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Devolução da criança em processo de adoção durante o estágio de convivência

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1 
 
Devolução da criança em processo de adoção durante o estágio de convivência 
POSSIBILIDADE DE REPARAÇÃO PELOS DANOS CAUSADOS À CRIANÇA OU 
ADOLESCENTE 
O presente artigo aborda a possibilidade de reparação pelo dano moral causado às crianças e 
adolescentes em processo de adoção, que são devolvidas durante o estágio de convivência. 
1 INTRODUÇÃO 
Legislou-se sobre a adoção pela primeira vez no Brasil no já revogado Código Civil brasileiro, 
que trouxe as noções iniciais sobre o instituto, embora a adoção seja conhecida mundialmente, 
desde civilizações mais antigas. 
Apesar dos dispositivos do Código supracitado terem sido melhorados, tanto pelo Estatuto da 
Criança e Adolescência, como pelo Código de 2002 e pela Lei de adoção, nunca se legislou 
acerca da possibilidade ou não de compensar pecuniariamente aquele que, durante ou após o 
término do estágio de convivência com os possíveis pais adotivos, tenha a adoção recusada e, 
portanto, retornado à sua condição. 
Assim, busca-se falar acerca da possibilidade de caracterizar a existência de dano moral 
indenizável àquele que não tenha sido considerado apto pelo adotante, inclusive com critérios 
para arbitrar tal compensação. 
 
2 A ADOÇÃO NO BRASIL E O ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA 
Para que se chegue ao objetivo do presente artigo, que visa tratar das consequências da 
“devolução” de um candidato à adoção durante ou após o período de convivência, necessário se 
faz abordar alguns conceitos, em especial acerca da adoção, o que será feito no item a seguir. 
2.1 A ADOÇÃO NO BRASIL 
A adoção é uma das muitas modalidades de colocação em família substituta prevista em nosso 
ordenamento jurídico, sendo ainda, segundo Bordallo (2010, p. 197), a mais completa, visto que 
há inserção da criança ou adolescente em um novo núcleo familiar e não a simples concessão 
de alguns atributos do poder familiar ao responsável. 
Segundo conceitua Diniz (2015, p. 576): 
A adoção vem a ser o ato judicial pelo qual, observando os requisitos legais, se estabelece, 
independentemente de qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim, um vínculo fictício 
de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é 
estranha. 
Em outras palavras, adoção é o vínculo de parentesco entre o adotante e o adotado, feito de 
forma legal. 
O instituto da adoção existe desde os primórdios dos tempos e foi instituído como uma forma de 
dar filhos a quem não os podia ter de forma biológica e fornecer a inúmeras crianças e 
adolescentes a chance de crescerem num berço familiar onde seriam amados e cuidados. 
Ensinam Farias e Rosenvald (2015, p. 908-909): 
A adoção é gesto de amor, do mais puro afeto. Afasta-se, com isso, uma falsa compreensão do 
instituto como mera possibilidade de dar um filho a quem não teve pelo mecanismo biológico, 
como se fosse um substituto para a frustração da procriação pelo método sexual. Por certo, a 
adoção é muito mais do que suprir uma lacuna deixada pela Biologia. 
Ainda: 
Trilhando as sendas abertas pelo constituinte (humanista e garantista), nota-se na adoção como 
mecanismo de prestígio da convivência familiar, estabelecendo a relação filiatória por 
2 
 
perspectiva afetiva, inserindo alguém em família substituta. Aliás, de todas as formas de inserção 
em família substituta, a adoção é a mais ampla e completa, propiciando o enquadramento de 
alguém no novo seio de um núcleo familiar, transformando o adotado em membro da nova 
família. 
Segundo Venosa (2015, p. 301) a adoção é “um ato ou negócio jurídico que cria relação de 
paternidade e filiação entre duas pessoas”. Ainda afirma que “o ato da adoção faz com que uma 
pessoa passe a gozar do estado de filho de outra pessoa, independente do vínculo biológico”. 
No Brasil, a adoção sempre encontrou previsão legal e no período do Brasil Colônia e Império, 
vigorou a perfilhação trazida pelos portugueses, cuja concessão era dos juízes de primeira 
instância. 
Entretanto, de acordo com Bordallo (2010, p. 199): 
Mesmo com a legislação existente à época do Brasil Colônia e do Brasil Império, a adoção de 
crianças órfãs e abandonadas era nula, o que acabou por acarretar a elaboração de um conjunto 
de leis visando estabelecer os limites de sua exploração enquanto força de trabalho doméstico. 
Foi nesse interim que os primeiros orfanatos foram criados, visando promover a ideia de amor e 
caridade. 
Com o Código Civil de 1916, foram estabelecidas duas formas de adoção e cada uma delas tinha 
natureza jurídica própria. De acordo com Venosa (2015, p. 306) “a Adoção no Código Civil de 
1916 realçava a natureza negocial do instituto, como contrato de Direito de Família, tendo em 
vista a singela solenidade da escritura pública que a lei exigia”. 
Entretanto, o primeiro grande divisor de águas em relação à adoção foi a Lei nº 3.133/57, que 
aboliu o requisito que previa que os adotantes não deveriam ter filhos para poderem adotar e 
diminuiu a idade mínima desses adotantes. 
Venosa (2015, p. 310) aponta outras inovações trazidas com o advento do tempo: 
A segunda inovação marcante em nosso ordenamento foi, sem dúvida, a introdução da 
legitimação adotiva, pela Lei nº 4.655/65. Pela legitimação adotiva estabelecia-se um vínculo 
profundo entre adotante e adotado, muito próximo da família biológica. O Código de Menores, 
Lei nº 6.697/79, substituiu a legitimação adotiva pela adoção plena, com quase idênticas 
características. Por um período, portanto, tivemos em nosso ordenamento jurídico, tal como no 
Direito Romano, duas modalidades, adoção plena e adoção simples. Esta última mantinha em 
linhas gerais os princípios do Código Civil. A adoção plena, que exigia requisitos mais amplos, 
por outro lado, inseria o adotado integralmente na nova família, como se fosse filho biológico. 
Como explica Bordallo (2010, p. 200) o Código de Menores estabeleceu a adoção simples e a 
adoção plena. A adoção simples era aplicada aos menores de 18 anos que se encontravam em 
situação irregular e seguia os dispositivos previstos no Código Civil, necessitando ser feita por 
meio de escritura pública. Já a adoção chamada de plena era a aplicada aos menores de 7 anos 
e feita mediante procedimento judicial, uma vez que conferia a criança o status de filho, 
desligando-o da família biológica com o cancelamento do Registro Civil. 
Com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, passou a não mais existir 
distinção entre os tipos de adoção. Elas tornaram-se uma só e passaram a gerar todos os efeitos 
do que antigamente era conhecida como adoção plena. 
Então o novo Código Civil foi colocado no ordenamento brasileiro em substituição ao Código de 
1916 e as adoções passaram a ser de uma única forma: jurídica, como era previsto no art. 1.623 
do referido texto legal. 
2.1.1 BASE LEGAL 
3 
 
Dentre todas as leis que já regulamentaram a Adoção no Brasil, duas podem e devem ser 
destacadas e estudadas de forma mais aprofundada: o Estatuto da Criança e do Adolescente – 
ECA e a Lei da Adoção. Ambas serão abordadas nos tópicos que seguem. 
2.1.1.1 ECA 
Talvez a mais importante ferramenta para empregar o Princípio do Melhor Interesse da Criança, 
a Lei nº 8.069/90, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, foi um grande 
marco legislativo na adoção nacional. 
Dentre as várias garantias e direitos previstos no texto, um pode ser destacado no estudo: o 
direito que a criança e adolescente tem de ser criado e educado no seio de uma família, seja ela 
a natural ou substituta. Prevê o art. 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA: 
Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, 
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em 
ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. 
É nesse contexto de colocação da criança em família substituta que temos a modalidade da 
adoção, regulamentada do art. 39 ao art. 54 doEstatuto da Criança e do Adolescente – ECA. 
Deve-se saber que todos os direitos e garantias previstos no ECA devem ser observados durante 
o processo de adoção, em virtude da necessidade de preservar os interesses da criança ou 
adolescente que estava vivenciando a possiblidade de entrar em novo seio familiar. 
2.1.1.2 LEI DA ADOÇÃO 
Vinda como uma reforma ao Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, a Lei nº 12.010/09 – 
Lei da Adoção trouxe inúmeras inovações a legislação. Alguns doutrinadores afirmam que a lei 
foi erroneamente chamada de Lei da Adoção, uma vez que não traz somente novas disposições 
sobre o instituto, mas sim incorpora novos mecanismos e regras em todo o texto do Estatuto da 
Criança e do Adolescente – ECA, revoga artigos do Código Civil e da Consolidação das Leis do 
Trabalho, além de trazer outras providências. 
Sobre as reformas no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, traz Digiácomo (2009): 
As novas regras foram naturalmente incorporadas ao texto da Lei nº 8.069/90 sem alterar sua 
essência, realçando e deixando mais claros, acima de tudo, os princípios que norteiam a matéria 
(que são melhor explicitados no parágrafo único incorporado ao art. 100 estatutário) e 
os deveres dos órgãos e autoridades públicas encarregadas de assegurar o efetivo exercício do 
direito à convivência familiar para todas as crianças e adolescentes, inclusive no âmbito do Poder 
Judiciário, que, dentre outros, passa a ter a obrigação manter um rigoroso controle sobre o 
acolhimento institucional de crianças e adolescentes e de reavaliar periodicamente (no máximo, 
a cada seis meses) a situação de cada criança ou adolescente que se encontre afastado do 
convívio familiar, na perspectiva de promover sua reintegração à família de origem ou, caso tal 
solução se mostre comprovadamente impossível, sua colocação em família substituta, em 
qualquer de suas modalidades (guarda, tutela ou adoção) ou seu encaminhamento a programas 
de acolhimento familiar, no prazo máximo de 02 (dois) anos. 
Dessa forma, passou-se a ter uma maior preocupação e controle sobre os processos de adoção, 
visto que os princípios norteadores foram reforçados com as reformas. 
A Lei da Adoção também revogou toda a parte do Código Civil que tratava sobre a adoção, 
passando então a competência totalmente para o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA 
e diminuindo a insegurança jurídica que dois sistemas legislativos poderiam trazer. 
Como preceitua Digiácomo (2009) a Lei da Adoção se constituiu como uma Lei da Convivência 
Familiar, uma vez que, em decorrência das mudanças implementadas, trouxe garantia efetiva do 
exercício deste direito fundamental para todas as crianças e adolescente. 
Ainda: 
4 
 
É bem verdade que, apesar de todas suas inovações e avanços, a simples promulgação da Lei 
nº 12.010/2009, por si, nada muda, mas ela sem dúvida se constitui num poderoso instrumento 
que pode ser utilizado para mudança de concepção e também de prática por parte das entidades 
de acolhimento institucional e órgãos públicos responsáveis pela defesa dos direitos infanto-
juvenis, promovendo assim a transformação - para melhor - da vida e do destino de tantas 
crianças e adolescentes que hoje se encontram privados do direito à convivência familiar em 
todo o Brasil. 
Ou seja, a Lei da Adoção, mesmo não sendo especificadamente um instituto novo, constitui uma 
importante ferramenta na aplicação das novas regras referentes ao instituto e visa garantir a 
efetiva aplicação dos princípios já abordados no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. 
2.1.2 REQUISITOS PARA A ADOÇÃO 
Alguns requisitos são necessários para que haja direito material suficiente para configurar a 
possibilidade da adoção, dentre eles: idade mínima do adotante, diferença de idade pelo menos 
16 anos entre o adotante e adotado, estabilidade da família, concordância do adotando e seus 
pais e real vantagem para o adotando. Tais assuntos serão abordados nos itens abaixo. 
2.1.2.1 IDADE MÍNIMA 
O art. 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA determina que os maiores de 18 anos 
podem adotar, independentemente de seu estado civil. Isso significa que, uma vez que a pessoa 
atinge a maioridade civil e pretende adotar, já cumpre um dos requisitos estabelecidos para a 
adoção. 
De acordo com Bordallo (2010, p. 230): 
Na primeira redação do art. 386 do CC de 1916, a idade mínima para se adotar era de 50 anos. 
Com o advento da Lei 3.133/57, que veio a adaptar o instituto da adoção aos novos tempos, a 
fim de incrementar o número de adoções, foi alterado o texto do art. 386, passando tal idade a 
ser 30 anos. Com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, a idade para adotar 
passou a ser a mesma que confere a capacidade para os atos da vida civil às pessoas naturais, 
tendo o CC de 2002 seguindo a mesma linha de pensamento. 
Tomando por base tais ensinamentos, percebe-se que o requisito da idade mínima foi reduzido 
com o passar dos anos, até chegar a atual idade prevista no ordenamento jurídico brasileiro. 
Entretanto, é importante salientar que tal requisito não é o único que deve ser cumprido pelo 
futuro adotante e sim um dos que deve ser preenchido para que possa figurar nos Cadastros de 
Pretendentes. 
2.1.2.2 ESTABILIDADE DA FAMÍLIA 
Outro requisito necessário para a adoção é a estabilidade da família de quem adota, que deve 
ser comprovada, como prevê o §2º do art. 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. 
Falamos aqui de estabilidade não só financeira, mas também emocional. De nada adianta uma 
família em boas condições de vida se ela não goza de afeto entre os membros, se não há amor 
e cuidado. 
É indispensável que o adotado seja inserido em um meio familiar amoroso, que possa lhe 
proporcionar, além de conforto material, o tão necessário e renegado conforto emocional que lhe 
fora privado anteriormente e que pode ser encontrado nessa nova família. 
2.1.2.3 DIFERENÇA MÍNIMA DE 16 ANOS ENTRE ADOTANTE E ADOTADO 
Outra exigência prevista pela legislação é a diferença de idade mínima entre o adotante e o 
adotado. O §3º do art. 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA prevê de forma clara 
que essa diferença deve ser de, no mínimo, 16 anos. 
De acordo com Bordello (2010, p. 232): 
5 
 
A diferença de dezesseis anos entre adotante e adotado evitará que se confundam os limites 
que há entre o amor essencialmente filial e paterno em relação àquele, entre homem e mulher, 
onde a atração física pode ser preponderante, fator que induvidosamente poderá produzir 
reflexos prejudiciais à nova família que está se formando. 
Referido requisito foi exigido para que haja uma efetiva relação paterno-filial entre adotante e 
adotado, evitando assim que a adoção seja uma forma de mascarar um possível interesse de 
outra natureza que não a prevista. 
2.1.2.4 CONSENTIMENTO 
O consentimento dos pais biológicos do adotado é requisito necessário para que a adoção seja 
concretizada e encontra previsão legal no art. 45, caput do Estatuto da Criança e Adolescente – 
ECA. Entretanto, pode ser dispensado quando os pais forem desconhecidos ou tiverem sido 
destituídos do poder familiar, como prevê o §1º do art. 45 da mesma lei. 
Dessa forma, explica Diniz (2015, p. 585): 
Não haverá, portanto, necessidade do consentimento do representante legal, nem do menor, se 
se provar que se trata de infante que se encontra em situação de risco, por não ter meios para 
sobreviver, ou em ambiente hostil, sofrendo maus-tratos, ou abandonado, ou de menor cujos 
pais sejam desconhecidos e esgotadas as buscas, ou tenham perdido o poder familiar, sem 
nomeação de tutor. Em caso de adoção de menor órfão, abandonado, cujos pais foram inibidos 
do poder familiar, o Estado o representará ou assistirá, nomeando o juiz competente um curador 
ad hoc. 
A lei também prevê que, sempre que houver a possibilidade, a criança ou adolescente que está 
em processo de adoção deve ser ouvida pela equipe interprofissional e ter sua opiniãoconsiderada. 
Sobre o assunto traz Bordallo (2010, p. 238): 
[...] A determinação de que a criança seja entrevistada pela equipe interprofissional do juízo é 
excelente, pois os profissionais que a compõe (assistentes sociais e psicólogos) possuem melhor 
qualificação para contato com a criança, principalmente as de tenra idade, o que fará com que o 
diálogo flua com mais facilidade. 
Com isso, é perceptível a importância da presença da equipe interprofissional e do diálogo 
corriqueiro com o adotando, seja ele criança ou adolescente. 
2.1.2.5 REAL BENEFÍCIO PARA O ADOTANDO 
Requisito trazido pelo legislador para o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA no art. 43, 
é a materialização de um princípio norte legislativo: o da Proteção do Melhor Interesse da 
Criança. 
Como explicita Bordallo (2010, p. 240), no centro de todo o processo de adoção estará uma 
criança ou adolescente que já veio de um meio onde fora rejeitado pelos genitores biológicos e 
que não pode sofrer outros abalos traumáticos como o já vivido. 
Então, todos os atos realizados devem entrar em acordo com as reais vantagens que a adoção 
trouxer para o adotando e devem ser pautadas no âmbito afetivo, que será tratado como valor 
jurídico. 
Ainda explica Bordallo (2010, p. 240): 
Deve-se ressaltar que a aplicação do princípio do melhor interesse é eminentemente subjetiva, 
pois não há como estipular critérios únicos e objetivos para a solução de todas as hipóteses. 
Apenas de forma casuística se poderá avaliar qual o melhor interesse para a 
criança/adolescente, dependendo sua correta aplicação da sensibilidade e experiência do Juiz e 
do Promotor de Justiça, sendo certo que nem sempre haverá coincidência entre o desejo exposto 
pela criança/adolescente quando de sua oitiva em juízo e a decisão judicial. 
6 
 
Dessa forma, a decisão judicial da adoção sempre será instruída de elementos que configurem 
e constituam reais vantagens para o adotando, que deve ser pautada em motivos legítimos. 
A verificação dos reais interesses da criança deve ser também feita no curso do processo de 
adoção, de acordo com Bordallo (2010, p. 241) “para que o adotando não seja submetido, 
desnecessariamente a expor sua vida e relembrar as situações de abandono pelas quais passou 
anteriormente.” 
Verificando que o princípio foi observado e que a adoção traz vantagens reais, não se obsta que 
o processo continue a tramitar. 
2.1.3 CADASTRO DE PRETENDENTES 
No art. 50 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA há uma previsão de que “a autoridade 
judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes 
em condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção.” 
Esse registro de pessoas interessadas na adoção é o que é conhecido como Cadastro de 
Pretendentes. Para isso, devem comparecer a Vara da Infância e Juventude que residem com o 
RG e um comprovante de residência e então buscar informações de como dar continuidade ao 
processo. 
O art. 197-A do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que esses interessados devem 
elaborar uma petição inicial que conste sua qualificação completa, dados familiares, cópias 
autenticadas de certidão de casamento ou nascimento, cópia da carteira de identidade e CPF, 
comprovante de renda e domicílio, atestado de sanidade física e mental, certidão de 
antecedentes criminais e certidão de distribuição cível. 
Somente depois de ter o processo aprovado é que esses pretendentes terão seus nomes 
constando nos Cadastros Nacionais de Adoção. 
Assim ensina Bordalllo (2010, p. 227): 
Com a existência do cadastro de pessoas habilitadas a adotar, é obrigatório o respeito ao 
mesmo. Surgindo uma criança para ser adotada, devem ser chamadas as pessoas previamente 
cadastradas e não qualquer outra que surja interessada na criança. Logo, se alguém encontra 
uma criança abandonada, deverá levá-la até a Vara da Infância, onde será encaminhada para 
abrigo e, posteriormente, inserida no cadastro para adoção. Serão, em seguida, chamadas as 
pessoas cadastradas para realizarem a adoção. A pessoa que encontrou a criança não poderá 
adotar, já que a preferência será para aquelas cadastradas, salvo se nenhuma das pessoas 
cadastradas mostra interesse em adotar. 
Como regra geral, somente pessoas que estão presentes e inscritas no Cadastro de 
Pretendentes podem adotar. Entretanto, a própria lei autoriza, no art. 50, §13 do Estatuto da 
Criança e Adolescente, a adoção por pessoas que não estão presentes nos cadastros desde que 
cumpram e comprovem os requisitos exigidos pelo sistema. 
Sobre a possibilidade prevista no §13 do art. 50, diriam Farias e Rosenvald (2015, p. 939) que 
“com base nos princípios informadores da adoção, em especial a proteção integral infanto-juvenil 
e a real vantagem ao adotando, é possível ao juiz, em cada caso concreto, autorizar a adoção 
por pessoa fora da lista ou fora de sua vez.” 
O Cadastro de Pretendentes deve ser alimentado pelo Poder Judiciário de cada um dos Estados 
membros da Federação, que transmitirá as informações para o Cadastro Nacional mantido pelo 
Conselho Nacional de Justiça. Tal previsão encontra embasamento no art. 50, §9º do Estatuto 
da Criança e do Adolescente. 
Além disso, a Lei da Adoção estabeleceu que os casais inscritos devem frequentar a preparação 
jurídica e psicossocial em no máximo um ano da inscrição para não terem a mesma cassada. 
2.1.4 PARECER TÉCNICO 
7 
 
Também chamado de parecer psicossocial, é o momento onde será verificada a possibilidade 
ou não dos casais com processo de habilitação figurarem nos Cadastros Nacionais de Adoção. 
O art. 50, §3º do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece a necessidade de que os 
postulantes a adoção, antes de serem incluídos nos Cadastros de Adoção, passem por uma 
preparação psicossocial e jurídica que deve ser acompanhada pela equipe técnica da Vara da 
Infância e Juventude. 
São esses profissionais que avaliarão os interessados e, tomando por base seu parecer, o juiz 
deferira ou não o pedido pela inclusão no Cadastro. 
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul assim decidiu após o parecer da equipe técnica: 
APELAÇÃO CÍVEL. HABILITAÇÃO PARA A ADOÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. Em que pese o 
estudo social tenha sido favorável ao pedido de habilitação para a adoção, a avaliação 
psicológica apontou, com base em instrumentos idôneos de testagem, a presença de conflitos 
emocionais e familiares, não havendo sintonia quanto ao desejo de adotar, aspectos que 
contraindicam, neste momento, o acolhimento do pedido, o que, contudo, não impede a sua 
renovação, após a comprovação da realização da psicoterapia indicada. APELAÇÃO 
DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70053974655, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do 
RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 27/06/2013) 
(TJ-RS - AC: 70053974655 RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Data de Julgamento: 
27/06/2013, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 02/07/2013) 
Verifica-se a importância da harmonia entre os profissionais de equipe técnica da Vara da 
Infância e Juventude, uma vez que, é tomando por base o parecer deles que o juiz decidira pela 
habilitação ou não dos postulantes. 
3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DA DEVOLUÇÃO DA CRIANÇA DURANTE 
O ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA 
A responsabilidade civil decorre da obrigação que alguém tem de assumir as consequências 
jurídicas dos atos que praticar e é necessária a configuração e presença de quatro pressupostos: 
conduta, dano, culpa e nexo causal. 
Sabe-se que a possibilidade de responsabilização civil pode encontrar-se em qualquer violação 
de fato jurídico onde há presença dos pressupostos. 
O presente tópico busca discorrer acerca da possibilidade ou não de reparação civil no caso 
específico de devolução da criança ou adolescente que se encontra em processo de adoção, 
mais precisamente, em fase de estágio de convivência com os adotantes. 
3.1 ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA 
Previsto no Estatutoda Criança e do Adolescente - ECA, o Estágio de Convivência é de extrema 
importância para a adoção. O art. 46 do ECA estabelece que “a adoção será precedida de estágio 
de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, 
observadas as peculiaridades do caso”. 
É durante o prazo do estágio de convivência que haverá a adaptação entre o adotando, o 
adotante e o novo lar. 
De acordo com Cunha (2011) “o estágio de convivência faz-se necessário vez que propicia uma 
situação de conhecimento recíproco entre adotante e adotado, possibilitando, dessa maneira, o 
estabelecimento de vínculos entre os mesmos.” 
Além disso, Bordallo (2010, p. 242) explica que: 
Esta aferição se faz extremamente necessária, pois não basta que o adotante se mostre uma 
pessoa equilibrada e que nutre grande amor pelo próximo, uma vez que breve e superficial 
contato nas dependências do Juízo não garante aquilatarem-se as condições necessárias de um 
8 
 
bom pai ou boa mãe. Indispensável a realização de acompanhamento do dia-a-dia da nova 
família, a fim de ser verificado o comportamento de seus membros e como enfrentam os 
problemas diários surgidos pela convivência. 
É imprescindível o acompanhamento da equipe interprofissional do Juízo, já que não é incomum 
ver casos onde a família que, em primeiro momento mostrou-se perfeita para o adotando, acabe 
por tornar-se um problema e mostrem-se inadequados para receber uma criança ou adolescente 
em seu lar. 
Nesses casos, o melhor para a criança é que o pedido de adoção seja julgado improcedente. A 
própria jurisprudência traz casos onde a adoção foi indeferida após o estágio de convivência, 
como é o caso da decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: 
APELAÇÃO. AÇÃO DE ADOÇÃO. ADOTANTES INAPTOS PARA O EXERCÍCIO DA FUNÇÃO 
PARENTAL. Demonstrado pelas avaliações sociais que o casal adotante não tem condições 
psicológicas de exercer a função parental, ocorrendo até mesmo episódios de agressão a um 
dos irmãos, descabe a adoção pretendida. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 
70061985164, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino 
Robles Ribeiro, Julgado em 29/10/2014). 
(TJ-RS , Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Data de Julgamento: 29/10/2014, Sétima 
Câmara Cível) 
Vale lembrar, como ensina Bordallo (2010, p.243), que a adaptação do adotando a essa nova 
família não é automática e deve-se manter em mente que muitos dos hábitos de quem está 
sendo incluído no novo seio familiar diferem dos da pessoa que está adotando. É por referido 
motivo que o Estágio de Convivência mostra-se imprescindível no Processo de Adoção. 
3.1.1 PRAZO DO ESTÁGIO 
Levando em conta as peculiaridades de cada adoção, a lei autoriza que o juiz fixe ao seu 
entendimento o prazo durante o qual acontecerá o estágio de convivência entre o adotando e os 
adotantes. 
Como preceituam Farias e Rosenvald (2015, p. 915) “[...] o prazo do estágio de convivência deve 
ser fixado pelo prudente arbítrio do juiz, apoiado nos laudos da equipe interdisciplinar, não 
havendo especificação legislativa.” 
Isso significa que o período de Estágio de Convivência pode durar todo o tempo que o juiz julgar 
necessário, tomando por base os laudos da equipe técnica do juízo e o que julgar o correto para 
o caso concreto que estiver sentenciando. 
A única peculiaridade legislativa referente a prazos encontra-se no §3º do art. 46 e está 
relacionada a adoções por pessoas residentes fora do Brasil. É exigido que seja cumprido, em 
território nacional, no mínimo 30 dias o estágio de convivência. 
3.1.2 DISPOSITIVOS LEGAIS ACERCA DO TEMA – ANÁLISE DO ART. 46 DA LEI 8.069/1990 
(ECA) 
Como já abordado anteriormente, a Lei 12.010/09 – Lei da Adoção, trouxe inúmeras mudanças 
no texto legal do Estatuto da Criança e do Adolescente. Algo que deve ser analisado com atenção 
são as inclusões trazidas no art. 46 da norma estatutária, que trata especificadamente sobre o 
Estágio de Convivência. 
Um ponto importante é o previsto no §1º do art. 46, que trata sobre a possibilidade de dispensa 
da realização do mesmo. Traz o texto legal a prerrogativa de que “o estágio de convivência 
poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante 
tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo.” 
9 
 
Ou seja, o Estágio de Convivência pode ser dispensado quando o decurso do tempo em que o 
adotando ficou sob a guarda legal ou tutela do adotante for julgado pelo juiz do processo como 
suficiente para que os vínculos familiares tenham sido estabelecidos. 
Outra inclusão feita pela Lei da Adoção foi o parágrafo §2º do referido artigo, abordando que “a 
simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de 
convivência.” Dessa forma, tem-se a necessidade de que essa guarda seja legal e que existam 
efetivos vínculos entre a criança ou adolescente e a pessoa que exerce o poder familiar. 
É de suma importância lembrar que todo o artigo deve ser interpretado visando o Princípio do 
Melhor Interesse e pesando sempre o melhor para o adotando. 
A prerrogativa da adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do Brasil está 
descrita no §3º do art. 46, que estabelece ainda o prazo, já tratado anteriormente, de duração do 
Estágio de Convivência obrigatório dos pretendentes a adoção com o adotando. 
Por fim, como última inclusão trazida pela Lei da Adoção ao art. 46 da norma estatutária, tem-se 
a previsão de que o Estágio de Convivência será sempre acompanhado por equipe 
interprofissional que esteja a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, visando com que o 
processo de adoção traga efetivamente benefícios reais para a criança ou adolescente em 
estágio de ser inserido em novo núcleo familiar. 
3.1.3 ACOMPANHAMENTO POR EQUIPE INTERPROFISSIONAL 
Numa inclusão trazida pela lei 12.010/09, prevê o §4º do art. 46 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente que: 
O estágio de convivência será acompanhado pela equipe interprofissional a serviço da Justiça 
da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela 
execução da política de garantia do direito à convivência familiar, que apresentarão relatório 
minucioso acerca da conveniência do deferimento da medida. 
A equipe interprofissional é composta por Assistente Social e Psicóloga forense, que trabalham 
lado a lado com o Juiz para garantir um melhor futuro para as crianças e adolescentes em 
processo de adoção. 
É tomando por base os laudos e relatórios emitidos por esses profissionais que o Juiz terá a 
possibilidade de verificar se o princípio primazia do Melhor Interesse da Criança está sendo 
observado e seguido. 
3.2 A DEVOLUÇÃO IMOTIVADA DO ADOTADO 
O Estatuto da Criança e do Adolescente em seu art. 35, dispõe que a guarda concedida para fins 
de Estágio de Convivência no processo de adoção pode ser revogada por ato judicial 
fundamentado a qualquer momento. São finalizações completamente motivadas pelos juízes 
responsáveis pelo processo, que buscam seguir o estabelecido pelo Princípio do Melhor 
Interesse da Criança. 
Entretanto, há inúmeros e frequentes casos onde há devolução da criança pelos pais adotantes 
sem qualquer motivo plausível para tal ato, como se essas crianças fossem um simples objeto 
comprado em uma loja qualquer que apresentou defeito. 
É o que chamamos de devolução imotivada. Para Queiroz (2014) “a rigor a justiça não reconhece 
o conceito de devolução, a adoção é uma medida irrevogável, o que enfatiza o caráter legítimo 
da filiação.” Mesmo assim, as devoluções acontecem com frequência na adoção Brasileira. 
Como preceitua Cruz (2014): 
Ao longo dos anos, tem-se verificado que muitas pessoas buscam nas crianças abrigadas a 
figura ideal construída ao longo de toda uma vida, o rosto que se encaixa de modo pleno naquele 
que teria o filho biológico que, por diversasrazões, nunca foi concebido. Na maioria das vezes 
essa procura não é prejudicial e a adoção cumpre seu papel fundamental na realização pessoal 
10 
 
de muitos pais e de muitos filhos, que deixam para trás a marca da frustração e do abandono e 
passam a substitui-la pela marca do amor. [...] Contudo, nenhuma norma é capaz de prever 
aquilo que o íntimo do ser humano reserva, como exemplo disso, temos o longo processo de 
avaliação social e psicológica, que pretende determinar a capacidade do adotante de acolher no 
seio de sua família uma criança ou um adolescente. Tal processo, na maioria das vezes, é eficaz 
e consegue filtrar os chamados perfis incompatíveis com a adoção, pessoas que acreditam ter 
as condições necessárias a suportar o ônus decorrente do poder familiar, mas que só se 
concentraram no lado positivo de se ter um filho. 
Mas como todo processo, a adoção também é suscetível de sofrer falhas. Há crescente 
problemática quando a imagem idealizada dos pais de como seria o filho se choca com o que 
realmente encontram – uma criança que com traumas de um abandono dos genitores biológicos, 
muitas vezes com problemas que os adotantes não estão psicologicamente preparados para 
lidar. 
Novamente explica Cruz (2014): 
Os danos psíquicos a criança e ao adolescente que derivam do reabandono são, ainda mais, 
catastróficos que aqueles originados pelo abandono dos pais biológicos, uma vez que 
sedimentam uma imagem já construída de rejeição, inadequação e de infelicidade e não podem 
passar desapercebidos pelo Poder Judiciário, que vem solidificando entendimento no sentido de 
não haver responsabilidade civil do adotante pela devolução do adotando durante o estágio de 
convivência. 
Sabe-se que a criança, parte frágil no processo, já foi anteriormente vítima do abandono afetivo 
por parte dos genitores biológicos e um novo abandono poderá ocasionar danos ainda mais 
profundos que os já existentes, uma vez que, esse reabandono os fará reviver duplamente a 
mesma sensação que os acompanhou até ali. 
3.3 O DANO MORAL 
Um dos tipos mais comuns na esfera da responsabilidade civil, o dano moral é, de acordo com 
o que ensina Gonçalves (2013, p. 384), aquele que “atinge o ofendido como pessoa, não lesando 
seu patrimônio.” Ou seja, todo tipo de dano que ofender a figura da pessoa e não seu patrimônio 
poderá se configurar como dano moral. 
Dentro da classificação dos danos temos o dano moral como um dano extrapatrimonial. 
Assim ensina Cahali (2011, p. 20): 
Na realidade, multifacetário o ser anímico, tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, 
ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou reconhecidos 
pela sociedade em que está integrado, qualifica-se, em linha de princípio, como dano moral; não 
há como enumerá-los exaustivamente, evidenciando-se na dor, na angústia, no sofrimento, na 
tristeza pela ausência de um ente querido falecido; no desprestígio, na desconsideração social, 
no descrédito à reputação, na humilhação pública, no devassamento da privacidade; no 
desequilíbrio da normalidade psíquica, nos traumatismos emocionais, na depressão ou no 
desgaste psicológico, nas situações de constrangimento moral. 
É essa amplitude de possibilidades que confere ao instituto uma interpretação tão ampla e 
diferente frente a cada juízo. 
3.2.1 DANO MORAL DIRETO OU INDIRETO 
A doutrina classifica o dano moral na forma direta ou indireta, levando em consideração o nexo 
de causalidade entre o dano e o fato. Quando há lesão a um direito imaterial, temos configurado 
o dano moral direto. 
Ensina Diniz (2008, p. 93): 
11 
 
O dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa a satisfação ou o gozo de um bem 
jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade (como a vida, a integridade 
corporal e psíquica, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos afetivos, a 
própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o estado de família). 
Abrange, ainda, a lesão à dignidade da pessoa humana (CF/88, art. 1º, III). 
Dessa forma, quando um direito da personalidade for violado ou quando houver alguma lesão a 
um atributo da pessoa, há configuração de dano moral direto. 
Já o dano moral indireto é, segundo o que ensinam Gagliano e Pampolha Filho (2004, p. 87), 
aquele que ocorre quando há alguma lesão a qualquer bem ou interesse que tiver origem 
patrimonial, mas que produz, de forma reflexa, um dano na esfera extrapatrimonial do agente. 
Por sua vez, Cahali (2011, p. 53) assim preceitua: 
Em determinadas situações especiais, o direito reconhece que terceiros – geralmente parentes, 
mas não necessariamente parentes – venham a ser afetados moralmente, de maneira indireta 
pelo dano moral inflingido à vítima do ato ilícito; ainda que se trate de uma responsabilidade que 
se vincula à mesma causa geradora da obrigação, esse direito preserva certa autonomia quanto 
à sua titularidade e respectivo exercício, a latere da indenização o dano sofrido pelo ofendido 
diretamente. 
É o que se pode observar quando um familiar é acometido de alguma lesão grave que o 
incapacite ou deforme, causando dor e sofrimento a seus genitores ou filhos. 
Essa é a natureza reflexa ou ricochete do dano moral – um dano que reflete não só no acometido 
pelo ato, como também em seu patrimônio e em seus familiares. 
3.2.2 DANO MORAL NO DIREITO BRASILEIRO 
Com o advento da Constituição Federal de 1988, foi introduzido na realidade jurídica brasileira a 
esfera dos danos extrapatrimoniais, ou seja, foi constitucionalizada a existência dos danos 
morais no ordenamento jurídico. 
Segundo Reis (2010, p. 117): 
A importância do dispositivo pode ser aferida a partir da consagração do instituto, quando se 
iniciaram as indenizações por danos morais nos tribunais brasileiros. O dano moral, prescrito no 
dispositivo constitucional, ampliou a tutela dos direitos fundamentais da pessoa. 
A Constituição pátria finalmente garantia mais uma forma de tutelar os direitos fundamentais que 
surgiram com a Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1948. 
Ainda de acordo com Reis (2010, p. 118) o legislador da Constituição consignou no art. 5º os 
direitos e garantias fundamentais da pessoa, dando foco especial a dignidade da pessoa 
humana, ou seja, justificou tudo desde que haja uma tributação especial ao respeito do ser 
humano. É nesse mesmo artigo que está ilustrada a entrada da esfera dos danos morais: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, 
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
[...] 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano 
material, moral ou à imagem; 
[...] 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o 
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 
12 
 
É impossível tratar sobre o dano moral sem citar sua inclusão tão importante na Carta Magna do 
ordenamento Brasileiro. 
Outra importante ferramenta legislativa brasileira, o Código Civil de 2002, também traz menções 
ao dano moral. Primeiramente em seu art. 186, que prescreve na parte final a possibilidade de 
indenização ainda que o ato ilícito decorrer de dano exclusivamente moral. 
Essa prerrogativa encontra força com o art. 927 do Código Civil, quando pontua que “aquele que, 
por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.” Sendo assim, é perceptível como 
foi adotado de forma definitiva o instituto da indenização dos danos extrapatrimoniais, que se 
encaixam no dano moral. 
3.2.3 PREJUÍZO À CRIANÇA OU ADOLESCENTE 
É inegável o prejuízo que um novo abandono ocasionado pela devolução acarretará na criança. 
Dentre os mais prejudiciais, pode-se fazer um destaque especial ao abalo psicológico que a 
devolução causa nomenor em processo de adoção. 
De acordo com Souza (2012, p. 11) “uma criança devolvida tem a tripla perda: da esperança, da 
família e pelo fato de ficar estigmatizada, uma vez que a devolução constará no seu histórico e 
poderá prejudicar uma próxima adoção.” 
Dessa forma, além de ter de lidar com as consequências emocionais do novo abandono, essa 
criança terá de lidar com uma possível e provável estigmatização, que poderá prejudicar chances 
futuras de vir a ser adotada por uma família realmente preparada para receber uma nova pessoa 
em sua família e lhe fornecer todo o amor e cuidado que precisa. 
3.2.4 PROVA DO PREJUÍZO 
A prova da existência efetiva de um prejuízo causado pelo ato ilícito é uma das barreiras 
enfrentadas na configuração no dano moral. Há certa controvérsia na jurisprudência e doutrina 
quanto ao tema, uma vez que não há simetria de opinião entre a necessidade ou não de que 
haja provado o efetivo dano. 
Entretanto, grande parte dos tribunais está posicionando-se em relação a desnecessidade da 
prova: 
INDENIZAÇÃO DANO MORAL PROVA VALOR. 1. Uma vez comprovado o evento danoso e o 
nexo de causalidade entre ele e a conduta do agente, está caracterizado o dano moral, 
independentemente de prova do prejuízo em concreto. 2. A indenização por dano moral não 
objetiva enriquecer a vítima, mas conceder-lhe um lenitivo e reprovar a conduta do agente, 
devendo ser fixada em patamar condizente com os danos causados. Ação julgada parcialmente 
procedente. Recurso do autor não provido, provido em parte o do réu. 
(TJ-SP - APL: 9252664902008826 SP 9252664-90.2008.8.26.0000, Relator: Paulo Pastore Filho, 
Data de Julgamento: 13/06/2012, 17ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 
18/06/2012) 
Para Rui Stocco (2007, p. 1714) o dano moral independe de prova, ou seja, verificando-se a 
ofensa moral nasce o direito a indenização. 
Sobre a desnecessidade de prova do dano moral ensina Euripedes Brito (2012): 
Ora, o dano moral representa um sofrimento íntimo, uma dor interior, dor na alma, e esta dor não 
se prova, o sofrimento anímico não se pode provar, é de todo impossível, nossa alma não pode 
revelada nem para os mais íntimos, mesmo que assim desejemos, a dor não se transfere, pode 
ocorrer até que venha a se refletir no semblante, no olhar, mas nada de pode provar a respeito. 
É a opinião acompanhada por doutrinadores como Sérgio Cavalieri (2009, p. 86), afirmando que 
“por se tratar de algo imaterial, a prova do dano moral não pode ser feita através dos mesmos 
meios utilizados para comprovar os danos materiais.” 
13 
 
Entretanto, há julgados onde o entendimento difere: 
APELAÇÃO CIVIL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – AUSÊNCIA DE 
PROVAS. O ônus da prova incumbe ao autor quanto ao fato constitutivo do seu direito (CPC 333 
I). Não tendo a autora provado suas alegações, e nem mesmo requerido a produção de provas, 
não é possível condenar o réu a pagar indenização por danos morais. Negou-se provimento ao 
apelo da autora. 
(TJ-DF - APC: 20140110910905 , Relator: SÉRGIO ROCHA, Data de Julgamento: 01/07/2015, 
4ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 27/07/2015 . Pág.: 271) 
Levando em conta as diferentes vertentes da aplicação ou não da reparação do dano moral, 
nasce uma certa insegurança jurídica quanto ao tema e o melhor a se fazer é um estudo completo 
do caso concreto, para que não haja injustiças na aplicação da lei. 
3.2.5 A QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL 
A quantificação do dano moral é uma problemática que, segundo ensinamentos de Gonçalves 
(2013, p. 404) “tem preocupado o mundo jurídico, em virtude da proliferação de demandas, sem 
que existam parâmetros seguros para a sua estimação.” 
Dessa forma é necessária a quantificação do dano, para garantir uma reparação adequada ao 
caso prático. 
3.2.5.1 ARBITRAMENTO DO DANO MORAL E CRITÉRIOS PARA SUA FIXAÇÃO 
Segundo o que preceitua Gonçalves (2013, p. 404) no Brasil não há aplicação do critério de 
tarifação, onde o quantum da indenização é prefixado, uma vez que, conhecendo de forma 
antecipada o valor a ser pago, os agentes podem fazer uma pré-avaliação das vantagens que 
conseguirão quando houver a prática de um ilícito. 
Gonçalves (2013, p. 404) continua, explicitando que o critério predominante no Brasil é o do 
arbitramento feito pelo juiz, utilizando-se do que a lei determinar como perdas e danos. 
Inicialmente, por falta de uma regulamentação específica sobre dano moral, os Tribunais 
Brasileiros utilizaram para fixar o quantum de indenização os critérios que eram estabelecidos 
pelo Código Brasileiro de Telecomunicações. 
Entretanto, muitos dispositivos foram revogados pela Lei de Imprensa, que segundo Gonçalves 
(2010, p. 405) “elevou o teto da indenização para duzentos salários mínimos.” Completa (2010, 
p. 405) explicando que “durante muito tempo esse critério serviu de norte para o arbitramento 
das indenizações em geral.” 
Ademais, tal critério não permanece no ordenamento jurídico brasileiro com o advento da 
Constituição de 1988, que não prevê forma alguma de tabelamento ou tarifação que deva ser 
seguida pelo juiz. 
Termina Gonçalves (2010, p. 412) explicando que, não existe um critério objetivo e uniforme para 
a fixação e arbitramento do dano moral no ordenamento brasileiro e cabe ao juiz, adequando-se 
ao caso concreto, agir com bom senso e justa medida, fixando assim um valor razoável e justo 
a indenização. 
3.3 A (IM)POSSIBILIDADE DE REPARAÇÃO DO DANO CAUSADO PELA DEVOLUÇÃO 
IMOTIVADA DA CRIANÇA EM PROCESSO DE ADOÇÃO 
O Estatuto da Criança e do Adolescente já prevê a irrevogabilidade da adoção em seu art. 46. 
Falamos aqui na adoção cujo processo já foi concluído e a guarda da criança transferida 
definitivamente para os adotantes – a efetiva nova família. 
Infelizmente, a legislação pátria permitiu uma lacuna no que se refere as devoluções das crianças 
ainda durante o estágio de convivência no processo de adoção. É sabido que, durante esse 
período, as chamadas ‘devoluções’ acontecem e são amparadas pelo ordenamento, uma vez 
14 
 
que o estágio de convivência nada mais é do que um período de adaptação da criança com a 
nova família e dessa família com a criança. 
De acordo com Martins (2008, p. 40): 
Essas devoluções acontecem com requerentes que estão em estágio de convivência com 
crianças maiores, com idades geralmente a partir dos 04 anos, fase em que a criança já possui 
uma “história de vida”, como educação, personalidade formada, vontades, gostos etc. As 
devoluções envolvem diferentes situações, sejam elas de dificuldades de relacionamento, 
criação, educação, estabelecimento de regras, entre outras. Situações provocadas pela criança, 
pelo adulto, pelo meio social ou familiar. Estas levam os requerentes a buscarem ajuda 
institucional para solucionar os problemas, ou até mesmo desistirem da adoção. 
Ou seja, as devoluções são mais comuns com crianças em certa idade, que já possuem um 
histórico e cujo manuseio é questionável e dificultoso de acordo com os adotantes. São casos 
em que as crianças já têm certo grau de desenvolvimento psicológico e social, o que na visão 
dos pretendentes a adoção é um obstáculo ao que pretendiam com o processo. 
Deve-se notar que, em muitos casos de devolução durante o estágio de convivência, o problema 
vem com os adotantes, que não estão realmente preparados para receber um novo membro na 
família ou acabaram por idealizar uma criança que passa a não ser a que está em estágio em 
sua companhia. 
Explica Martins (2008, p. 42): 
A devolução é motivada, em grande parte, pelas expectativas fantasiosas dos pais adotivos que, 
nem sempre, tem com o filho adotivo a mesma complacência que teriam com um filho natural, 
não por que não queiram, mas por que estão moldados por uma cultura impregnada de mitos e 
construções históricas, que os leva a crer que não podem lidar com a situação, já que o filho 
adotivo carrega consigo uma bagagem da vida anterior a adoção que os leva a pensar que não 
são capazes deviver e trabalhar os conflitos. 
Tal expectativa acaba por trazer consequências talvez irreparáveis para a criança que vier a 
sofrer um novo abandono. Fala-se de transtornos psicológicos e emocionais que, em decorrência 
da profundidade, podem nunca ser corrigidos e a criança acabara por ter de conviver com os 
traumas pelo resto da vida. 
Entende-se como possibilidade da reparação civil o previsto no art. 186 do Código Civil: a 
existência do dano, da culpa e do nexo causal. A presença dos pressupostos está clara quando 
analisada a conduta de devolverem a criança e o dano que esse novo abandono causa ao 
adotando, que se vê novamente privado da convivência familiar que almeja. 
Os tribunais estão entendendo a situação de forma divergente. Há aqueles que punem a conduta 
dos adotantes frente aos danos que a devolução traz ao desenvolvimento da criança e há 
aqueles que julgam a possibilidade de devolução como algo crível e possível. 
 Assim decidiu o Tribunal de Justiça de Minas Gerais: 
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - INDENIZAÇÃO - DANO MATERIAL E MORAL - 
ADOÇÃO - DESISTÊNCIA PELOS PAIS ADOTIVOS - PRESTAÇÃO DE OBRIGAÇÃO 
ALIMENTAR - INEXISTÊNCIA - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO - RECURSO NÃO 
PROVIDO. - Inexiste vedação legal para que os futuros pais desistam da adoção quando 
estiverem com a guarda da criança. - O ato de adoção somente se realiza e produz efeitos a 
partir da sentença judicial, conforme previsão dos arts. 47 e 199-A, do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. Antes da sentença, não há lei que imponha obrigação alimentar aos apelados, que 
não concluíram o processo de adoção da criança. - A própria lei prevê a possibilidade de 
desistência, no decorrer do processo de adoção, ao criar a figura do estágio de convivência. - 
Inexistindo prejuízo à integridade psicológica do indivíduo, que interfira intensamente no seu 
comportamento psicológico causando aflição e desequilíbrio em seu bem estar, indefere-se o 
pedido de indenização por danos morais. V.V.P. EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - 
15 
 
INDENIZAÇÃO - DANO MATERIAL E MORAL - ADOÇÃO - DESISTÊNCIA DE FORMA 
IMPRUDENTE PELOS PAIS ADOTIVOS - PRESTAÇÃO DE OBRIGAÇÃO ALIMENTAR 
DEFERIDA - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. - 
A adoção tem de ser vista com mais seriedade pelas pessoas que se dispõe a tal ato, devendo 
estas ter consciência e atitude de verdadeiros "pais", que pressupõe a vontade de enfrentar as 
dificuldades e condições adversas que aparecerem em prol da criança adotada, assumindo-a de 
forma incondicional como filho, a fim de seja construído e fortalecido o vínculo filial. - Inexiste 
vedação legal para que os futuros pais desistam da adoção quando estiverem com a guarda da 
criança. Contudo, cada caso deverá ser analisado com as suas particularidades, com vistas a 
não se promover a "coisificação" do processo de guarda. - O ato ilícito, que gera o direito a 
reparação, decorre do fato de que os re queridos buscaram voluntariamente o processo de 
adoção do menor, deixando expressamente a vontade de adotá-lo, obtendo sua guarda durante 
um lapso de tempo razoável, e, simplesmente, resolveram devolver imotivadamente a criança, 
de forma imprudente, rompendo de forma brusca o vínculo familiar que expuseram o menor, o 
que implica no abandono de um ser humano. Assim, considerando o dano decorrente da 
assistência material ceifada do menor, defere-se o pedido de condenação dos requeridos ao 
pagamento de obrigação alimentar ao menor, enquanto viver, em razão da doença irreversível 
que o acomete. - Inexistindo prejuízo à integridade psicológica do indivíduo, que interfira 
intensamente no seu comportamento psicológico causando aflição e desequilíbrio em seu bem 
estar, por não ter o menor capacidade cognitiva neurológica de perceber a situação na qual se 
encontra, indefere-se o pedido de indenização por danos morais.(Desª Hilda Teixeira da Costa) 
Ação civil pública - Ministério Público - Legitimidade ativa - Processo de adoção - Desistência - 
Devolução da criança após significativo lapso temporal - Indenização por dano moral - Ato ilícito 
configurado - Cabimento - Obrigação alimentar - Indeferimento - Nova guarda provisória - 
Recurso ao qual se dá parcial provimento. (Des. MR) 
(TJ-MG - AC: 10481120002896002 MG , Relator: Hilda Teixeira da Costa, Data de Julgamento: 
12/08/2014, Câmaras Cíveis / 2ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 25/08/2014) 
Observa-se que houve parcial dever de reparação do dano causado a criança por parte dos 
adotantes. Entretanto, houve indeferimento do pedido elaborado pleiteando danos morais em 
decorrência do abalo psicológico que a devolução causou. 
O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul decidiu de forma adversa um Agravo de 
Instrumento, onde os adotantes pretendiam mudar a decisão de 1º Grau que os condenou ao 
pagamento de tratamento psicológico a criança que estava em processo de adoção: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇAO CIVIL PÚBLICA - TUTELA ANTECIPADA - 
DETERMINAÇAO PARA PROMOÇAO DE TRATAMENTO PSICOLÓGICO AO MENOR 
SUBMETIDO A SUCESSIVAS TENTATIVAS DE ADOÇAO PELO MESMO CASAL, COM 
POSTERIOR DESISTÊNCIA - PRESENÇA DOS REQUISITOS PARA A ANTECIPAÇAO DA 
TUTELA - RECURSO IMPROVIDO. 
(TJ-MS , Relator: Des. Ruy Celso Barbosa Florence, Data de Julgamento: 06/03/2012, 4ª 
Câmara Cível) 
Entendeu-se no caso que, as sucessivas desistências e devoluções que o casal acometeu a 
criança resultaram em um dano irreparável a sua vida. 
Outra decisão seguiu o mesmo preceito da estabelecida em Mato Grosso do Sul: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE. ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA PARA ADOÇÃO TARDIA ESTABELECIDO. 
CRIANÇA DEVOLVIDA. DANOS PSICOLÓGICOS IRREFUTÁVEIS. PENSÃO MENSAL 
CAUTELARMENTE FIXADA. NECESSÁRIA A REALIZAÇÃO DE TRATAMENTOS PSÍQUICOS. 
O estágio de convivência que precede adoção tardia se revela à adaptação da criança à nova 
família e, não ao contrário, pois as circunstâncias que permeiam a situação fática fazem presumir 
que os pais adotivos estão cientes dos percalços que estarão submetidos. A devolução 
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injustificada de criança com 9 anos de idade durante a vigência do estágio de convivência 
acarreta danos psíquicos que merecem ser reparados as custas do causados, por meio da 
fixação de pensão mensal. 
(Agravo de Instrumento nº 2010.067127-1, de Concórdia, Câmara Especial Regional de 
Chapecó, Relator: Guilherme Nunes Born. Data de Julgamento: 25.11.2011) 
O caso em questão ocorreu na cidade de Concórdia/SC e demostrou o novo olhar que vem se 
dando as devoluções de crianças durante o Estágio de Convivência, frente aos danos que tais 
condutas acarretam em longo e curto prazo. 
Dessa forma, percebe-se que o entendimento que alguns tribunais estão dando a essas 
imotivadas devoluções, utilizando-se da prerrogativa que autoriza-as por se tratar de Estágio de 
Convivência, vem mudando e caminhando para atar-se a um olhar mais atento as crianças 
grandes vítimas da situação. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A realização do presente trabalho possibilitou a constatação das divergências apresentadas 
pelos diferentes Tribunais de Justiça frente à possibilidade ou impossibilidade da criança 
devolvida durante o estágio de convivência em pleitear reparação civil em razão da conduta. 
O entendimento majoritário até pouco tempo atrás era de que a lei autorizava tais devoluções, 
sem que preciso fosse justificar o motivo e sem que nada fosse feito em relação à criança que 
sofreu novo abandono. 
Entretanto, muitos Tribunais de Justiça estão levando em conta os abalos psicológicos e sociais 
que esse reabandono causa na criança e decidindo de forma adversa, colocando esse adotando 
no cerne central da questão e punindo os adotantes por terem criado uma falsa ilusão de que 
adotante e adotado seriam uma nova família. 
Tais decisões estão cada vez mais preocupadas em aplicar o Princípio do Melhor Interesse da 
Criança e passam a tratá-las como as vítimas de uma sociedade que as marginaliza por teremsido abandonadas. 
Ademais, muitos Tribunais de Justiça dão somente parcial provimento à reparação civil, punindo 
os adotantes somente em danos materiais e deixando de lado os abalos morais, se não for 
comprovado o efetivo dano psicológico causado a longo prazo ao menor. 
Percebe-se a dificuldade de uma unanimidade de decisão nos Tribunais de Justiça brasileiros, 
visto que, a própria lei deixou de preocupar-se com a questão e com a possibilidade ou não dela 
ser reparada. 
Cabe então ao legislador promover alterações no texto legal, que visem cobrir as lacunas 
deixadas e dar uma direção correta e que melhor atenda aos interesses dessas crianças cujas 
expectativas de serem aceitas em uma nova família diminuem a cada nova devolução. 
 
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