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ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 1 Engenharia de Manutenção ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 2 Sumário 1 A MANUTENÇÃO 4 1.1 INTRODUÇÃO 4 1.2 CONCEITUAÇÃO 6 2 MODELOS DE MANUTENÇÃO 7 2.1 MODELOS DE MANUTENÇÃO 7 2.1.1 MANUTENÇÃO À DEMANDA OU CORRETIVA 7 2.1.2 MANUTENÇÃO PREVENTIVA 9 2.1.3 MANUTENÇÃO SISTEMÁTICA 11 2.1.4 MANUTENÇÃO PREDITIVA 12 2.1.5 OTIMIZAÇÃO DE MANUTENSIBILIDADE 13 3 MÉTODOS DE MANUTENÇÃO 13 3.1 MANUTENÇÃO PRODUTIVA TOTAL - TPM 13 3.2 MANUTENÇÃO CENTRADA EM CONFIABILIDADE – RCM 15 4 PLANEJAMENTO E GESTÃO DA MANUTENÇÃO 17 4.1 ATIVIDADES DE COMPRAS 18 4.2 INFRAESTRUTURA 19 4.2.1 ÁREA FÍSICA 19 4.2.2 INSTRUMENTAÇÃO E FERRAMENTAL 20 4.2.3 DOCUMENTAÇÃO TÉCNICA E ESPECIALIZADA 21 4.2.4 SISTEMA DE COMUNICAÇÕES 23 4.2.5 ESCRITÓRIO, INFORMÁTICA E SUPRIMENTOS OPERACIONAIS 23 4.2.6 INFRAESTRUTURA PREDIAL PARA MANUTENÇÃO 24 5 PLANEJAMENTO: FLUXO ORGANIZACIONAL 25 5.1 FLUXO ORGANIZACIONAL 25 5.2 PLANEJAMENTO 28 6 PLANEJAMENTO: FORMA DE ATUAÇÃO, EQUIPE E TERCEIRIZAÇÃO 30 6.1 FORMA DE ATUAÇÃO 30 ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 3 6.2 EQUIPE 34 6.3 TERCEIRIZAÇÃO 34 7 GESTÃO: INDICADORES, CADASTROS, GERENCIAMENTO, PADRONIZAÇÃO E METROLOGIA 37 7.1 INDICADORES DE EFICIÊNCIA 38 7.2 SISTEMA PARA GESTÃO DA ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO HOSPITALAR – CADASTROS E PROCESSOS - ENGENHARIA CLÍNICA 39 7.3 PADRONIZAÇÃO DOS PROCESSOS 42 7.4 A METROLOGIA NA MANUTENÇÃO 44 8 SEMIOLOGIA DE MANUTENÇÃO 45 8.1 COMO PROCEDER? -ALGORITMOS PARA OBTENÇÃO DE DIAGNÓTICOS INICIAIS. 46 ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 4 Engenharia de Manutenção 1. A Manutenção 1.1 Introdução A sobrevivência das organizações cada vez mais necessita de agilidade, flexibilidade, capacidade de adaptação e modernização permanentes na gestão dos seus processos de trabalho. Neste sentido, o gestor atual tem que ter uma gama muito mais abrangente e diversificada de capacidades que no passado, ou seja, precisa estar apto a perceber, refletir, decidir e agir em condições totalmente diferentes do que foi anteriormente. Assim sendo, é preciso manter um nível de conhecimento que permita acompanhar o desenvolvimento dos novos produtos e processos. Estes novos desafios exigem um novo paradigma organizacional, no qual é fundamental a troca e interação entre todas as instâncias envolvidas: fabricantes; fornecedores; prestadores de serviços; outras instituições; e os próprios setores e departamentos internos da organização. É importante que as organizações invistam na aproximação das atividades “finalísticas” com as de “suporte”, fortalecendo a ideia de integrar e aliar os profissionais, pois melhoram a capacidade de gestão. A atividade de manutenção seria uma das beneficiadas desta integração com a ampliação e a capilarização de técnicas, procedimentos e informações que forneceriam maior apoio às áreas “finalísticas”. Neste conceito de integração, os usuários passam a ter papel importante no debate dos projetos, na avaliação das dificuldades e no compartilhamento dos resultados obtidos. Hoje em dia, em função da competitividade, as empresas diminuíram o intervalo de tempo no lançamento de novos produtos com inovações tecnológicas. O ciclo de vida de produtos e processos é cada vez menor. Esta grande velocidade nas inovações ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 5 tecnológicas cria desafios ao pessoal diretamente engajado nos processos de manutenção, exigindo um intenso aperfeiçoamento nas mais diversas áreas do conhecimento. Este fenômeno exige que os técnicos da manutenção possuam cada vez mais qualificação em diferentes áreas. O profissional técnico considerado de grande competência é o que possui conhecimento do funcionamento do equipamento, entende o processo no qual está inserido, ou seja, há a necessidade de multidisciplinaridade nos conhecimentos. Agrega-se o fato de ter que possuir conhecimento em cuidados com a segurança e o meio ambiente. É fundamental, cada vez mais, que este profissional tenha a capacidade de dominar as tecnologias incorporadas aos novos produtos, visando à redução da dependência em relação aos fornecedores. A dinâmica evolutiva das tecnologias obriga que, de forma rotineira, as organizações promovam o aprimoramento da sua base de recursos humanos, através da capacitação constante dos trabalhadores. A evolução tecnológica de forma rápida, dinâmica e complexa, deu destaque à área de manutenção, pois a decisão de adoção de determinada tecnologia implica na capacidade especializada da manutenção de manter sua disponibilidade. Sendo assim, a manutenção passa a ter uma função estratégica dentro da instituição, sendo encarada como um centro de lucros, e não mais como um setor gerador de despesa. A produtividade dos setores hospitalares passa a ser totalmente dependente da eficiência da manutenção, pois a indisponibilidade de equipamentos e/ou tecnologias de saúde acarreta o baixo aproveitamento, e assim não se obtém o rendimento ideal durante a vida útil da tecnologia, ou ainda são desativados precocemente, aumentando os custos devido à necessidade da aquisição de novos equipamentos. A gestão da manutenção planejada, no caso hospitalar o setor de Engenharia Clínica estruturado, os recursos serão otimizados e utilizados com maior eficiência, ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 6 melhorando significativamente a infraestrutura dos setores do estabelecimento de saúde. Fica evidente que há necessidade urgente de quebra de paradigmas na gestão da manutenção, principalmente nos estabelecimentos públicos de saúde, onde as demandas sociais são muito grandes, provocando um aumento quantitativo e qualitativo da necessidade de mudanças. 1.2 Conceituação Em geral, a literatura especializada, disponibiliza várias definições para a manutenção. Entretanto, o conceito básico restringe-se à ação de correção e de prevenção de falhas, considerando sempre os fatores de ambiente de aplicação ou a criticidade da falha. Em alguns casos, dependendo do enfoque, alguns fatores podem tornar-se mais relevantes sobre os aspectos econômicos envolvidos, otimização da produção, preservação do meio ambiente, disponibilidade dos equipamentos, segurança de operadores etc. A seguir, são apresentadas algumas definições de diferentes autores. Motter (1992) define a manutenção como um conjunto de técnicas e de organização capazes de conservar tão bem quanto novas, máquinas, instalações e edificações, durante o maior tempo possível, com máxima eficiência (limites a serem conquistados), tendo sempre em vista diminuir desperdícios, satisfazer e motivar tanto os que recebem como os que fazem manutenção. No âmbito nacional, tem-se a definição da norma técnica NBR 5462/1994, a qual define manutenção como a combinação de ações técnicas e administrativas, incluindo as de supervisão, destinadas a manter ou recolocar um item em um estado no qual possa desempenhar uma função requerida (ABNT, 1994). O autor Tavares (1996) define como sendo todas as ações necessárias para que um item seja conservado ou restaurado, de modo a poder permanecer de acordo com uma condição especificada. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 7 Para Xenos (1998), são as ações necessárias para manter as condições de operação e seu desempenho pelo restabelecimento de eventuais deteriorações destas condições, em relação aos equipamentos. Já os autores Pinto e Xavier (2001) apresentam uma definição mais engajada aos valoresatuais, descrevendo como sendo aquela ação que deve garantir a disponibilidade da função dos equipamentos atendendo à produção, mas preservando o meio ambiente, com confiabilidade, segurança e custos adequados. Por outro lado, Moubray (2003) apresenta uma definição mais pragmática no aspecto das finanças, afirmando que a função da manutenção deve assegurar que os ativos físicos devem continuar fazendo tudo aquilo que seus usuários querem que eles façam. 1.3 Modelos de Manutenção O trabalho com tecnologias na área da saúde exige que os setores hospitalares estejam equipados com uma variedade de equipamentos em função das diferentes atividades desenvolvidas. É, portanto, necessário que estes equipamentos médico- hospitalares sejam tratados em termos de manutenção de maneira diferenciada, de acordo com suas características e aplicações específicas. Os modelos de manutenção mais difundidos e utilizados em equipamentos Biomédicos (EBs) são a manutenção corretiva, a preventiva, a preditiva, a sistemática e a otimização de manutenibilidade. 1.3.1 Manutenção à Demanda ou Corretiva Atividade assistencial técnica dada ao equipamento quando ocorre um defeito que o impossibilita manter o funcionamento do sistema ("falha concreta"), obrigando a interrupção de forma imprevista. É recomendável nos seguintes casos de equipamentos: ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 8 Stand by; Baixo custo de reposição; Curta vida útil para obsolescência técnica; Alta simplicidade; Equipamentos cuja curva de falhas é exponencial. As possíveis desvantagens desta técnica são: Atende somente os casos de falha concreta; Em função da falta de programação, aumenta o tempo de serviço e a improvisação no atendimento; Aumenta o número de horas improdutivas; Interfere no programa produtivo; Ocasiona maiores custos operacionais; Acelera o processo de deterioração do equipamento; Diminui a confiabilidade do equipamento. Mesmo em um sistema de manutenção planejada, a manutenção corretiva é minimizada, porém nunca reduzida a zero, pois não há acompanhamento do estado dos equipamentos, e assim a tendência a ocorrerem defeitos imprevisíveis é enorme. Normalmente é viável para equipamentos de baixo custo de produção, em que a reposição de um novo ou a disponibilidade de um reserva é menor que o custo da aplicação de outros métodos de manutenção. Da mesma forma, é aplicável em equipamentos de tecnologia de baixa complexidade e robusta, que necessitem de pouca manutenção preventiva e cuja interrupção programada implique em uma significativa perda de tempo no processo. Este modelo de atuação também é indicado em casos nos quais o EB tenha curto ciclo de vida, em função de obsolescência tecnológica. Nestes casos não há, muitas vezes, viabilidade técnico-econômica de aplicar uma manutenção programada. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 9 Entretanto, é importante frisar que a manutenção corretiva apresenta problemas que impactam no processo de trabalho, pois se fica refém das falhas imprevisíveis e defeitos em sequência, ocasionando maior tempo de parada para manutenção, aumento dos custos para reparo, comprometimento da segurança e redução da produtividade e confiabilidade dos equipamentos. 1.3.2 Manutenção Preventiva A manutenção preventiva está baseada no fato de que todo equipamento quebrará ou falhará de modo e tempo relativamente conhecidos. Sendo assim, pode-se definir manutenção preventiva como toda atividade técnica assistencial dada a um sistema físico segundo uma periodicidade pré-determinada para inspeções, visando detectar e eliminar falhas latentes. As principais vantagens deste modo de atuação são: Redução de horas improdutivas; Aumento do índice de confiabilidade, da vida útil do equipamento e do valor de revenda; Redução do consumo de peças de reposição; Diminuição do refugo; Redução dos custos operacionais totais da manutenção. Como desvantagens, pode-se citar: O setor de manutenção tem que ser obrigatoriamente bem estruturado e/ou racional e/ou organizado; Exige inspetores/ técnicos treinados; Aumento da burocratização; Eventuais problemas/ defeitos nos equipamentos inspecionados; Obtenção do grau médio na prevenção de falhas concretas; O funcionamento efetivo somente é alcançado após um ano em média; Pode haver exigência do desmonte total ou parcial do equipamento. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 10 As intervenções em períodos planejados têm por objetivo repor o equipamento aos níveis requeridos de desempenho e confiabilidade. Durante o intervalo de tempo inicial de um ano, tenta-se determinar o período no qual há um aumento da probabilidade para ocorrer uma falha em um determinado componente do equipamento e atuar de modo a substituir este componente antes do fim da sua vida útil. Esta atitude evita que o equipamento pare de maneira aleatória. A identificação correta do período de tempo no qual se deve intervir em um determinado componente de um equipamento é o fator mais crítico da manutenção preventiva. Caso o período seja menor do que o devido, o custo será inviável, por outro lado, se avaliar a vida útil do componente maior que o real, será eminente o risco de o equipamento falhar de forma imprevista. A correta identificação dos intervalos para a realização das intervenções é muito dependente do grande volume de dados dos equipamentos que se pretendem manter. Quando se fala em grande volume de dados, está se referindo à organização de cadastros que, preferencialmente, serão gerenciados por programas de computadores e bancos de dados. Os cadastros, obviamente, serão relacionados aos equipamentos, abrangendo: localização; aplicação; características; peças sobressalentes mais utilizadas; estimativa da vida útil dos componentes; e o máximo de informações que se puder obter com os fabricantes. A partir destes cadastros, são levantados históricos das falhas, permitindo o aprimoramento do processo preventivo, pois se passa a ter as características e o tempo de vida útil reais dos componentes do equipamento. Após a determinação da periodicidade das intervenções em cada equipamento, devem ser realizados os seguintes preparativos adicionais: ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 11 Manual de procedimentos para cada equipamento, envolvendo desde a inspeção visual e limpeza, passando pelos testes, ferramental etc.; Planejamento das peças sobressalentes; Periodicidade das inspeções; Avaliação do tamanho da equipe técnica; Ações rotineiras de manutenção; Manter o registro de todas as ocorrências. A adoção da manutenção preventiva demonstra ganhos expressivos em relação a quando somente se utiliza a manutenção corretiva; são eles: redução do estoque de sobressalentes; do número de paradas não programadas; e aumento da confiabilidade dos equipamentos. Alguns pontos negativos deste modo de operação: A falta de informações confiáveis em equipamentos novos no mercado; A possibilidade de introdução de um novo defeito durante a intervenção para reparo; Necessidade de paradas do equipamento para realização das atividades de manutenção. 1.3.3 Manutenção Sistemática A frequência da assistência técnica é definida pela vida útil do componente de sistema, ou seja, independentemente do seu estado e condição, este deverá ser trocado. A grande vantagem deste modo de atuação é a simplificação da estrutura organizacional da manutenção. E a principal desvantagem seria o não aproveitamentoda vida útil total do elemento. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 12 1.3.4 Manutenção Preditiva Atividade de acompanhamento do sistema mediante medição, análise e comparação de parâmetros indicativos das condições do sistema, quando comparados com padrões ótimos do projeto realizado pelo fabricante. A adoção deste método tem como principal vantagem explorar ao máximo a vida útil do equipamento. E a desvantagem de destaque seria o alto custo operacional (pessoal bem treinado e instrumentos sofisticados). Nesta técnica, o equipamento é monitorado continuamente em seus principais parâmetros, tais como temperatura, pressão, análises químicas, vibrações, variações de condições típicas do equipamento. A variação destes parâmetros, quando comparados com os padrões desejados, obriga a intervenção da manutenção. O monitoramento contínuo possibilita a detecção dos defeitos sem a paralisação do equipamento, e com antecedência suficiente para a programação das intervenções de reparo e troca de componentes. Segundo alguns autores, a prática da manutenção preditiva aumenta o intervalo entre os reparos, ou seja, minimiza o número e o custo das paradas não programadas criadas por falha no equipamento. Sendo assim, aumenta a disponibilidade dos equipamentos e reduzem os custos da manutenção. Em outra interpretação, pode-se considerar a manutenção preditiva como um programa de manutenção preventiva acionada por condição. Os principais objetivos desta técnica são: Aumentar os seguintes fatores em relação aos equipamentos: a segurança; a disponibilidade dos equipamentos; a vida útil; e a confiabilidade; Eliminar e reduzir: trocas prematuras de peças; e os prazos e os custos das intervenções; Programar antecipadamente a aquisição de peças necessárias à manutenção. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 13 Um importante fator a ser observado sobre este método é que não pode ser utilizado para todos os equipamentos e componentes, pois não é possível a medição de todos os parâmetros que influenciam na ocorrência de um defeito. Portanto, quando se está planejando a aplicação de técnicas preditivas, é importante ter em mente a necessidade de um grande investimento inicial nos sistemas de monitoramento e na capacitação (treinamento) da mão-de-obra para coletar e analisar os dados obtidos, e ainda determinar quais serão os equipamentos e parâmetros que serão viáveis de acompanhamento. 1.3.5 Otimização de Manutenibilidade Assistência técnica que visa aumentar a eficiência (no sentido mais amplo) do sistema, sendo necessário para isso realizar alterações no projeto original. Esta técnica é considerada a ideal, pois, quando eficientemente aplicada, reduz consideravelmente as possíveis intervenções de manutenção das outras técnicas. 2 Métodos de Manutenção Há basicamente duas possibilidades de metodologias de manutenção a serem empregadas: a Manutenção Produtiva Total - TPM (Total Productive Maintenance) e a Manutenção Centrada na Confiabilidade - RCM (Reliability Centered Maintenance). 2.1 Manutenção Produtiva Total - TPM Data da década de 1970 a elaboração, no Japão, da metodologia da Manutenção Produtiva Total em empresas do grupo Toyota. Esta metodologia depende fortemente da interação do trabalho entre o pessoal da manutenção e os usuários dos equipamentos, visando à busca da “melhoria contínua” e do “ser capaz de fazer”. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 14 Dentro desta abordagem é que surge a principal característica da TPM, ou seja, o ato de execução da manutenção deve ser espontâneo e realizado, quando possível, pelos próprios operadores destes equipamentos. O convívio constante destes operadores lhes dá a percepção correta das características dos equipamentos e, assim, “sentem” qualquer alteração do funcionamento normal. Nestes casos, atuam diretamente ou acionam o setor de manutenção, dependendo do nível de complexidade do defeito e da capacidade técnica do operador, evitando que a falha se propague. É deveras importante notar que o melhor desempenho desta metodologia implica no trabalho conjunto, em equipe, entre os usuários dos equipamentos e o Departamento de Manutenção, o qual deverá estar sempre presente de forma estruturada. Percebe- se então que há necessidade do envolvimento de todos os níveis hierárquicos e da mudança da estrutura organizacional. A TPM tem por base cinco princípios: Eficiência – atividades que aumentem a eficiência do equipamento; Autorreparo – sistema de manutenção autônoma pelos operadores; Planejamento – implantação de um sistema de planejamento da manutenção; Treinamento – aumento das habilidades técnicas do pessoal; Ciclo de vida – sistema de gerenciamento dos equipamentos. O que se busca com a adoção desta metodologia: defeito zero; falha zero; aumento da disponibilidade dos equipamentos; e lucratividade. A TPM busca aumentar o rendimento operacional global da empresa através de sua estrutura, pelo melhor aproveitamento dos recursos materiais e humanos, sendo estes últimos por meio da capacitação da equipe técnica da manutenção e da operação. Entretanto, é necessário eliminar ou minimizar algumas perdas para que este objetivo seja alcançado: Paradas por quebra – é o maior percentual de perdas, podendo ser eliminada pela análise das falhas; ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 15 Mudanças de linhas e ajustes de ferramentas – são inevitáveis, pois sempre há necessidade de realização de ajustes; Operação em vazio e pequenas paradas – por problemas de baixa complexidade, em que há a intervenção do operador; Redução de velocidade – por problema no equipamento, não é possível aumentar ou normalizar seu ritmo de uso, pois há risco de defeitos latentes. Produtos defeituosos e retrabalho – perdas por repetição de tarefas devido ao mau funcionamento dos equipamentos, podendo ser resolvido através da capacitação da equipe de operação e melhoria da manutenção; Início da produção – perdas até ser atingida a estabilização operacional do equipamento; deve haver padronização incluindo o check list de operação, verificação da matéria-prima, inspeções de segurança etc. 2.2 Manutenção Centrada em Confiabilidade – RCM A Manutenção Centrada em Confiabilidade (RCM – em inglês) tem sua origem na indústria da aviação americana ainda na década de 1960. Os custos da manutenção estavam muito altos e o retorno em termos de grau de segurança nas aeronaves ainda não era o desejável. Estudaram o problema e propuseram alternativas para o aumento da confiabilidade. Apenas ao final da década de 1970 é que foram publicadas as conclusões finais das estratégias a serem tomadas para aumentar a confiabilidade dos procedimentos da manutenção. A motivação para a realização deste estudo, na época, foi basicamente que não estavam conseguindo obter níveis de confiabilidade dos sistemas apesar da grande quantidade recursos alocados na manutenção preventiva. A grande pergunta seria como reverter esta situação, ou mesmo avaliar a efetividade da manutenção preventiva. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 16 A grande contribuição deste estudo foi a identificação clara que a efetividade da manutenção preventiva/ programada é muito dependente das características de cada equipamento, ou seja: - Em um equipamento de alta complexidade, os procedimentos de manutenção programada/ preventiva têm baixa eficiência e confiabilidade, a menos que exista um modo de falha dominante; - Há diversos equipamentos em que a manutenção programada não é efetiva. Pontuandoos quatros principais objetivos da RCM: 1. O objetivo fundamental é preservar a função do sistema, e não a operacionalidade do sistema; 2. A preservação da funcionalidade implica na identificação dos modos de falha dominantes, ou daqueles que se ocorrerem possam causar risco ao pessoal ou ao patrimônio; 3. Através da identificação das falhas mais frequentes, devem-se priorizar os recursos para que sejam orientados para preservar as funções mais críticas; 4. Identificar as atividades da Manutenção Preventiva que de fato reduzem a possibilidade de falha ou perda da função, considerando que seja a escolha mais econômica. A análise econômica não deve considerada quando há risco real à segurança. De forma conclusiva, então, pode-se afirmar que a RCM é um método de manutenção que visa determinar quais as melhores práticas de manutenção que devem ser aplicadas para que a funcionalidade do equipamento seja mantida. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 17 Levando-se em conta o descrito até o momento, percebe-se que a RCM tem grande dependência da identificação das características de cada equipamento dentro do contexto operacional. A seguir são apresentadas sete perguntas que auxiliam na identificação destas características: 1. Quais são as suas funções e padrões de desempenho? 2. De que forma ele falha em executar suas funções? 3. O que causa a falha? 4. Qual o efeito da falha? 5. Qual a consequência de cada falha? 6. O que pode ser feito para evitar a falha? 7. O que pode ser feito se não for possível evitar a falha? A análise das respostas a estas questões permitirá a escolha das práticas mais adequadas de manutenção a serem adotadas dentro do contexto de uma manutenção planejada. 3 Planejamento e Gestão da Manutenção Ao contrário do que muitos pensam, a manutenção é uma atividade completamente integrada às atividades da corporação e, consequente, aos ciclos de vida dos equipamentos e/ou das tecnologias, no conceito amplo da palavra. Ou seja, está presente desde a concepção do projeto, da instalação, até o abandono ou desativação. Esse contato permanente permite à equipe de manutenção o acúmulo de grande quantidade de informações sobre os equipamentos, as instalações e os problemas resultantes das interligações entre eles, cercando todas as fases dos seus ciclos de vida. O modo de atuar da manutenção é extremamente vinculado às características do contexto a ser atendido e com a demanda solicitada. O planejamento de uma manutenção passa pela segmentação de suas áreas de atuação, sejam elas internas, sejam externas. Esta segmentação auxilia no planejamento da gestão e das ações. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 18 Adiante são apresentadas cada uma destas divisões segundo as descrições mais comumente citadas na literatura especializada. 3.1 Atividades de Compras As atividades que envolvem procedimentos de compras de suprimentos na administração pública no Brasil têm peculiaridades específicas, em especial em função da legislação, que trazem grande dificuldade ao processo. Neste sentido, será dada atenção a este caso. É notório que nestes casos os profissionais da área de compras têm abordagem bem distinta em relação aos engenheiros e técnicos da manutenção. O pessoal do setor de compras tende a priorizar, por força da lei, comparativamente os itens de menor preço, enquanto que os técnicos priorizam especificações como segurança, qualidade e desempenho. Esta discrepância na forma de enxergar o processo de compras tem forçado as grandes empresas a inserir um profissional engenheiro dentro do setor de compras, visando conciliar as considerações técnicas com os aspectos administrativos, evitando conflitos com a legislação e com a real necessidade. O conceito de manutenção planejada obrigatoriamente passa pelo controle e gestão do estoque. Essa gestão é efetivada pelo setor de compras, que deve acompanhar o estoque (almoxarifado), acompanhar os saldos, padronizar os materiais, controlar o orçamento, entre outros. Cabe ao pessoal da área técnica a determinação das quantidades mínimas e máximas, a frequência de reposição, as especificações, a padronização etc. As organizações de maior complexidade em suas atividades operacionais tendem a separar as áreas de compras: fases operacional e administrativa; e fase de execução das compras. Ou seja, são estabelecidos uma Diretoria de Compras para assessoramento e determinação das diretrizes, e os núcleos/ grupos de compras, os quais possuem especialização para cada área de atuação. Estes grupos especializados ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 19 adquirem melhor conhecimento dos materiais e equipamentos, suas características e aplicações. Da mesma forma, reduz-se a possiblidade de alguma aquisição ter que ser realizada pelo pessoal da manutenção, tendo em vista o grande know-how do pessoal de compras. Na verdade, é muito importante ter a certeza de que a gestão do setor de compras configura-se uma das áreas mais críticas para o pleno e eficiente funcionamento da manutenção. A disponibilidade das peças de reposição de boa qualidade, baixo custo, na quantidade ideal e no momento certo, manterá os equipamentos em perfeito funcionamento por um tempo maior. A integração das áreas de compras e manutenção sempre será a chave para que este objetivo seja alcançado. Cabe frisar a importância da aquisição de novas tecnologias na área da saúde. O assunto deve ser sempre muito discutido entre as áreas, pois se torna complexo, tendo em vista os diversos pontos que devem ser considerados, tais como: ser importado ou nacional; reposição de peças no país; preço; disponibilidade de documentação técnica; treinamento para operadores; representação no país, entre outros. Todos estes fatores devem ser levados em consideração, pois após a aquisição os problemas sempre aparecerão e a equipe de manutenção pode ser incapaz de resolvê-los em função das escolhas erradas ainda no processo de aquisição. 3.2 Infraestrutura 3.2.1 Área Física Algumas publicações estabeleceram referências que podem ser seguidas para a determinação da área física ideal de oficina e/ou laboratório de manutenção. Estas publicações, tanto estrangeiras quanto nacionais, citam algumas diretrizes que podem ser utilizadas para calcular as áreas necessárias por execução das atividades. Alguns balizamentos foram estabelecidos: a área mínima para a instalação de um grupo de manutenção é de 37 m2, acrescido de um espaço de 9,3 m2 para cada funcionário (ver Tabela 4.1). Neste cálculo estão sendo consideradas as áreas para os equipamentos ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 20 em conserto entre as bancadas, espaço para passagem de pessoal e material, arquivos e ferramental. Após a determinação da área para oficina e/ou laboratório da manutenção, é necessário que seja provida com suprimentos, tais como instrumentos, ferramentas e insumos, necessários para o atendimento dos serviços. Tabela 4.1. Áreas para as instalações da manutenção. Adaptado de Calil [1998] Adiante são descritos alguns itens básicos para a operacionalização da equipe de manutenção. 3.2.2 Instrumentação e Ferramental A área da saúde impõe cuidados adicionais aos procedimentos da manutenção, pois muitos dos equipamentos, quando em operação, estão diretamente relacionados à sustentação da vida do paciente, ou mesmo podem levar ao óbito no caso de mau funcionamento. Sendo assim, os itens listados a seguir estão também diretamente ligados ao fato de atestar a perfeita condição de operacionalidade após a intervençãode manutenção. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 21 • Ferramentas – A resolução de consertos de pouca complexidade impõe que se mantenha um mínimo de ferramentas visando à realização de simples ajustes e algumas averiguações preliminares. É importante que nestes casos de atendimentos mais simples cada técnico possua uma maleta com o ferramental mínimo para o deslocamento até o local onde está instalado. Desta forma, são minimizados os deslocamentos extras entre o setor de manutenção e o ponto de execução do trabalho. Além destas ferramentas mais comuns, é fundamental que estejam disponíveis na oficina e/ou laboratório outras ferramentas mais complexas, sejam elas manuais ou de bancada; • Instrumentos e materiais para teste e calibração – Os equipamentos biomédicos têm de oferecer confiabilidade durante os procedimentos médicos, portanto os setores de manutenção devem possuir condições de atestar o perfeito funcionamento destes equipamentos após a execução do conserto. Estes equipamentos devem passar por ensaios de calibração além de operacionalidade, a fim de oferecer a confiabilidade requerida pelos procedimentos na saúde. 3.2.3 Documentação Técnica e Especializada É de conhecimento da comunidade técnica que diversos fabricantes propositalmente não disponibilizam os manuais técnicos, esquemas e outras informações de apoio à manutenção de seus produtos. Esta atitude tem por objetivo evitar que empresas terceiras de pessoal qualificado realizem a manutenção dos equipamentos, obrigando que o comprador fique refém da prestação de serviços de assistência técnica do próprio fabricante. Daí a imensa importância durante o procedimento de compra destes equipamentos, no qual deve ser colocada a obrigatoriedade ao fabricante de fornecimento de toda a documentação técnica (manuais de operação e de manutenção, sobressalentes, desenhos etc.) vinculada ao equipamento. Entretanto, nos casos de equipamentos anteriormente adquiridos e que não possuem a documentação, a equipe de manutenção deve ser contatar os fabricantes e solicitar ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 22 a disponibilização e/ou aquisição dos manuais técnicos. Nos dias atuais, a pesquisa através da internet, seja nos sites oficiais dos fabricantes ou outros sites especializados no assunto, pode haver a disponibilização destes manuais. A seguir são apresentadas algumas definições destas documentações técnicas. a. Manuais São publicações feitas pelos fabricantes dos equipamentos que contêm as informações de que o usuário necessita. Existem dois tipos de manuais: de operação e de manutenção ou reparo. Tais documentos devem ser de fácil compreensão, o texto deve ser redigido na mesma língua do comprador/ usuário e ser graficamente bem legível. a.1. Manual de Operação - Documentação que sempre acompanha o equipamento. Em seu conteúdo encontram-se instruções para a adequada operação do equipamento, assim como alguns detalhes de ajustes, calibração e segurança. Normalmente também encontramos o nome, o endereço e o telefone do fabricante e de outros representantes autorizados a prestarem serviços de manutenção e venda de peças. É recomendável mantê-lo bem próximo do local onde está o equipamento. a.2. Manual de Manutenção - Este documento normalmente contém o diagrama esquemático elétrico e/ou eletrônico e/ou mecânico do projeto, a lista de componentes e, algumas vezes, informações específicas sobre o processo de manutenção e reparo. Este manual é praticamente imprescindível para que o técnico realize a manutenção adequada. Algumas vezes, é necessário que o usuário peça e pague "à parte" por este manual. A utilização deste manual é bem menos frequente que a do Manual de Operação; sendo assim, recomenda-se guardá-lo em uma biblioteca técnica conhecida. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 23 b. Literatura Especializada A aquisição de revistas, publicações técnicas, manuais e qualquer outra forma de informação é fundamental para que os técnicos do grupo possam estar sempre atualizados com o que ocorre na área de manutenção. 3.2.4 Sistema de Comunicações O que se pretende discutir neste item é sobre a facilidade de comunicação entre a própria equipe de manutenção e a comunicação do cliente/ usuário com a manutenção. A facilidade e a agilidade de comunicação têm impacto direto na gestão, na qualidade e na satisfação do cliente/ usuário e da própria empresa. Nos dias atuais, há diversas tecnologias que têm a capacidade para aproximar estes segmentos da manutenção. É muito importante que se utilizem não apenas recursos de rádio e telefone, como também da internet, tanto para a solicitação como para o acompanhamento do processo da manutenção, seja pelo cliente ou pela equipe envolvida. Qualquer tipo de dificuldade para estabelecer comunicação com o pessoal de manutenção terá reflexo direto na percepção da qualidade final do serviço que será prestado. 3.2.5 Escritório, Informática e Suprimentos Operacionais Há distintamente dois tipos de equipes dentro da manutenção: aqueles do administrativo e da área técnica. Para cada um destes grupos há demandas diferenciadas no que diz respeito aos suprimentos de escritório e/ou informática. No caso do pessoal administrativo, são necessários mesas, cadeiras, armários, arquivos físicos, computadores, impressoras e outros materiais para as atividades burocráticas, tais como gerenciamento diário do grupo, comunicação com os usuários e fornecedores. Por outro lado, a equipe operacional necessita de bancadas específicas e devidamente projetadas para as atividades realizadas na manutenção, além de armários para a ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 24 guarda de materiais, ferramental e instrumentos, e equipamento de informática no caso de existir um sistema de controle de serviços, ou mesmo para consultas e pesquisas técnicas na internet. Dentro deste universo de suprimentos, não se pode esquecer aqueles necessários, fundamentalmente, para a realização de testes dos equipamentos que sofreram intervenções de manutenção. São os materiais que serão consumidos pelo equipamento durante sua operação normal. Pode ser citado como exemplo o registrador de papel a tinta, que necessitaria basicamente com regularidade de papel e tinta. Este tipo de suprimento, que não exige maiores cuidados de restrição, também deve ficar próximo do equipamento e disponível na manutenção. Como observação, vale mencionar que componentes de uso muito comum, tais como fusíveis, cabos e baterias, devem ser preferencialmente mantidos em estoque. Manter ou não manter outras peças mais caras em estoque dependerá exclusivamente de um julgamento individual sobre cada equipamento. 3.2.6 Infraestrutura Predial para Manutenção A grande diversidade dos princípios físicos e de aplicação dos Equipamentos Biomédicos, sem mencionar as diferentes fontes de energia, força os laboratórios e/ou oficinas de manutenção a ter diferentes fontes para operar os equipamentos visando à verificação dos defeitos e à realização de testes de aceitação após a manutenção. Alguns pontos importantes podem ser citados para estarem disponíveis no setor de manutenção: fontes de ar comprimido; tensões de 110V e 220V; rede de aterramento; pontos de água e saídas de esgoto (lembrando que os resíduos gerados devem ser tratados antes do lançamento na rede externa); internet; wi-fi; telefone; entre outros. Atenção especial à iluminação apropriada para a execução das atividades, ou seja, de acordo com as normas técnicas vigentes. Da mesma forma, devem ser previstosENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 25 sistemas de ventilação e exaustão, principalmente em oficinas que tenham atividades com equipamentos que utilizem gases ou materiais com alguma toxicidade. 4 Planejamento: Fluxo Organizacional 4.1 Fluxo Organizacional Dentro da missão de cada corporação há diferentes modelos possíveis para estruturar, em termos funcionais e hierárquicos, estas empresas. O caso das empresas hospitalares não é diferente. Diversos autores, os quais seguiremos, indicam três modelos básicos para estruturar estas empresas: estrutura funcional ou departamental ou em linha direta (por analogia); estrutura por projetos, divisional ou por produtos; e estrutura matricial. Dentro deste contexto, o setor de manutenção pode ser estruturado de duas formas: estrutura em linha direta e estrutura matricial. No caso da estrutura funcional, os departamentos e suas subdivisões trabalham de forma relativamente independente. A divisão do trabalho é por categorias, especializações ou funções, e as atividades são executadas de maneira contínua, em corrente ou rotineira. Há um processo de verticalização na hierarquia, com níveis de chefia aos quais são atribuídas autoridade e responsabilidades. A Figura 5.1 apresenta um exemplo de uma estrutura funcional adotada em um setor de manutenção. A principal vantagem deste modelo é a maior especialização de cada subárea, pois atua apenas em sua especialidade. Essa especialização traz a reboque outras consequências, tais como maior capacitação técnica da equipe e melhor qualidade técnica dos serviços. Dentro desta abordagem, a equipe é bem utilizada, pois é definida pela experiência acumulada. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 26 Figura 5.1. Estrutura Funcional em um Departamento de Manutenção. Extraído de Donas, M.L.M. [2004] Este tipo de modelo estrutural, com o tempo, apresenta problemas principalmente em um estabelecimento de saúde, onde o conhecimento multidisciplinar está presente em quase todas as tecnologias. Portanto, a demasiada autonomia e especialização pode trazer dificuldades, como a pouca colaboração entre os técnicos, e muitas vezes é necessária mais do que uma especialização para resolver as intervenções da manutenção. Está cada vez mais evidente que a multidisciplinaridade é fator preponderante nas novas tecnologias, obrigando à equipe da manutenção trabalhar de forma integrada. Outro modelo alternativo seria a organização por projetos, onde ocorre a criação de uma equipe temporária com a função exclusiva de execução de um projeto específico. Estes grupos têm um líder denominado gerente, e a equipe possui funcionários de diferentes setores da empresa e, preferencialmente, com conhecimentos e especializações complementares. Após a execução do projeto, em geral, estes funcionários retornam aos seus setores de origem. Eventualmente a equipe não detém todos os conhecimentos necessários para a execução plena do projeto; nestes casos, podem ser contratados serviços de terceiros especializados para suprir as deficiências de conhecimento. As principais vantagens deste modelo seriam: A liderança feita por um gerente permite a interação com outros setores da empresa até o final da execução; ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 27 Sob a promoção do líder/ gerente, há uma horizontalidade na interação dos conhecimentos multidisciplinares entre as pessoas das áreas técnicas da empresa. Estas ações trazem como resultado a melhoria no cumprimento de prazos e custos, assim como facilidade no acompanhamento do cronograma técnico-financeiro. Apesar destas vantagens, pode-se afirmar que a atividade de manutenção não possui as características adequadas para esse tipo modelo. A manutenção é um processo contínuo: não possui um objetivo específico com início, meio e fim, e os serviços possuem uma sequência e relativa repetitividade. A Figura 5.2 ilustra um possível diagrama de um modelo de estruturação por projetos. Figura 5.2. Modelo de estruturação por Projetos. Extraído de Donas, M.L.M. [2004] A incapacidade dos dois modelos ora citados de se adequar aos problemas de uma manutenção multidisciplinar e com restrição de custos na gestão fez surgir o modelo de Estruturação Matricial, o qual tenta conciliar as vantagens dos modelos já descritos. O modelo matricial foi idealizado pela superposição de uma estrutura de projetos a uma estrutura funcional. Desta forma, as situações em que se exigiam áreas de especialização e ao mesmo tempo alta integração entre as equipes são atendidas pelo modelo matricial. A área da saúde é um exemplo desta aplicação, pois há necessidade de integração entre as diversas áreas técnicas, e a estrutura por projetos pode alcançar custos muito elevados, inviabilizando a implantação, tendo em vista que os principais objetivos da empresa são outros. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 28 Este modelo apresenta um delicado problema, que deve ser bem discutido em nível da direção da empresa. O problema diz respeito à possibilidade de múltipla subordinação dos integrantes das equipes. Esta questão pode trazer conflitos em função de o profissional ter que se reportar ora para o gerente do projeto, ora para o chefe do seu departamento. Este tipo de problema, se não for claramente equacionado, pode levar ao insucesso da implantação do modelo. A estrutura matricial está representada na Figura 5.3. Figura 5.3. Diagrama de uma estrutura matricial em um Departamento de Manutenção. Extraído de Donas, M.L.M. [2004] 4.2 Planejamento As atividades realizadas na manutenção são grandes e complexas. Obrigatoriamente deve existir um planejamento geral que abranja todas estas atividades; caso contrário, corre-se um grande risco de setorização dos problemas, ou seja, uma segmentação ou individualização dos setores que compõem o “sistema de manutenção” como um todo. Em termos administrativos, seria uma descentralização interna, o que resultaria em redução da eficiência. O planejamento geral garante a coesão da equipe, permitindo, por exemplo, a criação de métodos do modo de atuação, que possibilita alcançar maior eficiência. Com o passar do tempo, as ações da manutenção deixaram de ser encaradas apenas como o planejamento e a administração dos recursos para adequação à carga de trabalho esperada. Passou a ser visualizada de uma forma mais ampla, sendo descrito que a organização da manutenção deve visar, também, à maior capacidade de ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 29 competitividade de mercado da empresa, atuando voltada para a gerência e para a solução dos problemas na produção. Ainda dentro desta nova visão, é fundamental que a manutenção seja estrutura e integrada às outras atividades da empresa e, assim, auxilie na proposição de soluções, visando à maximização dos resultados. Essa nova visão somente será alcançada se a manutenção for baseada em ações planejadas e integradas, sempre considerando a disponibilidade dos recursos para que não ocorram descontinuidades na execução dos serviços. Em grande parte das empresas, incluindo os estabelecimentos de saúde, as atividades de manutenção não são repetitivas, muito em função da grande diversidade do parque de tecnologias incorporadas e usadas pela empresa. Nestes casos, de grande variedade de tipos e modelos de equipamentos, mais complexo será o planejamento da manutenção. É importante mencionar que devido à condição inerente de as atividades da manutenção serem bem diversificadas, sempre existirá uma probabilidade maior de erros e perdas na execução do trabalho. Este fator está sendo frisadoporque tem impacto direto na análise da eficiência das atividades de manutenção quando comparada a outros setores da empresa; portanto, estes fatores devem ser sempre considerados. É comum que a manutenção de equipamentos biomédicos envolva mais do que um conhecimento especializado, obrigando um ordenamento do modo de atuação na solução dos problemas. Este padrão na execução da manutenção racionaliza os recursos e torna o processo mais eficiente. Conforme descrito até o momento, o planejamento geral da manutenção é uma ação fundamental para que apresente resultados eficazes. Entretanto, é crucial que paralelamente tenha total apoio de todos os segmentos da empresa, permitindo assim que possa atender integralmente às demandas existentes. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 30 Em relação à implantação do planejamento, é importante e necessário que o líder e responsável pela tarefa elabore, em conjunto com a equipe, um programa de planejamento e organização para a manutenção, seguindo um cronograma de execução. Cada etapa do cronograma deve ter prazos e objetivos definidos, e acompanhados e medidos ao longo da implantação. 5 Planejamento: Forma de Atuação, Equipe e Terceirização 5.1 Forma de Atuação A estruturação da atuação da manutenção pode ser de três formas básicas: centralizada, descentralizada ou mista. Apenas como exemplo nacional, a análise dos dados da Associação Brasileira de Manutenção e Gestão de Ativos (ABRAMAN), do início deste século, demonstra que as empresa nacionais têm a seguinte distribuição em relação à forma de atuação: 21,13% com a estrutura descentralizada; 36,62% com a centralizada; e 42,25% com a mista. A análise contínua bianual destes dados da ABRAMAN demonstra uma tendência de redução na forma de atuação da manutenção centralizada e o aumento da mista e da descentralizada. Como se refere à própria nomenclatura, a forma centralizada concentra todas as ações em uma mesma área, atendendo a todos os outros setores da empresa. Da mesma forma, há concentração na gestão e na parte administrativa, tais como registros, compras, entre outros; tudo sob a tutela um único líder e responsável, como pode ser observado no diagrama da Figura 6.1. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 31 Figura 6.1. Diagrama de uma manutenção centralizada. Adaptado de Donas, M.L.M. [2004] As principais vantagens desta estruturação são: Equipe especializada em um único local; Maior aproveitamento da equipe e consequente redução de custos; A proximidade ajuda a troca de experiências técnicas e ajuda no entrosamento; Centralização dos registros das ocorrências; Melhor relação custo-benefício no uso de equipamentos e ferramentas. Por outro lado, podem-se citar as seguintes desvantagens: Maior tempo para deslocamentos até o local das ocorrências; Menor eficiência da equipe; Aumento no tempo de resposta para a solução do problema; Dificuldade na ação de supervisionamento em função da distância entre a oficina e o local da ocorrência. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 32 Figura 6.2. Diagrama de uma manutenção descentralizada. Adaptado de Donas, M.L.M. [2004] No caso da estruturação da forma de atuação descentralizada, o principal objetivo é dar maior rapidez e qualidade no atendimento às ocorrências. A Figura 6.2 apresenta um diagrama de exemplo de uma manutenção descentralizada. As grandes vantagens são redução no tempo de atendimento e no deslocamento ao local da ocorrência. As principais desvantagens são: maior dificuldade no atendimento a serviços especiais; e a equipe e a infraestrutura tendem a ter multiplicidade e, portanto, maior custo. As estruturações mistas apresentam oficinas e/ou laboratórios espalhados em diferentes unidades, que normalmente têm prioridade. Estas oficinas espalhadas ficam associadas a uma unidade central de manutenção, que usualmente tem a função de planejamento e gestão da manutenção e da realização de intervenções de manutenção de serviços mais complexos, e da manutenção preventiva; além de dar suporte técnico às equipes descentralizadas. A Figura 6.3 apresenta um exemplo de diagrama de uma manutenção mista. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 33 Figura 6.3. Diagrama de uma manutenção mista. Adaptado de Donas, M.L.M. [2004] A atuação mista tem as seguintes vantagens principais: O controle e informações continuam centralizados; Agrupamento das especialidades; Redução na redundância na infraestrutura; Atendimento emergencial mais rápido; Facilidade para a programação de manutenção preventiva; Maior rapidez da equipe na absorção do conhecimento quando novas tecnologias são incorporadas. As principais desvantagens são: Falta de homogeneidade nas decisões profissionais entre a equipe central e as unidades; As unidades tendem a se tornarem independentes em relação à unidade central; A unidade central deve manter um supervisionamento das equipes descentralizadas; Maior dimensionamento da equipe. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 34 5.2 Equipe Talvez esta seja uma das tarefas mais complexas a ser realizadas ainda durante o processo de implantação da manutenção. Este fator é influenciado por muitos outros fatores, tais como: o nível de desgaste dos equipamentos, taxa de utilização, rotatividade de equipamentos e outros que podem surgir com a incorporação de novas tecnologias e o envelhecimento do parque instalado. Há especialistas que defendem que o dimensionamento é realizado a partir do volume de ações preventivas, em homem-hora, para um determinado período de tempo. Entretanto, a implantação das rotinas de manutenção preventiva requer o tempo mínimo de um ano para o levantamento do histórico de ocorrências, o que inviabiliza este método quando se está vivenciando o início da implantação. Entretanto, há outros especialistas que argumentam que a quantificação e especificação do perfil dos profissionais para a manutenção passa primeiro pela separação dos equipamentos por grupos de compatibilidade (famílias de equipamentos), definindo-se o número e tipo dos que serão mantidos. A partir desta segmentação, fica mais viável a definição do volume de trabalho e o dimensionamento da equipe que atuará em grupo. 5.3 Terceirização Em estabelecimentos de saúde, é comum a terceirização de parte dos serviços de manutenção, pois a abrangência das tecnologias empregada é imensa. É praticamente impossível que uma equipe, mesmo bem capacitada, tenha condições de realizar a manutenção em 100% dos equipamentos empregados. As áreas são muito diversas, e uma equipe e infraestrutura necessárias para realizar todos estes serviços teria um custo muito grande, e não traria retorno à empresa que justificasse. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 35 Pode-se definir a terceirização como uma técnica administrativa que possibilita a transferência a terceiros da gestão e execução de um processo, ou seja, das atividades acessórias e de apoio ao objetivo principal da empresa em geral. Desta forma, permite que a empresa se concentre no seu foco de negócio. Em muitos, e cada vez mais, a terceirização é encarada como uma relação de parceria, visando obter vantagens competitivas tanto para a contratante quanto para a contratada. Como exemplo, observa-se na Tabela 6.1 o percentual do custo com a manutenção terceirizada em relação ao todo, em alguns segmentos da indústria no Brasil. Verifica- se que muitos segmentos fazem uso intenso da terceirização, demostrandoa relevância desta prática. Tabela 6.1. Percentual de serviços terceirizados sobre o custo total da manutenção no ano de 2001 no Brasil. Extraído da ABRAMAN, 2001 Os fatores que dão suporte ao gestor para definir quanto, o quê e quando terceirizar são: Vocação – serviços não estratégicos, fora do objetivo-fim da empresa; Eficiência – impossibilidade de se especializar em todas as tecnologias incorporadas à empresa; Custos – tecnologias mais complexas muito automatizados. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 36 Algumas dificuldades a serem identificadas e sanadas, quando possível, na terceirização da manutenção, caso contrário podem trazer prejuízos materiais e operacionais à empresa: Pouca integração entre contratada e contratante; Ausência de técnicos capacitados no mercado; Grave problema de cartelização de segmentos do mercado; Competitividade aquém do esperado no mercado. Os principais itens com grande potencial para se tornarem vantagens na terceirização são: Aumento de qualidade; Redução de custos e redução de estoques, caso o terceiro inclua o fornecimento de materiais; Maior rapidez no atendimento; Flexibilidade organizacional; Aumento da especialização da própria equipe. Por outro lado, identificam-se itens que também têm grande potencial para se tornarem desvantagens em uma terceirização: Aumento da dependência de terceiros; Aumento de custos; Redução na qualidade do serviço; Perda de conhecimento da equipe interna sobre o processo da própria empresa. Um dos pontos críticos do processo de terceirização é a definição do modelo de contrato e/ou atuação da contratada dentro da contratante. A seguir á identificada, no mercado, a prática de quatro possibilidades de modelos contratuais para terceirização. 1. Terceirização global da manutenção: toda a manutenção é repassada à empresa terceira, que passa a gerenciar todos os serviços; ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 37 2. Terceirização global da manutenção com gerenciamento da contratante: todos os serviços de manutenção são passados para a empresa terceira; entretanto, o gerenciamento do sistema da manutenção ainda é da contratante; 3. Terceirização da manutenção através de serviços unitários: a terceirização fica restrita a determinados serviços, para os quais são preestabelecidos custos e prazos. As principais características são: melhor qualificação de mão-de-obra; maior produtividade; melhor qualidade. O gestor da contratante deve ter atenção nesta modalidade, pois, em geral, não há interesse da contratada em reduzir o volume dos serviços de manutenção, podendo criar um vício malicioso no processo; 4. Intermediação de contratos para a manutenção: a terceirizada se limita a contratar o(s) profissional(ais) para atuar dentro da contratante segundo as exigências técnicas da própria. Contudo, o(s) profissional(ais) é(são) pago(s) pelo empresa terceira. Este modelo pode produzir os seguintes efeitos: piora na qualificação de pessoal; contratada sem interesse em aumentar a produtividade; pouca qualidade; menor comprometimento dos funcionários. 6 Gestão: Indicadores, Cadastros, Gerenciamento, Padronização e Metrologia O setor de manutenção de uma empresa deve ter uma visão e ação mais ampla que apenas executar intervenções de consertos ou correlatos. A manutenção deve se estruturar, planejar suas ações, acompanhar e analisar o desempenho de sua equipe dos serviços da manutenção e a grau de satisfação de seus clientes, no caso a própria empresa. O conceito de Engenharia de Manutenção entra exatamente neste ponto, pois abrange a visão e a atuação da manutenção não apenas no reparo, mas na análise de todas as situações, que podem permitir intervenções de melhoria, tais como: ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 38 Modificações em situações de mau desempenho; Eliminação de problemas crônicos; Melhorarias nos padrões e sistemáticas; Desenvolver a manutenibilidade; Retornar informações ao projetista; Análise de cada equipamento; Planejar as atividades da manutenção; Análise do custo da manutenção; Propiciar/ intervir para melhorar o desempenho de cada equipamento; Dar suporte técnico ao processo de compras e incorporação de novas tecnologias. 6.1 Indicadores de Eficiência Dentre as atividades esperadas da manutenção, uma das principais é o acompanhamento do seu próprio desempenho. Somente desta forma a gestão terá condições de tomar as decisões e estabelecer metas com menor possibilidade de erro. Preferencialmente esta análise deve ser o mais quantitativa possível e, neste sentido, são criados índices ou parâmetros que através de cálculo traduzem números que posteriormente são mais fáceis e tangíveis para serem analisados. A seguir são apresentados alguns índices classicamente usados pelo mundo, os quais se referem à análise da gestão da manutenção. 1. Tempo Médio entre Falhas (TMEF) (ou MTBF em inglês) O cálculo deste índice fornece o tempo médio em que poderá ocorrer um defeito em um determinado equipamento. Ou seja, este índice é fundamental para estabelecer a rotina de manutenção preventiva. 𝐓𝐌𝐄𝐅 = 𝑆𝑜𝑚𝑎𝑡ó𝑟𝑖𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜𝑠 (ℎ) 𝑒𝑚 𝑓𝑢𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑓𝑎𝑙ℎ𝑎𝑠 𝑛𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 eq.(1) ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 39 2. Tempo Médio para Reparo (TMPR) (ou MTTR em inglês) Este parâmetro, quando calculado, fornece a informação sobre a previsão de tempo médio para a execução do serviço de reparo. Muito útil para os clientes, pois fornece ao cliente o prazo para a realização do serviço que será executado. 𝐓𝐌𝐏𝐑 = 𝑆𝑜𝑚𝑎𝑡ó𝑟𝑖𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑟𝑒𝑝𝑎𝑟𝑜 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑓𝑎𝑙ℎ𝑎𝑠 𝑑𝑒𝑡𝑒𝑐𝑡𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑛𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 eq.(2) 3. Disponibilidade de Equipamento (DISP) Este parâmetro fornece o percentual do tempo que o equipamento está disponível para operação. Este indicador é excelente para medir a eficiência da atuação da manutenção. 𝐃𝐢𝐬𝐩𝐨𝐧𝐢𝐛𝐢𝐥𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 [%] = 𝑀𝑇𝐵𝐹 𝑀𝑇𝐵𝐹 + 𝑀𝑇𝑇𝑅 . 100 eq.(3) Existem outros indicadores para avaliar o desempenho da manutenção; entretanto, estes são os mais usuais. Sem mencionar que não é indicado que a manutenção trabalhe com um universo muito grande de indicadores, pois a análise pode se tornar complexa, e acabar não atingindo o objetivo principal, que seria auxiliar no gerenciamento da manutenção. 6.2 Sistema para Gestão da Engenharia de Manutenção Hospitalar – Cadastros e Processos - Engenharia Clínica Ainda nas décadas finais do século 1920, ficou evidente que a gestão de processos complexos e grandiosos como o serviço de manutenção de uma grande empresa, como seria a Engenharia Clínica nos hospitais, requer o apoio quase incondicional da informática, pois manipularia uma quantidade enorme de dados inerentes a todos os processos envolvidos. Nos dias atuais, a implantação de um sistema de software que ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 40 seja capaz de integrar todas as informações e os processos é imprescindível em uma manutenção planejada. A organização destas informações permite uma análise de qualidade a partir de relatórios técnicos com dados quantitativos. Entretanto, a implantação destes sistemas de software é um processo complexo e exige o apoio de toda a equipe direta da manutenção e do comitê de gestão da empresa; caso contrário, não haverá sucesso. A forma de organização dos dados ecomo estes dados irão interagir com os processos internos já são motivos para muito debate técnico na própria equipe. O volume de dados é muito grande e as pessoas que deverão interagir são de diferentes áreas, sejam técnicos, administrativos, gestores e clientes internos. É fundamental que inicialmente sejam organizados os cadastros, os quais se tornarão bancos de dados no sistema informatizado. Os cadastros primários mais usuais a serem criados são: equipamentos; pessoal; e fornecedores. Em especial no caso dos equipamentos, deve ser reunida uma grande gama de informações. No processo de cadastramento, deve-se buscar a padronização dos nomes e termos para cada item armazenado, facilitando o processo de consulta e análises futuras. Particularmente o banco de dados e/ou cadastro dos equipamentos exige especial atenção. Neste sentido, os registros deverão ser confiáveis. Como sugestão, os dados armazenados devem cobrir: • Documentação (manuais, catálogos e desenhos); • Compras (requisição, orçamento, datas, custo, nota fiscal, garantia etc.); • Origem (fabricante, fornecedor, tipo e modelo); • Transporte e armazenamento (dimensões, peso e cuidados necessários); • Operação (características e limites de operação); • Localização (setor, responsável e operado). ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 41 • Manutenção (sobressalentes, características de desempenho, recomendações dos fabricantes, limites, folgas, ajustes etc.); • Peças e acessórios; • Situação/ status; • Depreciação patrimonial quando integrado ao setor de patrimônio; • Histórico (intervenções ocorridas no equipamento). O histórico do equipamento é fundamental na estruturação da manutenção preventiva, além de auxiliar nas questões sobre o desempenho do equipamento, estoque de peças sobressalentes, demanda por mão-de-obra especializada e outras questões inerentes à gestão da manutenção. Da mesma forma que foi feito com o cadastro dos equipamentos, é fundamental que se construam os cadastros de pessoal e de fornecedores. Minimamente, quando estes três cadastros estão estruturados, há a possibilidade de criar uma interação entre os processos internos da manutenção, os quais podem ser citados: controle dos serviços de reparo e processo de compras. O sistema informatizado deve ajudar neste processo de harmonização e interação entre as ações e os dados. A organização da execução dos reparos permite que se tenha controle dos serviços, tais como: Quais e quando serão feitos; Quantos recursos serão necessários; Quanto tempo será gasto; Qual o custo; Que materiais serão aplicados. Estes sistemas de gestão permitem que se estabeleça uma programação de uso da mão-de-obra, das máquinas e ferramentas; e, consequentemente, uma priorização da execução dos serviços. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 42 É importante lembrar que atualmente estes sistemas ficam ligados à internet e propiciam o acompanhamento dos processos, mesmo que de forma remota, para usuários devidamente cadastrados e autorizados. Nos dias atuais, há disponibilidade no mercado de sistemas informatizados capazes de auxiliar na gestão do setor de manutenção de empresas, mesmo no caso de hospitais. É extremamente recomendável que estas ferramentas sejam incorporadas à rotina da empresa, pois o retorno financeiro é muito rápido e vantajoso. 6.3 Padronização dos Processos Em geral, a padronização em procedimentos internos das empresas traz apenas benefícios. No caso do setor de manutenção não é diferente; pelo contrário, pode ser considerada essencial para que o trabalho seja conduzido de forma eficiente e confiável. Alguns benefícios são evidentes: O conhecimento acumulado pela equipe da manutenção fica na própria manutenção, independentemente da substituição de funcionários; O reparo das falhas de baixa complexidade pode ser realizado pelos operadores dos equipamentos; Melhor eficiência no uso da mão-de-obra e a significativa redução de desperdícios com peças de reposição; Oferecer aos clientes a mesma qualidade, ao mesmo custo, entregues no mesmo prazo e com o mesmo resultado. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 43 Tabela 7.1. Exemplos de tipos de padrões técnicos a serem adotados pela manutenção. Extraído de Donas, M.L.M. [2004] O processo de padronização não deve ser imposto, e sim ser fruto de um envolvimento e comprometimento, também, do pessoal operacional; caso contrário, estará fadado ao fracasso, pois não será absorvido na realização processo no dia a dia. É recomendado que a padronização da manutenção se inicie pelos padrões técnicos, pois estes têm impacto direto sobre a qualidade e confiabilidade dos serviços de manutenção. A tabela 7.1 apresenta uma lista de indicações de padrões técnicos que deveriam ser padronizados na manutenção. Os padrões técnicos de manutenção contêm as informações para a execução dos reparos e representam o acúmulo de conhecimentos da equipe de manutenção sobre os equipamentos. É fundamental que os padrões técnicos sejam frequentemente revistos, em função da evolução do conhecimento e das tecnologias, que terão impacto direto na metodologia empregadas na manutenção, como apresentado na Figura 7.1. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 44 É importante que estes padrões técnicos sejam incorporados ao sistema informatizado de gestão da manutenção. Os dados contidos nestes registros darão suporte, através relatórios e gráficos, para o planejamento da manutenção. Figura 7.1. Esquema de atualização dos padrões e planos de manutenção 6.4 A Metrologia na Manutenção É natural que os equipamentos que sofrerem qualquer intervenção da manutenção possam apresentar desvios nos seus valores que por ela medidos. Neste sentido, é crítico que o departamento de manutenção tenha em seu acervo instrumentos, aparelhos e ferramentas que estejam previamente rastreados segundos padrões rastreados pelo INMETRO. A rastreabilidade de seus instrumentos internos, utilizados como padrões e/ou referências, deve ser feita segundo as exigências em norma técnica, usualmente com periodicidade anual. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 45 Caso o setor de manutenção não tenha um determinado padrão requerido por alguma tecnologia, então deverá contratar um laboratório externo rastreado e credenciado pelo INMETRO para realizar tal tarefa. Somente agindo desta forma é que será garantida a confiabilidade das medições, posteriormente em operação. O retorno deste equipamento para a operação sem que sejam efetuadas as calibrações recomendadas poderá ocasionar erros nas medições, podendo comprometer a saúde ou até a vida dos pacientes, no caso dos equipamentos biomédicos. 7 Semiologia de Manutenção Com o passar do tempo, verificou-se que a máxima eficiência de uma unidade produtiva está extremamente vinculada aos cuidados com a manutenção dos equipamentos. O não planejamento de um programa de manutenção pode tornar todo o processo caro e "doloroso", ou melhor, o adequado planejamento da manutenção deve ser encarado pelas empresas como investimento, pois retorna lucro e conserva o patrimônio. No plano tangível, pode-se ajudar a execução dos serviços de reparo apenas analisando-se os sinais emitidos pelos equipamentos quando em estado de defeito. A análise e interpretação destes sinais caracteriza a semiologia. A experiência da equipe de manutenção é muito importante na análise prévia desses sinais, antes de qualquer intervenção de reparo. Neste sentido, é fundamental que o pessoalda operação seja treinado para não proceder qualquer intervenção no equipamento para o caso de acionamento da manutenção. O simples ato de limpar ou assoprar pode eliminar sinais preciosos que ajudariam na busca do diagnóstico. A seguir são apresentados exemplos de algoritmos simples que auxiliam na obtenção de diagnósticos para defeitos em equipamentos. Podem ser seguidos por equipes de operação, desde que devidamente treinados. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 46 7.1 Como Proceder? - Algoritmos para Obtenção de Diagnósticos Iniciais Os objetivos deste procedimento são: (1) Verificar se realmente existem problemas; (2) Ser capaz de descrever o tipo de falha do instrumento, incluindo eventos ou circunstâncias que levam a falha; (3) Conhecer o que é consertável por você e o que deve ser encaminhado para outros profissionais; (4) Considerar se a falha do equipamento, principalmente quando é repetida ou catastrófica, merece ser consertada ou se o aparelho deve ser substituído. a. "O Equipamento está Morto" - Não liga O conhecimento do caminho que a fonte de energia faz até chegar ao equipamento é fundamental para corrigir este tipo de problema. A energia geralmente é proveniente da rede elétrica (plug na parede), às vezes de uma bateria, ou mais raramente de ambos (Figura 8.1). ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 47 Figura 8.1. Algoritmo para resolver o problema: equipamento "morto" ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 48 Figura 8.2. Algoritmo para resolver o problema: sem sinal na saída b. O equipamento liga, mas não tem sinal na saída Neste caso, o fator importante para se resolver o problema será conhecer o caminho percorrido pelo sinal através da instrumentação (Figura 8.2). Normalmente o caminho nos equipamentos implicam em (no mínimo) um transdutor, um amplificador e um ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 49 mostrador. Para melhor diagnosticar este tipo de problema, é aconselhável isolar/ segmentar em módulos o equipamento para localizar a causa. ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO 50 BIBLIOGRAFIA BÁSICA: CALIL, S.J. Equipamentos Médico-hospitalares e o gerenciamento da manutenção. Ministério da Saúde, 2002. KARMAN, B.J. Manutenção incorporada ao desenvolvimento à arquitetura hospitalar. Ministério da Saúde, 1995. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR: DONAS, M.L.M. A gestão da manutenção de equipamentos em uma instituição pública de C&T em Saúde. Mestrado Profissional em Gestão de C&T em Saúde. ENSP/FIOCRUZ, 2004. AZEVEDO NETO, F.P.B. Desenvolvimento de tecnologia de gestão para ambientes hospitalares. Caso do Instituto Fernandes Figueira. Dissertação de Mestrado. 2004. PEREIRA, J.P. Engenharia de manutenção: Teoria e Prática. Ciência Moderna, 2009.
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