Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Psicodrama PEGASUS – DESENVOLVIMENTO E CONSULTORIA LTDA ESPECIALIZAÇÃO EM PSICODRAMA ELIZABETE MONTEIRO SILVA REMATRIZAÇÃO: UMA CHANCE DE RESTAURAR O PRESENTE VITÓRIA 2014 ELIZABETE MONTEIRO SILVA REMATRIZAÇÃO: UMA CHANCE DE RESTAURAR O PRESENTE Trabalho de Conclusão do Curso de Formação em Psicodrama apresentado à PEGASUS – Desenvolvimento e Consultoria Ltda, como requisito parcial para obtenção do título de Psicodramatista Nível 1 – foco psicoterápico, conforme estatuto da FEBRAP – Federação Brasileira de Psicodrama. VITÓRIA 2014 ELIZABETE MONTEIRO SILVA REMATRIZAÇÃO: UMA CHANCE DE RESTAURAR O PRESENTE MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA Mário Freire Barboza Filho - PDS reg.195 Iara Monjardim Barboza - PDS reg.194 Elio Serrano Pereira Júnior - PDS reg.1956 _______________________________________ Orientadora: Iara Monjardim Barboza PDS reg.194 Apresentada em: 19/07/2014 Aprovada em: ___/___/_____ SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................08 • Objetivos ......................................................................................................09 • Justificativas ................................................................................................09 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................10 2.1. O que é Psicodrama? ........................................................................................10 2.2. Psicodrama Bipessoal .......................................................................................10 2.3. Sessão Psicodramática.......................................................................................11 2.4. Matriz de Identidade..........................................................................................13 2.5. Conceitos correlatos à teoria da Matriz de Identidade......................................16 3. METODOLOGIA .........................................................................................................22 4. DESENVOLVIMENTO ...............................................................................................23 4.1. Apresentação e discussão das sessões..............................................................25 5. REFLEXÃO ..................................................................................................................40 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................41 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................42 8. ANEXOS ........................................................................................................................43 9. CARACTERIZAÇÃO DA ALUNA ............................................................................48 RESUMO Este trabalho apresenta o relato e discussão de uma experiência da mulher e seu enfrentamento do câncer de mama, sob a compreensão desse processo à luz do Psicodrama. O objetivo deste projeto foi relacionar a minha prática profissional com a teoria em questão, especialmente, da “Matriz de Identidade", possibilitando a minha paciente compreender as emoções e comportamentos vivenciados no seu processo de doença. Assim como, aprimorar o seu autoconhecimento e sua percepção das possíveis mudanças a serem feitas frente aos eventos da vida. A intervenção se deu de forma individual no ambulatório de uma instituição religiosa em um dos municípios da Grande Vitória – ES. Os encontros aconteceram entre março e abril de 2014, sendo ao todo 04 (quatro) encontros, os quais tiveram como foco as fases da Matriz de Identidade. Utilizou-se técnicas e recursos psicodramáticos, tais como: Mandala, Solilóquio e Interpolação. Foram trabalhadas questões relativas aos fatores envolvidos no processo de doença da paciente e a sua compreensão das emoções e comportamentos experimentados durante esse processo. Os resultados apontam para uma clara evolução no autoconhecimento da paciente e na sua percepção dos acontecimentos da vida, evidenciando o despontar de uma transformação no seu modo de pensar, sentir e agir. Palavras-chave: Matriz de Identidade. Rematrização. Espontaneidade. Autoconhecimento. AGRADECIMENTOS - Primeiramente a Deus que me deu sabedoria, força e coragem. Pela oportunidade de realizar este curso e compreender a relevância dos temas estudados. - A minha família, estímulo que me conduziu a buscar vitalidade a cada dia; pelo incentivo, cuidado e proteção. Por se privarem da minha companhia em ocasiões tão especiais e compreenderem os meus momentos de ausência em função dos estudos, atribuindo a mim a oportunidade de crescer um pouco mais. - A minha cliente por aceitar fazer parte desse trabalho; pela receptividade, colaboração e confiança. - A minha Orientadora - IARA MONJARDIM - pelo empenho e orientações necessárias em todos os momentos solicitados. - A todos os professores pela paciência, carinho e dedicação demonstrados ao longo do curso. - Aos colegas por cada abraço, cada sorriso e cada lágrima. Por compartilharem das suas histórias de vida numa demonstração amizade e confiança. Epígrafe Ser livre é não ser escravo das culpas do passado nem das preocupações do amanhã. Ser livre é ter tempo para as coisas que se ama. É abraçar, se entregar, sonhar, recomeçar tudo de novo. É desenvolver a arte de pensar e proteger a emoção. Mas, acima de tudo, ser livre é ter um caso de amor com a própria existência e desvendar seus mistérios. ... Se formos livres por dentro nada nos aprisionará por fora. Augusto Cury http://pensador.uol.com.br/autor/augusto_cury/ 8 1. INTRODUÇÃO Este trabalho tem como finalidade compartilhar a minha experiência com uma paciente que teve câncer de mama e foi submetida às cirurgias de retirada e reconstrução da mama. A mesma se encontrava em processo de quimioterapia quando chegou até mim apresentando um quadro de ansiedade intenso devido ao medo de passar pela mastectomia que já estava agendada. Neste período, eu havia acabado de me formar em psicologia e prestava serviço voluntário como psicóloga no ambulatório de uma instituição religiosa em um dos municípios da Grande Vitória – ES. Nesta instituição, as pessoas eram encaminhadas para o atendimento psicológico a partir da avaliação de membros da própria instituição. Os encaminhamentos dos pacientes eram baseados nos conflitos existentes e no quadro de sofrimento psíquico vivenciado pelos mesmos. De acordo com a paciente ela tinha muito medo de procedimentos invasivos e estava bastante ansiosa com a cirurgia. As literaturas mostram que a ansiedade é um estado de tensão emocional associado ao medo. Ou seja, ficamos ansiosos para evitarmos aquilo que temos medo. Partindo do pressuposto que uma das causas do medo é o desconhecimento, faz-se necessário minimizá-lo através da desmistificação. Portanto, durante as sessões com a paciente, foi trabalhado o medo por meio de informações sobre as principais questões envolvidas num processo cirúrgico, como também, as influências positivas e negativas nesse processo. Na quarta e última sessão, percebeu-se que a paciente já estava bem mais tranquila em relação à cirurgia, uma vez que tomou conhecimento de como todo o contexto influenciaria no seu processo cirúrgico, inclusive o seu quadro emocional. Vale frisar que as circunstâncias paraa cirurgia eram bastantes favoráveis a um procedimento de sucesso, visto que a equipe médica e a estrutura hospitalar eram de excelente qualidade. Na ocasião em que ocorreu a mastectomia e a reconstrução da mama da paciente eu não estava mais atendendo na instituição, por isso, não a acompanhei nesse processo enquanto terapeuta. Atualmente, no momento de eu desenvolver esse Trabalho de Conclusão do Curso de Formação em Psicodrama (TCCP), veio-me que o processo de doença vivenciado pela paciente poderia ser relacionado com as fases da Matriz de Identidade da teoria moreniana. Assim, convidei a paciente para participar da produção desse trabalho e ela aceitou. A partir daí, foi dado início à construção desse projeto, o qual foi constituído à luz do Psicodrama, 9 teoria esta que serviu não somente como base do trabalho, mas também, muito contribuiu para o meu desenvolvimento pessoal. Objetivos O objetivo desse trabalho foi relacionar a minha prática profissional com a teoria em questão, especialmente, da “Matriz de Identidade", possibilitando a minha paciente compreender as emoções e comportamentos vivenciados no seu processo de doença. Assim como, aprimorar o seu autoconhecimento e a sua percepção das possíveis mudanças a serem feitas frente aos acontecimentos da vida. Segundo Moreno, em cada evento da vida vivenciamos as fases da Matriz de Identidade. São elas: 1- Fase do Caos/Indiferenciação; 2- Fase do Estranhamento; 3- Fase da Diferenciação; 4- Fase do Jogo ou Interpolação; 5- Fase da Inversão de Papéis/Imitação. No entanto, para refletir sobre o significado de cada uma dessas fases, considero indispensável abordar a teoria da Matriz de Identidade e outros conceitos correspondentes desta teoria, tais como, Espontaneidade, Papéis sociais, Conservas culturais e Rematrização – sobre os quais falarei no transcorrer do trabalho. Justificativas Esse trabalho justifica-se pela necessidade da autora de apresentá-lo como um dos requisitos básicos para a obtenção do título de psicodramatista. Portanto, é um Trabalho de Conclusão do Curso de Formação em Psicodrama (TCCP) onde foi exigida uma carga horária de 8 (oito) horas de intervenção individual ou grupal, na área clínica, organizacional ou educacional. O trabalho deveria ser focado em pontos da teoria moreniana escolhido pelo aluno conforme a necessidade do projeto. Deste modo, foi realizada uma intervenção individual, na área clínica e com o foco na Matriz de Identidade. 10 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. O que é Psicodrama? O Psicodrama é um método terapêutico elaborado por Jacob Levy Moreno (1889-1974). "Este método nasceu em 1924 na mesma Viena de Freud e em pleno fervor da Psicanálise" (MONJARDIM, 2007), chegando ao Brasil em 1962, por meio de Pierre Weil. Foi definido por Moreno como o método que estuda as verdades existenciais através da ação. É uma terapia de base fenomenológico-existencial, ou seja, uma terapia vivencial. Vale lembrar, que as terapias vivenciais partem do princípio que o homem é criador de si e de seu mundo. Elas trabalham ajudando o indivíduo a experienciar a sua história e a desenvolver a intuição. Não se preocupam em enquadrar o indivíduo em diagnósticos psicopatológicos, pois consideram o paciente com transtorno como uma pessoa não espontânea, com dificuldade de viver o aqui e agora (o momento) e dominada pelas conservas culturais, papéis sociais cristalizados. Deste modo, o Psicodrama objetiva levar o indivíduo a viver com legitimidade, espontaneidade e criatividade. Isto é, ter a liberdade de usar as suas próprias capacidades e utilizar o seu livre-arbítrio de forma responsável. O Psicodrama consiste em investigar situações e conflitos fundamentais mais por meio da dramatização do que pelo relato falado. Visa descobrir a "verdade" da vida de cada pessoa em relação com as outras e com o seu ambiente. De acordo com Moreno, historicamente, o Psicodrama representa o ponto decisivo na passagem do tratamento do indivíduo isolado para o tratamento do indivíduo em grupos; do tratamento do indivíduo com métodos verbais para o tratamento com métodos de ação. 2.2. Psicodrama Bipessoal É importante frisar que o Psicodrama Grupal é mais conhecido que o Psicodrama Bipessoal. Os estudos mostram que Moreno deu preferência ao trabalho em grupo, pois considerava o psicodrama a dois um exemplo de anti-espontaneidade. Assim como Moreno, alguns autores consideram o Psicodrama Grupal mais recomendado que o Bipessoal. No entanto, autores como Dalmiro M. Bustos e Rosa Cukier, recomendam a psicoterapia psicodramática 11 bipessoal. Portanto, para discorrer especificamente sobre o Psicodrama Bipessoal, tomarei como base as ideias destes dois autores. O Psicodrama Bipessoal trata-se de uma terapia psicodramática a dois (um terapeuta e um paciente), onde não é utilizado egos auxiliares e o atendimento é de um paciente por vez. Lembrando que o nome utilizado para referir-se às terapias psicodramáticas individuais varia de autor para autor e que, neste trabalho, irei chamá-la de Psicodrama Bipessoal, termo utilizado por Bustos para referir-se a esse tipo de terapia. Bustos, associa o Psicodrama Bipessoal ao padrão relacional mãe e filho, onde ocorre um vínculo mais protetor, porém mais temido. Que este tipo de terapia possibilita a investigação das primeiras relações afetivas e também um contexto onde as únicas tensões provêm do vínculo com o terapeuta, tornando mais exato o conhecimento da situação. Bustos ensina ainda que no Psicodrama Bipessoal o terapeuta, não necessariamente, precisa contracenar com o cliente, mas pode substituir o ego-auxiliar por objetos intermediários, como almofadas e outros, emprestando a sua voz e trazendo vida aos mesmos. Rosa Cukier, afirma que o Psicodrama Bipessoal não é menos importante que outras abordagens terapêuticas e nem, necessariamente, um preparativo para o Psicodrama Grupal. Para a autora, a condição de ser um indivíduo antecede a condição de ser um elemento em um grupo. E que em qualquer método terapêutico é primazia compreender o indivíduo em todas as suas matizes, desde suas primeiras trocas afetivas até a complexa estruturação de seus conflitos e defesas atuais. 2.3. Sessão Psicodramática De acordo com Moreno, a sessão psicodramática pode acontecer em um contexto social, individual ou grupal. Ela é formada por quatro etapas: 1) Aquecimento inespecífico - é o momento do paciente se desprender lá de fora e realmente chegar à sessão. É onde o diretor e o ego-auxiliar observam como o paciente está chegando à sessão (triste, desanimado, irritado, feliz etc). Este aquecimento não precisa estar relacionado com o tema a ser trabalhado na sessão, mas tem que estar adaptado à energia do paciente - no caso de trabalho com grupo - à energia do grupo. 2) Aquecimento específico - este, tem que estar relacionado com o tema a ser trabalhado na sessão e com o aquecimento inespecífico. Aqui o protagonista 12 é aquecido para entrar na ação dramática. São atividades para direcionar o encontro e despertar a espontaneidade, esperando-se que o paciente amplie as idéias de si mesmo e dos outros e realmente reflita sobre as ações; 3) Dramatização - é a ação dramática propriamente dita, onde normalmente são utilizados objetos intermediários para trabalhar o centro da questão (aquilo que se quer modificar ou ressaltar) aprofundando as demandas apresentadas no aquecimento. É onde o protagonista, já aquecido, inicia a representação do seu drama/conflito, ou seja, das figuras do seu mundo interno. Esta fase é finalizada com o esclarecimento, direcionamento ou resolução do conflito exposto; 4) Compartilhamento - é o momento de cada um se expor, expressando o que o tocou emocionalmente, quais sentimentos foram despertados nele, a sua experiênciaem conflitos semelhantes e outros comentários a respeito da cena, objetivando focar no cerne da questão e compartilhar as percepções. Os instrumentos básicos necessários para a realização da sessão psicodramática são: o diretor - que é o psicodramatista que dirige a sessão; o ego - auxiliar - que auxilia o diretor durante a sessão; o protagonista - que é o ator principal da sessão. É aquele que representa uma cena colocando no palco a realidade e a fantasia e, posteriormente, distinguindo uma da outra; a plateia/público - que são os demais participantes da sessão, os quais tem uma dupla finalidade: pode servir para ajudar o protagonista ou pode ser ajudado por ele. No caso do Psicodrama Bipessoal, não necessariamente, tem que haver público. Porém, quando o paciente se coloca no lugar do outro durante a ação, ele próprio é o público. O que não é permitido é que o terapeuta saia do seu papel de diretor e se torne o público, pois, assim, a sessão ficaria sem direção. A sessão psicodramática é realizada por meio de técnicas vivenciais de representação de papéis. Existe cerca de 351 técnicas psicodramáticas relacionadas por Moreno. Posteriormente, todas as técnicas psicodramáticas criadas por outros psicodramatistas foram baseadas em uma das três técnicas - Duplo, Espelho e Inversão de papéis - as quais são consideradas técnicas básicas da sessão psicodramática, uma vez que se fundamentam nas fases de desenvolvimento da Matriz de Identidade. As técnicas psicodramáticas visam levar o paciente a uma percepção palpável no momento da sessão (no aqui e agora), ampliando os seus potenciais de atuação e dando-lhe possibilidade de escolha da ação. Assim, o indivíduo tem a opção de romper com a reprodução de comportamentos e de ser mais espontâneo e criativo. "O fundamento do 13 psicodrama é o princípio da espontaneidade criadora, a participação desinibida de todos os membros do grupo na produção dramática e na catarse ativa" (MORENO,1974, P.38). 2.4. Matriz de Identidade De acordo com Moreno, a Matriz de Identidade é o lugar do nascimento (locus nascendi) - lugar onde a criança mergulha as suas raízes. A Matriz não existe sem que exista o Status Nascendi e, este, sem que exista o Lócus Nascendi. Ou seja, no caso do organismo humano, a Matriz só existe a partir do embrião, isto é, quando chega a ser embrião. Sendo assim, o Lócus Nascendi seria o útero materno, o Status Nascendi o período de concepção e a Matriz o óvulo fertilizado, o embrião. Moreno denominou a Matriz também de Placenta Social, considerando que ela estabelece a comunicação entre a criança e o mundo social da mãe. Ou seja, as experiências de vida da mãe já oferecem dados para a criança, pois o bebê no ventre decodifica as sensações que a mãe sente. Portanto, a Matriz é o lugar ocupado pelo bebê antes mesmo dele nascer (Ex: quando a mãe fala sobre o bebê). É o meio constituído por fatores materiais, sociais e psicológicos, pelo qual a criança irá, aos poucos, se reconhecendo como semelhante aos demais e como um ser único, idêntico a si mesmo. De acordo com Moreno, a Matriz de Identidade é aquilo que somos originalmente; são as marcas criadas na infância, as quais carregamos para sempre. Para ele o sujeito tem possibilidade de transformar a sua matriz original, isto é, inserir novas marcas naquelas já existentes e adquirir novas respostas. Assegura, também, que mesmo que a matriz inicial/original seja trabalhada a partir de novas marcas, as marcas iniciais vão sempre permanecer, podendo se apresentar em algumas situações. Vejamos um exemplo: quando criança, você aprendeu que não pode falar palavrões / xingar. Porém, agora você sabe que em algumas situações se você não xingar vai ter uma crise de asma. Por isso, nestas situações você solta um “Vai à ...” Mas, e depois, como você se sente? Aliviado? Culpado? Independente de como você se sente depois, o que importa é se você trabalhou em você essa marca e resolveu o problema de asma que você tinha desde pequeno. 14 No entanto, na maioria das vezes, você vai conseguir se controlar e não xingar, ficando ou não sufocado. Em outras situações, você não vai conseguir se controlar, vai soltar a raiva e xingar. Isso porque a matriz inicial permanece, a marca da infância está ali: “você aprendeu que não pode xingar”. Sendo assim, podemos fazer um bom ou um mau uso da possibilidade que temos de transformar a nossa matriz inicial. Ou seja, podemos criar novas respostas, positivas ou negativas. A escolha do que vamos fazer com a nossa matriz original é tão somente nossa e a responsabilidade pelas consequências das nossas escolhas também. Inicialmente, Moreno descreveu cinco etapas da formação da Matriz de Identidade, mas depois, as resumiu em apenas três. Veremos primeiro as cinco fases: 1-Fase do Caos/ Indiferenciação: onde a criança, a mãe e o mundo são uma coisa só. Ou seja, a criança não consegue diferenciar-se da mãe e das outras coisas. 2- Fase do Estranhamento: onde a criança concentra a atenção no outro, esquecendo-se de si mesma. Isto é, nesta fase, percebe-se uma ênfase da atenção da criança no outro. 3-Fase da Diferenciação: aqui ocorre o movimento inverso ao da fase anterior. Ou seja, a criança está atenta ao “eu” e ignora o outro. Isto é, percebe-se uma ênfase da atenção da criança em si mesma. 4-Fase do Jogo: onde a criança apresenta a possibilidade de assumir o papel do outro, embora não suporte o outro no seu papel. 5-Fase da Inversão de Papéis: onde ocorre a troca de papéis entre a criança e outra pessoa. Ou seja, a criança apresenta a possibilidade de assumir o papel do outro e de aceitar o outro em seu papel, uma vez que ela já consegue se reconhecer. Como já foi dito, posteriormente, Moreno sistematizou a formação da identidade em apenas três etapas de desenvolvimento. Ele juntou em uma única fase as fases de números 2 e 3 e as de números 4 e 5, ficando da seguinte forma: 1- Fase do Duplo: é a fase da Indiferenciação ou Identidade Total Indiferenciada ou Identidade do Eu com Tu. A criança precisa sempre de um ego auxiliar / de um duplo (que normalmente é a mãe) - que faça por ela aquilo que ela não consegue fazer por si própria. 15 Nesta fase ocorre a busca da identidade, uma vez que não existe a diferenciação entre o “Eu” e o “Tu”. Ou seja, a criança não consegue se diferenciar das outras pessoas nem das coisas. Aqui vai acontecendo também um processo de diferenciação: embora a criança ainda não saiba distinguir objetos reais de objetos imaginários, ela passa a imitar aquilo que vê. Assim, a criança vai se identificando com alguns papéis de certa cultura e com outros não, dando início ao seu processo de socialização. Vale frisar que os Papéis Psicossomáticos são padrões de comportamentos na satisfação das necessidades fisiológicas e são os primeiros a ser exercidos pelo ser humano. Nesta fase, a presença deles é bem acentuada e a forma como eles são experimentados influencia no processo de assimilação de novos papéis. Esta fase corresponde à técnica do duplo, que implica “que o sujeito não esteja em condições de agir ou de se comunicar por si só e que necessite de um mediador, um ego auxiliar cuja atenção lembra a da mãe no início da vida da relação” (Gonçalves, 1993: 30). 2-Fase do Espelho: é a fase do Estranhamento e da Diferenciação – (reconhecimento do eu) - onde ocorre a busca da identificação (assemelhar-se aos outros), o que só acontece após a formação da identidade. É a fase onde a descoberta da própria imagem pela criança faz surgir dois movimentos que se misturam: a criança concentra a atenção em si mesma esquecendo- se do outro (estranhamento inicial de se ver) e, concentra a atenção no outro ignorando a si mesma (reconhecimento do tu). Ou seja, é a fase do reconhecimento do “eu” que se dá somente a partir do reconhecimentodo “tu”, início do seu autoconhecimento. Nesta fase, realidade e fantasia ainda se misturam. O fato de nesta fase a criança ver sua imagem no espelho ou refletida na água e estranhá-la, dizendo: "olha o outro neném”, Moreno denominou-a de "Fase do Espelho”. Esta fase é correspondente à técnica do espelho, a qual pretende levar o sujeito a uma experiência de se reconhecer, o que inicialmente lhe causa um estranhamento, mas depois, vai sendo promovido o seu autoconhecimento. 3- Fase da Inversão de Papéis: é a fase da Inversão de Papéis – (reconhecimento do tu) - onde, em primeiro lugar a criança consegue assumir o papel do outro e, posteriormente, admitir o outro em seu papel. Ou seja, a partir do momento em que a criança se torna capaz de reconhecer o outro ela começa a exercer os papéis que observa e, em seguida, mostra-se capaz de compreender o desempenho de seu papel pelo outro. Aqui, ocorre o surgimento do 16 que Moreno chamou de “brecha entre fantasia e realidade”. Isto é, desenvolve-se a construção de imagens e a criança começa a distinguir coisas reais de coisas imaginárias. Desta divisão, surgem gradativamente dois mundos: 1- aquele em que a criança se relaciona com pessoas e coisas presentes em um ambiente real (os papéis sociais); 2- aquele em que a criança se relaciona com pessoas e coisas imaginárias idealizando que elas são externas (os papéis psicodramáticos). De acordo com Moreno, o “eu” emerge dos papéis, deste modo, a presença e atuação destes dois papéis (os sociais e os psicodramáticos) traz o surgimento do “eu”. Esta fase corresponde à técnica da inversão de papéis, a qual visa levar o indivíduo a perceber a si mesmo e aos outros, uma vez que só é possível conhecer o outro colocando-se no lugar dele. Ou seja, é uma técnica que oferece ao protagonista a condição de alcançar o ponto de vista do outro sobre ele e sobre si mesmo. Para uma melhor compreensão do que é a Matriz de identidade, considero necessário discorrer sobre alguns conceitos correspondentes a esta teoria, os quais veremos a seguir. 2.5. Conceitos correlatos à teoria da Matriz de Identidade: Espontaneidade A palavra espontaneidade e seus derivados vem do latim sponte – que significa, por livre vontade. Para Moreno, a espontaneidade, a criatividade e a sensibilidade são recursos inatos do indivíduo e não podem ser aprendidos, mas exigem somente ser liberados. Temos como exemplo o nascimento do bebê humano. Este, ingressa no mundo muito antes de estar preparado, por isso, necessita de uma soma de ajuda maior e mais prolongada do que qualquer outro filhote. A sua reposta a essa situação nova deve ser sem falhas e rápida. Moreno chamou de “Adequação das Respostas” - este tipo de espontaneidade na formação de respostas adequadas às novas situações. É uma capacidade plástica de adaptação, mobilidade e flexibilidade que é indispensável a um organismo em rápida mudança, como é o caso do bebê. De acordo com Moreno, a espontaneidade tende a ser experimentada pelo indivíduo autônomo e livre de influências exteriores e de qualquer influência interna que ele não possa controlar. Portanto, a espontaneidade é o fator que habilita o indivíduo a se superar. É a 17 capacidade de agir de maneira adequada diante de situações inusitadas ou de emitir respostas novas e transformadoras diante de situações antigas/preestabelecidas. Ela consiste na capacidade de converter imediatamente a ideia em ação e de estar pleno no momento e na ação. A teoria moreniana ensina que o indivíduo vive num dilema: a busca natural do fluir da sua espontaneidade e a segurança do estável. E quando ele opta pela segurança do já experimentado, ou seja, pela inibição da espontaneidade, a angústia aparece. Ao longo da vida, à medida que o indivíduo é obrigado a cumprir excessos de regras e exigências e vai vivenciando situações que o levam a sentir medo, fracasso, vergonha etc, ele vai impedindo a sua espontaneidade. Bustos, assim como Moreno, chamam a atenção para uma educação com princípios recriados, isto é, para a educação da espontaneidade, visto que esta permite o desenvolvimento pessoal do indivíduo. No Psicodrama, a espontaneidade age não somente na dimensão das palavras, mas em todas as dimensões de expressão, como na atuação, na interação, na dança, no canto, no desenho e outras. Para Moreno, o Psicodrama permite uma “revolução criadora”, isto é, permite ao homem a recuperação da espontaneidade perdida no ambiente afetivo e no sistema social. Ele introduz a criatividade, evitando que a espontaneidade se transforme em conservas culturais, ou seja, que ela se cristalize nas obras que ela própria criou. De acordo com Moreno (1975), a Conserva Cultural propõe-se ser o produto acabado e, como tal, adquiriu uma qualidade quase sagrada. Ou seja, ela é o resultado de uma teoria de valores geralmente aceita; aquilo que aprendemos com os nossos pais, familiares, escola e sociedade como um todo (Ex: normas, valores, crenças, julgamentos etc). As conservas culturais são importantes desde que sejam renovadas e flexíveis, devendo constituir-se somente como ponto de partida e base da ação para a manifestação da criatividade e não como ponto de estagnação e automatização do ser humano. Quando as conservas culturais não estão de acordo com o que somos elas começam a ficar pesadas, é a partir daí que precisamos construir novas respostas. "É diante das conservas que se pode processar uma verdadeira revolução criadora, motivada sempre pelo fator espontaneidade" (GONÇALVES et ali, 1988.). Moreno ensina que a espontaneidade funciona como um guia perante às novas situações, apontando para o indivíduo quais os sentimentos, pensamentos e ações (SPA) são mais 18 apropriados à situação ou tarefa daquele momento. Segundo Moreno (1975), a espontaneidade não deve ser confundida com instinto e espontaneísmo, teoria defendida por Aristóteles, segundo a qual as espécies surgiram independentemente umas das outras a partir de um princípio ativo capaz de originar vida. O Psicodrama ensina que a espontaneidade possui as funções de: Criadora - desperta a criatividade e garante novas soluções tão apropriadas quanto inesperadas. Ela cria novas respostas, dissolvendo as padronizadas e tornando o indivíduo totalmente criador e capaz de extrair o maior proveito de seus conhecimentos e capacidades; Plástica - dá capacidade de adaptação ao novo e a vitalidade para viver o "aqui - agora"; Dramática - dá energia e unidade ao ego. Ou seja, vigora sentimentos, ações e expressões do cotidiano, como por exemplo, o músico que ao tocar ou cantar uma música pela centésima vez, a expressa com uma sensação nunca experimentada antes. Portanto, não é o ato em si que mostra o grau de espontaneidade, mas a maneira como ele é realizado. Moreno fala de três tipos de respostas/espontaneidades que o indivíduo pode emitir diante das situações. São elas: 1- Espontânea – (Ex: fazer algo quando queremos ou quando não queremos, sem sermos obrigados). Há sempre um ganho quando fazemos algo que não gostaríamos de fazer porque isso mexe com a nossa criança interna. Ter uma resposta espontânea é ter equilíbrio, saber o momento e a forma adequada de agir. É saber lidar com o inesperado/caos, de forma apropriada. É a resposta positiva, rápida e sem falhas; a resposta mais adequada possível, imediata à situação inusitada do momento. Este tipo de resposta inclui sensações e sentimentos, é adequada à situação e contribui para mudá-la. 2- Impulsiva – (Ex: chutar o cachorro) - Este tipo de resposta é sempre desproporcional à situação. É a explosão de latentes reprimidos. É agir antes de pensar e de sentir. Precisamos entender que o fluxo de energia do sentir, pensar e agir (SPA) tem que estar alinhado. Isto é, aquilo que eu penso sobre algo me deixa confortável ou não? Como eume sinto? E o que eu faço com isso? Normalmente, apenas nos comportamos: vamos vivendo sem nos perceber, sem pensar em como nos sentimos, sem conhecer o nosso ritmo. 3- Acomodada – (Ex: desejar comprar algo de um vendedor que passa pela rua anunciando seu produto. Você pensa em comprar e sente vontade de comprar, mas não grita 19 para o vendedor parar porque você aprendeu que é feio gritar na rua) - Ou seja, a resposta acomodada é quando pensamos, sentimos, mas não agimos. Esse tipo de resposta contribui para a manutenção das conservas culturais, ao contrário da espontaneidade e da criatividade que rompem com estas e promovem mudanças na realidade social. Como treinar a espontaneidade? Para Moreno, o indivíduo subordinado às forças externas não é um homem livre, mas sim, um indivíduo repetitivo e não espontâneo. Por outro lado, a perda do sentimento de coletividade e o individualismo exacerbado pode trazer danos consideráveis. Portanto, ser espontâneo não significa responder automaticamente nem impulsivamente, pois, segundo Moreno, essa é a patologia da espontaneidade. Ao contrário disso, ser espontâneo significa tomar decisões apropriadas diante de situações novas, agindo de forma coerente e que produza mudanças, sempre levando em conta os vínculos afetivos estabelecidos no contexto. Para Moreno, a fonte da espontaneidade é a própria espontaneidade. No entanto, ela precisa de um processo de aquecimento para ser liberada, sendo que flui mais naturalmente quando em contato com a espontaneidade de outro indivíduo. Por isso, as pessoas menos espontâneas necessitam de outras que possuem mais espontaneidade. Moreno ensina que a espontaneidade tem que ser produzida de acordo com a exigência da situação ou tarefa. Não deve ser nem mais nem menos que o necessário, uma vez que o excesso induz o indivíduo a constituir um "reservatório" e, a falta, o levaria a precisar de um "reservatório" de onde extraí-la. Ou seja, produzir mais ou menos do que a situação requer, resulta na deterioração da espontaneidade e no desenvolvimento de conservas culturais. Deste modo, Moreno ensina que para treinar a espontaneidade o indivíduo precisa passar por duas fases: 1ª fase - libertar-se dos clichês, ou seja, passar pelo processo de "desconservação" (libertar-se das conservas culturais). 2ª fase - Estar mais receptivo e pronto para promover o desenvolvimento da personalidade. Ou seja, o indivíduo precisa exercitar o conhecimento do que gosta e do que não gosta, o que o agrada e o que não o agrada. Deve conhecer o seu ritmo e perceber se está andando de acordo com ele ou não e, a partir daí, emitir novas respostas - diferentes ou não da matriz original - porém respostas que produzam mudanças significativas na sua vida. 20 Rematrização Segundo Moreno, todo fato se apoia em um conjunto indissociável composto pela sua Matriz, seu Lócus e seu Status nascendi. Para Bustos, o Lócus são as situações que desencadeiam um conflito e, a Matriz, a resposta do indivíduo às mesmas. Essas respostas resultam em um mecanismo de defesa que passa a ser utilizado pelo indivíduo de forma repetida em outros papéis sociais, em outras circunstâncias. O Status nascendi, é considerado por Bustos como as coisas passíveis de sofrer perturbações, o que contribui para o desenvolvimento do sintoma. Neste sentido, Bustos afirma que somente a Matriz pode ser modificada, uma vez que é uma produção do próprio paciente (a resposta do indivíduo a esse conjunto de fatores). É por isso que o trabalho terapêutico é dirigido especialmente à Matriz, onde se trabalha a responsabilização do paciente por sua conduta. Para o Psicodrama o indivíduo tem possibilidade de rematrizar marcas em sua matriz original, isto é: sobrepor a uma marca já existente outra marca que seja adequada a uma nova saída para determinada situação. Segundo (Fonseca, 1980), a rematrização são as revivências corretivas sobre a primeira matriz, a original. Isto significa que a rematrização é o ato de exercitar a espontaneidade e reorganizar a Matriz de Identidade anterior. É possibilitar ao indivíduo uma nova chance de restaurar o presente por meio da revisita às situações atuais ou passadas, emitindo novas respostas e ampliando suas possibilidades de ação e de reação. Logo, ainda que a Matriz de Identidade inicial seja a mais forte, a rematrização é muito importante, pois ela também registra marcas bastantes significativas na vida do indivíduo. Deste modo, numa sessão psicodramática o indivíduo pode reviver num campo protegido (livre de intimidações) experiências anteriores cheias de sentimentos que influenciam seus comportamentos atuais e começar a percebê-las com um novo significado. Bustos (1980) afirma que "a rematrização fortalece o processo psicoterápico do paciente". Durante a ação dramática o paciente pode ser capaz de rematrizar a partir da reflexão sobre seus atos ou da dramatização de outro protagonista, no caso do psicodrama grupal. Ou seja, o paciente tem possibilidade de experimentar novas saídas para conflitos antigos que impedem a sua ação espontânea, ampliando o seu autoconhecimento e tornando a sua vida mais equilibrada. Nesse sentido, o indivíduo que foi carente na infância não necessariamente tem que ser um eterno inseguro; nem aquele que registrou temores no passado terá que ser medroso para sempre. Portanto, a rematrização acontece quando o paciente revive situações atuais ou 21 passadas para destruir algo ruim e construir algo bom, trazendo um novo sentido para a sua vida naquela questão. Nos estudos ministrados durante a minha formação em Psicodrama, aprendi que a rematrização pode ocorrer em apenas uma sessão psicoterápica ou tornar-se um processo, necessitando de várias sessões e/ou outras vivências do dia a dia para ir acontecendo. É como uma ferida: a quantidade de curativos para curá-la vai depender do tipo de ferida. A rematrização pode acontecer tanto em marcas registradas na matriz inicial (na infância) quanto em marcas adquiridas na fase adulta. De acordo com Moreno, no Psicodrama a repetição é que leva ao surgimento da espontaneidade e que liberta o indivíduo. Moreno ensina que "Toda e qualquer segunda vez verdadeira é a libertação da primeira". "A primeira vez faz com que a segunda vez redunde em risos". (Moreno, 1975). Quantas vezes nos pegamos falando assim: "Por que não pensei nisso antes?" Ou "Por que não fiz assim ou assado?". Quantas vezes também rimos de nós mesmos pelas bobagens que fazemos! Portanto, quem entra em um processo psicoterápico/psicodramático com certeza vai ser mexido, ou mais ou menos, isso porque o indivíduo não consegue se negar por tanto tempo. Na visão psicodramática, a rematrização acontece em duas fases: 1- Catarse: que significa colocar para fora o que está dentro. O comportamento inadequado impulsivo e repetitivo pode ser anulado por meio da dramatização. 2- Catarse de integração: que é a movimentação de afetos e sentimentos durante a dramatização. Essa mobilização das emoções leva o paciente a perceber o que está dificultando a sua atuação apropriada nos papéis sociais. Assim, ele pode agregar respostas antigas às novas respostas que estejam mais associadas as suas necessidades. Portanto, na dramatização deve-se reproduzir a vida real o melhor possível, para que sejam promovidas as reflexões sobre a atuação passada, as mudanças que o paciente deseja no futuro e, consequentemente, a rematrização. 22 3. METODOLOGIA Neste trabalho foi utilizada a teoria sociopsicodramática e as teorias morenianas. Elas são terapias vivenciais, as quais partem do princípio que o homem é criador de si e de seu mundo e, trabalham levando o indivíduo à experienciar a sua história por meio da dramatização. A intervenção se deu de forma individual com uma cliente adulta, convidada por mim enquantopsicóloga e autora do projeto. 23 4. DESENVOLVIMENTO Foram realizadas 04 (quatro) sessões com duração de duas horas cada. Os encontros aconteceram entre março e abril de 2014, no ambulatório de uma instituição religiosa em um dos municípios da Grande Vitória – ES. As sessões psicodramáticas foram formadas em três etapas: • Aquecimento inespecífico e específico • Dramatização. • Compartilhamento. Foram utilizados recursos e técnicas psicodramáticas, tais como: Mandala, Solilóquio e Interpolação. Conhecendo um pouco a história da paciente Vale frisar que foi usado o nome fictício de “Vitória” para referir-se à paciente de forma a preservar em sigilo a sua identidade, conforme os parâmetros éticos estabelecidos pelo Código de Ética do Psicólogo (CONSELHO, 2005). Vitória é uma mulher de 36 anos de idade, casada há 18 (dezoito) anos e tem dois filhos. Vejamos, a seguir, o relato do processo de adoecimento enfrentado por ela. A descoberta da doença - Em novembro de 2009, fazendo o auto exame da mama como de costume, Vitória descobriu um caroço e entrou em desespero. Consultou uma ginecologista que disse para ela não se preocupar porque poderia ser aumento das glândulas. Como a sua irmã já estava em tratamento de um câncer de mama, ela pediu para a médica lhe receitar uma mamografia, porém ela se recusou dizendo que Vitória era muito nova para isso. Depois de muito insistir, a médica solicitou uma ultrassonografia, mas como não era um exame de urgência, Vitória esperou a marcação pelo SUS. O exame foi marcado para janeiro de 2010. Ela se dirigiu para fazer a ultrassom muito preocupada, pois sentia que o caroço estava crescendo muito. Assim que a médica verificou o resultado do ultrassom, encaminhou Vitória com urgência a uma mastologista. Esta, por sua vez, solicitou a mamografia e a biópsia. Quando os resultados destes últimos exames chegaram e a médica informou à Vitória que ela estava com câncer, ela entrou em pânico. Sentiu muito medo de não conseguir 24 passar pelo processo pelo qual tinha visto a irmã passar. Sentiu medo de morrer e deixar seus filhos sem mãe. Foi um momento de incertezas e de muitas perguntas sem respostas. No entanto, o seu esposo a apoiava dizendo que sempre estaria ao seu lado e que iriam superar isso juntos. O processo de tratamento da doença - Vitória iniciou as sessões de quimioterapia tendo que passar por 8 (oito) sessões. Perdeu todos os cabelos e pelos do corpo, ganhou peso e sofreu muito com o mal-estar causado pela quimioterapia. Para ela, perder os cabelos foi uma das coisas mais difíceis desse processo. Mesmo com todo cuidado, carinho e respeito do esposo, ela não se sentia confortável em se relacionar com ele enquanto mulher. A sua autoestima ficou baixíssima e ela se sentia feia, gorda e muito irritada. Mas, sempre que olhava ao seu redor, lá estava seu esposo, filhos, parentes e amigos sempre apoiando. Durante o tratamento, ela foi aprendendo a lidar com a situação e criando alternativas para se sentir um pouco melhor, como por exemplo, comprou uma peruca, lindos chapéus, fez a sobrancelha com hena e evitava ficar sozinha. Meses após as sessões de quimioterapia os cabelos de Vitória já estavam crescidos novamente e ela se sentia bem mais feliz. Posteriormente, foi marcada a cirurgia da retirada total de uma das mamas (mastectomia). No hospital, após esta cirurgia, a mãe de vitória lhe perguntou como ela se sentia sem a mama. Ela respondeu: “Estou aliviada, pois aquilo que não presta foi tirado de mim”. Vitória se sentiu aliviada e com mais possibilidade de recuperação da doença. Para Vitória, a perda da sua mama não foi tão sofrida quanto a perda dos seus cabelos. O pós-operatório dessa cirurgia foi muito doloroso e Vitória ficou parcialmente impossibilitada de fazer esforço com o braço do lado em que foi feita a cirurgia. Ela teve que passar por várias sessões de fisioterapia e, até o momento presente, continua com esse tratamento. O processo de recuperação da doença - Um ano após a mastectomia, foi agendada a reconstituição da mama de Vitória. O pós-operatório foi tranquilo e a sua autoestima, assim como a sua relação com o esposo, melhorou bastante. Já se sentia muito mais segura, pois tinha vencido mais uma etapa do seu processo de tratamento e recuperação. Durante essa fase ocorreu um fato muito marcante para ela, o falecimento de sua irmã. A irmã de Vitória havia iniciado o tratamento de câncer de mama dois anos antes dela e feito quimioterapia, mastectomia e reconstituição da mama, assim como ela. No entanto, o câncer retornou e deu origem a uma metástase (disseminação do câncer para outros órgãos), causando a morte da irmã. Vitória ficou muito triste com essa perda e sentiu medo que acontecesse o mesmo com 25 ela, ou seja, da doença retornar. No entanto, já entendendo melhor o seu processo de doença, buscando ser fiel ao seu tratamento e cada vez mais fortalecida pela família e amigos, ela não se sentiu tão mal quanto na fase da descoberta de sua doença e da perda dos seus cabelos. Há alguns meses, Vitória passou por mais uma cirurgia, a histerectomia (retirada do útero). Isso levou a minha paciente novamente a sentir medo e insegurança em relação a sua recuperação. No entanto, uma vez que a médica sempre afirmava para ela que esta cirurgia tinha sido feita somente como forma de prevenção e não porque tinha algo de errado com ela, Vitória conseguiu se tranquilizar. Atualmente, ela se encontra em acompanhamento médico e em uso do tamoxifeno, medicação que será utilizada por ela até junho de 2016. Após essa data, ela passará por novos exames que avaliarão o seu estado de saúde nesta questão. No entanto, Vitória se encontra bem mais feliz e mais confiante quanto a sua recuperação, pois conseguiu passar por todo processo que pensava não conseguir. É muito grata a sua família e amigos que a ajudaram superar esses momentos tão difíceis e se sente muito fortalecida por eles. 4.1. Apresentação e discussão das sessões Agora que já conhecemos a história de Vitória, vamos fazer recortes do relato apresentado acima e identificar em que fase da Matriz ela se encontrava dentro do seu processo de doença. 1ª Sessão – Fase do Caos / Indiferenciação - Vitória descobriu um caroço na mama, entrou em desespero e assim permaneceu até receber o resultado dos exames, os quais constataram o câncer. Sentiu muito medo de não conseguir passar pelo mesmo processo que a sua irmã estava passando. Sentiu medo de morrer e os seus filhos ficarem sem mãe. Foi um momento de incertezas e de muitas perguntas sem respostas. No trecho acima observa-se que quando Vitória chegou para mim apresentando um quadro de ansiedade devido ao medo de passar pela cirurgia, ela estava no caos. Moreno ensina que o Caos é uma fase de total desconhecimento da situação, de muita expectativa e falta de referências. E que o medo é um sentimento inerente de quem está no caos. Ou seja, nessa fase a pessoa realmente não sabe o que fazer e o que ela mais precisa é de muito afeto, conforto e direcionamentos. Portanto, a conduta do terapeuta deve ser marcada pela calma e disponibilidade afetiva e ocupacional. Visto que uma das causas do medo é o 26 desconhecimento, o terapeuta precisa trabalhar com a desmistificação oferecendo informações que esclareçam a situação e minimizem o medo do paciente, proporcionandolhe proteção, limites bem definidos e pouca liberdade. Vale lembrar que nesta ocasião eu ainda não estava cursando Psicodrama, por isso não utilizei técnicas psicodramáticas nas sessões com a paciente. Como dito anteriormente, uma vez que uma das causas do medo é o desconhecimento, faz-se necessário minimizá-lo através da desmistificação. Portanto, trabalhei o medo por meio de informaçõessobre as principais questões envolvidas num processo cirúrgico e as influências positivas e negativas nesse processo. Na quarta e última sessão, percebeu-se que Vitória já estava bem mais tranquila em relação à cirurgia, uma vez que tomou conhecimento de como todo o contexto da cirurgia influenciaria no seu processo cirúrgico, inclusive o seu quadro emocional. A técnica psicodramática correspondente à fase do Caos é a técnica do Duplo, onde o egoauxiliar/duplo se expressa pelo protagonista, lançando flashs/falas que fazem com que o protagonista exploda as suas energias. Ou seja, o duplo instiga o protagonista a falar: confirmando ou contestando algo, falando da sua raiva. Na fase do caos o paciente necessita de um duplo/um mediador que faça/fale por ele aquilo que ele não consegue fazer/falar por si próprio. No Psicodrama Bipessoal, o terapeuta exerce a função de duplo e dá voz ao mundo interno do paciente, colocando em palavras aquilo que ele sente, ou pensa, ou percebe, mas não consegue formular de maneira clara. De acordo com Cukier (1992), essa técnica objetiva entrar em contato com a emoção não verbalizada e, às vezes, não conscientizada do paciente. A autora fala ainda que quanto mais o terapeuta estiver identificado com o paciente, melhor duplo será capaz de fazer. 2ª Sessão - Fase do Estranhamento - Após iniciar a quimioterapia, Vitória perdeu todos os cabelos e pelos do corpo, ganhou peso e sofreu muito com o mal-estar causado pelo tratamento. Ela se sentia feia, gorda e muito irritadiça. O trecho da história relatado acima deixa claro que Vitória estava vivenciando a fase do Estranhamento. Moreno ensina que essa fase é caracterizada pela desconfiança, resistência e questionamentos. Que a raiva é um sentimento inerente da pessoa que está nessa fase e que ela necessita de espaço, liberdade limitada e contrato. Ou seja, no Estranhamento a pessoa acha que o problema é sempre o outro, nunca é ela. Uma vez que o paciente se mostra muito resistente, de acordo com Moreno, o terapeuta deve ter uma conduta marcada pelo bom 27 humor sem ironias. Ele precisa ter segurança e capacidade para argumentar com o paciente e esclarecer as diferenças, apontando as vantagens e desvantagens da situação, proporcionando-lhe segurança. A técnica psicodramática apropriada para essa fase é a técnica do Espelho, que permite ao indivíduo olhar fora dele algo que ele produziu. Ou seja, o protagonista se torna um espectador de si mesmo, assistindo uma cena em que ele está envolvido. O terapeuta repete o discurso do paciente em direção ao próprio paciente e, depois que o paciente emite a resposta, o terapeuta assume o papel do paciente e torna a repetir o diálogo, forçando uma resposta dele a sua pergunta ou questão. Isso obriga o paciente a conversar consigo mesmo. Isto é, o terapeuta se coloca no lugar do paciente ou coloca um objeto intermediário em seu lugar; descreve verbalmente o que percebe, sugerindo que o paciente também assim o veja. De acordo com Cukier (1992), este distanciamento da cena favorece o desenvolvimento da função observadora do eu e uma tomada de consciência que a proximidade emocional dificulta. A autora afirma ainda que o espelho é uma das técnicas que mais favorece um insight e que, geralmente, é o lugar de onde se percebe a resolução do conflito. Vale informar que nessa sessão não foi utilizada a técnica do espelho, mas sim, de um recurso psicodramático denominado Mandala. Como aquecimento para a ação, falei sobre o que é papel e, em seguida, apliquei a mandala. A mandala traz à tona os papéis que o paciente assume no seu dia a dia e, na sua leitura psicodramática é trabalhado o desenvolvimento da percepção do paciente em relação aos seus papéis de atuação na vida. Ou seja, qual espaço cada papel ocupa, qual o seu grau de envolvimento com eles, quais dos papéis colaboram para o seu desenvolvimento pessoal e, se ele vivencia a amarração desses papéis de forma equilibrada ou não. Na área clínica a mandala pode ser utilizada também como psicodiagnóstico ou para direcionar o foco a ser trabalhado com o paciente. A atividade consistia basicamente em: 1- listar dez papéis de atuação; 2- escolher os cinco papéis mais importantes e colocá-los por ordem de importância; 3- dividir em seis partes o espaço entre os dois círculos da Mandala; 4- distribuir os cinco papéis dentro das partes, deixando uma em branco; 5- fazer a representação gráfica de cada um dos cinco papéis; 6- escrever uma frase dizendo o que deseja sobre cada um dos cinco papéis. Ao iniciar a produção, Vitória demonstrou um pequeno desconforto e comentou que não gosta de fazer nada em que tenha que pensar/raciocinar. Durante a produção, ela não revelou 28 preocupação em dividir as partes em tamanhos iguais ou diferentes, simplesmente as dividiu. Utilizou a borracha algumas vezes ao fazer a lista dos dez papéis; gastou aproximadamente a mesma quantidade de tempo para realizar cada etapa da construção da mandala, exceto, na lista dos cinco papéis mais importantes, onde gastou um pouco mais de tempo. Após a produção da Mandala foi realizada a leitura psicodramática da mesma onde foi observado que: PAPEL COM MENOR ESPAÇO (sobrinha e filha) Papel de sobrinha, Vitória disse que a relação com as tias maternas é fria e distante, apesar de elas morarem no mesmo município que ela. Ao contrário, com as tias paternas, as quais moram em outro Estado, ela se relaciona muito mais e sente saudades. Papel de filha, Vitória pontuou que a relação dela com a mãe era péssima, mas há algum tempo esta relação vem melhorando e ela está bem mais carinhosa com a mãe. No entanto, sente o desejo de se aproximar ainda mais e de serem mais amigas. OBS: Ambos os papéis ocuparam espaços de tamanhos idênticos. PAPEL COM MAIOR ESPAÇO (mãe e tia) Vale lembrar que, inicialmente, o papel de mãe ocupou o maior espaço. Após a solicitação para preencher o espaço vazio da mandala, Vitória colocou o papel de tia, que passou a ser, então, o maior papel. Papel de mãe – Vitória disse que é uma mãe muito dedicada e que não é carinhosa, mas gostaria de ser. Quanto ao significado do que é ser mãe, ela disse que é ter "responsabilidade, preocupação e alegria". Refletimos sobre essa frase e, em seguida, eu fiz uma observação: os termos responsabilidade e preocupação me parecem pesados. Como é isso para você? Vitória falou-me da maneira em que ela cuidava dos filhos (um deles já adolescente e o outro com 10 anos) de uma forma como se cuidasse de uma criança pequena. A partir daí, levei-a a refletir sobre a possibilidade de ela estar gastando todo o tempo preocupada em servir os filhos e não delegando responsabilidades. E que, consequentemente, restaria pouquíssimo 29 ou nenhum tempo para desfrutar de momentos de qualidade com os filhos e da alegria que ela sente de ser mãe. Refletimos também sobre a importância de se permitir ser cuidado e não apenas de preocupar em cuidar. Papel de tia - Quanto a essa função, Vitória, com um sorriso no rosto, pontuou que é uma tia muito "coruja" e que quer está sempre por perto e cuidando dos sobrinhos. Perguntei qual o significado de ser tia e ela respondeu: "é cuidar né!" Refletimos sobre o fato de os maiores espaços na mandala terem sidos ocupados por papéis, que ao ver de Vitória, são bem semelhantes e que denotam o cuidar do outro. Vitória balançava a cabeça positivamente e resmungava: "é isso mesmo, realmente não me permito ser cuidada". Conversamos também sobre outro dado importante: nenhum desses dois papéis, os quais ocuparam o maior espaço na mandala tinham sido eleitos como os mais importantes. Perguntei: Como pode não ser o mais importante e ocupar o maior espaço na sua vida? Ela respondeu reflexiva: "É verdade! Eu nunca parei pra pensar nisso". PAPEL MAIS IMPORTANTEPapel de esposa - Para Vitória esse papel fala de "cuidado, companheirismo e carinho". Observa-se que novamente aparece a palavra "cuidado". Conforme foi dito acima, Vitória afirmou que se preocupa muito em cuidar do outro e revelou que em muitos momentos trata o esposo assim como trata os filhos. Ela concordou que havia uma distância significativa entre o papel que ela considera ser o mais importante e a forma como ela exerce esse papel. Reafirmou que considera o papel de esposa mais importante, mas que não consegue exercêlo da forma como pensa que deveria. PAPEL MAIS ANGUSTIANTE (irmã e esposa) Papel de irmã - No momento em que vitória falou de como desejava ser mais amiga dos seus irmãos, ela se emocionou e os seus olhos lacrimejaram. Relatou que ela e a irmã (a que faleceu em decorrência do câncer de mama) eram muito unidas. Quanto aos seus outros irmãos, exceto um deles, ela disse que a relação é fria e distante e que não consegue nem 30 abraçá-los, apesar de desejar muito fazer isso. Refletimos sobre a importância de agir de acordo com o fluxo da energia do sentir, pensar e agir, deixando fluir a espontaneidade. Foi inferido também sobre a possibilidade de os seus irmãos também terem desejo de abraçá-la, assim como, a dificuldade de fazê-lo. Quanto ao fato de Vitória se emocionar ao falar da sua relação com a irmã que faleceu, possivelmente, seja necessário trabalhar um pouco mais a elaboração desse luto. O luto, assim como todos os eventos da vida, passa por todas as fases da Matriz. Não existe um tempo definido para viver cada fase do luto. No entanto, ainda que cada pessoa tenha um tempo individual para vivenciá-lo, é preciso ter cuidado com a não elaboração do mesmo e, consequentemente, com a estagnação em uma de suas fases. Papel de esposa – ao falar desse papel, Vitória revelou um certo pesar de não conseguir satisfazer sexualmente o seu esposo devido ao desânimo causado, possivelmente, pela medicação que ela ainda está fazendo uso. Comentou que é cuidadosa com o esposo em relação à alimentação, roupas, higiene da casa etc. No entanto, o esposo reconhece o que ela faz pela família, mas reclama que ela não faz nada direcionado a ele em particular. Perguntei como ela estava em relação a sua autoestima. Ela afirmou que estava tudo bem e que está cuidando dos cabelos, fazendo exercício físico, cuidando da saúde etc. Comentei que realmente ela estava sempre bonita, bem arrumada e, aparentemente, muito bem com a sua imagem externa. Em seguida, perguntei como ela se sentia intimamente, se esse sentimento de bem estar dizia respeito também ao seu estado interior. Ela parou de falar, pensou e respondeu: "Não, tenho coisas pra ser trabalhadas aqui dentro". PAPEL MUITO IMPORTANTE, PORÉM AUSENTE NA MANDALA Observa-se que pelo menos dois papéis importantes não aparecem na Mandala: o papel de mulher e o de dona de casa. Papel de mulher - Ao solicitar à paciente que pensasse em um papel importante para colocar no espaço que estava vazio na mandala, ela pensou, pensou e escreveu "tia". Refletimos sobre o porquê dela ter esquecido desse papel tão importante na vida de uma mulher. Ela reafirmou que se sente bem com a sua aparência externa, mas que interiormente existem sentimentos desconfortáveis que ela não sabe muito bem quais são. Comentou que antes 31 gostava muito de viajar, passear, mas que atualmente está muito desanimada para isso. Disse que às vezes viaja, mas sem nenhuma vontade. Mencionou que esse desânimo pode ser devido à medicação que ela ainda está tomando, mas que não tem certeza se é só por isso. Papel de dona-de-casa - Perguntei qual era o significado desse papel e ela respondeu: "limpar a casa, cozinhar, lavar, passar...". Perguntei como ela se sentia exercendo esse papel e ela disse que às vezes cansa, mas que gosta de ser dona de casa. Quanto ao fato de ela gostar de exercer esse papel e ele não aparecer na Mandala, ela não se pronunciou, ficou em silêncio, pensativa. Perguntei se ela tinha desejo de trabalhar fora, estudar etc., ela disse que não e reafirmou que gostava de ser dona de casa. Levei-a a refletir sobre a importância da função da dona de casa. Que ser dona de casa significa muito mais que apenas lavar, passar, cozinhar etc. Que da mesma forma que as empresas precisam de gestores, a casa também precisa e, que a dona de casa é uma gestora do lar. Que essa é uma função muito importante e difícil de desempenhar. Segue abaixo as frases que Vitória escreveu sobre o seu desejo em relação aos cinco papéis colocados na mandala: - Esposa – “Quero ter mais diálogo”. - Mãe – “Quero ser mais carinhosa”. - Filha – “Quero ser mais prestativa”. - Irmã – “Quero ser mais amiga”. - Sobrinha – “Quero ser mais atenciosa”. Após a leitura da mandala, finalizei a sessão passando uma tarefa para casa. Esta atividade é denominada de "Comece, Pare, Continue" e consiste em: escrever cinco coisas que não está fazendo e que gostaria de começar a fazer hoje; cinco coisas que está fazendo e que gostaria de parar de fazer hoje; cinco coisas que está fazendo e que gostaria de continuar a fazer. 3ª Sessão – Fase da Diferenciação - Durante o tratamento, Vitória foi aprendendo a lidar com a situação e criando alternativas para se sentir um pouco melhor, como por exemplo, comprou uma peruca e lindos chapéus, fez a sobrancelha de hena e evitava ficar sozinha. 32 O texto acima mostra que, neste momento, Vitória estava na fase da Diferenciação. De acordo com Moreno essa fase é caracterizada pela compreensão do que ocorre, pela resistência às mudanças e pela reflexão profunda. Falando de outro modo, nessa fase a pessoa se recolhe, "lambe as feridas". E é nesse momento quando o indivíduo se volta para dentro de si que ele se diferencia. Moreno ensina que a tristeza é a emoção básica presente nessa fase e que o paciente necessita de amparo, orientação para o seu espaço e de limites negociados com relativa liberdade. Portanto, segundo Moreno, o terapeuta deve ter flexibilidade e muita capacidade de ouvir, tendo uma conduta marcada pela objetividade. Deve solicitar ao paciente uma maior reflexão da situação, sugestões e alternativas e expor a situação com clareza. A técnica psicodramática apropriada nessa fase é a técnica do Solilóquio, onde o paciente verbaliza seus pensamentos ("pensa alto"). Ou seja, ele vai falando o que pensa e sente até entrar em contato com as suas questões, sendo obrigado a trazer outras cenas de sua história. Nos primeiros momentos, a fala vem da razão/cabeça, mas, depois começa a vir do coração. Segundo Cukier (1992), o solilóquio é muito útil quando o paciente se mostra inquieto com algo ou revela que está se atendo a condutas socialmente esperadas. A autora afirma também que aquilo que é expresso no solilóquio dá dicas ao terapeuta sobre como prosseguir a dramatização, trazendo sentimentos ainda não expressos ou outras cenas que habitam os pensamentos do paciente. No nosso cotidiano, o solilóquio (falar sozinho) nos organiza no pensar para podermos agir. Observa-se que nessa sessão, foi feito o aquecimento com uma reflexão sobre os pontos apresentados na tarefa de casa “Comece, Pare, Continue”. Apesar de Vitória não ter colocado os cinco itens em nenhuma das questões solicitadas na tarefa, ela afirmou que não teve dificuldade para realizá-la e que em alguns momentos achou até engraçado. Vejamos o que Vitória apresentou nesta atividade: A) Não está fazendo e gostaria de começar a fazer hoje - "estudar, fazer caminhada, ler livros, tirar carteira de habilitação"; B) Está fazendo e gostaria de parar de fazer hoje - "dormir de dia"; C) Está fazendo e gostaria de continuar a fazer – "ser uma esposa sempre presente, ser uma boa mãe, ser boa dona de casa, fazer hidroginástica". 33 Durantea conversa sobre a tarefa, Vitória afirmou que as coisas que ela não está fazendo, não as faz por ter medo de não conseguir dar continuidade. Relatou que tem muita vontade de estudar, mas sabe que não vai aprender, por isso, não retorna aos estudos. Percebe que sobrecarrega o esposo com suas solicitações para levá-la para lá e para cá, mas acha que não consegue aprender a dirigir, por isso, não entra na auto - escola e, assim por diante. Falei sobre vários temas inerentes a essas questões, tais como: a nossa capacidade de rematrizar a matriz inicial, nosso poder de escolha, o começar do mais fácil, o estabelecimento de metas, o treinamento da espontaneidade, dentre outros. Ressalta-se a necessidade de se trabalhar a autoestima de Vitória para que ela se desvencilhe do sentimento de menos valia. Estudos mostram que esse sentimento é peculiar de um percurso depressivo e consiste na autodepreciação, inferioridade, incompetência, rejeição, culpa e fragilidade. Que a autoestima é a imagem valorativa que a pessoa tem de si mesma e, na depressão, ela se encontra menosprezada de um jeito que incomoda muito o paciente. Diante disso, fiz a seguinte pergunta para Vitória: "O que você acha de uma pessoa que consegue vencer um câncer?". Ela sorriu e balançou a cabeça positivamente, dizendo: "É forte né... É verdade né, é uma força muito grande! Pode fazer qualquer coisa, é só querer né!". Em seguida, eu trouxe uma questão que Vitória havia mencionado no encontro anterior, onde disse que estava bem com a sua aparência externa, mas que interiormente tinha algo incomodando. Perguntei se ela queria falar sobre esses incômodos. Ela disse que não sabia identificar de onde vinham esses sentimentos, mas que, às vezes, fica muito triste, desanimada e sem vontade de sair de casa. Porém, se esforça, sai para andar um pouco e começa a refletir em tudo que passou e onde se encontra hoje. Com isso, se sente gratificada e acha que não deve ficar assim e, dias depois, retoma à vida normal. Entretanto, de tempo em tempo é surpreendida por outra crise dessas, sem entender muito bem o porquê. Enquanto falava disso, Vitória demonstrava estar muito apreensiva e um pouco angustiada. Visando minimizar a angústia da paciente de não saber a procedência de suas crises de tristeza e na tentativa de identificar o disparador dessas, iniciei a aplicação da técnica do Solilóquio. Solicitei a Vitória que lembrasse dos pensamentos que antecediam essas crises e quais permaneciam durante elas. E que, à medida em que ela fosse lembrando, começasse a verbalizar esses pensamentos em voz baixa. Após alguns minutos ela começou a falar: 34 "Penso na perda da minha irmã. Em tudo que ela passou e o quanto ela sofreu. Fico preocupada com o meu sobrinho, de como ele está sofrendo sem a mãe. Ele era muito agarrado com ela. Sinto muito a falta dela". Logo, perguntei se ela havia dito para a irmã tudo o que gostaria de ter falado ou se tinha ficado algo por dizer. Ela respondeu: "Não. Realmente eu disse tudo o que eu queria dizer pra ela, não deixei de falar nada!". Comentei sobre a importância de se vivenciar um processo de luto, ainda que tardiamente, e expliquei como poderia ser feito isso. Falei que o luto, assim como todos os eventos da vida, passa por fases e que é preciso vivenciá-las, cuidando-se para não se prender em nenhuma delas. Vitória mencionou que na ocasião da perda conteve muito as suas emoções, mas que atualmente a família já conversa sobre a irmã, olham fotos etc. Em seguida, para que Vitória compreendesse ainda melhor a vivência dessas crises, expliquei um pouco mais sobre os eventos da vida passarem por várias fases e a importância de não nos fixarmos em nenhuma delas. Citei como exemplo o seu processo de doença, comentando como ela tinha vivenciado cada uma das fases, com idas e vindas em algumas delas. Retomei também algumas questões apresentadas na Mandala, como por exemplo: o desejo dela de se relacionar com os irmãos da forma como se relacionava com a irmã que faleceu; o mal-estar causado por não conseguir satisfazer sexualmente o marido; o desejo de ser amiga da mãe etc. Refletimos sobre o fato de incômodos não resolvidos irem se acumulando e, nem sempre de forma muito clara ou consciente, dispararem o gatilho da tristeza, da agressividade ou outros. Enfatizei a importância de irmos resolvendo nossas demandas à medida em que elas começam a arranhar os nossos sentimentos, ainda que tenhamos de começar da menor dor, do menor conflito. Finalizei a sessão me certificando que Vitória estava muito mais tranquila do que no início da sessão. Era claro o seu alívio por conseguir identificar os disparadores de suas crises de tristeza e desânimo, assim como, por compreender que tem o direito de vivenciar todas as fases dos eventos da vida sem se sentir culpada por isso. 4º Sessão – Fase do Jogo ou Interpolação – Meses após o tratamento da quimioterapia, os cabelos de Vitória já estavam crescidos e ela se sentia bem mais animada e feliz. Após a 35 extração da mama ela disse que estava aliviada, pois aquilo que não prestava foi tirado dela. Depois da reconstituição da mama, a autoestima de Vitória melhorou muito! Atualmente, continua em acompanhamento médico e, posteriormente, passará por novos exames que avaliarão o seu estado de saúde nesta questão. Apesar disso, se sente bem mais segura quanto a sua recuperação e muito feliz por ter conseguido passar por todo processo que pensava não conseguir. Observa-se que o trecho relatado acima mostra que Vitória estava vivenciando a fase do Jogo. Segundo Moreno, essa fase é caracterizada pela experimentação, imitação, descobrimento do novo, empolgação e teste de capacidade. Moreno ensina que a alegria é a emoção básica presente nesta fase e que o paciente necessita de uma proteção reduzida e de maior liberdade para ousar e descobrir o novo. Portanto, de acordo com Moreno, a conduta do terapeuta deve ser marcada pela persistência. Ou seja, o terapeuta não deve fazer pelo paciente, mas apenas acompanhá-lo de perto, orientando, criando novas situações e estimulando a prática do mesmo. A técnica psicodramática apropriada para essa fase é a técnica da Interpolação, onde as cenas são alteradas exigindo uma nova resposta do protagonista. Ou seja, o terapeuta vai propondo várias situações diferentes para o paciente ir emitindo novas respostas. Essa técnica consiste em contestar as expressões intransigentes de uma determinada relação. Foi descrita por Bermudez e fundamentada na teoria de Moreno onde ele diz que "a função da realidade opera mediante interpolação de resistências que não introduzidas pela criança, mas lhe são impostas por outras pessoas, de suas relações". (Moreno, 1975, p. 123). Ou seja, Moreno ensina que as dificuldades relacionais não vêm de dentro do indivíduo, mas das suas relações, constituindo-se uma resistência interpessoal. De acordo com Bermudez (1977), a Interpolação de resistência objetiva encontrar novos caminhos para que a criatividade se manifeste, criando outras condições para revelar o bloqueio e permitir que o paciente aceite trabalhar as resistências; e, para isso, o diretor modifica a cena proposta pelo protagonista. Entende-se que todas as técnicas psicodramáticas podem ser utilizadas com o objetivo de gerar mudanças no curso de determinada situação, no entanto, a interpolação de resistência está voltada principalmente para este objetivo. Quando o ego - auxiliar (no psicodrama grupal) ou o terapeuta (no 36 Bipessoal) contracena e joga um papel diferente daquele descrito pelo protagonista, faz com que este entre em contato com as suas vozes internas para lidar com determinada situação. Nessa sessão, fiz o aquecimento perguntando para Vitória como estavam sendo esses encontros para ela: o que significaram na sua vida,se trouxeram alguma mudança ou reflexão e quais foram. Falei um pouco sobre as Conservas culturais e de como nos prendemos a elas. Pontuei que ela não precisava dizer que os encontros foram isso ou aquilo só para me agradar, mas que devia ser o mais sincero possível. Vitória prontamente respondeu que o que mais mexeu com ela foi a leitura da mandala, principalmente nos papéis de mãe e de esposa. Que muito mais do que a própria produção da mandala, a sua leitura trouxe muitas reflexões e até mudança de comportamento. Segundo Vitória, ela é uma mãe super protetora e tem muito medo de soltar os filhos. E que alguns dias após as sessões, o seu filho se surpreendeu quando se dirigiu a ela para perguntar se podia fazer algo e ela o permitiu. Comentei com Vitória sobre como a postura superprotetora dos pais atrapalham o desenvolvimento psicológico dos filhos. Que quando a gente superprotege é porque não confia que a pessoa tem competência/possibilidades para achar saídas para os problemas. Outro episódio citado por Vitória foi quando ela tratou o esposo como se ele fosse seu filho e ele reclamou com ela. Ela disse que neste momento se lembrou do que a mandala havia revelado sobre o seu papel de mãe e de esposa; sentiu-se incomodada com o seu comportamento e retrocedeu, pedindo desculpas ao esposo. Mencionou que sempre o tratou assim, mas que nunca tinha se incomodado com isso e nem prestado atenção se isso incomodava ele. Vitória comentou também que compreender que as conservas culturais pode nos paralisar e que os eventos da vida passam por fases, fortalece ainda mais a sua decisão de não viver baseada apenas nos sentimentos dos outros. Relatou que desde que adquiriu o câncer e, principalmente, depois de presenciar o comportamento da irmã durante o seu processo de doença, começou a emitir pequenas mudanças nessa área. Referiu que a irmã fingia estar alegre o tempo todo, sempre sorrindo e fazendo brincadeiras. Que as pessoas elogiavam a postura dela de mesmo estando com câncer, estar sempre feliz. No entanto, quando a irmã conversava com Vitória, abria o coração e falava da sua imensa tristeza por causa da doença. Vitória disse que sentia que essa postura da irmã era somente para dar respostas aos outros. 37 Isso trazia muito sofrimento para ambas, pois a doença se tornava ainda mais pesada e mais difícil de suportar. Durante a reflexão sobre as Conservas culturais e as Fases da Matriz, foi interessante ouvir de Vitória - não com essas palavras, é claro - que a irmã havia se fixado na fase do Jogo, mesmo não sendo de forma verdadeira. Expliquei que o fato de as conservas culturais impedirem a espontaneidade do indivíduo, este, vai vivendo sem se perceber. Que, normalmente, vai repetindo os comportamentos que observa sem parar para refletir sobre eles e sentir como eles o tocam: se são confortáveis ou se o incomodam. Refletimos também que as adversidades nos fazem crescer e nos fortalece, mas que ao passarmos por elas, temos o direito de sentir medo, raiva, tristeza e todos os sentimentos inerentes aos embates da vida. Pontuei que devemos conhecer o nosso ritmo e andarmos de acordo com ele. Logo, diante dos acontecimentos da nossa existência precisamos vivenciar cada uma das fases da matriz de forma efetiva, pois o contrário disso nos adoece. Em seguida, eu aplicaria a técnica da Interpolação, porém Vitória apresentou resistência em realizar a dramatização. Visto que, tanto na Mandala como nessa sessão ela havia apresentado certa tristeza enquanto falava da sua relação com a mãe, pensei em trabalhar um pouco essa questão. Solicitei, então, que ela escolhesse um objeto que representasse a sua mãe. Ela escolheu o celular, dizendo que era a cara da mãe. Logo, coloquei o celular em cima da poltrona da sala e pedi que ela falasse com a mãe da preocupação que ela tinha de a mãe aceitar uma nova relação com o ex-namorado e ele fazê-la sofrer novamente; de como ela gostaria que fossem mais amigas e que compartilhassem as suas vidas. No entanto, Vitória se recusou a dramatizar. O seu rosto enrubesceu e ela ficou inquieta na cadeira. Fiz algumas tentativas, perguntando "por que não?". Ela alegou que era porque morria de vergonha! Insisti um pouco, mas ela disse: "São duas coisas: é porque estou com vergonha e porque não quero falar. A minha mãe é muito difícil! Muito difícil!". O Psicodrama ensina que para fazer a Interpolação eu dependo de um diagnóstico em que haja a resistência. Feito o diagnóstico da natureza da resistência (se está ligada ao papel ou à cena), é possível utilizá-la e levar o paciente à dramatização. No entanto, quando a resistência se refere ao ato de dramatizar, a Interpolação será não usar a dramatização pessoal e estender o aquecimento até que seja encontrado um local de menor resistência. 38 Neste lugar, o protagonista poderá atuar e ir, aos poucos, entrando em contato com o tema que no primeiro momento apresentava resistência. Sendo assim, prolonguei o aquecimento falando da importância da dramatização e de que eu respeitava a decisão dela de não querer fazer. Falei do que Moreno diz sobre a não ação já ser uma ação e sobre o fato de estarmos envolvidos mesmo quando pensamos que não estamos. Expliquei que a negativa e a resistência dela diziam muito do conflito e também da sua mudança de comportamento, uma vez que ela havia relatado que por muito tempo se anulou, agindo somente para agradar os outros. Nesse momento, Vitória declarou: "Tem vez que meu esposo e meus filhos ficam abismados comigo porque quando eu falo que não vou, eu não vou mesmo!" Intervi, ressaltando o cuidado que devemos ter com os extremos e de como algumas marcas podem nos tornar inflexíveis. E que temos a possibilidade de rematrizar essas marcas, basta compreendermos por que temos certos padrões de comportamento e recriarmos a nossa vida. Enquanto eu ia falando dessas coisas, percebeuse que Vitória foi relaxando e se aquietando na cadeira; o seu rosto foi, aos poucos, retornando a sua cor normal. Sugeri que ela refletisse bastante no que havíamos conversado, sobre resolver as questões à medida em que elas começarem a trazer desconforto. Ela balançou a cabeça positivamente, em silêncio e pensativa. Moreno ensina que não temos que ter uma só forma, pois as nossas diversas formas é que nos constitui. Ele fala que no psicodrama a resistência é sempre bem-vinda, pois é ela que traz a luz. Os nossos comportamentos que hoje nos incomodam, em algum momento foram necessários, portanto não precisamos ter pressa para arrancá-los de nós. É aos poucos que a mudança vai acontecendo, pois ela é um processo. 5ª fase - Inversão de papéis - Imitação - Atualmente, Vitória ainda se encontra em acompanhamento médico. Há alguns meses, foi submetida a uma cirurgia de retirada do útero, como forma de prevenção. Está fazendo uso de uma medicação que terá que utilizar até junho de 2016 e, posteriormente, passará por novos exames que avaliarão o seu estado de saúde nesta questão. O recorte da história acima revela que Vitória não se encontra plenamente segura nem tem domínio total da situação, portanto, considero que ela ainda não alcançou a fase da Inversão de papéis. De acordo com Moreno, essa fase é caracterizada pela inovação, evolução, criação própria, segurança e total domínio. Moreno ensina que o afeto é a emoção básica presente 39 nessa fase e que o paciente necessita essencialmente de oportunidade, credibilidade e acompanhamento à distância. Portanto, segundo moreno, a conduta do terapeuta deve ser marcada pela liberdade. Ele deve apenas supervisionar e estimular o paciente a dar maiores passos, permitindo-lhe liberdade de ação, uma vez que esta fase requer pouca proteção/ limites reduzidos e grande liberdade. A técnica psicodramática apropriada para essa fase é a técnica da Inversão de papéis, que consiste
Compartilhar