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1 Curso Ênfase © 2019 EXECUÇÃO PENAL – FELIPE ALMEIDA AULA4 - PRINCÍPIO DA HUMANIDADE 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Na presente aula, serão analisados os Princípios Fundamentais do Direito de Execução Penal, que são rotineiramente exigidos nos concursos de carreira estadual. Então, tratando-se das questões mais atuais no âmbito da execução penal, serão analisados sob o viés da normativa internacional. Assim, inicialmente, verifica-se o Princípio da Humanidade. 2. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE Conforme sintetiza o professor Zaffaroni, o princípio da humanidade ou humanização das penas, em linhas gerais, é o não esquecimento de que o condenado é pessoa humana. Assim, mesmo que o sujeito ostente essa condição jurídica de condenado e esteja privado de sua liberdade, não perde a sua condição de ser humano, mantendo direitos inerentes a essa condição. Nesse contexto, rememore que, conforme determina o artigo 3º da Lei de Execução Penal, o preso não poderá ter mais direitos restringidos do que aqueles que foram limitados pela Lei e pela Sentença. Isso porque, o sujeito, enquanto ser humano, é titular de determinados direitos que não são atingidos pela Sentença e pela Lei, os quais devem ser respeitados. Logo, toda pena privativa de liberdade deve ser pautada pelo princípio da humanidade das penas, de acordo com o qual a sanção não pode desconhecer que o condenado é pessoa humana e, portanto, titular de direitos inerentes a essa condição. Desse modo, conforme ensina a doutrina, o princípio em questão determina a execução humana e responsável da pena. Ademais, quando se fala dos princípios fundamentais e coloca-se o princípio da humanidade ou humanização das penas como o primeiro deles, não é por acaso. Modernamente, em todas as normativas internacionais que tratam das pessoas privadas de liberdade, o princípio mais preservado, valorizado e prestigiado é o da humanidade das penas. Dessa forma, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no artigo 5º, veda a tortura, o tratamento e castigos cruéis, desumanos ou degradantes. Observe: Artigo 5º Ninguém será submetido a tortura nem a punição ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes. Execução Penal – Felipe Almeida Aula4 - Princípio da Humanidade 2 Curso Ênfase © 2019 Nesse sentido, boa parte dos diplomas internacionais que versam sobre Direitos Humanos ou sobre o Direito de Execução Penal estabelece a vedação à tortura e ao tratamento desumano, cruel e degradante, assim como o faz a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Do mesmo modo, as Regras de Tratamento Mínimo do Preso da ONU, de 1955, possuem previsão semelhante. Tais regras foram internalizadas pela Resolução nº 14 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). No que se refere às Normas de Tratamento Mínimo do Preso da ONU, de 1955, a regra de nº 31 dispõe, ipsis litteris: 31. Serão absolutamente proibidos como punições por faltas disciplinares os castigos corporais, a detenção em cela escura e todas as penas cruéis, desumanas ou degradantes. No mesmo sentido, tem-se o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (ou Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de Nova Iorque), internalizado no Brasil, por Decreto, no ano de 1992. Esse diploma determina no art. 10, item nº 1, in verbis: Artigo 10 1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito à dignidade inerente à pessoa humana Da mesma forma, a Convenção Americana de Direitos Humanos (o Pacto de São José da Costa Rica) prevê, no artigo 5º, o Direito à Integridade do Preso, nos termos seguintes: ARTIGO 5 Direito à Integridade Pessoal 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeito sua integridade física, psíquica e moral. 2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano. 3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente. 4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, a ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de pessoal não condenadas. 5. Os menores, quando puderem ser processados, deve ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para seu tratamento. Execução Penal – Felipe Almeida Aula4 - Princípio da Humanidade 3 Curso Ênfase © 2019 6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados. Portanto, a Convenção Americana de Direitos Humanos também consigna o respeito ao princípio da humanidade ou humanização das penas. Além dessas, as Regras de Mandela, de 2015, trazem previsão semelhante. O diploma, em resumo, trata de regras mínimas das Nações Unidas para o tratamento inerente às pessoas privadas de liberdade. No entanto, não se trata de um Tratado Internacional, mas de Regras desenvolvidas pela Organização das Nações Unidas, que, atualmente, são observadas pela maioria das legislações. E, nesse ínterim, a Regra de Mandela da ONU de nº 01 dispõe sobre a humanidade das penas, nos seguintes termos: Regra 1 Todos os presos devem ser tratados com respeito, devido a seu valor e dignidade inerentes ao ser humano. Nenhum preso deverá ser submetido a tortura ou tratamentos ou sanções cruéis, desumanos ou degradantes e deverá ser protegido de tais atos, não sendo estes justificáveis em qualquer circunstância. A segurança dos presos, dos servidores prisionais, dos prestadores de serviço e dos visitantes deve ser sempre assegurada. Portanto, os reclusos devem ser tratados com respeito, inerente ao valor e à dignidade do ser humano, de modo que é vedada a tortura e outros tratamentos cruéis ou degradantes. Em essência, verifica-se que todas essas normativas internacionais visam banir e afastar o tratamento desumano, cruel ou degradante, bem como vedar toda de forma a tortura. Isso porque, é sabido que em ambientes de privação de liberdade, de certa maneira, é mais comum se verificar essa violação. Por essa razão, observa-se a preocupação dos países de vedar esse tipo de prática que é absolutamente nefasta e não se compatibiliza com o Estado Democrático de Direito. Para mais, com relação à normativa interna do país, o Princípio da Humanidade das Penas é trabalhado em diversos dispositivos da Constituição da República, observe: a) inicialmente, no artigo 1º, inciso III, da Constituição, que trata dos princípios fundamentais da República, in verbis: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: Execução Penal – Felipe Almeida Aula4 - Princípio da Humanidade 4 Curso Ênfase © 2019 I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; (...) b) da mesma maneira, no artigo 4º, que dispõe relações internacionais e os princípios da República, observe: Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; [...] c) Além disso, o artigo 5º da Constituição consagra o princípio da humanidade ou humanização das penas em diversos dispositivos. Nesse contexto, o inciso III, do art. 45º, da CF, apresenta, talvez, a vedação mais contundente com relação ao princípio da humanidade das penas: Art. 5º. [...] III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; Trata-se, da mesma redação encontrada nos diplomas internacionais e denota a preocupação do constituinte originário em consagrar a questão da vedação datortura, do tratamento desumano, cruel e degradante. Ademais, quando se fala do Direito de Execução Penal, o princípio da humanidade ganha uma importância muito maior, pois é o instrumento que melhor combate a irracionalidade do sistema punitivo estatal. E, por esse motivo, o artigo 5º, da CF, apresenta vários dispositivos constitucionais que consagram esse princípio. Nesses termos, o artigo 5º, XLVII, da CF, por exemplo, determina: Art. 5º [...] XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; Execução Penal – Felipe Almeida Aula4 - Princípio da Humanidade 5 Curso Ênfase © 2019 d) de banimento; e) cruéis; Aqui, o constituinte criou um rol de penas que não são compatíveis com o princípio da humanidade ou da humanização das penas, quais sejam: a) a pena de morte; De pronto, verifica-se que a pena de morte é vedada de forma relativa no país, já que admitida em caso de guerra declarada, nos termos • dos artigos 55 e 56, do Código Penal Militar; e • dos artigos 707 e 708, do Código Penal Militar; Trata-se, portanto, de vedação relativa pois, embora não seja permitida em tempos de paz, admite-se a pena de morte em caso de guerra declarada. Ademais, a pena de morte já era, há muito tempo, criticada em territórios brasileiros. E, por meio de um apanhado histórico, nota-se que a pena de morte: • foi vedada pela Constituição Imperial de 1824; • mas reproduzida no Código Imperial de 1830; • no Código de 1890, foi, finalmente, abandonada (embora estivesse em desuso desde o Segundo Reinado). Em síntese, a ideia de pena de morte foi reconsiderada em razão de vários falhas judiciais. No Rio de Janeiro, por exemplo, ocorreu um dos maiores erros judiciais envolvendo a pena de morte, no século XIX, no caso conhecido como "A Fera de Macabu". Além disso, o próprio imperador Dom Pedro II já era um crítico das penas de morte. Nesses termos, tal modalidade de pena entrou em desuso, sendo abandonada, definitivamente, no Código Penal da Primeira República de 1890. Outrossim, no Brasil, as penas de caráter perpétuo também são vedadas. b) penas perpétuas; Inicialmente, recorde que, de acordo com o artigo 75 do Código Penal, o máximo de cumprimento ininterrupto de pena privativa de liberdade é 30 anos. Então, após 30 anos de cumprimento ininterrupto, sem que tenha havido uma nova reunificação de pena, o sujeito é libertado compulsoriamente. c) trabalho forçado; Execução Penal – Felipe Almeida Aula4 - Princípio da Humanidade 6 Curso Ênfase © 2019 Tal modalidade de pena já foi utilizada no país, principalmente pelas galés (que é modalidade de punição na qual calcetas de ferro eram colocadas nas pernas dos condenados ao trabalho forçado). Em suma, todas essas penas são vedadas, assim como as de banimento e ad cruéis. E, ao referir-se às penas cruéis, o constituinte veda genericamente qualquer sanção que atinja a dignidade da pessoa humana. Por seu turno, a pena de banimento, embora já tenha sido muito utilizada no passado, atualmente é vedada. Dessa forma, a doutrina costuma apresentar como fundamento do princípio da humanidade das penas o artigo 5º, inciso XLVII, da Constituição Federal. Ademais, ainda sobre o princípio da humanização ou da humanidade das penas, o artigo 5º, inciso XLVIII, da Constituição Federal, trata de outro aspecto muito importante, observe: Art. 5º [...] XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; Por conseguinte, além de dispor sobre a humanidade da penas, o dispositivo disciplina a individualização da pena, que é princípio que se verificará posteriormente [1]. Nota do monitor [1] o professor pontua que, na prática, boa parte das penitenciárias brasileiras são definidas de acordo com a organização criminosa que predomina no interior do estabelecimento. E, acrescenta que o Estado compactua com a criação e o fomento dessas facções criminosas, na medida em que destina certas unidades para a acautelar presos da facção A, B ou C, por exemplo. Outrossim, o inciso XLIX, do art. 5º, da Constituição da República, é, talvez, o dispositivo mais discutido no âmbito do Direito de Execução Penal, atualmente, em razão das recentes decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Nesse contexto, houve um caso recente, envolvendo o Brasil e a Corte Interamericana, sobre quatro estabelecimentos prisionais localizados nos Estados de Rondônia, Pernambuco e Rio de Janeiro. Por seu turno, o artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal estabelece que: Execução Penal – Felipe Almeida Aula4 - Princípio da Humanidade 7 Curso Ênfase © 2019 Art. 5º [...] XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; Assim, trata-se de dispositivo normalmente utilizado para tratar da ideia da superlotação (que é provavelmente o problema mais caótico enfrentado pelo sistema penitenciário brasileiro), já que assegura aos presos o respeito à integridade física e moral. Acerca da matéria, as próprias Regras de Tratamento Mínimo do Preso da ONU, de 1955, estabelecem que a hipótese de superlotação caracteriza tortura. Contudo, sabe-se que, no Brasil, há um déficit gigantesco de vagas no sistema penitenciário, o que viola o princípio da humanização das penas. E foi justamente com essa escalada de presos, sem locais adequados para sua privação de liberdade, que o Brasil alcançou a posição de 3º país do mundo com maior população carcerária [2]. Nota do monitor [2] ou, de acordo com alguns, o 4º lugar. Nesse âmbito, a superlotação carcerária representa ofensa ao princípio da humanidade das penas, pois, para além da situação propriamente dita, culmina em outros problemas, como epidemias (por exemplo, de tuberculose e sarna), que se proliferam nas unidades de privação de liberdade. Ademais, tal situação representa risco à segurança dos agentes penitenciários e da sociedade como um todo [3]. Nota do monitor [3] o professor pontua que as prisões hoje são consideradas verdadeiros barris de pólvora. Relata que unidades prisionais com capacidade para 1200 presos, estão com 3.800 ou 4.000 internos, assistidos, muitas vezes, por 5 ou 6 agentes penitenciários. E esclarece que essas situações colocam em risco o funcionamento do estabelecimento prisional, os profissionais que ali desenvolvem as suas atividades laborativas e a própria sociedade. Por isso, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, em 2018, prolatou diversas decisões, através de Resoluções, para que o Estado brasileiro remediasse essa situação de superlotação carcerária [4]. Nota do monitor [4] A questão envolveu as seguintes unidades carcerárias: (a) Urso Branco, em Rondônia; (b) Aníbal Bruno, no Recife; e o (c) Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, no Rio de Janeiro. Execução Penal – Felipe Almeida Aula4 - Princípio da Humanidade 8 Curso Ênfase © 2019 Naquela oportunidade, o Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, no Rio de Janeiro, foi visitado pelos Juízes da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a qual editou Resolução, em novembro de 2018, determinando a contagem de prazo diferenciada para os presos que estavam e permanecem naquela unidade. Em resumo, a Corte propôs que os internos do Instituto Plácido de Sá Carvalho tenham o prazo contado de forma diferenciada, em uma espécie de remissão in natura, para que a cada dia de cumprimento de pena sejam computados dois, em razão da situação de tratamento degradante a que os presos são submetidos naquela unidade [5]. Nota do monitor [5] o professor ressalta que as más condições da unidade prisional culminam, porvezes, em óbitos. Surgindo, então, o dever de indenizar do Estado, ante a culpa in custodiando. Ademais, o Supremo Tribunal Federal já se manifestou declarando o Estado de Coisas Inconstitucional do Sistema Penitenciário Brasileiro, com base na decisão da Corte Suprema Colombiana, e enfrentou, também, a questão envolvendo a reparação pecuniária daqueles que suportaram o cumprimento de pena nessas condições. Nesse âmbito, o Ministro Luís Roberto Barroso, à época, embora tenha sido voto vencido, propôs uma espécie de remição in natura, pontuando que a reparação pecuniária nem sempre atenderia ao interesse do preso que suportou ou suporta o cumprimento de pena degradante. Isso porque, muitas vezes, essa indenização seria recebida apenas pelos netos do preso. Por conseguinte, a remição in natura, enquanto cômputo de pena diferenciado para aqueles que suportaram essas condições do cárcere, seria mais atrativa do ponto de vista do preso do que uma prestação pecuniária, que muitas vezes não recebe em vida. Então, todas essas questões têm relação com o princípio da humanidade. Para mais, é importante observar que o art. 88, parágrafo único, "b", da Lei de Execução Penal determina que, na penitenciária, o preso tem direito a 6 m² per capita. Entretanto, sabe-se que tal realidade que não é encontrada nas unidades prisionais brasileiras. Para mais, a superlotação, além dos espaço mínimo, compromete as condições de aeração e térmicas, o fornecimento ininterrupto de água, bem como a vestimenta e alimentação adequada. E, por consequência, tal situação compromete o princípio da humanização ou da humanidade das penas. Por esses motivos, o Brasil vem tendo problemas com a Corte Interamericana de Direitos Humanos (em razão do quadro de superlotação carcerária que se enfrenta). Execução Penal – Felipe Almeida Aula4 - Princípio da Humanidade 9 Curso Ênfase © 2019 Além disso, é importante mencionar os chamados Princípios de Boas Práticas e Proteção das Pessoas Privadas de Liberdade, elaborados pela OEA. Nesse âmbito, a Resolução nº 1, de 2008, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos dispõe sobre os princípios e as boas práticas de proteção das pessoas privadas de liberdade. E, tal diploma, é o fundamento para parcela considerável das questões que são objetos de denúncia internacional envolvendo o Brasil, em consequência da superlotação carcerária. Outrossim, há de se destacar que as mulheres privadas de liberdade também merecem proteção específica em decorrência do princípio da humanidade das penas. E, sobre a matéria, deve se verificar o disposto no artigo 5º, inciso L, da Constituição Federal, ipsis litteris: Art. 5º [...] L - as presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação; Desse modo, a Lei de Execução Penal, ao tratar da penitenciárias, traz previsão expressa para as mulheres privadas de liberdade, no artigo 89, in verbis: Art. 89 Além dos requisitos referidos no art. 88 [6], a penitenciária de mulheres será dotada de seção para gestante e parturiente e de creche para abrigar crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, com a finalidade de assistir a criança desamparada cuja responsável estiver presa. Parágrafo único [7]. São requisitos básicos da seção e da creche referidas neste artigo: I – atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as diretrizes adotadas pela legislação educacional e em unidades autônomas; e II – horário de funcionamento que garanta a melhor assistência à criança e à sua responsável. Nota do monitor [6] o art. 88 dispõe sobre o conjunto arquitetônico das penitenciárias. [7] o parágrafo único estabelece como será feita essa unidade materno-infantil (unidade de creche), que deve contar com leitos próprios para as crianças, principalmente em período de lactação. Isso porque, as lactantes têm direito de amamentar os seus filhos, embora privadas de liberdade. Para mais, o Supremo Tribunal Federal tem enfrentado questões relativas às presas gestantes e lactantes, como ocorreu, por exemplo, no habeas corpus coletivo apreciado em 2018. Execução Penal – Felipe Almeida Aula4 - Princípio da Humanidade 10 Curso Ênfase © 2019 Então, o princípio da humanidade das penas ocupa-se, também, de questões particulares à condição das mulheres privadas de liberdade. Nesse âmbito, há normativa internacional específica tratando de questões pertinentes às mulheres em cárcere, trata-se das Regras de Bangkok. Em essência, o diploma dispõe sobre o princípio da humanidade das penas aplicado, especificamente, às mulheres privadas de liberdade, tendo em vista a especial situação de vulnerabilidade Por fim, é importante observar as alguns apontamentos sobre ações coletivas que tratam do princípio da humanidade das penas[8]. Nota do monitor [8] o professor destaca que é uma questão muito discutida nos Tribunais e que vem sendo objeto de questionamento em prova com uma certa frequência. Nesse cenário, é muito comum haver ações coletivas, promovidas pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública, visando interdição de unidades prisionais, total ou parcialmente, bem como a transferência de parcela do efetivo carcerário, dentre outras questões, como: para a contratação de equipes técnicas (médicos, assistentes sociais e psiquiatras), compra de equipamentos, contratação de professores no ambiente prisional, contratação de agentes, reformas estruturais, etc. Assim há discussão sobre esse descumprimento do princípio da humanidade das penas e a possibilidade do Poder Judiciário impor ao Executivo condenações dessa natureza. Discute-se, portanto, se essas questões integrariam o (a) mérito administrativo, de modo que caberia ao Executivo definir como alocaria as suas verbas, bem como (b) a reserva do possível. Então, normalmente, a reserva do possível e o mérito administrativo são questões suscitadas pela Advocacia Pública do Estado em defesa nas ações coletivas dessa natureza. Nesse contexto, o Supremo Tribunal Federal, enfrentando a matéria, entendeu que o mínimo existencial e o princípio da humanidade das penas se sobrepõem à tese estatal do mérito administrativo e da reserva do possível. Isso porque, na medida em que constitucionalmente previsto, o mínimo existencial relativo ao princípio da humanidade das penas deve se sobrepor a toda e qualquer defesa do Estado, seja pela reserva do possível, seja pelo mérito administrativo. Ademais, o Supremo Tribunal Federal pauta essas condenações nos Tratados Internacionais, ratificados pelo Brasil, sobre o princípio da humanidade das penas.
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