperaturas elevadas, vacinação, tratamentos antiparasitários, infestações intensas de carrapatos e trânsito animal. A. platys é a única espécie de Anaplasma conhecida por infectar plaquetas e determina trombocitopenia cíclica em cães. Rhipicephalus sanguineus é considerado o vetor primário desse agente, contudo outros carrapatos foram descritos como possíveis vetores. A infecção foi registrada na África, na América, na Austrália, na Ásia e na Europa. Os sinais clínicos da doença incluem febre, depressão, hiporexia, anorexia, enfraquecimento do animal, letargia, desconforto respiratório, secreção ocular purulenta, esplenomegalia e hiperqueratose do focinho. Essa infecção é geralmente leve ou assintomática, mas pode ser fatal quando cães infectados sofrem algum tipo de hemorragia, como após acidentes ou durante uma cirurgia. Cães oriundos de regiões não endêmicas, quando infectados por A. platys, podem desenvolver quadros clínicos graves da enfermidade, o que pode levá-los à morte. Diagnóstico A suspeita clínica deve ser confirmada pelo diagnóstico definitivo, que é realizado pela identificação do agente etiológico por técnicas laboratoriais. O exame recomendado é o esfregaço sanguíneo, com sangue capilar corado pelo método de Giemsa. Na microscopia óptica, observa-se a presença de organismos pequenos e redondos de cor vermelha no interior das células sanguíneas. No caso de A. marginale, A. centrale e A. ovis, observam-se inclusões intracitoplasmáticas nos eritrócitos e, em infecções por A. bovis e A. phagocytophilum, inclusões intracitoplasmáticas (mórulas) podem ser vistas em leucócitos; no entanto, A. bovis é encontrado em monócitos, e A. phagocytophilum no interior de neutrófilos. Os testes sorológicos e moleculares também são empregados para diagnosticar a infecção por Anaplasma spp. Nesse sentido, diversas metodologias têm sido desenvolvidas; por exemplo, testes imunoenzimáticos, como ELISA, teste de fixação de complemento, aglutinação em látex, imunofluorescência indireta, Western blot, reação em cadeia da polimerase (PCR, do inglês polymerase chain reaction) e sequenciamento de DNA. Controle O controle das infecções por Anaplasma spp. inclui medidas de biosseguridade. Entre as principais medidas, destacam-se: Isolamento dos animais na propriedade. Estabelecimento da quarentena; a higienização das instalações, equipamentos, instrumentos perfurocortantes (p. ex., instrumentais cirúrgicos, seringas e agulhas) e fômites para evitar contaminações. Uso de medicamentos para profilaxia, assim como o emprego de vacinas Implementação de tratamento curativo com o uso de quimioterápicos Instauração de um programa de controle de animais sinantrópicos (especialmente os vetores, com uso de acaricidas ou inseticidas) Controle do tráfego de animais, veículos e pessoas, especialmente para evitar a introdução de animais de áreas não endêmicas em áreas endêmicas Monitoramento das ações, com constantes auditorias e atualizações sanitárias A implantação de um programa de educação continuada Elaboração de um plano de contingência – prover um rápido esclarecimento (diagnóstico) e uma rápida contenção ou solução para o problema de saúde do rebanho em questão. FAMÍLIA
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