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O Professor e a Educacao Inclusiva - Therezinha Guimarães Miranda, Teófilo Alves Galvão Filho

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O professor 
e a educação 
inclusiva
formação, práticas e lugares
o prof e a ed inclusiva.indb 1 6/12/2012 14:21:54
Universidade Federal da Bahia
reitora
Dora Leal Rosa
vice-reitor
Luiz Rogério Bastos Leal
editora da Universidade Federal da Bahia
diretora
Flávia Goulart Mota Garcia Rosa
conselho editorial
Alberto Brum Novaes
Angelo Szaniecki Perret Serpa
Caiuby Álves da Costa
Charbel Niño El-Hani
Cleise Furtado Mendes
Dante Eustachio Lucchesi Ramacciotti
Evelina de Carvalho Sá Hoisel
José Teixeira Cavalcante Filho
Maria Vidal de Negreiros Camargo
editora da Universidade Federal da Bahia
Rua Barão de Jeremoabo s/n – Campus de Ondina
40.170-115 Salvador – Bahia – Brasil
Telefax: 0055 (71) 3283-6160/6164
edufba@ufba.br - www.edufba.ufba.br
o prof e a ed inclusiva.indb 2 6/12/2012 14:21:55
EDUFBA
Salvador 
2012
Theresinha Guimarães Miranda
Teófilo Alves Galvão Filho
ORGANIZADORES
O professor 
e a educação 
inclusiva
formação, práticas e lugares
o prof e a ed inclusiva.indb 3 6/12/2012 14:21:55
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capa, projeto GráFico e editoração
Lúcia Valeska Sokolowicz
normatização
Susane Barros
revisão
Flávia Rosa
2012, Autores
Direitos para esta edição cedidos à Editora da Universidade Federal da Bahia.
Feito o depósito legal.
Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, 
em vigor no Brasil desde 2009.
Editora filiada à:
o prof e a ed inclusiva.indb 4 6/12/2012 14:21:55
Sumário
 9 Apresentação
 FORMAÇÃO
 17 Formação docente e práticas pedagógicas: 
conexões, possibilidades e tensões
 Denise Meyrelles de Jesus | Ariadna Pereira Siqueira Effgen
 25 Reflexões sobre a formação de professores com vistas 
à educação inclusiva
 Lúcia de Araújo Ramos Martins
 39 Educação inclusiva e preconceito: desafios para a prática 
pedagógica 
 José Leon Crochík
 61 Vygotsky e a concepção sócio-histórico cultural da aprendizagem
 Felix Díaz
 89 Formação de professores e educação inclusiva frente às 
demandas humanas e sociais: para quê?
 Valdelúcia Alves da Costa
 111 Trajetória de um grupo de pesquisa da Universidade do Estado 
da Bahia
 Luciene Maria da Silva
 123 O grupo de pesquisa em educação inclusiva e necessidades 
educacionais especiais do PPGE/UFBA
 Theresinha Guimarães Miranda
 139 Formação de professores para a inclusão: saberes necessários 
e percursos formativos 
 Susana Couto Pimentel
o prof e a ed inclusiva.indb 5 6/12/2012 14:21:55
 PRÁTICAS
 159 As propriedades do professor e do aluno com deficiência na 
utilização de recursos de comunicação alternativa em sala de 
aula comum
 Rafael Luiz Morais da Silva | Ana Irene Alves de Oliveira | Simone Souza da 
Costa Silva | Fernando Augusto Ramos Pontes | Marcilene Alves Pinheiro
 179 O ensino de ortografia para crianças cegas
 Amanda Botelho Corbacho Martinez
 203 O uso de jogos pedagógicos e recreativos com pacientes 
pediátricos do Hospital Universitário Professor Edgar Santos 
 Alessandra Barros | Adriana Santos de Jesus | Aurenívea Garcia Barbosa
 223 Comunicação alternativa, autismo e tecnologia: estudos de caso 
a partir do Scala
 Liliana M. Passerino
 247 Tecnologia Assistiva e salas de recursos: 
análise crítica de um modelo
 Teófilo Alves Galvão Filho | Theresinha Guimarães Miranda
 267 Práticas municipais de inclusão da pessoa com deficiência no 
estado do Pará
 Ivanilde Apoluceno de Oliveira
 285 Audiodescrição: ferramenta de acessibilidade a serviço da 
inclusão escolar
 Manoela Cristina Correia Carvalho da Silva
 299 Contribuições da Tecnologia Assistiva para a inclusão 
educacional na rede pública de ensino de Feira de Santana
 Antonilma S. Almeida Castro | Lucimêre Rodrigues de Souza | 
Marilda Carneiro Santos
 321 A comunicação construindo redes entre a escola e 
o aluno com surdocegueira
 Nelma de Cássia Silva Sandes Galvão
 LUGARES
 349 Salas de recursos multifuncionais: é possível um serviço 
“tamanho único” de atendimento educacional especializado?
 Enicéia Gonçalves Mendes | Cícera A. Lima Malheiro
o prof e a ed inclusiva.indb 6 6/12/2012 14:21:55
 367 Inclusão da pessoa com deficiência no Ensino Superior: 
primeiras aproximações
 Hildete Pereira dos Anjos
 385 Inclusão e preconceito na universidade: possibilidades 
e limites para estudantes com deficiência
 Jaciete Barbosa Santos
 403 Pessoas com deficiência no mercado de trabalho: 
um estudo da cultura organizacional
 Ana Cristina Cypriano Pereira | Liliana M. Passerino
 423 Educação e trabalho: temas a considerar para inclusão de 
pessoas com deficiência no mercado de trabalho
 Maria Candida Soares Del-Masso
 435 Universidade Estadual de Feira de Santana: trajetórias, desafios 
e proposições para a inclusão no ensino superior
 Marilda Carneiro Santos
 451 O letramento de surdos em escolas especiais em Salvador, Bahia
 Elizabeth Reis Teixeira | Erivaldo de Jesus Marinho
 461 Inclusão, ensino e pesquisa na Universidade Federal de Sergipe
 Verônica dos Reis Mariano Souza | Antônio Carlos Nogueira Santos 
 479 Políticas de inclusão de alunos com deficiência e avaliação de 
desempenho: pontos e contrapontos
 Maria José Oliveira Duboc
 489 Sobre os autores
o prof e a ed inclusiva.indb 7 6/12/2012 14:21:55
| 8 | o professor e a educação inclusiva: formação, práticas e lugares
o prof e a ed inclusiva.indb 8 6/12/2012 14:21:55
| 9 | apresentação 
Apresentação
A coletânea O professor e a educação inclusiva: formação, práticas e lugares 
é resultado das palestras, proferidas por convidados, em 2011, durante a 
realização do III Congresso Baiano de Educação Inclusiva e I Simpósio Bra-
sileiro de Educação Inclusiva, organizados pelas seis universidades públicas 
no Estado da Bahia – Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade 
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade do Estado da Bahia 
(UNEB), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Universidade 
Estadual de Santa Cruz (UESC) e Universidade Estadual do Sudoeste da 
Bahia (UESB) – sob a liderança do Grupo de Pesquisa Educação Inclusiva 
e Necessidades Educacionais Especiais (GEINE), do Programa de Pós-
-Graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia (PPGE/UFBA), 
em que participaram profissionais de vários estados brasileiro.
Esta obra tem como questão central: quais sentidos, significados e inten-
cionalidades, vêm se materializando na formação, na prática e noslugares 
de atuação do professor, para atuar na perspectiva da educação inclusiva? 
A questão proposta é analisada sob a ótica de diferentes experiências 
construídas durante o desempenho da trajetória profissional de seus autores. 
Contudo, o leitor vai observar que os autores mantiveram uma importante 
relação pedagógica e política entre o social e o educacional, na busca de 
aprofundar as reflexões referentes a educação inclusiva, principalmente em 
relação a formação docente, suas práticas e lugares de atuação, para uma 
educação especial na perspectiva do novo paradigma inclusivo.
O referido Congresso teve como tema gerador “Educação inclusiva: prá-
tica, formação e lugares” e como objetivo, discutir questões epistemológicas, 
conceituais, políticas, culturais e ética relativas à educação inclusiva. Nessa 
discussão, reconhece que a construção de uma escola inclusiva envolve a 
o prof e a ed inclusiva.indb 9 6/12/2012 14:21:55
| 10 | o professor e a educação inclusiva: formação, práticas e lugares
criação de dinâmicas escolares com a participação de toda a comunidade 
escolar, bem como o seu entorno, e que essas dinâmicas podem ser mais 
bem compreendidas, admitindo suas articulações com a dinâmica social 
mais ampla.
Um dos desafios fundamentais que emergem daproposta de escola in-
clusiva é a formação do professor, que para Fávero (2009)1 é, justamente, 
o de repensar e resignificar a própria concepção de educador. Isto porque, 
o processo educativo consiste na criação e no desenvolvimento de “contex-
tos” educativos que possibilitem a interação crítica e criativa entre sujeitos 
singulares, e não simplesmente na transmissão e na assimilação disciplinar 
de conceitos e comportamentos estereotipados.
Os artigos apresentados nesta coletânea, estão agrupados em três blocos, 
de acordo com os tópicos discutidos no evento. No primeiro bloco estão 
os artigos que tratam da Formação Docente e dele constam, os trabalhos 
relativos a: resultados de pesquisas sobre formação docente (Jesus e Effgen, 
Martins e Pimentel); princípios teóricos e fundamentos para a formação 
docente (Crochík, Díaz e Costa) e caminhos percorridos por grupos de 
pesquisa na formação profissional e produção do conhecimento (Silva e 
Miranda).
O segundo bloco aborda as questões relativas às práticas pedagógicas 
para a educação inclusiva, suas possibilidades e tensões. Ele é composto 
de nove artigos, dentre eles cinco analisam o uso da Tecnologia Assistiva 
(TA) como recurso para favorecer a autonomia e o desenvolvimento da 
pessoa com deficiência. Oliveira e colaboradores,Passerino discutem o uso 
da comunicação alternativa, Silva descreve a audiodescrição (AD), modali-
dade de tradução intersemiótica criada com o objetivo de tornar materiais 
como filmes, peças de teatro, espetáculos de dança, programas de TV etc., 
acessíveis a pessoas com deficiência visual e a contribuição da TA em di-
ferentes realidades é analisada por Galvão Filho e Miranda e por Castro e 
colaboradores. Os demais textos deste bloco referem-se a pesquisas sobre 
a prática de inclusão: o uso de jogos com crianças hospitalizadas (Barros 
e colaboradores); o ensino da ortografia para crianças cegas (Martinez); a 
comunicação e o aluno com surdocegueira (Galvão) e práticas municipais 
de inclusão (Oliveira).
1 FÁVERO, Osmar et al. (Org.) Tornar a educação inclusiva. Brasília: UNESCO, 2009.
o prof e a ed inclusiva.indb 10 6/12/2012 14:21:56
| 11 | apresentação 
Diante desse quadro, pode-se apreender que essas práticas desenvolve-
ram-se em diferentes lugares de exercício profissional, no entanto, a divi-
são em blocos foi realizada para fins didáticos de organização das ideias, 
porém não é possível isolar esses blocos, pois os temas os temas estão 
inter-relacionados.
O terceiro bloco, denominado lugares, refere-se aos espaços em que 
ocor rem as práticas pedagógicas, destinadas às crianças e aos jovens com 
deficiência. Tradicionalmente, essas pessoas eram segregadas em institui-
ções especializadas e escolas especiais ou ficavam isoladas no seio familiar 
e sua escolaridade limitava-se as séries iniciais do ensino fundamental, pois 
a sociedade não lhes garantia condições para progressão escolar e inclusão 
social. Com o avanço das ciências e a promulgação de dispositivos legais, 
é assegurada a educação da pessoa com deficiência, que vem alcançando 
níveis mais elevados de escolaridade, atingindo a universidade, alcançando o 
mercado de trabalho. Nessa perspectiva, estão os artigos de Anjos; Barbosa 
Santos; Carneiro Santos; e, Souza e Santos que pesquisam a inclusão no 
ensino superior, a partir da realidade das Universidades que foram anali-
sadas. Pereira e Passerino e Del Masso discutem a relação da pessoa com 
deficiência e o trabalho. 
Ainda, nessa reflexão sobre os lugares da educação inclusiva, Mendes e 
Malheiro questionam o atendimento educacional especializado, proposto 
na atual política educacional para ser realizado em salas de recursos mul-
tifuncionais, como modelo único de apoio a inclusão escolar do aluno com 
deficiência, em contra ponto destaca-se o texto, intitulado O letramento de 
surdos em escolas especiais em Salvador, de autoria de Teixeira e Marinho. Esse 
ponto escola regular X escola especial é polêmico e não há consenso, por isso, 
esses estudos representam diferentes posicionamentos sobre essa questão 
e servem para ampliar a discussão sobre a educação inclusiva.
Para encerrar as reflexões propostas nesta obra, Duboc apresenta algu-
mas considerações acerca da política de inclusão de alunos com deficiência 
frente ao sistema de avaliação de desempenho realizada pelo Índice da Edu-
cação Básica (IDEB), conforme está posto no Plano de Desenvolvimento 
da Educação (PDE), por entender que esses pontos têm articulação entre 
si e precisam ser explicitados, para se ter melhor clareza do cenário que 
emoldura a inclusão das pessoas com deficiência.
o prof e a ed inclusiva.indb 11 6/12/2012 14:21:56
| 12 | o professor e a educação inclusiva: formação, práticas e lugares
Diante dos textos apresentados, a inclusão de pessoas com limites, marca-
damente diferenciados nos processos educativos, para além da atenção e do 
atendimento às suas necessidades individuais, implica o desenvolvimento 
de linguagens, discursos, práticas e contextos relacionais que potencializem 
a manifestação polifônica e o reconhecimento polissêmico, crítico e cria-
tivo entre todos os integrantes do processo educativo. Nesses contextos, 
o educador terá a tarefa de prever e preparar recursos capazes de ativar a 
elaboração e a circulação de informações entre sujeitos, de modo que se 
reconheçam e se auto-organizem em relação de reciprocidade entre si e 
como próprio ambiente sociocultural.
A relação educativa constitui-se, como tal, na medida em que se de-
senvolvemmediações (ações, linguagens, dispositivos, representações) 
que potencializem a capacidade de iniciativa e de interação das pessoas 
(VYGOTSKY, 1997).2 Nesse processo, o educador precisa saber poten-
cializar a autonomia, a criatividade e a comunicação dos estudantes, e, 
por sua vez, tornar-se produtor de seu próprio saber. Muitos professores 
e professoras acreditam que devem receber a preparação para trabalhar 
com estudantes com deficiência a partir de uma formação profissional 
que, vinda de fora (orientações, direção, estado), dê a eles autonomia para 
atuar. Mas também, se verifica que tais processos de formação adquirem 
sentido, na medida em que se articulam com os saberes que os educadores 
desenvolvem, tendo em vista as suas histórias de vida individual, as suas 
relações coma sociedade, com a instituição escolar, com os outros atores 
educativos e os lugares de formação.
Nessa perspectiva, a inclusão de pessoas com deficiência nos processos 
institucionais dos vários ambientes, dentre os quais, os escolares requerem, 
muito além de mudanças pontuais, mas transformações paradigmáticas 
e culturais no sistema organizacional, assim como o desenvolvimentode 
concepções, estruturas relacionais e referenciais culturais capazes de agen-
ciarem a complexidade e o conflito inerentes à interação entre diferentes 
sujeitos, linguagens, interesses, culturas.
O conjunto dos artigos desta coletânea contempla as múltiplas questões 
que se inter cruzam no campo da educação inclusiva, tendo como referência 
2 VYGOTSKY, Lev. Obras Escogidas. Fundamentos de defectologia. Madrid: Visor, 1997.
Tomo V.
o prof e a ed inclusiva.indb 12 6/12/2012 14:21:56
| 13 | apresentação 
o professor, a partir de várias abordagens teóricas. Esses artigos ampliam a 
compreensão das questões atinentes às políticas, às práticas pedagógicas e 
aos lugares que visam garantir a educação inclusiva. Os trabalhos apresen-
tados e as análises feitas suscitam questionamentos e posicionamentos em 
relação à formação do professor, às diferentes práticas e lugares em que se 
realizam essas práticas, possibilitando o aprofundamento do debate sobre 
as ações educacionais,visando assegurar o direito de todas as pessoas à 
educação escolar de qualidade social.
A contribuição deste trabalho pode ser identificada a partir do momento 
em que se oportunizou a discussão e a reflexão sobre as questões teóricas 
e práticas a respeito da Educação Inclusiva, no lugar onde ela ocorre, sus-
citando reflexões e debates sobre o contexto social, a escola e a atuação 
do professor no campo educação inclusiva, e, certamente encontrarão eco 
naqueles que desejam e se empenham em construir uma sociedade solidária 
em que os direitos humanos sejam promovidos e respeitados.
Salvador, outubro de 2012.
Theresinha Guimarães Miranda | Teófilo Alves Galvão Filho
o prof e a ed inclusiva.indb 13 6/12/2012 14:21:56
o prof e a ed inclusiva.indb 14 6/12/2012 14:21:56
FORMAÇÃO
o prof e a ed inclusiva.indb 15 6/12/2012 14:21:56
o prof e a ed inclusiva.indb 16 6/12/2012 14:21:56
| 17 | apresentação 
Formação docente e práticas pedagógicas
Conexões, possibilidades e tensões
Denise Meyrelles De Jesus | AriADnA PereirA siqueirA effgen
Introdução
A escolarização de alunos com deficiência, transtornos globais do de-
senvolvimento e altas habilidades/superdotação tem desafiado os espaços 
escolares a construírem novas/outras lógicas de ensino. Diante disso, a 
formação continuada em processo tem se configurado como uma possibi-
lidade de pensar as demandas escolares e os processos de escolarização dos 
sujeitos que também são público-alvo da educação especial. 
Tal formação continuada em contexto deve ter como foco as diferentes 
situações que constituem o ato educativo, a análise das práticas docentes 
e a criação de espaços para a reflexão coletiva, esforçando-se, sempre, para 
criar na escola a crença de que é possível pensar soluções para as questões 
que se presentificam. São esses movimentos que nos levam a concordar 
com Nóvoa (1995, p. 25):
A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de co-
nhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho 
de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção per-
manente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante 
investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência [...]. 
Práticas de formação que tomem como referência as dimensões 
colectivas contribuem para a emancipação profissional e para a 
consolidação de uma profissão que é autônoma na produção dos 
seus saberes e dos seus valores.
o prof e a ed inclusiva.indb 17 6/12/2012 14:21:56
| 18 | denise meyrelles de jesus | ariadna pereira siqueira effgen
A citação acima pode ser ilustrada na narrativa de um professor de Artes 
do Ensino Fundamental ao analisar sua atuação em sala de aula com uma 
aluna público alvo da educação especial:
[...] você viu a produção de Melissa? Ela fez uma releitura fantástica 
da obra. Eu compreendi que apoiá-la, muitas vezes, vai significar fazer 
com ela, até que compreenda e faça sozinha, mas isso não diminui a sua 
capacidade de produção e nem significa que ela não alcançou o objetivo. 
Ela alcançou uma parte e o processo dela é mais lento, mas ela vai dar 
conta, pois tem condições. E o que mais me chamou a atenção foi vê-la 
produzindo. Os colegas da sala também ficaram felizes com sua produção 
e, ao mesmo tempo, surpresos. Eles sempre me perguntavam: Foi Melissa 
que fez?’. Eu afirmava que sim. Esse movimento que estamos vivendo 
nessa turma possibilitou uma outra condição, de Melissa ser aluna, uma 
condição de produção. Ela saiu daquele lugar de não fazer nada. Estou 
feliz com o resultado, agora acredito que é possível, pois eu fiz e deu certo. 
(PROFESSOR ROGER, 2010)
Entendemos ser fundamental pensar a escola como lócus de formação 
docente, pois é um espaço que possibilita a construção de mudanças nas 
práticas pedagógicas, no currículo, no ensino e na aprendizagem dos alunos, 
inclusive daqueles com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento 
e altas habilidades/superdotação, e ainda abre caminhos para que o educador 
adicione a investigação aos seus saberes-fazeres.
Sabendo que a educação é um direito de todos, a formação continuada 
representa um espaço-tempo de constituição e reflexão da ação educativa. 
É um espaço de potencialização das práticas pedagógicas. Uma oportu-
nidade para (re)pensar as relações de poder existentes no currículo, os 
mecanismos utilizados para validar os conhecimentos e os pressupostos 
que fundamentam quem pode ou não aprender na escola.
Formação docente e práticas pedagógicas
Considerando experiências como as trazidas pelo professor Roger, temos 
por objetivo considerar as tensões e desafios que se colocam para a forma-
ção de professores quando a tensionamos, simultaneamente, à diversidade 
de pessoas que são alunos na atualidade. Queremos evocar a presença na 
o prof e a ed inclusiva.indb 18 6/12/2012 14:21:56
| 19 | formação docente e práticas pedagógicas: conexões, possibilidades e tensões
escola do aluno que apresenta deficiências, transtornos globais do desen-
volvimento e altas habilidades/superdotação pensar práticas pedagógicas.
Algumas questões atuais desafiam a nossa inventividade: como está 
sendo assegurado o direito à escolarização dos estudantes com indicati-
vos para a Educação Especial? Como são pensadas as escolas de ensino 
comum nessa discussão? Há dispositivos de apoio nessas escolas? Como 
os profissionais da educação são envolvidos nessas questões? Como se dá 
a formação dos educadores? Como está se materializando essa questão 
no campo e na interface com outras diversidades? Quais são as condições 
concretas de trabalho dos profissionais da educação para a implementação 
de um projeto político-pedagógico inclusivo, do currículo e das práticas 
docentes para o ensino e a aprendizagem desses alunos?
Tais questões atravessam o direito à escolarização, influenciam a forma-
ção do educador e trazem implicações para o processo de inclusão escolar 
que busca se fortalecer. Muitos movimentos vêm ocorrendo, desde a inserção 
de professores de Educação Especial nas escolas comuns, para apoio aos 
professores regentes, até a abertura de salas de recursos multifuncionais 
para atendimento educacional especializado. 
Cabe-nos entender como as escolas vêm lidando com as questões da 
inclusão escolar e, também, fomentar essas experiências nos processos de 
formação docente, possibilitando o acesso a reflexões teórico-práticas, que 
permitam uma leitura crítica da realidade e alicercem projetos que visem 
à transformação.
Como nos sugere Boaventura Souza Santos (2007), devemos buscar 
enxergar sinais, pistas, latências e movimentos, ou seja, o que ele denomi-
na de “ainda-não”, a possibilidade de deslocamentos e ações, ainda não 
pensados ou instituídos, mas que, na ação coletiva, podem emergir e nos 
apontar sinais e possibilidades. 
Meirieu (2005, p. 44) nos ajuda nessa direção quando afirma:
Abrir a Escola para todos não é uma escolha entre outras: é a 
própria vocação dessa instituição, uma exigência consubstancial 
desua existência, plenamente coerente com seu princípio funda-
mental. Uma escola que exclui não é uma escola [...]. A Escola, 
propriamente, é uma instituição aberta a todas as crianças, uma 
instituição que tem a preocupação de não descartar ninguém, de 
fazer com que se compartilhem os saberes que ela deve ensinar a 
todos. Sem nenhuma reserva. 
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A escola tem por finalidade instituir os cenários políticos e pedagógicos 
para permitir o acesso ao conhecimento, empreendendo “[...] esforços per-
manentes de universalização da cultura”. (MEIRIEU, 2002, p. 175) Nesse 
sentido, faz-se necessário buscar a escola concreta, onde habitam alunos(as), 
professores(as), profissionais em ações pedagógicas; a escola, onde, na atu-
alidade, se coloca o princípio ético da inclusão escolar. Para tal, fazem-se 
necessárias reflexões sobre a educabilidade, processos de inclusão-exclusão, 
políticas educacionais, condições de aprendizagem, dentre tantas outras.
Concordamos que há, sim, que se investir maciçamente na formação 
inicial e continuada do educador. Falamos de política educacional pública 
que garanta ao educador o direito ético da formação de qualidade. Uma 
formação que considere a diversidade, no caso específico do aluno com 
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/
superdotação.
Reconhecemos que há uma orientação nacional, mas como ela se desdo-
bra em cada espaço local, cabe a cada grupo de profissionais da educação 
fazê-la, a partir de seu conhecimento, de suas condições concretas, dos 
profissionais presentes localmente, das políticas instituídas por aqueles 
que fazem.
Só não podemos abrir mão da ética de que “todos devem estar no jogo”. 
Para a garantia da aprendizagem de todos os alunos, precisamos assegurar o 
acesso ao currículo escolar, por meio de práticas pedagógicas diferenciadas 
que atendam aos percursos de aprendizagem de cada estudante. Tal situa-
ção é um desafio, pois demanda professores detentores de conhecimentos 
teórico-práticos, bem como planejamentos coletivos, estratégias e metodo-
logias de ensino e de processos de avaliação que possibilitem ao educador 
acompanhar o desenvolvimento de cada aluno que está em sala de aula.
O desafio que se coloca para nós, educadores, é construir um espaço 
escolar onde a diferença, de qualquer natureza, possa “existir”. No dizer de 
McLaren (2000), há que se construir um “contra script”, precisamos criar 
possibilidades, ao invés de mantermos antigos estigmas e práticas. 
Nesse sentido, coloca-se oportuna a pergunta: “O que podem as práticas 
pedagógicas?”. Meirieu (2002, p. 34) nos oferece pistas para pensar tal 
questão quando nos sugere: “[...] descobrir novos meios para que a edu-
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| 21 | formação docente e práticas pedagógicas: conexões, possibilidades e tensões
cação seja um lugar de partilha e não de exclusão”. Aponta pistas, ainda, 
quando nos direciona a perceber um aluno concreto, um aluno que “[...] 
impõe um recuo, que nada tem de renúncia” (MEIRIEU, 2002, p. 85). Ou 
quando nos diz do fazer pedagógico: “A pedagogia pode se constituir, como 
uma tensão permanente entre o que escraviza e o que alforria” (MEIRIEU, 
2002, p. 125). Resistir ao que “escraviza” sinaliza para posturas provisórias, 
plurais, incertas e Meirieu (2002, 2005, 2006), em seus textos, aponta-nos 
algumas (JESUS, 2008, p. 216):
a) a vontade de jamais se resignar ao fracasso;
b) um esforço de “ignorância da história do outro”, que muitas vezes 
poderá representar uma oportunidade de nos libertarmos dos deter-
minismos;
c) a aceitação de que o outro seja o que ele é e não uma “imagem ilu-
sória” ou o produto de uma “elaboração ideológica”;
d) questionamento sobre o que se diz e sobre a maneira como se diz;
e) a colocação da criatividade e da autocrítica no centro da conduta 
docente;
f) o reconhecimento do fundamento ético – renúncia a toda “certeza 
didática”.
Mesmo na escola se presentificando muitas tensões e desafios, ela pode 
se constituir em um espaço de conhecimento capaz de criar alternativas 
para a garantia de uma proposta de aprendizagem para todos os alunos.
Para a ação docente no contexto da diversidade, necessário se faz tra-
balhar com redes de encontros. Encontros de saberes, fazeres, reflexões, 
metodologias, estratégias de ensino, recursos, perspectivas avaliativas, 
pois, dessa forma, estaremos nos constituindo sujeitos coletivos. Vivemos 
o tempo de tradução, isto é, o momento de criar diálogos entre os dife-
rentes conhecimentos e experiências disponíveis neste mundo tão plural e 
heterogêneo. (SANTOS, 2007) 
Cabe também a reflexão de que a formação docente qualificada pode 
muito, mas não pode tudo. Há que se pensar em outros aspectos macro 
que configuram os sistemas de ensino e as condições de trabalho docente. 
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| 22 | denise meyrelles de jesus | ariadna pereira siqueira effgen
Conexões e encontros
O movimento de formação com o professor Roger assumiu contornos que 
nos possibilitam a reflexão, pois, para ele, a formação “[...] é uma troca de 
experiência [...] formação é esse conteúdo que é transformado em práxis, 
acho que a discussão é práxis, sabe? A teoria com aquilo que nós fazemos 
dela em conjunto, é ela que me forma, sou eu que a formo [...]”.
Nessa direção, o envolvimento de Roger e as discussões por ele apresen-
tadas demonstravam sua inquietação sobre a escolarização dos sujeitos com 
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/
superdotação, uma vez que, até aquele momento, esses alunos muitas vezes 
eram inviabilizados a partir da fala do professor: “não sei trabalhar” com 
esses sujeitos na sala de aula. 
Assim, uma frente de trabalho da pesquisa foi organizada por um grupo 
de formação continuada com professores da escola “Clarice Lispector” para 
que pudéssemos pensar a escolarização de alunos com deficiência, trans-
tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, uma 
vez que a escola tinha matrícula de alunos que também são público-alvo 
da Educação Especial. 
Diante disso, em nossos encontros semanais, discutíamos as questões que 
nos desafiavam no fazer pedagógico, no que se refere à escolarização desses 
alunos. Roger era professor de Melissa e Lucas, dois alunos pertencentes 
à 4ª série que também eram deficientes. A partir dos diálogos no grupo, o 
professor em questão começou a ressignificar a sua prática que até então 
não contemplava esses alunos. O início foi desafiador:
[...] até pouco tempo atrás, não sabia que Lucas tinha dificuldade 
para andar. Nunca estabeleci uma relação com Melissa. Eu nem 
sei quais são suas preferências. Como trabalhar com eles? E mais! 
Tem 36 alunos na sala que precisam de mim o tempo todo e mais 
os dois. Como fazer? Eu não tenho como fazer isso sozinho, eu 
preciso da ajuda de mais uma pessoa.
Esse era um momento de tranquilizá-lo e, a partir daí, propusemos que 
ele observasse esses alunos, tentasse se aproximar e conhecê-los, entendendo 
que, assim como todos os outros alunos, eles também tinham seus sonhos 
e desejos, e nossa tarefa, como professores, seria nos sensibilizarmos em 
busca de descobri-los.
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Posto esse desafio, o professor inicia a tarefa. Em nossos encontros, 
percebíamos a relevância do trabalho desenvolvido por ele, quando nos 
dizia: “[...] descobri mais uma coisa de Melissa [...]. Lucas gosta de dese-
nhar [...]. Melissa sorriu para mim [...]”. Essas eram pistas e indícios que 
lhe permitiriam mais tarde uma intervenção significativa na aprendizagem 
desses alunos bem como na sua prática. Esse também foi um momento 
de formação.
Esse primeiro momento de reflexão possibilitou ao professorter outra 
forma de olhar para esses alunos – ele passou a “conhecer Lucas e Melissa” 
a partir de suas especificidades e entender a necessidade de um trabalho 
diferenciado, valorizando as potencialidades desses alunos. Em nossas dis-
cussões do grupo, Roger relatava suas “aventuras”, destacando que estava 
sendo uma experiência muito rica. 
O trabalho colaborativo com Roger, após a fase de observações e de 
conhecer Melissa e Lucas, passa a se constituir em pensarmos práticas 
pedagógicas que garantam que esses alunos tenham acesso ao currículo 
vivido pelos colegas na sala de aula, ou seja, às atividades que são cumpri-
das no cotidiano.
Assim, após algum tempo de formação, planejamento, práticas peda-
gógicas em sala de aula, reflexão, ação, discussão, foi possível notar uma 
mudança na postura do professor, no que se refere à escolarização dos 
alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas 
habilidades/superdotação. Com relação às suas práticas pedagógicas, ele 
diz: “[...] já tenho feito. Não consigo mais não observá-los, não pensar 
neles, simplesmente ignorá-los”.
Isso fica evidente na fala a seguir 
A minha interação em sala melhorou muito. Eu tenho dado conta de dar 
orientações para Melissa. Dando conta de Melissa e Lucas, eu tenho dado 
conta da sala e das coisas da 4ª série. Melissa tem desenvolvido uma 
pessoalidade comigo. Ela tem vivido e interagido nas aulas com perguntas 
e respostas iguais aos seus colegas. E, o mais importante, eu planejo as 
minhas aulas a partir de Melissa e Lucas para os outros alunos, não é 
um movimento só para eles. (ROGER, 2010)
Dessa forma, a formação continuada foi o lócus de nossas discussões e 
contribuiu muito para o amadurecimento do grupo e do professor Roger, 
em especial. Ainda possibilitou novas outras práticas pedagógicas para que 
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a escolarização de alunos com deficiência, transtornos globais do desen-
volvimento e altas habilidades/superdotação fosse potencializada naquele 
ambiente escolar.
No que diz respeito à continuidade de ações no cotidiano escolar, o 
professor Roger destaca:
O que eu aprendi na formação continuada e no trabalho que você fez com 
a gente foi muito mais que formação profissional, foi formação para a vida. 
Vou levar isso para outros lugares, pois levo comigo, ninguém me tira [...]. 
Quando tiver alunos especiais, eu já sei que tenho que fazer algo. Não dá 
para ignorá-los, até porque eu já entendo que eles aprendem e dão conta, 
mas isso depende de mim e da minha prática.
Roger e outros profissionais que estão no cotidiano escolar têm encon-
trado possibilidades ao desafio da escolarização de alunos público-alvo da 
Educação Especial. Parece-nos que dois princípios são fundantes para as 
suas práticas pedagógicas: assumir a educação como direito social e apostar 
na escolarização e na educabilidade de todas as pessoa. Nesse sentido, a 
ação docente constitui-se como um possível movimento para a significação 
desses alunos como sujeitos de conhecimento.
Referências
JESUS, D. M. Práticas pedagógicas na escola: às voltas com múltiplos possíveis 
e desafios à inclusão escolar. In: PERES, E. et al. (Org.). Trajetórias e processos de 
ensinar e aprender: sujeitos, currículos e cultura. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
McLAREN, P. Multiculturalismo revolucionário: pedagogia do dissenso para o novo 
milênio. Porto Alegre: Artmed, 2000.
MEIRIEU, P. A pedagogia entre o dizer e o fazer: a coragem de começar. Porto 
Alegre: Artmed, 2002.
MEIRIEU, P. O cotidiano da escola e da sala de aula: o fazer e o compreender. 
Porto Alegre: Artmed, 2005.
MEIRIEU, P. Carta a um jovem professor. Porto Alegre: Artmed, 2006.
NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. 
(Coord.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995.
SANTOS, B. de S. Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação social. 
São Paulo: Boitempo, 2007.
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| 25 | apresentação 
Reflexões sobre a formação de professores 
com vistas à educação inclusiva
lúciA De ArAúJo rAMos MArtins
Introdução
É importante, quando se estuda a formação de docentes no Brasil, retro-
ceder um pouco na história, não desconsiderando o fato de que apenas em 
meados do século XX é que começa o processo de expansão da escolaridade 
básica no país, embora ainda de forma bastante lenta. No que tange à rede 
pública de ensino, esta expansão se processa, de maneira mais significativa, 
a partir das décadas de 1970 e 1980. 
Tal situação decorre do fato de que a escolarização foi, por muito tempo, 
privilégio das elites, pois – apesar da existência de algumas propostas educa-
cionais, segundo documentos e estudos realizados – não havia uma política 
inclusiva da população em geral, na escola. (GATTI; BARRETO, 2009)
No que diz respeito à educação de pessoas com necessidades educacio-
nais especiais – principalmente aquelas que apresentavam algum tipo de 
deficiência – até a década de 1970 era, geralmente, realizada apenas em 
instituições especializadas, atingindo um quantitativo bastante restrito de 
educandos. Essa área é eleita como prioritária no Plano Setorial de Edu-
cação e Cultura 1972/1974 e, em consequência, foram fixados objetivos e 
estratégias voltadas para esse campo educacional. (BRASIL, 1977) 
Com a criação do Centro Nacional de Educação Especial (CENESP/ 
MEC), em julho de 1973, primeiro órgão responsável pela formulação e 
acompanhamento de uma política de Educação Especial, em âmbito nacio-
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| 26 | lúcia de araújo ramos martins
nal, começa a ocorrer a criação de setores especializados nas Secretarias de 
Educação. Isto trouxe, como consequência, a implantação do atendimento 
educacional para alunos então considerado como “excepcionais”,1 também 
em escolas regulares estaduais e municipais. Surgiram, assim, as denomina-
das classes especiais, bem como várias outras modalidades educacionais,2 
inclusive, o atendimento desses educandos em classes comuns, sob a égide 
do paradigma da Integração. Predominava, porém, a visão de dois sistemas 
separados, estanques: o regular e o especial.
Em 1974, havia um quantitativo de 96.413 pessoas com tais condições 
atendidas educacionalmente, em todo país, centrando-se principalmente 
na faixa etária de 7 a 14 anos (70,66%). Na região Nordeste, o quantita-
tivo de alunos tidos como excepcionais atendidos atingia um patamar de 
apenas 10.721 educandos, que estavam frequentando alguma modalidade 
educacional. (BRASIL, 1977) 
Segundo dados do CENESP/MEC, nesse ano, existiam cerca de 13.970 
docentes, no Brasil, em exercício no campo da Educação Especial. Destes, 
56% apresentavam apenas o nível de 2º grau e 5% eram leigos, embora 
46% possuíssem algum tipo de especialização. 
Detendo o nosso olhar na região Nordeste, podemos salientar que, 
existiam 4.510 professores atuantes na área, sendo que destes apenas 768 
(17,02%) tinham especialização para o exercício da função. (BRASIL, 1977) 
Observamos, ainda, no que diz respeito ao quantitativo de alunos 
atendidos nesse campo educacional, no país, que – além de estar muito 
longe de corresponder à demanda em potencial existente – o atendimento 
ofertado estava ainda estava muito centrado nas instituições especializadas. 
Evidenciava-se, portanto, como conveniente “[...] incentivar-se a integração 
desses alunos no sistema regular de ensino, sempre que possível, e sem 
prejuízo da qualidade do atendimento”. (BRASIL, 1977, p. 12) 
Isto mostra, entre outros aspectos, 
[...] [a] necessidade de atuação em favor de padrões satisfatórios 
de desempenho a serem alcançados, caracterizando-se como 
1 Como eram denominados os alunos com deficiência, superdotação e problemas de 
conduta.
2 Envolvendo desde a modalidade de classe comum, sem ou com apoio especializado, 
até o atendimento emhospitais e centros de tratamento. (REYNOLDS, 1962 apud 
PEREIRA, 1980)
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| 27 | reflexões sobre a formação de professores com vistas à educação inclusiva
principais enfoques: melhorar a adequação de métodos; adotar 
procedimentos e instrumentos para identificação, diagnóstico e 
prescrição de atendimentos; aperfeiçoar currículos e programas; 
suprir material didático e escolar e equipamentos especializados; 
adequar instalações físicas e suprir de pessoal docente e técnico 
especializado o tratamento educacional de excepcionais. (BRASIL, 
1977, p. 13)
Podemos afirmar, frente a isso, que havia uma grande premência quanto 
à capacitação de recursos humanos na área, com vistas à ampliação das 
oportunidades de atendimento educacional adequado, de maneira que um 
dos objetivos específicos propostos pelo CENESP/MEC, para o Plano Na-
cional de Educação Especial no período de 1977/1979, foi o de “Capacitar 
recursos humanos, envolvendo pessoal docente e técnico especializado das 
equipes multidisciplinares para atendimento aos excepcionais, a partir da 
educação precoce até a formação profissional.” (BRASIL, 1977, 19)
Para tanto, várias ações foram programadas nessa área considerada prio-
ritária, voltadas para preparação e atualização docentes e técnicos atuantes 
na Educação Especial, em todo país, assim como para a capacitação de 
docentes de universidades, objetivando a formação de agentes multiplica-
dores, com vistas à implantação e manutenção de cursos de licenciatura 
em instituições de ensino superior. (BRASIL, 1985)
A preocupação com a ação pedagógica empreendida com educandos com 
excepcionalidade intensifica-se e, no período de 1979-1984. Conforme 
dados do CENESP/MEC, foram realizados no país 184 cursos de Educa-
ção Especial, sendo que, desses, 35 foram de atualização, 34 de especia-
lização, 01 de aperfeiçoamento, 19 de estudos adicionais, 61 de extensão 
universitária, 26 de licenciatura e 08 de mestrado, que foram executados 
pelas Secretarias de Educação e/ou pelas universidades de 24 estados da 
Federação, propiciando a preparação de 6.707 profissionais, voltados para 
diversas áreas de atendimento educacional. (BRASIL, 1985) 
Podemos perceber, não apenas nesse período citado, mas em anos sub-
sequentes, que a formação de professores para a Educação Especial, no 
país, assumiu diferentes formatos em vários estados brasileiros. Alguns 
empreenderam, de maneira mais sistemática, cursos de Estudos Adicionais 
(ou seja, o 4º ano do magistério) para professores do ensino regular que 
apresentavam apenas o nível médio, outros investiram na formação em 
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| 28 | lúcia de araújo ramos martins
nível de pós-graduação lato sensu e outros na formação inicial ou específica, 
em nível superior.
A partir de meados da década de 1990 inicia-se um novo movimento, 
que se prolonga até os dias atuais, em que se busca a inclusão plena de 
todos os educandos nas classes regulares, desde a Educação Infantil. Ou 
seja, reconhece-se que crianças, jovens e adultos com necessidades especiais 
devem aprender junto aos demais alunos, independentemente das suas 
diferenças.
Nesse sentido, por meio da sua ação educativa, os profissionais de ensino 
regular, nos diversos níveis, devem buscar atender de maneira adequada à 
diversidade do alunado. Essa ação, igualmente, 
[...] deve se pautar no respeito e no convívio com as diferenças, 
preparando os educandos para uma sociedade mais justa e solidá-
ria, contrária a todos os tipos de discriminação [...] Os professores 
precisam tratar das relações entre os alunos. Formar crianças para 
o convívio com as diferenças. (ZOÍA, 2006, p. 23) 
Dentro de uma perspectiva de ampliação dos sistemas, com vistas não 
apenas ao crescimento quantitativo de matrícula, mas também à melhoria 
do sistema escolar, necessário se faz, entre outros aspectos, o aprimora-
mento do sistema de gestão, da atuação dos profissionais e do processo de 
ensino e aprendizagem. 
De maneira ampla, temos que reconhecer que tem sido realizado um 
esforço, nos últimos anos, por diversas instâncias, para preparar em nível 
superior professores e demais profissionais de ensino, considerando a exi-
gência da legislação nacional. A este respeito, a Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional – Lei nº 9.394/1996, no artigo 62, situa:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á 
em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, 
em universidades e institutos superiores de educação, admitida, 
como formação mínima para o exercício do magistério na educação 
infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a 
oferecida em nível médio, na modalidade Normal.
No entanto, segundo dados do MEC, a partir do Censo Escolar da 
Educação Básica, realizado em 2006, podemos constatar a existência 
de 2.629.694 docentes atuantes na Educação Básica, sendo que, destes, 
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| 29 | reflexões sobre a formação de professores com vistas à educação inclusiva
735.628 professores não têm nível superior e 20.339 são considerados 
leigos. Os docentes sem nível superior, segundo o referido censo, podem ser 
assim distribuídos: 230.518 estão atuando na Educação Infantil; 355.393 
na 1ª à 4ª série e 125.991 na 5ª à 8ª série do Ensino Fundamental; 23.726 
no Ensino Médio. 
Na região Nordeste este quantitativo era bastante significativo, atin-
gindo um total 355.910 docentes sem formação em nível superior (o que 
corresponde a 48,38% do total de docentes sem formação em nível supe-
rior no país), centrando-se mais a sua atuação na primeira etapa do Ensi-
no Fundamental (173.476 profissionais) e na Educação Infantil (95.581 
pro fis sionais). Isto evidencia a necessidade de um investimento, cada vez 
maior, na formação dos profissionais de ensino, em todo país, e, de maneira 
especial, naqueles que atuam na região Nordeste.
Educação inclusiva e formação docente
No Brasil, a partir da Portaria Ministerial nº 1793, foi reconhecida a 
importância de complementar os currículos de formação de docentes e de 
outros profissionais que atuam em áreas afins, sendo recomendada a inclu-
são de disciplina específica focalizando aspectos ético-político-educacionais 
relativos às pessoas com necessidades especiais, prioritariamente nos cursos 
de Pedagogia, Psicologia e em outras licenciaturas, assim como a inclusão 
de conteúdos específicos em cursos da área da Saúde e em outras áreas.
Na Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), que institui 
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, há referência 
à inclusão e à formação de professores:
A Educação Básica deve ser inclusiva, no sentido de atender a uma 
política de integração dos alunos com necessidades educacionais 
especiais nas classes comuns dos sistemas de ensino. Isso exige 
que a formação dos professores das diferentes etapas da Educação 
Básica inclua conhecimentos relativos à educação desses alunos. 
(BRASIL, 2001, p. 25-26)
Está previsto, assim, que na formação inicial, durante a graduação, todos 
os futuros professores da Educação Básica devem desenvolver competências 
para atuar também com alunos que apresentem necessidades especiais, em 
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qualquer etapa ou modalidade de ensino, na perspectiva de se efetivar a 
educação inclusiva. 
Especificamente voltada para a Educação Especial, foi aprovada a Reso-
lução nº 02/2001, do CNE e da Câmara de Educação Básica, instituindo 
as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, 
que reforça necessidade de haver a capacitação tanto de profissionais do 
ensino regular, como de docentes de docentes especializados para atender, 
de maneira diferenciada, as necessidades dos educandos (art. 8, inciso I).
Evidencia-se, porém, que apesar da existência da Portaria nº 1.793/94 
e das Resoluçõesdo CNE, muitas instituições de ensino superior não se 
estruturaram no sentido de oferecer disciplinas e /ou conteúdos relativos 
ao tema nos seus cursos de licenciatura, enquanto que outras o fazem 
de maneira precária, através da oferta de disciplina eletiva, ou com carga 
horária reduzida, ministrada de maneira aligeirada, o que não favorece a 
aquisição de conhecimentos, o desenvolvimento de destrezas, habilidades e 
atitudes relativas ao processo de atendimento à diversidade dos educandos. 
(MARTINS, 2009) 
A partir do sancionamento da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, 
reconhecendo a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de 
comunicação e expressão de natureza visual-motora, com estrutura gra-
matical própria, de uso das comunidades de pessoas surdas, os sistemas 
educacionais federal, estadual e municipal e do Distrito Federal são obriga-
dos a garantir a inclusão da disciplina de Libras nos cursos de formação de 
Educação Especial, de Fonoaudiologia, de Pedagogia e demais licenciaturas. 
No que tange à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), 
em relação ao campus central, no ano de 2009, existiam oito cursos de 
licenciatura que apresentavam, em sua estrutura curricular, uma disciplina 
obrigatória voltada para a educação de pessoas com necessidades especiais, 
enquanto que apenas quatro cursos apresentavam, além da disciplina 
obrigatória, alguma(s) em caráter eletivo. Este é o caso do curso de Peda-
gogia, que ofertava, também, quatro disciplinas eletivas: Fundamentos de 
Educação Especial (90 h/a), Metodologia de Ensino em Educação Especial 
I (DV), II (DM) e III (DA), cada uma com 60 h/a.3
3 A partir de 2011, com a reformulação curricular, no Curso de Pedagogia existem 2 
disciplinas obrigatórias: Educação Especial numa Perspectiva Inclusiva e Língua Brasileira 
de Sinais – Libras e 4 disciplinas eletivas: Metodologia de Ensino em Educação Especial 
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| 31 | reflexões sobre a formação de professores com vistas à educação inclusiva
 Por sua vez, 14 licenciaturas apresentavam apenas um componente 
curricular optativo, geralmente denominado Introdução à Educação Espe-
cial. A partir de 2010, passou-se a oferecer também a disciplina Libras, em 
todas as licenciaturas, em caráter obrigatório ou eletivo.
Com vistas a conhecer a visão que graduandos apresentam sobre as 
disciplinas que cursaram nessa área, realizamos, em 2009, uma pesquisa 
com alunos de cursos de licenciatura que, na sua estrutura curricular, têm 
componente(s) curricular(es) de formação em Educação Especial. Para 
tanto, centramos a nossa atenção em alguns cursos sediados no Campus 
Central, em Natal. 
Foi empreendida, neste sentido, uma pesquisa de campo com 96 alunos 
matriculados em vários cursos de licenciatura, utilizando o questionário 
como instrumento para a construção dos dados. Tal investigação envolveu 
uma série de questões apresentadas por escrito aos acadêmicos, tendo por 
objetivo o conhecimento de suas opiniões a respeito: da formação inicial 
ministrada na área, na licenciatura cursada; da repercussão da disciplina 
na percepção que apresentam sobre as pessoas com necessidades educa-
cionais especiais e sua educação; do aprimoramento da formação inicial 
de professores na área.
Mesmo que 87,5% dos pesquisados tenham analisado de maneira 
bastante positiva as disciplinas cursadas, em decorrência da metodologia 
utilizada e dos conteúdos que foram ministrados, para aprimoramento da 
sua formação inicial vários graduandos, que integram cursos de licenciatura 
na UFRN, sugerem:
•	 inclusão de mais de uma disciplina voltada para a Educação Inclusiva, 
em caráter obrigatório, em todas as licenciaturas;
•	 ampliação da carga horária das disciplinas que vêm sendo desenvol-
vidas; 
•	 desenvolvimento de atividades que proporcionem um maior contato 
com as pessoas com deficiência, altas habilidades/superdotação e 
transtornos globais do desenvolvimento, tais como visitas a escolas e 
I (Deficiência Visual), II (Deficiência Mental) e III (Deficiência Auditiva), e Tecnologia 
Assistiva, sendo cada uma com 60 h/a, o que propicia aos alunos que participam do 
referido curso mais oportunidade de aprofundamento neste campo educacional.
o prof e a ed inclusiva.indb 31 6/12/2012 14:21:56
| 32 | lúcia de araújo ramos martins
associações atuantes na área, entrevistas, palestras com profissionais 
convidados, aulas práticas;
•	 discussões sobre dificuldades comuns encontradas na sala de aula 
por docentes e como enfrentá-las, de maneira a realizar uma maior 
correlação entre teoria e prática educativa; 
•	 inserção de conteúdos relativos às pessoas com necessidades educa-
cionais especiais em outras disciplinas oferecidas nas licenciaturas: 
exs. Fundamentos da Psicologia Educacional, Fundamentos Histó rico-
Filosóficos da Educação; História da Educação Brasileira; Estrutura 
e Funcionamento do Ensino; 
•	 ampliação de atividades extracurriculares na área, no âmbito da 
UFRN, tais como seminários, cursos, oficinas, entre outros. (MAR-
TINS, 2011)
Para tais graduandos, portanto, necessário se faz que haja ampliação de 
disciplinas e uma maior correlação entre a teoria e a prática, de maneira 
que possam ser incluídas de forma mais satisfatória, como bem situa Torres 
González (2002, p. 245), “[...] dimensões relativas aos conhecimentos, 
destrezas, habilidades e atitudes relacionadas ao processo de atenção à 
diversidade dos alunos”.
A formação dos profissionais de ensino, porém, de maneira geral, não 
se esgota na fase inicial, por melhor que essa tenha se processado. Para 
aprimorar a qualidade do ensino ministrado pelos profissionais de ensino 
em geral, nas escolas regulares, atenção especial deve ser atribuída tam-
bém à sua formação continuada, de acordo com os princípios de atenção 
à diversidade. 
Segundo afirmam Ramalho e Beltrán Núñez (2011, p. 73), este tipo 
de formação 
[...] é mais que instrução ou aprendizagem de conhecimentos e 
formação de habilidades e de competências, pois inclui, entre ou-
tras coisas, interesses, necessidades, intenções, motivações, caráter, 
capacidades, condutas, crenças, atitudes e valores. [...] é o tipo 
de atividade que o professor se apropria da cultura profissional e 
modifica [...] elementos chaves do seu agir profissional, de forma 
a influenciar no desenvolvimento profissional.
o prof e a ed inclusiva.indb 32 6/12/2012 14:21:56
| 33 | reflexões sobre a formação de professores com vistas à educação inclusiva
Contribui, pois, para possibilitar condições para que os docentes pos-
sam refletir sobre a sua prática, de forma a melhor atuar com as diferenças 
que se fazem presentes no alunado, entre as quais aquelas decorrentes de 
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/
superdotação. 
Correia (2008, p. 28), com vistas a essa perspectiva formativa, destaca 
que
os educadores, os professores e os auxiliares de acção educativa 
necessitam de formação específica que lhes permita perceber mi-
nimamente as problemáticas que seus alunos apresentam, que tipo 
de estratégia devem ser consideradas para lhes dar resposta e que 
papel devem desempenhar as novas tecnologias nestes contextos. 
Dessa forma, realça que não apenas o professor precisa estar preparado 
para a atuação com a diversidade do alunado, no cotidiano da escola, mas 
todos os profissionais que ali atuam.
A formação permanente, pois, é um dos fatores imprescindíveis para que 
os profissionais de educação possam atuar, efetivamente, frente aos alunos 
sob sua responsabilidade em classe e no ambiente escolar, de maneira mais 
ampla, por mais diversificado que esse grupo se apresente, oferecendo-
-lhes condições de atendimento educacional que sejam adequadas às suas 
condições e necessidades e, não apenas, realizando a mera inserção física 
desses educandos no ambiente escolar. 
Isto, infelizmente, ainda é feito em algumas realidades escolares, em 
especial no que diz respeitoaos alunos com deficiência, sobre os quais 
deteremos mais o nosso olhar. Nesses casos, quando muito, a inclusão se 
reduz a um simples espaço de socialização. Necessário se faz que esta seja 
desenvolvida com mais responsabilidade, observando aspectos relacionados 
à escola, ao aluno – que é ímpar em suas características e necessidades – e 
também ao docente. A inclusão é um processo complexo e esta complexi-
dade deve ser respeitada, atendida e não minimizada.
 Se almejamos, pois, uma escola que possa garantir a efetiva participação 
e aprendizagem dos alunos em geral, necessário se faz a sua reestruturação, 
implicando na busca pela remoção de barreiras visíveis (de acessibilidade 
física, pedagógicas) e invisíveis, que são as mais sérias de serem removidas, 
o prof e a ed inclusiva.indb 33 6/12/2012 14:21:57
| 34 | lúcia de araújo ramos martins
pois envolvem atitudes, preconceitos, estigmas e mecanismos de defesa 
ainda existentes frente ao aluno tido como “diferente”. 
Em face disso, várias ações vêm sendo empreendidas nos sistemas edu-
cacionais, principalmente nos últimos anos, sob a “bandeira” da educação 
para todos, da inclusão de todos na escola regular. Muitos cursos e eventos 
vêm sendo realizados, porém, podemos observar que, muitas vezes, essas 
ações não se desvinculam da lógica tecnicista de transmissão, assimilação e 
reprodução do saber, não resultando em mudanças de percepções, posturas 
e práticas.
Para que ocorra essa desvinculação, o que nem sempre acontece, neces-
sário se faz 
[...] considerar os educadores e as educadoras nos seus contextos 
de sujeitos socioculturais, que trazem em suas trajetórias marcas 
e características próprias – particularidades que estarão presentes 
numa determinada forma de olhar o mundo, de se permitir analisar 
as lógicas da realidade e, claro, de conceber a educação. (DINIZ; 
RAHME, 2004, p. 130)
No tocante à formação de recursos humanos para atuação na escola 
regular com alunos com deficiência e outras necessidades educacionais 
especiais, o Ministério da Educação deu início, em 2003, ao Programa 
Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, promovido pela Secretaria de Edu-
cação Especial, visando: disseminar a política de Educação Inclusiva nos 
municípios, em todo país; apoiar a formação de gestores e educadores para 
efetivar a transformação dos sistemas educacionais inclusivos. Fundamenta-
-se no seguinte princípio: garantia do direito dos alunos com necessidades 
educacionais especiais de acesso e permanência, com qualidade, na escola 
regular de ensino. (BRASIL, 2006)
Em setembro de 2010, o referido programa atingia 168 municípios-polo, 
que atuavam como multiplicadores para vários outros municípios da região. 
Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), ocorreu a formação de 
133.167 professores e gestores, no período de 2004 a 2009.
O MEC, através da SEESP, também elaborou e distribuiu materiais 
bibliográficos que visavam servir como referencial para o programa em 
desenvolvimento, contemplando, inclusive, experiências inclusivas signifi-
cativas, que vêm sendo empreendidas no país, em várias regiões. 
o prof e a ed inclusiva.indb 34 6/12/2012 14:21:57
| 35 | reflexões sobre a formação de professores com vistas à educação inclusiva
Na UFRN, com apoio financeiro do MEC, vem sendo empreendido o 
Projeto Continuum, desde 2011, que objetiva capacitar professores do ensino 
fundamental para o processo de inclusão de estudantes com necessidades 
educacionais especiais, tendo em vista seu ingresso, acesso e permanência, 
com qualidade, no ambiente escolar. O público-alvo é constituído de pro-
fessores efetivos da rede pública estadual e municipal, com formação em 
nível superior, que atuam no Ensino Fundamental, de 1º ao 9º ano, em 
salas de aula regulares e em Salas de Recursos Multifuncionais.
O referido curso, possui uma carga horária de 180 horas/atividades, 
distribuídas em 144h presenciais e 36h vivenciais, que são destinadas às 
atividades desenvolvidas pelos professores/cursistas em sua própria escola. 
No ano de 2011 foram empreendidos sete cursos, nos municípios de 
Natal (2), Mossoró (1), Currais Novos (1), Nova Cruz (1), Santa Cruz (1) 
e Macau (1), abrangendo um total de 269 cursistas. 
Dada a repercussão positiva dos referidos cursos, em 2012 estão sendo 
previstos outros sete cursos destinados a docentes das redes públicas de 
Natal e municípios circunvizinhos (6) e de Mossoró (1). 
 Nesses cursos tem sido considerado de suma importância a problema-
tização dos saberes presentes nas vivências cotidianas e os aspectos que 
fundamentam o saber-fazer dos docentes, de maneira a se constituírem em 
pontos de partida para novas experiências e vivências.
Algumas considerações, a título de conclusão
Nos tempos atuais, construir uma escola numa perspectiva inclusiva 
– que atenda adequadamente a estudantes com diferentes características, 
potencialidades e ritmos de aprendizagem – é um dos grandes desafios dos 
sistemas educacionais. 
Não basta, porém, apenas oferecer aos alunos o acesso à escola. Ne-
cessário se faz ministrar um ensino que seja de qualidade para todos, que 
atenda às reais necessidades dos educandos. Em outras palavras, deve existir 
abertura para um trabalho pedagógico efetivo com a diferença presente nos 
educandos, em geral. Para tanto, é imprescindível investir – dentre outros 
fatores – na formação inicial dos profissionais de educação para atuação 
com a diversidade do alunado, incluindo nesse contexto os educandos 
o prof e a ed inclusiva.indb 35 6/12/2012 14:21:57
| 36 | lúcia de araújo ramos martins
que apresentam deficiência, altas habilidades/ superdotação e transtornos 
globais do desenvolvimento. 
Podemos perceber que avanços vêm ocorrendo, neste sentido, no Brasil, 
no tocante à legislação existente e aos documentos oriundos de órgãos edu-
cacionais. Várias iniciativas foram empreendidas pelo MEC e por diversos 
órgãos em nível federal, estadual e municipal, no que diz respeito à formação 
de docentes para favorecer a inclusão de todos os alunos, na escola regular. 
Neste sentido, embora reconheçamos que tem crescido o número de 
cursos de licenciatura que buscam oferecer disciplina(s) voltada(s) para a 
Educação Especial, numa perspectiva inclusiva – principalmente em decor-
rência de resoluções e de algumas portarias ministeriais – vários estudos 
vêm evidenciando que ainda existe, da parte de docentes em formação, a 
necessidade de um aprimoramento deste processo, a partir da ampliação 
da carga horária das disciplinas ofertadas, assim como da oferta de outras 
disciplinas que oportunizem um maior aprofundamento teórico e prático, 
nesse campo educacional. 
 Há, também, o reconhecimento de que o processo formativo não se 
esgota no momento inicial, sendo a formação continuada percebida como 
um dos fatores imprescindíveis para que os profissionais de educação pos-
sam atuar, efetivamente, com todos os alunos sob sua responsabilidade 
em classe regular e no ambiente escolar, de maneira mais ampla, por mais 
diversificado que esse grupo se apresente. 
É importante que se entenda a escola como um lugar privilegiado de 
formação, como um espaço para discussão de questões que têm profunda 
correlação com a prática ali vivenciada e de busca de caminhos no tocante 
à tomada de decisões relativas às condições de trabalho, à aprendizagem 
vivenciada pelos alunos sob sua responsabilidade. A inclusão deve ser 
pensada, também, de maneira a extrapolar a dimensão da sala de aula, 
envolvendo toda a comunidade escolar.
É importante que a formação leve em consideração, portanto, o máximo 
possível, o ambiente profissional real dos profissionais de ensino, favorecen-
do situações em que possam mobilizar seus recursos no contexto da ação 
o prof e a ed inclusiva.indb 36 6/12/2012 14:21:57
| 37 | reflexões sobre a formação de professores com vistas à educação inclusiva
profissional e, ao mesmo tempo, possa levá-los a fazer uma análise reflexiva 
e metódicade sua prática, na busca de superarem as suas dificuldades. 
Esse critério deve ser levado em consideração quando da organização 
de cursos, voltados para a formação continuada de profissionais de educa-
ção, em instituições de ensino superior e nos próprios sistemas estaduais 
e municipais de ensino.
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o prof e a ed inclusiva.indb 38 6/12/2012 14:21:57
| 39 | apresentação 
Educação inclusiva e preconceito
Desafios para a prática pedagógica1
José leon crochík
Introdução
A educação inclusiva se destina aos alunos pertencentes a minorias 
sociais que, por diversos motivos, não estavam, anteriormente, presentes 
nas escolas e salas de aula regulares. (AINSCOW, 1997) A luta para sua 
implementação, fortalecida a partir do início da década de 1990, conseguiu, 
em muitos países, que seus objetivos fossem, ao menos em parte, cumpridos, 
ainda que haja muito a ser realizado. (MUÑOZ, 2007) 
A Tabela 1 traz dados referentes à distribuição desses alunos, no Brasil, 
em 2010, segundo dados calculados a partir do censo do Instituto Nacional 
de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (INEP):
Tabela 1 - Frequência e porcentagem de alunos portadores de necessidades 
educacionais especiais no ensino básico em 2010 
pública % pública privada % privada total
Ensino 
especializado 75.384 14% 142.887 84% 218.271
Ensino regular 457.236 86% 27.096 16% 484.332
total 532.620 100% 169.983 100% 702.603
1 Este texto tem como base conferência a proferida ao final do III Congresso Brasileiro 
de Educação Inclusiva, em Salvador-BA, em 2011.
o prof e a ed inclusiva.indb 39 6/12/2012 14:21:57
| 40 | josé leon crochík
Os dados da Tabela 1 indicam que:
1) a maioria dos alunos considerados como portadores de necessidades 
educacionais especiais está matriculada no ensino público; 
2) no ensino público, a maioria desses alunos está matriculada em classes 
regulares, o contrário ocorrendo no ensino privado, que privilegia o 
ensino segregado.
Esses dados mostram que os alunos que antes não frequentavam a esco la 
ou que a frequentavam em escolas e/ou classes especiais passaram a fa zê-
lo em escola regular, sobretudo a pública. Há de se considerar, contudo, 
que, segundo dados desse mesmo censo, realizado pelo INEP, em 2010, 
o número total de matriculados no ensino básico foi de 51.549.889 e a 
porcentagem de alunos da educação inclusiva correspondia a 1,4%, o que 
nos parece muito baixa comparada ao total da população estimada com 
necessidades especiais (14,5%, conforme dados do IBGE, 2000), mesmo 
considerando que esse total se refira ao total da população e não somente 
aos que estão em idade escolar.
 No Brasil, segundo os dados da Tabela 1, a maioria dos alunos porta-
dores de necessidades educacionais especiais2 está matriculada no ensino 
regular, mas ainda é grande o número de matrículas no ensino especializado. 
É difícil também estimar o número de potenciais alunos com deficiência 
que não estão em nenhum tipo de escola. A realização da educação inclu-
siva significa que todas as crianças e todos os jovens estejam estudando 
em escolas e classes regulares, o que até o momento não está ocorrendo. 
Os objetivos da educação escolar têm se direcionado para a formação do 
cidadão, contrapondo-se à ênfase ainda predominante na formação para o 
trabalho. Isso é importante quando pensamos que parte do ensino especial 
voltado, sobretudo, a pessoas com deficiência intelectual, é feito por meio 
de oficinas abrigadas. Se é a formação do cidadão, portanto política, que 
é a meta a ser alcançada, não cabe limitar a educação ao ensino de tarefas 
simples, o que parece ocorrer nessas oficinas. Aliás, a educação voltada 
somente ou predominantemente para a adaptação é criticada por Adorno 
(1995a) na década de 1960, independentemente de os alunos terem ou 
2 Utilizamos aqui essa expressão por ser aquela adotada pelo INEP, no restante do trabalho 
demos preferência à expressão aluno com deficiência, ainda que ambas as expressões 
não coincidam.
o prof e a ed inclusiva.indb 40 6/12/2012 14:21:57
| 41 | educação inclusiva e preconceito: desafios para a prática pedagógica
não deficiência. A formação não deve se restringir à reprodução da socie-
dade existente, deve proporcionar a crítica desta sociedade com o fito de 
alterá-la, tornando-a justa, igualitária, propícia à liberdade. 
Quando a educação escolar não é segregadora, isto é, não separa os alu-
nos por suas consideradas, mas não necessariamente reais, incapacidades 
de aprender e/ou de conviver, há ganhos na formação individual dos que 
têm e dos que não têm deficiência, segundo estudo de Monteiro e Castro 
(1997).Os que têm deficiência, por identificação com seus colegas sem 
deficiência, podem se desenvolver mais, dada a diversidade de modelos, 
do que quando só estão entre os que têm deficiência. Para os que não têm 
deficiência, a convivência com os que são diferentes de si podem propiciar 
o que Adorno (1995a) chama de identificação com o mais frágil, o que é 
um fator importante contra a violência.
Apesar do que foi desenvolvido até aqui, que revela o fortalecimento 
da educação não segregadora, ou educação inclusiva, há de se considerar a 
existência de fortes pressões a favor de que os alunos com deficiência estu-
dem em instituições especializadas e não na sala de aula regular. Como em 
outros tempos alunos com deficiência eram dirigidos predominantemente 
a instituições especiais ou classes especiais, sendo considerados, em geral, 
com problemas de saúde e não propriamente de aprendizagem, mais com 
problemas de desenvolvimento do que de aprendizagem, formou-se uma 
estrutura sólida ao redor dessas instituições, envolvendo quadros profis-
sionais especializados e recursos governamentais, que têm dificuldades de 
se transformar. Não adianta essas instituições se modernizarem quanto 
aos seus métodos e instrumentos, quando a mudança necessária só pode 
significar a superação da segregação estabelecida.
Como as propostas da educação inclusiva preveem modificações subs-
tanciais na arquitetura da escola, nos métodos de ensinar e avaliar, mes-
mo quando alunos com deficiência são aceitos, não necessariamente têm 
condições de ser incluídos; quando tais alterações não são feitas, temos 
o que é denominado educação integrada (ver VIVARTA, 2003), que se 
já significa um bom avanço em relação à educação segregada, ainda não 
possibilita a plena inclusão dos alunos antes segregados, quer pelo fato 
de que estudavam em instituições especiais/classes especiais, quer porque 
não estudavam em nenhum lugar. A proposta de educação inclusiva im-
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| 42 | josé leon crochík
plica o reconhecimento das diferenças e as adequadas condições para que 
essas não sejam obstáculo à formação; assim, linguagem em braile pode 
ser importante para os que têm deficiência visual; linguagem dos sinais 
pode ser importante para os que têm deficiência auditiva; falar mais pau-
sadamente e utilizar mais recursos imagéticos pode ser importante para 
os que têm deficiência intelectual. A educação inclusiva, assim, não deve 
desconhecer as diferenças, mas proporcionar recursos para o cumprimento 
dos objetivos escolares. 
A esta introdução, neste texto, que tem a intenção de ser um ensaio, 
seguem-se quatro partes. Na primeira delas, são discutidos os objetivos da 
educação no que se refere à constituição do indivíduo, que deve expressar 
sua diversidade; na parte seguinte, iniciamos a discussão sobre o conceito 
de preconceito em sua relação com o conceito psicanalítico de identifica-
ção; o preconceito é objeto de discussão também do terceiro item; nesse, 
damos ênfase à sua forma de manifestação como marginalização ou segre-
gação. Por fim, na última parte, apresentamos ilustrações das categorias de 
marginalização, segregação e também da categoria de inclusão, por meio 
de dados empíricos obtidos em pesquisa recentemente concluída sobre a 
educação inclusiva. 
Educar para diversidade e diversidade prévia 
à educação
Ao contrário de algumas tendências que defendem que a diversidade é 
de origem e assim deve se perpetuar, em nossa perspectiva, a educação deve 
transformar o educando, caso contrário não pode cumprir seus objetivos. 
Mais do que isso, é por meio da educação, da formação, que podemos ser 
diversos, diferençados; sem a formação somos semelhantemente grosseiros, 
rudimentares, primitivos. Conforme Adorno (1972), a formação, a dife-
renciação individual, ocorre pela incorporação da cultura que nos permite 
expressar nossos desejos, sofrimentos, expectativas. Sem a possibilidade 
de expressão não podemos sequer ter experiências, pois essas não podem 
ser compartilhadas pela linguagem e por meio do conteúdo que indica a 
realidade de nossa existência e a possibilidade de sua alteração. Assim, 
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| 43 | educação inclusiva e preconceito: desafios para a prática pedagógica
normas, regras, princípios, valores são fundamentais para a constituição 
de um eu próprio e diverso dos outros; não que não haja diferenças prévias 
à formação, mas que se não podem ser nomeadas, tampouco podem ser 
conhecidas e serem referências de um eu. 
Freud (1993) mostra o desenvolvimento de um eu a partir das experiên-
cias; o passado que foi modificado, segundo ele, é preservado e sempre pede 
para retornar, mas a isso resiste a formação, que deve recordar o vivido sem 
negar o atual e o porvir. Dito de outro modo, a diversidade pode ser expressa 
com a apropriação da cultura, desde que ela se refira a indivíduos e não a 
espécies; caso a diversidade se refira a espécies, então estamos no reino da 
natureza e se somos, conforme Horkheimer e Adorno (1985), natureza, 
somos também mais do que natureza; enfatizar só o que é natural, impede 
o que é propriamente humano, como possibilidade de ao expressar a natu-
reza, poder dar-lhe diversos destinos; negar a natureza, é desconhecer os 
limites a serem superados. Em outro texto (CROCHÍK, 2002) assinalamos 
uma dialética dos limites: não reconhecê-los, pode abrigar a crueldade de 
exigências que não podem ser cumpridas; não reconhecer a possibilidade 
de sua superação, significaria a resignação. 
Certamente, as diferenças entre os indivíduos, indicadas pelos limites, 
são também determinadas socialmente, mas tais limites, quando não são 
produtos de um delírio, tem uma base real. Quem tem deficiência visual, 
deficiência auditiva, deficiência intelectual, deficiência física, pode ter di-
versos destinos, dependendo dos significados que a cultura atribui a essas 
deficiências; significados que dependem de condições sociais objetivas. 
(ver HORKHEIMER; ADORNO, 1985) E é a cultura, na dependência 
das necessidades e dos conflitos sociais, que possibilita a formação para a 
segregação ou para a inclusão. 
Como nossa sociedade é contraditória, traz simultaneamente um ím-
peto progressivo e outro regressivo, o esclarecimento, a razão, a ilustração 
(Aufklärung, em alemão), segundo Horkheimer e Adorno (1985), são 
fun da mentais para a emancipação dos homens de um estado de conflito 
continuo, mas, contraditoriamente também podem suscitar esse conflito. 
A possibilidade da superação estaria no abandono do desejo de dominação 
dos homens uns pelos outros. Esse desejo de dominação, que expressa a 
o prof e a ed inclusiva.indb 43 6/12/2012 14:21:57
| 44 | josé leon crochík
natureza do homem, e que pode ser superado desde que seja reconhecido, 
assim como a violência que produz, é também a dominação que tivemos 
de exercer sobre a natureza para podermos sobreviver como espécie. Com 
o avanço científico e tecnológico, essa dominação não é mais necessária. 
Se assim é, a segregação, que é uma forma de dominação sobre o que é 
diverso, não é mais necessária objetivamente; com o progresso, a eficiência 
no mundo do trabalho pode ser obtida em boa medida pelas máquinas, 
essas podem “ver”, “ouvir” e “pensar” formalmente muito melhor do que os 
homens. A formação poderia ser predominantemente para a vida, poderia 
já ser uma possibilidade de vida plena e não a preparação para o trabalho, 
o que converte a vida em meio.
Isso não significa afirmar que os saberes escolares não sejam importantes 
para a vida: são fundamentais, mas não precisariam mais ser unicamente 
elementos para a sobrevivência. A educação já poderia ser dirigida para a 
paz, que como define Adorno (1995b), pode se expressar pelo comparti-
lhamento das diferenças. Isso significa que a educação inclusiva deve mo-
dificar a formação para todos, visando a novos objetivos. Claro, se nossa 
sociedade é contraditória e já tem condições

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