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3 Curso EAD Estomatologia Definição Placa ou mancha, predominantemente branca, que não pode ser caracterizada clínica nem patologicamente como qualquer outra doença. Frequência Estima-se que a prevalência desta lesão oscile em torno de 1%. Fatores Etiológicos O principal fator de risco para a ocorrência de leucoplasia é o fumo, seguido das bebidas alcoólicas. A participação de outros fatores ainda permanece em discussão, não havendo consenso na literatura. Características Clínicas Perfil do paciente: • Gênero: predileção pelo gênero masculino. • Idade: a maioria das pessoas acometidas tem entre 40 e 60 anos, mas, às vezes, a lesão é observada em pacientes fora dessa faixa etária. • Fatores de exposição: as lesões são mais vistas em fumantes, mas não são exclusivas deste grupo populacional. Apresentação clínica das lesões: As leucoplasias são lesões assintomáticas que podem se apresentar de forma única ou múltipla e com tamanho bastante variável. Sua coloração é branca, de maior ou menor intensidade conforme sua espessura (lesões mais espessas são mais brancas) e podem combinar áreas vermelhas. Os limites das lesões podem ser bem demarcados ou imprecisos. A partir da análise das suas características clínicas, as leucoplasias podem ser classificadas como homogêneas e não- homogêneas. As leucoplasias homogêneas são uniformes em cor e textura. São predominantemente brancas e possuem textura suave, fina ou levemente enrugada. São a forma mais comum e menos agressiva da doença. Esse tipo de leucoplasia é mais frequente em gengiva e na mucosa jugal. As leucoplasias não-homogêneas apresentam superfície irregular ou verrucosa. Quando uma leucoplasia não-homogênea possuir áreas vermelhas, ela pode ser chamada de eritroleucoplasia, leucoplasia mosqueada ou leucoplasia salpicada. Essas lesões acometem mais ventre e borda de língua. As leucoplasias não homogêneas são mais preocupantes por dois motivos: 1. Na avaliação microscópica, costumam apresentar alterações arquiteturais e celulares mais graves, mostrando uma frequência maior de displasia epitelial ou até mesmo de carcinomas espinocelulares em estágio inicial; 2. Em geral tem comportamento mais agressivo, com maior frequência de transformação maligna ao longo do tempo. 4 Curso EAD Estomatologia Diagnóstico Caso os outros diagnósticos diferencias para lesões brancas da boca tenham sido descartados (Se houver necessidade, revise o módulo 3), o diagnóstico clínico é de leucoplasia. Toda lesão com este diagnóstico deve ser submetida a biópsia parcial, para que possamos verificar as alterações microscópicas presentes e descartar outras lesões que podem se apresentar como placas brancas, como o líquen plano e o carcinoma espinocelular nos seus estágios iniciais. Após o diagnóstico clínico de leucoplasia, é mandatória a realização de biópsia e exame histopatológico complementar. A área da biópsia deve incluir as regiões com aspecto clínico mais agressivo (superfície mais irregular ou área de coloração avermelhada). Características microscópicas O exame histopatológico permite classificar as lesões de acordo com os distúrbios de maturação epitelial presentes. Uma vez diagnosticada histopatologicamente, o profissional estará apto para decidir a terapêutica ideal para a lesão em questão. Do ponto de vista microscópico, as leucoplasias apresentam diferentes combinações de alterações morfológicas do tecido epitelial. Essas alterações resultam de distúrbios de maturação epitelial, ou seja, alterações nos processos de proliferação e diferenciação celulares. A maioria dessas alterações acaba levando ao aumento da espessura do tecido epitelial da mucosa bucal, o que explica o aparecimento de placas brancas do ponto de vista clínico, porque o tecido epitelial, opaco, “mascara” os vasos no tecido conjuntivo. As alterações morfológicas incluem hiperceratose (hiperortoceratose ou hiperparaceratose), hiperplasia epitelial, acantose e displasia epitelial, as quais podem ser observadas isoladamente ou em conjunto. Embora o objetivo do curso não seja discutir as alterações microscópicas em si, faremos breves comentários a respeito de cada uma delas para auxiliar na sua compreensão: • Hiperceratose: Aumento da espessura da camada de ceratina, que pode ser constituída de paraceratina (hiperparaceratose) ou ortoceratina (hiperortoceratose). Em geral, essa alteração é uma resposta adaptativa frente à agressão produzida por agentes externos. • Hiperplasia epitelial: aumento da espessura do tecido epitelial como um todo, devido ao aumento da proliferação epitelial. • Acantose: aumento da proliferação epitelial das células da camada espinhosa do epitélio, levando ao aumento da espessura epitelial e ao achatamento da interdigitação típica da interface epitélio-conjuntivo. • Displasia epitelial: a presença de displasia é definida a partir da identificação de alterações na forma de o epitélio se organizar (alterações arquiteturais) e nas células (alterações celulares), as quais foram definidas a partir da discussão entre patologistas experientes (Quadro 1). A displasia epitelial é considerada um sinal de maior agressividade, ou seja, maior risco de transformação. As lesões são classificadas em: displasia leve (menos de um terço da espessura epitelial envolvido pelas alterações), displasia moderada (até dois terços da espessura epitelial envolvidos pelas alterações), displasia severa (mais de dois terços da espessura epitelial envolvida pelas alterações) e carcinoma in situ (toda espessura epitelial envolvida pelas alterações). 5 Curso EAD Estomatologia ALTERAÇÕES ARQUITETURAIS ALTERAÇÕES CELULARES Estratificação epitelial irregular Variação anormal no tamanho nuclear (anisonucleose) Perda da polaridade das células da camada basal Variação anormal na forma nuclear (pleomorfis- mo nuclear) Papilas epiteliais em forma de gota Variação anormal no tamanho celular (anisocito- se) Aumento do número de mitoses Pleomorfismo celular Presença de mitoses na metade superficial do epitélio Aumento da proporção núcleo/citoplasma Ceratinização individual Aumento do tamanho nuclear Presença de pérolas de ceratina Mitoses atípicas Aumento do número e tamanho dos nucléolos Quadro 1: Alterações morfólogicas teciduais na displasia epitelial. Tratamento O tratamento tem o objetivo de prevenir a transformação maligna ou interceptar carcinomas espinocelulares o mais precocemente possível, podendo tratar por meio cirúrgico ou não-cirúrgico. O tratamento não-cirúrgico compreende a utilização de agentes farmacológicos (tópicos ou sistêmicos). Em geral, os resultados variam de paciente para paciente e as lesões geralmente reaparecem quando o uso dos medicamentos é suspenso. O tratamento cirúrgico inclui o uso de laser (remoção com laser de dióxido de carbono), a crioterapia (remoção da lesão com aplicação de nitrogênio líquido) e cirurgia convencional (remoção cirúrgica com bisturi), sendo o último o mais utilizado. O tratamento de escolha vai ser influenciado pelas características microscópicas presentes na lesão: • Leucoplasia sem displasia epitelial: Se possível, remover toda a lesão, mas esse procedimento não é considerado obrigatório. Submeter o paciente a controle clínico periódico, com realização de consultas de revisão a cada 6 meses. • Leucoplasia com displasia epitelial: Remoção total da lesão e controle clínico periódico, com realização de consultas de revisão a cada 3 meses até completar 2 anos. Se, após este período, não houver mudanças negativas (ver explicação abaixo) na evolução da doença, aumentar o intervalo das consultas para 6 meses. Prognóstico Algumas características têm sido consideradas como “marcadoras de maior risco de transformação maligna”, dentre elas: • Localização: lesões localizadas em língua e assoalho de boca. • Tamanho: maior do que 2cm em extensão (para lesões múltiplas, considera-se a soma dos maiores diâmetros das lesões). • Tipo clínico: lesões nãohomogêneas. • Alterações microscópicas: lesões em que houver displasia epitelial. 6 Curso EAD Estomatologia O que observar nas consultas de revisão/reavaliação? No que diz respeito à evolução das leucoplasias, as lesões, ao longo do tempo, podem mostrar mudanças positivas/melhora (+) ou negativas/piora (-): (a) Quando removidas totalmente: • sem surgimento de novas lesões (+) • recorrência de lesão no local de onde a lesão foi removida (-) • aparecimento de lesões onde antes não havia lesão (-) (b) Quando removidas parcialmente (removeu um fragmento no momento da biópsia e a lesão remanescente foi mantida): • permanecer do mesmo tamanho e aspecto por toda a vida do paciente (+) • aumentar (-) ou reduzir (+) de tamanho • desaparecer completamente (+) • mudar o tipo clínico de homogênea para não homogênea (-) ou o contrário (+). Sempre que houver mudanças negativas, está indicada realização de nova biópsia para verificar se houve agravamento das características microscópicas, como surgimento de displasia epitelial, piora do grau de displasia ou mesmo transformação maligna. Considerações Finais: • O paciente com leucoplasia deve ser orientado a respeito do risco de transformação maligna; • Todos pacientes expostos a fumo e álcool devem ser orientados a respeito da importância da cessação dos hábitos, a fim de reduzir o risco de transformação maligna; • Pacientes com lesões múltiplas geralmente serão submetidos a biópsias múltiplas, visando o estabelecimento do diagnóstico • Pacientes com lesões múltiplas ou grandes podem ser submetidos a vários procedimentos cirúrgicos visando o tratamento com menor número de sequelas. 7 Curso EAD Estomatologia A – Placa branca na borda lateral da língua (Leucoplasia homogênea). O exame histológico mostrou displasia epitelial leve. B- Placa branca em borda/ventre de língua (leucoplasia homogênea). O exame histológico mostrou carcinoma in situ. C – Placa discreta no assoalho bucal. Exame microscópico: hiperceratose com displasia epitelial. D – Leucoplasia não-homogênea na região retromolar com superfície irregular e áreas papilares (que lembram “couve-flor”), misturando áreas vermelhas. O tamanho (>2cm) e o aspecto não homogêneo são preocupantes com relação ao maior risco/maior agressividade da lesão. Exame microscópico mostrou se tratar de carcinoma espinocelular. E- Leucoplasia homogênea discreta (delgada) na mucosa juvgal. Exame histopatológico: carcinoma espinocelular em estágio inicial. F – Quando áreas proliferativas/nodulares são vistas em associação com as placas brancas, existe grande chance de se tratar de carcinoma espinocelular. Exame microscópico mostrou tratar-se de carcinoma verrucoso, um subtipo de carcinoma espinocelular. Fonte: Chi et al (2015). A B D F C E Painel de imagens – Leucoplasias 8 Curso EAD Estomatologia A – Placa branca em ventre de língua (Leucoplasia homogênea). B – Leucoplasia não-homogênea (leucoeritroplasia) em ventre de língua. C- Leucoplasia não homogênea (superfície irregular/nodular) na região de retrocomissura. D – Leucoplasia homogênea, embora espessa localizada em ventre de língua e assoalho bucal. Em E e F, observa-se caso de evolução ruim devido a mudança negativa. O paciente recebeu o diagnóstico de displasia epitelial após a biópsia, negou-se a realizar o atendimento e só retornou para acompanhamento 12 anos depois, quando a lesão já havia mudado o seu aspecto clínico, tornando-se uma lesão proliferativa em função da transformação maligna, a qual foi confirmada com biópsia e exame histopatológico. Fonte: A, B, C, E e F – van der Waal (2015), D – Neville et al (2009). A B D F C E Painel de imagens – Leucoplasias 9 Curso EAD Estomatologia Referências Brennan M, et al. Management of oral epithelial dysplasia: a review. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod., S19, p.e1-12., 2007. Chi AC, et al. Oral cavity and oropharyngeal squamous cell carcinoma--an update. CA Cancer J Clin., v.65, no.5, p.401-21, 2015. Holmstrup P, et al. Long-term treatment outcome of oral premalignant lesions. Oral Oncol., v.42, no.5, p.461-74, 2006. van der Waal I. Oral leukoplakia, the ongoing discussion on definition and terminology. Med Oral Patol Oral Cir Bucal., v.20, no.6, p.e685-92, 2015. Williams PM, et al. Evaluation of a suspicious oral mucosal lesion. J Can Dent Assoc., v.74, no.3, p.275-80, 2008. 10 Curso EAD Estomatologia TelessaúdeRS-UFRGS Coordenação Geral Roberto Nunes Umpierre Marcelo Rodrigues Gonçalves Gerência de Projetos Ana Célia da Silva Siqueira Coordenação Executiva Rodolfo Souza da Silva Coordenação do curso Vinicius Coelho Carrard Coordenação da Teleducação Ana Paula Borngräber Corrêa Conteudistas do Curso Manoela Domingues Martins Marco Antonio Trevizani Martins Vinicius Coelho Carrard Vivian Petersen Wagner Conteudistas do Objeto Virtual de Aprendizagem Renata de Almeida Zieger Fernando Neves Hugo Stefanie Thieme Perotto Karla Frichembruder Vinicius Coelho Carrard Manoela Domingues Martins Marco Antônio Trevizani Martins Revisores Bianca Dutra Guzenski Michelle Roxo Gonçalves Otávio Pereira D’Avila Thiago Tomazetti Casotti A Equipe de coordenação, suporte e acompanhamento do Curso é formada por integrantes do Núcleo de TelessaúdeRS do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS/UFRGS) e do Programa Nacional de Telessaúde Brasil Redes. Diagramação e Ilustração Carolyne Vasquez Cabral Angélica Dias Pinheiro Iasmine Paim Nique da Silva Lorenzo Costa Kupstaitis Projeto Gráfico Iasmine Paim Nique da Silva Lorenzo Costa Kupstaitis Luiz Felipe Telles Design do Objeto Virtual de Aprendizagem Lorenzo Costa Kupstaitis Matheus Lima dos Santos Garay Edição/Filmagem/Animação Diego Santos Madia Rafael Martins Alves Bruno Tavares Rocha Luís Gustavo Ruwer da Silva Divulgação Camila Hofstetter Camini Jovana Dullius Design Instrucional Ana Paula Borngräber Corrêa Equipe de Teleducação Angélica Dias Pinheiro Ylana Elias Rodrigues Equipe Responsável: Dúvidas e informações sobre o curso Site: www.telessauders.ufrgs.br E-mail: ead@telessauders.ufrgs.br Telefone: 51 33082098
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