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FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO Prof. Welson Costa • Assim como a família, a escola é a instituição com maior presença em nossa vida. • Desde os primeiros anos, o espaço educacional tem intensa participação em nosso cotidiano, na formação dos jovens, em intervenções sociais, na organização de eventos, na paisagem arquitetônica do bairro ou nas notícias de telejornal. • Tal presença em nossa vida contribuiu para que enxergássemos a escola como algo natural e único espaço de formação de ideias (SOUZA, 2000, 09.). • Com a participação diária da escola em nossa vida, a instituição, assim como o próprio conceito de educação, foi assumindo atribuições que não são suas. • Pode-se perceber que, nos últimos tempos, o termo escola tem sido sinônimo de educação; consequentemente, aqueles que acreditam na educação como ponto de reestruturação social passaram a enxergar a escola como promotora dessa realidade. • O estudo dos fundamentos sociológicos da educação é importante “[…] pelo modo como se estabelecem relações específicas entre educação e estrutura social ou pelo modo como se constituem sistemas de ensino” (SOUZA, 2007, p. 11). • Com base nesses fundamentos, compreendemos que a educação é mais uma agente nas questões sociais, e que, sozinha, não consegue estabelecer resoluções para todos os problemas cotidianos que necessitam de um aparato político, econômico e cultural. • Para que serve a escola? • Qual a distinção entre educar e instruir? • A escola atual tem cumprido o seu papel social? • As instituições educacionais e os seus profissionais têm a capacidade de assumir todas as responsabilidades que lhe são atribuídas? • Émile Durkheim (1858 - 1917). Sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo e filósofo. É considerado o criador da disciplina de sociologia, e, junto com outros pensadores, é referido como o principal estruturador da ciência social moderna. • Seu trabalho está firmado em uma ampla análise da sociedade como elementos religiosos, questões econômicas, criminologia, suicídio, educação dentre outros assuntos. Na sua obra, destaca-se o livro Sociologia e Educação, publicado em 1917, com uma análise sobre a contribuição da educação na sociedade contemporânea. • Para Émile Durkheim, a escola tem a importância fundamental de desenvolver as aptidões individuais, permitindo a cada indivíduo se adequarà divisão do trabalho, já que a educação doméstica não seria suficiente para as tarefas que surgem. • Ainda segundo o pensador, outro ponto importante da escola na sociedade é a sua capacidade de contribuir com o processo de socialização, com a criação e a difusão de novas ideias que reforçam as estruturas da sociedade. • Deve-se destacar que, para o autor, a “educação que cada sociedade realiza é funcional ao seu modo de existir” (SOUZA, 2007, p. 78). • Todo o projeto educacional atende às necessidades da sociedade e responde às suas exigências. • A funcionalidade da escola como instituição também depende das respostas que os seus integrantes oferecem às suas atividades. • É com base nessas respostas à sociedade que podemos chegar à distinção entre educar e instruir. • Para a instrução, exige-se que alguém seja capaz de codificar os códigos necessários para tal ação. • Educação é algo mais complexo, que exige a capacidade de um direcionamento com coordenadas culturais, o debate em torno de aspectos políticos, sociais, que enxerguem a complexidade do mundo. Tal questão vai além dos conteúdos programáticos e não pode ser desenvolvido apenas pela instituição escolar (SOUZA, 2007, p. 84). • No livro Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política, o professor Dermeval Saviani apresenta os projetos educacionais elaboradores no Brasil republicano e como tais ações foram observadas como os caminhos para a equalização social e superação da marginalidade. • Nessa perspectiva, o processo educacional é compreendido como o instrumento para a resolução dos problemas sociais e a inclusão dos indivíduos em uma estrutura de aceitação dos excluídos. • As propostas são defendidas por Dermeval Saviani em duas correntes. • A primeira, classificada como As teorias não críticas, está dividida em Pedagogia Tradicional, Pedagogia Nova e Pedagogia Tecnicista. • A segunda, denominada “Teorias crítico-reprodutivas”, está organizada nas Teorias do sistema de ensino como violência simbólica, Teoria da escola como aparelho ideológico de estado e Teoria da escola dualista. A pedagogia tradicional Constituída no final do século XIX, a sua organização foi inspirada no princípio de que a educação é direito de todos e dever do Estado. Para Dermeval Saviani, “o direito de todos à educação decorria do tipo de sociedade correspondente aos interesses da nova classe que se consolidaria no poder: a burguesia” (SAVIANI, 2005, p. 05). • o excluído da sociedade é o “ignorante” e a escola se apresenta como o “remédio” para a equalização da sociedade. • A instituição é tida como a responsável por difundir o conhecimento, a instrução e formar o indivíduo. • O professor era considerado o dono do conhecimento, responsável por apresentar uma gradação lógica de acesso aos alunos. No entanto, os alunos eram vistos como aqueles que apenas poderiam apresentar as informações selecionadas pelos docentes. A pedagogia nova • Essa corrente, formulada nas primeiras décadas do século XX, tinha como objetivo contrapor as ideias da pedagogia tradicional. Mesmo com a construção de novos pensamentos para a equalização social, a pedagogia nova continuou com a ideia de poder da escola para corrigir as distorções da sociedade. • No entanto, para tal pensamento, a escola tradicional se apresentava como inadequada para os seus projetos, com a necessidade de reformas que ficaram conhecidas como “escolanovismo”. • Para os pensadores da pedagogia nova, a marginalidade social deixou de ser pensada como aqueles que não dominavam o conhecimento, classificados como “os ignorantes”. • Nesse novo momento, o marginalizado é o rejeitado pela sociedade, o que não está integrado ao processo de mudança social. Uma das ideias da corrente, organizada na década de 1920, pretendia a incorporação de toda a população infantil no espaço escolar. • Nesse sentido, o aluno também assumia o centro do processo de aquisição do conhecimento. A pedagogia tecnicista • A ideia de depositar a solução da marginalidade social no “escolanovismo” foi um dos pontos de desestruturação do projeto. Desde a segunda metade do século XX, buscava-se uma eficiência instrumental, que poderia ser baseada na pedagogia tecnicista. • Para Dermeval Saviani, “a partir do pressuposto da neutralidade científica e inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade essa pedagogia advoga a reordenação do processo educativo de maneira a torná-lo objetivo e operacional” (SAVIANI, 2005, p. 12). • Na pedagogia tecnicista, o marginalizado não será o “ignorante” ou o rejeitado, mas o incompetente ou improdutivo, tomando como base as formas de medições técnicas do conceito. • Para isso, a educação será pensada com o objetivo de formar indivíduos eficientes, tendo a intenção de colaborar com o aumento da produtividade na sociedade. Teoria do sistema de ensino como violência simbólica: • Para essa corrente teórica, a função da educação, tomando-se por base a reprodução cultural, é a de repetir as desigualdades sociais. • Nessa concepção, os marginalizados são os grupos ou camadas dominantes, em razão da incapacidade de acumular a força material (capital econômico) e marginalizados culturalmente, pois não possuem força simbólica (capital cultural). • De tal modo, a educação não assume o seu papel de superação da marginalidade, constituindo-se emum elemento que reforça a desigualdade. (SAVIANI, 2005, p. 21) • É importante destacar que a violência simbólica se apresenta de várias formas da sociedade. • Entre elas, podemos destacar a formação da opinião pública pelos meios de comunicação, as mensagens religiosas, as atividades artísticas, a propaganda, a educação familiar e escolar, entre outros elementos. • Sendo assim, deve-se destacar que o aspecto da violência simbólica não está distante dos redutos escolares (SAVIANI, 2005, p. 18 – 19). Teoria da escola como Aparelho ideológico do Estado (AIE) • O principal proponente dessa teoria foi o pensador francês, de origem argelina, Louis Althusser (1918-1990). • Antes de adentramos no nosso principal objetivo, precisamos destacar a existência dos aparelhos repressivos de Estado (governo, administração, forças armadas, tribunais, prisão etc.) e os aparelhos ideológicos de Estado (o AIE religioso, o AIE escolar, o AIE familiar, o AIE jurídico, o AIE político, o AIE sindical, o AIE da informação etc). • Para Althusser, como aparelho ideológico do estado dominante, a escola apresenta-se como principal meio de reprodução das ideias do capitalismo. • Nesse espaço, os seus representantes inserem nas crianças e adultos saberes que representam a ideologia dominante e a manutenção do status quo de desigualdade social. Teoria da escola dualista • Essa teoria divide a escola em duas grandes redes, que corresponde à divisão da sociedade capitalista em duas classes fundamentais: a burguesia e o proletariado. • Para essa proposta, a instituição é uma reprodutora a serviço das ideias de uma burguesia. A pedagogia libertadora • Com o processo de redemocratização no Brasil e em vários outros países, as ideias pedagógicas também apresentaram grandes mudanças. • Na tentativa de desconstruir os projetos sem a participação social, que enxergavam professores e alunos como reprodutores e receptores das ideias pedagógicas, a pedagogia libertadora tinha como principal foco a formação ampla dos envolvidos. • Com base no pensamento de Paulo Freire, um dos principais representantes dessa pedagogia, a educação é vista como ato político e de mudança radical da exclusão social. • O seu objetivo é a construção de uma sociedade com mais ética, justiça e solidariedade. • A educação se apresenta como ponto constante de trabalho e luta pela liberdade e igualdade. • Além das propostas educacionais, devemos compreender algumas ideias de sociólogos que colaboraram com a organização das teorias educacionais. • Vários são os pensadores que mantiveram tal contribuição, mas neste texto vamos elencar alguns nomes que serão importantes para os nossos debates. • Sendo assim, sugerimos que os alunos pesquisem sobre as contribuições de outros autores, para que assim, possam ampliar o seu conhecimento Karl Marx (1818 - 1883) • é considerado um dos mais importantes pensadores do período moderno, com trabalhos em diversas áreas, sobretudo, com contribuições para a sociologia, economia e política. • Na área da educação, em que o pensamento também está muito presente, suas produções são fundamentais para as pesquisas que compreendem a educação como instrumento para a emancipação social (RETONDAR, 2013, p. 29) • Para Karl Marx, a educação é o meio em que classes exploradas podem tomar consciência das contradições da realidade social. • No entanto, deve-se compreender que o sistema educativo é controlado por uma parcela da sociedade que não tem interesse da tomada de consciência dos menos favorecidos. A produção de Émile Durkheim (1858 - 1917) • é considerada uma das principais referências na área da sociologia da educação. Para o autor, a educação é um fenômeno essencialmente coletivo, com uma função central na organização e manutenção da coesão social. • Para Émile Durkheim, o fenômeno da educação é um dos principais fatos que organiza a vida social, pois graças a ela interiorizamos regulamentos e normas e nos transformamos em seres sociais. • Para o pensador, a educação assume papel central na constituição da ordem social, pois é nesse aspecto que nos tornamos seres sociais. Pierre Bourdieu (1930 - 2002) • desenvolveu uma vasta produção sociológica, com contribuição para as mais diversas áreas das ciências sociais. • No seu pensamento, destaca-se a ideia de campo social, como espaço de disputa entre os diferentes agentes que o constituem. • A sua proposta compreende que as nossas atividades estão inseridas nos mais diferentes campos, como o social, econômico, educacional, religioso e artístico (RETONDAR, 2013, p. 40). • Essas questões são observadas por Pierre Bourdieu como relações de poder e conflito, em que a disputa nos diferentes campos estabelece as relações de dominação. • Ou seja, os campos também podem ser compreendidos como espaços de concorrência, de luta simbólica pela aquisição dos diversos exemplos de capitais (RETONDAR, 2013, p. 41). Paulo Freire (1921 - 1997) • tem as ideias marxistas como uma das principais inspirações para o seu pensamento sobre as questões da educação. • Entre as suas propostas, o autor destaca a necessidade da manutenção de uma proposta dialógica entre professor e aluno, desenvolvendo uma constante crítica aos modelos tradicionais de educação. • Mesmo com o reconhecimento do caráter emancipador da educação, Paulo Freire observa que do mesmo modo que a prática liberta também pode aprisionar. • Tal afirmativa se constitui no modo como o trabalho entre o ensino e a aprendizagem é constituído, pois aqueles que oprimem também são de certo modo oprimidos. Sugestões para ampliar o debate • O documentário “Pro dia nascer feliz” foi lançado em 2002. A obra apresenta depoimento de estudantes, professores e funcionários de instituições públicas e privadas de ensino, com uma reflexão sobre o medo e anseio dos jovens no ambiente escolar. • O documentário está disponível no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=iDN1r30mGpE • Com base nas discussões apresentas no documentário “Pro dia nascer feliz”, apresente as principais distinções do cenário nacional na atualidade. Referências • FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000. • SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onde teses sobre a educação política. Campinas: Autores Associados, 2005. • SOUZA, João Valdir Alves de. Introdução à Sociologia da Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. • RETONDAR, Anderson Moebus. Fundamentos sócio- históricos da educação. João Pessoa: UFPB, 2013.
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