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Laís Kemelly - M13 DOR P1 Intermediária Introdução A dor ocorre sempre que os tecidos são lesionados, fazendo com que o indivíduo reaja para remover o estímulo doloroso. Dor = resposta à lesão tecidual Existem dois tipos de dor, cada uma com vias de condução e qualidades específicas. Dor rápida ↳ Não é sentida em tecidos mais profundos do corpo ↳ Caracterizada como: pontual, agulhada, aguda, elétrica Dor lenta ↳ Está associada à destruição tecidual, podendo atingir tanto a pele quanto tecidos mais profundos ↳ Caracterizada como: persistente, pulsátil, nauseante, crônica. Receptores e sua Estimulação Os receptores para a dor são terminações nervosas livres, também chamados de nociceptores. Três tipos de estímulos excitam esses receptores: • Mecânicos (r + l) • Térmicos (r + l) • Químicos (l) Algumas das substâncias que excitam o tipo químico de dor são: • Bradicinina • Serotonina • Histamina • Íons potássio (K+) • Ácidos • Acetilcolina • Enzimas proteolíticas Existem substâncias que não estimulam as terminações nervosas, mas aumentam sua sensibilidade. São elas: • Prostaglandinas • Substância P As substâncias que atuam no tipo químico de dor são importantes para a estimulação de dor lenta e persistente que ocorre após lesão tecidual. (Pensa, além do estímulo lesivo inicial existem substâncias que ampliam a resposta/transmissão desse estímulo) Diferentemente de outros receptores no corpo, os nociceptores não se adaptam ao estímulo. Enquanto o estímulo persistir, a excitação das fibras dolorosas fica progressivamente maior, aumentando sua sensibilidade. Isso é importante para que o indivíduo esteja ciente de que o estímulo lesivo continua presente. + estímulo → + excitação → + sensibilidade = HIPERALGESIA A bradicinina é a substância responsável pela indução da dor após dano tecidual. A intensidade da dor depende do aumento local na concentração de K+ e enzimas proteolíticas, que tornam as membranas nervosas mais permeáveis aos íons e atacam diretamente as terminações nervosas. Isquemia Tecidual Quando o fluxo sanguíneo para um tecido é interrompido, o tecido fica dolorido em instantes. • 15 – 20 segundos quando há contração muscular • 3 – 4 minutos quando não há atividade Fisiopatologia da Dor Laís Kemelly - M13 DOR P1 Intermediária A explicação para isso é o acúmulo de ácido lático associado à formação de bradicinina e enzimas proteolíticas derivadas do dano celular. Espasmo Muscular A dor derivada do espasmo pode ser explicada por dois efeitos: • Efeito direto: quando o espasmo estimula receptores para dor mecanossensíveis • Efeito indireto: quando o espasmo comprime vasos sanguíneos e leva à isquemia Além disso, o espasmo aumenta a intensidade do metabolismo do tecido muscular, contribuindo para o aumento da isquemia e criando condições favoráveis para a liberação de substâncias indutoras da dor. Antes de começar os próximos tópicos: existem duas vias pelas quais os sinais dolorosos podem ascender a partir da medula: • Trato neoespinotalâmico • Trato paleoespinotalâmico Outra coisa: os cornos dorsais da medula possuem lâminas de I a IX, que servem como uma delimitação para o local onde a fibra de condução do estímulo doloroso termina. • Fibras AD: lâmina marginal (lâmina I) • Fibras C: substância gelatinosa (lâminas III e IV) Caminho da Dor Rápida As fibras dolorosas do tipo AD terminam na lâmina marginal (lâmina 1) dos cornos dorsais, excitando os neurônios de segunda ordem do trato espinotalâmico. Esses neurônios de segunda ordem dão origem à fibras longas que cruzam para o lado oposto da medula através da comissura anterior e ascendem para o encéfalo nas colunas anterolaterais. Nervos periféricos → fibras AD → raízes espinhais dorsais → neurônios relé → cornos dorsais → trato neoespinotalâmico → comissura anterior → colunas anterolaterais. Para ascender em direção ao encéfalo, algumas fibras do trato neoespinotalâmico terminam nas áreas reticulares do tronco cerebral. A maioria, porém, segue até o tálamo sem interrupções, terminando no complexo ventrobasal. Algumas fibras terminam no grupo nuclear posterior do tálamo. A partir daí, os sinais são transmitidos para áreas basais do encéfalo e também para o córtex somatossensorial. Laís Kemelly - M13 DOR P1 Intermediária Nervos periféricos → fibras AD → raízes espinhais dorsais → neurônios relé → cornos dorsais → trato neoespinotalâmico → comissura anterior → colunas anterolaterais → complexo ventrobasal/grupo nuclear posterior do tálamo *→ encéfalo → córtex somatossensorial * = algumas fibras do trato neoespinotalâmico terminam nas áreas reticulares do tronco cerebral. O neurotransmissor secretado nas terminações nervosas para a dor rápida é o glutamato, um dos transmissores excitatórios do SNC. A atuação do glutamato é instantânea e dura alguns milissegundos. Caminho da Dor Lenta O trato paleoespinotalâmico transmite dor por fibras periféricas lentas do tipo C, apesar de também conduzir alguns sinais das fibras do tipo AD. As fibras periféricas do tipo C terminam na substância gelatinosa, correspondente às lâminas 2 e 3 dos cornos dorsais. Depois desse ponto, a maior parte dos sinais passa por um ou mais neurônios de fibra curta (ainda dentro dos cornos dorsais) até chegar à lâmina V. Os últimos neurônios que fazem essa conexão dão origem a axônios longos, que se unem às fibras da via de dor rápida, passando pela comissura anterior para o lado oposto da medula e em seguida pela via anterolateral, indo em direção ao encéfalo. Nervos periféricos → fibras C → substância gelatinosa → lâmina V → comissura anterior → via anterolateral Na dor lenta, existem dois neurotransmissores envolvidos: o glutamato e a substância P. A substância P é liberada de forma mais lenta que o glutamato, tendo sua concentração aumentada em período de segundos ou minutos. A atuação desses dois neurotransmissores justifica a “sensação dupla” da dor. O glutamato gera a reação rápida, imediata e a substância P é responsável pela sensação mais duradoura. A via paleoespinotalâmica termina de modo difuso no tronco cerebral. (veja que as setinhas saem de qualquer jeito, não tem um caminho específico). A partir dessas áreas do tronco cerebral, os neurônios de fibras curtas transmitem sinais ascendentes pelos núcleos intralaminar e ventrolateral do tálamo em direção a regiões do hipotálamo e outras regiões basais do encéfalo. As que ascendem até o tálamo podem terminar nas seguintes regiões basais do encéfalo: Por que a dor crônica é sentida de modo difuso? A transmissão do sinal das fibras não segue um caminho exato até o encéfalo, tem final difuso e pode ir para diversas áreas. Por esse motivo, a dor crônica não é tão específica regionalmente quanto a aguda. Laís Kemelly - M13 DOR P1 Intermediária 1. Núcleos reticulares do bulbo, da ponte e do mesencéfalo (tronco encefálico) 2. Área tectal do mesencéfalo 3. Região cinzenta periaquedutal, que circunda o arqueduto de Sylvius (imagem acima) Nervos periféricos → fibras C → substância gelatinosa → lâmina V → comissura anterior → via anterolateral → tronco cerebral → 1, 2 ou 3 A percepção da dor é de responsabilidade dos centros inferiores (formação reticular do tronco cerebral, do tálamo e outras regiões que causam a percepção consciente). A interpretação da qualidade da dor (aquelas perguntas que devem ser feitas na semiologia) é de responsabilidade do córtex.