Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MICROBIOLOGIA GERAL LEPTOSPIRA As bactérias do gênero Leptospira são espiroquetas, morfológica e fisiologicamente semelhantes, porém sorológica e fisiologicamente distintas. Os animais domésticos mais comumente acometidos são cães, bovinos, suínos e equinos. Aborto em final de gestação é a manifestação característica em qualquer fêmea prenhe, inclusive em mulheres, exposta a Leptospira pela primeira vez. Os quadros clínicos mais comuns na leptospirose canina são de natureza septicêmica, hepática e renal. Em bovinos e suínos, a doença séptica praticamente se limita aos animais jovens, enquanto aborto é a principal manifestação nas fêmeas adultas. Aborto e uveíte recorrente equina ou cegueira noturna são os sinais clínicos mais comuns em equinos. Leões marinhos da Califórnia são suscetíveis à infecção aguda septicêmica causada por Leptospira. Outras espécies hospedeiras, ainda que suscetíveis à infecção, manifestam sinais clínicos menos frequentemente. Em humanos, a leptospirose, em geral, apresenta-se como uma doença febril aguda. Estudos da taxonomia de Leptospira, com base em testes de DNA, propiciaram a descrição de 8 espécies patogênicas: Leptospira borgpetersenii, L. inadai, L. interrogans (stricto sensu), L. kirschneri, L. meyeri, L. noguchii, L. santarosai e L. weilii. Historicamente, Leptospira tem sido classificada com base em sua composição antigênica; são distribuídas em 23 sorogrupos e mais de 200 sorovares. A referência aos sorovares é mais comum no ambiente clínico. Os sorovares importantes na América do Norte e seus principais hospedeiros e os hospedeiros clínicos (entre parênteses) são: o Leptospira icterohaemorrhagiae: roedores (cães, equinos, bovinos e suínos) o Leptospira gryppotyphosa: roedores (cães, bovinos e suínos) o Leptospira canicola: cães (suínos e bovinos) o Leptospira pomona: bovinos e suínos (equinos, ovinos e leões marinhos) o Leptospira hardjo: bovinos o Leptospira bratislava: suínos (equinos e leões- marinhos). MORFOLOGIA E COLORAÇÃO As bactérias do gênero Leptospira são microrganismos espirais finos (do grego leptos = fino) medindo 6 a 20 µm × 0,1 µm. Fracamente coradas, essas bactérias requerem exame em microscópio de campo escuro ou de contraste de fase, para sua visualização. As espirais são mais bem observadas em microscópio eletrônico. As células típicas apresentam uma espécie de gancho em cada extremidade, o que confere à bactéria um formato de S ou C. Preparações úmidas revelam que esses microrganismos apresentam alta mobilidade. As bactérias do gênero Leptospira são gram negativas, mas não são identificadas em esfregaços fixados e corados, como se faz na rotina. Podem ser demonstradas pelo emprego de anticorpos fluorescentes ou por impregnação pela prata. COMPOSIÇÃO E ANATOMIA CELULAR As células de Leptospira apresentam uma bainha externa, fibrilas axiais (“endoflagelos”) e um cilindro citoplasmático. A bainha externa combina as características da cápsula e da membrana externa. O cilindro citoplasmático é recoberto por uma membrana celular e pela camada de peptidoglicano da parede celular. Na parede celular há uma endotoxina relativamente lábil. Uma hemolisina, a esfingomielinase C, está presente em alguns sovares, e sua citotoxidade tem sido demonstrada in vivo. CARACTERÍSTICAS DE CRESCIMENTO As bactérias do gênero Leptospira são aeróbicas obrigatórias, cuja temperatura ideal para sua multiplicação é de 29°C a 30°C. O tempo médio para produção de colônias é cerca de 12 h. Não se verifica multiplicação em ágarsangue ou em outros meios de cultura utilizados na rotina. O meio tradicional essencial é soro de coelho (< 10%) em soluções compostas desde salina normal até misturas de peptonas, vitaminas, eletrólitos e tampões. Alguns meios mais recentes substituíram polissorbatos e albumina bovina por soro de coelho. Não há necessidade de proteína. Diferentemente da maioria das células procarióticas, as leptospiras não são capazes de sintetizar suas próprias pirimidinas; desse modo, adiciona-se fluoruracila ao meio de cultura, a fim de inibir o crescimento de outras bactérias. A maioria dos meios é de aspecto fluido ou semissólido (0,1% de ágar). No meio fluido desenvolve-- se pequeno grau de turvação. Em meio semissólido, o crescimento se concentra em um disco, aproximadamente, 0,5 cm, abaixo da superfície denominada zona de Dinger. REAÇÕES BIOQUÍMICAS As bactérias do gênero Leptospira são oxidase- positivas e catalasepositivas; várias delas exibem atividade lipase. Algumas produzem urease. A identificação além do gênero se baseia em exame sorológico. No entanto, o desenvolvimento de primers de DNA espécie específico, mais a reação em cadeia de polimerase (PCR), é um procedimento recente promissor para uma caracterização mais acurada de Leptospira patogênica. RESISTÊNCIA Bactérias do gênero Leptospira são microrganismos frágeis; são destruídas por dessecação, congelamento, calor (50°C/10 min), sabão, sais biliares, detergentes, ambiente ácido e putrefação. Persistem em ambiente úmido, de temperatura temperada e pH neutro a ligeiramente alcalino. VARIABILIDADE Há mais de 200 sorovares de leptospiras patogênicas. Esses variam de acordo com o hospedeiro, a distribuição geográfica e os fatores de virulência e, desse modo, diferem quanto à patogenicidade. RESERVATÓRIO As bactérias do gênero Leptospira spp. colonizam os túbulos renais de mamíferos. Embora as leptospiras tenham sido isoladas de aves, répteis, anfíbios e invertebrados, a importância epidemiológica de tais associações não foi estabelecida. Roedores são os carreadores mais frequentes de Leptospira, seguidos de carnívoros selvagens. Nenhum mamífero pode ser excluído da condição de possível hospedeiro. Em geral, os hospedeiros reservatórios manifestam mínimos, se houver algum, sinais de doença. Aborto sempre é um problema nas fêmeas prenhes expostas à bactéria pela primeira vez. A ocorrência de Leptospira e dos sorovares L. icterohaemorrhagiae, L. canicola, L. pomona, L. hardjo e L. gryppotyphosa foi relatada em todos os continentes. TRANSMISSÃO A exposição à bactéria ocorre por meio de contato de membrana mucosa ou pele com água, fômites ou alimentos contaminados com urina. Outras fontes incluem leite de vaca com infecção aguda e secreção genital de bovinos e suínos, machos ou fêmeas. PATOGÊNESE As manifestações clínicas e patológicas sugerem a participação de mecanismos tóxicos. Filtrados de fluidos teciduais de animais experimentalmente infectados contêm fatores citotóxicos que causam lesões vasculares. Os espiroquetas penetram na corrente sanguínea após a inoculação do microrganismo na membrana mucosa, ou no trato reprodutivo, e colonizam, particularmente, o fígado e os rins, onde causam lesões degenerativas. Pode haver envolvimento de outros órgãos, como músculos, olhos e meninges, com instalação de meningite não supurativa. Leptospira lesiona o endotélio vascular, resultando em hemorragias. Todos os sorovares ocasionam essas lesões, em graus variáveis. Em bovinos, L. pomona provoca hemólise intravascular em razão da ação de uma exotoxina hemolítica. Um mecanismo autoimune também pode contribuir para tal ocorrência. Alterações secundárias incluem icterícia, causada por lesão hepática e hemólise, e nefrite aguda, subaguda ou subcrônica, em decorrência de lesão de túbulos renais. O exsudato celular predominantemente contém linfócitos e plasmócitos. Nos animais sobreviventes, as leptospiras desaparecem da circulação após a produção de anticorpos séricos; todavia, persiste nos rins durante várias semanas. PADRÕES DE DOENÇA A maioria dasinfecções causadas por Leptospira apresenta um curso inaparente, ou subclínico, provavelmente decorrente de infecção do animal por um sorovar adaptado ao hospedeiro. As infecções clínicas, que manifestam sintomas evidentes, se devem principalmente às infecções causadas por sorovar não adaptado ao hospedeiro. Essas doenças clínicas se manifestam principalmente em cães, bovinos e suínos; cada vez mais em leões marinhos; ocasionalmente em equinos, caprinos e ovinos; e excepcionalmente em gatos. CÃES Os sorovares envolvidos na ocorrência de leptospirose incluem L. icterohaemorrhagiae e L. canicola, sendo o último o microrganismo mais comum. Tem-se relatado aumento dos casos de insuficiência renal aguda decorrentes de infecções causadas por L. gryppotyphosa. A apresentação aguda mais comum acomete principalmente filhotes de cães, provoca febre sem a localização de sintomas e, comumente, ocasiona morte dentro de alguns dias. Com frequência, observam- se hemorragias nas membranas mucosas e na pele, antes da morte do paciente, ou o paciente manifesta epistaxe ou fezes e vômito tingidos de sangue. Não se constata icterícia. A progressão da doença ictérica é mais lenta, e as hemorragias são menos evidentes. Icterícia é marcante. A localização renal causa retenção de nitrogênio, enquanto cilindros renais e leucócitos surgem na urina. O tipo urêmico, cujos alvos são os rins, devese à natureza da infecção descrita anteriormente ou pode se desenvolver em sua ausência. Pode ser aguda e rapidamente fatal, com sinais de distúrbios gastrintestinais, expiração de ar com odor urêmico e úlcera no trato digestório anterior; pode ter um curso lento, com início retardado. BOVINOS A manifestação predominante na leptospirose bovina é aborto, geralmente no final da gestação, embora possa ocorrer em qualquer momento após a infecção. O aborto se deve mais à morte do feto primária do que à infecção placentária. É comum notar retenção fetal com autólise progressiva. O aborto atribuído a L. hardjo, o sorogrupo adaptado ao hospedeiro para bovinos, é principalmente um problema de novilhas leiteiras, em razão das práticas de manejo diferentes entre os bovinos de corte e os bovinos leiteiros. As infecções por L. hardjo se instalam no feto e provocam aborto ou a “síndrome do bezerro fraco”. Com frequência, essas infecções são subclínicas ou podem levar à “síndrome da queda na produção de leite”, falha reprodutiva e infertilidade. Infecção renal crônica e excreção de leptospiras na urina são ocorrências comuns. Leptospirose aguda causada por L. pomona acomete principalmente bezerros e, às vezes, bovinos adultos. É caracterizada por febre, hemoglobinúria, icterícia, anemia e taxa de mortalidade de 5 a 15%. Em alguns países, Leptospira grippotyphosa, L. icterohaemorrhagiae e L. canicola causam leptospirose em bovinos. SUÍNOS Os sorovares apontados como causas de leptospirose em suínos incluem L. pomona, L. icterohaemorrhagiae, L. canicola, L. tarassovi, L. bratislava e L. muenchen. À semelhança do que acontece na leptospirose bovina, septicemia com icterícia e hemorragia acomete principalmente leitões, enquanto aborto e infertilidade são verificados em porcas. EQUINOS Leptospirose equina é atribuída mais frequentemente aos sorovares L. pomona, L. grippotyphosa e L. icterohaemorrhagiae. Os sinais clínicos das infecções naturais são febre, icterícia discreta e aborto. Provavelmente, leptospirose está envolvida em casos de iridociclite recorrente equina (oftalmia periódica). OUTROS ANIMAIS Em pequenos ruminantes, a leptospirose, geralmente causada por L. pomona, é semelhante à infecção por Leptospira manifestada por bovinos. Também ocorrem infecções por L. hardjo e L. grippotyphosa. Epidemias ocasionadas por L. pomona têm provocado, periodicamente, alta taxa de mortalidade em leões- marinhos da Califórnia, desde os anos 1940. HUMANOS As pessoas são suscetíveis a todos os sorovares, sem identificação de cepas adaptadas ao hospedeiro. As infecções provocam febre, icterícia, dores musculares, exantemas e meningite não supurativa. Essas manifestações são variáveis de acordo com os sorovares envolvidos. Uma apresentação maligna, mais frequentemente associada a L. icterohaemorrhagiae, pode provocar doença hepática ou renal mortal. EPIDEMIOLOGIA Leptospirose é perpetuada por vários hospedeiros tolerantes e pela condição de portador crônico. A exposição indireta depende de condições apropriadas e úmidas que favoreçam a sobrevivência da leptospira no ambiente. A transferência mais direta ocorre por meio de aerossóis de urina em salas de ordenha e em abrigos de bovinos ou pelo hábito de “cortejo” dos cães, fato que pode explicar a propensão do macho em adquirir leptospirose canina. Acúmulos de água contaminada são importantes fontes de infecção aos animais de produção, aos mamíferos aquáticos e às pessoas. Manipuladores de animais, encanadores, trabalhadores rurais, mineiros e veterinários têm alto risco de exposição. MECANISMOS IMUNES DA DOENÇA Os mecanismos imunológicos podem estar relacionados com algumas das seguintes características da leptospirose: - A anemia hemolítica, característica de leptospirose septicêmica causada por L. pomona em ruminantes, está associada à presença de hemaglutininas frias, sugerindo uma condição autoimune. As participações relativas destas e da hemolisina bacteriana não foram definidas - Nefrite intersticial crônica canina é comum e pode ser uma lesão subsequente à infecção por Leptospira. A evidência de formação de biofilme poderia explicar a degeneração crônica do tecido renal e a excreção intermitente de leptospira em animais sadios. Sugere-se uma etiologia com a participação de leptospira decorrente do frequente histórico de leptospirose e da presença de anticorpo contra leptospira, especialmente na urina. - A forte evidência de participação de leptospira em casos de iridociclite equina recorrente (uveíte, oftalmia periódica e cegueira noturna) se deve, em parte, à cultura positiva de leptospira em fluido dos olhos de equinos enfermos, ao resultado positivo no teste PCR de amostras de humor aquoso e aos títulos de leptospirose no soro de equinos acometidos. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA E RECUPERAÇÃO A recuperação de leptospirose aguda coincide com a cessação de septicemia e o aparecimento de anticorpos circulantes, geralmente na segunda semana de infecção. O anticorpo protetor é o isótipo IgG e IgM e é direcionado principalmente aos antígenos da bainha externa. Anticorpo aglutinante (principalmente IgM), o qual pode persistir durante anos após a recuperação, não é indicativo de imunidade, tampouco da condição de paciente que excreta a bactéria, a qual pode ocorrer na ausência de anticorpo ou ter terminado antes de seu desaparecimento. A evidência de formação de biofilme pelas leptospiras pode explicar a ocorrência de infecções crônicas refratárias. Em geral, a imunidade adquirida após a recuperação é sólida e sorovarespecífica, mas repetidos abortos causados por L. hardjo têm sido verificados em vacas. IMUNIZAÇÃO ARTIFICIAL Em cães, utilizamse vacinas com bacterinas (vacina bivalente, contendo L. icterohaemorrhagiae e L. canicola; ou vacina multivalente, na qual se adicionam L. pomona e L. gryppotyphosa à vacina bivalente). Em bovinos e suínos, utilizase, pelo menos, uma bacterina pentavalente contendo L. hardjo, L. pomona, L. canicola, L. icterohaemorrhagiae e L. gryppotyphosa; em algumas vacinas, adicionamse o sorovar L. bratislava e um segundo componente de L. hardjo. Pessoas podem ser vacinadas, dependendo de sua ocupação, como encanadores e funcionários de abatedouros. A proteçãoé temporária e específica para o sorovar, havendo necessidade de reforços, pelo menos, anualmente. A vacinação evita a doença evidente, mas não necessariamente a infecção. COLETA DE AMOSTRA Em animais vivos, realizam-se exames de amostras de sangue, de urina, de fluido cerebroespinal, de fluido uterino e de cotilédones placentários. Em geral, o exame de sangue é negativo após a primeira fase febril. Leite destrói as leptospiras e não é uma amostra promissora para cultura bacteriológica. Amostras de urina sempre devem ser examinadas. Em cadáveres, inclusive fetos abortados, é mais provável que os rins abriguem leptospira. Nos casos de morte por septicemia (inclusive em fetos abortados), vários órgãos podem conter a bactéria, em especial o fígado, o baço, o pulmão, o cérebro e os olhos. A cultura bacteriológica é realizada imediatamente após a coleta da amostra, embora a leptospira possa sobreviver no sangue oxalatado de humanos por 11 dias. EXAME DIRETO Os métodos de constatação visual direta envolvem preparações úmidas examinadas em microscópio de campo escuro (ou em microscópio de contraste de fase), colorações imunofluorescentes e impregnação do tecido fixado por prata. A microscopia de campo escuro de rotina deve se limitar ao exame de urina. Outros fluidos corporais contêm artefatos semelhantes à leptospira. Centrifugação breve em baixa velocidade limpa as partículas interferentes das amostras, mas não sedimenta as leptospiras. São descritos métodos que utilizam amostras de urina formalinizadas, porém a formalina inibe a motilidade. A motilidade auxilia na identificação de leptospira. Em exames diretos, os resultados negativos não excluem a possibilidade de leptospirose. Têmse utilizado anticorpos fluorescentes no exame de fluidos, de cortes teciduais, de homogenatos, imprints obtidos de órgão e, mais efetivamente, em fetos bovinos abortados, nos quais o exame do rim é mais satisfatório. Os resultados de exames de cortes teciduais impregnados com prata devem ser interpretados com cautela, pois as fibrilas de tecidos agirofílicos podem se assemelhar a leptospiras. A ampliação de DNA utilizando PCR e primers de DNA específicos tem-se tornado um excelente procedimento diagnóstico para a detecção de leptospira nos fluidos e tecidos de animais. ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO O meio EllinghausenMcCulloughJohnsonHarris (EMJH) é um bom meio de isolamento, especialmente para L. hardjo, o sorovar de crescimento mais lento dentre os sorovares comuns. Faz-se a replicação de inóculos em meio líquido, com e sem inibidores seletivos (5fluoruracila, neomicina e cicloheximidina). Durante a incubação, o meio é examinado por microscopia, em intervalos, por até vários meses. A inoculação em animais (hamsters ou porquinhosdaíndia) elimina contaminantes menos importantes do inóculo primário, injetado por via intraperitoneal. Periodicamente, obtêm- se amostras de sangue para cultura, iniciando alguns dias após a inoculação. Após 3 a 4 semanas, os animais são sacrificados e os rins são examinados e submetidos à cultura para leptospira. Se infectados pela bactéria, os animais produzem anticorpos. Todo isolado recuperado dessa maneira pode ser identificado morfologicamente como Leptospira sp. A identificação definitiva é realizada por laboratórios de referência. SOROLOGIA Como o exame direto frequentemente não é confiável e a cultura é trabalhosa e de alto custo, o exame sorológico é método diagnóstico mais comumente empregado. O teste de aglutinação microscópica que utiliza antígeno vivo é mais amplamente realizado. Outros exames laboratoriais incluem teste de aglutinação em tubo e macroscópico de placas, bem como fixação de complemento e testes imunoenzimáticos. Amostras pareadas são as preferidas: uma amostra é obtida no início da manifestação da doença, e outra, 2 semanas depois. Se há infecção por Leptospira nesse intervalo, observa-se um aumento de quatro vezes, ou mais, no título de anticorpos contra a bactéria. No caso de aborto bovino, isso pode não ocorrer. O motivo é a infecção de bovinos por L. hardjo estimular uma resposta imune muito fraca, provavelmente decorrente de sua adaptação a essa espécie animal. Os anticorpos persistem por longos períodos após a infecção. Os títulos pósvacinais são mais baixos e diminuem bem antes da imunidade induzida pela vacinação. O título de aglutinação é específico do tipo de bactéria. Geralmente os laboratórios de diagnóstico fazem exames sorológicos para todos os sorovares comuns. TRATAMENTO E CONTROLE Leptospiras são sensíveis a penicilina, tetraciclina, cloranfenicol, estreptomicina e eritromicina. O tratamento, para ser efetivo, deve ser instituído no início da doença, possivelmente mesmo de modo profilático nos casos de exposição conhecida à bactéria. Doxiciclina é utilizada no tratamento de pacientes humanos, de modo profilático. Estreptomicina ou dihidroestreptomicina é rotineiramente utilizada com intuito de eliminar a condição de animal portador. No entanto, não é rara a persistência da infecção por Leptospira nos rins e no trato reprodutor de bovinos, após o tratamento antibiótico, sugerindo, novamente, a formação de biofilme pelas leptospiras. Em geral, a vacinação evita a doença. Não impede a infecção, tampouco a excreção da bactéria. Leptospirose - Família Leptospiraceae - Gênero Leptospira: espécies Interrogans, biflexa - Espécies patogênicas São específicas, porém acabam sendo transportados para novos hospedeiros, chamadas infecções acidentais. Animais silvestres – portadores assintomáticos, populações resistentes/resilientes, seleção dos mais fortes como mantedores e transportadores da bactéria para outros indivíduos. - Outono: estacional chuvoso - Animais silvestres em estresse: micção. Água – diluição – infecção. - Curta vida útil fora do organismo animal. Espécies patogênicas: - Leptospira borgpetersenii - L. inadae - L. kirshneri - L. meyeri - L. noguchii - L. santarosae - L. weilee - L. interroganss sensu stricto. Interesse veterinário e saúde pública - 200 diferentes sorovares - L. hardjo (importante para bovinos) - L. pomona (eqüinos, bovinos, suínos) - L. canicola (cão) - L. icterohaemorrhagiae (ratos) - L. pyrogenes - L. grippotyphosa (ratões) - L. autumnalis. Propriedades gerais - Coloração: não cora pelo gram - Fontana (prata) - Morfologia espiral (saca rolha) - Móvel Sinais clínicos - Homem: icterícia, dor muscular, dor de cabeça. - Bovinos: retorno ao cio, aborto, morte de terneiros, sangue no leite. - Equino: baixo rendimento, projeção da terceira pálpebra (uveíte) - Suíno: aborto - Cães: febre, icterícia - Gatos: sem receptores para essa bactéria, passa sem ser absorvida Frequência: L. icterohaemorrhagiae: 30,8% L. grippotyphosa: 23,1% L. australis: 15,4% L. panamá: 10,8% L. pyrogena: 10,8% L. shermani: 4,6% L. canicola: 3,1% Bacteremia inicial – produção de ACS, opsonização – avanço pelos tecidos – multiplicação – substancias líticas, reação inflamatória, “endotoxinas”. Vasculites e hemorragias: rins, fígado, pulmões, meninges, músculo estriado, glândulas suprarrenais, gastrointestinal, pele. - Rompimento da hemácia, Bilirrubina re-circula e volta pelo sangue e aparece nas mucosas. Rim e fígado não conseguem metabolizá-la. - Aparecem peteques, equimoses e sufusões. Sinais clínicos Bovinos: subclínica com ou sem leptospiúria: - Síndrome da queda do leite com ou sem outros sintomas (hardjo) - Abortos seguidos (pomona) ou esporádicos (hardjo) e mortalidade neonatal - Infertilidade (hardjo) - Hemoglobinúria, icterícia e febre em bezerros e menos comumente em adultos (pomona, grippotyphosa e icterohaemorragiae).Ocasionalmente muitos animais mostram sinais de meningite. Ovelhas: principalmente infecções subclínicas com leptospiúria (hardjo). Ocasionalmente ocorre casos agudos com depressão, dispnéia, hemoglobinúria, anemia e alta mortalidade de cordeiros. Sinais clínicos Hemorragia pulmonar Cães: subclínica com leptospiúria (canicola): - Doença da hemorragia aguda: febre, vômito, prostração e morte rápida (usualmente icterohaemorragiae). - Tipo de icterícia aguda: intenso prurido, depressão, febre, hemorragias na urina e fezes (canicola e icterohaemorragiae) - Tipo de uremia: uremia associada com extensa lesão renal, estomatite ulcerativa. Alta letalidade. - Os sinais clínicos severos podem ocorrer entre 1-3 anos após infecção inicial (canicola). - Alteração da atividade hepática, raramente crônica (grippotyphosa). Controle - Animais - Vacinas bacterina - Sorovares presnetes os animais da região - Monovalentes (mais eficiente – menos sorovares) - Polivalentes Tratamento: - Bacteremia - Doxicilina - Penicilina - Renal - Dihidroestreptomicina Vacinas não protegem contra a infecção, protegem contra a doença clínica. Quanto maior o número de infecção, maior o título de anticorpos e melhor a defesa.
Compartilhar