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RESUMO: A Disfunção Cerebral Mínima (DCM) é um distúrbio neurocomportamental, clinicamente caracterizado por dificuldade em controlar impulsos, manter a atenção, e realizar atividades motoras que exijam coordenação e equilíbrio. Objetivo: O presente estudo teve como objetivo contribuir para o conhecimento e tratamento fisioterapêutico da DCM. Método: Tratou-se de um estudo de caso de uma paciente de oito anos de idade, acompanhada na Clínica de Fisioterapia da Faculdade Anhanguera de Campinas (FAC). Foi realizada uma avaliação fisioterapêutica da paciente, e aplicado um questionário à mãe para colher informações sobre o período pré-natal, perinatal e pós-natal. Resultados: Foram observadas alterações de postura, coordenação, equilíbrio, marcha, leitura e escrita. Conclusão: Verificou-se, a partir do estudo de caso, que a DCM cursa com diversas alterações, sendo necessário, portanto, o acompanhamento multidisciplinar do paciente. ABSTRACT: Minimal Brain Dysfunction (MBC) is a neurobehavioral disorder, clinically characterized by difficulty in controlling impulses, sustaining attention, and perform activities that require motor coordination and balance. Objective: This study aimed to contribute for knowledge and physical therapy treatment of MBC. Method: This was a case report of an eight years old patient, being treated at Clínica de Fisioterapia da Faculdade Anhanguera de Campinas. It was done a physiotherapy evaluation of the patient and her mother answered a questionnaire asking information on the prenatal, perinatal and postnatal periods. Results: We observed alterations in posture, coordination, balance, walking, reading and writing. Conclusion: It was found, from the case study, that the DCM courses with several changes, if necessary, so the patient’s multidisciplinary approach. DISFUNÇÃO CEREBRAL MÍNIMA ESTUDO DE CASO Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE rc.ipade@anhanguera.com v.7 • n.17 • 2013 • p. 97-107 Cristiana Rodrigues – Faculdade Anhanguera de Campinas - Unidade 3 Michele Fernanda da Paz Janessi – Faculdade Anhanguera de Campinas - Unidade 3 Flávia Cristina Carbonero – Faculdade Anhanguera de Campinas - Unidade 3 Gabriela Mariotoni Zago – Faculdade Anhanguera de Indaiatuba Denise Campos – Faculdade Anhanguera de Campinas - Unidade 3 ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE Palavras-chave: Dislexia, Déficit de atenção, Diagnóstico, Fisioterapia. Keywords: Dyslexia, Attention Deficit, Diagnosis, Physiotherapy. Informe Técnico Recebido em: 08/01/2013 Avaliado em: 29/05/2013 Publicado em: 13/06/2014 98 Anuário da Produção Acadêmica Docente Disfunção cerebral mínima: estudo de caso 1. INTRODUÇÃO A Disfunção Cerebral Mínima (DCM) é um distúrbio neurocomportamental, clinicamente caracterizado por desordem de aprendizagem, dificuldade em controlar impulsos, manter a atenção em atividades escolares e controlar atividades motoras (Reed, 2007). A proporção mundial entre meninos e meninas acometidos pela DCM varia de 2:1 em estudos populacionais e até 9:1 em estudos clínicos (Rohde, Halpern, 2004). Não é de se estranhar que sua etiologia seja desconhecida, na maioria dos casos de DCM, dada a grande variedade de alterações presentes. A etiologia de um quadro tão variável é provavelmente múltipla. Os seguintes fatores etiológicos têm sido lembrados: lesão cerebral orgânica (anóxia perinatal), prematuridade, ação de toxinas exógenas (chumbo), infecções, doenças metabólicas, transmissão genética, desnutrição e fatores psicogênicos (Shepherd, 1995). No campo da educação, a desordem de aprendizagem mais comum é a dislexia, caracterizada pela dificuldade de leitura, escrita e soletração. Do ponto de vista neuropsicológico, a dislexia é considerada uma disfunção do sistema nervoso central, acarretando também déficits sensoriais e motores. Além disso, tais crianças apresentam risco para desenvolvimento de transtornos emocionais e comportamentais, como ansiedade e depressão. A criança sente-se muitas vezes isolada por causa das diferenças, que se tornam evidentes na sala de aula (Lima et al., 2008). O diagnóstico da DCM é fundamentalmente clínico, baseados em critérios claros e bem definidos; observando se a criança apresenta somente um ou vários sintomas associados. Além de uma boa anamnese, e da coleta de informações desde o nascimento, desenvolvimento, alimentação, relacionamento com a família, irmãos e amigos; é importante que seja observado o comportamento da criança desde o momento em que ela permanece na sala de espera, inclusive a atitude de seus pais (De Carvalho et al., 2010). É comum crianças que possuem dificuldade para o aprendizado serem encaminhadas para especialistas, neurologistas, para que a família entenda o porque dessa demora para o aprendizado. Porém, os problemas são multifatoriais. Sendo assim, é necessário uma abordagem mais ampla, porque um bom resultado depende de uma correta avaliação, na qual serão avaliados habilidade e grau de dificuldade, para que seja executada a tarefa proposta, reconhecimento e interpretação de figuras, testes de coordenação, equilíbrio, além da análise de comportamento durante a execução das tarefas (De Carvalho et al., 2010). O diagnóstico de Desatenção ocorre quando a criança apresenta seis ou mais dos seguintes itens por mais de seis meses, em uma intensidade que seja discrepante, na qual não condiz com o nível de desenvolvimento. Criança distrai-se facilmente com estímulos pouco significativos, esquece as atividades do dia, tem dificuldade em manter atenção em jogos ou trabalhos, parece não estar ouvindo o que está sendo falado, perde objetos 99 Cristiana Rodrigues, Michele Fernanda da Paz Janessi, Flávia Cristina Carbonero, Gabriela Mariotoni Zago, Denise Campos v.7 • n.17 • 2013 • p. 97-107 necessários às suas tarefas escolares, dá pouca atenção aos detalhes nas tarefas escolares e outras atividades, tem dificuldade em organizar atividades com objetivos determinados, evita, não gosta ou reluta em participar de tarefas que requeiram esforço mental sustentado por tempo determinado, não segue instruções e falha em completar as tarefas escolares, rotinas ou deveres no local das atividades (Diament et al., 2010). Para diagnosticar corretamente é necessário estar atento aos sinais que se iniciam antes dos sete anos, quando existe uma evidência muito clara de dificuldades significativas, quando alguns dos itens citados destacam-se em dois ou mais ambientes, quando não há associação dos sinais com outros distúrbios de humor ou de personalidade (Diament et al., 2010). Cabe ainda destacar que o diagnóstico muitas vezes pode ser tardio, mascarado por problemas familiares, tais como separação dos pais ou mudanças de domicílio, situações em que a criança pode se sentir sozinha, e demora para se habituar com os novos desafios. Para que o diagnóstico seja correto, é necessário que a avaliação seja bem detalhada e multidisciplinar, envolvendo aspectos relativos ao ambiente familiar e escolar (Reed, 2007; Diamment et al., 2010). Atualmente, várias crianças com DCM são encaminhadas para tratamento fisioterapêutico, o qual tem como principal objetivo melhorar a atenção nas atividades, o equilíbrio e a coordenação motora, auxiliando também no processo de aprendizagem (Shepherd, 1995). A DCM é um distúrbio bastante prevalente, porém com poucas pesquisas a respeito. Sabe-se que o profundo conhecimento da DCM, e de seus sinais e sintomas é fundamental para detectar precocemente o distúrbio, e tratar adequadamente tais pacientes, orientando os pais e professores de cada criança. Tendo em vista que a DCM pode comprometer o aprendizado e o desenvolvimento global da criança, é necessário realizar este estudo de caso para aprofundar o conhecimento sobre a DCM, contribuindo assim, para o aprimoramento do tratamentofisioterapêutico. 2. METODOLOGIA Tratou-se de um estudo de caso de uma paciente MY, com 8 anos de idade, com diagnóstico de DCM, acompanhada semanalmente na Clínica de Fisioterapia da Faculdade Anhanguera de Campinas (FAC), cuja mãe concedeu seu consentimento, por escrito, após ter sido informada a respeito da pesquisa. Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da FAC (N0 1204/2011). Foi realizada avaliação fisioterapêutica da paciente, para descrever seu desenvolvimento neuropsicomotor atual. A avaliação levou cerca de 60 minutos e foi realizada pelos alunos 100 Anuário da Produção Acadêmica Docente Disfunção cerebral mínima: estudo de caso e professores envolvidos nesse trabalho. Foram avaliados os seguintes aspectos: tônus, coordenação, equilíbrio, marcha e desempenho de leitura e escrita. O tônus muscular foi avaliado realizando um alongamento passivo do grupo muscular e verificando o grau de resistência imposto por eles. Foi classificado como normotonia, hipertonia ou hipotonia (Nitrini, Bacheschi, 2005). Para avaliar o equilíbrio estático, foram realizadas cinco provas: na primeira, a paciente foi posicionada em pé, na ponta dos pés e seus braços ficaram caídos ao longo do corpo, seus pés juntos e de olhos abertos, o padrão de normalidade seria manter esta posição por 30 segundos. Na segunda prova, a paciente foi posicionada em apoio plantar sobre um pé só (a paciente escolheu em qual pé queria ficar), seus braços caídos ao longo do corpo e de olhos abertos, o normal seria manter esta posição por 30 segundos. Na terceira prova, a paciente foi posicionada em posição ortostática, mantendo o apoio plantar sobre um pé só (a paciente escolheu em qual pé queria ficar), a outra perna ficou fletida em ângulo reto e as coxas paralelas, e de olhos abertos, o padrão de normalidade seria manter esta posição por 10 segundos. Na quarta prova, a paciente foi posicionada agachada, apoiada na ponta dos pés, com seus calcanhares unidos, os membros superiores ficaram abertos lateralmente e seus olhos ficaram abertos, o padrão de normalidade seria manter esta posição por 10 segundos. Na quinta prova, a paciente foi posicionada sentada, e deveria equilibrar uma régua horizontalmente no dedo indicador da mão escolhida, o padrão de normalidade seria manter esta posição por 10 segundos. Para avaliação de equilíbrio foi solicitado ainda que a paciente permanecesse em pé, com os pés juntos, descalço, com os braços pendentes ao lado do corpo. Observou-se a postura, e a presença de oscilações. A seguir, avaliou-se o equilíbrio com os olhos fechados. A paciente foi colocada em posição ortostática, e membros superiores horizontalmente pra frente, dedos afastados, polegares afastados por cerca de 1 cm. A paciente devia manter a posição por 30 segundos. Para testar o equilíbrio dinâmico, foi solicitado que a paciente pulasse o mais alto possível, e batesse palmas duas vezes, enquanto estivesse com os pés fora de contato do solo. Também foram feitos testes específicos de coordenação motora, incluindo as seguintes provas: Índex-index, índex-nariz, oponência do polegar aos outros dedos; e duas provas de coordenação motora apendicular: na primeira prova, foi feito o desenho de um losango na lousa, e a paciente devia copiar. Na segunda prova, a paciente deveria repetir ritmos variáveis, copiando o exemplo da lousa, descrito a seguir. O padrão de normalidade varia de 4 a 6 acertos. 101 Cristiana Rodrigues, Michele Fernanda da Paz Janessi, Flávia Cristina Carbonero, Gabriela Mariotoni Zago, Denise Campos v.7 • n.17 • 2013 • p. 97-107 1) . . . 2) . . . 3) . . . . 4) . . . . 5) . . . 6) . . . . Para testar a coordenação de tronco e membros, foi solicitado que a paciente realizasse as transferências de deitada para sentada e de sentada para deitada sem apoio. E finalmente, para testar a persistência motora, foram realizadas duas provas: na primeira, a paciente deveria olhar para a direita, e para a esquerda, o máximo que pudesse. Na segunda prova, a paciente posicionou seus membros superiores horizontalmente para frente, mantendo os dedos afastados e seus polegares afastados por 1 cm. Para avaliação da marcha, enquanto a paciente caminhava pela sala, indo e voltando, observou-se a postura, o balanço dos membros superiores e a presença de alterações como aumento da base, irregularidade dos passos e desvios. A manobra de caminhar encostando o calcanhar nos artelhos é particularmente sensível para detectar distúrbios do equilíbrio (Nitrini, Bacheschi, 2005). Para avaliação de leitura e escrita, foram aplicadas tarefas como: leitura de textos adequados a idade, escrita do próprio nome, e escrita de palavras e frases apresentadas sob a forma de ditado. Além disso, foram colhidas informações, através de um questionário, que foi respondido pela mãe, sobre o período pré-natal, peri-natal e pós-natal. 3. RESULTADOS Ao longo da avaliação, foram observadas alterações de postura, coordenação, equilíbrio, marcha, leitura e escrita, que serão descritas e ilustradas a seguir. Considerando a postura ortostática, a paciente apresentou hiperlordose acentuada e abdômen protuso (Figura 1). Além disso, observou-se que os membros inferiores tendem a adução e rotação interna. Figura 1- Postura ortostática 102 Anuário da Produção Acadêmica Docente Disfunção cerebral mínima: estudo de caso Para testar o equilíbrio estático, a paciente foi posicionada na ponta dos pés, braços caídos ao longo do corpo, pés juntos e com olhos abertos. Foi observado desequilíbrio considerável, de modo que a postura foi mantida por 8 segundos com rotação interna e adução de quadril. Na prova de apoio plantar sobre um pé só (paciente escolhe o pé), com braços caídos ao longo do corpo, e olhos abertos, também houve muita dificuldade, sendo mantida a postura por 10 segundos. Quanto a prova de apoio plantar sobre um pé só, com a outra perna fletida em ângulo reto, as coxas paralelas e os olhos abertos, a paciente não conseguiu manter a perna fletida, sendo evidente o desequilíbrio evidente. Além disso, a paciente foi posicionada agachada, mantendo apoio na ponta dos pés, calcanhares unidos e membros superiores abertos. Paciente manteve a posição, somente no início, permanecendo por 5 segundos. Em seguida, a paciente foi posicionada sentada equilibrando uma régua horizontalmente no dedo indicador da mão escolhida. Paciente conseguiu manter com bom desempenho por 5 segundos, em seguida recrutava outros dedos. Finalizando as provas de equilíbrio estático, a paciente foi colocada em posição ortostática, membros superiores horizontalmente para frente, dedos afastados, e polegares afastados por cerca de 1 cm. Paciente realizou o teste por volta de 15 segundos. Para o teste de equilíbrio dinâmico, a paciente deveria pular o mais alto possível e enquanto estivesse com os pés sem tocar o solo, bater palmas duas vezes. Neste teste, a paciente parava de pular para bater palmas. Para testar a coordenação motora foram realizados os testes index-index, índex-nariz e oponência do polegar, com olhos abertos e fechados, onde foi possível verificar déficit durante a realização de todas as provas. No teste de coordenação motora apendicular, foi desenhado um losango na lousa, e a paciente deveria copiá-lo. Esta prova foi realizada com sucesso, a paciente copiou a figura exatamente como descrita na lousa. Também para testar a coordenação motora apendicular, foi realizado o teste de “repetir ritmos variados”, onde ela deveria seguir exatamente o padrão previamente desenhado na lousa. A paciente não copiava devidamente, com seus espaços e ritmos variados. Para testar a coordenação de tronco-membros, foi pedido para a paciente realizar as transferências, de deitada para sentada, e de sentada para deitada sem apoio. Neste teste obtivemos sucesso, sendo que a paciente realizou as transferências sem dificuldades. No teste de olhar extremo lateral, para a direitae para a esquerda, a paciente realizou o teste com sucesso por aproximadamente 15 segundos, distraindo-se no tempo restante. Quanto a avaliação da marcha, observou-se que a paciente não realiza dissociação pélvica ao andar e muitas vezes, caminha na ponta dos pés, apresentando encurtamento do 103 Cristiana Rodrigues, Michele Fernanda da Paz Janessi, Flávia Cristina Carbonero, Gabriela Mariotoni Zago, Denise Campos v.7 • n.17 • 2013 • p. 97-107 músculo tríceps sural. Ao realizar a marcha em linha reta, é notável sua falta de equilíbrio, sendo necessário muitas vezes aumentar a base de sustentação, saindo da linha demarcada. Quanto à escrita, verificou-se que a paciente apresenta algumas alterações, tais como: omissão de sílabas, substituições de letras, apoio na oralidade-tendência (palavras escritas do modo como são pronunciadas), havendo dificuldade na marcação de acentos gráficos. Abaixo, um quadro com alguns erros cometidos pela paciente durante a aplicação do ditado. Quadro 1- Erros típicos cometidos durante o ditado PRETO PETO VIZINHO VINHO CARROÇA CAROSA CRIANÇAS CRIÇA Quanto à leitura de frases, o processo foi lento, havendo bastante dificuldade para compreender o que estava escrito. Ao avaliar o tônus muscular, foi observada hipotonia geral, de grau leve, frouxidão ligamentar e por conseqüência destes fatores, a amplitude de movimento encontra-se aumentada. Durante os exercícios propostos, a paciente interrompia as atividades, fazendo novas propostas e sempre falando excessivamente. Muitas vezes foi necessário repetir o que era pedido nos exercícios, por falta de compreensão da parte da paciente, e pelo fato de distrair- se muito facilmente. Quanto às informações colhidas com a mãe, verificou-se que a paciente nasceu a termo, com 38 semanas de gestação, pesando 3.090 gramas e 54 cm de estatura, por meio de cesariana, sem intercorrências. De acordo com a mãe os primeiros sinais da DCM apareceram aos 4 anos, de modo que aos 6 anos foi feito o diagnóstico. De acordo com o laudo do neurologista infantil, a criança possui distúrbio de aprendizagem e alterações motoras sutis, havendo necessidade de estimulação motora, acompanhamento com fonoaudióloga e psicóloga. 4. DISCUSSÃO Os resultados obtidos evidenciaram alterações de postura e marcha, dificuldade para leitura, escrita, coordenação e equilíbrio, mostrando o quão necessária é a abordagem multidisciplinar no tratamento na DCM. De acordo com Rohde e Halpern (2004) uma queixa frequente da família, em relação à criança, é a falta de concentração no ambiente escolar e domiciliar. Essa situação também foi evidenciada no presente estudo, por meio do comportamento da paciente na avaliação e tratamento fisioterapêutico, além dos relatos da mãe. 104 Anuário da Produção Acadêmica Docente Disfunção cerebral mínima: estudo de caso Colaborando com nossos achados, a literatura aponta que essas crianças apresentam dificuldade específica de linguagem, leitura e escrita (De Lima, Pessoa, 2007; De Carvalho, 2010). Há vários erros de escrita por apoio na oralidade, indicando que o paciente ainda não tem suficiente compreensão de que escrever não se limita a uma transcrição fonética, e que elementos de natureza ortográfica desempenham um papel determinante na forma de escrever as palavras (Zorzi, Ciasca, 2008). Além disso, algumas crianças com dificuldades de aprendizado apresentam problemas em relação ao controle motor, os quais se manifestam principalmente durante o uso das mãos e nas atividades relacionadas com o equilíbrio. O equilíbrio é um problema típico neste grupo de crianças. Consiste na capacidade de realizar ajustes posturais que são específicos em relação ao ato e contexto no qual este é realizado. A falta de equilíbrio manifesta-se através dos seguintes problemas: incapacidade para manter-se em apoio unipodal, com deslocamento exagerado do centro de gravidade sobre a perna de sustentação e com movimentação excessiva dos braços; dificuldade para caminhar em condições que exigem maior controle do equilíbrio, como por exemplo, ao longo de uma linha estreita. Pode ser que a criança consiga atravessar a linha rapidamente, mas não é capaz de fazê-lo lentamente, visto que os movimentos lentos exigem maior controle sobre sua postura; perda do equilíbrio quando se eliminam estímulos visuais. A criança é obrigada a basear-se nas informações de origem somatossensitiva (proprioceptiva e tátil) e vestibular. Na falta dessas informações, o equilíbrio estará prejudicado (Shepherd, 1995). Segundo Baker (1986) os problemas motores são frequentemente descritos de maneira global, compreendendo a precariedade das funções de equilíbrio, e a coordenação imperfeita entre os membros e/ou o corpo inteiro. Alguns procedimentos sugeridos para avaliar e tratar tais crianças incluem observar esse paciente com o máximo de atenção, desde a entrada no consultório, colher todos os dados, observar o comportamento dos cuidadores, observar o comportamento espontâneo do paciente, a comunicação e compreensão, observar sua postura, e como realiza as transferências, observar as atividades manuais, manter boa interação com a criança e família, impor regras, mas dar o direito da criança fazer escolhas (Diament et al., 2010). Nas diretrizes para o tratamento os professores devem ser orientados a não impor tarefas longas, aluno sempre na primeira fila, longe da janela para não se distrair, dar atenção diferenciada à criança (Rohde, Halpern, 2004). Os pais devem ser orientados sobre as dificuldades que a criança apresenta evitar castigos, evitar barulhos durante execução de atividades que exijam atenção, estabelecer normas claras, evitar discussões e gritos, manter diálogo franco, prestar atenção em brincadeiras e comportamento da criança, ser objetivo como: “Guarde seus brinquedos”, ouvir a criança e respeitar suas opiniões, e saber impor, quando necessário, limites e não exigir demais. Além disso, deve-se incentivar e elogiar 105 Cristiana Rodrigues, Michele Fernanda da Paz Janessi, Flávia Cristina Carbonero, Gabriela Mariotoni Zago, Denise Campos v.7 • n.17 • 2013 • p. 97-107 quando a criança obtiver avanços em tarefas propostas, e incentivar o hábito da leitura (Desidério, Miyazaki, 2007). Quanto à atuação da fisioterapia, foi possível estabelecer os principais objetivos e condutas de tratamento, a partir dos resultados obtidos na avaliação. De modo geral, o tratamento fisioterapêutico visa aumentar a atenção da criança nas atividades, melhorar a coordenação motora, estimular leitura, escrita e memória, manter amplitude de movimento, melhorar postura e a marcha, ganhar força muscular, aumentar o equilíbrio e orientar a família. Para atingir esses objetivos, algumas atividades são propostas durante a terapia. Para melhorar a atenção vários brinquedos de encaixe podem ser utilizados, quebra-cabeças ou até mesmo jogo de memória apropriado para a idade, onde a criança seja estimulada a se concentrar e raciocinar. O trabalho de ganho de força muscular, equilíbrio e coordenação motora podem ser alcançados com atividades lúdicas, onde a paciente arremessa argolas no alvo estando em apoio unipodal. Também pode ser trabalhado com uma bola normal, evoluindo o arremesso com outras bolas mais pesadas. Para estimular leitura e escrita podem ser realizados ditado na lousa e leitura de textos adequados para a idade. Para melhorar a marcha, pode ser utilizado um “circuito”, onde a paciente irá caminhar sobre os calcanhares, realizando a dorsiflexão, visto que sua marcha tende a ser muitas vezes na ponta dos pés. Para melhorar a motricidade fina e coordenação óculo-motora, pode-se também utilizar atividades envolvendo o recortar e colar, pintar e confecção de colar com cordão e miçangas. Outro recurso bastante utilizado na fisioterapia é a bola suíça. Esta possibilita a realização de inúmeros exercícios de alongamento, fortalecimento, equilíbrio e coordenação. Vários alongamentos podem serrealizados na bola para melhorar a postura. Paciente em decúbito ventral relaxando sobre a bola suíça, a fim de aliviar a coluna lombar, ou ainda, sentada com apoio da bola nas costas, puxando membros superiores para abdução e extensão, a fim de alongar a cadeia muscular anterior de tronco (Becker, Dolken, 2008). Também é possível trabalhar o equilíbrio com a paciente sentada na bola, promovendo oscilações da bola em várias direções, de modo que a criança mantenha o controle postural. Outro exercício seria posicionar a paciente sentada no centro da bola, e realizar transferência de peso ântero- posterior, para trabalhar movimentos de anteroversão e retroversão de quadril. Várias brincadeiras conhecidas, como amarelinha, vivo-morto, pular corda, imitar uma coreografia com músicas podem ser utilizadas para trabalhar de forma lúdica atenção, equilíbrio, coordenação e força dessas crianças. 106 Anuário da Produção Acadêmica Docente Disfunção cerebral mínima: estudo de caso Outro recurso interessante é a cama elástica, na qual se podem solicitar várias atividades com apoio unipodal ou bipodal, com os olhos abertos ou fechados, utilizando o arremessar, agarrar e/ou rebater a bola em várias direções. Além disso, os familiares devem ser orientados a realizar atividades que estimulem o desenvolvimento global da criança, utilizando jogo da memória, quebra-cabeças, e também brincadeiras mais dinâmicas, que exijam força, equilíbrio e coordenação, tais como atividades no parque utilizando gira-gira, gangorra e balanço. Acredita-se que a atuação da família seja imprescindível, pois os pais são as pessoas mais próximas da criança, tendo, portanto, muitas oportunidades para contribuir no desenvolvimento neuropsicomotor da criança. O presente estudo apresenta algumas limitações que devem ser levadas em conta quando se considera o estudo e suas contribuições. Primeiro, foi incluída apenas uma criança no estudo, de modo que não se podem generalizar tais achados para população. Segundo, houve dificuldade para discutir os resultados encontrados, devido à carência de pesquisas publicadas sobre o assunto na área da fisioterapia. A literatura é predominantemente constituída por estudos que enfatizam os distúrbios de linguagem, leitura, escrita e questões relativas ao comportamento. 5. CONCLUSÃO Verificou-se, a partir do estudo de caso, que a DCM cursa com dificuldade de aprendizagem, alterações de postura, marcha, déficit de atenção, equilíbrio e coordenação. Diante dessa diversidade de alterações faz-se necessário o acompanhamento multidisciplinar do paciente. Apesar das limitações, este estudo contribui para o conhecimento da DCM e aprimoramento do tratamento fisioterapêutico no distúrbio em questão. REFERêNCIAS BACKER, J; A psycho-motor approach to the assessment and treatment of clumsy children, Physioterapy 67, 1986. BECKER, ANTJE HUNTER; DOLKEN, MECHTHILD; Fisioterapia em Ortopedia, Editora Santos, 1ª edição, 2008. CARR, JANET; SHEPHERD, ROBERTA; Reabilitação Neurológica: Otimizando o Desempenho Motor, Editora Manole, 1ª edição, 2008. 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