Buscar

ATENDIMENTO INICIAL AO GRANDE QUEIMADO


Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

407.9 – ATENDIMENTO INICIAL AO GRANDE QUEIMADO 
 
Condutas no Paciente Grave – Elias Knobel. 4ª edição, 2016. 
ATLS 9ª edição, 2012. 
Cartilha para Atendimento de Emergência das Queimaduras – Min. da Saúde, 2012. 
Introdução 
● Queimadura: lesão tecidual decorrente de trauma térmico, elétrico, 
químico ou radioativo, que destrói parcialmente ou totalmente a pele e 
seus anexos, podendo alcançar camadas mais profundas, como o tecido 
celular subcutâneo, músculos, tendões e ossos. 
● Dentro do espectro das lesões traumáticas, é o paciente que sofre o 
maior estresse da terapia intensiva. 
● Diferente das outras lesões traumáticas, podemos quantificar 
proporcionalmente à superfície corpórea queimada. 
● EUA​: 02 milhões de pacientes/ano são acometidos, resultando em 100 
mil hospitalizações e 05 mil óbitos, principalmente nos extremos etários. 
● Brasil (2017): 01 milhão de incidentes por queimaduras ao ano, sendo 
que 100 mil pacientes buscaram atendimento hospitalar e, destes, cerca 
de 2.500 pacientes irão a óbito direta ou indiretamente em função de 
suas lesões. 
● Ultimamente vemos uma acentuada queda na mortalidade devida a uma 
abordagem cirúrgica mais agressiva, a uma estratégia de manejo 
multiprofissional, conjunto avanços na reposição volêmica + controle de 
infecção + suporte nutricional da resposta hipermetabólica. 
● Resposta hipermetabólica é a grande responsável pela 
morbimortalidade ao potencializar riscos de infecção, deprimir taxa de 
cicatrização e alterar funções celulares e imunológicas. 
Classificação 
Existem aspectos que devem ser levados em consideração na hora de 
classificar uma queimadura e que ajudarão na escolha do tratamento e 
determinarão a gravidade do caso. São eles: 
● Agente causal: 
o Escaldo: causa mais frequente; tende a ser mais grave nas 
regiões com roupas (líquido em contato por mais tempo) e com 
líquidos mais espessos (sopas, óleos, etc). 
o Chama: segunda causa mais frequente; quando atinge 
vestimentas, geralmente causa queimaduras mais profundas. 
o Flash burn: as explosões atingem temperaturas muito elevadas, 
causando queimaduras profundas; as roupas, quando não 
incendeiam, conferem boa proteção. 
o Contato: metais, plásticos e carvão, tende a ser restrito a 
pequenas áreas, mas profundas. 
o Queimaduras elétricas: alta intensidade de calor e da explosão 
das membranas celulares (diretamente proporcional à 
amperagem da corrente). Apesar da aparência da lesão da pele 
ser restrita, há grande destruição das estruturas abaixo e na 
proximidade. Requerem atenta monitorização cardíaca (arritmias) 
e urinária (acidose e mioglobinúria). 
o Queimaduras químicas: causadas mais frequentemente por 
ácidos ou bases em acidentes de trabalho; originam lesão 
progressiva até o agente ser totalmente removido, 
preferencialmente por água em abundância. Consideradas lesões 
profundas até que se prove o contrário. 
● Extensão da área corporal queimada (ACQ): 
Existem diversos métodos para avaliar a extensão comprometida; o 
mais sensível é o esquema de Lund-Browder (fig. 210.1). Pode-se 
também usar a palma da mão do paciente, que corresponde a 1% da 
superfície corpórea. Pode-se usar a regra dos “nove”, que apresenta 
grande variação em função da idade do paciente, sendo fácil de 
confundir, mas é o mais prático e, por isso, utilizado. ACQ > 20% 
caracteriza uma grande queimadura. 
 
 
● Profundidade da queimadura: ​as queimaduras podem ser 
classificadas; com essa classificação, determina-se o tratamento. 
o 1º grau (superficial): queimadura solar. Caracterizadas por 
eritema, dor e ausência de bolhas. 
o 2º grau superficial (espessura parcial)​: aparência vermelha ou 
mosqueada, presença de edema e bolhas. Hipersensível à dor 
intensa e à correntes de ar. 
o 2º grau profundo (espessura parcial)​: presença de bolhas. Pele 
branca, rosada e aparência “lacrimejante” ou úmida. 
o 3º grau (espessura total): pele escura, aparência de couro, pode 
apresentar-se translúcida ou com aspecto de cera. Superfície 
indolor, geralmente seca. 
o 4º grau:​ acometimento de estruturas profundas. 
 
O termo ​grande queimado é usado para designar vítimas de queimaduras 
graves. Muitos serviços em nosso país empregam o termo para toda a vítima 
de queimadura que necessita de atendimento em UTQs. Por outro lado, a 
American Burn Association define uma grande queimadura quando 
observamos qualquer um dos seguintes: 
● Envolvimento maior ou igual a 25% de ACQ em faixa etária de 10 a 40 
anos; 
● Envolvimento maior ou igual a 20% de ACQ em crianças com menos de 
dez anos ou em adultos com mais de 40 anos; 
● Envolvimento de 10% ou mais de ACQ em queimaduras de terceiro 
grau; 
● Qualquer queimadura envolvendo olhos, ouvidos, face, mãos, pés ou 
períneo que resulte em comprometimento funcional; 
● Queimaduras elétricas de alta voltagem; 
● Toda queimadura complicada por trauma grave ou lesão por inalação; 
● Todos os pacientes queimados que apresentam comorbidades graves. 
CRITÉRIOS PARA TRANSFERÊNCIA PARA CENTRO DE QUEIMADOS 
1. Queimadura espessura parcial e total (2º e 3º graus) comprometendo > 
10% ASC em qualquer doente. 
2. Queimaduras de espessura parcial e total (2º e 3º graus) envolvendo 
face, olhos, ouvidos, mãos, pés, genitália, períneo ou comprometendo a 
pele sobre as principais articulações. 
3. Queimaduras de espessura total (3º grau) em qualquer extensão ou 
grupo etário 
4. Queimaduras elétricas graves, incluindo raios 
5. Queimaduras químicas importantes 
6. Lesão por inalação 
7. Doentes com comorbidades prévias que podem complicar atendimento 
8. Trauma concomitante ​9. Crianças com queimaduras ​10. Necessidade 
de suporte especial, como social, emocional, reabilitação prolongada, 
suspeita de negligência ou abuso em crianças. 
Fisiopatologia 
AUMENTO DA PERMEABILIDADE CAPILAR 
● A queimadura contribui para inflamação local e sistêmica 
● Ao redor da lesão (​zona de coagulação​), há uma ​zona de isquemia 
cuja vasculatura está comprometida. 
● Lesões complementares como hipoperfusão, hipóxia ou infecção podem 
converter essa área marginal viável em tecido morto. 
● A zona de isquemia é circundada por tecido inflamatório (​zona de 
hiperemia​), responsável pela liberação de inúmeros mediadores 
(citocinas, cininas, histamina, tromboxano e radicais livres) que 
aumentam a permeabilidade localmente e à distância. 
● Estabelece-se uma resposta inflamatória sistêmica, com resultante 
perda de fluidos ricos em proteína do intravascular para o extravascular. 
● A hipovolemia soma-se à depressão miocárdica (provável ação de 
citocinas), o que contribui para uma instabilidade hemodinâmica inicial, 
que se reverte a partir do 2º dia de reposição volêmica agressiva. 
HIPERMETABOLISMO 
É uma recomendação que, no manejo do queimado, a nutrição enteral (por 
sonda) deva ser iniciada dentro de 24 horas do trauma e utilizada 
preferencialmente em relação ao suporte parenteral sempre que possível. Uma 
relação caloria/nitrogênio de 110:1 deve ser empregada em todo paciente com 
queimaduras de mais de 20% de sua superfície corpórea. A resposta 
metabólica ao trauma pode ser descrita em duas fases 
● Fase ​ebb ​(vazante​)​: caracterizada pela perda de volume plasmático, 
choque, diminuição da insulina sérica, do consumo de oxigênio, da 
temperatura corpórea, do gasto energético basal e do débito cardíaco.Após a ​ressuscitação​, evolui-se para a seguinte fase; 
● Fase ​flow ​(fluxo): ​a transição para essa fase é dominada por alterações 
hormonais. Há um incremento nos hormônios catabólicos, como 
catecolaminas, glicocorticoides e glucagon. Há aumento do débito 
cardíaco e da temperatura corpórea, maior consumo energético, 
proteólise acelerada e gliconeogênese. São causas de 
hipermetabolismo nessa fase: 
 
O pico de demanda energética em pacientes queimados acontece por volta do 
10º dia pós-trauma e retorna gradativamente ao normal com a reepitelização e 
enxertia, se não houver episódios de infecção e falência de múltiplos órgãos. 
Alguns autores utilizam betabloqueador para reduzir atividade beta-adrenérgica 
em pacientes gravemente queimados, a fim de diminuir o gasto energético 
basal e o catabolismo proteico de seus organismos, mas ainda não há 
consenso sobre essa conduta. 
RESPOSTA IMUNE 
Após a queimadura, ocorre rápida ativação das cascatas do ácido aracdônico e 
de citocinas, com translocação bacteriana e de endotoxinas. Com 24 a 48 
horas de trauma, ocorrem as maiores alterações metabólicas, hormonais e 
celulares, com o 2º pico de endotoxemia ocorrendo depois de 03 a 04 dias. 
Ocorre: 
● Déficit das imunidades celular e humoral, 
● Diminuição da função de linfócitos T, 
● Disfunção dos neutrófilos, 
● Diminuição da capacidade bactericida, 
● Alteração de receptores de membrana e 
● Diminuição da IgG sérica. 
Até o momento, não há nenhuma terapêutica ​direta​, de custo aceitável e 
eficiente que diminua as alterações imunológicas. A mais efetiva permanece a 
remoção precoce das escaras e a cobertura cutânea definitiva precoce. 
Condutas iniciais 
AVALIAÇÃO DO DOENTE QUEIMADO 
● História​: 
o Circunstâncias em que ocorreu a lesão; 
o Momento em que ocorreu a queimadura; 
o Doenças preexistentes, uso de medicamentos, alergias e 
vacinação contra tétano; 
o Avaliar compatibilidade da história e das lesões – atenção a 
abusos 
● Exame físico: 
o Área corporal queimada (ACQ): regra dos nove. 
o Profundidade da queimadura​. 
 
 
INTERRUPÇÃO DO PROCESSO DE QUEIMADURA 
● Toda roupa deve ser removida para interromper o processo de 
queimadura; roupa aderida à pele não deve ser arrancada. 
● Todo adorno deve ser retirado do doente para prevenir constrição por 
edema. 
● Pó químico (seco) deve ser removido com cuidado pelo socorrista. 
● A superfície corporal deve ser enxaguada com água corrente 
copiosamente. 
● O doente deve ser coberto com lençóis quentes, limpos e secos para 
evitar hipotermia. 
A: VIA AÉREA 
Queimaduras podem causar grande edema e, por isso, a via aérea superior 
está em risco de obstrução. 
Fatores de risco para obstrução de vias aéreas​: profundidade e extensão de 
queimaduras maiores, queimaduras na cabeça e na face, lesões inalatórias e 
queimaduras no interior da boca. 
Podem indicar lesão por inalação​: presença de queimaduras de face e 
pescoço, dos cílios e de vibrissas nasais, depósito de carbono na boca, 
eliminação de escarro carbonáceo, inflamação aguda na orofaringe, rouquidão, 
história de confusão mental ou confinamento em incêndio, SatO​2 < 90%,níveis 
de carboxihemoglobina > 10% doente envolvido em um incêndio. 
A presença de qualquer um desses achados sugere lesão inalatória aguda; 
indica transferência para um centro de queimados e necessita de intubação 
orotraqueal. Quando será feita precocemente? 
● Se o tempo de transporte for prolongado; 
● Presença de estridor é tardia, indica intubação imediata; 
● Queimaduras circunferenciais do pescoço, pois podem gerar edema. 
Sinais e sintomas iniciais da inalação de fumaça (podem ser sutis e não 
aparecem nas primeiras 24 horas): taquipneia, tosse, dispneia, broncoespasmo 
e estridor. 
B: VENTILAÇÃO 
Lesão direta da via aérea inferior é rara e geralmente está associada à inalação 
de vapor superaquecido ou de gases inflamáveis. 
Preocupações com a ventilação estão relacionadas com três situações: 
hipóxia, intoxicação por monóxido de carbono e lesão por inalação de fumaça. 
HIPÓXIA: lesão inalatória, ventilação inadequada por queimaduras 
circunferenciais em tórax, lesões traumáticas torácicas. Deve-se administrar 
oxigênio suplementar com ou sem intubação. 
LESÃO POR INALAÇÃO DE FUMAÇA: exposição a um agente combustível e 
sinais de exposição à fumaça na via aérea inferior (broncoscopia). Realizar 
radiografia simples de tórax e gasometria arterial. Excluídas lesões de coluna, 
elevar a cabeça e tórax do paciente em 30º (​auxilia na redução do edema do 
pescoço e da parede torácica​). 
EXPOSIÇÃO A MONÓXIDO DE CARBONO: ​suspeitar em doentes queimados 
em ambientes fechados. A afinidade da hemoglobina ao CO é 200 a 250 vezes 
maior que a afinidade ao O​2​. Sintomas podem se desenvolver de 02 até 28 dias 
da intoxicação. 
 
 
Caso queimadura de terceiro grau das paredes anterior e posterior de tórax 
produzam restrição importante da sua movimentação, escarotomia pode ser 
necessária. 
 
 
C: CIRCULAÇÃO 
ACESSOS VENOSOS 
Qualquer doente queimado necessita de reposição de volume. Devem-se 
estabelecer imediatamente acessos venosos com cateter de grosso calibre 
introduzido em veia periférica, mesmo que não haja pele íntegra. 
Preferencialmente em membros superiores (alta incidência de flebite nas veias 
safenas). Iniciar infusão com cristaloide isotônico (preferencialmente Ringer 
lactato). 
REPOSIÇÃO VOLÊMICA 
O volume de líquido extravasado do espaço intravascular é extremamente 
elevado sempre que a queimadura atinge mais de 15% da superfície corpórea 
(SC). Essa perda se instala rapidamente e é constituída basicamente de água 
livre. Há perda de proteínas apenas após as primeiras oito horas de evolução e 
quando a queimadura é maior que 15% da SC. 
A reposição volêmica é um fator crítico para o tratamento do grande queimado. 
É necessário para atingir dois objetivos principais: ​dar o mínimo de volume 
necessário para manter a perfusão dos órgãos e repor a perda de sal 
extracelular​. Os esquemas para reposição podem ser divididos em função da 
solução utilizada: 
 
No Hospital Albert Einstein, o esquema é constituído por administração de 
Ringer Lactato, 02 a 04 mL/kg/% ACQ ao longo de 24 horas. Metade desse 
volume deve ser infundida em 08 horas e o restante em 16 horas. Obrigatória 
sondagem vesical. 
● A solução deve ser aquecida para evitar hipotermia. 
● É importante entender que qualquer fórmula de reposição fornece 
apenas uma estimativa da necessidade inicial. Após essa quantidade 
inicial, o volume de líquido oferecido deve ser ajustado com base no 
débito urinário de 0,5 mL/kg/h em adultos e 1 mL/kg/h para crianças 
com menos de 30 kg. 
● Devem ser monitorizados os níveis de lactato, creatinina sérica, pH e 
eletrólitos. 
● Administração de coloides apenas para ​> 30% ACQ no 2º dia de 
evolução e/ou quando a albumina sérica for inferior a 02 g/dL (0,3 a 0,5 
mL/kg/% ACQ). 
 
Possíveis efeitos da reposição excessiva: 
● Redução na oferta de oxigênio aos tecidos; 
● Hipertensão e edema pulmonar; 
● Obstrução de vias aéreas; 
● Maior rigidez da caixa torácica e maior trabalho respiratório; 
● Menor mobilidade e síndrome compartimental nos membros; 
● Retardo na cicatrização e menor resultado estético nas escarotomias; 
● Maior possibilidade de sepse cutânea.Deve-se sempre lembrar que 
esses potenciais efeitos danosos são muito menos significativos que a 
reposição volêmica insuficiente; esta sim é indutora de taxas elevadas 
de morbimortalidade. 
Perdas de líquido resultantes de fatores associados à queimadura 
frequentemente são subestimadas. A lesão pulmonar associada à inalação de 
gases aquecidos ou tóxicos determina perdas líquidas adicionais muito 
grandes, assim como queimaduras elétricas extensas. Alguns trabalhos 
inclusive mostram que a perda pulmonar pode ser maior que a determinada 
pela queimadura da pele. Infusões adicionais devem ser feitas na presença de 
lesão pulmonar, em danos teciduais extensos e na redução do emprego de 
drogas vasoativas. 
Condutas secundárias 
MONITORIZAÇÃO HEMODINÂMICA 
As principais variáveis a serem monitorizadas nestes pacientes incluem: 
● Pressão arterial média; 
● Pressões de enchimento cardíacas [pressão venosa central (PVC) e 
pressão de oclusão da artéria pulmonar (POAP)]; 
● Débito cardíaco (DC); 
● Saturação venosa mista de oxigênio (SvO​2​); 
● Lactato sérico; 
● Gradientes de CO​2​. 
Adequação da volemia: infundem-se 500 mL de SF a 0,9% a cada 30 
minutos, e observam-se essas duas variáveis. Quando incrementos adicionais 
da pressão de oclusão da artéria pulmonar (POAP) não implicarem aumentos 
do DC, pode-se considerar, a princípio, finalizada a reposição volêmica (Lei de 
Frank-Starling). Se hipotenso após adequada reposição, utilizar drogas 
vasoativas. 
A principal falha conceitual nos esquemas de hidratação ​é não empregar 
como meta terapêutica um índice adequado de oxigenação tecidual​. Ao 
hidratar esse paciente, pretende-se ​otimizar a oferta de oxigênio à demanda 
metabólica dos tecidos queimados e íntegros. A normalização de parâmetros 
clínicos são indicadores do sucesso inicial na ressuscitação volêmica, mas as 
metas terapêuticas finais devem ser os parâmetros de oxigenação ​globais e 
regionais. 
 
Análise de distribuição de fluxo e da oxigenação tecidual​: as variáveis 
utilizadas para tal são DC, saturação venosa mista de oxigênio (SvO​2​), lactato 
sérico e gradientes de CO​2​, sempre analisadas à luz de alterações do DC. 
Sempre que instituir alguma terapêutica que aumente DC, observar SvO​2​: 
● Inalterada​: aumento do consumo de O​2​. 
o Queda do lactato sérico e do gradiente venoarterial de CO​2 
houve diminuição da hipóxia tecidual. 
o Manutenção do lactato sérico e do gradiente venoarterial de 
CO​2 ​DC não está adequado à demanda metabólica ou pode 
haver hipóxia citopática secundária à presença de mediadores 
inflamatórios. 
EXAMES COMPLEMENTARES 
● Hemograma 
● Tipagem sanguínea 
● Provas cruzadas 
● Carboxi-hemoglobina 
● Glicemia 
● Eletrólitos 
● Teste de gravidez (mulheres em idade fértil) 
● Gasometria arterial 
● Dosagem de HbCO 
● Radiografia de tórax (intubados, suspeita de lesão por inalação e lesões 
associadas). 
MANUTENÇÃO DA CIRCULAÇÃO PERIFÉRICA EM QUEIMADURAS 
CIRCUNFERENCIAIS DE EXTREMIDADES 
A avaliação da circulação periférica no doente queimado visa excluir a 
síndrome compartimental. Causada pelo aumento da pressão dentro do 
compartimento muscular, interferindo na perfusão da musculatura. Apesar de 
precisar de uma pressão maior que a PAS para perder o pulso distal, pressão > 
30 mmHg pode causar necrose do músculo. Sinais de síndrome 
compartimental: 
● Piora da dor com movimentação passiva; 
● Tensão do membro; 
● Dormência; 
● Eventualmente, ausência de pulso. 
A dificuldade circulatória advinda de queimadura circunferencial pode ser 
aliviada por ​escarotomia (não costuma ser necessária nas primeiras 06 horas 
após queimadura). ​Fasciotomia raramente necessária, exceto em trauma 
ósseo associado, lesões por esmagamento, lesão elétrica de alta voltagem ou 
queimaduras acometendo tecido abaixo da aponeurose. 
SONDAGEM GÁSTRICA 
Colocada e mantida em sucção se apresentar náusea, vômito, distensão 
abdominal, ACQ > 20%. 
NARCÓTICOS, ANALGÉSICOS E SEDATIVOS 
O paciente queimado pode estar ansioso e agitado devido à hipoxemia ou à 
hipovolemia mais do que à dor. Responde melhor ao oxigênio e reposição 
volêmica do que a analgésicos, narcóticos e sedativos. Estes devem ser 
administrados em doses pequenas e frequentes, somente por via IV. 
A avaliação da dor deve ser contínua e, de preferência, usando o mesmo 
método. Devem ser excluídos deste esquema aqueles com ACQ > 60%, 
crianças menores de 12 anos ou com insuficiência respiratória ou septicemia. 
 
NUTRIÇÃO 
A avaliação de risco nutricional deve ser realizada na admissão. O estado 
nutricional e os riscos de depleção deverão ser considerados para a 
determinação do plano de cuidados, do tipo de terapia nutricional a ser 
empregada e da monitorização do paciente. 
 
 
LESÕES ESPECÍFICAS 
QUEIMADURAS QUÍMICAS: retirar causador, irrigar com água corrente em 
abundância, por, no mínimo, 20 a 30 minutos. 
QUEIMADURAS ELÉTRICAS: maior investigação de órgãos internos, 
monitorização eletrocardiográfica (arritmias na primeira hora pós-lesão), lesões 
musculoesqueléticas, rabdomiólise. 
LESÕES POR FRIO 
Crestadura ou frostnip​: mais leve, dor, palidez, diminuição da sensibilidade. É 
reversível por aquecimento e não resulta em perdas teciduais. 
Congelamento​: formação de cristais de gelo dentro das células e por oclusão 
microvascular que resulta em anóxia tecidual. ​Primeiro grau​: hiperemia e 
edema sem necrose. ​Segundo grau​: vesículas grandes e conteúdo claro 
acompanha hiperemia, edema, há necrose parcial da pele. ​Terceiro grau​: 
necrose espessura total, vesículas conteúdo hemorrágico. ​Quarto grau​: inclui 
necrose muscular e óssea com gangrena. 
Lesão não congelante​: comprometimento do endotélio microvascular, estase e 
oclusão vascular. Alternância vasoespasmo e vasodilatação arterial. Podem 
surgir complicações locais como celulite, linfangite, gangrena. 
Tratamento: ​colocar a parte afetada em água quente circulante 40ºC, até que 
ocorram perfusão e coloração rosada (20 a 30 min). Ingestão de líquidos 
quentes. Analgésicos e monitorização cardíaca durante o reaquecimento. 
Profilaxia antitetânica caso necessário. 
CIRURGIA 
A identificação das queimaduras de 2º grau profundo e de 3º grau, seguidas de 
sua excisão e cobertura definitiva (enxertia de pele), afetou dramaticamente o 
prognóstico dos pacientes vítimas de grandes queimaduras. ​Tem como 
principal objetivo restabelecer o isolamento do meio externo do interno, 
definitiva ou temporariamente, e evitar infecções​. Dessa forma, diminui-se a 
mortalidade, colonização da ferida, incidência de sepse e resposta inflamatória 
sistêmica. 
● Limpeza cirúrgica simples: ​realizada em todos os pacientes, desde a 
admissão até o último curativo. Clorexidina degermante a 0,5%, retirada 
com SF aquecida a 36ºC. 
● Desbridamento cirúrgico e escarectomias: após lavagem, realiza-se 
o desbridamento de tecidos como bolhas, restos dérmicos, necroses e 
escaras. Escarectomia é a retirada de toda a necrose tecidual com o 
propósito de se obter um tecido viável para a colocação de cobertura 
definitiva. Indicada em queimaduras de 2º e 3º grau. Deve ser realizada 
com paciente hemodinamicamente estável, em até 72 horas após 
queimadura. 
● Escarotomias descompressivas: queimaduras de 2º e 3º grau emmembros, pescoço ou tórax pode levar à diminuição da perfusão dos 
membros e da cabeça e restrição ventilatória com insuficiência 
respiratória restritiva. A causa é o edema da região associado à perda 
da elasticidade da pele queimada e até mesmo contração da pele em 
queimaduras profundas. 
● Enxertia de pele: lâmina de pele parcial ou total, completamente 
separada de sua origem e que depende do desenvolvimento de um 
suprimento sanguíneo e de um processo biológico com mecanismos 
celulares e mediadores químicos para se integrar. Autógena (retirado do 
próprio paciente), a enxertia pode ser em lâmina ou enxerto expandido. 
ASSISTÊNCIA FISIOTERÁPICA E TERAPÊUTICA OCUPACIONAL 
Os objetivos gerais são a prevenção de contraturas, as deformidades e as 
aderências cicatriciais, manutenção da função respiratória, a amplitude de 
movimento articular e força muscular, o restabelecimento de capacidade 
cardiovascular e independência nas atividades de vida diária. 
Complicações clínicas 
INFECÇÃO 
Principal causa de mortalidade do grande queimado. Acontece devido à quebra 
da barreira cutânea decorrente da necrose tecidual (quanto maior a ACQ, 
maior a propensão à infecção) e o uso de dispositivos invasivos para 
administrar medicamentos, monitorizar o paciente e cateterização vesical. 
Muito comum pneumonia associada à ventilação mecânica nas UTQ. 
 
Para prevenção de infecção, enfatizar a antissepsia das mãos com gel 
alcoólico ou clorexidina degermante, uma vez que muitos pacientes precisam 
de cuidados de equipe multidisciplinar. O paciente grande queimado deve ficar 
em quarto privativo, em isolamento de contato. 
Antibioticoterapia sistêmica profilática: evitar bacteremia após manipulação 
cirúrgica (cefalosporina de 1ª ou de 2ª). Pomada se infecção. 
De fundamental importância é o desbridamento cirúrgico, que remove as áreas 
desvitalizadas e, com isso, permite melhor ação da terapia antimicrobiana. 
 
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA 
Complicações respiratórias acontecem em aproximadamente um terço dos 
pacientes que sofrem grandes queimaduras, estando relacionadas com a 
maioria das mortes. Também pode ocorrer secundariamente à inalação de 
fumaça, independentemente de haver lesões externas. 
Sinais e sintomas de suspeita de intoxicação por gás cianídrico​: convulsão, 
depressão respiratória e acidose metabólica persistente. 
Intubação​: queimaduras extensas, queimaduras envolvendo face e pescoço e 
na suspeita de lesão inalatória. 
INTOXICAÇÃO POR MONÓXIDO DE CARBONO 
A afinidade da hemoglobina ao CO é 200 a 250 vezes maior que a afinidade ao 
O​2​. Sintomas podem se desenvolver de 02 até 28 dias da intoxicação. 
 
DELIRIUM 
As síndromes psiquiátricas agudas após queimadura incluem ​delirium por 
abstinência às drogas, encefalopatia do queimado, dor aguda, síndrome 
pós-trauma. O objetivo do tratamento de ​delirium consiste na diminuição das 
alterações cognitivas, estresse subjetivo, minimizar risco de interrupção de 
suporte de vida pela agitação (acesso venoso, tubo orotraqueal), 
comprometimento da enxertia de pele. Importante descobrir a etiologia: hipóxia, 
convulsões, hipoglicemia, TCE, etc.). 
 
INJÚRIA RENAL AGUDA 
Pode se desenvolver nos pacientes que apresentam extensas áreas de 
queimadura de 2º e/ou 3º grau. Incidência varia de 0,5 a 30%. Ocorre em 
padrão bimodal: 
● IRA PRECOCE (1ª semana do evento)​: hipovolemia em virtude da 
reposição volêmica inicial insuficiente, rabdomiólise e hemólise. 
● IRA TARDIA (após 5 a 10 dias)​: instabilidade hemodinâmica 
associada à sepse e ao emprego de drogas nefrotóxicas 
(antibióticos), geralmente culminando em disfunção de múltiplos 
órgãos. 
A reposição volêmica agressiva inicial, a detecção e a erradicação de focos 
infecciosos, a cirurgia precoce, o uso de antibióticos tópicos e a monitorização 
rigorosa do emprego de drogas nefrotoxicas são medidas que colaboraram 
para a diminuição da incidência de IRA e melhora na sobrevida do paciente 
grande queimado.