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HANSENÍASE DEFINIÇÃO ➢ É uma infecção crônica, granulomatosa, curável, que tem como agente etiológico o Mycobacterium leprae. ➢ Conhecida também como lepra, ou mal de Lázaro. ➢ Acomete principalmente pele e/ou nervos periféricos. ➢ Evolui de maneira crônica, podendo apresentar agudizações (reações). ➢ Potencialmente incapacitante, porém com tratamento adequado há cura. ➢ É uma doença infectocontagiosa de NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA! EPIDEMIOLOGIA ➢ Endêmica nos países tropicais, especialmente nos subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. ➢ Problema de saúde pública no Brasil (>1/10.000 hab). ➢ Prevalência e detecção de novos casos são maiores na região Norte, Nordeste e Centro-Oeste. ➢ 80% dos casos novos ocorrem nas classes sociais menos favorecidas. ➢ Não há predileção por sexo. ➢ Ocorre em todas as faixas etárias, porém com maior número de casos dos 30-59 anos. ➢ Nº de casos novos em <15 anos → principal indicador para monitorar a endemia. AGENTE ETIOLÓGICO ➢ Mycobacterium leprae (ou bacilo de Hansen). ➢ O micro-organismo tem elevada infectividade, porém baixa patogenicidade, isto é, poucos indivíduos infectados adoecem. ➢ Multiplicação dos bacilos se dá de forma muito lenta. ➢ Cora-se pelo método de Ziehl-Neesen (ZN), e não descora quando lavado com álcool e ácido – Bacilo Álcool Ácido Resistente (BAAR). ➢ Pelo método de Gram, é Gram-postivo. ➢ Parasita intracitoplasmático de macrófagos (parasita intracelular obrigatório). ➢ Não cresce em culturas. ➢ Os bacilos podem ser observados isolados ou em grupamentos característicos, chamados globias (no exame bacterioscópico) – dispostos de modo semelhante a cigarros em um maço, organizados paralelamente. ➢ Infecta principalmente macrófagos e células de Schwann. ➢ Multiplica-se no SN periférico e na pele. ➢ Precisa de temperatura mais fria (27-30°C) para sobreviver e proliferar, justificando o maior acometimento de áreas superficiais como a pele, nervos periféricos, testículos e vias aéreas superiores e menor acometimento visceral. ➢ PGL-1 (glicolipídio fenólico) – antígeno exclusivo do BH e dominante em sua parede celular, responsável pela alta especificidade da resposta imune humoral do hospedeiro. TRANSMISSÃO ➢ Vias aéreas superiores dos pacientes bacilíferos. ➢ Eventualmente, o contágio pode ocorrer por áreas erosadas da pele. ➢ Necessita de contato íntimo e prolongado com o doente bacilífero. ➢ Acredita-se que indivíduos infectados, mesmo os que não desenvolverão a doença, possam apresentar um período transitório de eliminação nasal de bacilos. ➢ Período de incubação varia de 2-7 anos. PATOGENIA ➢ O M. leprae é necessário, mas não suficiente para causar a doença. ➢ Doença de caráter complexo – multigênica e multifatorial. ➢ Fator N – fator relacionado com a imunidade natural à hanseníase, que existe congenitamente em 80-95% das pessoas. ➢ As diferentes manifestações clínicas da hanseníase estão diretamente correlacionadas com o perfil de resposta imune do hospedeiro ao BH. POLO TUBERCULOIDE - Resposta TH1. - Resposta imune celular. - Produção de citocinas que estimulam a ativação macrofágica. - Macrófagos se transformam em células epitelioides, capazes de eliminar o M. leprae. - Níveis de ac baixos. POLO VIRCHOWIANO - Resposta TH2. - Resposta imune humoral. - Produção de citocinas que estimulam linfócitos B e mastócitos e diminuem a ativação macrofágica. - Macrófagos não conseguem destruir o M. leprae, transformando-se em células de Virchow. - Aumento dos níveis de anticorpos anti- PGL1. DEFINIÇÃO DE CASO DE HANSENÍASE ➢ Presença de 1 ou mais dos seguintes: ➢ Lesão(ões) e/ou área(s) da pele com alteração de sensibilidade. ➢ Acometimento de nervo(s) periférico(s), com ou sem espessamento, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas. ➢ Baciloscopia+ de esfregaço intradérmico. CLASSIFICAÇÕES ➢ Classificação de Madrid (1953): ➢ Indeterminado. ➢ Tuberculoide. ➢ Dimorfo. ➢ Virchowiano. ➢ Classificação de Ridley e Jopling (1962): ➢ Tuberculoide. ➢ Dimorfo-tuberculoide. ➢ Dimorfo-dimorfo. ➢ Dimorfo-virchowiano. ➢ Virchowiano. ➢ Classificação operacional OMS (1981): baseada no número de lesões de pele (critério clínico). ➢ Paucibacilares (até 5 lesões de pele). ➢ Multibacilares (>5 lesões de pele). ➢ Baciloscopia+ (independente do nº de lesões). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ➢ O quadro clínico varia em função da resposta imunológica do paciente ao agente etiológico. ➢ Pacientes com imunidade celular preservada apresentam formar clínicas de resistência, próximas ao polo tuberculoide. ➢ Pacientes com imunidade celular comprometida ou inexistente ao BH vão desenvolver formas próximas ao polo virchowiano. ➢ Entre esses 2 extremos, está o grupo dimorfo (borderline), que têm características clínicas dos 2 polos (instabilidade imunológica). ➢ FORMA INDETERMINADA: ➢ É a forma inicial da doença. ➢ Macha hipocrômica ou eritemato- hipocrômica com hipoestesia ou anestesia. ➢ Uma ou poucas lesões. ➢ As bordas da lesão podem ser bem ou mal delimitadas. ➢ Poucos sintomas. ➢ Diagnóstico – ausência ou diminuição de sensibilidade térmica, dolorosa ou tátil. ➢ Térmica → dolorosa → tátil. ➢ FORMA TUBERCULOIDE: ➢ Pápula ou placa de tamanho variado e boa delimitação, róseo-eritematosa ou eritêmato-acastanhada. ➢ Lesão(ões) circinada(s) ou anular(es). ➢ Uma ou poucas lesões. ➢ Comprometimento neural é intenso e precoce (destruição dos filetes nervosos). ➢ Distúrbios sensitivos nas lesões são acentuados, assim como alterações de sudorese e vasomotoras. Pode haver alopecia parcial ou total. ➢ Ocasionalmente, “lesões tuberculoides em raquete” – pequenos nervos espessados que parecem emergir das placas. ➢ Resposta imune celular eficiente. ➢ Paucibacilar. ➢ Matsuda + ➢ Lesões bem delimitadas. Lesão tuberculoide Lesões em forma de raquete ➢ FORMA DIMORFA (BORDERLINE): ➢ Lesões infiltradas de cor eritematosa ou ferruginosa. ➢ Lesões anulares do tipo “queijo suíço” – a área central é hipocrômica ou aparentemente normal; a borda interna da lesão foveolar é bem delimitada, enquanto a externa é espessada, eritemato- pigmentada e mal delimitada, até misturar- se com a pele aparentemente normal. ➢ Distribuição assimétrica. ➢ Comprometimento neural significativo e assimétrico. ➢ Nessa variedade, há reações do tipo 1 com certa frequência. ➢ FORMA VIRCHOWIANA: ➢ Lesões cutâneas eritemato-infiltradas, com limites externos mal delimitados. ➢ Podem surgir lesões sólidas – nódulos e/ou pápulas. ➢ Em geral são simétricas. ➢ Acometem todo o corpo. ➢ Anestesia em luva e bota. ➢ Polineurite simétrica. ➢ Madarose ciliar e supra-ciliar. ➢ Alopécia parcial ou total nos antebraços, pernas e coxas. ➢ Pavilhões auriculares frequentemente tão espessados em graus variáveis. ➢ Faceis leonina – numerosas lesões infiltradas na face. ➢ Resposta imune celular deficiente. ➢ Multibacilar. ➢ Matsuda – ➢ Lesões mal delimitadas. ➢ FORMA NEURAL PURA: ➢ Não há lesões dermatológicas. ➢ Sintomas parestésicos, hipo ou anestesia, e pode evoluir para comprometimento motor. ➢ Há espessamento neural (troncos nervosos). ➢ O acometimento neurológico ocorre apenas nos nervos periféricos, podendo afetar as terminações nervosas sensitivas, motoras e autonômicas da pele. ➢ Nervos ulnar, mediano e fibular são os mais afetados.➢ N. ulnar – anestesia, anidrose e distúrbios circulatórios na borda interna das mãos e do 4°/5° dedo. Paresias ou paralisias de quase toda a musculatura intrínseca das mãos e garra ulnar. ➢ N. mediano – anestesia, anidrose e distúrbios circulatórios na borda externa das mãos e 1º/2º/3° dedo. Paresias ou paralisias dos músculos intrínsecos não inervados pelo n. ulnar. ➢ N. fibular – alterações da sensibilidade e distúrbios autonômicos na face lateral da perna e dorso do pé. É o nervo que produz a dorsiflexão do pé, quando lesado provoca o “pé caído”. ➢ Neurite – pode ser muito dolorosa e levar a incapacidades. REAÇÕES HANSÊNICAS ➢ Podem ocorrer antes, durante ou após a instituição do tratamento com PQT. ➢ Podem ocorrer em qualquer forma clínica da doença, exceto na hanseníase indeterminada. ➢ REAÇÃO TIPO I (REAÇÃO REVERSA): ➢ É uma reação mediada por células → hipersensibilidade celular tardia (tipo IV). ➢ Piora das lesões cutâneas já existentes ou aparecimento de novas lesões. ➢ Placas eritemato-edematosas e descamativas. ➢ Dor espontânea ou à palpação dos nervos cutâneos periféricos (neurite aguda). ➢ Perda progressiva da função neural (neurite silenciosa). ➢ Ocorre com maior frequência nas formas DIMORFAS. ➢ Pode haver edema de extremidades assimétrico. ➢ REAÇÃO TIPO II (ERITEMA NODOSO HANSÊNICO): ➢ Ocorre por formação de complexos imunes (hipersensibilidade do tipo III). ➢ Acomete pacientes virchowianos e DV. ➢ Pápulas, nódulos, placas eritematosos ou eritemato-violáceos, dolorosos. ➢ Predominam nas superfícies extensoras dos membros e na face. ➢ Sintomas sistêmicos – pode ocorrer febre, mal estar, hiporexia, perda de peso, neuropatia, orquiepididimite, glomerulonefrite, miosite, artralgia, artrite, iridociclite, uveíte. ➢ FENÔMENO DE LÚCIO: ➢ É uma complicação muito rara que se apresenta como vasculopatia necrosante súbita em pacientes com hanseníase virchowiana não tratada de longa data ou com Hanseníase de Lúcio. ➢ Hanseníase de Lúcio: ou também chamada de “lepra bonita”, por não causar deformidade na fisionomia do paciente, que mantém boa aparência. É uma variante da forma virchowiana, multibacilar, em que há infiltração, eritema e alopecia difusa da pele, sem pápulas e nódulos. O índice baciloscópico é alto e o comprometimento visceral é frequente. ➢ Definido por alguns autores como um tipo de reação hansênica tipo II. ➢ Caracteriza-se por máculas eritemato- purpúricas (necróticas) de configuração variável que evoluem para escaras. ➢ As lesões podem ser dolorosas. ➢ É de natureza trombótico-oclusiva. DIAGNÓSTICO ➢ Principalmente CLÍNICO (exame dermatoneurológico) e epidemiológico. ➢ Palpação dos nervos periféricos para avaliar espessamento. ➢ Avaliação da sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. ➢ Baciloscopia obtida de pelo menos 4 lugares. ➢ Biópsia da pele (histopatologia): ➢ HI – inespecífica, raros bacilos são vistos em apenas 7% dos casos. ➢ HT – infiltrado granulomatoso com numerosas células epitelióides. Pode-se notar invasão e destruição dos filetes nervosos. Raramente são identificados BAAR. ➢ HV – infiltrado contendo células de Virchow, plasmócitos e linfócitos. Bacilos e globiais estão presentes em 100% dos casos. ➢ HD – associação de infiltração virchowiana e granuloma tuberculoide. ➢ Eletroneuromiografia e biópsia do nervo periférico (nas formas neurais primárias). ➢ Reação de Mitsuda (injeção intradérmica de suspensão de bacilos mortos; permite avaliar o grau e intensidade da resposta imunológica celular ao M. leprae). ➢ Exame sorológico – dosagem de anti- PGL1 (níveis mais elevados são encontrados em virchowianos). ➢ PCR – aumenta a acurácia diagnóstica; mais utilizado em pesquisas. TRATAMENTO ➢ Poliquimioterapia (PQT): ➢ Paucibacilar – Rifampicina e Dapsona. ➢ Multibacilar – Rifampicina, Dapsona e Clofazimina. ➢ Reação hansênica tipo I: ➢ Prednisona (continuar esquema PQT). ➢ Amitriptilina, Carbamazepina para dor neuropática. ➢ Reação hansênica tipo II: ➢ Talidomida (podendo ser associada à prednisona; também não interrompe PQT). EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO ➢ Doença com bom prognóstico se adequadamente tratada. ➢ Apresenta potencial incapacitante (lagoftalmia, garra ulnar, mal perfurante plantar). ➢ O risco de incapacidade está relacionado com os episódios reacionais. PROFILAXIA ➢ Busca ativa dos contactantes (todos que residam ou residiram com o paciente nos últimos 5 anos). ➢ BCG intradérmica (efeito protetor varia de 20-80%). ➢ MS recomenda aplicação de 2 doses de BCG, com intervalo de 6 meses nos contatos que não possuem cicatriz de BCG (se 1 cicatriz, dar somente 1 dose).
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