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DIREITO CIVIL V ADOÇÃO (artigos 1618 e 1619, CC; Lei nº 12010/09) 1 Aspectos conceituais A adoção é o mecanismo formal que estabelece o parentesco civil, em caráter irrevogável, atribuindo ao adotado a condição de filho do adotante, com a mesma qualificação dada ao filho biológico. Por se tratar de ato personalíssimo, a adoção, não admite procuração, pois seria incompatível com a necessária construção do vínculo afetivo entre o adotante e o adotado. A expressão “filho adotivo” não é mais utilizada, por ter cunho preconceituoso, agora se utiliza “filho adotado” ou apenas “adotado”. 2 Competência judicial A partir da lei 12010/09, tanto a adoção do menor, quanto a do maior de idade submetem-se as mesmas regras, respeitadas as peculiaridades de cada espécie. Antigamente, a adoção do menor era processada pelo estatuto da criança e do adolescente (ECA) e a do maior pelo código civil. Exigem-se em ambos os casos a efetiva assistência do poder público (por exemplo, fiscalizando o cumprimento das regras e conferindo apoio multiprofissional aos envolvidos) e sentença judicial (não se admitindo a adoção pela via administrativa - cartorária). Compete a vara da infância e juventude a adoção do menor de idade, bem como daquele que, embora maior, já se encontrava com o adotante desde a menoridade sob outra condição jurídica (por exemplo, tutela ou guarda). Compete a vara de família a adoção do maior de idade. A sentença de adoção não é mais averbada no registro de nascimento do adotado, cabendo ao adotante providenciar um novo registro, do qual não conste qualquer referência ao processo de adoção. Tendo em vista, o direito do adotado em conhecer a sua origem biológica, até para fins de tratamento de saúde, o antigo registro é armazenado pelo cartório sob sigilo; o adotado terá acesso a ele na maioridade, por justo motivo e em caráter excepcional, até na menoridade. 3 Requisitos - Idade mínima de 18 anos para o adotante (não basta ser emancipado) - Diferença mínima de 16 anos entre adotante e adotado (pois a doção deve em tudo procurar reproduzir uma relação natural entre os envolvidos); - Consentimento dos pais naturais ou responsáveis legais do adotando – os pais perderam o poder familiar, ou seja, a própria condição de pai e mãe; - Consentimento do próprio adotando, se já for adolescente (entre 12 e 18 anos incompletos); - Efetivo benefício para o adotado (buscando-se uma família adequada para ele, e não para o adotante); - Processo judicial (não se admitindo adoção diretamente no cartório). Em todos os casos, os critérios fundamentais da adoção são: o grau de parentesco (preferindo-se o mais próximo) e o vínculo de afinidade/afetividade (que até predomina sob o parentesco). A palavra do adolescente é determinante na adoção e, embora sua opinião não seja determinante, recomenda-se a oitiva da criança. Dispensa-se o consentimento dos pais naturais quando falecidos, desconhecidos ou destituídos do poder famil iar. Por fim, exige-se um estágio de convivência entre adotante e adotando pelo prazo que o juiz fixar, desde que não superior a 90 dias, prorrogáveis por igual período em decisão fundamentada (Lei nº 13.509/2017). Esse estágio pode ser dispensado se já houve relação de convivência prévia que sugira a conveniência da adoção e na hipótese de adotando recém-nascido. 4 – Adoção pelo casal A adoção pode ser feita por um ou ambos os cônjuges ou companheiros. Neste último caso, fala-se em adoção conjunta e se exige que ao menos um dos adotantes tenha 18 anos mínimos, cumprindo-se os demais requisitos. Também se admite a adoção conjunta por divorciados, se separados judicialmente ou ex- companheiros, desde que o processo de adoção, incluindo o estágio de convivência, tenha se iniciado durante o casamento ou união estável e que exista acordo quanto a guarda e ao regime de visitas do adotado menor, neste caso quando não se aplicar a guarda compartilhada 5 – Família extensa (ou ampliada) É uma figura pela qual a lei procura priorizar a preservação do adotado junto a família biológica e mesmo aos parentes afins. Com isso, o parente terá preferência na adoção quando concorrer com terceiros, o que possibilita a adoção por tios, primos, cunhados, etc. Deve-se aqui considerar o grau de parentesco, priorizando-se o parente mais próximo, e o vínculo de afetividade, que inclusive prevalece sobre o parentesco. Proíbe-se a adoção pelo ascendente (avô, bisavô, etc, chamada adoção avoenga) e pelo irmão, tendo em vista a proximidade de parentesco que poderia gerar confusão de papeis familiares em prejuízo do adotado. Entretanto, existe decisão colegiada admitindo a adoção avoenga, com base no princípio de atendimento ao melhor interesse da criança e do adolescente, que deve prevalecer sobre a literalidade do texto legal. 6 – Efeitos a) Pessoais Referem-se aos temas do parentesco, do por familiar e do nome. A adoção estabelece o parentesco civil, inserindo o adotado na família do adotante enquanto filho deste e rompendo o seus laços com a família biológica, salvo para fins de impedimento matrimonial (por exemplo, o adotado não pode se casar com a irmã biológica); todos os parentes do adotante tornam-se parente do adotado e este perde seus parentes naturais; a exceção se dá na adoção unilateral, em que um cônjuge ou companheiro adota o filho da parceira com o consentimento do outro genitor natural; aqui se mantém o parentesco do adotado com o cônjuge ou companheiro do adotante. Quanto ao poder familiar (autoridade que os pais exercem sobre o filho menor), este é atribuído plenamente ao adotante, não sendo restaurado para os pais naturais caso o adotante faleça; nessa hipótese, o adotado órfão será submetido a uma nova proteção jurídica (guarda, tutela ou adoção). Quanto ao nome, altera-se o patronímico (sobrenome) do adotado enquanto ruptura com a família biológica; sendo ele menor, ainda é possível mudar o seu prenome, mediante requerimento do adotante e desde que essa alteração não traga prejuízo emocional e para a identificação social do adotado. b) Patrimoniais Referem-se aos temas da administração do patrimônio do adotado, dos alimentos e da herança. A referida administração de bens, em se tratando de adotado menor, é responsabilidade do adotante, que a realiza em regime de usufruto legal (ou seja, automático), tendo o adotante direito aos rendimentos desse patrimônio. Os alimentos passam a ser devidos em reciprocidade entre adotante e adotado, durante toda a vida, quando surgir a necessidade de amparo material. É estabelecida a relação sucessória plena entre adotante e adotado, não mais se aceitando diferença na fração hereditária do adotado em comparação ao filho biológico c) Observância A eficácia pessoal e patrimonial da adoção é observada a partir do trânsito em julgado da respectiva sentença, de modo ex nunc (para o futuro). Significa dizer que essa eficácia é constitutiva da filiação – ao contrário do reconhecimento de filho, que é declaratório e ex tunc, retroagindo ao nascimento do reconhecido. Contudo, se o adotante falecer ao longo do processo tendo manifestado o claro desejo em adotar, o juiz deferi a adoção póstuma ou post mortem cujo os efeitos retroagem a data do óbito do adotante, especialmente para garantir a herança do adotado. Vale observar que, até o trânsito em julgado da sentença de adoção (regra geral), o adotante pode desistir do processo, até porque depois a adoção se torna irrevogável. 7 – Questões pertinentes a) Cadastro nacional de adoção Representa a combinação de dois listas indicando os adotantes e os candidatos a adoção de abrangência nacional, com o propósito de agilizar o processo de adoção e dificultar a adoção direta – na qual o adotante comparece pessoalmente em juízo conduzindo o adotando. A ideia é garantir a democratização desse processo; por outro lado, a adoção diretapermanece admitida nas seguintes hipóteses: adoção unilateral, em que se adota o filho do cônjuge ou companheiro; adoção personalíssima (intuitu personae), quando o adotando já tem relação de convivência prévia e informal com o adotante e comprovado vínculo de afetividade (por exemplo, chamado “filho de criação”); e a adoção no caso de tutor ou curador de criança maior de três anos, buscando-se ampliar sua proteção jurídica (elo formal). b) Adoção conjunta por união homoafetiva Essa forma de adoção continua proibida pelo sistema legal brasileiro, que ainda se referi a adoção conjunta por homem e mulher casados ou vivendo em união estável. Entretanto, os tribunais tem reconhecido com frequência a adoção por casal homoafetivo, até como desdobramento natural do reconhecimento da união estável homoafetiva, a partir da jurisprudência do STF. Antes desse tratamento, porém, era aceita a adoção individual por um dos integrantes do casal homoafetivo, tem tendo o outro uma relação formal com o adotado. c) Adoção internacional É a modalidade na qual o adotante ou o casal de adotantes é residente e domiciliado no exterior. Tendo em vista, reprimir a adoção ilegal, especialmente voltada para o tráfico de pessoas a lei prevê tratamento mais rigoroso para essa modalidade de adoção. Só se passará a adoção internacional, se não houver nenhum parente da família extensa habilitado para função (primeiro permitir a adoção pelos próprios parentes). Além disso, terá preferência a família brasileira a concorrer com uma família estrangeira. Concorrendo adotante brasileiro, residente no exterior ou adotante estrangeiro, o brasileiro terá preferência. O estágio de convivência é obrigatório em todos os casos, com prazo mínimo de 30 dias integralmente cumpridos em território brasileiro.
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