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PROVA AMERICA LATINA

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1. CONTEXTUALIZE HISTORICAMENTE A CHAMADA “ONDA PROGRESSISTA SUL-AMERICANA”. INTEGRE EM SUA ANÁLISE ELEMENTOS QUE AUXILIE A ENTENDER O ALCANCE E OS LIMITES DESTE PROCESSO, VISTO EM PERSPECTIVA HISTÓRICA AMPLIADA. UTILIZE EXEMPLOS ABORDADOS NO CURSO PARA ILUSTRAR SEU TEXTO, QUE DEVE NECESSARIAMENTE CONTER AS PALAVRAS: DITADURA; NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO; NEOLIBERALISMO.
Em uma conjuntura e contexto de Guerra Fria, globalização, financeirização e internacionalização do capital e difusão da racionalidade e prática neoliberal, diferentemente da nova janela de oportunidades que se esperava que se abrisse incialmente, a América Latina foi levada e se prendeu, segundo Plínio de Arruda Sampaio Jr., a uma reversão neocolonial. O neoliberalismo, cuja lógica concorrencial foi desenvolvida desde a crise de 29, porém atingindo o seu maior grau de difusão na América Latina com o Consenso de Washington, minou os projetos nacional-desenvolvimentistas dos países periféricos, em especial os da América Latina e o próprio poder do Estado nacional de controlar o capital. Ao mesmo tempo em que as pequenas elites econômicas e políticas dos Estados se apressam para adentrar a corrida do capital internacional, um alto custo político, social e cultural é forçado nas camadas populares dos países: instabilidade política e econômica, desemprego estrutural, inflação, ampliação das desigualdades sociais, reversão e recolhimento de direitos sociais, trabalhistas, econômicos e culturais conseguidos à muita custa, etc. Um amplo processo de desindustrialização e crises de identidade nacionais acentuam uma divisão internacional do trabalho que dá poucas chances dos Estados da América Latina se tornarem países centrais para o capitalismo, levando uma elite econômica e política, que conseguem usufruir dos benefícios desse processo a transformarem o Estado para que o mesmo faça a manutenção dessa nova ordem em prol de seus interesses acima dos da própria população dos Estados. Assim, a desigualdade entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento foi acentuada, revitalizando algumas práticas consideradas superadas, como a exploração do trabalho e a depredação do meio ambiente. Porém não é que o Estado tenha se enfraquecido, pelo contrário, ele se torna uma estrutura que garante e protege o neoliberalismo, porém a sua atuação pública para a proteção e garantia de direitos de sua própria população é que enfraquece, deteriorando assim o modo e padrão de vida das populações. 	
A história da América Latina é marcada por regimes coloniais, patrimonialistas, oligárquicos e ditaduras que ocorreram na maior parte dos países em diferentes graus, mas sempre repressivos. A democracia como valor no imaginário popular e resistente ao zeigeist foi conquistada de forma exaustiva, porém pela sua jovialidade ela ainda demonstra fragilidade. Ainda assim, a luta política em torno desses valores e instituições nos Estados da América Latina é um fator marcante, e essa nova onda neoliberal e conservadora também trouxe consigo uma nova onda de reação progressista. 
A partir do final dos anos 1990, o neoliberalismo deu seus primeiros sinais de esgotamento, manifestado, por exemplo, pelo abandono da âncora cambial e desvalorização do real no Brasil em 1999, ou pela crise política e econômica na Argentina em 2001 e 2002 – sem falar da piora dos indicadores sociais na região. Em contraste com a onda neoliberal que atingiu a região em 1990, a partir de 1998 e no começo do século XXI uma série de governos progressistas de esquerdas são eleitos em mais de 10 países na América Latina: Hugo Chavez com o Movimento V Republica na Venezuela, Ricardo Lagos em 2000 no Chile, Lula no Brasil em 2002, Nestor Kirchner em 2003 na Argentina, em 2004 Vazquez no Uruguai, Evo Morales com o Movimento ao Socialismo na Bolívia, Rafael Correa no Equador, Daniel Ortega na Nicarágua e Fernando Lugo no Paraguai. 
Evento inédito na América Latina, o sucesso disto não é encontrado numa formula, pois, cada caso contém sua especificidade, porém, alguns padrões podem ser verificados que ajudaram o êxito dessa onda, entre eles podemos citar a manutenção da democracia como valor; acúmulos eleitorais; crises, sejam ela de viés econômico, político, cultural ou social; a quebra de uma hegemonia enraizada anteriormente, etc.
Entre as semelhanças dentro desses governos podemos destacar que a maior parte deles carregam consigo um viés “reformista”, pois todos eles chegam ao poder em vias democráticas, mas não buscam a superação definitiva do modelo capitalista e do neoliberalismo. Ao mesmo tempo, propõem formas de governança com o Estado no centro da esfera pública com novos métodos na criação de políticas públicas para a crise do neoliberalismo. 
Na dimensão da natureza das instituições podemos separar os governos de esquerdas em dois pontos, (1) na esquerda refundadora, com um viés mais heterodoxo, buscava mudar o papel das instituições e sua relação com o mercado, constituem empresas estatais novas, e renacionalizam empresas privadas que foram privatizadas, e com intervenções macroeconômicas diretas como regulação do câmbio e de preços atuam na economia, assim como nacionalizam recursos rentáveis como os hidrocarbonetos na Venezuela. Já os (2) governos de esquerda renovadores, buscam intervir na economia com mecanismos de regulação, e políticas de apoio ao setor produtivo e infraestrutura interna, e por fim, reconhecem as empresas já privatizadas. 
Já na dimensão de políticas públicas, os governos de esquerdas eleitos partilham de algumas iniciativas e conquistas em comum, entre elas podemos citar, a forte aplicação de políticas sociais, mas não como promotores de direitos universalistas, mas sim num viés de politica de governo temporário, como exemplo, a transferência de renda, que fora uma medida que se iniciou nos governos neoliberais, e desse modo, foram mantidos e ampliados nos governos de esquerda, podemos destacar o bolsa família. Assim, o que corrobora este argumento são os indicadores sociais que nos mostram a diminuição gradativa de questões como a pobreza e miséria nos países latino-americanos. Mais uma semelhança entre os países é a maior participação da sociedade civil nos governos. Se estabeleceu diversos aparatos de participação social, transparência e de controle, como o caso do Brasil com os controles setoriais nacionais de participação, e as conferencias setoriais nacionais, estas que estão previstas na constituição de 88, porém é notável que apenas no governo do ex-presidente Lula, estas foram reforçadas e usadas para o fomento de diálogo e participação social. Como exemplo, podemos citar também os Conselhos Comunais na Venezuela. Por fim, os mecanismos de integração regional foram também um marco dos regimes progressistas na América do Sul. Como uma medida de embate ao controle regulatório do FMI, e os alinhamentos com medidas assimétricas com os países do centro – se aqui levarmos em conta a teoria da dependência – a integração regional fez parte da onda rosa; Após o inicio dos governos, a Aliança de Livre Comércio das Américas (ALCA) foi bloqueada como tentativa de integração continental, e os governos se voltaram aos projetos já existentes como o Mercado Comum do Sul, houve forte crítica ao caráter puramente comercial no ínicio do bloco, entretanto, com o esgotamento do neoliberalismo e o advento dos governos progressistas se inicia uma maior ampliação do tema do arranjo regional, como o intercâmbio de políticas sociais, integração cidadão, pontos culturais, entre outros. Cabe também o destaque a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) como uma integração mais política que comercial para o fomento das articulações de posições comuns. 
A partir destas políticas podemos destacas os ganhos relativos gerados, como uma diminuição da desigualdade social, no que tange a redução da miséria, a maioria dos países conseguir diminuir seus índices de miséria e fome, como exemplo o Brasil que conseguiu sair do mapa da fome no mundo da ONU, outro exemplo seria o Uruguai quehoje se beneficia de um longo período de estabilidade econômica. Entre outros exemplos, cabe aqui destacar os efeitos mínimos ou quase inexistentes da crise econômica mundial a curto prazo, como no caso do Brasil, Equador e Bolivia. 
Quando a crise econômica global (ainda não debelada totalmente) começou a se manifestar, poder-se-ia cogitar que ela afetaria o desempenho e a avaliação dos governos progressistas, e seria o estopim da reversão dessa tendência regional. Em suma, a crise poderia levar a cidadania a punir os governantes de turno (mesmo que não tivessem responsabilidade com relação a ela, na medida em que seu epicentro se localizou nos países centrais), e incrementaria a instabilidade institucional da região. No entanto, não foi o que ocorreu. A crise global não afetou tão fortemente a América Latina quanto se poderia esperar quando ela eclodiu em 2008. Ela efetivamente se manifestou na região, especialmente nos primeiros meses de 2009. No entanto, grande parte dos países latino-americanos pôde superá-la após a implantação de diversas medidas anticíclicas. Países como a Bolívia e o Equador não chegaram sequer a entrar em recessão, enquanto outros como o Brasil retomaram o crescimento após um período curto de recessão.
2. CONTEXTUALIZE A ELEIÇÃO DE ANDRÉS MANUEL LOPEZ OBRADOR NA HISTÓRIA MEXICANA. QUAIS OS PRINCIPAIS DESAFIOS QUE O GOVERNO ENFRENTARÁ?
O México era liderado por Enrique Peña Nieto, 51 anos. Eleito em 2012, Nieto viu a sua aprovação desabar nos últimos meses em razão dos constantes escândalos de corrupção e os crescentes níveis de violência, uma realidade que atormenta a população de todo o país. 
Embora tenha tentado se posicionar como um líder jovem (assumiu a presidência aos 45 anos), e reformador, Nieto é do Partido Revolucionário Institucional (PRI), partido que governou o país por décadas em gestões manchadas por irregularidades e violações de direitos humanos.
O presidente eleito no México, Andrés Manuel López Obrador, de 64 anos, levará a esquerda à presidência do país quebrando com o controle do Partido Revolucionário Institucional (PRI), de Enrique Peña Nieto, e outros partidos conservadores. Conhecido pela sigla de suas iniciais, AMLO venceu com a promessa de um governo "austero, sem luxos ou privilégios", de combate firme à corrupção e que preservará o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês), ameaçado por Donald Trump. A vitória de AMLO demonstra que o povo mexicano espera que o novo presidente seja capaz de liderar uma “quarta transformação” na história mexicana, resgatando a memória de alguns fatos marcantes, como a Revolução de 1910.
Combinando promessas de campanha com um panorama da história política do México, López Obrador prometeu em evento de final de campanha um governo "radical" que irá acabar com privilégios, erradicar a impunidade e encher o país de "autoridade moral".
Os desafios de López Obrador serão gigantescos: além de combater a corrupção, deverá cumprir sua promessa de "pôr no seu lugar" o presidente americano, Donald Trump, que ameaçou romper o Tratado de Livre Comércio com o México por considerar que o país latino-americano não é suficientemente duro com a imigração ilegal. AMLO terá de lidar com a pressão de Trump pela construção de um muro na fronteira entre os dois países, que segundo o presidente americano visa impedir a imigração ilegal aos EUA. Além de que seus desafios também se expandem para a esfera social, já que, como consequência da corrupção, a desigualdade e pobreza afeta uma grande porção da população mexicana. A “parceria” estabelecida entre o governo mexicano e o narcotráfico, o qual goza de imenso poder no país, apenas intensifica o sofrimento de milhares de mexicanos. É de suma relevância ressaltar a violência política que marcou o cenário eleitoral de 2018. Dados revelam que mais de 100 indivíduos (candidatos, militantes, funcionários de partidos) tiveram suas vidas ceifadas. Esses dados demonstram o quão violenta é a sociedade mexicana.
Sua equipe econômica tem dito a investidores que ele não é um radical de esquerda e lutará para preservar o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês), grupo formado também por EUA e Canadá e que o presidente americano Donald Trump ameaçou com medidas protecionistas.
Carlos Urzua, escolhido por López Obrador para comandar o Ministério das Finanças, disse que se reuniu com mais de 65 fundos de investimento, dizendo a eles que o candidato está comprometido a dar autonomia ao banco central, uma livre flutuação de moeda, livre comércio e manter um controle sobre gastos.
3. O QUE FOI A REVOLUÇÃO SANDINISTA? O ATUAL GOVERNO ORTEGA DEVE SER VISTO COMO PARTE DESTE PROCESSO? POR QUE?
A Revolução Sandinista ocorreu após a Segunda Guerra Mundial. Após a Nicarágua conquistar sua independência, durante os anos 20, o país estava sob o comando das elites vinculadas ao capital internacional, enquanto a maior parte da população estava imersa na extrema pobreza. Por estes motivos, o país entrou em um caos que culminou na crise deflagrada durante o governo de Jose Santos Zelaya (1853-1919). A partir daí, os Estados Unidos resolvem intervir afim de preservar seus interesses. Foi então, que grupos guerrilheiros nicaraguenses decidiram agir com o intuito de recuperar a soberania do país. Foi então que se destacou a figura do líder guerrilheiro César Augusto Sandino, que conseguiu irromper, em 1933, com a ocupação norte-americana.
Contudo, Sandino foi assassinado a mando do general Anatasio Somoza, garantindo que ele e sua família pudessem controlar o governo da Nicarágua por décadas. O país enfrentou, desde setembro de 1978, uma intensa guerra civil, que opôs o ditador Anastásio Somoza à Frente Sandinista de Libertação Nacional, de orientação socialista. A crise entre guerrilheiros e governo era antiga, remetia ao início do século XX, como uma forma de resistência à ostensiva presença norte-americana no país.
O movimento Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) foi fundado em 1962, inspirado no líder guerrilheiro Augusto César Sandino, morto em 1934. O objetivo era derrubar a ditadura da família Somoza, no poder desde 1936, e implantar um regime socialista no país.
A causa sandinista ganhou o apoio da população, principalmente no final da década de 1970, quando crescia a insatisfação dos nicaraguenses com o governo de Anastásio Somoza. Além das denúncias de corrupção, o ditador era acusado de mandar assassinar o jornalista Pedro Joaquím Chamorro. A morte do mais destacado líder da oposição moderada, em janeiro de 1978, detonou a guerra civil no país.
As ações dos guerrilheiros, que no início eram isoladas, se intensificaram em setembro daquele ano. Foram seis semanas de confronto entre a Guarda Nacional e a FSLN, mas sem resultados positivos para os sandinistas. No dia 6 de junho de 1979, no entanto, os guerrilheiros retomaram os ataques a Anastásio Somoza.
Em 1985, Daniel Ortega, um dos líderes sandinistas, assume a presidência da Nicarágua. No entanto, seu governo foi marcado por problemas econômicos e sociais. Portanto, em 1990, a oposição vence as eleições presidenciais. Após perder três eleições seguidas, Ortega retornou ao poder em 2006.
Este ano a Nicarágua comemorou 39 anos da Revolução Sandinista, liderada pelo atual presidente Daniel Ortega, na mesma semana em que o governo retomou o controle da cidade rebelde de Masaya, último reduto sob controle dos seus opositores.  Ortega esteve à frente da última revolução armada na América Latina, que depôs o ditador Anastasio Somoza em 1979. O ano foi marcado pela onda de protestos que assolou o país, contestando a decisão do atual presidente de promover uma reforma da previdência. Os protestos foram violentamente reprimidos, o que gerou revolta na população que passou a reivindicar a renúncia de Ortega. O cenário atual do país é de conflito. O atual presidente não aceitou antecipar as eleições, que seriam realizadas em 2021, para 2019. Enquanto ambas as partes não entrem em um acordo, o númerode mortos e feridos aumenta com o passar dos dias.
Aos 72 anos, Ortega não é mais um revolucionário idolatrado. Em vez disso, tem sido comparado aos Somozas, a dinastia de ditadores brutais que ele ajudou a derrubar nos anos 1970, quando era um guerrilheiro sandinista.
Além de formar alianças com as elites nicaraguenses, críticos o acusam de se entrincheirar na presidência, inspirando-se nas táticas adotadas pela dinastia Somoza contra seus inimigos políticos: assassinar suas reputações manipulando a imprensa e reprimindo qualquer dissenso nas ruas. Também como Somoza, ele distribuiu parte da riqueza nacional e de sua influência com a família - sua indicação mais controversa foi escolher sua mulher, Rosario Murillo, como vice-presidente.
Conclui-se que o atual governo Ortega não pode ser considerado parte do processo sandinista, pois as características desta gestão contrariam totalmente as prerrogativas do pensamento sandinista. Logo, podemos interpretá-la como uma tentativa de pôr um fim ao sandinismo.
4. CONTEXTUALIZE O URIBISMO NA HISTÓRIA RECENTE DA COLÔMBIA: QUAIS IMPASSES ESTA POLÍTICA PRETENDE RESPONDER E DE QUE MODO? À LUZ DESTA REFLEXÃO, ANALISE A DERROTA DO “SIM” NO REFERENDO SOBRE OS ACORDOS DE PAZ NEGOCIADOS COM AS FARC-EP EM 2016.
Nos anos noventa, ser colombiano era considerado pior que uma desgraça. Significava viver num país devastado por guerrilhas, paramilitares e cartéis do narcotráfico. A Colômbia não era tanto García Márquez; era mais Pablo Escobar e a cocaína. Os colombianos conseguiram se livrar da sensação de párias que lhes perseguia, em boa medida, graças à chegada de Álvaro Uribe Vélez (Medellín, 1954) ao poder, em 2002, o que representou um projeto conservador de reconstrução do Estado Colombiano. Em meio à crise econômica galopante, e com os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) batendo às portas da capital, Uribe congregou todo o país ao redor da necessidade de maior segurança e de um sentimento que une os colombianos quase tanto como a seleção de futebol: a rejeição à guerrilha. Uma máxima que, quase 15 anos depois, continua dando frutos políticos, como ficou comprovado no plebiscito de semana passada pela vitória do não, da qual ele foi o grande artífice. O homem que canalizou o ódio dos colombianos contra o grupo armado agora tem o desafio de demonstrar, contra os prognósticos, que pode fazer o mesmo com o maior desejo: a paz.
Uribe sempre foi uma figura polêmica, com grandes críticos e acérrimos defensores. Mas a maioria reconhece seu mérito de ter infligido um golpe mortal contra as FARC durante seus dois mandatos (2002-2010), quando chegou a ser o presidente mais popular da América Latina, 91% de aprovação. Com sua estratégia de Segurança Democrática, multiplicaram-se as operações militares contra o grupo armado, que antes controlava quase meio país e precisou bater em retirada para a selva. Os golpes contra as FARC impostos por seu então ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, assim como a mão estendida à reinserção social, levaram milhares de guerrilheiros a desertar e a retornar à sociedade. A violência comum também diminuiu. E, graças à maior segurança, a economia começou a crescer em ritmo recorde, ao calor do aumento dos investimentos estrangeiros. A pobreza caiu notavelmente. A luta contra a guerrilha também deixou o escândalo dos “falsos positivos”, ou seja, o assassinato de civis que os militares fizeram passar por guerrilheiros mortos em combate.
5. O CHILE É O NEOLIBERALISMO QUE DEU CERTO? PROBLEMATIZE ESTA AFIRMAÇÃO, PROCURANDO MOSTRAR ELEMENTOS QUE PODEM SUSTENTA ESSA VISÃO, MAS TAMBÉM OUTROS QUE A CONTESTAM.
Ao analisar o neoliberalismo aplicado no Chile a partir dos anos 70, nota-se que a imposição desse modelo econômico pela ditadura Pinochet criou as bases para fomentar o crescimento econômica chileno ao longo dos anos. Todavia, o laboratório neoliberal no Chile também foi marcado por diversos aspectos negativos, principalmente durante a ditadura Pinochet.
O governo Pinochet, através de seus conselheiros econômicos (“Chicago Boys”), rapidamente implementou um modelo de liberalismo econômico que removeu impostos, regulamentações e burocracia desnecessária da iniciativa privada, além de tarifas protecionistas. Diversas estatais foram privatizadas, e pequenas e médias empresas, em determinados segmentos, passaram a usufruir de maior liberdade fiscal, poder aquisitivo para compra de matéria-prima e capacidade produtiva. Desta maneira, o caminho para o desenvolvimento e para a liberdade econômica foi plenamente edificado. As melhorias de indicadores de emprego e distribuição de renda podem ser consideradas uma das consequências da reformulação da política econômica neoliberal chilena a ditadura Pinochet e nos governos pós-Pinochet, todavia outros fatores também influenciaram na melhorias desses indicadores: por políticas sociais implantadas pelos governos da Concertación, que, no entanto, mantiveram vários princípios neoliberais que são ainda motivo de insatisfação e revolta na juventude chilena; conjuntura internacional favorável, com o aumento do preço do cobre, principal produto de exportação chileno (cuja extração em sua maior parte é feita por uma estatal, a CODELCO) no mercado mundial.
Todavia, o neoliberalismo não foi isento de problemas. A intensa repressão durante a ditadura militar chilena provocou o êxodo de milhares de chilenos. A violação dos direitos humanos foi uma política de Estado sob o regime autocrático de Augusto Pinochet. Nos meses seguintes ao golpe, as Forças Armadas e a Polícia criaram campos de concentração para prisioneiros políticos e agiram como exército de ocupação nas ruas das cidades chilenas, sitiando especialmente os bairros operários, principal base social da Unidade Popular e de Salvador Allende. Após suprimir a resistência antigolpista por meio da tortura e extermínio, os agentes da ditadura cometeram muitas outras violações no combate à guerrilha urbana, movimentos de greve e protestos de rua. Militares e policiais a serviço dos golpistas cometeram graves, massivas e sistemáticas violações de direitos humanos: prisões arbitrárias, estupro, tortura, assassinato e desaparecimentos forçados.
Além disso, muitos chilenos fugiam da pobreza e desemprego em alta e direitos trabalhistas em baixa durante o período ditatorial. Outro ponto a ser destacado é a inflação que assolou o Chile durante décadas, a qual apenas foi controlada a partir dos anos 90. Após o golpe, à medida que a liberalização econômica era aplicada, o desemprego aumentava, ultrapassando os 20% em 1983, quase empatado com a inflação que se aproximava dos 25%. Outro elemento de suma relevância é a desigualdade social, pois ao aderir aos princípios do neoliberalismo, a economia chilena ficou marcada pela privatização de diversos setores fundamentais para a população chilena (como saúde e educação). Com a imposição de medidas neoliberais, a tendência à redução da desigualdade é invertida, resultando no auge da desigualdade de renda nos últimos anos do regime ditatorial. Ao promover tal processo, ocorre uma limitação do acesso dos indivíduos à diversos serviços básicos (os protestos de 2011 contra a mercantilização da educação chilena são demonstrações do descontentamento popular em relação ao modelo neoliberal).
Desta forma, podemos notar que os índices sociais e econômicos só retornaram a sua posição de desenvolvimento após o período ditatorial, quando foi implementado um regime democrático. A redução da pobreza coincide com o fim da ditadura pinochetista. Estas tendências provavelmente são devidas aos programas sociais promovidos pelos governos democraticamente eleitos pós-ditadura. As medidas liberalizantes da ditadura tiveram como resultado o aumento da desigualdade, desemprego e miséria, com resultados muito fracos no controle da inflação. A política neoliberal chilena, apesar de todas as correções e ajustes ao longo de 40 anos, contribuiu apenas para aprofundar os graves problemas de exclusão social do Chile. As grandesmobilizações da juventude chilena, apesar da forte repressão policial, estão aí para mostrar que há problemas neste “paraíso”.
6. COMPARE AS ADMINISTRAÇÕES KIRCHNER ÀS GESTÕES PETISTAS NO BRASIL. PONTOS QUE PODEM AUXILIAR A COMPARAÇÃO INCLUEM: CONTEXTO DOMÉSTICO EM QUE FORAM ELEITOS; POLÍTICA DE DIREITOS HUMANOS; RELAÇÃO COM O CAPITAL FINANCEIRO INTERNACIONAL; RELAÇÃO COM O AGRONEGÓCIO; RELAÇÃO COM GRANDES MEIOS DE COMUNICAÇÃO.
Lula, no Brasil, e Néstor Kirchner, na Argentina, foram eleitos no bojo das crises dos modelos neoliberais predecessores, os quais haviam levado a crises cambiais, crescimento pífio ou recessão, aumento dos índices de desemprego e, particularmente no caso argentino, ampliação da desigualdade de renda e da pobreza. Apesar dos legados negativos deixados pelas crises na virada do século, importa destacar que os Governos Lula e Néstor Kirchner foram beneficiados por mudanças no contexto econômico internacional: na década de 2000, observou-se expansão do crédito e forte aumento da demanda e dos preços das commodities no mercado internacional, liderados pela expansão econômica da China e da Índia. O contexto internacional foi, portanto, favorável à ampliação das exportações brasileiras e argentinas, haja vista que suas pautas exportadoras são bastante dependentes das commodities agrícolas e minerais. A expansão do crédito contribuiu ainda para a melhoria do perfil do endividamento brasileiro, além de amortecer as pressões sobre o governo argentino nas negociações em torno da dívida em moratória desde a crise de 2001.
O Governo Lula (2003-2010) foi caracterizado pela constante tensão entre a emergente coalizão novo-desenvolvimentista e a coalizão de sustentação do modelo neoliberal, hegemônica desde a década de 1990. Durante todo o período, a coalizão neoliberal, formada por atores interessados na manutenção de uma política monetária pautada por taxas de juros elevados e pela valorização cambial, fez valer sua pressão. Essa coalizão deve ser encarada menos como um pilar de apoio ao Governo Lula do que uma poderosa coalizão formada por atores com poder de veto. Esse poder de veto não residia propriamente no sistema político, mas na garantia de estabilidade do mercado financeiro, considerada essencial para a consecução da agenda pública definida pelo governo. É possível identificar, pois, um forte poder de barganha nas mãos dos agentes do mercado financeiro vis-à-vis o Governo Lula. Em um cenário de instabilidade financeira, haveria elevados riscos à execução da agenda de inclusão social proposta pelo seu governo. Os atores ligados ao mercado financeiro constituíam, portanto, uma coalizão com poderoso poder de veto sobre as decisões do governo Nesse contexto, a garantia da estabilidade econômica e, mais especificamente, a estabilidade da moeda estiveram no centro das preocupações da agenda pública durante virtualmente todo o primeiro Governo Lula..Cabe ressaltar a ênfase a programas sociais (Fome Zero e Bolsa Família) e a medidas voltadas para a formação de um mercado consumidor de massas (aumento real do salário mínimo e fomento ao crédito às pessoas físicas).
Em contraposição ao cenário brasileiro, as disputas políticas na Argentina não ocorrem entre os partidos políticos, mas, proeminentemente, no interior do peronismo. A crise de 2001 permitiu sua emergência ao posto de força hegemônica. A ausência de uma oposição coordenada, lado a lado à acefalia do PJ, levou para o centro do cenário político nacional as disputas internas do peronismo. Fileiras peronistas se apresentaram como governistas e opositores ao kirchnerismo. A incapacidade da oposição em apresentar uma alternativa à estratégia novo-desenvolvimentista, mesmo quando crises se fizeram presentes, somada ao bom desempenho econômico, levou à reeleição de Cristina Kirchner. Ao contrário do Brasil, a coalizão neoliberal foi desarticulada pela crise na virada do século.
Néstor Kirchner assumiu a presidência em 2003, defendendo a construção de uma nova estratégia de desenvolvimento, que superasse os efeitos deletérios das reformas neoliberais. Kirchner, na verdade, manteve muitas das medidas adotadas por seu antecessor: programas voltados para a capacitação profissional e concessão de subsídios a trabalhadores desempregados; e o regime de câmbio competitivo, que mantinha o peso desvalorizado, favorecendo as exportações agropecuárias e a industrialização substitutiva de importações. Essa ênfase na exportação de commodities pautou o relacionamento entre a dinastia Kirchner e o agronegócio, uma vez que a conjuntura internacional naquele período era marcada por uma demanda intensa de commodities oriunda do acelerado desenvolvimento chinês e indiano.
No que tange os meios de comunicação, identifica-se uma relação marcada por diversos atritos entre o governo dos Kirchner e a mídia argentina. Pode-se destacar a aprovação da chamada “Lei dos meios”, a qual representou um golpe aos monopólios que dominavam a mídia argentina (principalmente, o grupo Clarín – um dos principais críticos do governo). No caso brasileiro, a relação entre gestões petistas e meios de comunicação não apresentou grandes conflitos.
7. FAÇA UMA COMPARAÇÃO, SALIENTANDO SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE O PROCESSO BOLIVARIANO NA VENEZUELA LIDERADO POR CHÁVEZ E O “PROCESSO DE CAMBIO” NA BOLÍVIA COMANDADO POR MORALES. A COMPARAÇÃO DEVE INCLUIR: O CONTEXTO DA ELEIÇÃO; O SENTIDO EM QUE EVOLUÍRAM ESTES GOVERNOS; OS IMPASSES DO PRESENTE.
A Revolução Bolivariana realizada na Venezuela apresentou o seu ápice na eleição de Hugo Chavez à presidência da República. Após inúmeras insurreições, a ascensão chavista significou o fim do pacto de Punto Fijo e a Revolução Bolivariana, sob a tutela chavista, passou a concretizar um conjunto sistemático de reformas. Percebe-se que o movimento bolivariano emergiu como uma alternativa possível para uma modificação nos rumos políticos do país.
Inicialmente voltadas para a contenção da crise econômica pela qual o país passava e para a melhoria dos padrões de vida das classes trabalhadoras, o conjunto de reformas proposto transcendeu a conjuntura em questão e se voltou para a transformação da estrutura política, econômica, social e produtiva do país.As reformas estruturais na Venezuela foram implementadas tanto nas instituições, na política, na sociedade e de maneira ainda incipiente no próprio sistema de produção, confluindo a partir da ideologia bolivariana e possibilitando a construção de condições objetivas e subjetivas para a radicalização do processo em questão. A partir da reforma do Estado e do fortalecimento das organizações populares locais, percebe-se uma clara tentativa de constituir instâncias de auto-gestão política e produtiva que busca superar o Estado burguês e o modo de produção capitalista.
Todavia, alto grau de personalismo que o movimento bolivariano possui na figura de Hugo Chávez é um dos muitos pontos a serem superados por este movimento. A morte de Chávez em 2013 debilitou o movimento bolivariano, uma vez que seu sucessor, Nicolas Maduro, não inspira a mesma figura de líder que Chávez demonstrava. Além disso, o discurso aberto anti-imperialista, uma afronta explícita aos EUA, contribui para um isolacionismo venezuelano no contexto regional e mundial. Por fim, a crise econômica-social-política que acomete a Venezuela pode vir a pôr em cheque a tão aclamada Revolução Bolivariana.
O contexto da eleição de Evo Morales para a presidência da Bolívia é de extrema complexidade. O país, considerado o mais pobre da América do Sul, convive com uma imensa desigualdade social ao longo dos anos. Enquanto uma minoria branca detém a maior parte das riquezas da nação e o poder político, a sua maioria, composta por indígenas, se encontra em um estado de miséria e marginalizada no quadro político. Diante dessa situação, uma onda de protestos assolou a Bolívia durante os primeiros anos do século XXI e um dos líderes dessas manifestações viria a se tornar o presidente da república: Evo Morales. A eleição de Morales no pleito presidencialpode ser considera um marco para a história boliviana, pois seria a primeira vez que o país teria um presidente de origem indígena. A figura de Morales pode ser considerada um produto do empoderamento crescente dos movimentos sociais bolivianos ao longo das últimas décadas.
O governo Evo Morales buscou realizar uma inserção mais autônoma da Bolívia no cenário internacional, além de ser um grande defensor da integração latino-americana. Sua gestão também é marcada pelas políticas de nacionalização de alguns setores da economia boliviana, como os hidrocarbonetos (vide o caso Petrobrás). A busca pela melhor distribuição da renda aferida com as exportações, são a chave explicativa para se compreender as transformações recentes vividas pela Bolívia.O significativo processo de redução da pobreza extrema que o país vem experimentando nos últimos anos também merece ser destacado. No que tange a sua política externa, Morales se aproximou de Hugo Chávez e, consequentemente, engrossou o coro anti-EUA encabeçado pelo presidente venezuelano. 
Entretanto, o governo Evo Morales enfrentou e continua a enfrentar diversos desafios. A excessiva dependência da exportação de bens minerais mantém a Bolívia numa condição de subalternidade na economia mundial e fragilidade diante de suas oscilações. Setores do movimento indígena continuam a protestar, enxergando em Morales um governo politicamente muito moderado e muito menos socialista do que se proclama. Falta ainda ao país know how para explorar industrialmente suas imensas reservas de lítio, as maiores do mundo deste que é um dos minerais do século XXI. Ademais, a crise político-social-econômica que assola a Venezuela, sua grande aliada, contribui para a intensificação dos obstáculos ao seu governo.
8. COMPARE A REVOLUÇÃO CUBANA COM A CHAMADA REVOLUÇÃO BOLIVARIANA NA VENEZUELA, SALIENTANDO: A FORMAÇÃO SOCIOECONÔMICA; A DINÂMICA DA REVOLUÇÃO; A CONJUNTURA INTERNACIONAL.
A formação econômica venezuelana é marcada, ao longo dos anos, por uma enorme dependência em relação às exportações de petróleo e por uma oligarquia que se revezava no poder até finais do século XX. A vitória de Hugo Chávez, considerado o líder da chamada Revolução Bolivariana, significou a implosão das arcaicas estruturas sociais e políticas da Venezuela, bem como a política externa de alinhamento automático aos EUA.
Inicialmente, a economia da Venezuela demonstrou, no decorrer das décadas, uma extrema dependência da exploração petrolífera e, consequentemente, sua exportação para outros países (como EUA). Diante disso, outros setores da economia, como agricultura e indústria, desenvolveram-se muito pouco. Os recursos oriundos da exploração e exportação do petróleo eram controlados pelas oligarquias que se revezavam no poder venezuelano. Logo apenas uma pequena parcela da população se enriquecia, enquanto as massas padeciam na fome e miséria. Esse quadro de extrema pobreza e desigualdade social acompanhou a história do país até fins do século XX.
A eleição de Hugo Chávez representou um momento de mudanças nas estruturas sociais e políticas venezuelanas. Tido como principal líder da Revolução Bolivariana, os governos Chávez emanaram grandes esforços a fim de promover inúmeras reformas no país. Chávez implodiu o pacto que mantinha as oligarquias venezuelanas se alternando no poder, sem dar espaço para que estas retornassem ao cenário político .Os setores fundamentais para a sociedade, como saúde e educação, deixaram de ser uma exclusividade das elites e se tornaram acessíveis às massas. Além disso, verificaram-se reduções nos índices de pobreza, desigualdade social e mortalidade infantil. Outro ponto de suma relevância é a política externa chavista, pois alterou-se de um alinhamento automático aos EUA para um posicionamento de confronto ao imperialismo norte-americano. A Venezuela se mostrou uma grande partidária da integração regional sul-americana e procurou desenvolver várias parcerias, destacando-se aquelas com China, Cuba e Rússia. Tal posicionamento adotado pelo governo venezuelano gerou retaliações por parte do governo norte-americano (influente no cenário latino-americano) e de seus aliados. Além disso, a oposição ao regime bolivariano apresentou um processo de radicalização, organizando diversos movimentos de extrema violência e, inclusive, orquestrando golpes de Estado (vide o ocorrido em 2002).
Conclui-se que atual crise venezuelana pode ser considerada um desdobramento da disputa pelo poder marcante na Venezuela entre situação e oposição, além das constantes retaliações e ameaças dos EUA e seus aliados (como a Colômbia).
A formação socioeconômica de Cuba se caracterizou pela intensa produção açucareira e de tabaco baseadas nos regimes de plantations. A sociedade cubana(formada por brancos, mestiços e negros) era marcada por uma extrema desigualdade social, na qual uma minoria (geralmente descendentes de colonos europeus) detinha porções enormes das riquezas do país, enquanto a maioria da população era assolada pela fome e miséria. Outro ponto a ser destacado é a dominação espanhola (até términos do século XIX) e norte-americana (início do século XX) que explorou e subjugou a sociedade cubana. Cuba tornou-se uma espécie de “cassino e bordel” norte-americano no Caribe. Diante deste cenário de humilhação enfrentado pelos cubanos, grupos revolucionários pegaram em armas para derrubar a ditadura de Fulgencio Batista (aliado aos norte-americanos) e realizar uma verdadeira transformação na ilha caribenha ( semelhante ao comportamento adotado pela Revolução Bolivariana, a qual também previa realizar grandes mudanças na sociedade venezuelana) 
Com a vitória dos grupos revolucionários, liderados por Fidel Castro e Ernesto Guevara, uma verdadeira revolução agrária se sucedeu entre 1959 e 1963, e os esforços e a consciência do país se voltaram para o campo. A Revolução nacionalizou os bancos e quase todo o comércio, o transporte e as empresas de produção e serviços. Milhares de pessoas tiveram de aprender a executar os processos de produção e direção em todos os escalões e entender a economia. Elevaram-se os salários, aboliram-se os aluguéis e assumiu-se o princípio de que a moradia pertencia a quem nela vivia; destinaram-se vultosos recursos aos serviços sociais e à melhora da situação dos mais pobres. A Revolução adquiriu um viés socialista após alguns anos e se aproximou do bloco socialista, o qual apresentava a figura da União Soviética como principal líder. Todavia, o governo revolucionário de Fidel, ao confrontar o imperialismo norte-americano, teve de enfrentar inúmeros ataques dos EUA e forte oposição dos aliados ianques na América Latina (um cenário semelhante é constatado na Venezuela atual). 
O cenário de Guerra Fria se mostrou como um fator fundamental para a ascensão ao poder de Fidel Castro e seus correligionários, pois a aliança com a União Soviética era de suma importância para combater o imperialismo estadunidense no país caribenho. No entanto, a extinção da URSS significou um grande golpe ao regime cubano, uma vez que o país já se encontrava em uma situação de isolacionismo promovido pelos EUA e o término da sua principal aliada significou a intensificação dos efeitos decorrentes da ação norte-americana. Diante deste cenário, destaca-se a aproximação entre Cuba e a Venezuela Chavista, a qual está intimamente relacionada a um viés ideológico compartilhado por ambas as nações e também como uma alternativa aos obstáculos estadunidenses impostos.
9. ENTRE 1998 E 2008, APROXIMADAMENTE 760 MIL FAMÍLIAS FORAM EXPULSAS DO CAMPO NA COLÔMBIA, DEIXANDO PARA TRÁS CERCA DE 5,5 MILHÕES DE HECTARES DE TERRA SOB OS GOVERNOS URIBE. NO ENTANTO, O DRAMA DOS REFUGIADOS COLOMBIANOS NÃO RECEBEU DA MÍDIA UMA ATENÇÃO COMPARÁVEL AOS IMIGRANTES VENEZUELANOS NOS MESES RECENTES. DE MODO SIMILAR, OS PROTESTOS CONTRA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA E PELA DISTRIBUIÇÃO DE ORTEGA NA NICARÁGUA RECEBERAM AMPLA COBERTURA DA MÍDIA NACIONAL, ENQUANTO OS PROTESTOS CONTRA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA E PELA DEPOSIÇÃO DE TEMERNO PRÓPRIO BRASIL RECEBERAM POUCO DESTAQUE. ANALISE ESTE PARADOXO.
Percebe-se que os eventos ocorridos na crise Venezuela, assim como a onda de protestos que tomou a Nicarágua, recebem uma ampla cobertura por parte da mídia internacional. Todavia a onda de “desplazados” na Colômbia durante os governos Uribe e os protestos contra Temer e sua proposta de reforma da previdência não ocuparam tanto espaço nas manchetes dos principais meios de comunicação. Uma possível explicação para este paradoxo seria o caráter progressista dos governos venezuelano e nicaraguense, enquanto os presidentes colombiano e brasileiro apresentam uma gestão conservadora e convergente aos interesses norte-americanos no continente.
Inicialmente, analisemos a situação de Venezuela e Nicarágua. Ambos os governos são frutos de revoluções (Revolução Bolivariana e Sandinista), as quais interromperam a hegemonia das oligarquias no poder, além de que estes movimentos adotaram um caráter progressista e passaram a questionar e confrontar a lógica capitalista imposta pelos EUA. Com as inúmeras reformas empreendidas pelos novos governos progressistas, os interesses norte-americanos e de seus aliados receberam um duro golpe. Diante disso, os atuais eventos ocorridos na Nicarágua e Venezuela recebem enorme atenção da mídia internacional (a qual é formada, principalmente, pelos meios de comunicação norte-americanos e europeus) e, dessa forma, esses fatos tornam-se alvos de inúmeras críticas da opinião internacional. Logo, a mídia canaliza suas críticas em torno dos governos destes países, responsabilizando-os pelas crises e protestos que assolam seus territórios. 
Com relação aos casos de Colômbia e Brasil, podemos destacar os traços conservadores que marcam os governos de ambos os países. No caso da Colômbia, as gestões de Álvaro Uribe foram marcadas por um intenso combate às guerrilhas, principalmente às FARC –EP. A postura adotada por Uribe pode ser considerada em consonância com os interesses norte-americanos, uma vez que as guerrilhas colombianas eram o principal inimigo de Uribe e também, muito devido a questão do narcotráfico, compunham a extensa lista de ameaças ao regime norte-americano. Inclusive, fora durante o governo Uribe que ocorreu a implantação do Plano Colômbia (apontado por muitos como uma intervenção estadunidense em solo colombiano). Logo, nota-se que a mídia internacional deu grande destaque à questão da guerra do Estado colombiano às guerrilhas, enquanto a situação dos “desplazados” recebeu uma atenção ínfima. O exemplo brasileiro apresenta algumas semelhanças com a Colômbia, uma vez que a gestão Temer ficou marcada por uma maior aproximação aos EUA e seus interesses ( o desinteresse brasileiro em relação aos BRICS e ao Mercosul são exemplares que comprovam o alinhamento aos interesses estadunidenses). Além disso, os protestos contra a reforma da previdência e ao próprio governo não demonstraram uma forte adesão por parte da sociedade, logo não exerceram grandes pressões ao governo Temer, apesar da não-aprovação da medida.

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