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1 Histologia – MIV 11 – Sistema Cardiovascular Marcela Cavalcanti – 2017.2 Miv 11 – Histologia do SCV Caso clínico ilustrativo: homem, 61 anos, dor súbita no membro inferior esquerdo e inchaço. Portador de HAS, colesterol alto e DM. PA 210x120 mmHg. Exame clínico revelou edema, rubor e calor no membro inferior associado a cianose de extremidades Principal suspeita deve ser problema circulatório relacionado a alguma obstrução devido ao edema (a obstrução aumentou a pressão no local resultando no extravasamento de liquido para o espaço intersticial) dor pela distensão das terminações nervosas e o rubor e calor característicos de qualquer processo inflamatório Foi realizada uma ultrassonografia com doppler e foi verificado trombo em vaso profundo Trombo – estrutura que impede o fluxo sanguíneo dentro do vaso Foi diagnosticada uma trombose venosa profunda. As extremidades são as regiões mais afetadas devido as terminações vasculares menores. O paciente em questão evoluiu para uma isquemia na extremidade do membro afetado seguida de necrose. Essa situação acontece muito em choques sépticos, pois esses choques liberam trombos que acabam atingindo as extremidades e causando a necrose O sistema cardiovascular é dividido no sistema vascular sanguíneo e sistema vascular linfático. O sanguíneo é bidirecional, enquanto o linfático é unidirecional. O linfático devolve ao sangue o liquido que extravasou a nível tecidual através da drenagem realizada pelos ductos linfático direito e torácico que desembocam a nível da junção subclávia – jugular, mantendo o equilíbrio homeostático, se não funcionar bem, ocorre o edema ou desidratação. Sistema vascular sanguíneo Divide-se em um sistema de irrigação e um sistema de drenagem, interligados e fechados Os vasos sanguíneos são órgãos tubulares originados do mesênquima na 3ª semana de VIU, começam a aparecer as ilhotas sanguíneas na parede do saco vitelínico que darão origem aos vasos sanguíneos, a parte interna origina o sangue e a externa o endotélio. Apesar dos vasos estarem presentes em grandes quantidades no organismo, existem áreas do corpo que são avasculares, como o epitélio (exceto o epitélio da estria vascular do ouvido interno. Os vasos sanguíneos são classificados em 3 categorias: (independente do sangue ser arterial ou venoso) Aferentes: levam sangue dos tecidos ao coração (veias – drenagem) Eferentes: levam sangue do coração aos tecidos (artérias – irrigatório) Rede vascular intermediaria: localizados entre os vasos aferentes e eferentes, é a microcirculação Os vasos vão diminuindo de calibre até chegarem nos tecidos e depois vão aumentando em direção ao coração • Disposição dos vasos Normal: Artéria – capilar – veia Sistema Porta: - Arterial Artéria – Capilar – Artéria (presente nos rins/glomérulo) - Venoso Veia – Capilar – Veia (presente no fígado, hipófise) Anastomose arteriovenosa: Artéria – Veia (controla a quantidade de sangue a ser distribuída numa determinada região Obs: o sangue é responsável por 8% do peso corporal (volemia) cuja maior parte se encontra dentro dos pulmões, sendo distribuído em maior quantidade para as regiões que estejam em maior atividade. As anastomoses se fecham para desviar o sangue para esses locais. 2 Histologia – MIV 11 – Sistema Cardiovascular Marcela Cavalcanti – 2017.2 • Morfogênese dos vasos Quando se formam as ilhotas sanguíneas, o seu interior formará o sangue e o exterior o endotélio, num processo chamado vaculogênese. Uma vez formados os vasos, estes sofrerão um processo de brotamento chamado angiogênese (neoformação vascular) A vasculogênese só ocorre no período embrionário, já a angiogênese pode ocorrer em qualquer momento da vida (pós cirúrgico, por exemplo) Obs: Em processos tumorais malignos, a angiogênese é bastante intensa – liberação do fator de estimulação • Estrutura histológica 1) Túnica íntima: Subdividida em 3 camadas: - Endotélio com sua lâmina basal: epitélio simples pavimentoso. Forma o revestimento de todo o sistema vascular e de todas as áreas onde passa o sangue Obs: as lesões endoteliais são gravíssimas. Quando o pcte tem septicemia e ela atinge o endotélio chama-se coagulação intravascular disseminada. Ativa, inativa e converte substâncias químicas nos coágulos, produz a enzima conversora de angiotensina I em angiotensina II, produz antiagregante plaquetário, produz endotelina (mais potente vasoconstrictor do organismo) e produz óxido nítrico (potente vasodilatador) Nos capilares só tem endotélio, é onde ocorre passagem das substancias entre vasos e tecidos - Camada subendotelial: de tecido conjuntivo frouxo, pouca quantidade de fibras elásticas, fibras musculares - Membrana elástica limitante interna: resistente, tem várias perfurações por onde passam os nutrientes para nutrir as paredes dos vasos. Limita a túnica intima da túnica média. É de fácil visualização (fica ondulado). 2) Túnica média: Fibras musculares lisas, fibras elásticas e colágenas e substância fundamental Possui pouco, muito pouco ou nenhum fibroblasto (depende do autor), as fibras musculares lisas são quem produz as fibras elásticas e colágenas Pode predominar fibra muscular ou fibra elástica dependendo da necessidade do vaso É bastante desenvolvida e espessa nas artérias e delgada nas veias OBS: nos vasos de maior calibre: Membrana elástica limitante externa: mais delgada que a interna. Delimita a túnica média da camada adventícia 3) Camada adventícia: Tecido conjuntivo frouxo nos vasos de menor calibre e denso ou moderadamente denso nos de maior calibre. Possui fibroblastos, vasos e nervos • Nutrição da parede dos vasos Nos vasos de menor calibre, a nutrição ocorre por difusão do próprio sangue corrente dentro do vaso Nos vasos de maior calibre, os nutrientes não conseguem chegar por difusão em todas as camadas, chegando no máximo até o início da túnica média, sendo necessária a presença de vasos pequenos (vênulas, arteríolas) na camada adventícia dos grandes vasos. O conjunto desses pequenos vasos é chamado de VASA VASORUM NERVI VASCULARIS: conjunto de nervos que inervam os vasos, controlando o tônus na parede do vaso, geram espasmos para “fechar” o vaso quando ocorre algum dano, por exemplo. (espasmo vasomotor) 3 Histologia – MIV 11 – Sistema Cardiovascular Marcela Cavalcanti – 2017.2 Artérias São classificadas em 3 tipos: Artérias elásticas (de grande calibre), Artérias musculares (médio e pequeno calibre), Arteríolas (pequenas) Conforme vão saindo e se afastando do coração, as artérias vão diminuindo de calibre até se tornarem arteríolas a) Artérias elásticas Possuem o maior diâmetro e são chamadas de artérias condutoras. Na sua túnica média, predominam as fibras elásticas para que possam suportar a pressão sanguínea alta através da distensão das paredes (Até 60 camadas de membranas elásticas) Túnica adventícia pouco desenvolvida (em comparação com a média) possuindo vasa vasorum e nervos Ex: artérias aorta e pulmonar Obs: aos 20 anos, as artérias coronárias são as primeiras que já apresentam certo grau de envelhecimento, podendo levar a complicações como o infarto do miocárdio Defeitos de nascimento: pode haver defeito nas fibras elásticas (elastina dá a elasticidade e fibrilina dá a estrutura) - > síndrome de marfan: o indivíduo não codifica a fibrilina, o que resulta na fragilidade das paredes arteriais, é comum ocorrer a morte por aneurismas nos portadores Em indivíduos idosos, cujos vasos já possuem as paredes envelhecidas significativamente, a PA alta pode causar rompimento dos vasos. O local mais comum e perigoso desse rompimento é no cérebro (AVC) b) Artérias musculares (médio e pequeno calibre) São os ramos da aorta Nelas, a túnica adventícia é tão desenvolvida quanto a túnica média Obs: na túnica intima, só é possível visualizar a camada endotelial e a membranaelástica limitante interna. A subendotelial não é visualizada. A túnica média, nesse caso, é formada predominantemente por fibras musculares lisas (pode haver de 6 até 40 camadas de células musculares). Possuem, na camada adventícia, vasa vasorum e nervos São chamadas de artérias distribuidoras. Exemplos: A. renal, A. mesentérica, A. hepática... HE: não cora bem as fibras elásticas (ficam rosa pálido) visualiza os núcleos das fibras musculares lisas Orceína: evidencia bem as fibras elásticas, não mostra bem a camada adventícia 4 Histologia – MIV 11 – Sistema Cardiovascular Marcela Cavalcanti – 2017.2 c) Arteríolas (artérias pequenas) Diâmetro menor que 0,5mm • Arteríola de parede fina: A túnica intima possui apenas endotélio que aparece arredondado na microscopia A túnica média possui de 1 a 3 camadas de fibras musculares lisas e poucas fibras elásticas e colágenas Túnica adventícia é pouco desenvolvida e não é possível observá-la na microscopia Obs: nas artérias e arteríolas, sempre a espessura das paredes é grande comparada com a luz do vaso, já nas veias, as paredes são finas e o diâmetro da luz é grande • Arteríola de parede grossa A túnica intima possui os três componentes: endotélio, subentotelial e membrana elástica limitante interna A túnica média possui apenas de 4 a 5 camadas de fibras musculares lisas (diferente da artéria muscular que possui de 6 a 40) Túnica adventícia pouco desenvolvida A estrutura é igual a da artéria muscular, diferindo apenas no número de camadas de fibras musculares Obs: Único tipo de artéria que possui túnica adventícia desenvolvida é a artéria muscular 5 Histologia – MIV 11 – Sistema Cardiovascular Marcela Cavalcanti – 2017.2 Veias a) Veias de grande calibre Túnica intima: possui apenas endotélio e subendotelial Túnica média: pouco desenvolvida, predominam as fibras musculares (3 a 5 camadas) Túnica adventícia: bastante desenvolvida apresentando, além do tecido conjuntivo, fibras musculares em grande quantidade em sentido longitudinal (particularidade) -> compressão que impede o retorno venoso. Possui vasa vasorum. b) Veias de pequeno e médio calibre Túnica intima: possui endotélio e pode ou não apresentar subendotélio O endotélio se dobra para dentro formando estruturas valvulares, quanto menor o calibre da veia, mais válvulas ela terá (ajudam a evitar o retorno venoso) Túnica média pouco desenvolvida (em torno de 2 camadas de células musculares) Túnica adventícia bem desenvolvida c) Vênulas - pós capilar: mesma estrutura do capilar (apenas uma camada endotelial e sua lâmina basal, contornada por uma célula mesenquimal – o pericito), porém tem um diâmetro de 5 a 7 células no corte transversal (não é camada de célula) (capilar só de 1 a 4). Local importante de troca de nutrientes; por ter um diâmetro maior, pode ocorrer trocas até mais intensas que nos próprios capilares. Pericito: no processo de revascularização, dá origem a novas fibras musculares ou células endoteliais (qualquer estrutura do vaso ou de músculo) - muscular: túnica intima tem apenas endotélio. Túnica média possui de 1 a 2 células musculares. Túnica adventícia bastante desenvolvida. Rede venosa intermediária (ou microcirculação) Localizada entre a parte arterial (eferente) e a parte venosa (aferente)-normalmente. Composta pelos capilares sanguíneos. Composição: endotélio (de 1 a 4 células no corte transversal) + lâmina basal e pericito As células endoteliais se unem por complexos juncionais (interdigitações) -Pericito: Localizado abaixo da lâmina basal com sua lâmina basal em continuidade com a lâmina basal do endotélio Tem o corpo celular achatado e uma grande quantidade de prolongamentos que “abraçam” a superfície do capilar 6 Histologia – MIV 11 – Sistema Cardiovascular Marcela Cavalcanti – 2017.2 Também estão presentes nas vênulas pós capilares Contem filamentos de actina, miosina e tropomiosina -> atividade contrátil (não comprovado in vivo) Regeneração pós lesão dos vasos (é uma célula mesenquimal indiferenciada), tem atividade fagocítica – migram para locais de inflamação e chegando lá, podem se diferenciar em macrófagos Os capilares são classificados em 3 tipos: a) Capilar contínuo: Cerca de 90% de todos os capilares do organismo Todo o fechamento do diâmetro vascular é feito por célula endotelial (a adesão é feita por interdigitações) Obs: os leucócitos “levantam” essas interdigitações para penetrarem nos vasos) Obs2: alguns capilares tem as interdigitações fortemente aderidas, formando uma barreira contra a entrada de substancias, como ocorre no sistema nervoso impedindo a entrada de líquidos. b) Capilar fenestrado Apresenta aberturas, fenestrações, em suas paredes que permitem a passagem de liquido com maior rapidez (a lâmina basal é contínua) - capilar fenestrado com diafragma: pequena membrana que fecha o poro - capilar fenestrado sem diafragma: presentes em áreas que necessitam de trocas muito intensas – ex: glomérulo renal, intestino delgado. c) Capilar sinusóide É um capilar grande (30 a 40micrometros – o restante tem apenas até 9) Pode apresentar, além da célula endotelial, um macrófago fechando seu diâmetro Possui grande quantidade de poros grandes (maior que nos capilares fenestrados) – o sangue pode chegar a ter contato como uma circulação aberta Sua lâmina basal é descontínua Tem forma de haste (alongada) Encontrados nos órgãos hemocitopoieticos e algumas glândulas como a adrenal e a hipófise (necessidade de entrada de grande quantidade de liquido e também de células de defesa) Obs: os macrófagos das paredes dos capilares do fígado são as células de Kupffer Obs: Circulação nutricional: leva os nutrientes específicos para os componentes celulares do órgão Circulação funcional: vai desempenhar alguma função especifica dentro do órgão Ex: artéria brônquica – leva os nutrientes para as células do pulmão Artéria pulmonar: leva o sangue para que ele realize as trocas gasosas dentro dos pulmões