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Compostos nitrogenados

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA 
CENTRO DE CIÊNCIAS AGROVETERINÁRIAS – CAV 
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA 
 
 
 
 
 
 
GUILHERME VILAN 
LUIGI FORNASSARI 
PIETRO WALTRICK 
 
 
 
 
 
TRANSTORNOS METABÓLICOS DE COMPOSTOS 
NITROGENADOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LAGES, SC 
2020 
 
 
 
COMPOSTOS NITROGENADOS 
 
 
Compostos nitrogenados são compostos orgânicos formados por átomos de 
carbono, hidrogênio e nitrogênio, em alguns caso podem possuir também átomos de 
oxigênio. Esses compostos podem ser divididos em 4 principais funções, sendo 
elas: 
Aminas​: Composto derivado da amônia pela substituição de um ou mais 
hidrogênios por radicais orgânicos. Podem ser classificadas em primária, secundária 
ou terciária, de acordo com o número de hidrogênios substituídos pelos radicais. 
Amidas: Composto orgânico que como principal característica apresenta um 
grupo carbonila (carbono com ligação dupla em um oxigênio) ligado de forma direta 
a um nitrogênio, que por sua vez, tem a capacidade de se ligar a até dois átomos de 
hidrogênio. Podem ser classificadas em ​simples, monossubstituída ​ou ​dissubstituída 
de acordo com o número de hidrogênios ligados ao nitrogênio. 
Nitrilas: ​Composto orgânico que apresenta em sua composição o grupo 
funcional de um carbono com uma ligação tripla a um nitrogênio (derivado do ácido 
cianídrico), obtidas a partir da substituição do hidrogênio por um radical orgânico. 
Nitrocompostos: ​Composto orgânico que deriva da reação química entre o 
ácido nítrico e um hidrocarboneto saturado de cadeia aberta (alcano) ou um 
aromático, a reação química se trata de uma substituição onde o ácido perde uma 
hidroxila e o composto orgânico perde um hidrogênio. A principal característica dos 
nitrocompostos é a presença de um ou mais grupos nitro (NO2). 
De forma geral esses compostos são encontrados em medicamentos, 
corantes sintéticos, explosivos, drogas, vitaminas, fertilizantes e em cremes a base 
de ureia. 
No organismo dos animais, compostos nitrogenados podem ser encontrados, 
por exemplo, nos aminoácidos, que são substâncias orgânicas que são constituídos 
por uma carboxila, uma amina, um átomo de hidrogênio e um radical ligados a um 
átomo de carbono. Os aminoácidos através de ligações peptídicas formam as 
proteínas, essas desenvolvem diversas funções no organismo, tais como, a 
formação de músculos, elastina em ligamentos, compõe enzimas que servem como 
catalisadores de reações, transporte de triglicerídeos, fosfolipídeos e colesterol, 
estão presentes também na hemoglobina, células que transportam O2 pelos 
tecidos. No entanto, nem todos os aminoácidos podem ser sintetizados pelo 
organismo animal, logo se faz necessário a ingestão dos mesmos através de uma 
alimentação balanceada, esses por sua vez são chamados de aminoácidos 
essenciais. 
A deficiência relacionada a compostos nitrogenados pode afetar de diversas 
maneiras o organismo, tais como doenças, que podem afetar até mesmo a síntese 
do grupo heme. 
 
 
Síntese do grupo heme 
 
Ocorre na mitocôndria e no citosol, conta com a participação de 8 enzimas 
que serão responsáveis por realizar mudanças químicas nos compostos que fazem 
parte dessa reação. 
O início da reação se dá com o encontro de uma molécula de succinil-CoA e 
uma molécula de glicina, essa reação é catalisada pela enzima ALA sintase, esse 
processo tem como resultado aminolevulinato (ALA). O aminolevulinato é 
transportado para o citosol, onde a enzima ALA desidratase retira duas moléculas 
de água, resultando em porfobilinogênio. Com a liberação de quatro moléculas de 
amônia surge o uroporfirinogênio III. Esse por sua vez sofre descarboxilação pela 
enzima uroporfirinogênio descarboxilase, tendo seus grupos acetil substituídos por 
metil, resultando em coproporfirinogênio. O coproporfirinogênio é novamente levado 
até o interior da mitocôndria, onde é convertido em protoporfirina III pela ação das 
enzimas coproporfirinogênio e protoporfirinogênio oxidase. O produto da reação 
anterior é convertido em heme e tem Fe adicionado à sua formação pela enzima 
heme sintase. 
 
 
 
 
 
PORFIRIA 
 
Porfirias são um grupo de doenças hereditárias ou adquiridas, que se dão 
pela deficiência enzimática na via de biossíntese do heme, podendo ser devido à 
inibição ou a insuficiência das enzimas, essa deficiência leva à superprodução e 
acúmulo de precursores metabólicos. Alguns dos fatores pelos quais ela pode ser 
adquirida são medicamentos, álcool, dieta e stress. 
Ela pode ser classificadas em diferentes grupos, o primeiro de acordo com 
sua origem, podendo ser hereditária ou adquirida; Pode também ser classificada de 
acordo com onde está ocorrendo a deficiência enzimática, pois o heme é produzido 
tanto na medula óssea quanto no fígado, logo ela pode ser chamada de porfiria 
eritropoiética ou porfiria hepática, respectivamente. Ela pode também ser dividida 
entre aguda ou cutânea, com sinais e sintomas específicos de cada tipo. 
 
 
 
 
 
 
 
 ​Porfiria eritropoiética congênita 
 
Doença genética que acomete humanos, felinos, suínos e bovinos, ela é 
causada pela deficiência da enzima uroporfirinogênio III cossintetase, o que faz com 
que seja formado os isômeros uroporfirinogênio I e coproporfirinogênio I, esses não 
são capazes de serem convertidos em protoporfirinogênio, o que faz com que não 
seja possível a produção do heme. Esses isômeros são oxidados em uroporfirina e 
coproporfirina e acabam acumulados no organismo. 
 
 
Sinais clínicos 
 
Em bovinos os sintomas podem ser caracterizados por lesões de 
fotossensibilização, dentes, ossos e urina com coloração marrom avermelhadas, 
anemia severa, diminuição no número de hemácias, diminuição no número de 
hemoglobina e fragilidade óssea. A fotossensibilização se dá devido a disposição 
das porfirinas nos tecidos, estes, quando expostos à radiação solar liberam calor, 
gerando assim as lesões na pele. 
Em suínos não é possível notar lesões na pele, apenas a coloração marrom 
dos dentes. Em felinos a doença é visível somente nos dentes primários, os quais 
apresentam coloração acastanhada, ao decorrer da vida essa coloração é 
amenizada. 
 
 
Diagnóstico 
 
O diagnóstico se dá por meio do histórico do animal, além de alterações 
laboratoriais, tais como a dosagem de uroporfirina na urina. O diagnóstico pode 
também ser feito na necrópsia, onde os ossos aparecerão na cor marrom 
avermelhados, isso ocorre pois os pigmentos porfirínicos se depositam nos ossos e 
dentes por possuírem afinidade pelos componentes minerais desses tecidos. 
 
 
 
 
 
 
Tratamento 
 
A situação mais grave nessa doença se dá justamente a lesões de pele 
causadas pela exposição à luz ultravioleta, logo o principal tratamento consiste em 
evitar que animais com essa condição sofram exposição a luz solar, algumas 
pomadas e antissépticos podem ajudar na situação. Pelo fato de ser uma doença 
genética, os animais que a apresentarem devem ser retirados do meio de 
reprodução. 
 
 
 
 ​PORFIRIA ERITROPOIÉTICA 
 
Acomete bovinos e humanos, sendo uma doença autossômica dominante em 
humanos e recessiva em bovinos. Ela pode também ser ligada ao sexo,sendo 
desenvolvida apenas em fêmeas. 
A doença ocorre devido a um defeito na enzima ferroquelatase, a qual 
adiciona o Fe2 a protoporfirina IX na última reação na síntese do heme, a 
consequência deste defeito é o aumento na protoporfirina, que é excretada pelas 
fezes. Esse aumento resulta na protoporfirina se depositando na pele, no plasma 
sanguíneo, nos eritrócitos e na medula óssea. Devido a disposição do pigmento 
porfirínico no fígado, os pacientes que apresentarem essa doença podem 
desenvolver cálculos biliares e lesões hepáticas. 
 
 
Sinais clínicos 
 
Diferentemente da porfiria eritropoiética congênita, os sinais clínicos desta 
não contam com anemia severa nem pigmentação dos dentes e ossos, apenas 
lesões de fotossensibilização, com a característica de prurido intenso e formação de 
feridas. A pele fica numa condição de aspecto grosso e com pouca elasticidade. 
 
 
 
 
Diagnóstico 
 
Há diversas maneiras de se diagnosticar essa doença, sendo elas a 
dosagem de protoporfirina livre, biópsia da pele, medição de porfirinas na urina e 
fezes, hemograma completo, função hepática, ecografia do fígado e através do 
histórico eliminação de outras patologias que cursem com fotossensibilização. 
 
 
Tratamento 
 
Da mesma forma que a patologia apresentada anteriormente, o tratamento 
consiste de forma paliativa e não curativa, onde deve ser evitado a exposição do 
animal a luz solar. Podem também ser utilizados betacarotenos, para que a pele 
consiga adquirir uma maior resistência a luz ultravioleta. 
 
 
 PORFIRIA HEPÁTICA 
 
O defeito metabólico nesse grupo se encontra predominantemente no fígado, 
daí o seu nome. A porfiria hepática pode ser hereditária ou adquirida; Essa doença 
é mais comumente vista em humanos. 
Esta patologia divide-se em três tipos, de acordo com suas manifestações 
clínicas. 
Aguda intermitente: Nessa condição o indivíduo apresenta tremores, e em 
caso de humanos, alterações psíquicas. 
Mista: Com essa situação o portador da doença pode vir a apresentar 
manifestações cutânea, além dos sintomas da porfiria aguda intermitente, sendo 
possível até mesmo apresentar combinação dos sintomas. 
 
 
Sintomática: No caso de humanos, este terceiro tipo da doença pode estar 
relacionada ao alcoolismo, em relação a animais domésticos se dá devido a 
intoxicação pela ingestão de chumbo, por exemplo. Esse metal pesado pode ser 
encontrado em tintas velhas, projéteis, soldas e etc. 
 
Sinais clínicos 
 
Observa-se que que o portador dessa patologia apresenta alterações 
gastrointestinais e no sistema nervoso. Sintomas como perda de peso, diarreia e 
vômito são comumente observados, em relação às alterações no sistema nervoso 
percebe-se a paralisia das extremidades inferiores, convulsão e debilidade motora 
geral; Alterações comportamentais sutis podem acontecer também. 
 
Diagnóstico 
 
O diagnóstico dessa doença se dá com base no histórico, sinais clínicos, 
alterações laboratoriais e a necropsia do animal. No caso das alterações 
laboratoriais os intermediários de formação do grupo heme serão excretados da 
célula para o sangue, urina, fezes e bile. Pode ser feito também a dosagem de 
chumbo de sangue, que caso seja visto uma concentração de 0,6 ppm seria 
considerada porfiria sintomática. 
 
Tratamento 
 
Neste caso o tratamento ocorre fazendo a retirada da fonte de intoxicação e 
utilizando medicamentos quelantes de chumbo, como EDTA cálcio e D-penicilina. 
Em casos que o animal ingeriu algum corpo estranho contendo chumbo uma 
intervenção cirúrgica é recomendada. 
 
 
 
 ICTERÍCIA 
 
Icterícia é uma condição onde há o acúmulo de bilirrubina no plasma e nos 
tecidos do animal, se denomina de Hiperbilirrubinemia, o que gera uma coloração 
amarelada na pele, mucosas e esclera. Esse acúmulo de bilirrubina pode ocorrer 
devido a hemólise excessiva, lesões hepáticas diretas ou obstrução do ducto 
colédoco (parcial ou total) .A bilirrubina é um pigmento formado no sistema 
endotelial reticular, este pigmento é sintetizado através do processamento 
enzimático do grupo heme, presente na hemoglobina. A bilirrubina primeiramente é 
produzida na forma B-Indireta, que é insolúvel a água, então ela é transportada pelo 
sangue ligada à albumina na sua forma reversível. B-indireta é absorvida pelo 
fígado e sofre o processo de conjugação hepática, o qual ocorre a soma de duas 
bilirrubinas ligadas ao ácido glicurônico, que a transformarão em B-Direta, está 
solúvel a água, que por sua vez é excretada pela bile no ducto colédoco levando até 
o intestino. Já no intestino a B-Direta sofre a ação de bactérias entéricas que farão 
com que ela se transforme em estercobilinogênio, que por sua vez é eliminado no 
bolo fecal. Parte da B-Direta retorna ao fígado, onde sofre novamente a 
metabolização, porém uma pequena quantidade é desviada e excretada através da 
urina. 
 
 
 Degradação do grupo heme 
O processo de degradação das hemácias é normal ao organismo, onde a 
cada 120 dias todas elas são recicladas pelo metabolismo. Para que isso seja 
possível, é necessário a degradação por completo da hemoglobina (proteína globina 
que possui grupamento heme ligado a si). Isso ocorre devido a vários processos 
químicos realizados, sendo o primeiro deles a oxidação da hemoglobina, que 
passará a se chamar coleglobina. A coleglobina perde a proteína globina, restado o 
grupo heme ligados a porfirias, o que resulta em uma molécula chamada 
verdehemocromo; Através de uma outra oxidação o Fe+++ sairá da estrutura, que 
agora estará na sua forma linear e se chamará biliverdina. A biliverdina por sua vez 
sofre uma redução, o que gera o composto bilirrubina, esse que é responsável pelas 
icterícias. A bilirrubina se ligará então a albumina para ser transportada até o 
fígado, então para o intestino, onde transformações químicas ocorrerão e serão 
gerados pigmentos (urobilinogênio, estercobilinogênio e estercobilina). Esses 
pigmentos então serão excretados através da urina ou das fezes. 
 
 
 
Prognóstico 
 
O prognóstico pode variar de acordo com o tipo de icterícia e das 
complicações geradas. Existem três tipos de icterícias, sendo elas a pré-hepática, 
hepática e pós hepática. 
Na sua forma ​Pré-hepática o quadro é dado pela destruição excessiva de 
eritrócitos, que resultam em um aumento do complexo bilirrubina-albumina no 
sangue e um aumento de B-Indireta, o que faz com que a capacidade excretora do 
fígado seja excedida tendo um aumento também de B-Direta; contudo a B-Direta vai 
ser excretada normalmente. Esse quadro pode ser causado por agentes infecciosos 
sintetizadores da hemólise, reação imunomediada, tumores sólidos metastáticos e 
coagulação intravascular disseminada. Observada mais frequentemente no cão e, 
geralmente, consequência de uma doença parasitária, a babesiose, antes chamada 
de piroplasmose. A babesiose é uma doença contraída pelo protozoário Babesia 
canis, que entra no sangue e parasita os glóbulos vermelhos, destruindo-os e 
multiplicando-se. O mesmo efeito pode ser causado por outros agentes: bactérias, 
anticorposproduzidos pelas transfusões de sangue (sangue incompatível) ou 
durante a gravidez (a incompatibilidade entre o sangue do feto e o da mãe) ou 
também, em algumas doenças auto-imunes. O que ajuda também a identificação 
desta é o exame de hemograma, porque esse paciente vai ter anemia pela 
excessiva fagocitação feita pelo baço. 
A icterícia ​hepática ocorre devido a lesões diretas ou crônicas aos 
hepatócitos, em um modo mais grosseiro o fígado não conjuga, que resultam no 
aumento da metabolização da bilirrubina, consequentemente na elevação da 
bilirrubina não conjugada a albumina na corrente sanguínea e na diminuição da 
bilirrubina conjugada. Essa lesão pode ser causada por fatores como agentes 
bacterianos ou virais, medicamentos, neoplasias hepáticas, toxinas e anemias 
acentuadas. O que auxilia na descoberta desse tipo de icterícia é o exame de 
função hepática, por exemplo pela dosagem de albumina, se o fígado não funciona 
o paciente vai ter hipoalbuminemia. (Hipoalbuminemia acontece quando você não 
tem o suficiente da proteína albumina na sua corrente sanguínea. A albumina é uma 
proteína que é feito em seu fígado). 
Já a forma ​pós-hepática é devido a obstruções de forma parcial ou total do 
ducto biliar, derivados de cálculos, processos inflamatórios e até mesmo parasitas. 
Dessa forma terá níveis normais de bilirrubina não conjugada, porém terá um 
aumento de bilirrubina conjugada no sangue; então irá se armazenar nos 
hepatócitos, que quando chegarem a sua capacidade de armazenamento máximo 
irão encaminhar a bilirrubina para a corrente sanguínea, não conseguindo excretar 
la, gerando então um acúmulo nos tecidos. 
 
 
 
Tratamento 
 
O tratamento mais utilizado em condições de icterícia se dá através de 
medicamentos que ajudam a melhorar a qualidade de vida dos animais, transfusão 
de sangues também são bastante utilizadas, assim como fluidoterapia. Apesar de 
ser uma patologia tratável apresenta um grande índice de óbito. 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
ROCHA, A.A, Porfiria em pequenos animais. Universidade estadual do Ceará - UECE. 
mar/jul 2020. 
 
ANDRADE, M.C. Etiologias da icterícia e diagnóstico diferencial prospectivo em 84 cães. 
Escola de veterinária - UFMG. mar/jul 2020. 
 
http://educacao.globo.com/quimica/assunto/quimica-organica/compostos-nitrogenados.html 
 
 
http://educacao.globo.com/quimica/assunto/quimica-organica/compostos-nitrogenados.html

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