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PSICODRAMA - Rematrização: uma chance de restaurar o presente

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Prévia do material em texto

Psicodrama 
 
 
 
PEGASUS – DESENVOLVIMENTO E CONSULTORIA LTDA 
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICODRAMA 
 
 
 
 
ELIZABETE MONTEIRO SILVA 
 
 
 
 
 
REMATRIZAÇÃO: UMA CHANCE DE RESTAURAR O PRESENTE 
 
 
 
 
 
 
 
VITÓRIA 
2014 
 
ELIZABETE MONTEIRO SILVA 
 
 
REMATRIZAÇÃO: UMA CHANCE DE RESTAURAR O PRESENTE 
 
 
 
Trabalho de Conclusão do Curso de Formação em 
Psicodrama apresentado à 
 PEGASUS – Desenvolvimento e 
Consultoria Ltda, como requisito parcial para 
obtenção do título de 
Psicodramatista Nível 1 – foco psicoterápico, 
conforme estatuto da FEBRAP – 
Federação Brasileira de Psicodrama. 
 
 
 
 
 
 
 
VITÓRIA 
2014 
 
ELIZABETE MONTEIRO SILVA 
 
REMATRIZAÇÃO: UMA CHANCE DE RESTAURAR O PRESENTE 
 
MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA 
 
Mário Freire Barboza Filho - PDS reg.195 
 
 
 
Iara Monjardim Barboza - PDS reg.194 
 
 
 
Elio Serrano Pereira Júnior - PDS reg.1956 
 
 
 
_______________________________________ 
Orientadora: Iara Monjardim Barboza PDS reg.194 
 
Apresentada em: 19/07/2014 
 
Aprovada em: ___/___/_____ 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................08 
• Objetivos ......................................................................................................09 
• Justificativas ................................................................................................09 
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................10 
2.1. O que é Psicodrama? ........................................................................................10 
2.2. Psicodrama Bipessoal .......................................................................................10 
2.3. Sessão Psicodramática.......................................................................................11 
2.4. Matriz de Identidade..........................................................................................13 
2.5. Conceitos correlatos à teoria da Matriz de Identidade......................................16 
3. METODOLOGIA .........................................................................................................22 
4. DESENVOLVIMENTO ...............................................................................................23 
4.1. Apresentação e discussão das sessões..............................................................25 
5. REFLEXÃO ..................................................................................................................40 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................41 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................42 
8. ANEXOS ........................................................................................................................43 
9. CARACTERIZAÇÃO DA ALUNA ............................................................................48 
RESUMO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho apresenta o relato e discussão de uma experiência da mulher e seu 
enfrentamento do câncer de mama, sob a compreensão desse processo à luz do Psicodrama. 
O objetivo deste projeto foi relacionar a minha prática profissional com a teoria em questão, 
especialmente, da “Matriz de Identidade", possibilitando a minha paciente compreender as 
emoções e comportamentos vivenciados no seu processo de doença. Assim como, aprimorar 
o seu autoconhecimento e sua percepção das possíveis mudanças a serem feitas frente aos 
eventos da vida. A intervenção se deu de forma individual no ambulatório de uma instituição 
religiosa em um dos municípios da Grande Vitória – ES. Os encontros aconteceram entre 
março e abril de 2014, sendo ao todo 04 (quatro) encontros, os quais tiveram como foco as 
fases da Matriz de Identidade. Utilizou-se técnicas e recursos psicodramáticos, tais como: 
Mandala, Solilóquio e Interpolação. Foram trabalhadas questões relativas aos fatores 
envolvidos no processo de doença da paciente e a sua compreensão das emoções e 
comportamentos experimentados durante esse processo. Os resultados apontam para uma 
clara evolução no autoconhecimento da paciente e na sua percepção dos acontecimentos da 
vida, evidenciando o despontar de uma transformação no seu modo de pensar, sentir e agir. 
 
 
 
 
Palavras-chave: Matriz de Identidade. Rematrização. Espontaneidade. Autoconhecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
- Primeiramente a Deus que me deu sabedoria, força e coragem. Pela oportunidade de 
realizar este curso e compreender a relevância dos temas estudados. 
- A minha família, estímulo que me conduziu a buscar vitalidade a cada dia; pelo 
incentivo, cuidado e proteção. Por se privarem da minha companhia em ocasiões tão 
especiais e compreenderem os meus momentos de ausência em função dos estudos, 
atribuindo a mim a oportunidade de crescer um pouco mais. 
- A minha cliente por aceitar fazer parte desse trabalho; pela receptividade, 
colaboração e confiança. 
- A minha Orientadora - IARA MONJARDIM - pelo empenho e orientações necessárias 
em todos os momentos solicitados. 
- A todos os professores pela paciência, carinho e dedicação demonstrados ao longo 
do curso. 
- Aos colegas por cada abraço, cada sorriso e cada lágrima. Por compartilharem das 
suas histórias de vida numa demonstração amizade e confiança. 
 
 
 
 
 Epígrafe 
 
Ser livre é não ser escravo das culpas do passado 
nem das preocupações do amanhã. 
Ser livre é ter tempo para as coisas que se ama. 
É abraçar, se entregar, sonhar, recomeçar tudo de novo. 
É desenvolver a arte de pensar e proteger a emoção. 
Mas, acima de tudo, 
ser livre é ter um caso de amor com a própria existência 
e desvendar seus mistérios. ... Se formos livres por dentro 
nada nos aprisionará por fora. 
 
 
Augusto Cury 
http://pensador.uol.com.br/autor/augusto_cury/
8 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Este trabalho tem como finalidade compartilhar a minha experiência com uma paciente que 
teve câncer de mama e foi submetida às cirurgias de retirada e reconstrução da mama. A 
mesma se encontrava em processo de quimioterapia quando chegou até mim apresentando 
um quadro de ansiedade intenso devido ao medo de passar pela mastectomia que já estava 
agendada. Neste período, eu havia acabado de me formar em psicologia e prestava serviço 
voluntário como psicóloga no ambulatório de uma instituição religiosa em um dos 
municípios da Grande Vitória – ES. Nesta instituição, as pessoas eram encaminhadas para o 
atendimento psicológico a partir da avaliação de membros da própria instituição. Os 
encaminhamentos dos pacientes eram baseados nos conflitos existentes e no quadro de 
sofrimento psíquico vivenciado pelos mesmos. 
De acordo com a paciente ela tinha muito medo de procedimentos invasivos e estava bastante 
ansiosa com a cirurgia. As literaturas mostram que a ansiedade é um estado de tensão 
emocional associado ao medo. Ou seja, ficamos ansiosos para evitarmos aquilo que temos 
medo. Partindo do pressuposto que uma das causas do medo é o desconhecimento, faz-se 
necessário minimizá-lo através da desmistificação. Portanto, durante as sessões com a 
paciente, foi trabalhado o medo por meio de informações sobre as principais questões 
envolvidas num processo cirúrgico, como também, as influências positivas e negativas nesse 
processo. 
Na quarta e última sessão, percebeu-se que a paciente já estava bem mais tranquila em 
relação à cirurgia, uma vez que tomou conhecimento de como todo o contexto influenciaria 
no seu processo cirúrgico, inclusive o seu quadro emocional. Vale frisar que as 
circunstâncias paraa cirurgia eram bastantes favoráveis a um procedimento de sucesso, visto 
que a equipe médica e a estrutura hospitalar eram de excelente qualidade. Na ocasião em que 
ocorreu a mastectomia e a reconstrução da mama da paciente eu não estava mais atendendo 
na instituição, por isso, não a acompanhei nesse processo enquanto terapeuta. 
Atualmente, no momento de eu desenvolver esse Trabalho de Conclusão do Curso de 
Formação em Psicodrama (TCCP), veio-me que o processo de doença vivenciado pela 
paciente poderia ser relacionado com as fases da Matriz de Identidade da teoria moreniana. 
Assim, convidei a paciente para participar da produção desse trabalho e ela aceitou. A partir 
daí, foi dado início à construção desse projeto, o qual foi constituído à luz do Psicodrama, 
9 
 
teoria esta que serviu não somente como base do trabalho, mas também, muito contribuiu 
para o meu desenvolvimento pessoal. 
 
Objetivos 
O objetivo desse trabalho foi relacionar a minha prática profissional com a teoria em questão, 
especialmente, da “Matriz de Identidade", possibilitando a minha paciente compreender as 
emoções e comportamentos vivenciados no seu processo de doença. Assim como, aprimorar 
o seu autoconhecimento e a sua percepção das possíveis mudanças a serem feitas frente aos 
acontecimentos da vida. 
Segundo Moreno, em cada evento da vida vivenciamos as fases da Matriz de Identidade. São 
elas: 1- Fase do Caos/Indiferenciação; 2- Fase do Estranhamento; 3- Fase da Diferenciação; 
4- Fase do Jogo ou Interpolação; 5- Fase da Inversão de Papéis/Imitação. No entanto, para 
refletir sobre o significado de cada uma dessas fases, considero indispensável abordar a teoria 
da Matriz de Identidade e outros conceitos correspondentes desta teoria, tais como, 
Espontaneidade, Papéis sociais, Conservas culturais e Rematrização – sobre os quais falarei 
no transcorrer do trabalho. 
 
Justificativas 
Esse trabalho justifica-se pela necessidade da autora de apresentá-lo como um dos requisitos 
básicos para a obtenção do título de psicodramatista. Portanto, é um Trabalho de Conclusão 
do Curso de Formação em Psicodrama (TCCP) onde foi exigida uma carga horária de 8 (oito) 
horas de intervenção individual ou grupal, na área clínica, organizacional ou educacional. O 
trabalho deveria ser focado em pontos da teoria moreniana escolhido pelo aluno conforme a 
necessidade do projeto. Deste modo, foi realizada uma intervenção individual, na área clínica 
e com o foco na Matriz de Identidade. 
 
 
 
10 
 
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
2.1. O que é Psicodrama? 
 
O Psicodrama é um método terapêutico elaborado por Jacob Levy Moreno (1889-1974). 
"Este método nasceu em 1924 na mesma Viena de Freud e em pleno fervor da Psicanálise" 
(MONJARDIM, 2007), chegando ao Brasil em 1962, por meio de Pierre Weil. Foi definido 
por Moreno como o método que estuda as verdades existenciais através da ação. É uma 
terapia de base fenomenológico-existencial, ou seja, uma terapia vivencial. 
 
Vale lembrar, que as terapias vivenciais partem do princípio que o homem é criador de si e 
de seu mundo. Elas trabalham ajudando o indivíduo a experienciar a sua história e a 
desenvolver a intuição. Não se preocupam em enquadrar o indivíduo em diagnósticos 
psicopatológicos, pois consideram o paciente com transtorno como uma pessoa não 
espontânea, com dificuldade de viver o aqui e agora (o momento) e dominada pelas 
conservas culturais, papéis sociais cristalizados. Deste modo, o Psicodrama objetiva levar o 
indivíduo a viver com legitimidade, espontaneidade e criatividade. Isto é, ter a liberdade de 
usar as suas próprias capacidades e utilizar o seu livre-arbítrio de forma responsável. 
 
O Psicodrama consiste em investigar situações e conflitos fundamentais mais por meio da 
dramatização do que pelo relato falado. Visa descobrir a "verdade" da vida de cada pessoa 
em relação com as outras e com o seu ambiente. De acordo com Moreno, historicamente, o 
Psicodrama representa o ponto decisivo na passagem do tratamento do indivíduo isolado 
para o tratamento do indivíduo em grupos; do tratamento do indivíduo com métodos verbais 
para o tratamento com métodos de ação. 
 
2.2. Psicodrama Bipessoal 
É importante frisar que o Psicodrama Grupal é mais conhecido que o Psicodrama Bipessoal. 
Os estudos mostram que Moreno deu preferência ao trabalho em grupo, pois considerava o 
psicodrama a dois um exemplo de anti-espontaneidade. Assim como Moreno, alguns autores 
consideram o Psicodrama Grupal mais recomendado que o Bipessoal. No entanto, autores 
como Dalmiro M. Bustos e Rosa Cukier, recomendam a psicoterapia psicodramática 
11 
 
bipessoal. Portanto, para discorrer especificamente sobre o Psicodrama Bipessoal, tomarei 
como base as ideias destes dois autores. 
O Psicodrama Bipessoal trata-se de uma terapia psicodramática a dois (um terapeuta e um 
paciente), onde não é utilizado egos auxiliares e o atendimento é de um paciente por vez. 
Lembrando que o nome utilizado para referir-se às terapias psicodramáticas individuais varia 
de autor para autor e que, neste trabalho, irei chamá-la de Psicodrama Bipessoal, termo 
utilizado por Bustos para referir-se a esse tipo de terapia. 
Bustos, associa o Psicodrama Bipessoal ao padrão relacional mãe e filho, onde ocorre um 
vínculo mais protetor, porém mais temido. Que este tipo de terapia possibilita a investigação 
das primeiras relações afetivas e também um contexto onde as únicas tensões provêm do 
vínculo com o terapeuta, tornando mais exato o conhecimento da situação. Bustos ensina 
ainda que no Psicodrama Bipessoal o terapeuta, não necessariamente, precisa contracenar 
com o cliente, mas pode substituir o ego-auxiliar por objetos intermediários, como almofadas 
e outros, emprestando a sua voz e trazendo vida aos mesmos. 
Rosa Cukier, afirma que o Psicodrama Bipessoal não é menos importante que outras 
abordagens terapêuticas e nem, necessariamente, um preparativo para o Psicodrama Grupal. 
Para a autora, a condição de ser um indivíduo antecede a condição de ser um elemento em 
um grupo. E que em qualquer método terapêutico é primazia compreender o indivíduo em 
todas as suas matizes, desde suas primeiras trocas afetivas até a complexa estruturação de 
seus conflitos e defesas atuais. 
 
2.3. Sessão Psicodramática 
De acordo com Moreno, a sessão psicodramática pode acontecer em um contexto social, 
individual ou grupal. Ela é formada por quatro etapas: 1) Aquecimento inespecífico - é o 
momento do paciente se desprender lá de fora e realmente chegar à sessão. É onde o diretor 
e o ego-auxiliar observam como o paciente está chegando à sessão (triste, desanimado, 
irritado, feliz etc). Este aquecimento não precisa estar relacionado com o tema a ser 
trabalhado na sessão, mas tem que estar adaptado à energia do paciente - no caso de trabalho 
com grupo - à energia do grupo. 2) Aquecimento específico - este, tem que estar relacionado 
com o tema a ser trabalhado na sessão e com o aquecimento inespecífico. Aqui o protagonista 
12 
 
é aquecido para entrar na ação dramática. São atividades para direcionar o encontro e 
despertar a espontaneidade, esperando-se que o paciente amplie as idéias de si mesmo e dos 
outros e realmente reflita sobre as ações; 3) Dramatização - é a ação dramática propriamente 
dita, onde normalmente são utilizados objetos intermediários para trabalhar o centro da 
questão (aquilo que se quer modificar ou ressaltar) aprofundando as demandas apresentadas 
no aquecimento. É onde o protagonista, já aquecido, inicia a representação do seu 
drama/conflito, ou seja, das figuras do seu mundo interno. Esta fase é finalizada com o 
esclarecimento, direcionamento ou resolução do conflito exposto; 4) Compartilhamento - é 
o momento de cada um se expor, expressando o que o tocou emocionalmente, quais 
sentimentos foram despertados nele, a sua experiênciaem conflitos semelhantes e outros 
comentários a respeito da cena, objetivando focar no cerne da questão e compartilhar as 
percepções. 
Os instrumentos básicos necessários para a realização da sessão psicodramática são: o diretor 
- que é o psicodramatista que dirige a sessão; o ego - auxiliar - que auxilia o diretor durante 
a sessão; o protagonista - que é o ator principal da sessão. É aquele que representa uma cena 
colocando no palco a realidade e a fantasia e, posteriormente, distinguindo uma da outra; a 
plateia/público - que são os demais participantes da sessão, os quais tem uma dupla 
finalidade: pode servir para ajudar o protagonista ou pode ser ajudado por ele. No caso do 
Psicodrama Bipessoal, não necessariamente, tem que haver público. Porém, quando o 
paciente se coloca no lugar do outro durante a ação, ele próprio é o público. O que não é 
permitido é que o terapeuta saia do seu papel de diretor e se torne o público, pois, assim, a 
sessão ficaria sem direção. 
A sessão psicodramática é realizada por meio de técnicas vivenciais de representação de 
papéis. Existe cerca de 351 técnicas psicodramáticas relacionadas por Moreno. 
Posteriormente, todas as técnicas psicodramáticas criadas por outros psicodramatistas foram 
baseadas em uma das três técnicas - Duplo, Espelho e Inversão de papéis - as quais são 
consideradas técnicas básicas da sessão psicodramática, uma vez que se fundamentam nas 
fases de desenvolvimento da Matriz de Identidade. 
As técnicas psicodramáticas visam levar o paciente a uma percepção palpável no momento 
da sessão (no aqui e agora), ampliando os seus potenciais de atuação e dando-lhe 
possibilidade de escolha da ação. Assim, o indivíduo tem a opção de romper com a 
reprodução de comportamentos e de ser mais espontâneo e criativo. "O fundamento do 
13 
 
psicodrama é o princípio da espontaneidade criadora, a participação desinibida de todos 
os membros do grupo na produção dramática e na catarse ativa" (MORENO,1974, P.38). 
 
2.4. Matriz de Identidade 
De acordo com Moreno, a Matriz de Identidade é o lugar do nascimento (locus nascendi) - 
lugar onde a criança mergulha as suas raízes. A Matriz não existe sem que exista o Status 
Nascendi e, este, sem que exista o Lócus Nascendi. Ou seja, no caso do organismo humano, 
a Matriz só existe a partir do embrião, isto é, quando chega a ser embrião. Sendo assim, o 
Lócus Nascendi seria o útero materno, o Status Nascendi o período de concepção e a Matriz 
o óvulo fertilizado, o embrião. 
 
Moreno denominou a Matriz também de Placenta Social, considerando que ela estabelece a 
comunicação entre a criança e o mundo social da mãe. Ou seja, as experiências de vida da 
mãe já oferecem dados para a criança, pois o bebê no ventre decodifica as sensações que a 
mãe sente. Portanto, a Matriz é o lugar ocupado pelo bebê antes mesmo dele nascer (Ex: 
quando a mãe fala sobre o bebê). É o meio constituído por fatores materiais, sociais e 
psicológicos, pelo qual a criança irá, aos poucos, se reconhecendo como semelhante aos 
demais e como um ser único, idêntico a si mesmo. 
 
De acordo com Moreno, a Matriz de Identidade é aquilo que somos originalmente; são as 
marcas criadas na infância, as quais carregamos para sempre. Para ele o sujeito tem 
possibilidade de transformar a sua matriz original, isto é, inserir novas marcas naquelas já 
existentes e adquirir novas respostas. Assegura, também, que mesmo que a matriz 
inicial/original seja trabalhada a partir de novas marcas, as marcas iniciais vão sempre 
permanecer, podendo se apresentar em algumas situações. 
 
Vejamos um exemplo: quando criança, você aprendeu que não pode falar palavrões / xingar. 
Porém, agora você sabe que em algumas situações se você não xingar vai ter uma crise de 
asma. Por isso, nestas situações você solta um “Vai à ...” Mas, e depois, como você se sente? 
Aliviado? Culpado? Independente de como você se sente depois, o que importa é se você 
trabalhou em você essa marca e resolveu o problema de asma que você tinha desde pequeno. 
14 
 
No entanto, na maioria das vezes, você vai conseguir se controlar e não xingar, ficando ou 
não sufocado. Em outras situações, você não vai conseguir se controlar, vai soltar a raiva e 
xingar. Isso porque a matriz inicial permanece, a marca da infância está ali: “você aprendeu 
que não pode xingar”. Sendo assim, podemos fazer um bom ou um mau uso da possibilidade 
que temos de transformar a nossa matriz inicial. Ou seja, podemos criar novas respostas, 
positivas ou negativas. A escolha do que vamos fazer com a nossa matriz original é tão 
somente nossa e a responsabilidade pelas consequências das nossas escolhas também. 
 
Inicialmente, Moreno descreveu cinco etapas da formação da Matriz de Identidade, mas 
depois, as resumiu em apenas três. Veremos primeiro as cinco fases: 
1-Fase do Caos/ Indiferenciação: onde a criança, a mãe e o mundo são uma coisa só. Ou 
seja, a criança não consegue diferenciar-se da mãe e das outras coisas. 
2- Fase do Estranhamento: onde a criança concentra a atenção no outro, esquecendo-se 
de si mesma. Isto é, nesta fase, percebe-se uma ênfase da atenção da criança no outro. 
3-Fase da Diferenciação: aqui ocorre o movimento inverso ao da fase anterior. Ou seja, 
a criança está atenta ao “eu” e ignora o outro. Isto é, percebe-se uma ênfase da atenção da 
criança em si mesma. 
4-Fase do Jogo: onde a criança apresenta a possibilidade de assumir o papel do outro, 
embora não suporte o outro no seu papel. 
5-Fase da Inversão de Papéis: onde ocorre a troca de papéis entre a criança e outra 
pessoa. Ou seja, a criança apresenta a possibilidade de assumir o papel do outro e de 
aceitar o outro em seu papel, uma vez que ela já consegue se reconhecer. 
 
Como já foi dito, posteriormente, Moreno sistematizou a formação da identidade em apenas 
três etapas de desenvolvimento. Ele juntou em uma única fase as fases de números 2 e 3 e as 
de números 4 e 5, ficando da seguinte forma: 
1- Fase do Duplo: é a fase da Indiferenciação ou Identidade Total Indiferenciada ou 
Identidade do Eu com Tu. A criança precisa sempre de um ego auxiliar / de um duplo (que 
normalmente é a mãe) - que faça por ela aquilo que ela não consegue fazer por si própria. 
15 
 
Nesta fase ocorre a busca da identidade, uma vez que não existe a diferenciação entre o “Eu” 
e o “Tu”. Ou seja, a criança não consegue se diferenciar das outras pessoas nem das coisas. 
Aqui vai acontecendo também um processo de diferenciação: embora a criança ainda não 
saiba distinguir objetos reais de objetos imaginários, ela passa a imitar aquilo que vê. Assim, 
a criança vai se identificando com alguns papéis de certa cultura e com outros não, dando 
início ao seu processo de socialização. Vale frisar que os Papéis Psicossomáticos são 
padrões de comportamentos na satisfação das necessidades fisiológicas e são os primeiros a 
ser exercidos pelo ser humano. Nesta fase, a presença deles é bem acentuada e a forma como 
eles são experimentados influencia no processo de assimilação de novos papéis. 
Esta fase corresponde à técnica do duplo, que implica “que o sujeito não esteja em condições 
de agir ou de se comunicar por si só e que necessite de um mediador, um ego auxiliar cuja 
atenção lembra a da mãe no início da vida da relação” (Gonçalves, 1993: 30). 
2-Fase do Espelho: é a fase do Estranhamento e da Diferenciação – (reconhecimento do eu) 
- onde ocorre a busca da identificação (assemelhar-se aos outros), o que só acontece após a 
formação da identidade. É a fase onde a descoberta da própria imagem pela criança faz surgir 
dois movimentos que se misturam: a criança concentra a atenção em si mesma esquecendo-
se do outro (estranhamento inicial de se ver) e, concentra a atenção no outro ignorando a si 
mesma (reconhecimento do tu). Ou seja, é a fase do reconhecimento do “eu” que se dá 
somente a partir do reconhecimentodo “tu”, início do seu autoconhecimento. Nesta fase, 
realidade e fantasia ainda se misturam. O fato de nesta fase a criança ver sua imagem no 
espelho ou refletida na água e estranhá-la, dizendo: "olha o outro neném”, Moreno 
denominou-a de "Fase do Espelho”. 
Esta fase é correspondente à técnica do espelho, a qual pretende levar o sujeito a uma 
experiência de se reconhecer, o que inicialmente lhe causa um estranhamento, mas depois, 
vai sendo promovido o seu autoconhecimento. 
3- Fase da Inversão de Papéis: é a fase da Inversão de Papéis – (reconhecimento do tu) - 
onde, em primeiro lugar a criança consegue assumir o papel do outro e, posteriormente, 
admitir o outro em seu papel. Ou seja, a partir do momento em que a criança se torna capaz 
de reconhecer o outro ela começa a exercer os papéis que observa e, em seguida, mostra-se 
capaz de compreender o desempenho de seu papel pelo outro. Aqui, ocorre o surgimento do 
16 
 
que Moreno chamou de “brecha entre fantasia e realidade”. Isto é, desenvolve-se a 
construção de imagens e a criança começa a distinguir coisas reais de coisas imaginárias. 
Desta divisão, surgem gradativamente dois mundos: 1- aquele em que a criança se relaciona 
com pessoas e coisas presentes em um ambiente real (os papéis sociais); 2- aquele em que a 
criança se relaciona com pessoas e coisas imaginárias idealizando que elas são externas (os 
papéis psicodramáticos). De acordo com Moreno, o “eu” emerge dos papéis, deste modo, a 
presença e atuação destes dois papéis (os sociais e os psicodramáticos) traz o surgimento do 
“eu”. 
Esta fase corresponde à técnica da inversão de papéis, a qual visa levar o indivíduo a 
perceber a si mesmo e aos outros, uma vez que só é possível conhecer o outro colocando-se 
no lugar dele. Ou seja, é uma técnica que oferece ao protagonista a condição de alcançar o 
ponto de vista do outro sobre ele e sobre si mesmo. 
Para uma melhor compreensão do que é a Matriz de identidade, considero necessário 
discorrer sobre alguns conceitos correspondentes a esta teoria, os quais veremos a seguir. 
 
2.5. Conceitos correlatos à teoria da Matriz de Identidade: 
Espontaneidade 
A palavra espontaneidade e seus derivados vem do latim sponte – que significa, por livre 
vontade. Para Moreno, a espontaneidade, a criatividade e a sensibilidade são recursos inatos 
do indivíduo e não podem ser aprendidos, mas exigem somente ser liberados. Temos como 
exemplo o nascimento do bebê humano. Este, ingressa no mundo muito antes de estar 
preparado, por isso, necessita de uma soma de ajuda maior e mais prolongada do que 
qualquer outro filhote. A sua reposta a essa situação nova deve ser sem falhas e rápida. 
Moreno chamou de “Adequação das Respostas” - este tipo de espontaneidade na formação 
de respostas adequadas às novas situações. É uma capacidade plástica de adaptação, 
mobilidade e flexibilidade que é indispensável a um organismo em rápida mudança, como é 
o caso do bebê. 
De acordo com Moreno, a espontaneidade tende a ser experimentada pelo indivíduo 
autônomo e livre de influências exteriores e de qualquer influência interna que ele não possa 
controlar. Portanto, a espontaneidade é o fator que habilita o indivíduo a se superar. É a 
17 
 
capacidade de agir de maneira adequada diante de situações inusitadas ou de emitir respostas 
novas e transformadoras diante de situações antigas/preestabelecidas. Ela consiste na 
capacidade de converter imediatamente a ideia em ação e de estar pleno no momento e na 
ação. 
A teoria moreniana ensina que o indivíduo vive num dilema: a busca natural do fluir da sua 
espontaneidade e a segurança do estável. E quando ele opta pela segurança do já 
experimentado, ou seja, pela inibição da espontaneidade, a angústia aparece. Ao longo da 
vida, à medida que o indivíduo é obrigado a cumprir excessos de regras e exigências e vai 
vivenciando situações que o levam a sentir medo, fracasso, vergonha etc, ele vai impedindo 
a sua espontaneidade. Bustos, assim como Moreno, chamam a atenção para uma educação 
com princípios recriados, isto é, para a educação da espontaneidade, visto que esta permite 
o desenvolvimento pessoal do indivíduo. 
No Psicodrama, a espontaneidade age não somente na dimensão das palavras, mas em todas 
as dimensões de expressão, como na atuação, na interação, na dança, no canto, no desenho 
e outras. Para Moreno, o Psicodrama permite uma “revolução criadora”, isto é, permite ao 
homem a recuperação da espontaneidade perdida no ambiente afetivo e no sistema social. 
Ele introduz a criatividade, evitando que a espontaneidade se transforme em conservas 
culturais, ou seja, que ela se cristalize nas obras que ela própria criou. 
De acordo com Moreno (1975), a Conserva Cultural propõe-se ser o produto acabado e, 
como tal, adquiriu uma qualidade quase sagrada. Ou seja, ela é o resultado de uma teoria de 
valores geralmente aceita; aquilo que aprendemos com os nossos pais, familiares, escola e 
sociedade como um todo (Ex: normas, valores, crenças, julgamentos etc). As conservas 
culturais são importantes desde que sejam renovadas e flexíveis, devendo constituir-se 
somente como ponto de partida e base da ação para a manifestação da criatividade e não 
como ponto de estagnação e automatização do ser humano. Quando as conservas culturais 
não estão de acordo com o que somos elas começam a ficar pesadas, é a partir daí que 
precisamos construir novas respostas. "É diante das conservas que se pode processar uma 
verdadeira revolução criadora, motivada sempre pelo fator espontaneidade" 
(GONÇALVES et ali, 1988.). 
Moreno ensina que a espontaneidade funciona como um guia perante às novas situações, 
apontando para o indivíduo quais os sentimentos, pensamentos e ações (SPA) são mais 
18 
 
apropriados à situação ou tarefa daquele momento. Segundo Moreno (1975), a 
espontaneidade não deve ser confundida com instinto e espontaneísmo, teoria defendida por 
Aristóteles, segundo a qual as espécies surgiram independentemente umas das outras a partir 
de um princípio ativo capaz de originar vida. 
O Psicodrama ensina que a espontaneidade possui as funções de: Criadora - desperta a 
criatividade e garante novas soluções tão apropriadas quanto inesperadas. Ela cria novas 
respostas, dissolvendo as padronizadas e tornando o indivíduo totalmente criador e capaz de 
extrair o maior proveito de seus conhecimentos e capacidades; Plástica - dá capacidade de 
adaptação ao novo e a vitalidade para viver o "aqui - agora"; Dramática - dá energia e 
unidade ao ego. Ou seja, vigora sentimentos, ações e expressões do cotidiano, como por 
exemplo, o músico que ao tocar ou cantar uma música pela centésima vez, a expressa com 
uma sensação nunca experimentada antes. Portanto, não é o ato em si que mostra o grau de 
espontaneidade, mas a maneira como ele é realizado. 
Moreno fala de três tipos de respostas/espontaneidades que o indivíduo pode emitir diante 
das situações. São elas: 
1- Espontânea – (Ex: fazer algo quando queremos ou quando não queremos, sem sermos 
obrigados). Há sempre um ganho quando fazemos algo que não gostaríamos de fazer porque 
isso mexe com a nossa criança interna. Ter uma resposta espontânea é ter equilíbrio, saber o 
momento e a forma adequada de agir. É saber lidar com o inesperado/caos, de forma 
apropriada. É a resposta positiva, rápida e sem falhas; a resposta mais adequada possível, 
imediata à situação inusitada do momento. Este tipo de resposta inclui sensações e 
sentimentos, é adequada à situação e contribui para mudá-la. 
2- Impulsiva – (Ex: chutar o cachorro) - Este tipo de resposta é sempre desproporcional à 
situação. É a explosão de latentes reprimidos. É agir antes de pensar e de sentir. Precisamos 
entender que o fluxo de energia do sentir, pensar e agir (SPA) tem que estar alinhado. Isto é, 
aquilo que eu penso sobre algo me deixa confortável ou não? Como eume sinto? E o que eu 
faço com isso? Normalmente, apenas nos comportamos: vamos vivendo sem nos perceber, 
sem pensar em como nos sentimos, sem conhecer o nosso ritmo. 
3- Acomodada – (Ex: desejar comprar algo de um vendedor que passa pela rua 
anunciando seu produto. Você pensa em comprar e sente vontade de comprar, mas não grita 
19 
 
para o vendedor parar porque você aprendeu que é feio gritar na rua) - Ou seja, a resposta 
acomodada é quando pensamos, sentimos, mas não agimos. Esse tipo de resposta contribui 
para a manutenção das conservas culturais, ao contrário da espontaneidade e da criatividade 
que rompem com estas e promovem mudanças na realidade social. 
Como treinar a espontaneidade? 
Para Moreno, o indivíduo subordinado às forças externas não é um homem livre, mas sim, 
um indivíduo repetitivo e não espontâneo. Por outro lado, a perda do sentimento de 
coletividade e o individualismo exacerbado pode trazer danos consideráveis. Portanto, ser 
espontâneo não significa responder automaticamente nem impulsivamente, pois, segundo 
Moreno, essa é a patologia da espontaneidade. Ao contrário disso, ser espontâneo significa 
tomar decisões apropriadas diante de situações novas, agindo de forma coerente e que 
produza mudanças, sempre levando em conta os vínculos afetivos estabelecidos no contexto. 
Para Moreno, a fonte da espontaneidade é a própria espontaneidade. No entanto, ela precisa 
de um processo de aquecimento para ser liberada, sendo que flui mais naturalmente quando 
em contato com a espontaneidade de outro indivíduo. Por isso, as pessoas menos espontâneas 
necessitam de outras que possuem mais espontaneidade. Moreno ensina que a 
espontaneidade tem que ser produzida de acordo com a exigência da situação ou tarefa. Não 
deve ser nem mais nem menos que o necessário, uma vez que o excesso induz o indivíduo a 
constituir um "reservatório" e, a falta, o levaria a precisar de um "reservatório" de onde 
extraí-la. Ou seja, produzir mais ou menos do que a situação requer, resulta na deterioração 
da espontaneidade e no desenvolvimento de conservas culturais. 
Deste modo, Moreno ensina que para treinar a espontaneidade o indivíduo precisa passar por 
duas fases: 1ª fase - libertar-se dos clichês, ou seja, passar pelo processo de "desconservação" 
(libertar-se das conservas culturais). 2ª fase - Estar mais receptivo e pronto para promover 
o desenvolvimento da personalidade. Ou seja, o indivíduo precisa exercitar o conhecimento 
do que gosta e do que não gosta, o que o agrada e o que não o agrada. Deve conhecer o seu 
ritmo e perceber se está andando de acordo com ele ou não e, a partir daí, emitir novas 
respostas - diferentes ou não da matriz original - porém respostas que produzam mudanças 
significativas na sua vida. 
20 
 
Rematrização 
Segundo Moreno, todo fato se apoia em um conjunto indissociável composto pela sua Matriz, 
seu Lócus e seu Status nascendi. Para Bustos, o Lócus são as situações que desencadeiam 
um conflito e, a Matriz, a resposta do indivíduo às mesmas. Essas respostas resultam em um 
mecanismo de defesa que passa a ser utilizado pelo indivíduo de forma repetida em outros 
papéis sociais, em outras circunstâncias. O Status nascendi, é considerado por Bustos como 
as coisas passíveis de sofrer perturbações, o que contribui para o desenvolvimento do 
sintoma. Neste sentido, Bustos afirma que somente a Matriz pode ser modificada, uma vez 
que é uma produção do próprio paciente (a resposta do indivíduo a esse conjunto de fatores). 
É por isso que o trabalho terapêutico é dirigido especialmente à Matriz, onde se trabalha a 
responsabilização do paciente por sua conduta. 
Para o Psicodrama o indivíduo tem possibilidade de rematrizar marcas em sua matriz 
original, isto é: sobrepor a uma marca já existente outra marca que seja adequada a uma nova 
saída para determinada situação. Segundo (Fonseca, 1980), a rematrização são as revivências 
corretivas sobre a primeira matriz, a original. Isto significa que a rematrização é o ato de 
exercitar a espontaneidade e reorganizar a Matriz de Identidade anterior. É possibilitar ao 
indivíduo uma nova chance de restaurar o presente por meio da revisita às situações atuais 
ou passadas, emitindo novas respostas e ampliando suas possibilidades de ação e de reação. 
Logo, ainda que a Matriz de Identidade inicial seja a mais forte, a rematrização é muito 
importante, pois ela também registra marcas bastantes significativas na vida do indivíduo. 
Deste modo, numa sessão psicodramática o indivíduo pode reviver num campo protegido 
(livre de intimidações) experiências anteriores cheias de sentimentos que influenciam seus 
comportamentos atuais e começar a percebê-las com um novo significado. Bustos (1980) 
afirma que "a rematrização fortalece o processo psicoterápico do paciente". Durante a ação 
dramática o paciente pode ser capaz de rematrizar a partir da reflexão sobre seus atos ou da 
dramatização de outro protagonista, no caso do psicodrama grupal. Ou seja, o paciente tem 
possibilidade de experimentar novas saídas para conflitos antigos que impedem a sua ação 
espontânea, ampliando o seu autoconhecimento e tornando a sua vida mais equilibrada. 
Nesse sentido, o indivíduo que foi carente na infância não necessariamente tem que ser um 
eterno inseguro; nem aquele que registrou temores no passado terá que ser medroso para 
sempre. Portanto, a rematrização acontece quando o paciente revive situações atuais ou 
21 
 
passadas para destruir algo ruim e construir algo bom, trazendo um novo sentido para a sua 
vida naquela questão. 
Nos estudos ministrados durante a minha formação em Psicodrama, aprendi que a 
rematrização pode ocorrer em apenas uma sessão psicoterápica ou tornar-se um processo, 
necessitando de várias sessões e/ou outras vivências do dia a dia para ir acontecendo. É como 
uma ferida: a quantidade de curativos para curá-la vai depender do tipo de ferida. A 
rematrização pode acontecer tanto em marcas registradas na matriz inicial (na infância) 
quanto em marcas adquiridas na fase adulta. 
De acordo com Moreno, no Psicodrama a repetição é que leva ao surgimento da 
espontaneidade e que liberta o indivíduo. Moreno ensina que "Toda e qualquer segunda vez 
verdadeira é a libertação da primeira". "A primeira vez faz com que a segunda vez redunde 
em risos". (Moreno, 1975). Quantas vezes nos pegamos falando assim: "Por que não pensei 
nisso antes?" Ou "Por que não fiz assim ou assado?". Quantas vezes também rimos de nós 
mesmos pelas bobagens que fazemos! Portanto, quem entra em um processo 
psicoterápico/psicodramático com certeza vai ser mexido, ou mais ou menos, isso porque o 
indivíduo não consegue se negar por tanto tempo. 
Na visão psicodramática, a rematrização acontece em duas fases: 1- Catarse: que significa 
colocar para fora o que está dentro. O comportamento inadequado impulsivo e repetitivo 
pode ser anulado por meio da dramatização. 2- Catarse de integração: que é a 
movimentação de afetos e sentimentos durante a dramatização. Essa mobilização das 
emoções leva o paciente a perceber o que está dificultando a sua atuação apropriada nos 
papéis sociais. Assim, ele pode agregar respostas antigas às novas respostas que estejam mais 
associadas as suas necessidades. Portanto, na dramatização deve-se reproduzir a vida real o 
melhor possível, para que sejam promovidas as reflexões sobre a atuação passada, as 
mudanças que o paciente deseja no futuro e, consequentemente, a rematrização. 
 
 
 
 
22 
 
 
3. METODOLOGIA 
Neste trabalho foi utilizada a teoria sociopsicodramática e as teorias morenianas. Elas são 
terapias vivenciais, as quais partem do princípio que o homem é criador de si e de seu mundo 
e, trabalham levando o indivíduo à experienciar a sua história por meio da dramatização. A 
intervenção se deu de forma individual com uma cliente adulta, convidada por mim enquantopsicóloga e autora do projeto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
4. DESENVOLVIMENTO 
Foram realizadas 04 (quatro) sessões com duração de duas horas cada. Os encontros 
aconteceram entre março e abril de 2014, no ambulatório de uma instituição religiosa em um 
dos municípios da Grande Vitória – ES. As sessões psicodramáticas foram formadas em três 
etapas: 
• Aquecimento inespecífico e específico 
• Dramatização. 
• Compartilhamento. 
Foram utilizados recursos e técnicas psicodramáticas, tais como: Mandala, Solilóquio e 
Interpolação. 
 Conhecendo um pouco a história da paciente 
Vale frisar que foi usado o nome fictício de “Vitória” para referir-se à paciente de forma a 
preservar em sigilo a sua identidade, conforme os parâmetros éticos estabelecidos pelo 
Código de Ética do Psicólogo (CONSELHO, 2005). 
Vitória é uma mulher de 36 anos de idade, casada há 18 (dezoito) anos e tem dois filhos. 
Vejamos, a seguir, o relato do processo de adoecimento enfrentado por ela. 
A descoberta da doença - Em novembro de 2009, fazendo o auto exame da mama como de 
costume, Vitória descobriu um caroço e entrou em desespero. Consultou uma ginecologista 
que disse para ela não se preocupar porque poderia ser aumento das glândulas. Como a sua 
irmã já estava em tratamento de um câncer de mama, ela pediu para a médica lhe receitar 
uma mamografia, porém ela se recusou dizendo que Vitória era muito nova para isso. Depois 
de muito insistir, a médica solicitou uma ultrassonografia, mas como não era um exame de 
urgência, Vitória esperou a marcação pelo SUS. O exame foi marcado para janeiro de 2010. 
Ela se dirigiu para fazer a ultrassom muito preocupada, pois sentia que o caroço estava 
crescendo muito. Assim que a médica verificou o resultado do ultrassom, encaminhou 
Vitória com urgência a uma mastologista. Esta, por sua vez, solicitou a mamografia e a 
biópsia. Quando os resultados destes últimos exames chegaram e a médica informou à 
Vitória que ela estava com câncer, ela entrou em pânico. Sentiu muito medo de não conseguir 
24 
 
passar pelo processo pelo qual tinha visto a irmã passar. Sentiu medo de morrer e deixar seus 
filhos sem mãe. Foi um momento de incertezas e de muitas perguntas sem respostas. No 
entanto, o seu esposo a apoiava dizendo que sempre estaria ao seu lado e que iriam superar 
isso juntos. 
O processo de tratamento da doença - Vitória iniciou as sessões de quimioterapia tendo que 
passar por 8 (oito) sessões. Perdeu todos os cabelos e pelos do corpo, ganhou peso e sofreu 
muito com o mal-estar causado pela quimioterapia. Para ela, perder os cabelos foi uma das 
coisas mais difíceis desse processo. Mesmo com todo cuidado, carinho e respeito do esposo, 
ela não se sentia confortável em se relacionar com ele enquanto mulher. A sua autoestima 
ficou baixíssima e ela se sentia feia, gorda e muito irritada. Mas, sempre que olhava ao seu 
redor, lá estava seu esposo, filhos, parentes e amigos sempre apoiando. 
Durante o tratamento, ela foi aprendendo a lidar com a situação e criando alternativas para 
se sentir um pouco melhor, como por exemplo, comprou uma peruca, lindos chapéus, fez a 
sobrancelha com hena e evitava ficar sozinha. Meses após as sessões de quimioterapia os 
cabelos de Vitória já estavam crescidos novamente e ela se sentia bem mais feliz. 
Posteriormente, foi marcada a cirurgia da retirada total de uma das mamas (mastectomia). 
No hospital, após esta cirurgia, a mãe de vitória lhe perguntou como ela se sentia sem a 
mama. Ela respondeu: “Estou aliviada, pois aquilo que não presta foi tirado de mim”. Vitória 
se sentiu aliviada e com mais possibilidade de recuperação da doença. Para Vitória, a perda 
da sua mama não foi tão sofrida quanto a perda dos seus cabelos. O pós-operatório dessa 
cirurgia foi muito doloroso e Vitória ficou parcialmente impossibilitada de fazer esforço com 
o braço do lado em que foi feita a cirurgia. Ela teve que passar por várias sessões de 
fisioterapia e, até o momento presente, continua com esse tratamento. 
O processo de recuperação da doença - Um ano após a mastectomia, foi agendada a 
reconstituição da mama de Vitória. O pós-operatório foi tranquilo e a sua autoestima, assim 
como a sua relação com o esposo, melhorou bastante. Já se sentia muito mais segura, pois 
tinha vencido mais uma etapa do seu processo de tratamento e recuperação. Durante essa 
fase ocorreu um fato muito marcante para ela, o falecimento de sua irmã. A irmã de Vitória 
havia iniciado o tratamento de câncer de mama dois anos antes dela e feito quimioterapia, 
mastectomia e reconstituição da mama, assim como ela. No entanto, o câncer retornou e deu 
origem a uma metástase (disseminação do câncer para outros órgãos), causando a morte da 
irmã. Vitória ficou muito triste com essa perda e sentiu medo que acontecesse o mesmo com 
25 
 
ela, ou seja, da doença retornar. No entanto, já entendendo melhor o seu processo de doença, 
buscando ser fiel ao seu tratamento e cada vez mais fortalecida pela família e amigos, ela 
não se sentiu tão mal quanto na fase da descoberta de sua doença e da perda dos seus cabelos. 
Há alguns meses, Vitória passou por mais uma cirurgia, a histerectomia (retirada do útero). 
Isso levou a minha paciente novamente a sentir medo e insegurança em relação a sua 
recuperação. No entanto, uma vez que a médica sempre afirmava para ela que esta cirurgia 
tinha sido feita somente como forma de prevenção e não porque tinha algo de errado com 
ela, Vitória conseguiu se tranquilizar. Atualmente, ela se encontra em acompanhamento 
médico e em uso do tamoxifeno, medicação que será utilizada por ela até junho de 2016. 
Após essa data, ela passará por novos exames que avaliarão o seu estado de saúde nesta 
questão. No entanto, Vitória se encontra bem mais feliz e mais confiante quanto a sua 
recuperação, pois conseguiu passar por todo processo que pensava não conseguir. É muito 
grata a sua família e amigos que a ajudaram superar esses momentos tão difíceis e se sente 
muito fortalecida por eles. 
 
4.1. Apresentação e discussão das sessões 
Agora que já conhecemos a história de Vitória, vamos fazer recortes do relato apresentado 
acima e identificar em que fase da Matriz ela se encontrava dentro do seu processo de doença. 
1ª Sessão – Fase do Caos / Indiferenciação - Vitória descobriu um caroço na mama, entrou 
em desespero e assim permaneceu até receber o resultado dos exames, os quais constataram 
o câncer. Sentiu muito medo de não conseguir passar pelo mesmo processo que a sua irmã 
estava passando. Sentiu medo de morrer e os seus filhos ficarem sem mãe. Foi um momento 
de incertezas e de muitas perguntas sem respostas. 
No trecho acima observa-se que quando Vitória chegou para mim apresentando um quadro 
de ansiedade devido ao medo de passar pela cirurgia, ela estava no caos. Moreno ensina que 
o Caos é uma fase de total desconhecimento da situação, de muita expectativa e falta de 
referências. E que o medo é um sentimento inerente de quem está no caos. Ou seja, nessa 
fase a pessoa realmente não sabe o que fazer e o que ela mais precisa é de muito afeto, 
conforto e direcionamentos. Portanto, a conduta do terapeuta deve ser marcada pela calma e 
disponibilidade afetiva e ocupacional. Visto que uma das causas do medo é o 
26 
 
desconhecimento, o terapeuta precisa trabalhar com a desmistificação oferecendo 
informações que esclareçam a situação e minimizem o medo do paciente, proporcionandolhe 
proteção, limites bem definidos e pouca liberdade. 
Vale lembrar que nesta ocasião eu ainda não estava cursando Psicodrama, por isso não 
utilizei técnicas psicodramáticas nas sessões com a paciente. Como dito anteriormente, uma 
vez que uma das causas do medo é o desconhecimento, faz-se necessário minimizá-lo através 
da desmistificação. Portanto, trabalhei o medo por meio de informaçõessobre as principais 
questões envolvidas num processo cirúrgico e as influências positivas e negativas nesse 
processo. Na quarta e última sessão, percebeu-se que Vitória já estava bem mais tranquila 
em relação à cirurgia, uma vez que tomou conhecimento de como todo o contexto da cirurgia 
influenciaria no seu processo cirúrgico, inclusive o seu quadro emocional. 
A técnica psicodramática correspondente à fase do Caos é a técnica do Duplo, onde o 
egoauxiliar/duplo se expressa pelo protagonista, lançando flashs/falas que fazem com que o 
protagonista exploda as suas energias. Ou seja, o duplo instiga o protagonista a falar: 
confirmando ou contestando algo, falando da sua raiva. Na fase do caos o paciente necessita 
de um duplo/um mediador que faça/fale por ele aquilo que ele não consegue fazer/falar por 
si próprio. No Psicodrama Bipessoal, o terapeuta exerce a função de duplo e dá voz ao mundo 
interno do paciente, colocando em palavras aquilo que ele sente, ou pensa, ou percebe, mas 
não consegue formular de maneira clara. De acordo com Cukier (1992), essa técnica objetiva 
entrar em contato com a emoção não verbalizada e, às vezes, não conscientizada do paciente. 
A autora fala ainda que quanto mais o terapeuta estiver identificado com o paciente, melhor 
duplo será capaz de fazer. 
2ª Sessão - Fase do Estranhamento - Após iniciar a quimioterapia, Vitória perdeu todos 
os cabelos e pelos do corpo, ganhou peso e sofreu muito com o mal-estar causado pelo 
tratamento. Ela se sentia feia, gorda e muito irritadiça. 
O trecho da história relatado acima deixa claro que Vitória estava vivenciando a fase do 
Estranhamento. Moreno ensina que essa fase é caracterizada pela desconfiança, resistência 
e questionamentos. Que a raiva é um sentimento inerente da pessoa que está nessa fase e que 
ela necessita de espaço, liberdade limitada e contrato. Ou seja, no Estranhamento a pessoa 
acha que o problema é sempre o outro, nunca é ela. Uma vez que o paciente se mostra muito 
resistente, de acordo com Moreno, o terapeuta deve ter uma conduta marcada pelo bom 
27 
 
humor sem ironias. Ele precisa ter segurança e capacidade para argumentar com o paciente 
e esclarecer as diferenças, apontando as vantagens e desvantagens da situação, 
proporcionando-lhe segurança. 
A técnica psicodramática apropriada para essa fase é a técnica do Espelho, que permite ao 
indivíduo olhar fora dele algo que ele produziu. Ou seja, o protagonista se torna um 
espectador de si mesmo, assistindo uma cena em que ele está envolvido. O terapeuta repete 
o discurso do paciente em direção ao próprio paciente e, depois que o paciente emite a 
resposta, o terapeuta assume o papel do paciente e torna a repetir o diálogo, forçando uma 
resposta dele a sua pergunta ou questão. Isso obriga o paciente a conversar consigo mesmo. 
Isto é, o terapeuta se coloca no lugar do paciente ou coloca um objeto intermediário em seu 
lugar; descreve verbalmente o que percebe, sugerindo que o paciente também assim o veja. 
De acordo com Cukier (1992), este distanciamento da cena favorece o desenvolvimento da 
função observadora do eu e uma tomada de consciência que a proximidade emocional 
dificulta. A autora afirma ainda que o espelho é uma das técnicas que mais favorece um 
insight e que, geralmente, é o lugar de onde se percebe a resolução do conflito. 
Vale informar que nessa sessão não foi utilizada a técnica do espelho, mas sim, de um recurso 
psicodramático denominado Mandala. Como aquecimento para a ação, falei sobre o que é 
papel e, em seguida, apliquei a mandala. A mandala traz à tona os papéis que o paciente 
assume no seu dia a dia e, na sua leitura psicodramática é trabalhado o desenvolvimento da 
percepção do paciente em relação aos seus papéis de atuação na vida. Ou seja, qual espaço 
cada papel ocupa, qual o seu grau de envolvimento com eles, quais dos papéis colaboram 
para o seu desenvolvimento pessoal e, se ele vivencia a amarração desses papéis de forma 
equilibrada ou não. Na área clínica a mandala pode ser utilizada também como 
psicodiagnóstico ou para direcionar o foco a ser trabalhado com o paciente. 
A atividade consistia basicamente em: 1- listar dez papéis de atuação; 2- escolher os cinco 
papéis mais importantes e colocá-los por ordem de importância; 3- dividir em seis partes o 
espaço entre os dois círculos da Mandala; 4- distribuir os cinco papéis dentro das partes, 
deixando uma em branco; 5- fazer a representação gráfica de cada um dos cinco papéis; 6- 
escrever uma frase dizendo o que deseja sobre cada um dos cinco papéis. 
Ao iniciar a produção, Vitória demonstrou um pequeno desconforto e comentou que não 
gosta de fazer nada em que tenha que pensar/raciocinar. Durante a produção, ela não revelou 
28 
 
preocupação em dividir as partes em tamanhos iguais ou diferentes, simplesmente as dividiu. 
Utilizou a borracha algumas vezes ao fazer a lista dos dez papéis; gastou aproximadamente 
a mesma quantidade de tempo para realizar cada etapa da construção da mandala, exceto, na 
lista dos cinco papéis mais importantes, onde gastou um pouco mais de tempo. 
Após a produção da Mandala foi realizada a leitura psicodramática da mesma onde foi 
observado que: 
 
PAPEL COM MENOR ESPAÇO (sobrinha e filha) 
Papel de sobrinha, Vitória disse que a relação com as tias maternas é fria e distante, apesar 
de elas morarem no mesmo município que ela. Ao contrário, com as tias paternas, as quais 
moram em outro Estado, ela se relaciona muito mais e sente saudades. 
Papel de filha, Vitória pontuou que a relação dela com a mãe era péssima, mas há algum 
tempo esta relação vem melhorando e ela está bem mais carinhosa com a mãe. No entanto, 
sente o desejo de se aproximar ainda mais e de serem mais amigas. 
OBS: Ambos os papéis ocuparam espaços de tamanhos idênticos. 
 
 
PAPEL COM MAIOR ESPAÇO (mãe e tia) 
 
Vale lembrar que, inicialmente, o papel de mãe ocupou o maior espaço. Após a solicitação 
para preencher o espaço vazio da mandala, Vitória colocou o papel de tia, que passou a ser, 
então, o maior papel. 
 
Papel de mãe – Vitória disse que é uma mãe muito dedicada e que não é carinhosa, mas 
gostaria de ser. Quanto ao significado do que é ser mãe, ela disse que é ter "responsabilidade, 
preocupação e alegria". Refletimos sobre essa frase e, em seguida, eu fiz uma observação: 
os termos responsabilidade e preocupação me parecem pesados. Como é isso para você? 
Vitória falou-me da maneira em que ela cuidava dos filhos (um deles já adolescente e o outro 
com 10 anos) de uma forma como se cuidasse de uma criança pequena. A partir daí, levei-a 
a refletir sobre a possibilidade de ela estar gastando todo o tempo preocupada em servir os 
filhos e não delegando responsabilidades. E que, consequentemente, restaria pouquíssimo 
29 
 
ou nenhum tempo para desfrutar de momentos de qualidade com os filhos e da alegria que 
ela sente de ser mãe. Refletimos também sobre a importância de se permitir ser cuidado e 
não apenas de preocupar em cuidar. 
 
Papel de tia - Quanto a essa função, Vitória, com um sorriso no rosto, pontuou que é uma tia 
muito "coruja" e que quer está sempre por perto e cuidando dos sobrinhos. Perguntei qual o 
significado de ser tia e ela respondeu: "é cuidar né!" Refletimos sobre o fato de os maiores 
espaços na mandala terem sidos ocupados por papéis, que ao ver de Vitória, são bem 
semelhantes e que denotam o cuidar do outro. Vitória balançava a cabeça positivamente e 
resmungava: "é isso mesmo, realmente não me permito ser cuidada". 
 
Conversamos também sobre outro dado importante: nenhum desses dois papéis, os quais 
ocuparam o maior espaço na mandala tinham sido eleitos como os mais importantes. 
Perguntei: Como pode não ser o mais importante e ocupar o maior espaço na sua vida? Ela 
respondeu reflexiva: "É verdade! Eu nunca parei pra pensar nisso". 
 
 
PAPEL MAIS IMPORTANTEPapel de esposa - Para Vitória esse papel fala de "cuidado, companheirismo e carinho". 
Observa-se que novamente aparece a palavra "cuidado". Conforme foi dito acima, Vitória 
afirmou que se preocupa muito em cuidar do outro e revelou que em muitos momentos trata 
o esposo assim como trata os filhos. Ela concordou que havia uma distância significativa 
entre o papel que ela considera ser o mais importante e a forma como ela exerce esse papel. 
Reafirmou que considera o papel de esposa mais importante, mas que não consegue exercêlo 
da forma como pensa que deveria. 
 
PAPEL MAIS ANGUSTIANTE (irmã e esposa) 
 
Papel de irmã - No momento em que vitória falou de como desejava ser mais amiga dos seus 
irmãos, ela se emocionou e os seus olhos lacrimejaram. Relatou que ela e a irmã (a que 
faleceu em decorrência do câncer de mama) eram muito unidas. Quanto aos seus outros 
irmãos, exceto um deles, ela disse que a relação é fria e distante e que não consegue nem 
30 
 
abraçá-los, apesar de desejar muito fazer isso. Refletimos sobre a importância de agir de 
acordo com o fluxo da energia do sentir, pensar e agir, deixando fluir a espontaneidade. Foi 
inferido também sobre a possibilidade de os seus irmãos também terem desejo de abraçá-la, 
assim como, a dificuldade de fazê-lo. Quanto ao fato de Vitória se emocionar ao falar da sua 
relação com a irmã que faleceu, possivelmente, seja necessário trabalhar um pouco mais a 
elaboração desse luto. O luto, assim como todos os eventos da vida, passa por todas as fases 
da Matriz. Não existe um tempo definido para viver cada fase do luto. No entanto, ainda que 
cada pessoa tenha um tempo individual para vivenciá-lo, é preciso ter cuidado com a não 
elaboração do mesmo e, consequentemente, com a estagnação em uma de suas fases. 
 
Papel de esposa – ao falar desse papel, Vitória revelou um certo pesar de não conseguir 
satisfazer sexualmente o seu esposo devido ao desânimo causado, possivelmente, pela 
medicação que ela ainda está fazendo uso. Comentou que é cuidadosa com o esposo em 
relação à alimentação, roupas, higiene da casa etc. No entanto, o esposo reconhece o que ela 
faz pela família, mas reclama que ela não faz nada direcionado a ele em particular. Perguntei 
como ela estava em relação a sua autoestima. Ela afirmou que estava tudo bem e que está 
cuidando dos cabelos, fazendo exercício físico, cuidando da saúde etc. Comentei que 
realmente ela estava sempre bonita, bem arrumada e, aparentemente, muito bem com a sua 
imagem externa. Em seguida, perguntei como ela se sentia intimamente, se esse sentimento 
de bem estar dizia respeito também ao seu estado interior. Ela parou de falar, pensou e 
respondeu: "Não, tenho coisas pra ser trabalhadas aqui dentro". 
 
 
PAPEL MUITO IMPORTANTE, PORÉM AUSENTE NA MANDALA 
 
Observa-se que pelo menos dois papéis importantes não aparecem na Mandala: o papel de 
mulher e o de dona de casa. 
 
Papel de mulher - Ao solicitar à paciente que pensasse em um papel importante para colocar 
no espaço que estava vazio na mandala, ela pensou, pensou e escreveu "tia". Refletimos 
sobre o porquê dela ter esquecido desse papel tão importante na vida de uma mulher. Ela 
reafirmou que se sente bem com a sua aparência externa, mas que interiormente existem 
sentimentos desconfortáveis que ela não sabe muito bem quais são. Comentou que antes 
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gostava muito de viajar, passear, mas que atualmente está muito desanimada para isso. Disse 
que às vezes viaja, mas sem nenhuma vontade. Mencionou que esse desânimo pode ser 
devido à medicação que ela ainda está tomando, mas que não tem certeza se é só por isso. 
 
Papel de dona-de-casa - Perguntei qual era o significado desse papel e ela respondeu: 
"limpar a casa, cozinhar, lavar, passar...". Perguntei como ela se sentia exercendo esse papel 
e ela disse que às vezes cansa, mas que gosta de ser dona de casa. Quanto ao fato de ela 
gostar de exercer esse papel e ele não aparecer na Mandala, ela não se pronunciou, ficou em 
silêncio, pensativa. Perguntei se ela tinha desejo de trabalhar fora, estudar etc., ela disse que 
não e reafirmou que gostava de ser dona de casa. Levei-a a refletir sobre a importância da 
função da dona de casa. Que ser dona de casa significa muito mais que apenas lavar, passar, 
cozinhar etc. Que da mesma forma que as empresas precisam de gestores, a casa também 
precisa e, que a dona de casa é uma gestora do lar. Que essa é uma função muito importante 
e difícil de desempenhar. 
 
Segue abaixo as frases que Vitória escreveu sobre o seu desejo em relação aos cinco papéis 
colocados na mandala: 
 
- Esposa – “Quero ter mais diálogo”. 
- Mãe – “Quero ser mais carinhosa”. 
- Filha – “Quero ser mais prestativa”. 
- Irmã – “Quero ser mais amiga”. 
- Sobrinha – “Quero ser mais atenciosa”. 
 
Após a leitura da mandala, finalizei a sessão passando uma tarefa para casa. Esta atividade é 
denominada de "Comece, Pare, Continue" e consiste em: escrever cinco coisas que não está 
fazendo e que gostaria de começar a fazer hoje; cinco coisas que está fazendo e que gostaria 
de parar de fazer hoje; cinco coisas que está fazendo e que gostaria de continuar a fazer. 
 
3ª Sessão – Fase da Diferenciação - Durante o tratamento, Vitória foi aprendendo a lidar 
com a situação e criando alternativas para se sentir um pouco melhor, como por exemplo, 
comprou uma peruca e lindos chapéus, fez a sobrancelha de hena e evitava ficar sozinha. 
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O texto acima mostra que, neste momento, Vitória estava na fase da Diferenciação. De 
acordo com Moreno essa fase é caracterizada pela compreensão do que ocorre, pela 
resistência às mudanças e pela reflexão profunda. Falando de outro modo, nessa fase a pessoa 
se recolhe, "lambe as feridas". E é nesse momento quando o indivíduo se volta para dentro 
de si que ele se diferencia. Moreno ensina que a tristeza é a emoção básica presente nessa 
fase e que o paciente necessita de amparo, orientação para o seu espaço e de limites 
negociados com relativa liberdade. Portanto, segundo Moreno, o terapeuta deve ter 
flexibilidade e muita capacidade de ouvir, tendo uma conduta marcada pela objetividade. 
Deve solicitar ao paciente uma maior reflexão da situação, sugestões e alternativas e expor 
a situação com clareza. 
 
A técnica psicodramática apropriada nessa fase é a técnica do Solilóquio, onde o paciente 
verbaliza seus pensamentos ("pensa alto"). Ou seja, ele vai falando o que pensa e sente até 
entrar em contato com as suas questões, sendo obrigado a trazer outras cenas de sua história. 
Nos primeiros momentos, a fala vem da razão/cabeça, mas, depois começa a vir do coração. 
Segundo Cukier (1992), o solilóquio é muito útil quando o paciente se mostra inquieto com 
algo ou revela que está se atendo a condutas socialmente esperadas. A autora afirma também 
que aquilo que é expresso no solilóquio dá dicas ao terapeuta sobre como prosseguir a 
dramatização, trazendo sentimentos ainda não expressos ou outras cenas que habitam os 
pensamentos do paciente. No nosso cotidiano, o solilóquio (falar sozinho) nos organiza no 
pensar para podermos agir. 
 
Observa-se que nessa sessão, foi feito o aquecimento com uma reflexão sobre os pontos 
apresentados na tarefa de casa “Comece, Pare, Continue”. Apesar de Vitória não ter colocado 
os cinco itens em nenhuma das questões solicitadas na tarefa, ela afirmou que não teve 
dificuldade para realizá-la e que em alguns momentos achou até engraçado. Vejamos o que 
Vitória apresentou nesta atividade: A) Não está fazendo e gostaria de começar a fazer hoje 
- "estudar, fazer caminhada, ler livros, tirar carteira de habilitação"; B) Está fazendo e 
gostaria de parar de fazer hoje - "dormir de dia"; C) Está fazendo e gostaria de continuar 
a fazer – "ser uma esposa sempre presente, ser uma boa mãe, ser boa dona de casa, fazer 
hidroginástica". 
 
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Durantea conversa sobre a tarefa, Vitória afirmou que as coisas que ela não está fazendo, 
não as faz por ter medo de não conseguir dar continuidade. Relatou que tem muita vontade 
de estudar, mas sabe que não vai aprender, por isso, não retorna aos estudos. Percebe que 
sobrecarrega o esposo com suas solicitações para levá-la para lá e para cá, mas acha que não 
consegue aprender a dirigir, por isso, não entra na auto - escola e, assim por diante. Falei 
sobre vários temas inerentes a essas questões, tais como: a nossa capacidade de rematrizar a 
matriz inicial, nosso poder de escolha, o começar do mais fácil, o estabelecimento de metas, 
o treinamento da espontaneidade, dentre outros. 
 
Ressalta-se a necessidade de se trabalhar a autoestima de Vitória para que ela se desvencilhe 
do sentimento de menos valia. Estudos mostram que esse sentimento é peculiar de um 
percurso depressivo e consiste na autodepreciação, inferioridade, incompetência, rejeição, 
culpa e fragilidade. Que a autoestima é a imagem valorativa que a pessoa tem de si mesma 
e, na depressão, ela se encontra menosprezada de um jeito que incomoda muito o paciente. 
Diante disso, fiz a seguinte pergunta para Vitória: "O que você acha de uma pessoa que 
consegue vencer um câncer?". Ela sorriu e balançou a cabeça positivamente, dizendo: "É 
forte né... É verdade né, é uma força muito grande! Pode fazer qualquer coisa, é só querer 
né!". 
 
Em seguida, eu trouxe uma questão que Vitória havia mencionado no encontro anterior, onde 
disse que estava bem com a sua aparência externa, mas que interiormente tinha algo 
incomodando. Perguntei se ela queria falar sobre esses incômodos. Ela disse que não sabia 
identificar de onde vinham esses sentimentos, mas que, às vezes, fica muito triste, 
desanimada e sem vontade de sair de casa. Porém, se esforça, sai para andar um pouco e 
começa a refletir em tudo que passou e onde se encontra hoje. Com isso, se sente gratificada 
e acha que não deve ficar assim e, dias depois, retoma à vida normal. Entretanto, de tempo 
em tempo é surpreendida por outra crise dessas, sem entender muito bem o porquê. Enquanto 
falava disso, Vitória demonstrava estar muito apreensiva e um pouco angustiada. 
 
Visando minimizar a angústia da paciente de não saber a procedência de suas crises de 
tristeza e na tentativa de identificar o disparador dessas, iniciei a aplicação da técnica do 
Solilóquio. Solicitei a Vitória que lembrasse dos pensamentos que antecediam essas crises e 
quais permaneciam durante elas. E que, à medida em que ela fosse lembrando, começasse a 
verbalizar esses pensamentos em voz baixa. Após alguns minutos ela começou a falar: 
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"Penso na perda da minha irmã. Em tudo que ela passou e o quanto ela sofreu. Fico 
preocupada com o meu sobrinho, de como ele está sofrendo sem a mãe. Ele era muito 
agarrado com ela. Sinto muito a falta dela". 
 
Logo, perguntei se ela havia dito para a irmã tudo o que gostaria de ter falado ou se tinha 
ficado algo por dizer. Ela respondeu: "Não. Realmente eu disse tudo o que eu queria dizer 
pra ela, não deixei de falar nada!". Comentei sobre a importância de se vivenciar um 
processo de luto, ainda que tardiamente, e expliquei como poderia ser feito isso. Falei que o 
luto, assim como todos os eventos da vida, passa por fases e que é preciso vivenciá-las, 
cuidando-se para não se prender em nenhuma delas. Vitória mencionou que na ocasião da 
perda conteve muito as suas emoções, mas que atualmente a família já conversa sobre a irmã, 
olham fotos etc. 
 
Em seguida, para que Vitória compreendesse ainda melhor a vivência dessas crises, expliquei 
um pouco mais sobre os eventos da vida passarem por várias fases e a importância de não 
nos fixarmos em nenhuma delas. Citei como exemplo o seu processo de doença, comentando 
como ela tinha vivenciado cada uma das fases, com idas e vindas em algumas delas. Retomei 
também algumas questões apresentadas na Mandala, como por exemplo: o desejo dela de se 
relacionar com os irmãos da forma como se relacionava com a irmã que faleceu; o mal-estar 
causado por não conseguir satisfazer sexualmente o marido; o desejo de ser amiga da mãe 
etc. Refletimos sobre o fato de incômodos não resolvidos irem se acumulando e, nem sempre 
de forma muito clara ou consciente, dispararem o gatilho da tristeza, da agressividade ou 
outros. Enfatizei a importância de irmos resolvendo nossas demandas à medida em que elas 
começam a arranhar os nossos sentimentos, ainda que tenhamos de começar da menor dor, 
do menor conflito. 
 
Finalizei a sessão me certificando que Vitória estava muito mais tranquila do que no início 
da sessão. Era claro o seu alívio por conseguir identificar os disparadores de suas crises de 
tristeza e desânimo, assim como, por compreender que tem o direito de vivenciar todas as 
fases dos eventos da vida sem se sentir culpada por isso. 
 
4º Sessão – Fase do Jogo ou Interpolação – Meses após o tratamento da quimioterapia, os 
cabelos de Vitória já estavam crescidos e ela se sentia bem mais animada e feliz. Após a 
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extração da mama ela disse que estava aliviada, pois aquilo que não prestava foi tirado dela. 
Depois da reconstituição da mama, a autoestima de Vitória melhorou muito! Atualmente, 
continua em acompanhamento médico e, posteriormente, passará por novos exames que 
avaliarão o seu estado de saúde nesta questão. Apesar disso, se sente bem mais segura quanto 
a sua recuperação e muito feliz por ter conseguido passar por todo processo que pensava não 
conseguir. 
Observa-se que o trecho relatado acima mostra que Vitória estava vivenciando a fase do 
Jogo. Segundo Moreno, essa fase é caracterizada pela experimentação, imitação, 
descobrimento do novo, empolgação e teste de capacidade. Moreno ensina que a alegria é a 
emoção básica presente nesta fase e que o paciente necessita de uma proteção reduzida e de 
maior liberdade para ousar e descobrir o novo. Portanto, de acordo com Moreno, a conduta 
do terapeuta deve ser marcada pela persistência. Ou seja, o terapeuta não deve fazer pelo 
paciente, mas apenas acompanhá-lo de perto, orientando, criando novas situações e 
estimulando a prática do mesmo. 
A técnica psicodramática apropriada para essa fase é a técnica da Interpolação, onde as 
cenas são alteradas exigindo uma nova resposta do protagonista. Ou seja, o terapeuta vai 
propondo várias situações diferentes para o paciente ir emitindo novas respostas. Essa 
técnica consiste em contestar as expressões intransigentes de uma determinada relação. Foi 
descrita por Bermudez e fundamentada na teoria de Moreno onde ele diz que "a função da 
realidade opera mediante interpolação de resistências que não introduzidas pela criança, 
mas lhe são impostas por outras pessoas, de suas relações". (Moreno, 1975, p. 123). Ou 
seja, Moreno ensina que as dificuldades relacionais não vêm de dentro do indivíduo, mas das 
suas relações, constituindo-se uma resistência interpessoal. 
De acordo com Bermudez (1977), a Interpolação de resistência objetiva encontrar novos 
caminhos para que a criatividade se manifeste, criando outras condições para revelar o 
bloqueio e permitir que o paciente aceite trabalhar as resistências; e, para isso, o diretor 
modifica a cena proposta pelo protagonista. Entende-se que todas as técnicas 
psicodramáticas podem ser utilizadas com o objetivo de gerar mudanças no curso de 
determinada situação, no entanto, a interpolação de resistência está voltada principalmente 
para este objetivo. Quando o ego - auxiliar (no psicodrama grupal) ou o terapeuta (no 
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Bipessoal) contracena e joga um papel diferente daquele descrito pelo protagonista, faz com 
que este entre em contato com as suas vozes internas para lidar com determinada situação. 
 
Nessa sessão, fiz o aquecimento perguntando para Vitória como estavam sendo esses 
encontros para ela: o que significaram na sua vida,se trouxeram alguma mudança ou reflexão 
e quais foram. Falei um pouco sobre as Conservas culturais e de como nos prendemos a elas. 
Pontuei que ela não precisava dizer que os encontros foram isso ou aquilo só para me agradar, 
mas que devia ser o mais sincero possível. Vitória prontamente respondeu que o que mais 
mexeu com ela foi a leitura da mandala, principalmente nos papéis de mãe e de esposa. Que 
muito mais do que a própria produção da mandala, a sua leitura trouxe muitas reflexões e até 
mudança de comportamento. 
Segundo Vitória, ela é uma mãe super protetora e tem muito medo de soltar os filhos. E que 
alguns dias após as sessões, o seu filho se surpreendeu quando se dirigiu a ela para perguntar 
se podia fazer algo e ela o permitiu. Comentei com Vitória sobre como a postura 
superprotetora dos pais atrapalham o desenvolvimento psicológico dos filhos. Que quando a 
gente superprotege é porque não confia que a pessoa tem competência/possibilidades para 
achar saídas para os problemas. Outro episódio citado por Vitória foi quando ela tratou o 
esposo como se ele fosse seu filho e ele reclamou com ela. Ela disse que neste momento se 
lembrou do que a mandala havia revelado sobre o seu papel de mãe e de esposa; sentiu-se 
incomodada com o seu comportamento e retrocedeu, pedindo desculpas ao esposo. 
Mencionou que sempre o tratou assim, mas que nunca tinha se incomodado com isso e nem 
prestado atenção se isso incomodava ele. 
Vitória comentou também que compreender que as conservas culturais pode nos paralisar e 
que os eventos da vida passam por fases, fortalece ainda mais a sua decisão de não viver 
baseada apenas nos sentimentos dos outros. Relatou que desde que adquiriu o câncer e, 
principalmente, depois de presenciar o comportamento da irmã durante o seu processo de 
doença, começou a emitir pequenas mudanças nessa área. Referiu que a irmã fingia estar 
alegre o tempo todo, sempre sorrindo e fazendo brincadeiras. Que as pessoas elogiavam a 
postura dela de mesmo estando com câncer, estar sempre feliz. No entanto, quando a irmã 
conversava com Vitória, abria o coração e falava da sua imensa tristeza por causa da doença. 
Vitória disse que sentia que essa postura da irmã era somente para dar respostas aos outros. 
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Isso trazia muito sofrimento para ambas, pois a doença se tornava ainda mais pesada e mais 
difícil de suportar. 
Durante a reflexão sobre as Conservas culturais e as Fases da Matriz, foi interessante ouvir 
de Vitória - não com essas palavras, é claro - que a irmã havia se fixado na fase do Jogo, 
mesmo não sendo de forma verdadeira. Expliquei que o fato de as conservas culturais 
impedirem a espontaneidade do indivíduo, este, vai vivendo sem se perceber. Que, 
normalmente, vai repetindo os comportamentos que observa sem parar para refletir sobre 
eles e sentir como eles o tocam: se são confortáveis ou se o incomodam. Refletimos também 
que as adversidades nos fazem crescer e nos fortalece, mas que ao passarmos por elas, temos 
o direito de sentir medo, raiva, tristeza e todos os sentimentos inerentes aos embates da vida. 
Pontuei que devemos conhecer o nosso ritmo e andarmos de acordo com ele. Logo, diante 
dos acontecimentos da nossa existência precisamos vivenciar cada uma das fases da matriz 
de forma efetiva, pois o contrário disso nos adoece. 
 
Em seguida, eu aplicaria a técnica da Interpolação, porém Vitória apresentou resistência em 
realizar a dramatização. Visto que, tanto na Mandala como nessa sessão ela havia 
apresentado certa tristeza enquanto falava da sua relação com a mãe, pensei em trabalhar um 
pouco essa questão. Solicitei, então, que ela escolhesse um objeto que representasse a sua 
mãe. Ela escolheu o celular, dizendo que era a cara da mãe. Logo, coloquei o celular em 
cima da poltrona da sala e pedi que ela falasse com a mãe da preocupação que ela tinha de a 
mãe aceitar uma nova relação com o ex-namorado e ele fazê-la sofrer novamente; de como 
ela gostaria que fossem mais amigas e que compartilhassem as suas vidas. No entanto, 
Vitória se recusou a dramatizar. O seu rosto enrubesceu e ela ficou inquieta na cadeira. Fiz 
algumas tentativas, perguntando "por que não?". Ela alegou que era porque morria de 
vergonha! Insisti um pouco, mas ela disse: "São duas coisas: é porque estou com vergonha 
e porque não quero falar. A minha mãe é muito difícil! Muito difícil!". 
 
O Psicodrama ensina que para fazer a Interpolação eu dependo de um diagnóstico em que 
haja a resistência. Feito o diagnóstico da natureza da resistência (se está ligada ao papel ou 
à cena), é possível utilizá-la e levar o paciente à dramatização. No entanto, quando a 
resistência se refere ao ato de dramatizar, a Interpolação será não usar a dramatização 
pessoal e estender o aquecimento até que seja encontrado um local de menor resistência. 
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Neste lugar, o protagonista poderá atuar e ir, aos poucos, entrando em contato com o tema 
que no primeiro momento apresentava resistência. 
Sendo assim, prolonguei o aquecimento falando da importância da dramatização e de que eu 
respeitava a decisão dela de não querer fazer. Falei do que Moreno diz sobre a não ação já 
ser uma ação e sobre o fato de estarmos envolvidos mesmo quando pensamos que não 
estamos. Expliquei que a negativa e a resistência dela diziam muito do conflito e também da 
sua mudança de comportamento, uma vez que ela havia relatado que por muito tempo se 
anulou, agindo somente para agradar os outros. Nesse momento, Vitória declarou: "Tem vez 
que meu esposo e meus filhos ficam abismados comigo porque quando eu falo que não vou, 
eu não vou mesmo!" Intervi, ressaltando o cuidado que devemos ter com os extremos e de 
como algumas marcas podem nos tornar inflexíveis. E que temos a possibilidade de 
rematrizar essas marcas, basta compreendermos por que temos certos padrões de 
comportamento e recriarmos a nossa vida. Enquanto eu ia falando dessas coisas, percebeuse 
que Vitória foi relaxando e se aquietando na cadeira; o seu rosto foi, aos poucos, retornando 
a sua cor normal. Sugeri que ela refletisse bastante no que havíamos conversado, sobre 
resolver as questões à medida em que elas começarem a trazer desconforto. Ela balançou a 
cabeça positivamente, em silêncio e pensativa. 
Moreno ensina que não temos que ter uma só forma, pois as nossas diversas formas é que 
nos constitui. Ele fala que no psicodrama a resistência é sempre bem-vinda, pois é ela que 
traz a luz. Os nossos comportamentos que hoje nos incomodam, em algum momento foram 
necessários, portanto não precisamos ter pressa para arrancá-los de nós. É aos poucos que a 
mudança vai acontecendo, pois ela é um processo. 
5ª fase - Inversão de papéis - Imitação - Atualmente, Vitória ainda se encontra em 
acompanhamento médico. Há alguns meses, foi submetida a uma cirurgia de retirada do 
útero, como forma de prevenção. Está fazendo uso de uma medicação que terá que utilizar 
até junho de 2016 e, posteriormente, passará por novos exames que avaliarão o seu estado 
de saúde nesta questão. 
O recorte da história acima revela que Vitória não se encontra plenamente segura nem tem 
domínio total da situação, portanto, considero que ela ainda não alcançou a fase da Inversão 
de papéis. De acordo com Moreno, essa fase é caracterizada pela inovação, evolução, criação 
própria, segurança e total domínio. Moreno ensina que o afeto é a emoção básica presente 
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nessa fase e que o paciente necessita essencialmente de oportunidade, credibilidade e 
acompanhamento à distância. Portanto, segundo moreno, a conduta do terapeuta deve ser 
marcada pela liberdade. Ele deve apenas supervisionar e estimular o paciente a dar maiores 
passos, permitindo-lhe liberdade de ação, uma vez que esta fase requer pouca proteção/ 
limites reduzidos e grande liberdade. 
A técnica psicodramática apropriada para essa fase é a técnica da Inversão de papéis, que 
consiste

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